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RESUMO N1 – TEORIAS E SISTEMAS PSICOLÓGICOS

Cap. 1: O ESTUDO DA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, E.


História da Psicologia Moderna. 11ª Ed. Norte-americana. São Paulo (SP): Cengage Learning
2019.

O texto aborda o estudo da história da psicologia, destacando sua importância e


relevância. Inicia-se com um exemplo prático sobre a capacidade humana de perceber
estímulos em meio a distrações, ilustrando como a atenção seletiva pode influenciar a
percepção. A seguir, explora a necessidade de compreender o passado da psicologia para
contextualizar o presente, destacando a diversidade de abordagens na disciplina.
O autor ressalta que a história da psicologia é uma área significativa de estudo,
evidenciada pela oferta de cursos desde 1911 e pela presença em grande parte das
universidades nos Estados Unidos. Destaca-se a existência de uma divisão própria na
Associação Americana de Psicologia e de um centro de pesquisas dedicado aos arquivos
históricos da psicologia.
O texto destaca que a diversidade de abordagens na psicologia moderna pode ser
compreendida melhor através do estudo de sua evolução ao longo do tempo. Argumenta que
a história proporciona uma visão clara da natureza atual da psicologia, organizando a
aparente desordem e conferindo significado ao aparente caos. Analogias são feitas entre o
modo como psicólogos clínicos exploram a infância para entender pacientes adultos e como
os behavioristas enfatizam o condicionamento passado para explicar comportamentos atuais.
O autor encoraja a leitura do livro como uma maneira sistemática de integrar diferentes
áreas e questões da psicologia moderna, enfatizando a importância do estudo da história
como um meio de reconhecer as relações entre ideias, teorias e esforços de pesquisa. Por fim,
destaca que a história da psicologia é não apenas fascinante, mas também repleta de drama,
tragédia, heroísmo e revolução, tornando-se uma ferramenta essencial para compreender a
riqueza da psicologia contemporânea.
O texto aborda o desenvolvimento da psicologia moderna, oferecendo uma perspectiva
sobre quando e como a disciplina emergiu. Destaca-se que a resposta à pergunta sobre onde
começar o estudo da história da psicologia depende da definição da psicologia em si. O autor
aponta para dois períodos distintos, com cerca de 2 mil anos de diferença, como origens da
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psicologia, considerando-a tanto uma das disciplinas mais antigas quanto uma das mais
recentes.
O século V a.C. é mencionado como um período em que filósofos como Platão e
Aristóteles já discutiam questões comuns aos psicólogos contemporâneos, abordando temas
como memória, aprendizagem, motivação, pensamento, percepção e comportamento
anormal. A influência dessas ideias é destacada como estruturante para o desenvolvimento
subsequente da psicologia.
Por outro lado, o texto sugere que a psicologia moderna, como disciplina independente
e científica, teve seu surgimento aproximadamente 200 anos atrás, quando se separou da
filosofia e adotou métodos de pesquisa distintos. A transição ocorreu quando os
pesquisadores começaram a aplicar ferramentas e métodos das ciências biológicas e físicas
para explorar questões relacionadas à natureza humana. Isso marca o início da psicologia
como uma área de estudo própria.
O autor destaca a importância dos métodos precisos e objetivos na diferenciação entre a
psicologia moderna e suas raízes filosóficas. A mudança crucial ocorreu quando os
pesquisadores passaram a confiar na observação e na experimentação controlada para estudar
a mente humana. A narrativa então se concentra no século XIX como o período em que a
psicologia se tornou uma disciplina independente, com métodos de pesquisa distintos e
fundamentação teórica.
O texto também aborda a reconstrução do passado da psicologia por meio de dados
históricos, destacando a historiografia como a técnica utilizada pelos historiadores para
estudar e compreender o desenvolvimento da psicologia. São discutidos desafios específicos
enfrentados pelos historiadores em comparação com os psicólogos, especialmente no que diz
respeito à coleta e interpretação de dados históricos. O autor destaca a natureza fragmentada e
muitas vezes limitada desses dados, ressaltando a importância de fontes como descrições
escritas, cartas, diários, fotografias e equipamentos de laboratório.
No final, o texto enfatiza que, embora os historiadores não possam repetir ou controlar
os eventos do passado como os psicólogos fazem em seus estudos, eles ainda têm fragmentos
significativos de informações para analisar e reconstruir os eventos e experiências históricas.
O texto aborda recursos online e desafios relacionados ao estudo da história da
psicologia. Destacam-se diversos links de arquivos históricos e coleções de documentos
relevantes para a compreensão do desenvolvimento da psicologia:
1. Archives of the History of American Psychology
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- Coleção de documentos, trabalhos profissionais, equipamentos de laboratório,


pôsteres, slides e filmes de renomados psicólogos.
2. APA (American Psychological Association) Archives
- Materiais relevantes mantidos pela Biblioteca do Congresso em Washington, DC,
incluindo histórias orais, fotos, biografias e obituários.
3. PsychClassics
- Site mantido por Christopher Green na York University, Canadá, oferecendo
conteúdo completo de livros, capítulos e artigos importantes na história da psicologia. Inclui
uma ferramenta de busca e um fórum para questões sobre a história da psicologia.
4. Society for the History of Psychology
- Site da Divisão 26 da American Psychology Association, oferecendo recursos aos
estudantes, livros online, periódicos e uma loja com itens relacionados à psicologia histórica.
O texto também discute desafios associados à obtenção de dados históricos, destacando
situações em que dados foram perdidos, extraviados ou deliberadamente destruídos.
Exemplos incluem o caso de John B. Watson, fundador do behaviorismo, que queimou suas
cartas e notas antes de sua morte, e descobertas tardias de documentos de cientistas como
Robert Hooke e Hermann Ebbinghaus.
Outras situações mencionadas envolvem dados ocultados ou distorcidos. Exemplos
incluem a omissão intencional de informações sobre o uso de cocaína por Sigmund Freud, a
seleção tendenciosa de documentos sobre Carl Jung, e a manipulação de escritos de Wolfgang
Kohler para melhorar sua imagem.
Além disso, o texto ressalta que a tradução pode distorcer as informações históricas,
citando exemplos da tradução inadequada de termos fundamentais da teoria de Freud, como
"id", "ego" e "superego". A discussão destaca a complexidade na interpretação de dados
históricos e destaca a importância de abordar esses desafios ao estudar a história da
psicologia.
O texto aborda a influência das atitudes pessoais na narrativa histórica, destacando a
possibilidade de relatos tendenciosos por parte dos envolvidos. Como exemplo, cita-se a
biografia do psicólogo behaviorista B. F. Skinner, que descreveu uma rotina rigorosa durante
seus estudos na Harvard University. No entanto, anos depois, Skinner admitiu que havia
valorizado sua vida acadêmica para melhorar sua imagem.
Essas divergências nos relatos ilustram os desafios enfrentados pelos historiadores ao
avaliar a precisão das informações históricas. A questão central reside em determinar quais
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relatos são mais precisos e se aproximam da realidade, considerando possíveis influências de


memórias vagas ou narrativas autopropagadas.
O texto destaca que, em alguns casos, é possível buscar evidências entre colegas ou
observadores para confirmar as informações. No exemplo de Skinner, um biógrafo descobriu,
através de um ex-colega, que a rotina rigorosa descrita por Skinner era, na verdade, diferente,
envolvendo atividades como jogar pingue-pongue.
Além disso, o texto menciona a aplicação desse método na análise de relatos de Freud
sobre sua vida. Inicialmente retratando-se como um mártir da causa psicanalítica,
informações descobertas posteriormente revelaram uma realidade diferente, na qual Freud era
reconhecido e influente em sua meia-idade.
Esses desafios com os dados históricos ressaltam a natureza dinâmica e em constante
evolução do entendimento da história. A compreensão histórica é continuamente refinada e
corrigida à medida que novos dados são revelados ou reinterpretados, indicando que a
história é um processo em andamento.
O texto também destaca a importância de considerar as forças contextuais na
psicologia, observando como ela é moldada por influências externas, como o clima
intelectual da época (Zeitgeist) e forças sociais, econômicas e políticas. Exemplifica como
esses contextos impactaram o desenvolvimento passado da psicologia e continuam a
influenciar seu presente e futuro.
O texto aborda diversas oportunidades que surgiram na psicologia devido a mudanças
econômicas, guerras e questões de preconceito e discriminação.
Oportunidades advindas da economia
Os primeiros anos do século XX testemunharam mudanças significativas na psicologia
nos Estados Unidos devido ao cenário econômico. Com o aumento do número de psicólogos
e laboratórios, a competição por vagas cresceu. A psicologia, recebendo menor verba em
comparação com outras disciplinas, buscou provar sua utilidade na resolução de problemas
sociais, educacionais e industriais. O aumento na demanda por educação pública devido ao
fluxo de imigrantes e alta taxa de natalidade criou oportunidades para os psicólogos
aplicarem seus conhecimentos na área educacional.
Guerras mundiais
As guerras desempenharam um papel significativo na estruturação da psicologia
moderna. Durante as Guerras Mundiais, os psicólogos norte-americanos colaboraram com
esforços de guerra, acelerando o desenvolvimento da psicologia aplicada em áreas como
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seleção de pessoal, testes psicológicos e psicologia aplicada à engenharia. Essas


contribuições destacaram a utilidade da psicologia e expandiram sua influência.
A Segunda Guerra Mundial teve impactos na psicologia europeia, levando muitos
pesquisadores e teóricos a se refugiarem nos Estados Unidos, marcando a transferência final
da psicologia da Europa para os EUA. Além disso, as experiências traumáticas das guerras
influenciaram teóricos como Sigmund Freud, que propôs a agressão como uma força
motivadora significativa da personalidade humana, e Erich Fromm, que atribuiu seu interesse
pelo comportamento anormal às condições na Alemanha durante a guerra.
Preconceito e discriminação
O texto aborda a discriminação por gênero, destacando a longa história de preconceitos
contra mulheres na psicologia. Mesmo quando capacitadas, as mulheres enfrentavam
barreiras no acesso a cargos acadêmicos e salários mais baixos. Exemplos como Eleanor
Gibson e Sandra Scarr ilustram os desafios enfrentados por mulheres na psicologia.
A discriminação étnica também é abordada, mencionando a existência de cotas de
admissão para homens e mulheres judeus nas décadas de 1960. O texto destaca casos de
discriminação explícita contra judeus em universidades de elite, mostrando como essas
práticas eram generalizadas.
Os exemplos de indivíduos que mudaram seus nomes para evitar discriminação, como
David Krech, Julian Rotter, Harry Harlow, e Abraham Maslow, evidenciam as dificuldades
enfrentadas por psicólogos devido a preconceitos étnicos.
Em resumo, o texto destaca as complexas interações entre eventos econômicos, guerras
e questões sociais na formação e evolução da psicologia, destacando as oportunidades e
desafios enfrentados pelos profissionais da área ao longo do tempo.
O texto descreve diversos casos de discriminação enfrentados por diferentes grupos na
história da psicologia, destacando as barreiras enfrentadas por mulheres, judeus e
afro-americanos. O preconceito e a discriminação impactaram o acesso à educação,
oportunidades de trabalho e o reconhecimento profissional nesses contextos específicos. O
relato inclui episódios de psicólogos que sofreram discriminação devido à sua origem étnica,
religião ou gênero, como a recusa de empregos, imposição de limites para treinamento e
restrições quanto à participação em determinadas áreas da psicologia.
Além disso, são apresentados exemplos de resistência e superação por parte desses
profissionais, evidenciando suas contribuições significativas para a psicologia, mesmo diante
das adversidades. O texto destaca a luta pela igualdade de oportunidades e o papel das
instituições acadêmicas na promoção da diversidade. Observa-se que, apesar dos desafios
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históricos, a psicologia contemporânea busca promover a inclusão e a diversidade, embora


ainda existam desafios a serem superados. A reflexão final ressalta a importância de
reconhecer o trabalho cotidiano de psicólogos, independentemente de seu sexo ou etnia, e
destaca que a história muitas vezes negligencia essas contribuições essenciais.
O texto aborda duas perspectivas para analisar o desenvolvimento histórico da
psicologia científica: a abordagem personalista e a abordagem naturalista. A teoria
personalista destaca as realizações e contribuições de indivíduos específicos, atribuindo o
progresso e a mudança à vontade e carisma dessas figuras. No entanto, essa visão é
questionada, uma vez que muitas contribuições importantes foram ignoradas em vida e
reconhecidas apenas posteriormente.
Por outro lado, a teoria naturalista propõe que a época e o Zeitgeist (espírito do tempo)
moldam o indivíduo, tornando possível reconhecer e aceitar suas propostas. O texto destaca
que a atmosfera intelectual, cultural e espiritual da época pode determinar se uma ideia será
aceita ou rejeitada. O progresso científico é descrito como ocorrendo de maneira lenta, com
ideias muitas vezes aguardando o momento mais adequado para serem aceitas.
Exemplos, como o de Charles Darwin, são citados para ilustrar a teoria naturalista,
sugerindo que se Darwin não tivesse desenvolvido a teoria da evolução, outra pessoa poderia
tê-lo feito, dada a receptividade da época à explicação sobre a origem da espécie humana. A
teoria naturalista também destaca que o Zeitgeist pode ter efeitos inibidores sobre os métodos
de investigação, formulações teóricas e definição do objeto de estudo na psicologia.
O texto conclui ressaltando que ambas as perspectivas, personalista e naturalista, são
importantes para entender a evolução histórica da psicologia. Embora o papel dos grandes
homens e mulheres seja reconhecido, o Zeitgeist desempenha um papel principal,
influenciando a aceitação ou rejeição de ideias. Ambas as visões, portanto, iluminam o
caminho a seguir na compreensão da história da psicologia.
O texto aborda o surgimento e evolução das escolas de pensamento na psicologia
moderna. Inicialmente, destaca a influência de Wilhelm Wundt no estabelecimento da
psicologia como uma disciplina científica distinta, destacando suas metas, objeto de estudo,
métodos e tópicos de pesquisa. Wundt desempenhou o papel de agente do Zeitgeist,
moldando a psicologia durante algum tempo.
Com o tempo, surgiram divergências entre os psicólogos, refletindo as mudanças
sociais e científicas. Por volta de 1900, várias escolas de pensamento coexistiam, cada uma
oferecendo diferentes definições sobre a natureza da psicologia. O estágio pré-paradigmático
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foi marcado por essas divergências, e a transição para um estágio paradigmático, onde um
modelo comum define o campo, ainda não foi alcançada na psicologia.
O conceito de paradigma, inspirado na física, é mencionado como um modelo ou
padrão aceito na disciplina científica que fornece perguntas e respostas fundamentais. No
entanto, a psicologia ainda não atingiu esse estágio maduro, e a falta de uma visão unificada é
evidenciada pelos constantes conflitos e fragmentação dentro da disciplina.
O texto destaca a natureza fragmentada e desintegrada da psicologia na atualidade, com
várias correntes independentes que dificultam a comunicação entre as diferentes abordagens.
Cada escola de pensamento na psicologia foi um movimento de protesto contra a posição
dominante, provocando discussões acaloradas e mudanças na orientação teórica e
metodológica.
A história da psicologia é apresentada como uma sequência de paradigmas frustrados, e
a falta de um princípio científico fundamental comparável às leis da física de Newton ou à
teoria evolucionista de Darwin é destacada. O texto conclui enfatizando a importância de
compreender o avanço da psicologia no contexto do desenvolvimento histórico das escolas de
pensamento, reconhecendo tanto as contribuições individuais quanto as mudanças nas ideias
que precederam, influenciaram e sucederam essas contribuições.
O livro segue uma organização cronológica e temática, abordando o desenvolvimento
da psicologia desde suas raízes filosóficas e fisiológicas até os movimentos e escolas de
pensamento modernos. A obra inicia com os precursores filosóficos e fisiológicos da
psicologia experimental, seguido pelo papel fundamental de Wilhelm Wundt e a emergência
do estruturalismo.
A narrativa prossegue com a evolução para outras escolas de pensamento, como o
funcionalismo, o behaviorismo, a psicologia da Gestalt e a psicanálise. Cada escola é
apresentada em capítulos distintos, destacando suas principais características, ideias e
influências. Ao longo da narrativa, percebe-se a interconexão entre essas abordagens e como
algumas surgem como reações ou evoluções das anteriores.
O texto aborda as diferentes correntes de pensamento que surgiram em reação ao
behaviorismo e à psicanálise, incluindo a psicologia humanista e a psicologia cognitiva.
Também menciona desenvolvimentos contemporâneos, como a psicologia evolucionista, a
neurociência cognitiva e a psicologia positiva, destacando a complexidade e diversidade do
campo.

Questões para Discussão:


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1. Descreva o processo cíclico que envolve o surgimento, o desenvolvimento e a extinção


das escolas de pensamento.
O processo cíclico envolve o surgimento de uma nova escola de pensamento como uma
reação ou evolução da anterior, seu desenvolvimento por meio de pesquisa e prática, e
eventualmente sua extinção ou transformação à medida que novas abordagens emergem.

2. Descreva as diferenças entre as visões personalista e naturalista da história científica.


Explique em qual dessas abordagens são fundamentados os casos de descoberta
simultânea.
A visão personalista destaca o papel dos indivíduos na história científica, enquanto a
visão naturalista enfatiza as forças contextuais e o Zeitgeist. Os casos de descoberta
simultânea são fundamentados na abordagem naturalista, que destaca a receptividade do
ambiente a determinadas ideias.

3. Descreva os obstáculos enfrentados por mulheres, judeus e negros em busca de uma


carreira na psicologia, principalmente na primeira metade do século XX.
Mulheres, judeus e negros enfrentaram obstáculos em busca de carreiras na psicologia,
especialmente na primeira metade do século XX, devido a preconceitos e discriminação
social.

4. Como o processo de registro histórico de qualquer campo, necessariamente, restringe


os trabalhos individuais que merecem destaque?
O registro histórico muitas vezes destaca trabalhos individuais de pessoas
proeminentes, mas pode negligenciar contribuições significativas de grupos
sub-representados.

5. O que diferencia os dados históricos dos dados científicos? Exemplifique de que


maneira os dados históricos podem ser distorcidos.
Dados históricos são interpretações do passado, enquanto dados científicos são
resultados de experimentos e observações controladas. Os dados históricos podem ser
distorcidos devido a interpretações tendenciosas ou falta de documentação precisa.

6. Como as forças contextuais influenciaram o desenvolvimento da psicologia moderna?


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As forças contextuais, como o Zeitgeist e mudanças culturais, influenciaram o


desenvolvimento da psicologia moderna, moldando o ambiente intelectual no qual as ideias
surgiram.

7. O que é possível aprender com o estudo da história da psicologia?


O estudo da história da psicologia permite compreender as origens das teorias e práticas
atuais, aprender com os erros e sucessos do passado e reconhecer a evolução do campo.

8. Qual é o significado da expressão "escola de pensamento"? A ciência da psicologia


atingiu o estágio paradigmático de desenvolvimento? Explique sua resposta.
"Escola de pensamento" refere-se a um grupo de psicólogos que compartilham
orientações teóricas. A psicologia ainda não atingiu um estágio paradigmático, onde um
modelo comum define todo o campo.

9. O que é Zeitgeist? Como o Zeitgeist afeta a evolução da ciência? Compare o


desenvolvimento da ciência com a evolução da espécie viva.
Zeitgeist refere-se ao espírito ou clima intelectual de uma época. O Zeitgeist afeta a
evolução da ciência influenciando a aceitação de ideias e a receptividade a determinadas
abordagens, comparável à evolução das espécies vivas em resposta às mudanças ambientais.

10. Por que os psicólogos alegam que a psicologia é uma das disciplinas acadêmicas mais
antigas e ao mesmo tempo mais modernas? Explique por que a psicologia moderna é
um produto tanto do pensamento do século XIX como do século XX.
A psicologia é considerada uma disciplina antiga devido às influências filosóficas e
fisiológicas do século XIX, mas também moderna devido aos desenvolvimentos e abordagens
inovadoras do século XX.

Cap. 1: A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO EPISTÊMICO. FIGUEIREDO, L. D.;


LOUREIRO, I. Os saberes em Psi em questão: sobre o conhecimento em psicologia e
psicanálise. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.
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O texto explora brevemente o papel central e exclusivo do projeto epistemológico na


filosofia durante a Idade Moderna, abordando como as tradições teóricas e epistemológicas
exerceram domínio sobre a cultura ocidental. O período da Modernidade, iniciado no final do
Renascimento e marcado por projetos modernos sucessivos, é caracterizado por
transformações, crises e persistências ao longo dos séculos.
O autor destaca a emergência da Modernidade a partir do século XVI, evidenciando a
visão do homem como um ser sem natureza ou posição predefinidas, capaz de escolher
livremente sua natureza e posição. A ideia de um ser que pode escolher livremente, moldando
sua própria identidade, marca a transição para a Modernidade.
O texto menciona a obra "A invenção do psicológico", que oferece uma análise
detalhada da emergência da Modernidade. Destaca-se o ensaio "Uma santa católica na Idade
da Polifonia", que examina o século XVI a partir de uma variedade de produtos culturais,
evidenciando os momentos cruciais da emergência de novas formas de subjetivação. O autor
enfatiza projetos de reforma que caracterizaram esse período, concentrando-se em figuras
como Santo Inácio de Loyola e Santa Teresa d'Ávila.
O século XVI testemunhou o colapso das tradições empíricas e históricas, dando lugar
a tentativas tumultuadas de escapar da conagração dessas tradições. O sujeito é estabelecido
como fundamento autofundante das crenças, normas e valores, inaugurando uma fase em que
o homem deve escolher, decidir e validar suas crenças sem recorrer aos saberes tradicionais.
Diante da ameaça de ceticismo e desagregação social, a busca por uma nova unidade e
identidade levou à constituição do sujeito como fundamento. No entanto, a variabilidade das
experiências individuais exigia um processo de expurgo ou ascese, resultando na necessidade
de um método que disciplinasse e estabelecesse a certeza subjetiva como critério de verdade e
conhecimento. O método torna-se o exercício autorregulado da vontade na busca pela certeza
subjetiva, consolidando o sujeito como a base do conhecimento.
O texto aborda como o método epistemológico proposto na Idade Moderna visava
proceder, cindindo e demarcando o campo das experiências subjetivas em terrenos confiáveis
(razão e sentidos purificados) e suspeitos (paixões, desejos, emoções, fantasias, preconceitos,
vieses, etc.). A cisão imposta pelo método deveria resultar em uma nova subjetividade,
totalmente purificada, transparente para si mesma, sem as imperfeições dos sujeitos
empiricamente existentes. O surgimento do sujeito epistêmico representa essa subjetividade
concebida como pura consciência e vontade soberana, livre de particularidades e capaz de
pairar acima de qualquer contexto.
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O empreendimento epistemológico aposta na separação clara entre ilusão e


conhecimento, entre conhecimentos mediados (sempre suspeitos) e conhecimentos imediatos
(bases inquestionáveis da ciência), entre subjetividade empírica e transcendental, e entre
corpo e espírito. O método proposto no século XVII, principalmente na versão racionalista,
visa dissociar corpo e mente, estabelecendo uma subjetividade ideal: uma interioridade
distintamente separada do mundo externo, acessível apenas ao sujeito, e concebida como a
parte mais essencial do indivíduo.
O ensaio "Identidade e esquecimento: aspectos da vida civilizada" examina os
processos de cisão e exclusão que, no século XVII, deram origem às subjetividades
civilizadas. Este período testemunha a constituição metódica de identidades fictícias e a
imediata ressurgência dos excluídos. No século XVIII, o ensaio "A representação e seus
avessos" destaca o reaparecimento das impurezas previamente excluídas pelo sujeito
metodológico. As esferas separadas da vida privada/doméstica e da vida pública
correspondem à abertura de espaços nos quais os murmúrios dos excluídos podem se
manifestar. Os movimentos românticos, no século XIX, expressam e valorizam o que foi
banido do ideal epistêmico, explorando os reversos da racionalidade, como paixões,
imaginação, sexo, carnalidade, doença, morte, entre outros.
A filosofia e a ciência românticas enfatizam a "unidade" como uma palavra-chave,
propondo um monismo vitalista em que homem e mundo são constituídos da mesma
substância vital. A epistemologia romântica almeja a unificação das ciências, das artes e da
filosofia para totalizar o conhecimento. Apesar da "troca de sinais" em relação à Razão, o
pensamento romântico preserva o sujeito como fundamento autofundante, mantendo a
subjetividade centrada em si mesma, sendo a fonte do conhecimento verdadeiro e do que
verdadeiramente é. O Romantismo é considerado parte integrante da Modernidade, não sua
derrocada ou encerramento.
O texto explora o desdobramento do projeto epistemológico na Idade Moderna,
detalhando a separação metodológica entre as partes "confiáveis" e "suspeitas" do indivíduo.
Este método, visando à purificação do sujeito epistêmico, resulta na emergência do sujeito
epistêmico, uma subjetividade concebida como pura consciência e vontade soberana, capaz
de fundamentar crenças e ações.
A certeza, tornando-se um critério ontológico, define os fenômenos "verdadeiramente
reais" como representáveis, excluindo aqueles que escapam a uma representação clara e
distinta. Essa visão estabelece dois mundos: um real, disponível para o conhecimento, e outro
ilusório, onde residem as subjetividades residuais. A matematização do conhecimento e a
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técnica são fundamentais nesse contexto, moldando a pesquisa científica e estabelecendo


formas de domínio sobre o "real".
O texto avança para o século XIX, destacando as crises que abalam o projeto
epistemológico e questionam o sujeito como fundamento autofundante. As exclusões
históricas, os "dejetos" das operações de representação, passam a constituir o solo ocupado
pelas psicologias. O espaço psicológico é delineado por três polos: Liberal, Romântico e
Disciplinar, representando diferentes modalidades de subjetivação em relações contraditórias.
Os ensaios de "A invenção do psicológico" examinam o século XIX, abordando a
constituição das subjetividades civilizadas, a ressurgência dos excluídos e o surgimento das
teorias psicológicas. Essas teorias se enquadram nos polos do espaço psicológico,
alinhando-se com exigências e valores específicos. O texto antecipa uma análise mais
detalhada na Parte II, destacando a importância desses desenvolvimentos para compreender a
psicologia moderna.
A tese central do livro aborda os repetidos fracassos do método, as crises na concepção
de sujeito e a crescente insustentabilidade do projeto epistemológico moderno. O texto
enfatiza a persistência dos sonhos de domínio da realidade, apesar das cisões pretendidas
terem sido desfeitas, indicando uma crise profunda na Modernidade e seu projeto
epistemológico.
O texto destaca que, apesar dos desafios e precariedades do projeto epistemológico na
Modernidade, não ocorreu uma derrota pacífica ou recuo da epistemologia. Pelo contrário,
observa-se uma intensificação das tentativas de recuperar o prestígio do tribunal
epistemológico e de efetuar a cisão pretendida entre conhecimento e ilusão. Essas tentativas
ganham força à medida que as condições socioculturais evidenciam as fragilidades do projeto
epistemológico, sendo exemplificadas pela fenomenologia husserliana e os logicismos.
O autor menciona a fenomenologia de Husserl e os logicismos como perspectivas que,
de maneiras distintas, buscam restabelecer a supremacia do tribunal epistemológico. Esses
esforços refletem uma reação às crescentes críticas e desafios enfrentados pelo projeto
epistemológico.
Além disso, o texto faz referência à datação da Idade Moderna, concordando com a
proposta apresentada e destacando a relevância dessa discussão para o entendimento do
contexto histórico. A recapitulação do projeto epistemológico é baseada em obras específicas,
como "A invenção do psicológico" de Figueiredo, proporcionando uma visão mais detalhada
do desenvolvimento dessas ideias ao longo do tempo.
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O autor também aponta para a importância da questão do corpo na Modernidade,


mencionando a necessidade de maior detalhamento sobre esse tema. Além disso, destaca a
literatura romântica sobre o inconsciente como uma expressão significativa desse período,
citando obras que exploram a simbólica do sonho e a filosofia do inconsciente.
Ao final, o texto sugere que, mesmo diante das crises e desafios enfrentados pelo
projeto epistemológico, as tentativas de restauração e reafirmação desse projeto continuam a
ser vigorosas, mostrando a resiliência e a persistência da epistemologia na Modernidade.

