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Disciplina:

Tecnologia da Informação e Comunicação II

Prof. Dr. Carlos Roberto Massao Hayashi


OBJETIVO

• Examinar e discutir alguns dos incidentes históricos


que contribuíram para desenvolvimento de princípios
universais de ética em pesquisa.

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O QUE É ÉTICA?

• Normas de conduta que distinguem entre o


comportamento aceitável e inaceitável (RESNIK,
2015).
• Um método, um procedimento ou uma perspectiva
para decidir como agir e para analisar questões e
problemas complexos (RESNIK, 2015).
• As pessoas reconhecem algumas normas éticas
comuns, porém, podem interpretá-las ou aplicá-las de
maneiras diferentes à luz dos seus próprios valores e
experiências de vida.

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A EVOLUÇÃO DA ÉTICA EM PESQUISA

• Diretrizes, códigos e regulamentos foram criados em décadas


recentes para direcionar a conduta em pesquisas envolvendo
participantes humanos.
• Algumas dessas diretrizes foram criadas em resposta a lacunas
ou deslizes éticos.
• Outros foram desenvolvidos para adequar-se melhor às
constantes modificações no mundo da pesquisa.
• E outros, ainda, evoluíram desde sua criação, na tentativa de
proporcionar respostas aos constantes desafios para cada nova
mudança ocorrida nesse contexto.
• Cada um deles reflete os princípios de respeito pelas pessoas,
beneficência e justiça.

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CÓDIGO DE NUREMBERG
• O código clarificou muitos dos princípios básicos que regem a conduta ética em
pesquisas. A primeira cláusula do documento aponta para o fato de que "o
consentimento informado do sujeito humano é absolutamente essencial".
• O código aborda ainda outros detalhes implícitos em tal exigência:
– capacidade para consentir
– liberdade de coerção
– compreensão dos riscos e benefícios envolvidos
• Outros preceitos requerem:
– a minimização de riscos e danos,
– um balanço risco-benefício favorável, que os pesquisadores sejam
qualificados e utilizem delineamentos / desenhos apropriados para pesquisa
e, ainda,
– a liberdade do participante para desistir a qualquer momento.
• O texto completo do Código de Nuremberg pode ser acessado na Internet através
da página: http://bmj.bmjjournals.com/cgi/content/full/313/7070/1448

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DECLARAÇÃO DE HELSINKI
• Reconhecendo as falhas do Código de Nuremberg, a Associação
Médica Mundial elaborou a Declaração de Helsinki em 1964.
• Proteção adicional para pessoas com autonomia diminuída e
suscita precaução por parte do médico-pesquisador.
• bem-estar do participante deve ter precedência sobre os
interesses da ciência e da sociedade.
• Também recomenda o consentimento por escrito.
• A revisão mais recente foi realizada em 2000, a utilização de
grupos controle por placebo ficou restrita a circunstâncias
especiais.
• A versão atual também exige acesso aos benefícios para todos
os participantes do estudo.
• Como o Código de Nuremberg, requer que os riscos sejam
reduzidos ao mínimo.
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ESTUDO TUSKEGEE (ALABAMA - EUA)
• Em 1972, a sociedade estadunidense tomou conhecimento do
Estudo Tuskegee, realizado no sudeste dos Estados Unidos,
durante o período de 1932 a 1972.
• Cerca de 400 homens que possuíam sífilis latente foram
acompanhados no decorrer deste tempo para que os
pesquisadores pudessem conhecer a história natural da doença,
em lugar de oferecer a eles o devido tratamento.
• Os pesquisadores que conduziam o estudo deixaram de
proporcionar tratamento a estes homens mesmo depois do
descobrimento dos antibióticos nos anos 1940.

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O RELATÓRIO BELMONT: REAÇÃO AO
ESTUDO TUSKEGEE (ALABAMA-EUA)
• Em consequência disso, foi criada em 1974 a Comissão Nacional para
Proteção de Sujeitos Humanos nas Pesquisas Biomédicas e
Comportamentais.
• Em 1978, a comissão apresentou relatório dos trabalhos realizados e
que foi intitulado: Relatório Belmont: Princípios Éticos e Diretrizes
para a Proteção de Sujeitos Humanos nas Pesquisas.
• O relatório estabeleceu os princípios éticos fundamentais para direcionar
condutas consideradas aceitáveis em pesquisas que envolvessem
participantes humanos.
• Estes princípios – respeito pelas pessoas, beneficência e justiça –
têm sido aceitos desde então como os 3 princípios fundamentais para
nortear o desenvolvimento de pesquisas éticas envolvendo participantes
humanos.

