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2.

1 - A PULSÃO

A força responsável pela dinâmica do aparelho psíquico é denominada por Freud


como pulsão. Primeiramente, é necessário destacar que nos escritos freudianos se utiliza
do termo alemão trieb para definir pulsão, enquanto que a tradução para o inglês (e
posteriormente do inglês para outras línguas) foi determinada como instinct. A tradução
inglesa, instinto, incorpora um significado diferente do descrito pelo alemão, atendo-se
somente a padrões de conduta determinados filogeneticamente (relativos à espécie),
enquanto a pulsão denomina um fenômeno exclusivamente humano.

Resgatado da fisiologia, Freud utiliza o conceito de estímulo para explicar a


pulsão, a qual seria uma resposta do aparelho psíquico à um estímulo recebido pelos
órgãos do corpo. É diferenciada dos “outros estímulos” descritos por ele (estímulos
diferentes dos pulsionais) pois é sempre constante e não agrega nenhuma possibilidade
de fuga, tendo em vista que é uma força de origem interna ao aparelho. Sobre tal, ele
comenta:

Obtivemos agora, portanto, material para a diferenciação entre o estímulo


pulsional e o outro estímulo (fisiológico) que atua sobre o anímico. Em
primeiro lugar: o estímulo pulsional não advém do mundo exterior, mas do
interior do próprio organismo. Por isso, ele atua de modo diferente sobre o
anímico e requer outras ações para sua eliminação. (FREUD, 2013, p. 21)

No que toca essa constância da pulsão, ela contraria um dos princípios básicos
atribuídos ao sistema nervoso, a partir do conceito freudiano, que é o de reduzir toda
intensidade dos estímulos o tanto quanto possível e até livrar-se deles para manter a
harmonia do aparato psíquico (FREUD, 2013, p. 22). Essa contrariedade é o que
promove a dinâmica no aparelho.

2.2 – OS ELEMENTOS DA PULSÃO

Podemos, então, discutir alguns termos que são utilizados em correlação com o
conceito de pulsão, a saber: pressão, meta, objeto e fonte da pulsão (FREUD, 2013, p.
23).
Por pressão (drang), entende-se o termo como o fator motor da pulsão. É o
trabalho por ela representado, e é de característica geral da pulsão que se configure
como uma parcela de atividade.

Sobre a meta (ziel), seguindo o princípio do prazer do aparato inconsciente, diz


respeito à satisfação através da interrupção do desprazer gerado pelo acúmulo de
estímulo da pulsão, consequentemente a obtenção do prazer. Freud acrescenta:

[...] mesmo que essa meta final permaneça inalterada para todas as pulsões,
diferentes caminhos podem conduzir a essa mesma meta final, de modo que
podem existir para uma mesma pulsão diversas metas aproximadas ou
intermediárias, as quais podem ser combinadas ou substituídas umas por
outras (FREUD, 2013, p. 13).

Acerca do objeto (objekt), é o elemento mais variável da pulsão. O objeto que


torna possível a obtenção da satisfação e não está intrinsecamente vinculado a esta. O
objeto não se limita à materialidade e pode variar para a mesma pulsão, bem como pode
representar o objeto para mais de uma pulsão simultaneamente. Ademais, quando há
uma proximidade particular entre um objeto específico e uma pulsão, determina-se
assim uma fixação.

Quanto ao que se entende por fonte (quelle), esta representa o ponto de origem
somático da pulsão. Freud complementa:

Não se sabe se esse processo é regularmente de natureza química ou se


também pode corresponder à liberação de outras forças, por exemplo,
mecânicas. O estudo das fontes pulsionais já não pertence à Psicologia; ainda
que a origem em uma fonte somática seja o elemento mais decisivo para a
pulsão, só a conhecemos na vida anímica por causa de suas metas (FREUD,
2013, p. 24).

Além disso, ele pontua que um conhecimento mais específico acerca das fontes
não é fundamentalmente necessário para a investigação psicológica (2023, p.24).

3.3 – OS DESTINOS DA PULSÃO

Se configuram como as defesas do aparelho psíquico contra as pulsões,


buscando eliminar ou dissipar ao máximo a energia pulsional para que se faça o retorno
do aparato ao momento antes da tensão (FREUD, 2013, p. 25). Tais defesas podem ser
denominadas como recalque, reversão em seu contrário, o retorno em direção à própria
pessoa e sublimação.

O recalque já foi anteriormente discutido nos tópicos supracitados, enquanto a


reversão em seu contrário seria a reversão de um conteúdo no seu oposto, ilustrado
unicamente na transformação de amor para ódio, além da passagem entre pulsão da
atividade para passividade. O retorno em direção à própria pessoa é o deslocamento do
objeto da pulsão para o próprio Eu. Freud utiliza o seguinte exemplo:

O retorno em direção à própria pessoa se torna compreensível se


considerarmos que o masoquismo é um sadismo que se voltou contra o
próprio Eu, e que o exibicionismo inclui a contemplação do próprio corpo. A
observação analítica não deixa dúvidas quanto ao fato de que o masoquista
também frui da fúria contra sua pessoa e de que o exibicionista também frui
do próprio desnudamento. O essencial nesse processo é, portanto, a troca do
objeto com a invariância da meta (FREUD, 2013, p. 26).

Por fim, quando as pulsões não podem ser satisfeitas de forma direta ou quando
sua expressão é considerada inaceitável, elas podem encontrar um destino na
sublimação. A sublimação ocorre quando as pulsões são “dessexualizadas”, segundo
Freud, mas pouco se conhece de forma profunda sobre a sublimação pela falta de
escritos do autor. (FREUD, 2013, p. 70).

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