Cap. 2.2: A MAIS ÚTIL DE TODAS AS CIÊNCIAS. CONFIGURAÇÕES DA


PSICOLOGIA DESDE O RENASCIMENTO TARDIO ATÉ O FIM DO
ILUMINISMO. FERREIRA, A. L.; VILELA, A. J; LEAL, A.; PORTUGAL, F. História da
Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2005.
O Capítulo 2, intitulado "A mais útil de todas as ciências", aborda as configurações da
psicologia desde o Renascimento tardio até o final do Iluminismo. O autor, Fernando Vidal,
destaca uma passagem de um artigo do século XVIII que enfatiza a importância da psicologia
como base, princípio e guia para diversas áreas do conhecimento.
O autor destaca a relação entre a psicologia e questões fundamentais como teologia,
ética, política e lógica, afirmando que sem o conhecimento da natureza da alma humana, não
podemos tomar decisões seguras. A psicologia é apresentada como a primeira e mais útil de
todas as ciências, sendo a fonte e a fundação para as demais.
O capítulo explora diferentes aspectos dessa passagem, destacando a conexão entre o
conhecimento empírico da alma, observação e princípios religiosos ou metafísicos. A
singularidade epistemológica da psicologia é enfatizada, pois ela é apresentada como a única
ciência cuja metodologia deriva do estudo de seu próprio objeto.
Ao longo do texto, o autor contextualiza a psicologia no panorama intelectual do
Iluminismo, explicando como a disciplina conquistou uma posição proeminente, mesmo sem
se tornar uma profissão acadêmica na época. A psicologia do século XVIII é apresentada
como uma disciplina, apesar de não ser uma profissão institucionalizada, e seu status é
discutido em termos de uma estrutura social e intelectual.
O capítulo destaca a ambiguidade historiográfica em relação à psicologia do século
XVIII, muitas vezes considerada como uma pré-história ou história pré-científica. O autor
argumenta que, mesmo que não fosse experimental, a psicologia dessa época pode ser vista
como uma ciência natural comprometida com uma perspectiva naturalista e empírica.
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Além disso, o texto aborda as discussões metodológicas na Alemanha a partir da


década de 1750, onde filósofos como Christian Gottfried Schütz e Jean Trembley debateram
sobre a natureza da psicologia, sua relação com a física e os métodos adequados para sua
investigação. A abordagem programática da psicologia do século XVIII é reconhecida, com
ênfase na observação, experiência, análise e mesmo na experimentação.
Em suma, o capítulo não se concentra nas ideias psicológicas do Iluminismo, mas
explora os fatores que fizeram da psicologia do século XVIII uma disciplina, fundamentando
a alegação de Immanuel Kant de que ela deveria ganhar status como uma disciplina
universitária autônoma.
O progresso da psicologia no século XVIII dependia da utilização de métodos
empíricos em conjunto com a especialização. Apesar da tendência em elaborar sistemas
psicológicos criticada por Trembley, essa abordagem persistiu ao longo do século. A crítica
de Trembley refletia a atitude naturalista da época, influenciada pela aplicação do raciocínio
matemático e modelos físicos aos fenômenos mentais, bem como pela combinação de
observações médicas e psicológicas.
Mesmo a psicologia científica institucionalizada nas décadas finais do século XIX,
representada por Wilhelm Wundt, não era exclusivamente experimental. Nos Estados Unidos,
era chamada de "nova psicologia", enquanto na França, Théodule Ribot a referia como
"escola experimental". A psicologia acadêmica do Iluminismo, no entanto, foi relegada ao
"passado" da disciplina, sendo necessário reconfigurá-la como objeto legítimo da história da
psicologia.
O capítulo explora a origem da palavra "psicologia" nos textos sobre a alma nas
universidades protestantes alemãs, popularizando-se a partir de 1570. Inicialmente um
neologismo, a psicologia servia como introdução à investigação naturalista de plantas,
animais e humanos. A hierarquia dos seres vivos, baseada nas faculdades da alma,
influenciou a compreensão da psicologia como uma ciência geral dos seres vivos.
Mesmo sendo parte das ciências naturais, a psicologia do século XVIII manteve uma
dualidade entre a compreensão aristotélica da alma como princípio vital e a persistência de
discursos metafísicos sobre a alma, especialmente após a mudança na concepção da alma
como mente, razão e consciência. O termo "psicologia" foi, por vezes, difícil de aceitar para
aqueles que buscavam uma abordagem empírica da mente.
Immanuel Kant destacou que a psicologia empírica permaneceu dentro da metafísica
devido à falta de amplidão e sistematização. No entanto, previu que a disciplina evoluiria
para uma ciência natural acadêmica. Essa previsão começou a se concretizar na segunda
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metade do século XVIII nas universidades alemãs, marcando a entrada da psicologia


empírica no ensino acadêmico, manuais de filosofia e periódicos. Esse processo acompanhou
a psicologização da cultura ilustrada.
No século XVIII, John Locke, filósofo inglês, foi reconhecido como o precursor da
tendência psicologizante. Seu "Ensaio sobre o entendimento humano" (1690) foi chamado de
"evangelho psicológico" do Iluminismo. Apesar de o empirismo de Locke não ser uma tese
psicológica, essa interpretação se consolidou no século XVIII, desempenhando um papel
crucial no estabelecimento da psicologia empírica.
O empirismo, corrente filosófica dominante no século, delineou os elementos essenciais
da psicologização da época: rejeição de ideias inatas, crítica de sistemas e metafísica abstrata,
apelo à observação e experiência, e a convicção de que o conhecimento tem origem em
impressões sensíveis. O sensacionalismo, vinculado ao empirismo, chegou a entender o
conhecimento como coextensivo à sensação.
O empirismo e o sensacionalismo tornaram-se proeminentes no Iluminismo, levando a
psicologia a se tornar a disciplina central nas ciências humanas e filosóficas do século XVIII.
Filósofos como Voltaire, David Hume e Condillac contribuíram para a psicologização da
cultura ilustrada, transformando a filosofia em uma espécie de psicologia empírica.
Na lógica, a psicologização era evidente, buscando expor a "história natural" do
entendimento. A análise das faculdades cognitivas foi considerada crucial, com a psicologia
fornecendo o conhecimento necessário para fundamentar as prescrições da lógica. Na
filosofia moral, a sensação e a associação foram enfatizadas, mas alguns argumentavam a
favor de um "sentido moral", compartilhando otimismo na capacidade de aprimoramento
humano.
Autores como Hutcheson, Smith e Helvétius exploraram aspectos psicológicos na
filosofia moral, destacando a influência da educação na formação do indivíduo. A
psicologização se estendeu a diversas áreas, do conhecimento à ética, da religião à estética,
evidenciando o papel central da psicologia no Iluminismo. O século XVIII foi reconhecido
como o "século da psicologia" devido à influência dessas correntes de pensamento.
No contexto nacional, a psicologia do século XVIII apresentou variações significativas
em termos metodológicos e doutrinários, refletindo as diversas abordagens e perspectivas
adotadas em diferentes regiões geográficas e culturais.
Na Escócia, a "ciência do homem", que abrangia áreas como psicologia, "economia
animal", moral e economia política, era uma característica proeminente do Iluminismo.
Embora a palavra "psicologia" não fosse inicialmente aplicada a essas discussões, a
16

abordagem escocesa buscava introduzir o método experimental nos assuntos morais. Autores
como David Hume e Dugald Stewart, embora não usassem o termo "psicologia",
contribuíram para a fundamentação do pensamento psicológico.
Na França, a palavra "psicologia" era conhecida, mas ausente do vocabulário filosófico
comum. A resistência à associação com conceitos religiosos e clericalismo levou alguns a
evitar o termo, como no caso de Condillac. Os debates entre os philosophes e críticos
católicos destacaram a atividade da mente e a unidade do eu, opostos ao conceito de uma
máquina orgânica passiva.
A Alemanha, embora ainda não unificada, desempenhou um papel crucial na produção
de psicologias durante o século XVIII. A palavra "psicologia" era comumente usada no
contexto do Aufklärung alemão. Inicialmente ligada ao sistema filosófico de Christian Wolff,
a psicologia foi posteriormente influenciada pela filosofia crítica de Kant. A obra de Wolff,
que abordava a razão, a experiência e diferentes disciplinas, contribuiu para a
institucionalização da psicologia como uma disciplina distinta nas universidades protestantes.
O desenvolvimento da psicologia na Alemanha refletia a abordagem de Wolff, onde a
disciplina era dividida entre psicologia racional e empírica, cada uma com seu próprio
método. A psicologia racional procedia por dedução a partir de definições e axiomas,
enquanto a psicologia empírica utilizava a observação e experimentação. Este método
empírico incluía a experiência, definida como a cognição do que é evidente apenas por meio
de percepções.
A narrativa histórica na França geralmente começa com a tentativa de superar o
dualismo cartesiano, resultando na evolução de diferentes estratégias, como a descrição dos
efeitos externos dos movimentos da alma e a reformulação de conceitos metafísicos como
noções empíricas. A Alemanha desempenhou um papel significativo na institucionalização da
psicologia como disciplina no século XVIII, vinculada inicialmente ao sistema filosófico de
Christian Wolff.
Na obra de Christian Wolff, a "Psychologia empirica" concentra-se na vida interior da
alma, excluindo relações fisiológicas e corporais. A primeira parte do tratado aborda a alma
em geral, suas faculdades cognitivas (percepção, sentidos, imaginação, memória, etc.) e a
segunda parte analisa a transição do conhecimento para o "apetite" e a aversão, incluindo
considerações sobre prazer, desprazer, bem, mal, paixões, apetite racional, entre outros. Uma
seção final descreve a interação entre alma e corpo. A "Psychologia empirica" fornece os
princípios para a lei natural, teologia natural e lógica.
17

Por outro lado, a "Psychologia rationalis" busca explicar a priori os fatos apresentados
na psicologia empirica por meio da dedução de axiomas e proposições provadas. Começando
com a definição da alma como um poder de representação do universo, a psicologia racional
dedutivamente explora as faculdades e operações da alma, tratando de temas como a
correspondência entre alma e corpo, natureza dos espíritos, espiritualidade da alma, sua
origem, união com o corpo e imortalidade. A psicologia racional não produz novos
conhecimentos empíricos, mas aprofunda a compreensão da observação da alma.
No contexto histórico, a psicologia, tanto empírica quanto racional, era abordada como
uma ciência empírica nas universidades alemãs até meados do século XVIII. No entanto, o
interesse na antropologia cresceu, refletindo uma mudança na compreensão da psicologia. A
bibliografia da "psicologia ou lógica" reflete a psicologização da lógica, argumentando que a
lógica pertence à psicologia, influenciando a reforma das disciplinas filosóficas.
Além disso, a história da psicologia emergiu como um gênero historiográfico,
contribuindo para o desenvolvimento da psicologia como disciplina. A expansão do cânone
psicológico incluiu o passado, reconstruindo a "psicologia empírica" de filósofos anteriores e
estabelecendo fronteiras para o domínio em crescimento da psicologia. Autores psicológicos
adotaram formas populares e narrativas mais existenciais, utilizando a linguagem do
"sentimento de si" como fonte principal de dados psicológicos. Essas mudanças ocorreram
durante o Iluminismo, refletindo o movimento em direção ao autoconhecimento e à
compreensão mais profunda da psicologia humana.
Este texto aborda a contribuição de Christian Wolff para a psicologia no contexto do
século XVIII, destacando a distinção entre sua abordagem empírica e racional. Wolff, um
filósofo alemão, desenvolveu a Psychologia empirica e a Psychologia rationalis como partes
integrantes de sua filosofia.
A Psychologia empirica de Wolff concentrou-se na vida interior da alma, excluindo as
relações fisiológicas e corporais. A primeira parte do tratado tratava da alma em geral e suas
faculdades cognitivas, como percepção, sentidos, imaginação, memória e intelecto. A
segunda parte analisava a transição do conhecimento para o "apetite" e a aversão, abordando
prazer, desprazer, bem, mal, paixões e outros estados mentais. Uma seção final explorava a
interação da alma e do corpo, fornecendo princípios para a lei natural, teologia natural e
lógica.
Por outro lado, a Psychologia rationalis buscava explicar a priori os fenômenos
apresentados na psychologia empirica. Começava com a definição da alma como um poder
de representação do universo, destacando atividades como sensação e apercepção. Wolff
18

argumentava que, embora a psicologia racional não produzisse novos conhecimentos


empíricos, aumentava o discernimento na observação da alma.
Embora manuais de Wolff fossem amplamente utilizados nas universidades alemãs até
meados do século XVIII, a psicologia ainda era predominantemente abordada como uma
ciência empírica. A crescente ênfase na antropologia no século XVIII também se refletiu
nessa abordagem empírica.
O texto destaca a importância da psicologia no contexto mais amplo da "ciência do
homem" durante o século XVIII, conectando-a a disciplinas como filosofia, história natural,
fisiologia e metafísica. A psicologia foi considerada uma ciência do homem que contribuiria
para a perfectibilidade da humanidade, integrando-se à visão cristã da constituição e do
destino humanos.
O capítulo mais extenso aborda a bibliografia sobre psicologia ou lógica, destacando a
relação entre psicologia e filosofia prática. A bibliografia refletia e contribuía para
estabelecer as fronteiras do domínio crescente da psicologia, destacando a psicologização da
lógica.
O texto conclui mencionando a importância da invenção de uma tradição psicológica
para o desenvolvimento da psicologia como disciplina, enfatizando o papel crucial na seleção
de autores e obras "psicológicas" e na emergência da história da psicologia como gênero
historiográfico.
Além disso, o texto explora a relação entre a psicologia e a antropologia, destacando a
visão do "homem" como um indivíduo e ser social no século XVIII. A psicologia é
considerada uma ciência do homem que contribui para a perfectibilidade humana,
conectando-se à visão cristã do homem como composto de corpo e alma.
O texto explora a posição de Immanuel Kant na Crítica da razão pura (1781) em
relação à psicologia. Kant nega a validade de qualquer psicologia racional, argumentando que
afirmações sobre a alma derivam da proposição "Eu penso", baseada em experiência a
posteriori. Ele destaca que a psicologia deve ser empírica, fornecendo relatos "históricos" da
alma, e não uma ciência capaz de produzir evidência demonstrativa.
O textoo destaca a crítica kantiana como fundamental para a psicologia alemã do início
do século XIX. Kant posiciona a psicologia dentro do contexto do desenvolvimento da
psicologia empírica e da antropologia na Alemanha do final do século XVIII. Sua visão de
psicologia como parte da "antropologia do ponto de vista pragmático" destaca o estudo do
homem como um ser que age livremente.
19

A psicologia no século XVIII é contextualizada como uma "ciência do homem",


incorporando temas das ciências humanas e relacionando-se à visão cristã da constituição e
destino humanos. O texto enfatiza que, mesmo nas discussões críticas sobre religião, a
psicologia permaneceu interligada a outras disciplinas, destacando sua importância no
entendimento do "homem" como indivíduo e ser social durante o Iluminismo.
O texto enfoca a relação entre a psicologia e outras disciplinas, destacando a evolução
da psicologia como parte integrante da compreensão mais ampla do homem e da busca pela
perfectibilidade humana durante o século XVIII.
O ensaio explora a preeminência da psicologia empírica durante o Iluminismo,
utilizando as obras de Charles Bonnet, especificamente o "Essai de psychologie" e "Essai sur
les facultés de l’âme". Bonnet fundamenta sua abordagem empírica afirmando que só
conhecemos a alma por meio de suas faculdades, e essas faculdades só são conhecidas pelos
efeitos, os quais são perceptíveis através da intervenção do corpo.
A psicologia empírica, como proposta por Bonnet, investiga as operações de uma
substância imaterial, a alma, considerando sua manifestação no corpo. Ele enfatiza a
interação entre alma e corpo, destacando a importância do corpo como a origem das
experiências da alma. A crença na existência da alma não impede a investigação empírica; ao
contrário, ela fortalece as psicologias que se baseiam em especulações neurológicas,
atribuindo ao cérebro e aos nervos papéis cruciais nessa interação.
O autor aborda a questão do materialismo, evidenciando as defesas de Bonnet e Hartley
contra a suspeita de que suas abordagens psicofisiológicas eram incompatíveis com a
doutrina cristã. Ambos os psicólogos, embora especulassem sobre mecanismos
psicofisiológicos, não afirmavam uma crença religiosa, mas integravam promessas cristãs,
como a ressurreição, em seus trabalhos.
O século XVIII é caracterizado como "o século da psicologia", influenciando não
apenas historiadores dedicados ao Iluminismo, mas também estudiosos de várias disciplinas.
A psicologia empírica tornou-se um campo de pesquisa autônomo, servindo como suporte
teórico para a psicologização de outros saberes.
A psicologia ganhou destaque por duas razões principais. Primeiro, mostrou como os
seres humanos naturalmente adquirem conhecimento, indicando métodos empíricos para
outras ciências. Segundo, ao considerar a alma unida ao corpo, a psicologia tornou-se a base e
o guia de todas as ciências, oferecendo conhecimentos essenciais. A interligação entre a
psicologia empírica e a psicologização de outros campos contribuiu para o desenvolvimento
20

da disciplina como um meio de definir normas para o comportamento humano e exercer


controle sobre seu funcionamento.
O Iluminismo, com seu ideal de trazer liberdade ao homem, encontrou na psicologia
um caminho para avançar na busca pela perfectibilidade. No entanto, a psicologia empírica
também acabou por apoiar formas de autoridade, baseadas no conhecimento da natureza
humana, que se mostraram mais inexoráveis do que as tradições seculares e religiosas,
potencialmente minando a liberdade que o Iluminismo buscava promover.

Cap. 4: A PSICOLOGIA NO RECURSO AOS VETOS KANTIANOS. FERREIRA, A.


L.; VILELA, A. J; LEAL, A.; PORTUGAL, F. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio
de Janeiro: Nau, 2005.

O capítulo 4 aborda a influência dos vetos kantianos na evolução da psicologia no


século XIX, especialmente na Alemanha. Immanuel Kant, considerado o inaugurador da
filosofia contemporânea, impôs críticas à psicologia do século XVIII, distinguindo ciência de
metafísica e ameaçando classificar os saberes psicológicos como meramente metafísicos.
O capítulo destaca as críticas kantianas voltadas não apenas para a psicologia racional,
mas também para a psicologia empírica, como a de Christian Wolff. Segundo Kant, a
psicologia empírica para ser considerada ciência deveria descobrir seu elemento de modo
semelhante à química, facultar um estudo objetivo do elemento, e produzir uma
matematização mais avançada que a geometria da linha reta.
Immanuel Kant, nascido em Konigsberg, Prússia Oriental, em 1724, é apresentado
como o responsável por estabelecer novos parâmetros para o conhecimento ocidental, com
suas obras fundamentais como "A crítica da razão pura," "A crítica da razão prática," e "A
crítica do juízo."
Durante o século XIX, a psicologia buscou superar os vetos kantianos para ser aceita
como uma ciência legítima. Autores como Rudolph Lotze na Alemanha e Francis Galton na
Inglaterra desenvolveram projetos psicológicos nesse contexto. No entanto, a superação dos
vetos kantianos foi indiretamente alcançada no final do século XIX através do trabalho de
fisiologistas e de um físico.
A falta de um elemento objetivo na psicologia foi abordada pela teoria das energias
nervosas específicas de Johannes Müller, que estabeleceu que cada via nervosa aferente
21

possuía uma energia nervosa específica, traduzindo-se em sensações específicas. Isso levou a
uma espécie de "kantismo fisiológico," onde o mundo percebido seria uma propriedade das
energias nervosas específicas, em vez do sujeito transcendental.
Hermann von Helmholtz, discípulo de Müller, apresentou soluções para o segundo
problema kantiano. Ele propôs a teoria das inferências inconscientes, em que as sensações
são organizadas por experiências passadas, e o método da introspecção experimental, que
consiste na análise consciente das sensações para neutralizar as sínteses inconscientes.
O capítulo destaca a importância dessas contribuições na constituição da psicologia
como uma ciência independente no final do século XIX.
O capítulo aborda a resolução do terceiro problema kantiano - a falta de matematização
na psicologia - através da psicofísica de Gustav Fechner. Seu livro "Elementos de
Psicofísica," publicado em 1860, não só oferece uma resposta experimental ao segundo veto
kantiano (relativo à impossibilidade de estudos objetivos), mas também contribui
significativamente para o desenvolvimento de uma matemática avançada na psicologia.
Fechner introduz a Lei Weber-Fechner, derivada da equação de Ernst Weber sobre a
relação de proporcionalidade entre as diferenças apenas percebidas entre dois estímulos e
seus valores absolutos. Essa lei proporciona uma base matemática para a psicologia ao
conectar as diferenças percebidas (dap) às sensações (S) por meio da fórmula S = k log R,
onde k é uma constante matemática e R é o limiar de percepção do estímulo.
O trabalho de Fechner é contextualizado em seu projeto mais amplo, que ele
denominou como "visão diurna" ou panpsiquismo. O panpsiquismo reflete a ideia de uma
natureza única composta por dois aspectos, físico e mental, coextensivos em todos os seres.
Fechner, um físico, dedicou-se a estabelecer uma lei matemática que conectasse o domínio
físico ao psicológico, fundando assim a psicofísica.
O capítulo destaca o sonho de Fechner em 1850 como o marco do surgimento da
psicologia experimental, correlacionando elementos físicos e espirituais. Essa abordagem
abriu caminho para a primeira formulação de psicologia reconhecida como científica,
superando os impasses da psicologia empírica do século XVIII. Quando Wilhelm Wundt
inaugurou a psicologia acadêmica em 1879, os elementos necessários para isso já estavam
garantidos pelas respostas indiretas da fisiologia e da psicofísica aos vetos kantianos.
O capítulo conclui questionando se os vetos kantianos continuam a assombrar a
psicologia, dada a proliferação de escolas e sistemas científicos na disciplina. A indicação
estética e bibliográfica inclui o livro "Textos Básicos em História da Psicologia" de E. G.
Boring e R. J. Herrnstein, bem como obras de autores relevantes mencionados no capítulo,
22

como Johannes Müller, Ludwig von Helmholtz, Ernst Weber, Gustav Fechner e Wilhelm
Wundt.

Cap. 5: WIHELM WUNDT E O ESTUDO DA EXPERIÊNCIA EXTERNA.


FERREIRA, A. L.; VILELA, A. J; LEAL, A.; PORTUGAL, F. História da Psicologia: rumos
e percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2005.