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O RELATÓRIO BELMONT: REAÇÃO AO
ESTUDO TUSKEGEE (ALABAMA-EUA)

Cobaias (Miss ever boys)

Direção: Joseph Sargent

Atores: Lawrence Fishburne e Alfre


Woodward

https://www.youtube.com/watch?v=5H24-PHs3Us

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DIRETRIZES ÉTICAS DO CONSELHO DE
ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS DE
CIÊNCIAS MÉDICAS (CIOMS)
• O CIOMS é uma organização que tem, ao longo
dos últimos anos, participado ativamente na área
da bioética.
• Em 1993, o CIOMS elaborou e divulgou as
Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisa
Biomédica Envolvendo Sujeitos Humanos.
• Estas Diretrizes têm o propósito de assegurar que
os princípios éticos contidos na Declaração de
Helsinki pudessem efetivamente ser aplicados na
prática, particularmente nos países em
Nuremberg
desenvolvimento.

Helsinki

CIOMS
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DIRETRIZES ÉTICAS DO CONSELHO DE
ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS DE
CIÊNCIAS MÉDICAS (CIOMS)
• As diretrizes estão baseadas nos 3 princípios éticos em pesquisa e
consistem de 21 tópicos, cada um deles acompanhado por comentários
esclarecedores. Esses tópicos incluem:
– consentimento informado
– pesquisa nos países em desenvolvimento
– proteção de populações vulneráveis
– compartilhamento de responsabilidades e benefícios
– papel desempenhado pelos comitês de ética
• Estão incluídas neste documento, também, as responsabilidades do
patrocinador, do pesquisador e do país anfitrião (aquele onde a pesquisa
é realizada). Pelo fato das diretrizes poderem ser utilizadas
mundialmente, elas têm sido amplamente divulgadas e utilizadas.

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PRINCÍPIOS ÉTICOS FUNDAMENTAIS PARA
AS REGULAMENTAÇÕES LOCAIS

Respeito pelas Pessoas,


Beneficência e Justiça

Regulamentos e
Recomendações
Diretrizes
Internacionais
Nacionais

Regulamentos
Operacionais
Institucionais

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DIRETRIZES E REGULAMENTAÇÕES EM
PAÍSES QUE REALIZAM PESQUISAS
• Conselho Nacional de Saúde: Resolução Nº 196, de 10 de outubro de 1996 -
diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.
• Conselho Nacional de Saúde: Resolução Nº 251, de 7 de agosto de 1997 - normas
de pesquisa envolvendo seres humanos para a área temática de pesquisa com novos
fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos.
• Conselho Nacional de Saúde: Resolução Nº 292, de 8 de julho de 1999 - pesquisas
coordenadas do exterior ou com participação estrangeira e pesquisas que envolvam
remessa de material biológico para o exterior.
Conselho Nacional de Saúde: Resolução Nº 303, de 6 de julho de 2000 - relacionada à
área temática especial “reprodução humana”.
• Conselho Nacional de Saúde: Resolução Nº 304, de 9 de agosto de 2000 - Normas
para Pesquisas Envolvendo Seres Humanos – Área de Povos Indígenas.
• Conselho Nacional de Saúde: Resolução No 340, de 8 de julho de 2004 - Diretrizes
para Análise Ética e Tramitação dos Projetos de Pesquisa da Área Temática Especial de
Genética Humana.
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BRASIL

• A institucionalização das atividades de pós-


graduação stricto sensu.

• Denúncias de casos de má conduta científica-


preocupação com os aspectos éticos da atividade
científica.

• Anulações de títulos, demissões, retratações de


artigos, reprovações de defesas, etc.

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CNPQ - CAPES

• CNPQ - 21 diretrizes básicas para a integridade na atividade de


pesquisa; Comissão de Integridade da Atividade Científica -
prevenção, educação e investigação da integridade da pesquisa
realizada e/ou publicada por pesquisadores em atividade no
Brasil.

