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BIOÉTICA

ETAPAS DOS ESTUDOS


CLÍNICOS
Prof. Dr. Fernando Cezar dos Santos
A ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA

■ O que é Ética?

Ethos = caráter; modo de ser

Estudo dos valores morais que orientam o comportamento


humano em sociedade; uma reflexão sobre a moral; explica
regras morais de forma racional, científica e teórica.

Diferente de moral, que são os costumes, regras, tabus e


convenções estabelecidas por uma sociedade.
BIOÉTICA

• ‘’A bioética é a ciência da sobrevivência humana’’


Van Rensselaer Potter

‘’É o conhecimento de como usar o conhecimento para a


sobrevivência e a melhoria da qualidade de vida’’
A ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA

■ Marcos Históricos

 Código Nuremberg (1947)

 Declaração de Helsinque (1964)


CÓDIGO DE NUREMBERG /1947
Na realização de pesquisas:
 O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial.

 Produzir resultados vantajosos para a sociedade (mas não podem ser feitos de
maneira casuística).

 Basear-se em resultados de experimentação em animais e no conhecimento da


evolução da doença ou outros problemas em estudo.

 Ser conduzida por pessoas cientificamente qualificadas.

• Evitar todo sofrimento e danos desnecessários.


• Cuidados especiais para proteger o participante do experimento de
qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo que remota.
DECLARAÇÃO DE HELSINKI - 1964/2000
ASSOCIAÇÃO MÉDICA MUNDIAL

Princípios Básicos
 O pesquisador deve proteger a vida, a saúde, a dignidade e a integridade
do ser humano.
 O projeto e métodos devem atender a protocolos reconhecidos, apoiar-se
em profundo conhecimento da literatura e ter sido aprovado por um
Comitê de Ética.
 A pesquisa deve ser realizada por profissional qualificado.

 A importância do objetivo deve ser maior que o risco ao sujeito de


pesquisa.
 Deve existir possibilidade de benefício para a população.
 Os indivíduos devem ser voluntários, livres e esclarecidos e protegidos na
sua individualidade e confidencialidade das informações.
PRINCÍPIOS ÉTICOS NA PESQUISA COM
PESSOAS
AUTONOMIA

• Liberdade, privacidade, escolha individual, liberdade da vontade, ser o motor do próprio


comportamento e pertencer a si mesmo.
• Exemplos típicos incluem as seguintes regras para o pesquisador: 1) dizer a verdade; 2)
respeitar a privacidade dos outros; 3) proteger informações confidenciais; 4) obter
consentimento para intervenções nos pacientes; 5) quando solicitado, ajudar os outros a
tomar decisões importantes.
• Portanto, a pesquisa envolvendo seres humanos deve sempre tratá-los em sua dignidade e
respeitá-los em sua autonomia.
BENEFICÊNCIA

• Não é apenas necessário tratar o indivíduo como autônomo, mas também tem-se que
contribuir para seu bem estar. Além da compaixão, bondade, caridade, altruísmo, amor,
humanidade, o princípio da beneficência, em pesquisa, deve ser visto de modo que inclua
todas as formas de ação que tenham o propósito de beneficiar outras pessoas. Deve-se
proceder a uma ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais,
individuais ou coletivos, buscando o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos.
NÃO-MALEFICÊNCIA

• Este princípio determina a obrigação de não infligir dano intencionalmente.


Ele está intimamente ligado com a máxima primum non nocere – acima de
tudo (ou antes de tudo) não causar danos. Trata-se, desta maneira, da
garantia de que danos previsíveis serão evitados
JUSTIÇA

• Engloba equidade, merecimento (o que é merecido) e prerrogativa (aquilo a


que alguém tem direito). Desse modo, o princípio da justiça implica um
tratamento justo, equânime e apropriado, levando-se em consideração aquilo
que é devido às pessoas.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TCLE

• O consentimento livre e esclarecido consiste em instrumento


que tem por objetivo assegurar a autonomia do sujeito da
pesquisa, através da obtenção da sua concordância à
participação;