Wilhelm Maximilian Wundt, nascido em 16 de agosto de 1832 na Alemanha, é


reconhecido como o fundador da psicologia científica. Seu percurso acadêmico começou com
estudos de medicina em Tübingen, mas ele logo se transferiu para Heidelberg, onde concluiu
sua formação médica. Após dúvidas sobre sua aptidão para a medicina, Wundt voltou-se para
a vida acadêmica e, em 1857, tornou-se docente em fisiologia experimental.
Em 1858, Wundt foi assistente de Helmholtz em Heidelberg, período durante o qual
iniciou seus estudos em psicologia. Seu primeiro livro psicológico, "Contribuições à Teoria
da Percepção Sensorial," foi publicado em 1862. Em 1874, Wundt aceitou a cátedra de
filosofia indutiva em Zurique e, em 1875, mudou-se para a Universidade de Leipzig, onde
fundou o Laboratório de Psicologia em 1879.
Wundt influenciou gerações de psicólogos com seu livro "Princípios de Psicologia
Fisiológica," publicado antes de deixar Heidelberg. Em Leipzig, ele concentrou-se em sua
obra, escrevendo extensivamente sobre filosofia e psicologia. Em 1896, publicou o
"Compêndio de Psicologia," sintetizando seu projeto psicológico.
Além de suas contribuições acadêmicas, Wundt também esteve envolvido na política,
servindo no Parlamento de Baden em 1866 antes de dedicar-se exclusivamente à academia
em 1868. Ele permaneceu em Leipzig até sua aposentadoria em 1917 e faleceu em 31 de
agosto de 1920, aos 88 anos.
Apesar de sua fama, a compreensão completa da obra de Wundt ainda é desafiadora,
com algumas distorções em suas ideias na literatura psicológica. Estudos recentes procuraram
reavaliar seu pensamento, destacando a complexidade de seu projeto psicológico, mas muitas
questões permanecem em aberto, especialmente sobre a continuidade ou ruptura em seu
trabalho e seus fundamentos filosóficos subjacentes.
Wilhelm Wundt, ao definir a psicologia, a caracteriza como uma ciência empírica cujo
foco é a experiência imediata. Ele destaca a importância de compreender o conceito de
23

"experiência imediata," considerando-a como um todo unitário que pode ser analisado
objetivamente (experiência mediata) e subjetivamente (experiência imediata). Wundt propõe
que a ciência natural lida com os aspectos objetivos da experiência mediata, enquanto a
psicologia se concentra na experiência imediata, sem abstrair o sujeito.
A definição de psicologia de Wundt visa contestar abordagens contemporâneas que
consideravam a psicologia como a ciência da alma ou mente, baseada em hipóteses
metafísicas (espiritualismo ou materialismo) que ultrapassavam os limites da experiência
possível. Ele busca estabelecer uma psicologia autônoma, fundamentada apenas na
experiência psicológica.
Essencialmente, Wundt argumenta que não há uma diferença fundamental de natureza
entre o mundo interno e externo, mas sim uma diferença na abordagem deles. Ele enfatiza a
complementaridade entre a psicologia e as ciências naturais, pois ambas oferecem
perspectivas distintas da mesma experiência, sem hierarquia ou redução uma à outra.
Além disso, a psicologia, sendo a ciência das formas universais da experiência humana
imediata, é considerada a mais geral das ciências do espírito. Isso a coloca como base para
disciplinas específicas (filologia, história, direito) e destaca sua relevância para a investigação
dos problemas gerais da teoria do conhecimento e ética, fundamentais na filosofia.
Assim, a psicologia wundtiana não apenas redefine o escopo da disciplina, afastando-se
de abordagens metafísicas, mas também estabelece conexões significativas com as ciências
naturais, as ciências do espírito e a filosofia, destacando sua posição central na compreensão
da experiência humana.
Wilhelm Wundt aborda a questão do método na psicologia, destacando que, embora
esta ciência estude a mesma experiência que as ciências naturais, seus métodos de
investigação são semelhantes. A psicologia utiliza principalmente dois métodos: o
experimento e a observação. O experimento envolve a interferência proposital do pesquisador
nos fenômenos estudados, enquanto a observação refere-se à simples apreensão desses
fenômenos sem interferência.
Wundt destaca que a psicologia emprega o experimento diretamente em suas pesquisas,
especialmente ao investigar a psicologia individual, fisiológica ou experimental, que envolve
o estudo cuidadoso do início e do curso dos processos psíquicos. No entanto, há diferenças
metodológicas significativas em relação às ciências naturais, decorrentes da natureza
específica da perspectiva psicológica.
Uma diferença crucial é que a psicologia lida com a experiência imediata, revelando
apenas processos e não objetos estáveis como nas ciências naturais. Além disso, a psicologia
24

não pode desconsiderar o sujeito da experiência, uma vez que este é o foco de seu interesse.
Isso impede o uso puro da observação ou auto-observação no domínio da psicologia
individual, devido à influência significativa da intenção do observador nos processos
psíquicos.
Wundt esclarece a diferença entre auto-observação e percepção interna, destacando que
a última, baseada no controle experimental das condições externas da experiência, substitui a
introspecção tradicional. Embora a psicologia não descarte totalmente a observação pura, ela
a utiliza para estudar fenômenos psíquicos que têm a natureza de objetos psíquicos e são
relativamente estáveis, como a linguagem, religião, mitos e costumes.
Wundt também introduz a psicologia dos povos (Völkerpsychologie) como uma área de
investigação que complementa a psicologia individual, concentrando-se em produtos mentais
ao longo da história. Esses produtos mentais estão ligados a uma comunidade popular, e
Wundt aborda essa área principalmente através de relatos e estudos etnológicos.
A psicologia utiliza experimento e observação para estudar tanto os processos psíquicos
mais simples quanto os superiores, resultando em uma subdivisão metodológica entre a
psicologia individual e a psicologia dos povos, sem comprometer a unidade de seu objeto de
estudo: os processos psíquicos revelados na experiência.

Principais Conceitos e Ideias Psicológicas de Wundt


Wilhelm Wundt, figura central na psicologia, propõe a ideia fundamental de que a vida
psíquica se desenvolve gradualmente, do simples para o complexo, através de processos
regulares que compõem a experiência cotidiana. Nossa experiência imediata fornece
conteúdos complexos derivados da ligação de elementos simples, sendo esses elementos a
base de toda a vida mental.
Wundt classifica esses elementos em dois tipos, conforme sua relação com os polos
objetivo e subjetivo da experiência: sensações ligadas ao conteúdo objetivo (como som e luz)
e sentimentos simples ligados ao conteúdo subjetivo (como prazer e desprazer). A partir
desses elementos, Wundt introduz o conceito de complexos psíquicos, unidades autônomas
com características próprias, originadas da fusão dos elementos através do princípio da
síntese criadora.
É crucial entender a diferença entre fusão, processo fundamental na formação dos
complexos, e associação, que é um processo secundário. Wundt distancia sua abordagem do
25

associacionismo britânico, enfatizando a síntese criadora como elemento central na


constituição dos complexos psíquicos.
Os complexos psíquicos podem conectar-se formando a consciência, e o processo de
trazer um conteúdo à clareza da experiência imediata é chamado de apercepção,
acompanhado pelo estado de atenção. A percepção, por outro lado, permite apreender
conteúdos sem a presença da atenção. Wundt usa a analogia visual, dividindo a consciência
em ponto focal (conteúdo atentado) e campo visual (conteúdo não atentado).
Outro conceito essencial é a "causalidade psíquica", associada ao paralelismo
psicofísico. Wundt propõe que certas partes da experiência mediata têm uma correspondência
direta com partes da experiência imediata, sem que uma possa ser reduzida ou derivada da
outra. O princípio do paralelismo psicofísico estabelece uma relação necessária entre
processos psíquicos e físicos correspondentes, enquanto a causalidade psíquica reconhece a
autonomia do conhecimento psicológico quando partes da experiência só podem ser
conhecidas a partir de um único ponto de vista físico ou psicológico. Ambas as causalidades
são complementares e não entram em contradição, sendo fundamentadas nas leis
fundamentais da vida psíquica e da natureza.
A Institucionalização da Psicologia e Equívocos Históricos sobre Wundt
O título de fundador da psicologia, geralmente atribuído a Wilhelm Wundt devido à
criação do Laboratório de Psicologia da Universidade de Leipzig em 1879, levanta
questionamentos sobre o verdadeiro pioneirismo. A existência de laboratórios de fisiologia
anteriores com investigações psicológicas é notada, mas a importância de Wundt reside na
atração de estudantes de todo o mundo para Leipzig, tornando o laboratório um modelo
seguido por uma geração de psicólogos.
O sucesso do Laboratório de Leipzig levou à institucionalização formal da psicologia
em 1883, com o reconhecimento autônomo do Instituto de Psicologia pela Universidade de
Leipzig, separando-a oficialmente da filosofia. No entanto, Wundt, embora inicialmente
favorável à autonomia, expressou insatisfação com a crescente distância entre psicologia e
filosofia.
Wundt, desde seus primeiros trabalhos (1858-1863), reivindicou a fundação de uma
nova psicologia centrada na experiência possível, defendendo o significado do termo
"psicologia" em conformidade com a tradição científica do século XIX na Alemanha. Além
disso, ele fundou um dos primeiros periódicos de psicologia em 1883, veículo oficial do
Instituto de Psicologia.
26

No contexto brasileiro, a penetração da psicologia ocorreu principalmente via


psicologia aplicada, enquanto Wundt, não focando em aplicações práticas, teve uma
influência indireta na criação de laboratórios e na utilização de instrumentos de medição
psicológica.
A relação entre Wundt e Edward Titchener, frequentemente considerado um
estruturalista ao lado de Wundt, é esclarecida. Titchener, aluno de Wundt, fundou o
estruturalismo, mas suas ideias divergiram significativamente, principalmente na concepção
de objeto e método. Enquanto Titchener limitava a psicologia ao estudo introspectivo dos
elementos da consciência, Wundt buscava descobrir as leis universais da vida psíquica em
todas as suas manifestações, criticando o associacionismo de Titchener.
Equívocos históricos sobre Wundt, presentes em manuais de história da psicologia,
requerem uma análise mais consistente e aprofundada de sua obra para corrigir interpretações
errôneas, como a relação entre seus textos iniciais e seu pensamento maduro. A compreensão
do projeto wundtiano de psicologia permanece um desafio a ser abordado.

Cap. 5: ESTRUTURALISMO. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, E. História da Psicologia


Moderna. 11ª Ed. Norte-americana. São Paulo (SP): Cengage Learning 2019.

O estruturalismo foi um movimento psicológico liderado por Edward Bradford


Titchener, professor na Cornell University no início do século XX. Titchener, embora
professasse seguir Wilhelm Wundt, introduziu modificações significativas no sistema de
psicologia experimental ao levá-lo da Alemanha para os Estados Unidos. Ele desenvolveu
sua abordagem denominada estruturalismo, que focava na análise dos elementos mentais e na
determinação da estrutura da consciência por meio da análise de suas partes componentes.
Os alunos de Titchener participavam de experimentos rigorosos, como engolir tubos de
borracha para estudar a sensibilidade dos órgãos internos. A prática da introspecção era
central nesse processo, onde os alunos relatavam suas sensações e sentimentos em diferentes
situações, como engolir água quente ou fria pelos tubos de borracha.
O estruturalismo manteve-se em destaque nos Estados Unidos por cerca de 20 anos, até
ser superado por movimentos psicológicos mais recentes. Enquanto Wundt se concentrava na
organização dos elementos da consciência, Titchener enfatizava os próprios elementos,
discordando da doutrina da apercepção de Wundt. Os métodos e experimentos de Titchener
27

eram muitas vezes controversos, incluindo estudos sobre sexo que só foram revelados
décadas mais tarde.
A biografia de Titchener revela um acadêmico brilhante, nascido na Inglaterra, que
estudou em Oxford e posteriormente na Alemanha com Wundt. Ele se tornou professor na
Cornell University, onde dedicou grande parte de sua carreira ao desenvolvimento do
estruturalismo. Titchener foi elogiado como um excelente professor, embora sua
personalidade tenha se tornado mais arrogante com o tempo. Ele contribuiu para a psicologia
experimental traduzindo os livros de Wundt para o inglês e publicando trabalhos como
"Esboço de Psicologia" e "Psicologia Experimental: um Manual de Práticas de Laboratório".
No entanto, seus interesses pessoais e passatempos acabaram afastando-o do trabalho em
psicologia à medida que envelhecia.
Contexto Inicial
O texto aborda a prática pouco convencional de pesquisa conduzida pelo psicólogo
Edward Bradford Titchener na Cornell University, no início do século XX. Titchener, um
seguidor de Wilhelm Wundt, é o principal proponente do estruturalismo na psicologia, um
movimento que se destaca por sua ênfase na introspecção.
Experimentos Peculiares
Titchener conduziu experimentos controversos, como o dos tubos de borracha
engolidos por alunos para estudar a sensibilidade dos órgãos internos. Os participantes
deviam relatar sensações ao serem expostos a água quente e fria pelos tubos. Outros
experimentos incluíam alunos carregando cadernos ao banheiro para relatar sensações
durante a micção ou evacuação.

Estudo sobre Sexo


Um estudo sobre a experiência sexual também é mencionado, destacando a abordagem
peculiar de Titchener. Alunos casados foram solicitados a registrar sensações e amarrar
dispositivos de medição aos corpos para registrar respostas fisiológicas. Esse estudo foi
revelado por uma ex-aluna de Titchener em 1960.
Edward Bradford Titchener
Titchener, apesar de afirmar seguir Wundt, introduziu mudanças significativas na
psicologia ao levar o estruturalismo para os Estados Unidos. Seu enfoque estava nos
elementos mentais e na descoberta da natureza das experiências conscientes elementares, em
oposição à ênfase de Wundt na organização voluntária da mente.
Vida e Personalidade de Titchener
28

A biografia de Titchener revela um homem nascido na Inglaterra em uma família


modesta, com notável capacidade intelectual. Seus métodos de ensino, semelhantes aos de
Wundt, eram formais e autocráticos. Com o tempo, Titchener tornou-se mais arrogante e
intolerante.
Declínio e Legado
Com o passar dos anos, Titchener afastou-se do convívio social e acadêmico,
tornando-se uma lenda viva em Cornell, embora muitos não o conhecessem pessoalmente.
Ele era conhecido por sua atitude autocrática, mas também era solícito com colegas e alunos,
desde que fosse tratado com deferência.
Relações e Influência Pós-Graduação
Titchener continuou a influenciar a vida dos alunos após sua formatura, orientando suas
carreiras e interferindo em suas decisões pessoais. Alguns alunos ressentiram-se dessa
influência excessiva.
Controvérsias e Tensões
Titchener teve relações tensas com outros psicólogos fora de seu círculo, renunciando à
Associação Americana de Psicologia (APA) devido a discordâncias éticas. Ele também
liderou um grupo de experimentalistas que proibia a participação de mulheres em suas
reuniões, causando controvérsias.
Contribuição para as Mulheres na Psicologia
Apesar da exclusão de mulheres em certos eventos, Titchener apoiava o progresso das
mulheres na psicologia, admitindo-as em programas de pós-graduação e concedendo um
número significativo de doutorados a mulheres. No entanto, suas restrições levaram a
protestos e críticas, destacando a luta por igualdade de gênero na época.
Perspectiva da Psicologia de Titchener
Titchener via o objeto da psicologia como a experiência consciente dependente do
indivíduo que a vivencia. Ele enfatizava a diferença entre experiências dependentes e
independentes, destacando que a psicologia deveria focar nas experiências pessoais para uma
pesquisa adequada.
O estruturalismo de Titchener permaneceu proeminente nos Estados Unidos por cerca
de duas décadas, mas foi eventualmente superado por movimentos mais recentes na
psicologia. Sua abordagem controversa, personalidade autocrática e contribuições para a
psicologia, especialmente no que diz respeito às mulheres, marcam a história da disciplina.
Titchener, enfatizou a importância da redução dos processos conscientes a seus
componentes mais simples. Essa abordagem envolvia a decomposição das experiências
29

mentais complexas em elementos mais elementares, comparáveis aos átomos na química. Ele
acreditava que ao identificar e descrever esses elementos, seria possível compreender a
estrutura fundamental da mente.
O segundo objetivo de Titchener era determinar as leis de associação desses elementos
da consciência. Ele estava interessado em entender como esses elementos se combinavam
para formar experiências mentais mais complexas. A associação, para Titchener, era crucial
para explicar a variedade de pensamentos e sentimentos que surgiam na mente.
Além disso, Titchener buscava conectar esses elementos às suas condições fisiológicas.
Ele reconhecia a importância de compreender as bases biológicas das experiências mentais e
acreditava que a psicologia deveria ter uma relação próxima com a fisiologia. Essa
abordagem refletia a influência do pensamento de seu professor Wundt, que também
enfatizava a importância da relação entre a psicologia e a fisiologia.
No entanto, Titchener diferenciava-se de Wundt em sua ênfase na introspecção
experimental sistemática. Enquanto Wundt estava mais interessado na aplicação de métodos
objetivos e quantitativos, Titchener favorecia a introspecção qualitativa, na qual observadores
treinados descreviam detalhadamente suas experiências conscientes.
O estruturalismo de Titchener foi marcado por sua abordagem experimental e rigorosa,
mas enfrentou críticas e desafios, especialmente em relação à subjetividade da introspecção.
Além disso, a escola estruturalista perdeu influência à medida que outras abordagens
psicológicas, como o funcionalismo e o behaviorismo, ganharam destaque. No entanto, seu
trabalho deixou um impacto duradouro no desenvolvimento da psicologia como disciplina
científica.
No livro "Um Esboço de Psicologia" (1896), Titchener detalhou sua pesquisa sobre os
elementos da sensação, identificando aproximadamente 44.500 qualidades sensoriais
individuais, divididas em 32.820 visuais e 11.600 auditivas. Cada elemento era considerado
consciente e distinto, e sua combinação formava percepções e ideias mais complexas. Esses
elementos mentais, embora básicos e irredutíveis, podiam ser categorizados, similar aos
elementos químicos agrupados em classes.
Titchener atribuiu quatro características fundamentais a esses elementos mentais:
qualidade (distinguindo um elemento dos demais, como "frio" ou "vermelho"), intensidade
(refletindo força, fraqueza, sonoridade ou brilho da sensação), duração (o tempo da sensação)
e nitidez (relacionada à atenção, tornando uma experiência mais nítida quando focalizada).
Sensações e imagens possuíam todas essas características, enquanto os estados afetivos
tinham apenas três: qualidade, intensidade e duração, excluindo nitidez.
30

Titchener defendia a introspecção experimental sistemática como método, utilizando


observadores treinados para descrever detalhadamente seus estados conscientes. No entanto,
críticos questionavam a subjetividade desse método, e alguns, como James Gibson,
consideravam a psicologia estrutural desatualizada no início do século XX.
Ao longo de sua carreira, Titchener modificou suas perspectivas. No final da vida,
abandonou a ênfase nos elementos mentais em favor de estudos mais amplos sobre
dimensões ou processos mentais, como qualidade, intensidade, duração, nitidez e extensão.
Na década de 1920, questionou o termo "psicologia estrutural" e adotou o tratamento
fenomenológico, considerando a experiência como um todo, sem divisões em elementos.
As críticas ao estruturalismo focavam na introspecção, alegando que observadores
treinados não alcançavam uniformidade nas descrições, além de dificuldades em criar uma
linguagem introspectiva. Também se questionava a validade da introspecção para explorar a
mente inconsciente, conforme sugerido por Freud, e a própria natureza do método, acusado
de ser uma forma de retrospecção. Apesar das críticas, Titchener manteve sua abordagem, e o
declínio da psicologia estrutural ocorreu após sua morte.
Mais críticas ao sistema de Titchener
Além das críticas à introspecção, o movimento estruturalista liderado por Titchener foi
alvo de outras objeções. O método foi considerado artificial e estéril na análise dos processos
conscientes a partir de elementos básicos, pois os críticos argumentavam que não era possível
reconstruir a totalidade da experiência a partir de associações ou combinações das partes
elementares. A crítica enfatizava que a experiência consciente ocorre como uma totalidade
unificada e que parte dela se perde ao tentar analisá-la artificialmente. A escola da psicologia
da Gestalt baseou sua revolta nessa ideia.
A definição restritiva da psicologia pelos estruturalistas também foi alvo de críticas.
Titchener excluiu especialidades como psicologia infantil e animal de seu escopo, limitando a
disciplina. Enquanto Titchener permanecia fiel a sua visão, a psicologia estava se expandindo
rapidamente para novos campos e direções.
Apesar das críticas, os historiadores reconhecem as contribuições dos estruturalistas.
Seu foco na experiência consciente era claramente definido, e seus métodos de pesquisa
baseados na observação, experimentação e medição eram tradicionalmente científicos. O
método de introspecção, mesmo em uma forma mais ampla de relato oral baseado na
experiência, continua sendo utilizado em diversas áreas da psicologia. Pesquisadores ainda
recorrem a relatos introspectivos em estudos psicofísicos, ambientes incomuns e processos
cognitivos.
31

Outra contribuição do estruturalismo foi servir como alvo de críticas, proporcionando


uma ortodoxia forte contra a qual novos movimentos da psicologia puderam se posicionar.
Essas críticas levaram ao desenvolvimento de novas escolas de pensamento, impulsionando a
psicologia para além dos limites estabelecidos pelo estruturalismo de Titchener.

Questões para Discussão

1. Na perspectiva de Titchener, qual o objeto de estudo adequado para a psicologia? Em


que ela difere dos objetos das outras ciências?
Objeto de Estudo Adequado: Na perspectiva de Titchener, o objeto de estudo
adequado para a psicologia era a experiência consciente. Diferia dos objetos de outras
ciências por se concentrar na observação e análise dos processos mentais e da consciência.

2. Compare e aponte as diferenças entre as abordagens da psicologia de Titchener e


Wundt.
Comparação entre Titchener e Wundt: As abordagens de Titchener e Wundt
diferiam nas ênfases dadas à introspecção e à análise dos elementos mentais. Wundt buscava
uma psicologia mais abrangente, incluindo processos emocionais e volitivos, enquanto
Titchener focava na análise de elementos sensoriais e mentais básicos.

3. Descreva a diferença entre experiência independente da pessoa que está


experimentando, e experiência dependente da pessoa que está experimentando. Dê
exemplos. De acordo com Titchener, qual tipo fornece dados para a psicologia?
Experiência Independente vs. Dependente: A experiência independente da pessoa
que está experimentando refere-se a processos automáticos e involuntários, enquanto a
experiência dependente da pessoa que está experimentando é influenciada pela atenção
consciente. Para Titchener, a experiência dependente fornecia dados mais relevantes para a
psicologia.

4. Descreva o ponto de vista paradoxal de Titchener a respeito do lugar das mulheres na


psicologia. Ele agia para ajudá-las em suas carreiras ou de discriminá-las?
Posição de Titchener sobre as Mulheres: Titchener tinha uma visão paradoxal sobre
as mulheres na psicologia. Embora tenha admitido mulheres em seus cursos, ele também as
discriminava em relação às oportunidades de pesquisa e carreira.
32

5. Descreva o método de introspecção de Titchener. Qual é a diferença entre o seu


método e o de Wundt?
Método de Introspecção: O método de introspecção de Titchener envolvia
observadores treinados descrevendo detalhadamente seus estados conscientes. Diferia do
método de Wundt, pois Titchener excluía palavras com significado e buscava uma linguagem
introspectiva.

6. Descreva os três estados elementares da consciência e os quatro atributos dos


elementos mentais de Titchener.
Estados Elementares e Atributos de Titchener: Os três estados elementares da
consciência eram sensações, imagens e afetos. Os quatro atributos dos elementos mentais
eram qualidade, intensidade, duração e nitidez.

7. Como Titchener diferenciava a inspeção da introspecção?


Diferença entre Inspeção e Introspecção: Titchener diferenciava inspeção de
introspecção, considerando a primeira como a observação direta de estímulos externos e a
segunda como a observação direta dos estados conscientes internos.

8. De que forma Titchener começou a alterar o seu sistema no final de sua carreira?
Alterações no Sistema de Titchener: No final de sua carreira, Titchener alterou
significativamente sua abordagem, afastando-se dos elementos mentais para estudar
dimensões ou processos mentais mais amplos, como qualidade, intensidade, duração, nitidez
e extensão.

9. No que se basearam as críticas feitas à abordagem introspectiva de Titchener? Como


ele respondeu a essas críticas?
Críticas à Introspecção: As críticas à introspecção incluíam a dificuldade em alcançar
uniformidade nas descrições, a criação de uma linguagem introspectiva não realizada e a
validade do método para explorar a mente inconsciente.
33

10. Que outras críticas foram feitas a respeito do estruturalismo de Titchener? Quais
foram as contribuições do estruturalismo de Titchener para a psicologia?
Outras Críticas e Contribuições do Estruturalismo: Outras críticas incluíram a
artificialidade e esterilidade na análise dos processos conscientes. No entanto, os
estruturalistas contribuíram ao definir claramente o objeto de estudo da psicologia e ao
servirem como alvo de críticas, impulsionando a disciplina para além de seus limites.

11. Que críticas haviam sido feitas ao método de introspecção antes do trabalho de
Titchener?
Críticas Pré-Titchener à Introspecção: Antes do trabalho de Titchener, críticas à
introspecção incluíam a preocupação de que observar as próprias atividades mentais alterava
a experiência consciente, além de dúvidas sobre a capacidade da mente para observar a si
mesma.

12. Como o termo reagente, usado por Titchener, indicava sua visão sobre os
observadores humanos e as pessoas em geral?
Visão de Titchener sobre Observadores e Pessoas em Geral: O termo "reagente",
usado por Titchener, indicava sua visão de que os observadores humanos eram reagentes aos
estímulos, semelhantes a outros organismos, e que as pessoas eram moldadas pelos estímulos
do ambiente.

13. Qual é a distinção traçada por Titchener entre consciência e mente?


Distinção entre Consciência e Mente: Titchener distinguiu consciência e mente,
considerando a mente como um órgão que realiza atividades mentais, enquanto a consciência
refere-se à parte ativa da mente.

14. O que é erro de estímulo? Dê um exemplo. Conforme Titchener, como o erro de


estímulo podia ser evitado?
Erro de Estímulo e Exemplo: Erro de estímulo ocorre quando observadores
respondem a palavras com significado em vez de descreverem elementos sensoriais básicos.
Um exemplo seria responder "mesa" em vez de descrever as sensações visuais associadas.
34

15. De acordo com Titchener, qual é o papel da retrospecção na pesquisa psicológica?


Papel da Retrospecção na Pesquisa Psicológica: Segundo Titchener, a retrospecção,
ou recordação de experiências passadas, desempenhava um papel importante na pesquisa
psicológica ao fornecer informações sobre estados mentais anteriores.

16. Por que alguns dos alunos de pós-graduação de Titchener engoliam tubos de
borracha, levavam seus cadernos para o banheiro e registravam seus sentimentos
durante as relações sexuais?
Ações dos Alunos de Pós-Graduação de Titchener: Alguns alunos de pós-graduação
de Titchener realizavam ações extremas, como engolir tubos de borracha e registrar seus
sentimentos durante relações sexuais, como parte do método introspectivo. Essas práticas
eram controversas e indicavam a dedicação extrema à introspecção experimental.