• CAPES - recomendações de combate ao plágio.


• Coordenação da Área de Química da CAPES, responsável pelo
acompanhamento e avaliação dos programas de pós-graduação
da área, em seu Comunicado nº 003/2011, oportunamente
incentivou que todos os programas implementassem disciplinas,
seminários, simpósios ou workshops para discutir aspectos
relacionados à ética em pesquisa científica e em publicações.

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FAPESP

• FAPESP - Código de Boas Práticas - diretrizes éticas


para as atividades científicas, discorrendo sobre as
más condutas científicas, as responsabilidades das
instituições de pesquisa, e sobre a alegação, a
investigação e a declaração de más condutas
científica.
• Revista Pesquisa FAPESP, tem a coluna "Boas
Práticas", para destacar casos internacionais
relevantes de combate a fraudes científicas.

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CAPES - OAB

• CAPES - A OAB recomenda o uso de softwares que


fazem a leitura eletrônica do texto.

• A OAB orienta ainda que, por não se tratar de


programa absoluto, procedimentos internos nas
instituições acadêmicas devem ser adotados para
aferir se houve ou não plágio. Um deles, citado como
necessário, é que as instituições criem comissão que
avalie os resultados obtidos pelo software de forma
objetiva, aferindo o grau de gravidade no caso dos
textos copiados.

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CNPQ - FRAUDE E MÁ CONDUTA EM
PUBLICAÇÕES

• Fabricação ou invenção de dados - consiste na apresentação de dados


ou resultados inverídicos.
• Falsificação: consiste na manipulação fraudulenta de resultados obtidos
de forma a alterar-lhes o significado, sua interpretação ou mesmo sua
confiabilidade. Cabe também nessa definição a apresentação de
resultados reais como se tivessem sido obtidos em condições diversas
daquelas efetivamente utilizadas.
• Plágio: consiste na apresentação, como se fosse de sua autoria, de
resultados ou conclusões anteriormente obtidos por outro autor, bem
como de textos integrais ou de parte substancial de textos alheios sem
os cuidados detalhados nas Diretrizes. Comete igualmente plágio quem
se utiliza de ideias ou dados obtidos em análises de projetos ou
manuscritos não publicados aos quais teve acesso como consultor,
revisor, editor, ou assemelhado.
• Autoplágio: consiste na apresentação total ou parcial de textos já
publicados pelo mesmo autor, sem as devidas referências aos trabalhos
anteriores. 18
BOAS PRÁTICAS DE PESQUISA FAPESP

• Má conduta científica - toda conduta de um pesquisador que, por


intenção ou negligência, transgrida os valores e princípios que definem a
integridade ética da pesquisa científica e das relações entre
pesquisadores.
• As más condutas graves mais típicas e frequentes :
(a) A fabricação, ou afirmação de que foram obtidos ou conduzidos
dados, procedimentos ou resultados que realmente não o foram.
(b) A falsificação, ou apresentação de dados, procedimentos ou
resultados de pesquisa de maneira relevantemente modificada,
imprecisa ou incompleta, a ponto de poder interferir na avaliação do
peso científico que realmente conferem às conclusões que deles se
extraem.
(c) O plágio, ou a utilização de ideias ou formulações verbais, orais ou
escritas de outrem sem dar-lhe por elas, expressa e claramente, o
devido crédito, de modo a gerar razoavelmente a percepção de que
sejam ideias ou formulações de autoria própria.

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POR QUE É IMPORTANTE SEGUIR NORMAS
ÉTICAS NA PESQUISA?

• 1º. as proibições contra a fabricação, falsificação ou adulteração


de dados de pesquisa promovem a verdade e minimizam o erro;

• 2º padrões éticos promovem os valores que são essenciais para


o trabalho colaborativo, como confiança, responsabilidade,
respeito mútuo e justiça. Normas éticas de pesquisa, tais
como diretrizes de autoria, copyright, políticas de patentes,
políticas de compartilhamento de dados e regras de
confidencialidade em revisão por pares – protegem os interesses
da propriedade intelectual, incentivando a colaboração;

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POR QUE É IMPORTANTE SEGUIR NORMAS
ÉTICAS NA PESQUISA?