• Seu correto uso pressupõe a concordância livre, sem qualquer


tipo de coerção, após a apresentação das informações sobre os
procedimentos da pesquisa e os esclarecimentos necessários.
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Capacidade para decidir
Participação Voluntária

Informação completa
Linguagem adequada
Objetivos e procedimentos
Riscos, desconfortos, benefícios
Direitos do participante (sigilo)
Autorização formal
Documento por escrito, assinado em 2 vias.
o Garantia de não revelação da identificação dos participantes
o Utilização de imagens e sons só com autorização específica
O CEP:

• Procura ajudar o pesquisador na proteção dos seres


humanos envolvidos em sua pesquisa
• Procura ajudar o pesquisador em sua própria
proteção no exercício de suas atividades, na medida
em que é co-responsável pelas pesquisas realizadas

• ... Mas que pesquisas precisam “passar” pelo CEP?


RESOLUÇÃO 466/12 DO CNS

• II.14 - Pesquisa envolvendo seres humanos -


pesquisa que, individual ou coletivamente,
envolva o ser humano, de forma direta ou
indireta, em sua totalidade ou partes dele,
incluindo o manejo de informações ou materiais
biológicos.

• Quem assina a Folha de Rosto como


“pesquisador responsável” assume, de
direito, os ônus e os bônus relacionados
com esse ato.
SINOPSE

Pesquisador CEP Preenchimento Folha de rosto Protocolo de


da FR pela internet Pesquisa

Comitê de Ética
C
A Se Área Não
Aprovado Temática
Lista de A Relator Reunião do Especial Arquiva e Libera
Checagem E Comitê o inicio do Projeto

CONEP

Se Novos Não
Aprovado Fármacos ou
Lista de Reunião da Dispositivos Arquiva e Libera
Relator
Checagem CONEP o inicio do Projeto

ANVISA
ÉTICA NA COMUNIDADE CIENTÍFICA
ÉTICA NA COMUNIDADE CIENTÍFICA

• Conjunto de práticas de ação adotadas pela comunidade científica.


• Mas, quem define as práticas coletivamente aceitas?
• A comunidade científica é auto-regulada.
Princípios
• Primazia: quem publica o primeiro artigo sobre o tema, tem o crédito
da descoberta (ou da invenção)
• Avanço do conhecimento: todo artigo científico deve conter um
resultado inédito e relevante para a Ciência
• Reprodutibilidade: todo experimento publicado deve ser replicável
por outrem.
ÉTICA DA COMUNIDADE CIENTÍFICA:
REVISÃO POR PARES

Artigo recebido pelo editor

Enviado para revisores externos

Recomendações dos revisores

Nova revisão

Publicação
ÉTICA DA COMUNIDADE CIENTÍFICA: PRÁTICA

Reescreva, não faça plágio!

Você pode se plagiar?


 Reuso de até 30% de um artigo científico anterior é o limite
máximo aceitável para um novo artigo!

 Partes de um artigo científico podem também ser reusadas para


um artigo de divulgação.
(Pamela Samuelson, Self-Plagiarism or Fair Use, Communications of the ACM, August 1994)

 Artigo apresentado em conferência pode ser aproveitado para


revista.
ESTUDOS EM CIÊNCIA BÁSICA, PRÉ-CLÍNICA
E FASES DO ESTUDO CLÍNICO
CIÊNCIA EXPERIMENTAL

• Ciência exata, humana, biológica ou tecnológica que


mune-se de experimentos reais para comprovar uma
teoria, apontando a veracidade da mesma.
CIÊNCIA BÁSICA

• Se preocupa em responder perguntas que nascem puramente


da curiosidade de um cientista sobre como o mundo funciona.
Busca compreender o fenômeno; mecanismos de função e
estrutura biológica.