Cap. 7: O FUNCIONALISMOO NOS SEUS PRIMORDIOS: A PSICOLOGIA A


SERVIÇO DA ADAPTAÇÃO. FERREIRA, A. L.; VILELA, A. J; LEAL, A.;
PORTUGAL, F. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2005.

O capítulo 7 aborda o surgimento do funcionalismo na psicologia, destacando seus


primórdios e as condições históricas que influenciaram esse movimento. A psicologia do
século XIX, especialmente na Alemanha, era caracterizada por uma abordagem puramente de
pesquisa, focada na experiência consciente comum e utilizando introspecção controlada.
Os funcionalistas, como Granville Stanley Hall, James McKeen Cattell, James Mark
Baldwin e William James, transformaram esse cenário nos Estados Unidos. O capítulo busca
compreender a transição da psicologia voltada para a pesquisa pura para uma ciência e
técnica da adaptação, evidenciada pelo movimento funcionalista.
Destacam-se duas condições específicas nos EUA que contribuíram para esse
desenvolvimento: as necessidades políticas e administrativas decorrentes da modernização do
país e as características do sistema universitário no final do século XIX. O processo de
modernização demandava ajustes, exames e controles sobre os indivíduos, nos quais a
psicologia desempenhava um papel ativo, classificando, selecionando e ajustando as pessoas
para os novos espaços sociais.
35

A expansão do sistema universitário nos EUA, livre das tradições europeias, permitiu a
adoção de novos modelos e paradigmas, como o darwinismo e o spencerismo. Isso levou à
circulação de conceitos como adaptação, função e equilíbrio, que foram incorporados pela
psicologia funcionalista. Essa abordagem não apenas estudava os processos naturais, como a
evolução e adaptação, mas também os promovia nos ajustes e controles da sociedade
moderna em expansão.
O capítulo conclui destacando alguns psicólogos norte-americanos, como Edward
Titchener, que desempenharam papéis-chave na introdução e desenvolvimento do
funcionalismo nos EUA. Titchener, apesar de inicialmente representar a psicologia alemã,
tornou-se uma voz isolada ao tentar diferenciar a psicologia funcionalista da estruturalista,
destacando sua ênfase na adaptação e na função.
O segundo grupo de psicólogos norte-americanos, como Granville Stanley Hall, James
McKeen Cattell e James Mark Baldwin, buscou a influência da psicologia do século XIX na
Alemanha, especialmente em Leipzig com Wilhelm Wundt. No entanto, a rígida formação
germânica não impediu que esses psicólogos desenvolvessem interesses diversos em relação
à abordagem alemã.
James Baldwin, por exemplo, adotou o pensamento darwinista, focando em temas
como o desenvolvimento infantil. Cattell, apesar de ter sido assistente de Wundt, dedicou-se
ao aperfeiçoamento de medidas mentais para a classificação dos indivíduos, fundamental para
a criação de testes mentais. Stanley Hall, o primeiro doutor em psicologia nos EUA,
promoveu a implantação de novas áreas e instituições na Universidade de Clark, abordando
temas como psicologia da infância, adolescência, velhice, educação, sexo e religião.
Um terceiro grupo, composto por William James e John Dewey, dispensou a influência
germânica e introduziu a psicologia nos EUA de maneira autônoma. Dewey e James foram
responsáveis pelas primeiras tentativas de sistematização da psicologia funcionalista nos
Estados Unidos, com Dewey publicando "Psychology" em 1886 e James lançando "The
Principles of Psychology" em 1890.
O capítulo então se aprofunda na obra de William James, dividindo-a em dois
momentos: um psicológico, que vai da década de 1870 até a de 1890, e outro filosófico, da
década de 1890 até o final de sua vida. Durante o primeiro período, James publicou "The
Principles of Psychology" em 1890, onde abordou temas como hábito, atenção, fluxo do
pensamento e self. O conceito de self, em particular, foi caracterizado por James como uma
perspectiva individual fluida, surgindo em função das ações do indivíduo sobre o ambiente.
36

O capítulo destaca a contribuição de James para a psicologia, especialmente sua


abordagem do fluxo do pensamento, concebendo a consciência como um fluxo contínuo e
fluido. James também explorou o conceito de hábito, destacando sua base neurofisiológica,
sua função adaptativa e a capacidade de modificação por ação voluntária, com implicações
éticas e morais. Esses conceitos fundamentais caracterizam a abordagem funcionalista de
James.
Neste trecho, são destacados dois tópicos relevantes relacionados à abordagem
funcionalista de William James. No primeiro tópico, há ênfase na visão de James sobre o
hábito, abordando tanto sua concepção fisicalista quanto suas implicações éticas. James
utiliza metáforas naturalistas, descrevendo o hábito como uma nova via de descarga no
cérebro, formada pela repetição de correntes aferentes. Essa abordagem sintética com
vocabulário biológico proporciona definições poderosas dos conceitos principais de James.
No segundo tópico, James destaca a utilidade adaptativa do hábito, alinhando-se com a
perspectiva darwiniana. Ele enfatiza que o hábito simplifica movimentos, os torna precisos,
reduz a fadiga e diminui a atenção consciente durante a realização de atos. James introduz a
metáfora de que os hábitos dependem de sensações não atendidas. A aquisição e manutenção
da habilidade de fazer a atenção consciente repousar tornam-se essenciais para o organismo.
A análise sugere que, ao reduzir o foco na psicologia experimental e adotar uma
linguagem mais cotidiana em seus escritos, James constrói uma imagem de self menos
vinculada ao vocabulário da neurofisiologia. A imagem de self, delineada no período mais
maduro de suas obras, tem como referência conceitual central um corpo humano e suas ações,
ampliando seu alcance semântico para além do fisicalismo.
Esses conceitos de self, fluxo do pensamento e hábito fornecem bases teóricas
importantes para a compreensão da contribuição de James ao funcionalismo. Sua abordagem
coloca o foco na função, destacando que o que um organismo é ou deixa de ser resulta das
funções que executa e das interações com o ambiente, em oposição a supostas "propriedades"
inerentes ao organismo.
No entanto, o texto destaca que a psicologia dos "Princípios de James" ainda não é
totalmente funcional, enfrentando obstáculos como o dualismo entre um sujeito conhecedor e
objetos a serem conhecidos. É na filosofia de James, especialmente em seu pragmatismo, que
a orientação funcionalista ganha força. O pragmatismo é apresentado como um método e uma
teoria genética da verdade, enfocando a busca pelas últimas coisas e avaliando a verdade com
base em processos de verificação e resultados adaptativos. A relação entre pragmatismo e
funcionalismo é sugerida como semelhante, sendo descritas como duas faces de uma mesma
37

moeda, compartilhando motivação lógica e dependendo de forças semelhantes para sua


vitalidade e propagação.
No contexto do pragmatismo e do funcionalismo na psicologia, o foco recai sobre a
mudança de abordagem em relação à consciência e à experiência. Ao contrário da psicologia
alemã, que buscava decompor a consciência em seus elementos mínimos, o funcionalismo
norte-americano, influenciado pelo pragmatismo, rejeita essa abordagem analítica. Em vez
disso, a atenção volta-se para os processos e efeitos adaptativos da experiência consciente.
A centralidade do pragmatismo na constituição dos funcionalismos é destacada,
apresentando a ideia de que não há uma verdade prévia, mas apenas efeitos de verdade. Nesse
novo paradigma, a experiência consciente é considerada em termos de sua função como
processo dinâmico e orgânico com finalidade adaptativa. Surge a pergunta: para que serve a
experiência consciente? Como opera? Qual é a sua função biológica? Essas perguntas guiam
a psicologia funcional.
A mudança de perspectiva é evidente na adoção de métodos diversificados, como
métodos comparativos com animais, psicometrias e observação natural, em contraste com a
monotonia da introspecção controlada. O modelo estritamente darwinista é aplicado,
enfatizando a utilidade adaptativa do hábito. A experiência consciente é vista não mais como
uma busca por adequação ao mundo, mas sim como um processo de adaptação e
desadaptação.
As escolas de Chicago e Columbia são mencionadas como representantes do
funcionalismo norte-americano. A característica assistemática é destacada como uma
vantagem, permitindo a difusão e delimitação mais ampla da psicologia como ciência de
adaptação. O caráter eclético do funcionalismo é associado à sua ligação com o pragmatismo,
rejeitando sistemas estáticos e fechados.
A importância dos conceitos de função e adaptação para o funcionalismo é abordada. A
função é considerada como uma relação contingente, envolvendo processos vitais e sentido
adaptativo. O funcionalismo, ao contrário da psicologia clássica alemã, não se preocupa com
a listagem de elementos mentais, mas sim com a investigação das funções mentais em termos
de adaptação.
Neste contexto, a crítica à abordagem da psicologia dos elementos é examinada, com
destaque para as contribuições de James, Angell e Dewey. James questiona a viabilidade de
uma psicologia elementar baseada em átomos mentais, enquanto Angell rejeita a
possibilidade de estruturar a psicologia com base em elementos semelhantes à anatomia.
38

Dewey, por sua vez, argumenta contra a compartimentalização do reflexo, afirmando que
qualquer divisão seria artificial e não substancial.
Angell, de forma mais incisiva, contesta a existência dos elementos psíquicos,
questionando sua natureza espacial e temporal. Ele refuta a analogia entre os elementos
mentais e as estruturas anatômicas, argumentando que a análise estrutural da psicologia deve
se concentrar em funções, atos ou processos mentais, em vez de elementos isolados.
A crítica se estende à chamada "falácia do psicólogo", destacando a diferença entre a
introspecção do psicólogo e a experiência efetiva da vida cotidiana. Angell propõe que a
análise estrutural da psicologia deve focar em atos mentais, como julgar, perceber e recordar,
em vez de elementos isolados como sensações ou sentimentos.
O conceito fundamental de função é explorado no funcionalismo, principalmente em
relação à adaptação. A função é vista como a utilidade promovida em uma situação
adaptativa, conectando diretamente o funcionalismo ao evolucionismo biológico. Em
contraste com a psicologia clássica alemã, que avaliava o ajustamento da experiência aos
objetos, o funcionalismo examina a adaptação do organismo ao ambiente por meio da
experiência, permitindo o estudo de diferentes grupos, como animais, indivíduos anormais e
em desenvolvimento.
O conceito de adaptação é inflacionado no funcionalismo, tornando-se não apenas uma
resposta à evolução filogenética, mas também um agente de evolução individual. A
consciência é considerada não apenas como adaptada, mas também como adaptante,
influenciando a evolução individual e resolvendo impasses na vida dos indivíduos.
A teoria da inteligência de Dewey, baseada no modelo de adaptação de James, é
mencionada como um exemplo prático, enfatizando a atuação consciente da inteligência
diante de situações-problema. Esse modelo é posteriormente aplicado à pedagogia da Escola
Nova, destacando a aprendizagem inteligente e a cooperação entre os indivíduos como
fundamentais para criar hábitos sólidos e promover o desenvolvimento autônomo em
sociedades democráticas. A conclusão sugere que a democracia não é apenas uma forma
social justa, mas também uma forma natural que permite a realização completa das funções
adaptativas naturais.
O funcionalismo na psicologia, particularmente representado pelas Escolas de Chicago
e Columbia nos Estados Unidos, questiona e rejeita a abordagem da psicologia alemã que
busca analisar a consciência em termos de elementos mentais. James, Angell e Dewey foram
figuras-chave nesse movimento, criticando a ideia de uma psicologia dos elementos.
39

Dewey, em sua crítica à teoria do arco reflexo, rejeita a dualidade metafísica entre
mente e corpo, defendendo que a teoria é uma mistura de materialismo e espiritualismo.
Angell, por sua vez, questiona a viabilidade de uma psicologia estruturada em elementos
mentais, propondo que a análise estrutural deve focar em funções, atos ou processos mentais
em vez de elementos.
O funcionalismo norte-americano, influenciado pelo pragmatismo, enfatiza a função
adaptativa da experiência consciente. Escolas como Chicago e Columbia adotaram métodos
diversos, como observação natural e estudos comparativos com animais, afastando-se da
introspecção controlada.
A abordagem funcionalista se destaca pela sua natureza eclética e assistemática,
conectada ao pragmatismo. A função é central no funcionalismo, vista como uma relação
contingente com significado adaptativo. A psicologia funcional não se preocupa com
elementos mentais, mas sim com investigar as funções mentais em termos de adaptação.
Na Escola de Columbia, Thorndike propõe a Lei do Efeito, substituindo a consciência
por respostas selecionadas por efeitos de satisfação. Woodworth propõe um modelo E-O-R,
enfatizando impulsos do organismo. O funcionalismo, apesar de seu alicerce darwinista,
desvia-se em alguns aspectos, especialmente ao considerar adaptação ontogenética e
qualitativa, relacionada ao ajuste social.
A adaptação na psicologia funcional não é apenas filogenética, mas também
ontogenética, focando na adaptação individual. A noção de adaptação é estendida ao contexto
social, destacando a importância do ajustamento às demandas do meio social. A psicologia
funcional não apenas estuda a adaptação, mas busca ser um instrumento de adaptação,
promovendo o ajustamento social.
O funcionalismo tem implicações na prática psicológica, incluindo a aplicação de testes
mentais para avaliar a adaptação dos indivíduos ao grupo. A psicologia funcional se torna
uma ciência e técnica de adaptação, promovendo o bom uso das capacidades humanas e o
ajustamento aos desafios sociotécnicos modernos. A abordagem utilitarista da psicologia
funcional destaca seu papel como engenheira social na busca pelo maior bem possível para a
sociedade.
No contexto brasileiro, representantes da Escola Nova, como Anísio Teixeira, estiveram
ligados ao movimento funcionalista, promovendo a educação e a adaptação social. O
funcionalismo influenciou a psicologia moderna, e suas características ecléticas e
pragmáticas continuam a ressoar na diversidade de práticas psicológicas contemporâneas.
40

Cap. 6: O FUNCIONALISMO: AS INFLUÊNCIAS ANTERIORES. SCHULTZ, D. P.;


SCHULTZ, E. História da Psicologia Moderna. 11ª Ed. Norte-americana. São Paulo (SP):
Cengage Learning 2019.

O capítulo aborda o funcionalismo na psicologia, destacando influências anteriores e


cientistas relevantes, como Charles Darwin e Francis Galton. Uma história intrigante é
apresentada, destacando a experiência de Charles Darwin ao observar Jenny, um
orangotango, em exibição no zoológico de Londres em 1838. A descrição detalhada do
comportamento de Jenny, suas interações e reações, impacta profundamente Darwin,
influenciando suas ideias sobre a evolução e a inteligência.
O texto também destaca o movimento funcionalista como um protesto contra as
abordagens restritivas da psicologia experimental de Wilhelm Wundt e da psicologia
estrutural de Edward Titchener. O funcionalismo concentra-se nas funções da mente,
explorando como ela é usada pelos organismos para se adaptarem ao ambiente.
Além disso, o texto menciona a revolução da teoria da evolução de Charles Darwin,
situando-a no contexto histórico e destacando outros precursores, como Erasmus Darwin,
Jean-Baptiste Lamarck e Charles Lyell. A evolução é apresentada como uma ideia que não
começou com Darwin, mas que foi consolidada e popularizada por sua obra "A Origem das
Espécies", publicada em 1859.
O capítulo discute a ênfase do funcionalismo nas funções mentais e seu
desenvolvimento nos Estados Unidos como uma escola de pensamento distinta. A abordagem
funcionalista se destaca por sua preocupação com as aplicações práticas da psicologia na vida
cotidiana, contribuindo para o rápido desenvolvimento da psicologia aplicada nos Estados
Unidos.
O texto aborda as mudanças de paradigma no entendimento da evolução, mencionando
a influência de novas descobertas sobre as espécies e questionando a viabilidade da narrativa
bíblica da criação à medida que os cientistas adquirem mais conhecimento sobre a
diversidade da vida na Terra.
Continuando a biografia de Darwin, ele e Wallace apresentaram suas teorias
conjuntamente em uma sessão conjunta da Linnean Society em 1º de julho de 1858. No
entanto, a reação inicial foi morna e não causou grande impacto. Mas Darwin, agora
impulsionado pela iminente publicação da teoria de Wallace, acelerou a conclusão de seu
41

trabalho. Em 1859, Darwin publicou "A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural",
onde apresentou de maneira abrangente e persuasiva sua teoria da evolução.
O livro gerou controvérsias, principalmente devido à ideia de que os seres humanos
compartilham um ancestral comum com os primatas. No entanto, ao longo do tempo, a teoria
de Darwin ganhou aceitação generalizada e transformou a compreensão da biologia e da
história da vida na Terra.
Apesar das críticas, Darwin continuou sua obra científica e publicou "A Descendência
do Homem e a Seleção em Relação ao Sexo" em 1871, onde aplicou suas ideias evolutivas à
explicação da evolução humana.
Charles Darwin faleceu em 19 de abril de 1882, deixando um legado duradouro que
influenciou não apenas a biologia, mas também teve repercussões em outras áreas do
conhecimento, incluindo a psicologia.
O impacto de Darwin na psicologia foi significativo, especialmente no
desenvolvimento do funcionalismo. O funcionalismo, uma escola de pensamento psicológico
que se concentra nas funções mentais e em como elas ajudam os organismos a se adaptarem
ao ambiente, foi influenciado pelas ideias de Darwin sobre a adaptação e sobrevivência.
Além disso, o funcionalismo explorou a aplicação da psicologia a problemas práticos da vida
diária, destacando-se como um protesto deliberado contra a psicologia experimental
estruturalista.
Francis Galton, primo de Darwin, também desempenhou um papel significativo na
influência do funcionalismo. Suas pesquisas sobre diferenças individuais, hereditariedade
mental e métodos estatísticos contribuíram para a compreensão das variações humanas e
influenciaram a abordagem funcionalista na psicologia.
George John Romanes e C. Lloyd Morgan, estudiosos do comportamento animal e
evolução, também foram mencionados no contexto do funcionalismo. Suas contribuições
forneceram insights sobre a relação entre a psicologia animal e a evolução, expandindo ainda
mais as bases dessa escola de pensamento.
O capítulo destaca a influência das ideias evolutivas de Charles Darwin, assim como de
outros estudiosos como Francis Galton, George John Romanes e C. Lloyd Morgan, nas raízes
do movimento funcionalista na psicologia. A narrativa abrange desde as experiências de
Darwin durante sua viagem no HMS Beagle até a publicação de suas obras revolucionárias,
destacando o contexto histórico e intelectual que moldou o surgimento do funcionalismo
como uma abordagem psicológica distintiva.
Contexto Inicial:
42

Em 1858, Lyell e Hooker sugeriram que os trabalhos de Wallace e partes do livro de


Darwin fossem apresentados em um encontro na Linnean Society em 1º de julho. Este evento
histórico ocorreu no mesmo dia em que o filho de Darwin foi enterrado. Posteriormente, a
primeira edição de "A Origem das Espécies" vendeu todas as 1.250 cópias no dia de
lançamento, gerando reações e discussões imediatas.
Reações e Enfermidades:
Após a publicação do livro, Darwin enfrentou novas enfermidades, incluindo uma ânsia
de vômito terrível e furúnculos dolorosos. Sentindo-se extremamente mal, ele se refugiou em
uma estância hidromineral no norte da Inglaterra, onde permaneceu isolado do mundo por
dois meses.
Reação de Wallace:
Wallace, coautor involuntário da teoria da evolução, não expressou ressentimento por
falta de reconhecimento. Pelo contrário, sentiu-se satisfeito ao saber que contribuiu para a
conclusão de um livro tão significativo. Em 2000, a Linnean Society assumiu a
responsabilidade pela lápide de Wallace em homenagem aos seus feitos.
Troca de Elogios:
Após ler o livro de Darwin, Wallace elogiou a obra, reconhecendo que Darwin havia
criado uma nova ciência. Em resposta aos elogios, Darwin expressou humildade e afirmou
que Wallace teria feito um trabalho tão bom, ou possivelmente melhor, se tivesse as mesmas
vantagens.
A Teoria Darwiniana:
A teoria da evolução darwiniana destaca a variabilidade dentro de uma espécie e como
a seleção natural favorece os organismos mais bem adaptados, resultando na sobrevivência e
reprodução desses organismos. A influência do ensaio de Malthus sobre a população é
evidente, sugerindo que a luta pela sobrevivência é constante e apenas os mais aptos
sobrevivem.

Mecanismos de Evolução:
Darwin reconheceu não apenas a seleção natural, mas também concordou com Lamarck
sobre modificações na forma transmitidas às gerações subsequentes com base na experiência
durante o ciclo de vida do animal.
Huxley e o Debate em Oxford:
43

Thomas Henry Huxley, um defensor fervoroso da evolução, foi um orador eloquente e


debatedor hábil. No debate em Oxford, Huxley confrontou o bispo Samuel Wilberforce,
defendendo a evolução contra as críticas baseadas na Bíblia.
Fitzroy e o Sofrimento Pós-Beagle:
O capitão Fitzroy, que navegou com Darwin no Beagle, enfrentou dificuldades após a
viagem. Ele se culpava por ter proporcionado a Darwin a oportunidade de desenvolver sua
teoria e, anos depois, com dificuldades financeiras, acabou tirando a própria vida.
Contribuições Posteriores de Darwin:
Além da "Origem das Espécies", Darwin publicou "A Ascendência do Homem" (1871),
explorando a evolução humana. Ele também estudou expressões emocionais em humanos e
animais, apresentando a teoria de que essas expressões evoluíram ao longo do tempo.
Evolução Contínua:
Os estudos de Darwin nas Ilhas Galápagos influenciaram a pesquisa subsequente. Os
biólogos Peter e Rosemary Grant observaram a evolução em andamento nas espécies de
tentilhões, concluindo que a evolução era mais rápida do que Darwin imaginava.
O texto abrange eventos cruciais na história da teoria da evolução e destaca as
contribuições de Darwin, Wallace, Huxley e outros que moldaram o entendimento moderno
da evolução biológica.
O capítulo discute a influência de Charles Darwin na psicologia, destacando como suas
ideias moldaram algumas correntes de pensamento dentro da disciplina.
1. Contextualização Histórica:
O capítulo inicia situando o leitor no contexto histórico do século XIX, quando
Darwin publicou sua obra revolucionária "A Origem das Espécies" em 1859. Destaca-se o
encontro na Linnean Society, onde Wallace e Darwin apresentaram suas teorias de evolução
por seleção natural.
2. Reação à Publicação:
Após a publicação de "A Origem das Espécies," Darwin enfrentou críticas e reações
diversas. O livro vendeu rapidamente, e sua teoria provocou discussões imediatas. Darwin,
embora criticado, alcançou renome e fama.
3. Wallace e Reconhecimento:
A reação de Wallace ao compartilhamento da teoria na Linnean Society é discutida,
destacando seu comportamento modesto e sua satisfação pelo reconhecimento recebido.
Posteriormente, a Linnean Society honrou Wallace, cuidando de sua lápide.
4. Troca de Elogios entre Darwin e Wallace:
44

Evidencia-se a correspondência amigável entre Darwin e Wallace, com Wallace


elogiando a grandiosidade do trabalho de Darwin. Ambos expressaram respeito mútuo,
evidenciando a colaboração indireta na formulação da teoria da evolução.
5. Teoria da Evolução Darwiniana:
O capítulo resume os principais pontos da teoria da evolução darwiniana, incluindo a
luta pela sobrevivência, a seleção natural e a influência de Thomas Malthus na formulação
das ideias de Darwin.
6. Thomas Henry Huxley:
Destaca-se o papel de Thomas Henry Huxley na defesa e popularização das ideias
evolucionárias. Sua eloquência e postura frente aos críticos, como o bispo Samuel
Wilberforce, são mencionadas.
7. Outros Trabalhos de Darwin:
Além de "A Origem das Espécies," discute-se brevemente o impacto de outros
trabalhos de Darwin, como "A Ascendência do Homem" (1871) e "A Expressão das Emoções
no Homem e nos Animais" (1872).
8. Evolução dos Tentilhões nas Ilhas Galápagos:
Aborda-se um estudo contemporâneo sobre a evolução dos tentilhões nas Ilhas
Galápagos, destacando como as mudanças ambientais influenciaram a adaptação dos pássaros
e evidenciaram a continuidade do processo evolutivo.
9. Influência de Darwin na Psicologia:
Examina-se a influência de Darwin na psicologia, salientando quatro principais
contribuições: o enfoque na psicologia animal, a ênfase nas funções da consciência, a
aceitação de métodos variados e o foco nas diferenças individuais.
10. Autobiografia de Darwin:
Trechos da autobiografia de Darwin são apresentados, revelando suas características
pessoais, como a paciência, a observação minuciosa, o amor pela ciência e sua postura cética
e flexível diante das hipóteses.
O capítulo ressalta a influência duradoura de Charles Darwin na psicologia, destacando
como suas ideias moldaram abordagens e perspectivas dentro da disciplina.
Diferenças Individuais e Eugenia por Francis Galton:
Contexto Inicial:
Francis Galton, contemporâneo de Charles Darwin e seu primo, contribuiu
significativamente para a psicologia ao abordar a herança mental e as diferenças individuais,
45

integrando o espírito da evolução em suas investigações. Antes de Galton, a consideração das


diferenças individuais era pouco explorada na psicologia.
Influência de Darwin e Prévias Observações:
Galton, inspirado pela teoria evolucionista de Darwin, iniciou suas pesquisas
observando as diferenças individuais nas habilidades e atitudes humanas. Enquanto alguns
precursores, como Juan Huarte, já haviam tocado no tema, Galton foi o pioneiro em realizar
estudos sistemáticos sobre hereditariedade e diferenças individuais.
Biografia e Expedições de Galton:
Francis Galton, dotado de notável inteligência, explorou diversos campos, desde
meteorologia até a criação de instrumentos. Sua curiosidade o levou a viagens pela África,
experiências médicas ousadas e inovações tecnológicas. Fascinado pela teoria de Darwin,
dedicou-se a explorar os efeitos da hereditariedade nas características adquiridas.
Herança Mental e Eugenia:
Galton publicou "Hereditary Genius" em 1869, buscando demonstrar que a grandeza
individual ocorria frequentemente em famílias, sugerindo que fatores hereditários eram
cruciais. Sua tese defendia que características notáveis eram transmitidas, não apenas a
genialidade em geral, mas também suas formas específicas. Isso o levou a cunhar o termo
"eugenia," propondo melhorar a raça humana por meio da seleção artificial.
Objetivos da Eugenia e Propostas de Galton:
Galton visava incentivar o nascimento de indivíduos mais aptos e desencorajar o de
inaptos. Propôs a criação de testes de inteligência para a seleção seletiva de homens e
mulheres brilhantes, promovendo a reprodução desses grupos. Sua ênfase estava na melhoria
das qualidades herdadas da sociedade humana, assemelhando-se à seleção artificial em
animais de criação.
Estudos Estatísticos e Aplicações Práticas:
Galton aplicou conceitos estatísticos para sustentar sua teoria, analisando 977 homens
notáveis em várias categorias. Os dados indicavam que homens extraordinários tinham uma
probabilidade maior de terem filhos notáveis. Ele rejeitava a influência do ambiente,
argumentando que a eminência estava intrinsicamente ligada à hereditariedade.

