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2.

1 Conceito da Teoria Psicanalítica

A teoria psicanalítica é a teoria que estuda a personalidade e o seu desenvolvimento. É uma


teoria que procura descrever a etiologia dos transtornos, além de explicar a motivação humana
(Azevedo, 2019). Além disso, a teoria psicanalítica é uma das bases conceituais que orientam a
psicanálise, um método clínico para o tratamento da psicopatologia (Tyson, 2002).

2.2. Evolução Histórica da Teoria

Os primórdios da psicanálise datam de 1882 quando Freud, médico recém-formado, trabalhou


na clínica psiquiátrica de Theodor Meynert e, mais tarde, em 1885, com o médico francês
Charcot. Sigmund Freud era um médico interessado em achar um tratamento efetivo para
pacientes com sintomas neuróticos ou histéricos. Ao escutar seus pacientes, Freud acreditava
que seus problemas se originavam da não aceitação cultural; ou seja, seus desejos eram
reprimidos, relegados ao inconsciente. Notou também que muitos desses desejos eram
fantasias de natureza sexual. O método básico da psicanálise é o manejo da transferência e da
resistência. O analisado, numa postura relaxada, é solicitado a dizer tudo o que lhe vem à
mente (método de associação livre). Suas aspirações, angústias, sonhos e fantasias são de
especial interesse na escuta, como também todas as experiências vividas são trabalhadas em
análise. Escutando o analisado, o analista tenta manter uma atitude empática de neutralidade
uma postura de não julgamento, visando a criar um ambiente seguro.

A originalidade do conceito de inconsciente introduzido por Freud deve-se à proposição de


uma realidade psíquica, característica dos processos inconscientes (Goodwin, 2005).

2.3. Estrutura e Dinâmica da Personalidade

2.3.1 . Os níveis da Consciência ou Modelo Topológico da Mente

Freud descreve três níveis de consciência:

O consciente - que abarca todos os fenômenos que em determinado momento podem ser
percebidos de maneira consciente pelo indivíduo;

O pré-consciente - refere-se aos fenômenos que não estão conscientes em determinado


momento, mas podem tornar-se, se o indivíduo desejar se ocupar com eles;

O inconsciente - que diz respeito aos fenômenos e conteúdos que não são conscientes e
somente sob circunstâncias muito especiais podem tornar-se (Pervin, 2005).

2.3.2. Modelo Estrutural da Personalidade

Freud desenvolveu mais tarde um modelo estrutural da personalidade, em que o aparelho


psíquico se organiza em três estruturas:

Id: O id é a fonte da energia psíquica, a libido. O id é formado pelas pulsões, instintos, impulsos
orgânicos e desejos inconscientes. Ele funciona segundo o princípio do prazer, ou seja, busca
sempre o que produz prazer e evita o desprazer. Não faz planos, não espera, busca uma
solução imediata para as tensões, não aceita frustrações e não conhece inibição. Ele não tem
contato com a realidade e uma satisfação na fantasia pode ter o mesmo efeito de uma atingida
través de uma ação. O id desconhece juízo, lógica, valores, ética ou moral, sendo exigente,
impulsivo, cego, irracional, antissocial e dirigido ao prazer. O id é completamente inconsciente.

Ego: O ego desenvolve-se a partir do id com o objetivo de permitir que seus impulsos sejam
eficientes, ou seja, levando em conta o mundo externo, por intermédio do chamado princípio
da realidade. É esse princípio que introduz a razão, o planeamento e a espera ao
comportamento humano. A satisfação das pulsões é retardada até o momento em que a
realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de consequências
negativas. A principal função do ego é buscar uma harmonização inicialmente entre os desejos
do id e a supervisão/realidade/repressão do superego.

Superego: É a parte moral da mente humana e representa os valores da sociedade. O superego


tem três objetivos: (1) reprimir, através de punição ou sentimento de culpa, qualquer impulso
contrário às regras e ideais por ele ditados; (2) forçar o ego a se comportar de maneira moral,
mesmo que irracional; e, (3) conduzir o indivíduo à perfeição, em gestos, pensamentos e
palavras. O superego forma-se após o ego, durante o esforço da criança de introjetar os
valores recebidos dos pais e da sociedade a fim de receber amor e afeição. O superego divide-
se em dois subsistemas: o ego ideal, que dita o bem a ser procurado, e a consciência, que
determina o mal a ser evitado. (Carver & Scheier, 2000)

2.4. Mecanismos de Defesa

O ego está constantemente sob tensão, nas suas tentativas de harmonizar os impulsos do id no
mundo exterior e adequando-os à repressão do superego. Quando essa tensão (normalmente
sob a forma de medo) se torna grande demais, ameaça a estabilidade do ego, que pode fazer
uso dos mecanismos de defesa ou ajustamentos. Estas são estratégias do ego para diminuir o
medo através de uma deformação da realidade – dessa forma o ego exclui da consciência
conteúdos indesejados (Freud, 1937).

