Você está na página 1de 6

O sonho INJEÇÃO DE IRMA é considerado uma certidão de nascimento da Psicanálise, pois

se mostra essencial no entendimento da importância dos sonhos, da atividade onírica


(pensamentos do sujeito em estado de inconsciência) e da percepção de que o sonho é a
realização de um desejo. Através do seu método de interpretação, Freud vai contra o que
diziam as autoridades e afirma que os sonhos têm um sentido e não são somente uma
atividade fragmentária do cérebro.
O sonho Injeção de Irma realizou desejos de Freud, desejos esses que haviam sido
provocados na noite anterior, quando ficou até tarde redigindo o caso clínico de Irma após ter
uma conversa com seu colega e médico Otto (com quem ficou irado, por ele ter feito
observações sobre a cura incompleta da paciente). O sonho tirou de Freud a responsabilidade
pelo estado de Irma, uma vez que, no referido sonho, seu colega Otto havia lhe aplicado uma
injeção de trimetilamina (atitude irresponsável) cuja seringa poderia não estar limpa,
provocando a infecção. Outra hipótese levantada por Freud no sonho é que Irma tinha recebido
um diagnóstico errado, uma vez que ele enquanto médico tratava de casos de histeria e não de
doenças orgânicas.
Dessa forma, o sonho representou um cenário que Freud gostaria que fosse real. Em outras
palavras, Freud se doeu na noite anterior, quando Otto disse que Irma não estava totalmente
curada com o tratamento dele e então sonhou que a culpa era do Otto, já que na cabeça doida
dele ele não podia errar. Assim, ele viu que sonhos são realizações de desejos.
O relato do sonho de Irma mostra que o sentido do sonho não é imediatamente acessível nem
ao sonhador, nem ao intérprete, e a razão disso é o fato de que o sonho é sempre uma forma
disfarçada de realização de desejos e que incide sobre ele uma censura que irá deformá-lo. O
sonho que recordamos ao acordar (conteúdo manifesto) foi submetido a uma deformação (os 4
mecanismos de censura) cujo objetivo é proteger-nos do caráter ameaçador dos nossos
desejos ocultos.

No sonho da MONOGRAFIA BOTÂNICA Freud avaliou o impacto de experiências recentes no


conteúdo dos sonhos. Ele afirmou que as fontes desses sonhos vêm de: (a) uma experiência
recente e significativa, que será representada no sonho; (b) várias experiências recentes e
significativas, fundidas entre si; (c) uma experiência significativa interna.
O sonho da Monografia Botânica enfatizou a constatação de que um dos componentes do
conteúdo do sonho é a repetição de uma impressão recente do dia anterior. Ou seja, é a
realização de um desejo, como descoberto por meio do sonho Injeção de Irma, mas existem
também outros elementos que compõem o sonho, como os restos diurnos.
No sonho da Monografia, Freud escreve uma monografia sobre uma planta. Ele vê um livro
diante dele, vira uma página e vê uma prancha colorida. Havia também espécies secas de
plantas, como se tivessem sido tiradas de herbários. Com base nisso, Freud observa que na
manhã do sonho viu um livro exposto numa livraria, cujo conteúdo era uma monografia sobre o
Gênero Ciclâmen (ele deu atenção àquilo, pois se lembrou de que era a flor favorita da sua
mulher e que ele raramente lhe dava flores). Também se lembrou de que já havia escrito uma
monografia sobre a coca, mas que não levou adiante, e que um de seus colegas de profissão
havia apresentado seus estudos como se fosse dele, o que o chateou. Freud também recordou
que, nos anos de colegial, tinha colaborado na manutenção de um herbário (daí as espécies
secas presentes no sonho). A expressão “ver o livro diante de si” provavelmente fazia
referência a uma carta que recebeu no dia anterior. Já a prancha colorida tinha a ver com o
fato de que ele adorava estudar monografias e as suas pranchas coloridas.
Nesse sonho, Freud observou que há muitas relações entre o que se vive ao longo do dia e o
que se sonha durante a noite. A questão proposta no sonho Monografia Botânica é entender se
o fato que ocasionou o sonho deve ser necessariamente recente e significativo, ou se também
pode ser uma mera lembrança de um fato psiquicamente importante.
O sentido do sonho não se esgota numa única interpretação, pois um mesmo elemento do
sonho manifesto (ou seja, aquele que o sujeito conta ao intérprete) pode nos remeter a uma
série de pensamentos diferentes. Exemplo disso são as várias hipóteses levantadas por Freud
acerca do sonho da monografia.
Freud pontuou que: o fato do conteúdo dos sonhos incluir restos de experiências triviais (ou
seja, às vezes irrelevantes) se deve à distorção a qual o sonho é submetido por meio do
DESLOCAMENTO (uma dos mecanismos de deformação dos sonhos). Essa distorção é o
produto de uma censura.
Para Freud, sonhos refletem condensações e descolamentos. Segundo ele, “os sonhos
aparentemente inocentes se revelam o contrário quando nos damos ao trabalho de analisá-
los”.