Contribuições Duradouras e Legado:


Galton continuou a estudar a hereditariedade em várias obras, fundou laboratórios de
eugenia e promoveu suas ideias por meio da revista Biometrika. Seu impacto na psicologia
46

moderna reflete-se na compreensão das diferenças individuais e nas discussões éticas em


torno da eugenia, destacando a complexidade da influência genética e ambiental.
Este resumo abrange a vida, contribuições e ideias fundamentais de Francis Galton, um
pioneiro na exploração das diferenças individuais e na introdução do conceito de eugenia na
psicologia.
Diferenças Individuais - Francis Galton (1822-1911)
Introdução e Contexto
Francis Galton, figura destacada do século XIX, introduziu o estudo das diferenças
individuais na psicologia, influenciando-a profundamente. Antes de Galton, poucos se
aventuravam a explorar esse campo, sendo o médico espanhol Juan Huarte uma exceção
notável. Huarte, no século XVI, já propunha o estudo das habilidades individuais, mas suas
ideias não tiveram grande impacto antes de Galton.
Biografia de Galton
Nascido em 1822 em uma família abastada, Galton demonstrou precocidade desde a
infância, evidenciando um QI estimado em 200. Iniciou estudos em medicina, mas sua
curiosidade o levou a explorar diversas áreas, desde inventar dispositivos até realizar
expedições na África. Influenciado por Charles Darwin, Galton mergulhou na biologia e na
genética, destacando-se por seu trabalho nas impressões digitais.
Herança Mental e Eugenia
O trabalho seminal de Galton, "Hereditary Genius" (1869), argumentava que a
grandeza individual era hereditária. Propôs a eugenia, visando melhorar a sociedade por meio
da seleção artificial de características desejáveis. Defendia a realização de testes de
inteligência para orientar a reprodução seletiva e incentivava financeiramente os mais
talentosos a se casarem.
Métodos Estatísticos e Correlação
Galton, insatisfeito até quantificar seus dados, contribuiu significativamente para a
estatística. Inspirado por Adolph Quetelet, aplicou a curva normal à variabilidade humana,
destacando que características como notas em exames seguiam essa distribuição. Galton
desenvolveu a correlação, uma medida fundamental nas ciências sociais, comportamentais e
naturais, sendo posteriormente aprimorada por seu aluno Karl Pearson.
O legado de Francis Galton na psicologia moderna é inegável. Sua abordagem pioneira
das diferenças individuais, a ênfase na hereditariedade e os métodos estatísticos,
especialmente a correlação, continuam a moldar o entendimento e a pesquisa em psicologia,
estendendo-se para outras disciplinas.
47

Testes Mentais e Outras Contribuições de Francis Galton


Origens e Desenvolvimento dos Testes Mentais
A expressão "testes mentais" foi introduzida por James McKeen Cattell, discípulo de
Francis Galton, mas é Galton quem está no cerne do conceito. Sua ideia baseava-se na crença
de que a inteligência poderia ser mensurada pela capacidade sensorial individual,
influenciada pela visão empirista de John Locke, que postulava que o conhecimento é
adquirido pelos sentidos. Galton associava inteligência a sentidos mais aguçados.
Instrumentos e Métodos Estatísticos
Para avaliar suas teorias, Galton inventou aparelhos como um apito para testar a
frequência sonora e um fotômetro para medir precisão na detecção de cores. Esses
instrumentos, embora primitivos, foram a base para futuros equipamentos de laboratório. Seu
Laboratório Antropométrico coletou dados de mais de 9 mil pessoas, visando definir a
variedade da capacidade humana na população britânica.
Um século depois, a análise desses dados por psicólogos norte-americanos revelou
correlações teste-reteste e ofereceu informações sobre tendências de desenvolvimento,
destacando a consistência estatística dos dados coletados por Galton.
Associação de Ideias e Tempo de Reação
Galton explorou a diversidade de associações de ideias e o tempo de reação,
desenvolvendo o teste de associação de palavras. Ele caminhava pela rua Pall Mall,
concentrando-se em objetos para provocar associações. Ao estudar o tempo de reação, ele
criou listas de palavras, medindo o tempo necessário para produzir associações. Identificou
influências significativas da infância e adolescência nas associações mentais, revelando a
importância das experiências precoces.
Imagens Mentais e Outros Estudos
Galton inovou ao investigar imagens mentais, realizando pesquisas com questionários
psicológicos. Ele descobriu que características como imagens mentais seguiam a distribuição
normal na população. Seu método influenciou Wilhelm Wundt, que o adaptou em Leipzig, e
Carl Jung, que o refinou para estudos de personalidade.
Galton também estudou "aritmética olfativa", relacionando-a à sua tentativa constante
de demonstrar semelhanças hereditárias. Além disso, explorou temas como paranoia, crenças
religiosas e o poder da oração, questionando suas eficácias e buscando abordagens científicas.
Sua riqueza de talentos e métodos estatísticos influenciaram significativamente o campo
emergente da psicologia. Mesmo não sendo estritamente um psicólogo, Galton deixou um
48

impacto duradouro na disciplina, superando até mesmo Wilhelm Wundt em termos de


influência na psicologia americana.
A Psicologia Animal e a Evolução do Funcionalismo
A teoria da evolução de Darwin teve um impacto significativo no desenvolvimento da
psicologia animal, desafiando a visão anterior de que os animais eram meros autômatos sem
mente ou alma. Antes de A Origem das Espécies, a mente animal não era considerada objeto
de estudo, e a concepção predominante, influenciada por Descartes, era de que os animais
não compartilhavam características mentais com os humanos. No entanto, Darwin questionou
essa visão ao argumentar que não existia uma diferença fundamental nas faculdades mentais
entre humanos e mamíferos superiores.
Darwin afirmou que animais inferiores eram capazes de sentir prazer, dor, alegria,
tristeza e até mesmo possuíam certo grau de imaginação. Ele destacou a continuidade entre os
aspectos mentais e físicos dos seres humanos e animais, defendendo a ideia de que os
humanos descendiam dos animais por meio da evolução. Isso desafiou a dicotomia
anteriormente estabelecida entre humano e animal, proposta por Descartes.
O interesse na inteligência animal cresceu nas décadas de 1860 e 1870, com pessoas
buscando exemplos de comportamento animal que comprovassem habilidades mentais. A
inteligência animal tornou-se um tema popular, e muitas histórias circulavam sobre feitos
notáveis de animais domésticos e selvagens. Essa mudança de perspectiva impulsionou
cientistas a procurar evidências da existência da inteligência animal.
George John Romanes, fisiologista britânico, foi um dos pioneiros na formalização do
estudo da inteligência animal. Influenciado por Darwin, ele publicou "Inteligência Animal"
(1883), considerado o primeiro livro de psicologia comparativa. Romanes desenvolveu uma
"escada mental", classificando diferentes espécies de animais com base em seu grau de
funcionamento mental. Ele utilizou um método anedótico e a introspecção por analogia,
sugerindo que os animais eram capazes de processos mentais complexos semelhantes aos
humanos.
No entanto, C. Lloyd Morgan, sucessor de Romanes, introduziu a "Lei da parcimônia"
ou "Cânone de Lloyd Morgan". Essa lei enfatiza que o comportamento animal não deve ser
interpretado como resultado de processos mentais superiores quando pode ser explicado por
processos mentais inferiores. Morgan procurou reduzir o uso do antropomorfismo e aplicar
métodos mais científicos na psicologia comparativa.
Apesar das limitações dos métodos anedóticos e da introspecção por analogia, o
trabalho de Romanes e Morgan foi crucial para o desenvolvimento da psicologia animal e do
49

funcionalismo. Suas contribuições abriram caminho para uma compreensão mais científica
do comportamento animal, influenciando a psicologia comparativa e as bases do
funcionalismo.
Influências Evolucionistas na Psicologia Animal e Funcionalismo
Conceitos Fundamentais:
A teoria da evolução de Darwin teve um impacto significativo na psicologia animal,
alterando a percepção dos cientistas sobre a mente animal. Antes de Darwin, os animais eram
frequentemente considerados autômatos sem mente e alma, uma visão influenciada por
Descartes. A publicação de "A Origem das Espécies" desafiou essa visão ao afirmar a
continuidade entre a mente humana e a animal.
Contribuições de Romanes e Morgan:
Conwy Lloyd Morgan, discípulo de Thomas Henry Huxley, foi um importante
contribuinte à psicologia animal. Ele aplicou a "lei da parcimônia", sugerindo que não se
deveria atribuir processos mentais superiores aos animais quando comportamentos pudessem
ser explicados por processos mentais mais simples. Morgan realizou os primeiros estudos
experimentais em larga escala na psicologia animal, buscando evidências mais objetivas e
controladas.

Questões para Discussão

1. Descreva o método anedótico e introspectivo por analogia. Em que consistia a escada


mental de Romanes?
O método anedótico baseia-se em relatos informais e observações casuais, enquanto a
introspecção por analogia envolve a inferência dos processos mentais dos animais a partir dos
próprios processos mentais humanos. A escada mental de Romanes categorizava as espécies
animais por grau de funcionamento mental, sugerindo que até formas de vida inferior
possuíam alto funcionamento mental.

2. Descreva o papel de Thomas Henry Huxley na promoção da teoria de Darwin.


Huxley, conhecido como o "bulldog de Darwin", foi um defensor proeminente da
teoria evolucionista. Ele popularizou as ideias de Darwin, defendendo a continuidade entre
humanos e animais, contribuindo para a aceitação geral da evolução.
3. Descreva o trabalho de Juan Huarte ao antecipar as contribuições de Galton.
50

Juan Huarte antecipou ideias de Galton ao explorar a hereditariedade do talento e


habilidade. Seu trabalho, "Exame das Mentes para as Ciências", propôs que a capacidade
intelectual era influenciada pela herança genética.

4. Explique como o estudo dos bicos dos tentilhões serve de comprovação para a teoria
evolucionista.
O estudo dos tentilhões de Darwin nas Ilhas Galápagos evidenciou variações
adaptativas nos bicos, correlacionando-se com os diferentes ambientes e fontes de alimentos
disponíveis em cada ilha. Essa variação e adaptação foram fundamentais para a teoria
evolucionista de Darwin.

5. Explique a abordagem de Erasmus Darwin e de Jean-Baptiste Lamarck à evolução.


Erasmus Darwin propôs a ideia de que as formas de vida evoluíam de formas mais
simples para complexas por meio de forças naturais. Lamarck propôs a herança de
características adquiridas durante a vida, um conceito posteriormente descartado, mas
influente no desenvolvimento do pensamento evolutivo.

6. De que forma o evolucionismo de Darwin incentivou o desenvolvimento da psicologia


animal? Qual foi a reação inicial de Wundt a esse desenvolvimento?
A teoria evolucionista de Darwin abriu caminho para a psicologia animal ao desafiar
a visão tradicional de animais como autômatos. Wundt, inicialmente, não aceitou
prontamente essas ideias, priorizando a introspecção e a análise de processos mentais
humanos.

7. Como Galton estudou a associação de ideias? Como aplicou o teste da inteligência?


Galton estudou a associação de ideias através do método de associação de palavras.
Seu teste de inteligência envolveu medições de habilidades sensoriais, como acuidade visual
e auditiva, visando correlacioná-las com a inteligência.

8. Como o crescente interesse por viagens e exploração, e a fascinação do público por


fósseis influenciaram as atitudes em relação à ideia de evolução?
As viagens e explorações proporcionaram novas observações da diversidade da vida,
enquanto a descoberta de fósseis sugeriu mudanças ao longo do tempo. Isso influenciou uma
aceitação crescente da ideia de evolução.
51

9. Como Morgan limitou o uso da introspecção por analogia? Qual dessas técnicas
Morgan utilizou para estudar a mente animal: (a) a observação anedótica, (b) o estudo
experimental, (c) o método da extirpação ou (d) o estímulo elétrico?
Morgan limitou a introspecção por analogia ao aplicar a lei da parcimônia, evitando
atribuir processos mentais superiores aos animais sem necessidade. Ele utilizou o método
experimental para estudar a mente animal.

10. De que forma a doutrina malthusiana da população e do suprimento alimentar


influenciou o conceito darwiniano da seleção natural?
A doutrina malthusiana sugeriu que o crescimento populacional excede os recursos
disponíveis, influenciando a ideia de competição por recursos. Darwin aplicou essa ideia à
seleção natural, onde organismos mais adaptados sobrevivem e reproduzem, transmitindo
suas características.

11. De que modo a visão empirista de Locke influenciou o trabalho de Galton sobre
testes mentais?
A visão empirista de Locke, que enfatizava a experiência sensorial como base do
conhecimento, influenciou Galton a medir características mentais através de testes sensoriais,
buscando correlacioná-los com a inteligência.

12. De que maneira os dados e as ideias de Darwin alteraram o objeto de estudo e os


métodos da psicologia?
Os dados e ideias de Darwin expandiram o objeto de estudo da psicologia para incluir
a mente animal, desafiando a introspecção exclusiva. Métodos mais objetivos e experimentais
foram incorporados para entender a continuidade evolutiva.

13. Com base em que os funcionalistas protestavam contra a psicologia de Wundt e o


estruturalismo de Titchener?
Os funcionalistas protestavam contra a exclusiva ênfase de Wundt na introspecção e a
abordagem estruturalista de Titchener, que se concentrava na análise dos elementos da
consciência, defendendo uma abordagem mais pragmática e focada nas funções adaptativas
da mente.
52

14. Os funcionalistas lidavam com que aspectos da consciência?


Os funcionalistas lidavam com os aspectos práticos e funcionais da consciência,
interessados em entender como a mente se adaptava e contribuía para a sobrevivência e a
eficácia na vida cotidiana.

15. O que Darwin quis dizer quando se referiu a si mesmo como o "capelão do diabo" e
disse que seu trabalho era como uma confissão de assassinato?
Ao se chamar de "capelão do diabo", Darwin expressou sua apreensão em desafiar a
visão tradicional e religiosa da criação, enquanto a "confissão de assassinato" refere-se à ideia
de que sua teoria poderia ser percebida como uma ameaça às crenças convencionais.

16. Quais foram as ferramentas estatísticas desenvolvidas por Galton para medir as
características humanas? Descreva a pesquisa de Galton sobre o gênio hereditário.
Galton desenvolveu técnicas estatísticas como a regressão e a correlação para medir
características humanas. Sua pesquisa sobre o gênio hereditário envolveu a análise de
características de pessoas eminentes, buscando correlacionar parentesco e genialidade.

17. Por que parecia inevitável que a teoria evolucionista fosse proposta e aceita em
meados do século XIX? Qual é a influência do Zeitgeist no êxito das ideias de Darwin?
O Zeitgeist, ou espírito da época, influenciou a aceitação das ideias de Darwin devido
às mudanças sociais, científicas e filosóficas da época. A crescente ênfase na observação,
exploração e descobertas científicas tornou o ambiente propício para a aceitação da evolução.

18. Por que algumas pessoas achavam tão perturbadora a experiência de ver Jenny, o
orangotango, no zoológico de Londres? Como o comportamento dela afetou Darwin?
A experiência de ver Jenny foi perturbadora, pois seu comportamento humano
desafiou a visão tradicional da separação entre humanos e animais. O comportamento
afetuoso de Jenny afetou Darwin, reforçando suas ideias sobre a continuidade entre as
espécies.
53

Cap. 11: O BEHAVIORISMO: UMA PROPOSTA DE ESTUDO DO


COMPORTAMENTO. FERREIRA, A. L.; VILELA, A. J; LEAL, A.; PORTUGAL, F.
História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2005.

O Capítulo 11 aborda a transição da psicologia nos Estados Unidos do final do século


XIX, destacando os pontos de vista dominantes do funcionalismo de William James e do
estruturalismo de Edward Titchener. Ambos consideravam a consciência como o objeto de
estudo da psicologia. Nesse contexto, James Mark Baldwin e William James desempenharam
papéis importantes no desenvolvimento da psicologia, e a American Psychological
Association (APA) foi fundada em 1892.
O foco principal do capítulo é Edward Lee Thorndike, um destacado estudioso da
Escola Funcionalista de Columbia. Thorndike, pioneiro na realização de experimentos
controlados, formulou a "Lei do Efeito", que estabelece que as respostas acompanhadas por
satisfação para o animal tendem a se fortalecer, enquanto aquelas acompanhadas por
desconforto enfraquecem suas conexões.
Os estudos de Thorndike influenciaram significativamente a psicologia da educação
nos Estados Unidos, destacando a importância da psicologia e filosofia para a educação.
Apesar de seu uso de experimentos controlados, Thorndike foi criticado por manter termos
mentalistas em suas explicações, levando à busca por alternativas aos modelos mentalistas e
introspeccionistas na psicologia.
O capítulo culmina na introdução do behaviorismo, destacando a frase de John B.
Watson em seu manifesto de 1913, propondo que o comportamento, não a consciência,
deveria ser o foco da psicologia. Watson defendia uma abordagem empírica e a utilização de
sujeitos animais para generalizar as descobertas ao comportamento humano. Seu trabalho
visava estabelecer o behaviorismo como uma ciência natural independente, afastando-se dos
métodos tradicionais de laboratórios de psicologia.
Na década de 1920, John B. Watson direciona seu interesse para o estudo de crianças,
propondo que, ao nascer, uma criança possui apenas três reações básicas: amor, raiva e medo.
Ele argumenta que o ambiente é responsável pela formação de hábitos por meio dessas
reações. Watson aconselha os pais a encorajarem os filhos a superar dificuldades sem ajuda,
resultando em um livro de sucesso, "Os cuidados psicológicos com a criança," baseado no
comportamentalismo. No entanto, sua recomendação de poucas demonstrações de afeto leva
a críticas e eventual arrependimento público.
54

Watson, envolvido com sua assistente Rosalie Rayner, enfrenta escândalo e divórcio de
sua esposa, resultando em seu afastamento da Johns Hopkins University. Ele destaca-se na
área de publicidade após o afastamento, aplicando seus estudos de predição e controle do
comportamento no mundo dos negócios.
Mesmo dedicando-se à propaganda, Watson continua escrevendo sobre psicologia. Em
seu livro "Behaviorismo" de 1924, ele contextualiza e define o behaviorismo como uma
abordagem metodológica, apresentando conceitos como estímulo, resposta e reflexos
condicionados.
Em 1957, Watson é homenageado pela APA como um dos autores mais importantes da
história da psicologia moderna, falecendo em 1958 aos 80 anos.
Na década de 1930, B.F. Skinner propõe a abordagem do comportamento operante,
destacando-se por substituir explicações de causa e efeito por relações funcionais entre
alterações ambientais e comportamento. Influenciado pela concepção funcional de Ernst
Mach, Skinner argumenta que o comportamento é moldado não apenas por estímulos
antecedentes, mas também por suas consequências, dando ênfase ao papel ativo do organismo
na produção de seu ambiente.
Proposto formalmente por B.F. Skinner em 1937, o conceito de operante representa
uma distinção crucial em relação às teorias estímulo-resposta e à causalidade mecanicista. O
comportamento operante, ao contrário do reflexo condicionado, descreve a ação do
organismo sobre o meio, levando às consequências de seu comportamento. Skinner introduz
o conceito de comportamento verbal como uma forma distinta de comportamento operante,
agindo indiretamente sobre o meio, principalmente através da interação com outros seres
humanos.
O comportamento verbal é analisado funcionalmente em relação ao ambiente,
especialmente ao ambiente social. Skinner destaca que a linguagem é um comportamento
operante, sendo moldada e mantida por contingências de reforçamento específicas de uma
comunidade verbal. O comportamento verbal possui reforço mediacional e abrange palavras
faladas, escritas e gestuais, adquirindo-se e mantendo-se através das práticas de reforçamento
de uma comunidade verbal.
Durante as décadas de 1970 e 1980, Skinner explora as influências biológicas no
comportamento, conectando os princípios da seleção natural de Charles Darwin ao
comportamento dos organismos. Ele amplia a visão de Ernst Mach sobre relações funcionais
entre fatos, usando a proposta darwiniana para explicar a evolução do comportamento
individual e das culturas. Skinner enfatiza que o comportamento humano é selecionado por
55

reforçamento, adaptando-se não apenas às necessidades imediatas de sobrevivência, mas


também a situações futuras.
Skinner delineia três níveis de atuação das contingências: filogenético
(comportamentos característicos da espécie), ontogenético (história de reforçamento ao longo
da vida individual) e cultural (comportamentos selecionados pela interação com o ambiente
social). Ele destaca a unicidade de cada pessoa devido à combinação única de fatores
genéticos e históricos, influenciados pelas contingências de reforçamento.
Skinner propõe que o comportamento verbal desempenha um papel crucial na evolução
cultural, permitindo a transmissão de conhecimentos e soluções para problemas sociais.
Regras são vistas como descrições de contingências de reforçamento, contribuindo para a
evolução cultural ao moldar o comportamento humano em resposta a questões sociais. O
behaviorismo de Skinner enfatiza a análise do comportamento como uma ciência que
considera a interação inseparável entre os níveis filogenético, ontogenético e cultural das
contingências.
Aspectos Filosóficos da Análise do Comportamento
Introdução
O behaviorismo, conforme definido por B.F. Skinner, é considerado não apenas a
ciência do comportamento humano, mas, acima de tudo, sua filosofia. Em contraste com o
behaviorismo watsoniano, o behaviorismo radical rejeita o critério de consenso público na
definição do objeto de estudo, enfatizando a análise dos eventos externos determinantes do
comportamento. Este resumo explora os aspectos filosóficos do behaviorismo radical, sua
visão sobre auto-observação e eventos privados, bem como os desdobramentos dessa
abordagem no Brasil.
Auto-Observação e Behaviorismo Radical
Skinner propõe o behaviorismo radical como uma filosofia que equilibra a capacidade
de auto-observação e a análise dos determinantes ambientais do comportamento. Ao contrário
da introspecção tradicional, que enfoca o interno e o mental, o behaviorismo radical destaca o
estudo do comportamento observável e sua relação com o ambiente. Eventos privados, como
pensamentos e emoções, também são considerados comportamentos e não possuem uma
natureza especial apenas por ocorrerem no interior do organismo.
Cientificidade e Utilidade
A cientificidade do behaviorismo radical é definida pela utilidade do conhecimento
produzido. Em vez de buscar consenso público ou fundamentar-se em eventos mentais, o
behaviorismo radical considera relevante qualquer proposição que seja útil para resolver
56

problemas enfrentados pela comunidade humana. Skinner conecta os princípios da análise do


comportamento a reflexões morais e filosóficas, ressaltando a importância da utilidade prática
do conhecimento comportamental.
Desdobramentos no Brasil
O impacto do behaviorismo radical no Brasil é evidenciado pelo surgimento dos
primeiros cursos de psicologia na década de 1950. Em 1961, Fred Simmons Keller, psicólogo
estadunidense, introduz a análise do comportamento no Brasil como professor visitante na
Universidade de São Paulo (USP). Seus alunos, incluindo Carolina Martuscelli Bori e
Rodolpho Azzi, contribuem para o estabelecimento e divulgação da análise do
comportamento no país.
O behaviorismo radical de Skinner, como filosofia da análise do comportamento,
destaca a importância da auto-observação e da análise ambiental. No contexto brasileiro, a
introdução dessa abordagem por Fred Simmons Keller na USP marca o início de um
movimento que influenciaria pesquisas e propostas de ensino baseadas nos princípios
comportamentais. A busca pela utilidade prática e as reflexões filosóficas conectam o
behaviorismo radical às questões morais e éticas do comportamento humano.
Contribuição de Carolina M. Bori e Desenvolvimento da Análise do
Comportamento no Brasil
Contribuição de Carolina M. Bori
A professora Carolina M. Bori desempenhou um papel fundamental no
desenvolvimento da análise do comportamento e da psicologia no Brasil. Sua contribuição
abrange a elaboração de projetos de pesquisa para financiamento governamental, a
construção de materiais de ensino, a pesquisa em laboratórios e o estabelecimento de um
acervo bibliográfico sólido. Ao liderar instituições científicas como a CAPES e a SBPC,
Carolina Bori foi crucial na fundação de cursos de graduação e pós-graduação em psicologia,
com ênfase na análise do comportamento.
Expansão dos Cursos e Temas de Pesquisa
A década de 1970 testemunhou o estabelecimento de diversos cursos de pós-graduação
no Brasil, com foco intensificado na análise do comportamento em instituições como a USP,
Universidade de Brasília, Universidade Federal do Pará e Universidade Federal de São
Carlos, entre outras. Temas de pesquisa inicialmente centrados em esquemas de reforçamento
e controle aversivo expandiram-se para incluir toxicologia e educação, notavelmente
influenciada pelo trabalho de Skinner em "Tecnologia do Ensino". O Sistema Personalizado
57

de Ensino (PSI) de Fred Simmons Keller também foi adaptado no Brasil sob a direção de
Carolina Bori, resultando na Análise de Contingências em Programação de Ensino.
Desenvolvimentos Atuais:
Ao longo do tempo, áreas como comportamento verbal, variabilidade comportamental e
equivalência de estímulos passaram a ser exploradas no Brasil. A pesquisa e a prática clínica
também se expandiram, com analistas do comportamento reunindo-se em sociedades
científicas, como a ABPMC e a SPB, e contribuindo para revistas científicas nacionais e
internacionais. A interação organismo-ambiente é ilustrada pela analogia da litogravura de
M.C. Escher, destacando a natureza contínua e inacabada do comportamento ao longo da
vida.
Conclusão
A influência de Carolina M. Bori e outros profissionais na análise do comportamento
no Brasil é inegável. Seu trabalho na criação de cursos, projetos de pesquisa e
desenvolvimento teórico contribuiu significativamente para o crescimento e a consolidação
dessa abordagem no país, estabelecendo uma base sólida para futuros avanços na
compreensão do comportamento humano.