• 3º garantem que os pesquisadores financiados por órgãos


públicos possam ser responsabilizados perante ao público;

• 4º ajudam a construir o apoio público a pesquisa. As pessoas


estão mais propensas a financiar um projeto se puderem confiar
na qualidade e integridade da pesquisa;

• 5º promovem uma variedade de outros valores morais e sociais


importantes, tais como a responsabilidade social, direitos
humanos, bem-estar animal, etc.

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CÓDIGOS E POLÍTICAS DE ÉTICA EM
PESQUISA

• Honestidade - Não fabricar, falsificar ou adulterar dados.


• Objetividade - Evitar distorções no delineamento experimental, análise
de dados, interpretação de dados, revisão por pares. Evitar ou minimizar
preconceitos ou auto-engano. Não divulgar interesses pessoais ou
financeiros que podem afetar a investigação.
• Integridade- Manter promessas e acordos; agir com sinceridade;
coerência de pensamento e ação.
• Cuidados - Evitar erros por descuido e negligência; manter bons registros
de atividades de pesquisa, tais como a recolha de dados, projeto de
pesquisa e correspondência com agências ou revistas.
• Receptividade - Compartilhar dados, resultados, ideias, ferramentas,
recursos. Estar aberto a críticas e novas ideias.

Adaptado de Shamoo A e D. Resnik 2015. Conduta


Responsável em Pesquisa, 3ª ed. (New York: Oxford
University Press).

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CÓDIGOS E POLÍTICAS DE ÉTICA EM
PESQUISA

• Respeito pela propriedade intelectual - Não use dados não publicados,


métodos ou resultados sem permissão. Dar crédito para todas as
contribuições a pesquisa. Nunca plagiar.
• Confidencialidade - Proteger as comunicações confidenciais, tais como
papers ou subvenções submetidos para publicação, registros de pessoal,
comércio ou segredos militares e registros de pacientes.
• Publicação responsável - Publicar, a fim de contribuir com o avanço da
pesquisa e não somente para avançar na sua própria carreira. Evitar a
publicação duplicada
• Educação responsável- ajudar a educar, orientar e aconselhar os
estudantes. Promover o seu bem-estar e permitir-lhes tomar suas
próprias decisões.
• O respeito pelos colegas - Respeitar seus colegas e tratá-los de forma
justa.
• Responsabilidade social- Promover o bem social e prevenir ou minimizar
danos sociais através da investigação, educação pública e advocacia.
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CÓDIGOS E POLÍTICAS DE ÉTICA EM
PESQUISA

• Não Discriminar- Evitar a discriminação contra colegas ou alunos com


base no sexo, raça, etnia ou outros fatores não relacionados com a
competência e integridade científica.
• Competência- Manter e melhorar a sua competência profissional e
experiência através da educação e da aprendizagem ao longo da vida;
tomar medidas para promover a competência em ciência como um todo
• Legalidade- Conhecer e obedecer as leis e políticas institucionais e
governamentais.
• Cuidado com animais - mostrar o devido respeito e cuidados para os
animais quando usá-los na investigação. Não realizar experiências
desnecessários ou mal concebidos com animais.
• Proteção aos Seres Humanos- minimizar danos e riscos e maximizar os
benefícios; respeitar a dignidade humana, a privacidade e autonomia;
tomar precauções especiais com populações vulneráveis; e se esforçar
para distribuir as vantagens e desvantagens da pesquisa de forma justa.

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RESPONSÁVEIS PELA ÉTICA NA PESQUISA

• Pesquisador
• participantes ou sujeitos
• financiadores (públicos ou privados)
• difusores da ciência (meios de comunicação de massa
e meios científicos),
• gestores e consumidores ou usuários da ciência.

Curty (2010)

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CRÉDITOS

• Os materiais desta aula foram desenvolvidos com base no


material produzido pela Family Health International.
• Esta organização oferece o Currículo de Treinamento – Ética em
Pesquisa, dirigido aos pesquisadores biomédicos e de ciências
sociais que tem educação formal em suas respectivas áreas de
interesse científico.
• O site oficial é http://www.fhi.org/

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