“PAI, NÃO VÊS QUE ESTOU QUEIMANDO?” é o sonho de um pai que velava o filho morto.
Num dado momento, ele vai para o quarto ao lado e deixa um velho vigiando o corpo do
menino. Quando cai no sono, ele sonha com o filho lhe fazendo essa pergunta e, quando
desperta, vê que realmente o corpo estava em chamas por causa de uma vela que caiu sobre
ele quando o velho que o vigiava dormia.
Através da frase “Pai, não vês que estou queimando?”, Freud apresenta a pergunta de um filho
a um pai, pergunta essa que surge no sonho e denuncia a existência de algo mais além de
mera realização de desejo (Injeção de Irma) + restos diurnos (Monografia Botânica). Esse
sonho colabora com a tese de que o sonho é sim uma realização de desejo (afinal, no sonho
desse pai o filho se encontrava vivo), porém ele aponta também para um novo elemento: o
sentimento de culpa. Em uma nota de rodapé adicionada posteriormente, Freud diz que: “esse
seria o local apropriado para uma referência ao superego, uma classe de sonhos que constitui
uma exceção à “teoria do desejo”.

Injeção de Irma: sonhos são realizações de desejos.


Monografia botânica: sonhos são também restos diurnos.
Pai, não vês que estou queimando: sonhos trazem também o sentimento de culpa.
A DINÂMICA DA TRANSFERÊNCIA: esse é um artigo sobre o fenômeno da transferência e
sobre a maneira pela qual ela opera no tratamento analítico. Cada indivíduo, por meio das suas
características inatas (nasceu com elas) e por meio das influências que sofreu ao longo da vida
durante os seus primeiros anos, irá encontrar uma forma específica para se inserir na vida
erótica. Com vida erótica, quer se dizer: as condições que estabelece para se apaixonar, os
instintos que a satisfazem e os objetivos que determina para si. Esse processo produz o que se
chama de “clichê estereotípico”, que é constantemente repetido no decorrer da vida da pessoa
(estereótipos específicos pelos quais ela sempre se atrai).
O autor diz que apenas uma parte dos nossos impulsos eróticos é consciente e, portanto, real.
A outra parte foi afastada do consciente e foi impedida de se expandir, exceto pelas fantasias.
Essa parte inconsciente é desconhecida.
Portanto, se a necessidade de amar da pessoa não é totalmente satisfeita pela realidade
(afinal, os aspectos e desejos inconscientes ainda estão lá, mesmo que desconhecidos), ela
está fadada a se aproximar de cada nova pessoa que encontra com ideias libidinais. Segundo
o autor, é provável que ambas as partes da libido (consciente e inconsciente) tenham cota na
formação dessa atitude. Dessa forma, é normal e compreensível que a libido de alguém que se
encontra insatisfeito seja dirigida para a figura do médico.
É como se a pessoa buscasse protótipos e se ligasse aos clichês estereotípicos para direcionar
a sua libido. Se a imagem do pai foi a causa desse processo (fase de castração, onde o desejo
pelo pai foi reprimido), ela irá concordar com a transferência para a imagem do médico. Mas a
transferência não fica presa a esse protótipo, pois pode surgir ligada à imagem materna ou a
imagem fraterna.
Então, se esse comportamento de transferência é compreensível, não haveria nada com que
se preocupar ou estudar, exceto por dois pontos que permaneciam inexplicados.
O primeiro era que a transferência é muito mais intensa em pessoas neuróticas que estão em
processo de análise, do que em pessoas desse mesmo grupo que não estão sendo analisadas.
O segundo era que é um enigma o motivo pelo qual, no processo de análise, a transferência é
a resistência mais poderosa ao tratamento (porque o sujeito quer impressionar o médico,
portanto, não é cem por cento sincero), enquanto que, fora dele, ela é encarada como veículo
de sucesso (a ligação entre paciente e psicólogo é vista como positiva para o processo).
De início, parece uma desvantagem para a psicanálise como método o fato de que a
transferência, que constituía o fator mais forte a contribuir para o seu sucesso, tenha se
transformado no mais poderoso meio de resistência.
No entanto, de acordo com o autor, se a situação for examinada de perto é possível dissipar o
primeiro problema, uma vez que não é verdade que a transferência surge com maior
intensidade durante a psicanálise do que fora dela. Gabriel Reuter falou sobre transferência
numa época em que ainda não havia a psicanálise, ou seja, as características da transferência
devem ser atribuídas não à psicanálise, mas à própria neurose.
Já o segundo problema deve ser observado mais de perto. Pois bem: uma precondição
indispensável de todo desencadeamento de uma psiconeurose é o processo de introversão.