Cap. 10: O INÍCIO DO BEHAVIORISMO. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, E. História da


Psicologia Moderna. 11ª Ed. Norte-americana. São Paulo (SP): Cengage Learning 2019.

O Início do Behaviorismo
Introdução
O texto aborda o início do behaviorismo, uma escola de pensamento fundada pelo
psicólogo John B. Watson. Watson ficou conhecido por seu famoso experimento com o bebê
chamado "Pequeno Alberto", que teve um impacto significativo no desenvolvimento da
psicologia.
1. John B. Watson
John B. Watson (1878-1958) é apresentado como o fundador do behaviorismo. Sua
biografia revela uma infância difícil e influências acadêmicas, levando-o a escolher a
psicologia como carreira.
2. O Experimento com o Pequeno Alberto
58

Watson e sua assistente Rosalie Rayner realizaram um experimento com o bebê


"Pequeno Alberto", expondo-o a estímulos, como um rato branco, enquanto batiam um
martelo em uma barra de metal. O objetivo era condicionar uma resposta emocional no bebê.

3. Resultados do Experimento
O experimento revelou que o bebê desenvolveu medo condicionado ao rato branco após
algumas repetições associadas ao som do martelo. Isso levou Watson a concluir que respostas
emocionais condicionadas na infância podem persistir na vida adulta.
4. A Vida de Watson
A biografia de Watson destaca sua adolescência rebelde, estudos na Furman University,
e a transição para a University of Chicago. Seu casamento com Mary Ickes e a carreira
acadêmica são abordados, destacando sua preferência por estudar o comportamento animal.
5. Contribuições e Método do Behaviorismo
Watson enfatizou o estudo do comportamento observável e rejeitou métodos
introspectivos. Seu interesse por animais como objetos de estudo é destacado, ressaltando sua
aversão a usar seres humanos em suas pesquisas.
6. Críticas e Reações
O texto menciona as críticas ao behaviorismo, incluindo as opiniões de Karl Lashley e
William McDougall. O debate entre Watson e McDougall é destacado como um ponto de
controvérsia na época.
O experimento com o Pequeno Alberto é apresentado como um marco na história da
psicologia, ilustrando as contribuições de Watson para o desenvolvimento do behaviorismo.
O texto conclui com a incógnita sobre o destino de Alberto e sua contribuição duradoura para
a psicologia.
John B. Watson, um influente psicólogo americano, destacou-se na psicologia
behaviorista objetiva, uma abordagem que enfocava o estudo do comportamento observável.
Incapaz de utilizar eficazmente a introspecção, uma técnica central em sua área, Watson
direcionou-se para uma perspectiva mais prática e objetiva. Em 1908, aceitou um cargo na
Johns Hopkins University, onde se tornou uma figura proeminente na psicologia americana.
A ascensão de Watson foi marcada por eventos controversos. Seu mentor, James Mark
Baldwin, foi forçado a renunciar devido a um escândalo, o que abriu caminho para Watson
assumir a liderança do departamento de psicologia. Contudo, 11 anos depois, Watson também
enfrentou um escândalo sexual que resultou em sua demissão da universidade.
59

Watson é creditado por lançar oficialmente o behaviorismo em 1913, argumentando que


conceitos mentais não eram relevantes para a psicologia. Seu livro "Comportamento: uma
introdução à psicologia comparativa" (1914) promoveu a aceitação da psicologia animal e
influenciou uma nova geração de psicólogos.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Watson serviu no exército e aplicou seus
conhecimentos em testes de habilidade perceptiva. Após a guerra, fundou a Industrial Service
Corporation, oferecendo serviços de seleção de pessoal e consultoria.
No campo pessoal, Watson enfrentou turbulências. Seu casamento deteriorou-se devido
a sua infidelidade, e ele se apaixonou por Rosalie Rayner, uma assistente mais jovem. O
escândalo resultou em sua demissão da Johns Hopkins e na impossibilidade de encontrar uma
posição acadêmica posterior.
Desempregado, Watson ingressou na publicidade, aplicando seus princípios
behavioristas para influenciar o comportamento do consumidor. Tornou-se um pioneiro no
uso de celebridades na publicidade e desenvolveu técnicas para manipular motivação e
emoção.
Ao se afastar da psicologia acadêmica, Watson continuou a divulgar suas ideias para o
público em geral por meio de palestras e artigos populares. Sua abordagem clara e simples
contribuiu para sua notoriedade, embora tenha alienado alguns psicólogos acadêmicos que
rejeitaram suas campanhas de divulgação.
A carreira de Watson na publicidade foi bem-sucedida, proporcionando-lhe notoriedade
e riqueza. Sua influência perdurou, apesar do afastamento da academia, destacando seu
impacto duradouro na psicologia e na publicidade.
O texto discute o início do behaviorismo, destacando a figura de John B. Watson e suas
contribuições para a psicologia. Watson, um proeminente behaviorista, ministrou palestras na
Nova Escola para Pesquisas Sociais em Nova York, mas seu emprego lá foi breve devido a
alegações de má conduta sexual.
Suas ideias foram consolidadas no livro "Behaviorismo," publicado em 1925, que
delineava seu programa para melhorar a sociedade. Watson também influenciou a educação
infantil com o livro "O cuidado psicológico do infante e da criança" (1928), onde propôs uma
abordagem rigorosa e ambientalista, desencorajando expressões de afeto como abraços e
beijos.
Embora suas ideias tenham impactado muitas pessoas fora da psicologia, a aplicação
prática em sua própria família teve resultados negativos. Seus filhos, criados seguindo suas
60

diretrizes, sofreram de depressão, e um deles cometeu suicídio. Mesmo sua esposa discordou
publicamente de suas práticas educacionais.
Watson viveu seus últimos anos em relativo isolamento após a morte de sua esposa em
1935. Em 1957, a APA homenageou seu trabalho, mas Watson recusou-se a participar do
evento, temendo mostrar emoções. Ele queimou suas cartas e documentos antes de morrer em
1958.
O texto também inclui um trecho do artigo de Watson, "Psychology as the behaviorist
views it" (1913), onde ele critica a introspecção e defende uma abordagem objetiva e
experimental da psicologia, focada na previsão e controle do comportamento, sem referência
à consciência. Ele destaca a importância das áreas aplicadas da psicologia, como a pedagogia
experimental e a psicologia forense, que buscam generalizações para controlar o
comportamento humano.
A Reação ao Programa de Watson
O programa de Watson, que propunha uma nova abordagem para a psicologia,
enfrentou inicialmente resistência, mas ao longo do tempo ganhou apoio significativo.
Defendendo que a psicologia deveria ser uma ciência objetiva do comportamento, Watson
instigou a comunidade a abandonar ideias introspectivas e adotar conceitos puramente
behavioristas, como estímulo e resposta. Seus apelos foram controversos, com críticos como
Mary Whiton Calkins defendendo a introspecção.
O behaviorismo de Watson começou a impactar a psicologia na década de 1920,
quando universidades passaram a oferecer cursos sobre o assunto. No entanto, a aceitação
não foi imediata, e figuras proeminentes como William McDougall expressaram
preocupações sobre o movimento. Watson, por sua vez, proclamou o behaviorismo como
essencial, afirmando que nenhuma universidade poderia ignorá-lo.
Quanto aos métodos, Watson propôs uma abordagem estritamente objetiva, utilizando
observação, testes, relato verbal e reflexo condicionado. A observação era a base, os testes
eram tratados como amostragens do comportamento, e o relato verbal, apesar de controverso,
foi aceito para situações verificáveis. O reflexo condicionado, introduzido em 1915, tornou-se
uma ferramenta fundamental para analisar o comportamento em laboratórios.
Watson, embora inicialmente rejeitasse a introspecção, incorporou o relato verbal
devido à sua utilidade em alguns estudos. No entanto, essa concessão foi contestada por
críticos, acusando Watson de contradizer suas próprias ideias. O método do reflexo
condicionado foi amplamente adotado na pesquisa psicológica norte-americana, permitindo a
análise de comportamentos complexos em laboratórios.
61

Watson buscava uma psicologia tão objetiva quanto a física, reduzindo o


comportamento a unidades básicas de estímulo e resposta. O sujeito humano no laboratório
tornou-se menos relevante, sendo observado pelos pesquisadores. A ênfase nos métodos
objetivos e a eliminação da introspecção transformaram a natureza do papel do sujeito no
laboratório.
O objeto de estudo do behaviorismo watsoniano eram os elementos observáveis do
comportamento, como movimentos musculares e secreções glandulares. Watson propôs
analisar o comportamento em termos de estímulo e resposta, mesmo que comportamentos
mais complexos pudessem ser reduzidos a unidades elementares.
Watson inicialmente reconheceu a importância dos instintos, mas, em 1925, rejeitou
esse conceito, afirmando que comportamentos aparentemente instintivos eram condicionados
socialmente. Ele tornou-se um defensor radical do ambientalismo, negando a existência de
talentos ou traços inatos, atribuindo tudo à aprendizagem. A ideia de que o ambiente social
moldava completamente o comportamento infantil contribuiu para a popularidade de Watson
na época.
As Emoções, Albert, Peter e os Coelhos, e os Processos de Pensamento
Teoria das Emoções de Watson
John B. Watson, fundador do behaviorismo, propôs uma visão das emoções como
simples respostas fisiológicas a estímulos específicos. Ele negava a existência de percepção
consciente das emoções, afirmando que estas eram expressas através de respostas físicas.
Cada emoção, segundo Watson, envolvia um padrão distinto de mudanças fisiológicas, e ele
identificou três emoções básicas não aprendidas: medo, raiva e afeto.
Estudo com Albert
Watson conduziu um estudo com o bebê Albert, condicionando-o a temer um rato
branco ao associá-lo a ruídos altos. Este estudo, apesar de críticas metodológicas, foi aceito
como prova científica e influenciou a compreensão de que medos e ansiedades podem ser
condicionados na infância.
Estudo com Peter
Mary Cover Jones, influenciada por Watson, realizou um estudo similar com Peter,
eliminando seu medo de coelhos por meio do condicionamento. Esse trabalho é considerado
precursor da terapia do comportamento, aplicando princípios de aprendizagem para modificar
comportamentos desajustados.
Processos de Pensamento segundo Watson
62

Watson tentou reduzir os processos de pensamento a comportamentos motores


implícitos. Ele via o pensamento como uma forma de comportamento sensório-motor,
expresso por movimentos musculares, gestos e fala subvocal. Watson realizou experimentos
para medir movimentos da língua e da laringe durante o pensamento.
Apelo Popular do Behaviorismo
As ideias ousadas de Watson, enfatizando um controle científico do comportamento e a
possibilidade de moldar a sociedade, atraíram o público. O behaviorismo tornou-se uma
espécie de religião, oferecendo esperança na criação de uma sociedade livre de mitos e
comportamentos convencionais.
Plano para Melhoria da Sociedade
Watson propôs um programa ético experimental baseado no behaviorismo, visando
moldar crianças de forma adequada para criar adultos equilibrados. Ele imaginava um
universo livre de tradições antiquadas, onde a educação comportamental substituiria a ética
religiosa, embora este plano não tenha se concretizado.
Impacto
Watson, por meio de seus estudos e propostas, influenciou a psicologia comportamental
e estimulou debates sobre a natureza das emoções, a formação de comportamentos e a
aplicação prática de teorias psicológicas na sociedade.
O texto destaca o fenômeno de popularização da psicologia nas décadas de 1920 e 1930
nos Estados Unidos, denominado "surto" de psicologia. Esse interesse público foi
impulsionado pelo carisma, charme e poder persuasivo de figuras como John B. Watson, um
proeminente psicólogo da época. A mensagem de esperança associada à capacidade da
psicologia em guiar indivíduos em direção à saúde, felicidade e prosperidade contribuiu para
o sucesso do campo.
Joseph Jastrow, um psicólogo acadêmico da época, desempenhou um papel
significativo na popularização da psicologia. Seus artigos em jornais diários, programas de
rádio e colunas, como "Keeping mentally fit," alcançaram grande visibilidade. Jastrow
abordou uma variedade de tópicos, desde a cura da melancolia até o significado dos testes de
QI, expandindo a influência da psicologia para além do ambiente acadêmico.
Outro divulgador importante foi Albert Wiggam, que, embora não fosse um psicólogo,
escreveu a coluna "Exploring Your Mind." Ele enfatizava a importância da psicologia na
tomada de decisões sobre carreiras, seleção de funcionários, criação de filhos e busca pela
eficácia e felicidade na vida cotidiana.
63

O humorista Stephen Butler Leacock ironizou o rápido crescimento da psicologia,


observando como ela passou de confinada nos campi universitários para ser procurada pelo
público em momentos críticos da vida, comparando a contratação de psicólogos à contratação
de encanadores.
No entanto, o surgimento do behaviorismo de Watson gerou críticas e debates dentro da
comunidade psicológica. Psicólogos, mesmo aqueles que apoiavam a busca pela objetividade,
discordavam das propostas radicais de Watson, argumentando que seu programa
negligenciava aspectos importantes, como processos perceptuais e sensoriais.
Joseph Jastrow, apesar de apoiar o behaviorismo, manteve sua ênfase na utilidade da
psicologia no cotidiano. Karl Lashley, aluno de Watson, contradisse parte fundamental do
behaviorismo ao revelar, por meio de sua pesquisa cerebral com ratos, a ativa participação do
cérebro na aprendizagem, desafiando a ideia de comportamento composto exclusivamente
por reflexos condicionados.
William McDougall, psicólogo inglês, destacou-se como um vigoroso opositor do
behaviorismo, especialmente pela sua teoria do comportamento instintivo. Ele debateu com
Watson em 1924, questionando a exclusão de dados introspectivos na pesquisa psicológica e
desafiando a visão determinista do comportamento humano proposta pelo behaviorismo.
Apesar dos debates e críticas, Watson continuou sendo uma figura proeminente na
psicologia, e o behaviorismo manteve sua influência na década de 1920. O texto enfatiza a
complexidade do cenário psicológico da época, marcado por um entusiasmo público pela
disciplina, mas também por desafios internos à abordagem behaviorista.
As Contribuições do Behaviorismo de Watson
John B. Watson, um dos pioneiros do behaviorismo, teve uma carreira curta, mas
profundamente impactante na psicologia, moldando o desenvolvimento da disciplina por
décadas. Atuando em uma época de transformações na psicologia e nas atitudes científicas,
Watson contribuiu para tornar a metodologia e a terminologia psicológicas mais objetivas.
O behaviorismo de Watson foi uma resposta ao zeitgeist da época, onde a crença no
avanço científico para resolver todos os problemas era dominante. Suas formulações iniciais,
embora tenham estimulado pesquisas, não se mostraram duradouras, sendo superadas por
formas de objetivismo psicológico baseadas no behaviorismo. Em 1929, o behaviorismo já
havia ultrapassado sua fase inicial, e movimentos revolucionários como esse fortalecem-se
através de polêmicas, mas, em apenas 16 anos, não restava mais nada para contestar.
Watson foi eficaz em incorporar métodos objetivos e linguagem objetiva na psicologia
norte-americana. O behaviorismo watsoniano foi absorvido por correntes posteriores,
64

contribuindo para uma base mais sólida da psicologia moderna. Mesmo que Watson não
tenha alcançado todos os seus ambiciosos objetivos, seu papel como fundador e a aceitação
do behaviorismo devem-se, em parte, à sua personalidade carismática.
A aceitação do behaviorismo de Watson também refletiu a época e suas características
pessoais, como seu entusiasmo, otimismo, autoconfiança e a capacidade de manipular o
espírito da época. Watson desafiou a tradição e rejeitou a psicologia contemporânea,
tornando-se um dos pioneiros da psicologia, apesar de lembranças controversas de sua
personalidade.

Questões para Discussão

1. Descreva a lei da ação da massa e o princípio da equipotencialidade definidos por


Lashley.
Lei da Ação da Massa e Princípio da Equipotencialidade de Lashley: A Lei da
Ação da Massa afirma que a eficácia da aprendizagem é uma função da massa total do tecido
cortical. O Princípio da Equipotencialidade estabelece que diferentes partes do córtex
cerebral contribuem igualmente para a aprendizagem.

2. Descreva a abordagem de Watson em relação à educação de crianças. Quais foram os


resultados dessa abordagem para a família dele?
Abordagem de Watson na Educação de Crianças: Watson aplicou seus princípios
behavioristas na educação de seus filhos, seguindo uma abordagem de criação rigorosa,
evitando a expressão de emoções para evitar condicionamento emocional negativo.

3. Descreva a visão de Watson a respeito dos instintos e dos processos de pensamento.


Visão de Watson sobre Instintos e Processos de Pensamento: Watson rejeitou a ideia
de instintos inatos, defendendo uma abordagem de comportamento aprendido. Ele também
minimizou a importância dos processos de pensamento, enfatizando a observação do
comportamento.

4. Discuta de que forma o objeto de estudo e a metodologia de Watson deram


continuidade à tradição empirista, mecanicista e atomística.
Objetivismo Empirista, Mecanicista e Atomístico de Watson: Watson manteve a
tradição empirista ao enfatizar a observação e a medição objetiva do comportamento. Sua
65

visão era mecanicista ao considerar o comportamento como uma resposta a estímulos, e


atomista ao decompor a experiência em elementos mensuráveis.

5. Você acredita que o behaviorismo de Watson teria se tornado tão popular se não fosse
o trabalho anterior dos psicólogos funcionalistas? Explique.
Popularidade do Behaviorismo sem a Influência dos Funcionalistas: A influência
prévia dos funcionalistas contribuiu para a popularidade do behaviorismo de Watson, pois os
funcionalistas já haviam introduzido a ideia de estudar processos mentais em contextos
práticos, preparando o terreno para o behaviorismo.
6. Discuta os motivos do apelo popular do behaviorismo.
Motivos do Apelo Popular do Behaviorismo: O behaviorismo de Watson apelou ao
público devido à sua abordagem prática e objetiva, oferecendo respostas claras sobre
comportamento humano. A personalidade carismática de Watson também contribuiu para o
apelo.

7. No artigo escrito em 1913, de que maneira Watson criticou o estruturalismo e o


funcionalismo? Quais foram as bases do seu argumento para afirmar que a psicologia
aplicada podia ser chamada de científica?
Críticas de Watson ao Estruturalismo e Funcionalismo: Em 1913, Watson criticou o
estruturalismo por sua falta de objetividade e o funcionalismo por sua dependência excessiva
em processos mentais subjetivos. Ele argumentou que a psicologia aplicada, focada no
comportamento observável, era mais científica.

8. Por que os resultados da pesquisa de Lashley contradiziam uma parte do sistema de


Watson?
Contradições na Pesquisa de Lashley com o Sistema de Watson: As descobertas de
Lashley contradisseram a ideia de Watson sobre a simplicidade da conexão ponto a ponto dos
reflexos no cérebro, indicando uma participação mais ativa do cérebro na aprendizagem do
que Watson admitia.

9. Em quais aspectos Holt e McDougall criticaram a forma de behaviorismo de Watson?


Críticas de Holt e McDougall ao Behaviorismo de Watson: Holt criticou Watson por
negligenciar aspectos subjetivos e emocionais na psicologia, enquanto McDougall contestou
a rejeição de Watson à noção de instinto, destacando a importância desses impulsos inatos.
66

10. Como o ponto de vista dos behavioristas a respeito do papel e da tarefa dos objetos
humanos de estudo difere daquele dos introspeccionistas?
Diferença na Visão dos Behavioristas e Introspeccionistas sobre Objetos de
Estudo: Watson via os objetos de estudo como passivos, moldados pelo ambiente e suas
respostas, enquanto os introspeccionistas consideravam a experiência subjetiva e os processos
mentais como cruciais para a compreensão do comportamento humano.

11. Na visão de Watson, qual a distinção entre respostas e atos? E entre as respostas
implícitas e explícitas?
Distinção de Watson entre Respostas e Atos: Watson diferenciou respostas como
ações físicas e atos como comportamentos mais complexos, envolvendo processos mentais.
Ele também distinguiu respostas implícitas e explícitas, com as últimas sendo conscientes e
verbalizáveis.

12. Como Watson estabeleceu uma resposta emocional condicionada em Albert? Essa
resposta se generalizou a outros estímulos? Nesse caso, a que tipos de estímulos?
Estabelecimento de Resposta Emocional Condicionada em Albert: Watson
condicionou uma resposta emocional em Albert associando um estímulo neutro (rato branco)
a um estímulo aversivo (som alto). A resposta se generalizou a outros estímulos semelhantes.

13. De que maneira as pesquisas com Albert e Peter comprovam as ideias de Watson a
respeito do papel da emoção na aprendizagem?
Pesquisas com Albert e Peter como Comprovação das Ideias de Watson: As
pesquisas mostraram que emoções podem ser condicionadas e generalizadas em contextos
diferentes, apoiando as ideias de Watson sobre o papel da emoção na aprendizagem.

14. Como foi a receptividade das ideias de Watson entre os psicólogos mais jovens?
Receptividade das Ideias de Watson entre Psicólogos Jovens: As ideias de Watson
foram bem recebidas por psicólogos jovens que buscavam uma abordagem mais objetiva e
prática na psicologia.

15. Watson estava preocupado a respeito do valor prático do behaviorismo? Se


responder afirmativamente, em que áreas da vida diária ele aplicou sua descoberta?
67

Preocupação Prática do Behaviorismo de Watson: Watson estava preocupado com a


aplicação prática do behaviorismo, buscando sua utilidade em diversas áreas da vida diária,
como educação, publicidade e seleção de pessoal.

16. Que considerações morais e éticas podem ser feitas a respeito do estudo do pequeno
Alberto?
Considerações Morais e Éticas sobre o Estudo de Albert: O estudo de Albert levanta
questões éticas sobre a manipulação do comportamento de uma criança sem o devido
consentimento informado, levantando preocupações sobre os limites éticos da pesquisa.

17. Quais eram os métodos de pesquisa aceitos por Watson para a psicologia científica?
Métodos de Pesquisa Aceitos por Watson para a Psicologia Científica: Watson
enfatizou métodos objetivos, observacionais e experimentais, rejeitando relatos verbais
subjetivos como fontes confiáveis de dados.

18. Por que o uso dos relatos verbais de Watson era considerado polêmico?
Polêmica sobre o Uso de Relatos Verbais por Watson: O uso de relatos verbais por
Watson era controverso, pois ele acreditava que a introspecção era falha e não confiável. Isso
desafiou as práticas estabelecidas da época, que valorizavam a introspecção como método
científico válido.

Cap. 12: A PSICOLOGIA DA GESTALT. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, E. História da


Psicologia Moderna. 11ª Ed. Norte-americana. São Paulo (SP): Cengage Learning 2019.

A Psicologia da Gestalt
1. Um Insight Repentino
- Tenerife, na década de 1920, torna-se o epicentro da Psicologia da Gestalt.
- Wolfgang Kohler observa macacos e desafia ideias convencionais sobre
aprendizagem.
2. A Revolta da Gestalt
68

- Surge como protesto contra a Psicologia de Wundt e seus elementos sensoriais.