Os principais mecanismos são:

Repressão - é o processo pelo qual se afastam da consciência conflitos e frustrações


demasiadamente dolorosos para serem experimentados ou lembrados, reprimindo-os e
recalcando-os para o inconsciente; o que é desagradável é, assim, esquecido;

Formação Reativa - consiste em ostentar um procedimento e externar sentimentos opostos


aos impulsos verdadeiros, indesejados;

Projeção - consiste em atribuir a outros as ideias e tendências que o sujeito não pode admitir
como suas;

Regressão - consiste em a pessoa retornar a comportamentos imaturos, característicos de fase


de desenvolvimento que a pessoa já passou;

Fixação - é um congelamento no desenvolvimento, que é impedido de continuar. Uma parte da


líbido permanece ligada a um determinado estágio do desenvolvimento e não permite que a
criança passe completamente para o próximo estágio. A fixação está relacionada com a
regressão, uma vez que a probabilidade de uma regressão a um determinado estágio do
desenvolvimento aumenta se a pessoa desenvolveu uma fixação por este;
Sublimação - é a satisfação de um impulso inaceitável através de um comportamento
socialmente aceito;

Identificação - é o processo pelo qual um indivíduo assume uma característica de outro. Uma
forma especial de identificação é a identificação com o agressor;

Deslocamento - é o processo pelo qual agressões ou outros impulsos indesejáveis, não


podendo ser direcionados à(s) pessoa(s) a que se referem, são direcionadas a terceiros (Miller,
1993).

2.5. Fases do Desenvolvimento Psicossexual

Fase Oral - A primeira fase do desenvolvimento é a fase oral, que se estende desde o
nascimento até aproximadamente dois anos de vida. Nessa fase a criança vivencia prazer e dor
através da satisfação (ou frustração) de pulsões orais, ou seja, pela boca ( Miller, 1993).

Fase Anal - A segunda fase, segundo Freud, é a fase anal, que vai aproximadamente do
primeiro ao terceiro ano de vida. Nessa fase a satisfação das pulsões se dirige ao ânus, ao
controle da tensão intestinal (Miller, 1993).

Fase Fálica - A fase fálica, que vai dos três aos cinco anos de vida, se caracteriza segundo Freud
pela importância da presença (ou, nas meninas, da ausência) do falo ou pênis; nessa fase
prazer e desprazer estão, assim, centrados na região genital. As dificuldades dessa fase estão
ligadas ao direcionamento da pulsão sexual ou libidinosa ao genitor do sexo oposto e aos
problemas resultantes.

Período de Latência - Depois da agitação dos primeiros anos de vida segue-se uma fase mais
tranquila que se estende até a puberdade. Nessa fase a libido é desinvestida das fantasias e da
sexualidade, tornando-as secundárias.

Fase Genital - A última fase do desenvolvimento psicossocial é a fase genital, que se dá durante
a adolescência. Nessa fase as pulsões sexuais, depois da longa fase de latência e
acompanhando as mudanças corporais, despertam-se novamente, mas desta vez se dirigem a
uma pessoa do sexo oposto (Miller, 1993).
Referências Bibliográficas

Azevedo, Juliana Tainski de (2019). Inventário de organização da personalidade : uma revisão


sistemática (Dissertação). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS

Tyson, Phyllis (fevereiro de 2002). «The Challenges of Psychoanalytic Developmental Theory».


Journal of the American Psychoanalytic Association.

Goodwin, C James. História da psicologia moderna. S. Paulo: Cultrix, 2005

Pervin, Lawrence A.; Cervone, Daniel & John, Oliver (2005). Persönlichkeitstheorien. München:
Reinhardt

Carver, Charles S. & Scheier, Michael F. (2000). Perspectives on personality. Boston: Allyn and
Bacon

Freud, Sigmund (1937). Análise Terminável e Interminável. Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

Miller, Patricia (1993). Theorien der Entwicklungspsychologie. Heidelberg: Spektrum.

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