Isso quer dizer que a parte da libido que é consciente e real é diminuída, enquanto a parte
inconsciente (que, embora, ainda possa se alimentar das fantasias) é proporcionalmente
aumentada. A libido (inteiramente ou em partes) entra num curso regressivo e revive as
imagens infantis do indivíduo.
Dessa forma, o tratamento analítico procura rastrear essa libido que regrediu e torná-la
acessível à consciência. No entanto, nesse momento é comum que haja um combate, pois
todas as forças que fizeram a libido regredir se erguem como resistências ao trabalho do
analista. Afinal, a regressão da libido se tornou conveniente para lidar com a frustração da
satisfação.
Só que essas forças que se opõem não são as únicas e nem as mais poderosas (CLUBE DAS
WINXXX). A libido que estava consciente sempre sofreu influência dos seus complexos
inconscientes, e entrou num curso regressivo por causa das atrações eróticas presentes na
realidade terem diminuído. A fim de liberar outra vez essa libido, a repressão dos instintos
inconscientes deve ser removida (QUEIMA QUENGARAL). Isso é responsável pela maior parte
da resistência e faz com que a doença persista mesmo após a regressão da libido ter perdido
sua justificação. A análise precisa lutar contra as resistências que vêm tanto dos aspectos
conscientes, quanto dos aspectos inconscientes. A resistência acompanha o tratamento passo
a passo. Portanto, cada ato da pessoa que está em tratamento sofre influência da resistência,
ao mesmo tempo em que representa uma tentativa de conciliação entre as forças que estão
lutando no sentido de restabelecimento e das que se opõem.
O autor diz que, se acompanharmos um complexo patogênico desde sua representação no
consciente até sua raiz no inconsciente, nós iremos ingressar numa região em que a
resistência é tão forte que, no ato seguinte do trabalho de investigação, ela irá aparecer como
uma conciliação entre as exigências do sujeito e o trabalho do analista. Ou seja, é aí que entra
a transferência. Quando existe algo no material complexo do sujeito que pode ser transferido
para a figura do médico, isso acontece e, em seguida, surgem também os sinais de
resistências. Pode-se dizer por meio dessa experiência que a transferência satisfaz a
resistência (se não posso ter aquilo o que quero, vou transferir para alguém).
Quando estamos diante de um complexo patogênico, a parte que é capaz de fazer a
transferência é empurrada para a consciência e defendida com unhas e dentes. Depois que
essa parte é vencida, a superação das outras partes é mais fácil.
Mas como a transferência pode servir como um meio tão forte de resistência? Pode-se pensar
que a resposta é simples: é difícil admitir qualquer impulso erótico que, por inúmeros fatores,
pareça possível de ser realizado no mundo real, portanto a pessoa transfere. No entanto, é
exatamente isso que o paciente visa quando faz com que o objeto dos seus impulsos eróticos
coincida com o médico.
Não deveria a transferência ajudar no processo de confissão, ao invés de dificultar? Afinal, nos
abrimos com mais facilidade com pessoas com quem temos uma conexão.
O autor percebe, então, que existem dois tipos de transferência: positiva e negativa. A positiva
é composta de sentimentos amistosos e afetuosos que estão conscientes e também de
prolongamentos desses sentimentos no inconsciente, que remontam a fontes eróticas. Aqui ele
fala que todas as nossas relações emocionais (incluso amizades, ou pessoas por quem
nutrimos admiração) se desenvolveram de desejos puramente sexuais. Já a negativa é
composta de sentimentos hostis.
Dessa forma, a transferência só irá se apresentar como resistência se for uma transferência
negativa, ou se for uma transferência positiva de impulsos eróticos que foram reprimidos.
Se removermos essa parte ruim da transferência trazendo esses aspectos à consciência,
restará a parte boa e que é fundamental pro estabelecimento do vínculo de confiança entre o
paciente e o analista.
O autor continua a falação dizendo que até então ele só comentou sobre um dos lados do
fenômeno da transferência, mas que tem outro também, que é: quando a pessoa em análise
entra sob o domínio da resistência, causado pela transferência “ruim”, ela despreza a regra
fundamental da psicanálise, que é comunicar tudo o que lhe vier à cabeça sem nenhuma
crítica.
Então, por causa disso o psiquiatra começa a procurar a libido lá que tá perdida e tenta
penetrar o inconsciente, mas o inconsciente se esforça e resiste e daí tem a luta entre médico
e paciente. O autor finalmente finaliza dizendo que é nesse campo de batalha que a vitória
precisa ser conquistada, e essa vitória é a cura permanente da neurose.