- Contraste com o Behaviorismo nos EUA, embora ambos questionassem as ideias de
Wundt.
3. As Influências Anteriores sobre a Psicologia da Gestalt
- Immanuel Kant: Percepção como organização ativa, não mera combinação de
elementos.
- Franz Brentano: Estudo do ato da experiência, criticando a introspecção de Wundt.
- Ernst Mach: Padrões espaciais e temporais como sensações independentes de
elementos.
- Christian von Ehrenfels: Introdução das "qualidades de forma" como percepções
independentes.
4. A Natureza da Revolta da Gestalt
- Crítica à visão de Wundt sobre a mente composta por elementos sensoriais isolados.
- Enfoque na unidade da percepção e na capacidade da mente de criar formas a partir
de elementos.
5. Os Princípios da Gestalt sobre a Organização Perceptual
- Rejeição da ideia de que a percepção é uma simples combinação de elementos
isolados.
- Ênfase na configuração e na formação de padrões perceptuais.
6. Os Estudos da Gestalt sobre a Aprendizagem: Insight e a Mentalidade dos
Macacos
- Kohler observa macacos resolvendo problemas com "insight" e intenção, não por
tentativa e erro.
- Demonstração de que a aprendizagem pode ser um processo mais complexo do que
se pensava.
7. O Pensamento Humano Produtivo
- Contrapõe-se à visão behaviorista sobre aprendizagem por associação.
- Destaque para a capacidade humana de criar soluções inovadoras.
8. A Expansão da Psicologia da Gestalt
- Desenvolvimento de uma abordagem mais ampla que vai além da percepção.
- Envolvimento em campos como a psicologia social.
9. A Batalha contra o Behaviorismo
- Divergências fundamentais com os behavioristas em relação à consciência e à
percepção.
69

10. A Psicologia da Gestalt na Alemanha Nazista


- Sobrevive e expande-se mesmo em um contexto político adverso.
11. A Teoria de Campo: Kurt Lewin (1890-1947)
- Introdução do conceito de espaço vital e a influência na psicologia social.
- Contribuições para compreensão da motivação e do efeito Zeigarnik.
12. As Críticas à Psicologia da Gestalt
- Apesar de suas contribuições, enfrenta críticas quanto à falta de rigor metodológico.
13. As Contribuições da Psicologia da Gestalt
- Enfoque na percepção como uma experiência global e ativa.
- Influência na compreensão da aprendizagem e na psicologia social.
14. Questões para Discussão
- Reflexões sobre os princípios da Gestalt e seu impacto na psicologia moderna.
A Psicologia da Gestalt - Parte 2
As Mudanças do Zeitgeist na Física
Contexto Histórico
O Zeitgeist, a atmosfera intelectual predominante, teve um impacto significativo no
desenvolvimento da Psicologia da Gestalt. Nas últimas décadas do século XIX, mudanças na
física influenciaram essa escola de pensamento.
Campos de Força na Física
As noções tradicionais de Galileu e Newton sobre partículas individuais estavam sendo
desafiadas. A aceitação dos campos de força, regiões atravessadas por linhas de força (como
corrente elétrica), mostrou que fenômenos como o magnetismo eram complexos demais para
serem explicados pela visão atomística.
Impacto na Psicologia da Gestalt
Essa mudança na física proporcionou munição conceitual para a Psicologia da Gestalt.
Enquanto os behavioristas mantinham uma visão reducionista, a Gestalt adotava uma
abordagem holística, enfatizando a importância das configurações e padrões na percepção.
Conexão Pessoal:
Wolfgang Köhler, um dos fundadores da Psicologia da Gestalt, estudou com Max
Planck, um pioneiro na física moderna. Essa conexão pessoal proporcionou a Köhler uma
compreensão direta das mudanças na física, inspirando a abordagem da Gestalt.
O Fenômeno Phi: Desafio à Psicologia Wundtiana
Experimento de Wertheimer
70

Em 1910, Max Wertheimer conduziu um estudo sobre o movimento aparente usando


um estroboscópio. Esse experimento levou ao conceito de "fenômeno phi", desafiando a
visão dominante de Wundt sobre a análise de elementos sensoriais na experiência consciente.
Desafio ao Atomismo
O fenômeno phi questionou a ideia de que toda experiência consciente poderia ser
reduzida a elementos individuais. Wertheimer demonstrou que o movimento aparente não
podia ser explicado pela soma de partes estáticas, desafiando a psicologia associacionista e
atomística da época.
Contribuição para a Psicologia da Gestalt
Wertheimer publicou os resultados em 1912, marcando o nascimento formal da
Psicologia da Gestalt. Esse movimento propôs uma visão diferente da percepção, enfatizando
a importância das configurações e padrões na formação da experiência.
Max Wertheimer (1880-1943)
Histórico Acadêmico:
Nascido em Praga, Wertheimer estudou filosofia e psicologia em diversas universidades
alemãs. Obteve o doutorado em 1904 sob a orientação de Oswald Külpe. Seu trabalho
inovador na Psicologia da Gestalt teve influência profunda no campo.
Contribuições e Legado
Co-fundador do periódico *Psychological Research*, Wertheimer foi uma figura chave
no desenvolvimento da Psicologia da Gestalt. Seu trabalho influenciou não apenas a
psicologia, mas também teve impacto em outros campos, como na formação do pensamento
humanístico de Abraham Maslow.
Adaptação nos EUA
Em 1933, Wertheimer fugiu da Alemanha nazista para os Estados Unidos, onde se
associou à New School for Social Research. Sua adaptação foi desafiadora, mas seu legado
perdura, influenciando gerações futuras de psicólogos.
Homenagem Contínua
A criação da Max Wertheimer Lecture Series pela University of Frankfurt em 1994
destaca o impacto duradouro desse pioneiro da Psicologia da Gestalt. Sua abordagem única e
apaixonada continua a inspirar estudiosos e a moldar a compreensão da percepção humana.
A Psicologia da Gestalt
Contexto do Zeitgeist na Física e Influência na Psicologia
No final do século XIX, o Zeitgeist (espírito da época) na física passou por mudanças
significativas, impactando a psicologia da Gestalt. O reconhecimento e aceitação dos campos
71

de força, como os encontrados em correntes elétricas e ímãs, desafiaram a visão atomística


tradicional de Galileu e Newton. Campos de força eram considerados entidades novas,
levando a uma reconsideração do atomismo na física.
Conexão entre Física e Psicologia da Gestalt
A nova física influenciou diretamente a psicologia da Gestalt. A ideia de campos e
entidades orgânicas completas substituiu o atomismo, proporcionando suporte para a visão
revolucionária dos psicólogos da Gestalt sobre a percepção. A relação pessoal de Kõhler com
Max Planck, um pioneiro da física moderna, ressaltou a conexão entre a física de campo e a
psicologia da Gestalt.
Divergência de Abordagens na Psicologia
Enquanto os psicólogos da Gestalt adaptaram-se à nova física, o behaviorista John
Watson manteve uma abordagem reducionista, focando nos elementos do comportamento.
Isso refletiu a perspectiva atomística tradicional da física, ignorando as mudanças
paradigmáticas que ocorriam.
Fenômeno Phi e Desafio à Psicologia Wundtiana
Max Wertheimer, em 1910, conduziu estudos sobre o fenômeno phi, envolvendo a
percepção de movimento aparente. Ele desafiou a explicação baseada no sistema wundtiano,
demonstrando que o movimento aparente não podia ser reduzido a elementos individuais. O
fenômeno phi tornou-se um marco na formalização da psicologia da Gestalt.
Contribuições Individuais dos Fundadores
1. Max Wertheimer (1880-1943)
- Aluno de Max Planck, Wertheimer testemunhou a transição da física atomística para
a física de campo.
- Sua pesquisa sobre o movimento aparente foi crucial para o estabelecimento da
psicologia da Gestalt.
- Emigrou para os EUA em 1933, onde continuou suas contribuições acadêmicas.
2. Kurt Koffka (1886-1941)
- O mais criativo entre os fundadores da Gestalt, Koffka contribuiu significativamente
para o movimento.
- Seu artigo introdutório sobre a Gestalt causou equívocos, mas ele destacou a
amplitude de interesses da Gestalt além da percepção.
- Autor de "O Desenvolvimento da Mente" e "Princípios da Psicologia Gestalt".
3. Wolfgang Kõhler (1887-1967)
72

- Considerado o mais prolífico promotor da Gestalt, Kõhler enfatizou a aplicação da


teoria em todas as ciências.
- Realizou estudos com chimpanzés durante a Primeira Guerra Mundial, contribuindo
para "A Mentalidade dos Macacos".
- Emigrou para os EUA em 1935, continuando a lecionar e publicar obras influentes.
Natureza da Revolta da Gestalt
A Gestalt representou uma revolta contra a tradição acadêmica, exigindo uma revisão
completa da antiga ordem. Os psicólogos da Gestalt buscavam retornar à percepção simples,
afirmando que a experiência perceptual era uma Gestalt, uma totalidade que não poderia ser
reduzida a elementos individuais. A palavra "Gestalt" criou dificuldades, mas passou a
abranger não apenas o campo visual, mas toda a área de atuação da psicologia.
A Psicologia da Gestalt não apenas refletiu as mudanças no zeitgeist da física, mas
também desafiou as abordagens tradicionais da psicologia, oferecendo uma perspectiva
holística e integradora da experiência perceptual e cognitiva.
Os Princípios da Gestalt na Organização Perceptual e Estudos sobre
Aprendizagem
1. Princípios da Gestalt na Organização Perceptual
- Proximidade: Elementos próximos no tempo e espaço são percebidos como unidos.
Exemplo: círculos em colunas duplas.
- Continuidade: Percepção segue uma direção, conectando elementos de forma
contínua. Exemplo: seguir colunas de círculos.
- Semelhança: Partes similares são vistas juntas, formando grupos. Exemplo:
círculos e pontos formam fileiras.
- Preenchimento: Tendência de perceber figuras incompletas como completas.
Exemplo: identificar quadrados incompletos.
- Simplicidade: Tendência de ver a figura com boa qualidade; Gestalt simétrica,
simples e estável. Exemplo: quadrados organizados.
- Figura/Fundo: Percepção organiza objetos (figura) em relação ao fundo,
destacando a figura. Exemplo: reversibilidade de rostos/vaso.
2. Teoria da Gestalt sobre Organização Perceptual
- Instantaneidade: Organização perceptual ocorre instantaneamente ao perceber
padrões ou formatos.
- Cérebro como Sistema Dinâmico: Elementos no cérebro interagem; resposta
visual não é separada, mas elementos similares tendem a combinar.
73

3. Estudos de Kohler sobre Aprendizagem e Inteligência dos Chimpanzés


- Métodos Experimentais: Kohler estudou inteligência de chimpanzés, focando na
resolução de problemas.
- Conceito de Insight: Aprendizagem ocorre pela reestruturação do campo
perceptual; exemplo de macaco resolvendo problema para alcançar banana.
- Observações de Comportamento: Descrição detalhada de comportamentos, como
usar varas para alcançar objetos e a reação dos macacos às mudanças.

4. Dificuldades na Aprendizagem dos Macacos


- Problemas Específicos: Dificuldades ao resolver problemas, como empilhar caixas
para alcançar objetivos pendurados.
- Persistência e Observação: Macacos tentam usar observadores como apoio,
mostrando esforços e tentativas variadas.
5. Considerações Finais:
- Fatores Periféricos e Centrais: Princípios da Gestalt considerados fatores
periféricos na organização perceptual; reconhecimento de influências centrais.
- Relevância Atual: Mesmo sem depender de experiências passadas, alguns
processos mentais superiores podem afetar a percepção.
- Contribuição de Kohler: Observações detalhadas e abordagem não técnica,
enfocando personalidade e diferenças individuais dos macacos.
Este capítulo destaca os princípios da Gestalt na organização perceptual e a abordagem
de Kohler nos estudos sobre aprendizagem e inteligência dos chimpanzés, enfatizando a
importância do insight na resolução de problemas.
Este texto discute o conceito de insight na psicologia da Gestalt, apresentando estudos e
exemplos que destacam a compreensão súbita e espontânea das relações em situações
específicas. O termo Einsicht, usado por Kõhler para descrever esse fenômeno em alemão, é
traduzido como insight ou compreensão em inglês.
O autor destaca estudos de Kõhler, Sultan e Robert Yerkes que evidenciam a
capacidade de insight em animais, argumentando contra a visão behaviorista de
aprendizagem por ensaio e erro. Pavlov, em contraste, contestou essa ideia ao reproduzir
experiências de Kõhler com macacos.
74

Além disso, são apresentadas narrativas envolvendo Sultão, um chimpanzé, destacando


suas habilidades de insight em diversas situações, como distribuir bananas para outros
macacos e resolver problemas, sugerindo uma compreensão além do condicionamento.
O texto aborda a crítica de Kõhler à abordagem de Thorndike, argumentando que as
condições experimentais eram artificiais, levando a comportamentos aleatórios. A perspectiva
da Gestalt enfatiza a importância da percepção das relações entre as partes do problema antes
que a aprendizagem por insight ocorra.
Além disso, o texto discute o pensamento produtivo, conforme apresentado por
Wertheimer, que propõe que o pensamento forme-se como um todo. A abordagem da Gestalt
destaca a reorganização ou reestruturação do ambiente psicológico do indivíduo durante a
aprendizagem.
O conceito de isomorfismo é introduzido, sugerindo uma correspondência entre a
experiência psicológica e os processos cerebrais subjacentes. Essa ideia é aplicada à
percepção, comparando-a a um mapa que é idêntico na forma ao que representa, embora não
seja uma cópia literal.
O texto destaca a expansão da psicologia da Gestalt na década de 1920, seu posterior
deslocamento para os Estados Unidos devido às ações nazistas na Alemanha em 1933 e os
desafios enfrentados pela aceitação da Gestalt como escola de pensamento nos Estados
Unidos, incluindo barreiras linguísticas, a popularidade do behaviorismo e a falta de oposição
significativa à Gestalt nesse contexto.
A psicologia da Gestalt, representada pelos psicólogos Kõhler, Wertheimer e Koffka,
destaca-se por sua abordagem holística, focando na percepção e no insight. Essa escola de
pensamento foi influenciada pelo trabalho com chimpanzés, notavelmente Sultão, que
demonstrou a capacidade de insight ao resolver problemas.
Kõhler, ao estudar animais como Sultão, enfatizou o insight como uma compreensão
imediata das relações, diferenciando-se da aprendizagem por tentativa e erro proposta por
Thorndike. A Gestalt criticou o behaviorismo e sua abordagem reducionista, defendendo que
a aprendizagem envolve a reorganização do ambiente psicológico do indivíduo.
A pesquisa de Ivan Pavlov na década de 1930 questionou a hipótese de Kõhler,
sugerindo um comportamento "caótico" dos animais na resolução de problemas. Entretanto, a
Gestalt manteve sua visão de que o insight é fundamental para a aprendizagem significativa.
O tratador Manuel Gonzalez y Garcia compartilhou histórias intrigantes sobre Sultão,
destacando sua habilidade para imitar comportamentos observados. Além disso, Kõhler
75

acreditava que o insight e as habilidades de resolução de problemas dos chimpanzés diferiam


da aprendizagem por tentativa e erro.
A Gestalt expandiu sua visão para além da percepção, aplicando princípios ao
pensamento humano produtivo. O livro de Wertheimer sobre o pensamento produtivo
enfatizou a importância de considerar a situação como um todo, desafiando práticas
educativas tradicionais.
A teoria de campo, desenvolvida por Kurt Lewin, contribuiu para a psicologia da
Gestalt, aplicando conceitos de campos de força à explicação do comportamento humano.
Lewin introduziu o conceito de espaço vital, representando a interação entre o indivíduo e o
ambiente. Sua pesquisa sobre a motivação resultou no efeito Zeigarnik, evidenciando que as
tarefas não concluídas são mais facilmente lembradas.
Após a chegada dos psicólogos da Gestalt nos Estados Unidos, ocorreu uma batalha
intelectual e pessoal contra o behaviorismo. A Gestalt criticou as abstrações artificiais do
behaviorismo, defendendo a importância da introspecção e da consciência na psicologia.
A escola da Gestalt enfrentou desafios nos Estados Unidos, como a popularidade do
behaviorismo, a barreira linguística e a crença equivocada de que a Gestalt estava restrita à
percepção. A luta contra o behaviorismo inflamou emoções, levando a confrontos pessoais
entre os psicólogos da Gestalt e outros profissionais.
Mesmo diante desses desafios, a psicologia da Gestalt continuou a influenciar o campo,
destacando-se por sua abordagem holística e insights significativos sobre a percepção e o
pensamento humano.
A Psicologia Social
A Psicologia Social de Kurt Lewin
O interesse de Kurt Lewin na Psicologia Social começou nos anos 1930, sendo pioneiro
nessa área. Sua principal contribuição foi a criação da dinâmica de grupo, que aplicou
conceitos psicológicos aos comportamentos individuais e coletivos. Lewin desenvolveu a
ideia de que assim como o indivíduo e seu ambiente formam um campo psicológico, o grupo
e seu ambiente constituem o campo social. Seus estudos incluíram pesquisas sobre
comportamento em situações sociais diversas, como a clássica experiência com tipos de
liderança em grupos de garotos.
Além disso, Lewin destacou a importância da pesquisa da ação social, focando em
problemas sociais relevantes para introduzir mudanças. Suas pesquisas incluíram temas como
moradia integrada, igualdade de oportunidades profissionais e desenvolvimento/prevenção da
discriminação infantil. Ele também promoveu o treinamento da sensibilidade para reduzir
76

conflitos entre grupos e desenvolver o potencial individual, antecipando os grupos de


encontros das décadas de 1960 e 1970.
Embora suas contribuições teóricas tenham recebido críticas, suas pesquisas
experimentais e abordagens práticas foram amplamente aceitas pelos psicólogos. Sua
influência na psicologia social e infantil foi significativa, e suas ideias continuam a ser
aplicadas nos estudos de personalidade e motivação.
Críticas à Psicologia da Gestalt
A Psicologia da Gestalt recebeu críticas de diferentes perspectivas. Críticos
argumentavam que a organização dos processos perceptuais, como o fenômeno phi, era aceita
sem ser adequadamente investigada cientificamente. Além disso, acusaram a posição da
Gestalt de ser vaga e de carecer de definições precisas para seus conceitos básicos.
Outras críticas apontavam que os psicólogos da Gestalt estavam mais focados na teoria
do que na pesquisa empírica, e que seu trabalho experimental era inferior ao da psicologia
behaviorista, faltando controles adequados e dados quantificáveis para análise estatística.
A noção de insight de Kohler, exemplificada por seus estudos com chimpanzés na ilha
de Tenerife, foi questionada, especialmente em estudos posteriores que sugeriam que a
solução de problemas poderia depender de aprendizagem ou experiência anterior.
Críticos também alegavam que os psicólogos da Gestalt adotavam hipóteses
fisiológicas pouco definidas, embora os defensores da Gestalt considerassem essas
especulações como aliadas válidas para o sistema.
Contribuições da Psicologia da Gestalt
Apesar das críticas, a Psicologia da Gestalt deixou uma marca duradoura na psicologia,
influenciando estudos sobre percepção, aprendizagem, pensamento, personalidade, psicologia
social e motivação. Ao contrário do behaviorismo, a Gestalt manteve uma identidade
separada, promovendo o interesse na experiência consciente quando essa abordagem estava
em desuso.
Seus princípios influenciaram a psicologia cognitiva contemporânea e a psicologia
humanista nos Estados Unidos. A ênfase da Gestalt na experiência consciente, apesar de sua
dificuldade de investigação objetiva, ainda ressoa em várias correntes da psicologia moderna.

Questões para Discussão:

1. Descreva a teoria de campo de Lewin e explique a influência da fisica na formulação


dessa teoria.
77

A teoria de campo de Lewin postula que o comportamento humano é resultado da


interação entre o indivíduo e seu ambiente, considerando ambos como parte de um campo
psicológico. A influência da física reside na aplicação do conceito de campo, originado na
física, para entender as forças e influências que moldam o comportamento. Assim como na
física, onde a interação entre objetos é mediada por um campo, Lewin aplicou esse conceito à
psicologia para compreender as forças que influenciam o comportamento individual e social.

2. Descreva alguns princípios da organização perceptual.


Alguns princípios da organização perceptual na Psicologia da Gestalt incluem:
- Princípio da Proximidade: Elementos próximos tendem a ser percebidos como um
grupo.
- Princípio da Similaridade: Elementos similares são agrupados visualmente.
- Princípio da Continuidade: Elementos que seguem uma trajetória contínua são
agrupados.
- Princípio da Pregnância ou Boa Forma: Tendência a perceber formas simples,
simétricas e organizadas.
- Princípio da Criação de Totalidades: Percepção de elementos em termos de
totalidades coerentes.

3. Descreva os antecedentes históricos da psicologia da Gestalt.


A Psicologia da Gestalt surgiu como uma revolta contra a psicologia associacionista e
elementarista de Wundt. No início do século XX, psicólogos como Wertheimer, Koffka e
Köhler rejeitaram a abordagem de decomposição dos elementos da mente, propondo uma
visão holística que enfatizava a percepção e a experiência consciente como processos
organizados.

4. Explique as diferenças entre a revolta da Gestalt e a dos behavioristas contra a


psicologia wundtiana.
A Gestalt e os behavioristas compartilharam a revolta contra a psicologia de Wundt,
mas por razões diferentes. Enquanto os behavioristas criticavam a introspecção subjetiva, a
Gestalt discordava da análise atomista e defendia a compreensão dos fenômenos psicológicos
como totalidades organizadas, não reduzíveis a partes isoladas.

5. Dê um exemplo da pesquisa de Kohler sobre insight na ilha de Tenerife.


78

Kohler conduziu estudos com chimpanzés na ilha de Tenerife, observando seu


comportamento ao tentar alcançar bananas fora do alcance direto. Os chimpanzés
demonstraram insight ao empilhar caixas para criar uma solução que lhes permitisse alcançar
as bananas, sugerindo uma compreensão repentina e não apenas aprendizado por tentativa e
erro.

6. Como o Zeitgeist na fisica mudou no final do século XIX? Como essa mudança
influenciou a psicologia da Gestalt?
O zeitgeist (espírito da época) na física mudou do determinismo newtoniano para a
teoria da relatividade e a física quântica no final do século XIX. Essa mudança influenciou a
Psicologia da Gestalt, que adotou uma abordagem mais holística, enfatizando a organização e
estruturação da experiência, em contraste com a abordagem atomista da psicologia
associacionista.
7. De que maneira Wertheimer aplicou os princípios de aprendizagem da Gestalt ao
pensamento criativo dos humanos?
Wertheimer aplicou os princípios de aprendizagem da Gestalt ao pensamento criativo,
destacando que a solução para problemas complexos pode ocorrer por meio da reorganização
perceptual e compreensão repentina, em vez de um processo incremental de tentativa e erro.

8. De que modo a teoria de campo lida com a motivação e com a psicologia social? O
que é a pesquisa da ação social?
A teoria de campo de Lewin propõe que o comportamento é resultado da interação
entre o indivíduo e seu ambiente, incluindo fatores motivacionais. A pesquisa da ação social
de Lewin envolveu estudos sobre problemas sociais relevantes, visando a introdução de
mudanças por meio do entendimento das dinâmicas sociais.

9. Como a aprendizagem pelo insight difere da aprendizagem por tentativa- e- erro


descrita por Thorndike?
A aprendizagem pelo insight envolve uma compreensão súbita e não gradual de uma
solução para um problema, enquanto a aprendizagem por tentativa e erro, proposta por
Thorndike, baseia-se em repetidas tentativas até encontrar uma resposta correta, sem
necessariamente envolver compreensão repentina.
79

10. Como o isomorfismo relaciona a percepção aos equivalentes neurológicos


subjacentes?
O isomorfismo na Psicologia da Gestalt refere-se à ideia de que as estruturas
percebidas são relacionadas aos padrões de atividade neural subjacentes. Ou seja, a percepção
reflete a organização neural, estabelecendo uma correspondência entre os eventos perceptuais
e as atividades neurais correspondentes.

11. De que forma os estudos da constância perceptual sustentam o ponto de vista da


Gestalt?
Os estudos da constância perceptual, que demonstram a capacidade do sistema
perceptual de manter a percepção estável, sustentam o ponto de vista da Gestalt, enfatizando
que a percepção é influenciada pela organização global, não apenas pelos estímulos isolados.

12. Se você visse um livro sobre a mesa e dissesse: "Estou vendo um livro sobre a mesa",
que erro estaria cometendo de acordo com Titchener?
De acordo com Titchener, ao dizer "Estou vendo um livro sobre a mesa", o erro seria
a inclusão de inferências ou interpretações pessoais, indo além da descrição direta da
experiência sensorial.

13. De que maneira a psicologia da Gestalt afetou a psicologia como um todo?


A Psicologia da Gestalt influenciou a psicologia geral ao desafiar as abordagens
reducionistas e atomistas, introduzindo uma perspectiva holística e organizacional no estudo
da mente e do comportamento. Contribuiu para o desenvolvimento da psicologia cognitiva
contemporânea.

14. Quais os argumentos usados pela psicologia da Gestalt para criticar o


behaviorismo?
A Psicologia da Gestalt criticava o behaviorismo por sua ênfase excessiva em
processos de aprendizagem associativos e mecânicos, ignorando a compreensão global e
estruturada da experiência. A Gestalt destacava a importância da percepção e organização
cognitiva na compreensão do comportamento.

15. Que fatores são usados nas críticas contra a psicologia da Gestalt?
80

Críticas à Psicologia da Gestalt incluíam alegações de falta de definição rigorosa de


conceitos, foco excessivo na teoria em detrimento da pesquisa empírica e hipóteses
fisiológicas vagas.

16. O que os psicólogos da Gestalt queriam dizer com as expressões "o todo é diferente
da soma de suas partes" e "há mais na percepção do que os olhos veem"?
Essas expressões refletem a ênfase da Gestalt na organização perceptual,
argumentando que a percepção não pode ser reduzida à soma de estímulos individuais e que a
experiência consciente transcende a simples resposta aos estímulos sensoriais.

17. Quais os fatores que impediram a aceitação da psicologia da Gestalt nos Estados
Unidos?
A resistência à aceitação da Psicologia da Gestalt nos EUA incluiu a falta de
enquadramento dentro dos métodos experimentais predominantes, a preferência pelo
behaviorismo e a relutância em abandonar abordagens mais tradicionais.
18. O que é o fenômeno phi? Como ele é produzido? Por que a psicologia wundtiana não
conseguia explicá- lo?
O fenômeno phi refere-se à ilusão de movimento percebida quando dois estímulos
visuais são apresentados sequencialmente. A psicologia wundtiana não conseguia explicar
completamente esse fenômeno devido à sua ênfase na decomposição de elementos isolados
em vez de considerar a organização global da experiência.

19. Por que algumas pessoas, erroneamente, acreditavam que a psicologia da Gestalt
dedicava-se somente à percepção?
Algumas pessoas erroneamente acreditavam que a Psicologia da Gestalt se dedicava
exclusivamente à percepção devido ao destaque em princípios perceptuais, ignorando sua
aplicação a outras áreas da psicologia, como aprendizagem, pensamento e motivação.

20. Por que a palavra Gestalt provocou problemas para o movimento?


A palavra "Gestalt" provocou problemas porque não tinha uma tradução direta para o
inglês e, portanto, era difícil transmitir seu significado preciso. Isso levou a mal-entendidos
sobre os objetivos e a abordagem da Psicologia da Gestalt.
81

Cap. 18: O GESTALTISMO E O RETORNO À EXPERIÊNCIA PSICOLÓGICA.


FERREIRA, A. L.; VILELA, A. J; LEAL, A.; PORTUGAL, F. História da Psicologia: rumos
e percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2005.

