o Boas e Malinowski A etnografia só nasce a partir do momento no qual o pesquisador percebe que ele mesmo deve efetuar no campo sua própria pesquisa e que o trabalho de observação é uma parte integrante da pesquisa O observador tem como função ser o provedor de informações e o pesquisador possui a atividade de analisar e interpretar essas informações. Assim sendo, o pesquisador passa a viver entre o seu objeto de estudo, aprender a sua língua, seus costumes, a sentir suas próprias emoções O trabalho de campo, longe de ser visto como um modo de conhecimento secundário serve para ilustrar uma tese, sendo considerado como a própria fonte de pesquisa. Por exemplo, Malinowski ao retornar para a Grã-Bretanha impregnou-se dos pensamentos e dos sistemas de valores o que lhe revelou a população de um pequeno arquipélago melanésio. o BOAS (1858 – 1942) Boas era considerado um homem do campo, suas pesquisas iniciarem- se por volta do século XIX, as quais eram conduzidas por um ponto de vista que hoje é qualificado como microssociológico. Boas ensina que, no campo, tudo deve ser anotado: “desde os materiais constitutivos das casas até as notas das melodias cantadas pelos Esquimós, e isso detalhadamente, e no detalhe do detalhe. Tudo deve ser objeto da descrição mais meticulosa, da retranscrição mais fiel (por exemplo, as mais diferentes versões de um mito).” Boas foi o primeiro, junto aos seus colaboradores, a formular a crítica mais radical e elaborada das noções de origem e de reconstituição dos estágios, as quais segundo ele, um costume só tem significado se estiver associado a um contexto particular no qual se inscreve. É, somente, a partir de Boas que estima-se que para “compreender o lugar particular ocupado por esse costume não se pode mais confiar nos investigadores e, muito menos nos que, da “metrópole”, confiam nele.” Apenas o antropólogo seria capaz de elaborar uma monografia, ou seja, dar conta, de maneira cientifica, de uma microssociedade, “apreendida em sua totalidade e considerada em sua autonomia teórica.” Dessa maneira, pela primeira vez, o teórico e o observador são unidos, dando origem a uma etnografia que não mais se contenta em coletar materiais à maneira dos antiquários, mas procura detectar o que faz a unidade da cultura que se expressa através desses diferentes materiais. “Finalmente, ele foi um dos primeiros a nos mostrar não apenas a importância, mas também a necessidade, para o etnólogo, do acesso à língua da cultura na qual trabalha. As tradições que estuda não poderiam ser-lhe traduzidas. Ele próprio deve recolhê- las na língua de seus interlocutores.” Boas é desconhecido, apesar das suas incríveis contribuições para a Antropologia por dois motivos: 1. Ele nunca escreveu um livro destinado ao público erudito, e os textos que deixou são de uma concisão e rigor ascético. 2. Ele nunca formulou uma “verdadeira teoria, tão estranho era- lhe o espirito de sistema; e a generalização apressada parecia- lhe o que há de mais distante.” o Malinowski (1884 – 1942) Foi um dos primeiros a conduzir cientificamente uma pesquisa etnográfica, isto é, “em primeiro lugar, a viver com as populações que estudava e a recolher seus materiais de seus idiomas, radicalizou essa compreensão para dentro, e para isso, procurou romper ao máximo os contatos com o mundo europeu.” Malinowski considera que a partir de um único costume, ou mesmo de um único objeto aparentemente muito simples, aparece o perfil do conjunto de uma sociedade. Ele considera que uma sociedade deve ser estudada enquanto uma totalidade. “Com Malinowski, a antropologia se torna um a “ciência” da alteridade que vira as costas ao empreendimento evolucionista de reconstituição das origens da civilização, e se dedica ao estudo das lógicas particulares características de cada cultura.” Atualmente, os etnólogos acreditam que as sociedades diferentes da nossa são sociedades humanas tanto quanto a nossa, que os homens e mulheres que nela vivem são adultos que se comportam diferentemente de nós, e não “primitivos”, autômatos atrasados que pararam em uma época distante e vivem presos a tradições estúpidas. Malinowski elaborou uma teoria denominada de Funcionalismo, na qual o indivíduo sente um certo número de necessidades, e cada cultura tem como função a de satisfazer à sua maneira essas necessidades fundamentais. “Cada uma realiza isso elaborando instituições, fornecendo respostas coletivas organizadas, que constituem, cada uma a seu modo, soluções originais que permitem atender a essas necessidades.” Para Malinowski, é fundamental localizar a relação estreita do social com o biológico, uma vez que, para ele, uma sociedade funcionando como um organismo, as relações biológicas devem ser consideradas não apenas como o modelo epistemológico que permite pensar as relações sociais, e sim como o seu próprio fundamento. Não somente isso, para ele, uma verdadeira ciência da sociedade inclui o estudo das motivações psicológicas, dos comportamentos, o estudo dos sonhos e dos desejos dos indivíduos. Antigamente, os costumes dos povos, ditos primitivos, era vistos como uma aberração. Todavia, Malinowski decide inverter esse fato, segundo ele, a antropologia pressupõe uma identificação com alteridade, não mais considerada como forma social anterior à civilização, e sim como forma contemporânea mostrando-nos sua pureza aquilo que nos faz tragicamente falta: autenticidade. Sendo a teoria funcionalista, as sociedades tradicionais são sociedades estáveis e sem conflitos, visando naturalmente a um equilíbrio através de instituições capazes de satisfazer às necessidades dos homens.