DE ONDE VEM A PSICANÁLISE? A psicanálise surgiu a partir da experiência clínica do


médico e neurologista Sigmund Freud e é um tipo de tratamento que se baseia na cura pela
fala e na escuta. Além de se interessar pela psiquiatria e neurologia, Freud queria entender a
natureza humana, investigar os enigmas da mente e da cultura. Essa inclinação tornou-se a
paixão que o conduziu à criação da psicanálise e à descoberta do inconsciente, após estudos
acerca da histeria.

VERBETES QUE ATUAM NA DEFORMAÇÃO DOS SONHOS: São quatro os mecanismos de


censura que atuam na deformação dos sonhos:
(1) Condensação: a condensação é o resumo das ideias que têm pontos em comum. Em
outras palavras, uma ideia é condensada com outra, fusionada com outra. Traduz-se no sonho
pelo fato de o relato manifesto, comparado com o conteúdo latente, ser lacônico: constitui uma
tradução resumida.
(2) Deslocamento: ocorre quando você passa (desloca) a energia pulsional de uma ideia para a
outra, que seja mais aceitável. A mente transfere uma reação emocional a um objeto ou
pessoa para outro objeto ou pessoa.
(3) Chiste: segundo Freud, o chiste põe-se a serviço de duas tendências: um chiste hostil (que
se reserva à agressão, sátira, defesa) ou um chiste obsceno. Ele é aquela piada com um tom
de verdade, uma válvula de escape do nosso inconsciente.
(4) Figurabilidade: exigência a que são submetidos os pensamentos do sonho; eles sofrem
uma seleção e uma transformação que os tornam aptos a serem representados em imagens,
sobretudo visuais.

O QUE É CONTEÚDO MANIFESTO E CONTEÚDO LATENTE? O conteúdo manifesto é o


sonho antes de ser submetido à investigação analítica, tal como aparece ao sonhante que o
relata (aquilo o que o sujeito conta). Já o conteúdo latente é o verdadeiro sonho. É constituído
por restos diurnos, recordações da infância, impressões corporais, alusões a situações de
transferência. É a expressão adequada do desejo do sonhante.

O INCONSCIENTE: é um conjunto de processos de simbolização baseados na condensação e


no deslocamento. O inconsciente é uma espécie de segunda consciência que está sujeita a leis
próprias. Leis de associação que estão baseadas no retorno a traços mnêmicos de satisfação.
O inconsciente não é um depósito de coisas e de ideias, mas é uma regra de associação e de
simbolização. Uma regra a partir da qual os desejos que não são admitidos na consciência, ou
porque sofrem um repúdio da moral, ou do eu, passam por um processo de desligamento. A
parte da representação ligada à coisa e a parte ligada à palavra são desconectadas. Essas
ideias separadas adquirem outro princípio de ligação (Freud chama de processos primários)
que vai determinar as formações do inconsciente, como os sonhos, chistes, atos falhos e
transferências.

TRAÇOS MNÊMICOS: memórias, reter ideias, sensações, impressões.

REALIDADE FACTUAL: realidade concreta.

REALIDADE PSÍQUICA: as fantasias, o que acontece na mente.

ESTADO DE VIGÍLIA: quando acordamos percebemos a realidade ilusória dos sonhos, pois
passamos para outro estado de consciência conhecido como estado de vigília. É como
estamos agora, imaginando que somos seres plenamente conscientes.

Você também pode gostar