O capítulo 18 aborda o gestaltismo e seu papel na mudança de foco na psicologia do


século XIX para o estudo da experiência psicológica. No século XIX, a psicologia estava
vinculada a uma perspectiva mecanicista que analisava a experiência psicológica em relação
ao mundo físico, excluindo características de sentido, valor ou ordem. O desafio era encontrar
parâmetros para investigar experimentalmente a experiência psicológica nesse contexto.
Duas noções fundamentais eram a sensação e a hipótese da constância. A sensação era
vista como o substrato de toda experiência psicológica, sendo um evento físico, fisiológico e
psicológico. A hipótese da constância afirmava que a excitabilidade de um elemento nervoso
permanece invariante em relação a um certo estímulo. Ambas as noções conectavam a
psicologia à física e à fisiologia, buscando estabelecer uma base científica para a relação
entre a experiência e o mundo físico.
No final do século XIX, surgiu um movimento na psicologia que questionava a
centralidade da sensação no estudo da experiência. A distinção entre atos e conteúdos da
experiência tornou-se crucial, com psicólogos como Wundt admitindo os limites da sensação,
enquanto outros, como Brentano, destacavam a importância de investigar o ato de representar
em vez do conteúdo da experiência.
A Escola de Wurzburgo, influenciada por Brentano, propôs a existência de pensamento
sem imagem, desafiando a tradição psicológica que via o pensamento como herdeiro da
sensação. Essa distinção entre ato e conteúdo levou à emergência da noção de estrutura como
chave para o estudo da experiência, deslocando o foco das sensações para as relações entre
elas.
Na Áustria, Von Ehrenfels destacou as qualidades estruturais da experiência perceptiva,
apontando para algo não redutível às sensações isoladas. Essas qualidades, relacionadas às
relações entre elementos, representaram um deslocamento importante no campo de pesquisa,
indicando a necessidade de considerar as relações, não apenas os elementos isolados. Essas
qualidades estruturais eram sensíveis, mas de uma ordem superior, não requerendo atividade
mental superior para sua produção.
Ehrenfels amplia o campo da sensibilidade ao afirmar que esta é formada tanto por
sensações quanto por qualidades estruturais. A noção de qualidade estrutural surge como uma
82

reação às teorias que limitavam o estudo da experiência às sensações, marcando o declínio


progressivo da sensação como fundamento da experiência psicológica. Simultaneamente, a
importância da forma ou estrutura cresce nas pesquisas psicológicas.
A Escola de Graz, liderada por Alexius von Meinong, baseou suas pesquisas
experimentais nos conceitos de Ehrenfels. Meinong propôs a distinção entre objetos
fundantes (inferiora) e objetos fundados (superiora), destacando a dependência dos últimos
em relação aos primeiros. Ele argumentou que os objetos superiores são ideais, resultantes de
atividades intelectuais superiores, e não derivam diretamente da sensibilidade. Essa
perspectiva marca um desvio em relação a Ehrenfels, que considerava as qualidades
estruturais como sensíveis.
A Escola de Graz destaca a autonomia dos elementos sensoriais, mas ressalta que a
atividade intelectual responsável pela produção dos objetos superiores pode alterar os
próprios elementos sensoriais. Isso implica um declínio mais firme na noção de sensação,
sugerindo que as relações entre elementos podem modificar esses elementos. Essa abordagem
crítica à sensação é levada adiante pelo gestaltismo, representado pela Escola de Berlim, que
se recusa a aceitar a sensação como o fundamento da experiência, marcando uma nova
direção no estudo da experiência psicológica. O gestaltismo rejeita não apenas a sensação,
mas também a hipótese da constância como fundamentos da experiência, abrindo caminho
para uma compreensão mais profunda e abrangente da psicologia da forma.
A Escola de Berlim, representada pelo gestaltismo, difere das abordagens da Escola de
Graz e de Ehrenfels ao investigar a experiência psicológica com base na percepção tal como é
vivenciada pelo sujeito ingênuo. Em contraste com a ênfase nas sensações, a Escola de
Berlim destaca a importância das relações de sentido e valor na experiência perceptiva. Seus
principais membros foram Wolfgang Köhler, Max Wertheimer e Kurt Koffka.
Max Wertheimer, ao estudar a percepção do movimento, exemplificou a importância do
aspecto significativo da experiência. Ele observou que a percepção do movimento não pode
ser explicada apenas pelas sensações ou por uma atividade intelectual que produza relações
entre sensações. Em vez disso, destaca a leitura intrínseca de sentido no percebido, sem
recorrer à noção de sensação ou à hipótese da constância.
A recusa do gestaltismo à hipótese da constância não é apenas negativa, mas também
positiva, inaugurando o mundo percebido como um espaço legítimo de conhecimento. A
Escola de Berlim rejeita a ideia de reduzir o espaço psicológico ao espaço físico, propondo
uma abordagem que revela o sentido intrínseco presente na experiência do sujeito ingênuo.
83

Essa recusa não apenas nega um preconceito, mas afirma a autenticidade do fenômeno
psicológico tal como é vivenciado.
A analogia com a cena do filme "Boulevard do Crime" ilustra a perspectiva gestaltista,
destacando que o significado é encontrado no campo da experiência tal como é percebido,
não sendo necessário referi-lo a um dado físico preconcebido como verdadeiro. O gestaltismo
promove a integração entre ciência e experiência, propondo uma nova concepção de
cientificidade na psicologia que emerge das vivências psicológicas intrínsecas. Essa
abordagem modifica a relação entre ciência e vida, situando a psicologia como a mediadora
entre esses domínios.
O gestaltismo adota o método fenomenológico-descritivo para incorporar o percebido à
ciência psicológica, destacando-se por sua abordagem da experiência psicológica como
imediatamente organizada e significativa. Nesse método, o primeiro passo é a descrição do
fenômeno psicológico na perspectiva do leigo, enfatizando a ordem intrínseca ao domínio da
sensibilidade e recusando a dicotomia clássica entre razão e sensibilidade.
A palavra "Gestalt," escolhida pelos representantes da Escola de Berlim, expressa o
caráter imanente e autóctone da organização. Para o gestaltismo, a experiência é
imediatamente organizada, sendo as relações mais relevantes do que as sensações. A relação
figura/fundo desempenha um papel crucial, indicando a heterogeneidade mínima necessária
para a cognição.
A noção de parte no gestaltismo difere da noção clássica de elemento ou sensação. As
partes são sempre significativas, com um significado funcional dependente da estrutura em
que estão inseridas. A relação entre as partes é intrínseca e necessária, contribuindo para uma
coesão interna que é distinta de uma mera associação de elementos.
A lei da boa forma, expressa pelos princípios de proximidade, semelhança, fechamento,
continuação apropriada, entre outros, destaca a tendência das estruturas em revelar suas
características de forma completa. A experiência, para o gestaltismo, vai além do dado físico
e envolve a produção de um domínio peculiar e inédito.
O gestaltismo propõe um retorno à experiência autêntica, como aquela vivenciada no
cinema, onde o sentido não é meramente uma referência a eventos reais, mas é incorporado
ao seu próprio ritmo. O espaço ficcional e o campo do vivido revelam um sentido inédito e
coerente, formado por relações inteligíveis. A noção de insight, ou discernimento, expressa
essa inteligibilidade imanente do mundo percebido, e o gestaltismo destaca a importância de
considerar a experiência do sujeito ingênuo como ponto de partida na ciência psicológica.
84

A Escola de Berlim propõe o isomorfismo psicofisiológico como um princípio


estrutural para explicar o funcionamento do sistema nervoso em relação às vivências. O
gestaltismo, ao descrever a experiência do sujeito ingênuo, busca explicá-la incorporando
teses sobre o sistema nervoso. Diferentemente de uma mera descrição, o gestaltismo oferece
explicações para as vivências, recorrendo ao isomorfismo psicofísico.
O ponto de vista gestaltista destaca duas questões cruciais: as conexões significativas
entre parte/todo e a necessidade de adotar uma perspectiva psicofísica para explicar essas
relações. A ciência psicológica, segundo o gestaltismo, não pode limitar-se a descrições; ela
busca explicações que envolvem uma relação racional e coerente entre fisiologia e psicologia.
O isomorfismo psicofísico implica uma identidade de forma entre os processos
psicofísicos e os fenômenos psicológicos, não se tratando de uma simples "imagem cerebral"
que copia o dado fenomenal. A concepção gestaltista sugere uma fisiologia dinâmica, em
oposição à visão mecânica e associativa de outras abordagens. Essa dinâmica é exigida pelo
fato descritivo da imediata organização da experiência do sujeito ingênuo.
O gestaltismo utiliza a hipótese do isomorfismo psicofísico para formular explicações
concretas sobre o que ocorre no plano das vivências. A relação isomórfica entre o psíquico, o
fisiológico e o físico é essencial para compreender o monismo de princípios que subjaz às
ciências naturais. O conceito de campo psicofisiológico, correlato à experiência, possibilita
uma integração da psicologia nas ciências naturais sem abandonar as noções de significação,
valor e ordem presentes na descrição do fato.
O gestaltismo enfatiza que o conceito de campo é crucial, permitindo que a experiência
seja utilizada como indicador das propriedades do campo fisiológico. A relação isomórfica
entre esses domínios marca uma nova concepção da cientificidade da psicologia, destacando
diferentes níveis de concreção da forma. O isomorfismo psicofísico proposto pela Escola de
Berlim promove uma nova relação entre a psicologia e outras disciplinas, especialmente a
física e a fisiologia.
Este estudo abrange a relação entre a experiência e o plano psicofisiológico dentro da
perspectiva da Escola de Berlim, destacando a rejeição da dicotomia entre consciência e
mundo presente na psicologia clássica. Enquanto esta última partia da hipótese da constância,
estabelecendo um vínculo associativo e arbitrário entre o psíquico e o físico, a gestaltismo
propõe uma relação isomórfica, integrando a psicologia ao domínio das ciências naturais.
O gestaltismo se destaca por propor uma integração entre a experiência e a natureza,
unindo o fato descritivo ao fato funcional. As contribuições do gestaltismo na psicologia são
notáveis, especialmente por suas implicações descritivas. Kurt Lewin, um dos expoentes,
85

emigrou para os Estados Unidos e propôs a teoria de campo, influenciando a dinâmica de


grupo e pesquisas em motivação social.
O impacto do gestaltismo na psicopatologia é evidenciado pelos estudos de Gelb e
Goldstein sobre a afasia, enfatizando a importância de considerar toda a gama
comportamental do paciente afásico, não apenas a linguagem. Essa abordagem estrutural é
crucial, pois afirma que os afásicos não são simplesmente alterações na linguagem, mas
indivíduos completamente modificados.
O gestaltismo também influenciou a análise das relações entre arte e percepção visual,
exemplificado pelo trabalho de Rudolf Arnheim e Fayga Ostrower. No Brasil, Nilton
Campos, Antônio Gomes Penna e Arno Engelmann difundiram as ideias gestaltistas,
impactando o ensino e pesquisa em psicologia.
O estudo conclui sugerindo que uma abordagem interdisciplinar, baseada nas
descrições gestaltistas, poderia ser uma linha de pesquisa promissora, ressaltando que a
análise deve ir além das relações com as ciências naturais, explorando conexões com outras
áreas do conhecimento, como as artes plásticas. A questão provocativa é se, ao considerar
apenas as descrições gestaltistas, ainda podemos nos considerar gestaltistas.

AULA 01 - Importância de Estudar a História da Psicologia

1. Contexto Institucional
- O curso de História da Psicologia está sendo oferecido na faculdade, indicando a
crença na importância do conhecimento dessa disciplina.
- A Psicologia é única, pois a maioria das ciências não oferece estudos históricos, e
faculdades geralmente não veem a história como vital para o desenvolvimento dos alunos.

2. Diversidade na Psicologia
- Destaca a diversidade e fragmentação na formação profissional e científica da
Psicologia.
- Menciona a variedade de abordagens, desde funções cognitivas até forças
inconscientes e processos fisiológicos.

3. Coerência através da História


86

- A história da Psicologia é a única linha que une as diversas áreas e abordagens,


proporcionando um contexto coerente.
- A exploração das origens e o estudo do desenvolvimento da Psicologia oferecem
uma visão clara da natureza da disciplina atual.

4. Organização e Perspectiva
- O conhecimento histórico organiza o aparente caos, colocando o passado em
perspectiva para explicar o presente.
- Investigar o passado ajuda a esclarecer as forças que moldaram a Psicologia
contemporânea.

5. Integração de Áreas e Questões


- A história da Psicologia é a maneira mais sistemática de integrar as áreas e questões
da Psicologia moderna.
- Ajuda a reconhecer as relações entre ideias, teorias e esforços de pesquisa,
formando uma imagem coerente.

6. Fascínio Histórico
- Além dos benefícios acadêmicos, a história da Psicologia é fascinante, envolvendo
drama, tragédia, heroísmo e revolução.

Epistemologia da Psicologia

1. Relação entre Psicologia e Filosofia


- A psicologia, ao propor-se como teoria geral da conduta, inevitavelmente adota uma
ideia de homem.
- A filosofia questiona a origem dessa ideia, sugerindo a necessidade de a psicologia
confrontar suas bases filosóficas.

2. Reflexão Epistêmica e Antropologia Filosófica


- A reflexão epistêmica sobre a Psicologia é uma análise da influência da
antropologia filosófica na racionalidade do tratamento psicológico.
87

- A psicologia é constantemente remetida a uma raiz metafísica, questionando se é


possível se livrar dessa influência.

3. Crítica aos Fundamentos


- Destaca o impacto do livro "Crítica dos Fundamentos da Psicologia" de Georges
Politzer em 1928.
- O objetivo é promover a reflexão sobre as relações entre epistemologia e psicologia,
com foco na produção e investimento de conhecimento nas práticas clínicas.

4. Desafios Epistemológicos Atuais


- Aponta a crise nas epistemologias devido aos novos modos de pensar o sujeito e à
falência dos modos de subjetivação que produziram o sujeito moderno.
- Há um desencontro histórico entre epistemologias e ciências humanas.

5. Críticas à Tradição Metafísica


- Ao longo dos séculos XIX e XX, filósofos como Schopenhauer, Nietzsche,
Heidegger e Lévinas questionaram a tradição metafísica ocidental.
- Filósofos contemporâneos como Foucault, Deleuze, Derrida e Rorty subverteram
noções usuais de verdade, realidade, consciência e sujeito.
Essas explanações oferecem uma compreensão aprofundada sobre a importância de
estudar a história e a epistemologia da Psicologia, destacando suas implicações para a
compreensão da disciplina e seu desenvolvimento ao longo do tempo.

AULA 02 – O Pensamento no Renascimento e na Modernidade

1. Contexto Histórico
- Decadência do Império Romano e Tensões Religiosas
- O Renascimento surge após o declínio do Império Romano no Ocidente, as tensões
entre cristianismo e filosofia/ciência grega, e a expansão do Islã.
- Psicologia medieval contida na aprendizagem e nas instituições católicas, com
questões psicológicas sob domínio da religião.

2. Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino


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- Santo Agostinho (século IV d.C.)


- Expressa experiências íntimas influenciadas pelo platonismo/neoplatonismo.
- Santo Tomás de Aquino (século XIII)
- Reinterpreta Aristóteles, fazendo uma síntese com a teologia cristã (escolástica).
- Admite a importância da razão na complementação da fé em busca da verdade.

3. O Renascimento
- Definição e Características
- Período de desenvolvimento comercial, inovações tecnológicas, ampliação do
conhecimento e mudança de paradigmas cosmológicos e antropológicos.
- Leonardo da Vinci simboliza o homem renascentista, sendo um polímata em
diversas áreas.

4. Ciência do Renascimento: Copérnico, Galileu, Newton


- Deslocamento do Homem no Mundo
- Nicolau Copérnico propõe o heliocentrismo em contraposição ao geocentrismo.
- Galileu Galilei avança na astronomia, estabelecendo bases do método científico.
- Isaac Newton fundamenta a ciência com a matemática, destacando-se pela análise
da luz (refração).
5. A Filosofia Renascentista: René Descartes
- Fundamentos do Pensamento Descartiano
- René Descartes, fundador da filosofia ocidental moderna.
- "Cogito, ergo sum" como certeza da existência a partir do pensamento.
- Dualismo mente-corpo: res cogitans (mente) e res extensa (corpo).

6. Descartes sobre Mente e Corpo


- Funcionamento do Corpo e Mente
- Corpo opera por mecanismos de troca de fluidos (espíritos animais).
- Mente controla o corpo, dualismo mente-corpo baseado em paradigma máquina.
- Mente contida na glândula pineal, local de interação entre corpo e mente.

7. Ideias e Paixões em Descartes


- Classes de Ideias
- Ideias inatas (nascem com as pessoas) e ideias adquiridas pela experiência.
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- Paixões surgem do corpo, a mente experimenta de forma passiva.

8. Contribuições e Legado de Descartes


- Dualismo e Suas Implicações
- Dualismo cartesiano mente-corpo tem implicações duradouras na psicologia.
- Diferença entre ideias inatas e adquiridas antecipa o debate entre inatismo e
empirismo, natureza e cultura.

Cada conceito abordado contribui para entender a transição do pensamento medieval


para o Renascimento e a consolidação de ideias que moldaram a filosofia e a ciência
modernas, incluindo elementos fundamentais para a psicologia.

Teoria do Conhecimento e Ciência Moderna: A Psicologia no Iluminismo

1. Psicologia como Disciplina Propedêutica


- Ciência Empírica da Alma no Século XVIII
- No Iluminismo, a Psicologia ganha destaque como uma ciência empírica da alma,
mas ainda não tinha status independente nem era uma profissão. Era subordinada a outras
ciências.
- Sua abordagem era naturalista, baseada em observação, experiência e análise.

2. Psicologia como Disciplina de Pesquisa Empírica


- Método Naturalista e Perspectiva Naturalista
- A Psicologia, nesse período, adotava métodos de observação, experiência e análise,
buscando compreender a alma.
- Modelava seu conhecimento com base na física, combinando atitudes naturalistas,
raciocínio matemático, mecanismos mentais e observações médicas.

3. Psicologia como Conceito e Método Escolástico de Raciocínio


- Conceito de Alma e Método Escolástico
- O conceito de Psicologia estava ligado à alma, investigação naturalista, e à
metafísica.
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- Com a crise da escolástica, a alma passa a ser identificada com mente e


consciência.

4. Psicologia na Cultura Ilustrada: Empirismo


- John Locke e o Empirismo
- Locke, com o "Ensaio sobre o Entendimento Humano", é considerado o evangelho
psicológico do Iluminismo.
- Sua abordagem empírica rejeitava ideias inatas, enfatizando observação,
experiência e conhecimento a partir de impressões sensíveis.

5. Associacionismo e Análise das Faculdades Cognitivas


- David Hume e o Associacionismo
- Hume, em "Tratado da Natureza Humana", analisou as faculdades cognitivas
humanas de maneira lógica.
- O associacionismo sugeria que ideias eram cópias fracas de impressões, formando
a base para a estrutura e dinâmica do pensamento e da razão prática.

6. Institucionalização da Psicologia na Alemanha


- Christian Wolff e a Psicologia Racional e Empírica
- Wolff, na Prússia, foi fundamental na institucionalização da Psicologia.
- Seu sistema filosófico incluía Psicologia Empírica e Racional, abordando a mente
tanto empiricamente quanto racionalmente.

7. Psicologização e Transformações Culturais


- Iluminismo e Psicologização
- O Iluminismo trouxe uma racionalização e interiorização das relações objetivas,
levando à psicologização.
- Teorias do psiquismo contribuíram para a psicologização de diversos campos do
saber.

8. Psicologia e Ciência Moderna


- Psicologia como Ponte para o Conhecimento Científico
- A Psicologia foi crucial na transição da metafísica para a teoria do conhecimento,
estabelecendo o método científico como eixo fundador da ciência moderna.
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- Inicialmente subordinada, a Psicologia, ao longo do século XIX, tornou-se uma


ciência autônoma e independente.

Esses conceitos fornecem uma compreensão detalhada do papel da Psicologia durante o


Iluminismo, seu desenvolvimento como disciplina e sua contribuição para a ciência moderna.

AULA 03 – Immanuel Kant e os Vetos à Psicologia Científica**

1. Quem foi Immanuel Kant (1724-1804)?


- Filósofo que marcou a filosofia contemporânea e os parâmetros do conhecimento.
- Ápice do Iluminismo, enfrentando a crise cognitiva da época.
- Dualismo entre racionalismo/inatismo e empirismo.

2. Crítica da Razão Pura e o Giro Epistemológico


- Kant questiona o que podemos conhecer e propõe a distinção entre fenômenos
(registro consciente) e númenos (coisa em si).
- Critica a razão pura, equiparando-a à metafísica, e introduz a síntese transcendental
como condições de possibilidade.
3. Síntese Transcendental e Estética
- Estética Transcendental
- Espaço e Tempo como formas puras, intuições sensíveis.
- Independentes da experiência, mas vazias por si só.
- Estas formas possibilitam a experiência ao esquematizar informações dos sentidos.

4. Vetos à Psicologia
- Críticas a Christian Wolff
- Descarta a psicologia racional e questiona a psicologia empírica.
- Vetos: Ausência de elemento discreto de análise, dificuldade em estabelecer
método objetivo e incapacidade de matematização do sentido interno.

5. Vetos do Positivismo (Auguste Comte)


- O conhecimento deve ser público, empírico e controlável.
- Dentro desse paradigma, a psicologia não é considerada científica.
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6. Respostas aos Vetos


- 1ª Resposta - Elemento Discreto de Análise
- Johannes Müller propõe a Teoria das Energias Nervosas Específicas.
- Cada via nervosa transmite uma energia específica, sendo a sensação o elemento
objetivo de análise.
- Dado sensorial como fenômeno, sintetizado na consciência (kantismo fisiológico).

- 2ª Resposta - Objetividade Metodológica


- Hermann von Helmholtz e a Teoria das Representações Psicológicas.
- Inferências inconscientes organizam sensações por experiências passadas.
- Introspecção experimental para análise consciente, neutralizando inferências
inconscientes.
- 3ª Resposta - Problema da Matematização
- Gustav Fechner e a Psicofísica.
- Estabelece a Lei Weber-Fechner, relacionando a extensão física de um estímulo à
intensidade percebida.
- Contorna o veto de Kant sobre a matematização do sentido interno.

7. Contribuições de Fechner e Desenvolvimentos Posteriores


- A psicofísica abre caminho para as primeiras formulações psicológicas científicas.
- Wilhelm Wundt, em 1879, inaugura a psicologia como disciplina acadêmica
autônoma e independente.

Esses desenvolvimentos representam a superação dos vetos de Kant à psicologia


científica, marcando o início da psicologia como ciência no século XIX.

Wilhelm Wundt e o Estruturalismo

1. Fundação da Psicologia
- Wilhelm Wundt é o fundador da psicologia como disciplina acadêmica formal.
- Lançou a primeira revista especializada e iniciou a psicologia experimental.
- Temas de pesquisa incluíam sensação, percepção, atenção, sentimento, reação e
associação.
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2. Estudo da Experiência Consciente


- Wundt usava métodos experimentais, baseados em técnicas da fisiologia.
- Objeto de estudo era a consciência.
- Influência do empirismo e associacionismo refletida no sistema de Wundt.
- Enfatizava o voluntarismo, focando na capacidade organizativa da mente.
- Diferença entre experiência mediata (com interferências) e imediata (acesso direto
ao estímulo).

3. Método da Introspecção
- Psicologia definida como a ciência da experiência consciente.
- Somente o indivíduo que vivencia a experiência pode observá-la.
- Introspecção: autoanálise da mente para inspecionar e relatar pensamentos ou
sentimentos pessoais.
- Requeria treinamento rigoroso e seguia regras específicas.

4. Elementos da Experiência Consciente


- Método de analisar processos conscientes, descobrir como são sintetizados e
determinar as leis da conexão.
- Sensações e sentimentos eram elementos básicos.
- Teoria tridimensional do sentimento: prazer/desprazer, tensão/relaxamento,
excitação/depressão.

5. Organização dos Elementos


- Percepção do mundo real tem unidade ou totalidade.
- Apercepção: processo ativo de organização dos elementos mentais formando uma
unidade.
- Rejeição da associação mecânica e passiva defendida pelos empiristas.

6. Destino da Psicologia de Wundt


- Dificuldade na aplicação prática.
- Não criou raízes nos EUA devido à visão puramente acadêmica de Wundt.
- Psicologia nos EUA voltou-se para questões práticas na economia e educação.
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- Psicologia da Gestalt e psicanálise na Europa, funcionalismo e behaviorismo nos


EUA, obscureceram a abordagem de Wundt.

7. Estruturalismo de Edward Titchener


- Titchener, aluno de Wundt, levou a abordagem para os EUA, chamando-a de
estruturalismo.
- Concentrou-se nos elementos mentais e na associação mecânica, mas rejeitou a
apercepção de Wundt.
- Tarefa da psicologia: descobrir a natureza das experiências conscientes elementares.

8. Conteúdo da Experiência Consciente


- Psicologia estuda a experiência consciente dependente do indivíduo.
- Exemplo: A experiência de temperatura depende das experiências individuais sob
aquela temperatura objetiva.

9. Método da Introspecção de Titchener


- Uso de observadores treinados para relatar detalhadamente atividades mentais
durante a introspecção.
- Analisava experiência consciente complexa por meio de partes componentes, não a
síntese como Wundt.
10. Críticas ao Estruturalismo
- Considerado uma tentativa fútil de se ater a princípios antiquados.
- Kant e Comte criticaram o método introspectivo, argumentando que a observação
altera a experiência.
- A mente não pode observar a si mesma.

11. Desenvolvimentos Posteriores


- Psicologia nos EUA se afastou do estruturalismo, focando em abordagens mais
pragmáticas como funcionalismo e behaviorismo.
- Na Alemanha, a psicologia da Gestalt e a psicanálise emergiram.

Em resumo, Wundt fundou a psicologia como disciplina acadêmica, enfatizando a


experiência consciente e a capacidade organizativa da mente. O estruturalismo de Titchener,
influenciado por Wundt, focou nos elementos mentais e na introspecção, mas foi criticado e
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substituído por abordagens mais pragmáticas nos EUA e por movimentos como a psicologia
da Gestalt e a psicanálise na Europa.

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