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- Na obra 

Sobre o narcisismo: uma introdução, 1914 , Freud introduz o conceito


de ‘narcisismo’. Freud relata que Paul Nacke escolheu o
termo narcisismo para denotar “conduta em que o indivíduo trata o próprio
corpo como se este fosse o de um objeto sexual, isto é, olha-o, toca nele
e o acaricia com prazer sexual, até atingir plena satisfação mediante
esses atos.” Pg12. Ele afirma que todos os seres humanos apresentam
algum nível de narcisismo em seu desenvolvimento.

- Freud diferencia entre dois tipos de narcisismo: narcisismo


primário e narcisismo secundário. Narcisismo primário já pré existe em todos
os seres humanos, ou seja, está presente desde o nascimento. Freud especula
que este é o mesmo tipo de energia evidente em crianças e jovens. 

-Freud especula que o narcisismo secundário se desenvolve quando os


indivíduos direcionam este afeto de objeto de volta a si mesmos. Isto é, após a
libido já ter sido projetada para fora, para outros objetos além de si mesmo. O
resultado é que um indivíduo se torna “cortado” da sociedade e desinteressado
em outros. Freud postula que tal indivíduo terá baixa autoestima devido à sua
incapacidade de expressar o amor para os outros e que eles expressem amor
para ele. Além disso, essa pessoa pode ficar cheia de vergonha, culpa e muitas
vezes fica na defensiva. Isso ocorre porque o narcisismo faz com que um
indivíduo busque a autopreservação. Em primeiro lugar, a pessoa é
impulsionada por uma necessidade de autopreservação, e, em segundo lugar,
o indivíduo é movido pelos instintos sexuais. Durante a infância, estas duas
unidades são geralmente as mesmas. Em essência, quanto mais a ‘libido’ é
projetada para os outros (libido objetal), menos energia existe para o amor-
próprio (libido do ego).

 “Nesse sentido, o narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento


libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente
atribuímos uma porção a cada ser vivo.”

Em suma, o objeto libido emana de uma necessidade de garantir a


sobrevivência da espécie. Por isso, que o conceito de amor é para garantir a
continuação da espécie e para o indivíduo e a espécie sobreviverem, há uma
necessidade de manter um delicado equilíbrio entre estas duas libidos.

- Para Freud, nos casos de parafrênico “parece mesmo retirar das pessoas e
coisas do mundo externo a sua libido, sem substituí-las por outras na fantasia.
Quando isso vem a ocorrer, parece ser algo secundário, parte de uma tentativa
de cura que pretende reconduzir a libido ao objeto.” ... “Qual o destino da libido
retirada dos objetos na esquizofrenia? A megalomania própria desses estados
aponta-nos aqui o caminho. Ela se originou provavelmente à custa da libido
objetal. A libido retirada do mundo externo foi dirigida ao Eu, de modo a surgir
uma conduta que podemos chamar de narcisismo. No entanto, a megalomania
mesma não é uma criação nova, e sim, como sabemos, a ampliação e o
explicitamente de um estado que já havia existido antes. Isso nos leva a
apreender o narcisismo que surge por retração dos investimentos objetais
como secundário, edificado sobre um narcisismo primário que foi obscurecido
por influências várias.”

Nas condições de parafrenias o que acaba ocorrendo é uma regressão por


conta da libido não ser investida em nenhuma fantasia (como ocorre nos
neuróticos), ou seja, é cortado qualquer relação de investimento objetal,
voltando-se para o próprio indivíduo em um movimento narcísico- retorno
completo ao Eu. Assim, justifica-se na esquizofrenia o caráter psicótico, o que
consiste no desligamento com o mundo a partir dessa regressão libidinal e na
megalomania, que surge por conta do auto investimento da libido objetal. Por
conta disso, os delírios seriam para Freud uma tentativa de se religar aos
objetos/fantasias. Em outras palavras, o delírio seria uma tentativa de cura por
não se conseguir reconduzir a libido que antes era voltada ao mundo externo e
agora não possuí um objeto a qual se endereça.

- “Adementia praecoxe a paranoia nos permitirão entender a psicologia do Eu;


A hipocondria se manifesta, como a enfermidade orgânica, em sensações
físicas penosas e dolorosas, e também coincide com ela no efeito sobre a
distribuição da libido. O hipocondríaco retira interesse e libido — está de
maneira bem nítida — dos objetos do mundo exterior e concentra ambos no
órgão que o ocupa.”
Um dos fenômenos em que há manifestação do narcisismo são nos casos de
hipocondria, casos em que a pessoa se julga doente sem realmente padecer
de nenhuma doença. Aqui, o psiquismo irá investir libidinalmente essa fantasia
de sofrimento, desinvestindo os demais objetos. A fantasia da doença toma o
lugar central do investimento libidinal. A diferença entre a doença e a
hipocondria é que, no caso de doença orgânica há uma regressão libidinal,
enquanto que na hipocondria é a regressão libidinal para a fantasia da doença
que efetivamente acaba por acarretar uma enfermidade psíquica.

- “De onde vem mesmo a necessidade que tem a psique de ultrapassar as


fronteiras do narcisismo e pôr a libido em objetos? A resposta derivada de
nosso curso de pensamento seria, mais uma vez, que tal necessidade surge
quando o investimento do Eu com libido superou uma determinada medida. Um
forte egoísmo protege contra o adoecimento, mas afinal é preciso começar a
amar, para não adoecer, e é inevitável adoecer, quando, devido à frustração,
não se pode amar.”

Freud ressalta que há uma diferença entre o modo de amar de homens e


mulheres, pois os homens possuem um amor de tipo objetal, realizando uma
ligação libidinal com os objetos, enquanto as mulheres possuem um amor
narcísico, no qual estabelecem uma ligação com quem as valorize.

- “A diferença entre tais afecções e as neuroses de transferência eu atribuo à


circunstância de que a libido liberada pelo fracasso não fica em objetos na
fantasia, mas retorna ao Eu; a megalomania corresponde, então, ao domínio
psíquico sobre esse montante de libido, ou seja, à introversão para as fantasias
encontrada nas neuroses de transferência; do fracasso desta realização
psíquica nasce a hipocondria da parafrenia, análoga à angústia das neuroses
de transferência.”

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