• Contrói o conhecimento, mas não se preocupa com a utilidade do


objeto de pesquisa.
CIÊNCIA APLICADA

• É a aplicação do conhecimento científico na solução de problemas


da vida. É a pesquisa científica feita pra se obter uma finalidade ou
utilidade, ou seja pra uma aplicação prática.
ESTUDOS PRÉ-CLÍNICOS

• Aspectos de segurança e/ou terapêuticos são avaliados em animais de


experimentação antes da aplicação dessa droga em seres humanos.
USO DE ANIMAIS EM PESQUISA

• Avanço da Fisiologia, Patologia e Farmacologia foi possível graças à experimentação animal;


• Evitar estresse, dor e sofrimento desnecessários;
• Sempre usar o menor número de animais possível;
• Pesquisas são avaliadas pelo CEUA – Comitê de Ética no Uso de Animais.
OS 3 ‘‘R’’: REDUCTION, REPLACEMENT E
REFINEMENT

• Redução: Reduzir o número de animais usados em experimentos até um


número consistente com a obtenção dos objetivos do estudo;
• Substituição: Substituir os experimentos com animais por outros tipos de
estudos, quando os objetivos científicos puderem ser alcançados sem a sua
utilização;
• Refinamento: Refinar o modo de condução dos experimentos científicos para
assegurar o mínimo possível de sofrimento ou estresse para os animais
envolvidos na pesquisa
ANIMAIS
ESTUDOS CLÍNICOS
FASE I

• Tipo de Estudo
• Sem objetivos terapêuticos
• Objetivo
• Avaliação inicial de Segurança e Tolerabilidade do novo fármaco
• Perfil Farmacocinético e Farmacodinâmico (mecanismos de ADME)
• População
• Voluntários saudáveis e por vezes indivíduos com doença grave (Oncologia e SIDA)
• 20-80 pessoas
• Duração
• Semanas
FASE II

Objetivos terapêuticos
Número limitado de doentes
Avaliação da Eficácia terapêutica
Doentes com a doença ou a condição em estudo
Determinação da dose e do regime terapêutico
selecionados segundo critérios rigorosos
Relação dose/resposta
População relativamente homogênea
Perfil de Segurança a curto prazo
25-100 pessoas
Avaliação da terapêutica (Fase IIa), dose terapêutica
Duração: Semanas a meses
apropriada (Fase IIb)
FASE III

• Objetivos terapêuticos Pré-AIM


• Demonstração/confirmação do benefício terapêutico (ensaio comparativo)
• Eficácia e Segurança
• Obtenção de Autorização de Introdução no Mercado (AIM) - significância estatística
• População
• População-alvo
• 200-10000 pessoas
• Duração: Meses a anos
FASE IV

• Pós-AIM
• Otimização do uso do medicamento
• Avaliação de interações medicamentosas, efeitos adversos adicionais (farmacovigilância)
• Descrição de padrão de uso do medicamento
• Estudos de suporte ao Marketing
• Novas formulações
• População: 1000 a milhões de pessoas
• Duração: Anos
ESTUDOS CLÍNICOS
PROGRESSOS DE ESTUDOS CLÍNICOS

• Aumento da expectativa de vida


• Viabilizou os transplantes de órgãos
• Tornou o diabetes controlável
• Tornou a AIDS uma doença crônica
• Prolongou a vida de pacientes com câncer
• Melhorou a qualidade de vida dos pacientes
POR QUE PESQUISAR EM MEDICINA?
Governo: Normatiza!

Universidade: Ensina e pesquisa!

Indústria: Desenvolve novos


produtos!
ENSAIOS CLÍNICOS EM ANDAMENTO

• 76.587 no mundo!

• 1.703 no Brasil!
TIMELINE DE ENSAIOS CLÍNICOS
VANTAGENS DA PESQUISA CLÍNICA
• Paciente: tratamento com medicamentos novos

• SUS: menos pacientes a serem atendidos

• Universidade: formação de recursos humanos, captação de recursos,

• Indústria: conhecer melhor e mais cedo o comportamento do


medicamento na população
RESUMINDO...

• O desenvolvimento clínico é a etapa final de um processo


que dura cerca de 10 anos

• Apenas 1 entre 10000 moléculas se tornará um


medicamento

• O Brasil não recebe nem 1% do investimento mundial em


P&D (0,6% do PIB nacional)

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