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Quando falamos de Freud especialmente de sua teoria, necessitamos do conhecimento de seus

conceitos, em destaque: sua teoria topográfica e estruturalista, interpretação dos sonhos e


mecanismos de defesa do Ego. Ao longo do tempo, tornou-se possível com o avanço teórico
psicanalítico proposto por diversos novos autores (teóricos) do ramo, sendo a maioria baseado nos
conceitos freudianos, uma maior aceitação e compreensão de conceitos sobre a vida psíquica, vale
ressaltar também, as pesquisas cientificas propostas pela neurociência/neurofisiologia que busca se
relacionar com a psicanálise em alguns conceitos. Com uma melhor aceitação desses conceitos é
interessante abordarmos uma questão que acredito ser fundamental: No nosso mundo
contemporâneo, como lidamos com a não realização dos desejos com base na teoria psicanalítica de
Freud?

Antes de responder a essa questão devemos elucidar tais conceitos presentes na obra psicanalítica e
na nossa sociedade. Primeiro de tudo, é necessário entender que as tópicas de Freud não se anulam,
mas sim se complementam. Na primeira tópica ou no modelo topográfico de Freud, vemos a relação
das instâncias: inconsciente, consciente e pré-consciente, onde cada uma tem sua característica e
relação no aparelho psíquico. O inconsciente é o objeto de estudo principal da psicanálise,
entretanto, desde muito tempo o inconsciente está na fala do senso comum, o que Freud fez foi nos
proporcionar um conceito mais amplo e de grande significância para compreende comportamentos
inexplicáveis presentes nos “indivíduos”, se distanciando do conceito comum que permanecia na
sociedade da época. O fato é que no inconsciente estão todos os conteúdos recalcados ou
reprimidos pelo Eu, incluindo as fantasias mais arcaicas. Dessa forma, para evitar o sofrimento do
sujeito, tais conteúdos são censurados por meio do pré-consciente, que forma uma barreira para
que essas informações não cheguem ao nível consciente.

Podemos então perguntar: Isso significa que esses conteúdos não passarão nunca para o
consciente? Na verdade, os conteúdos censurados poderão acessar o consciente por meio do sonho,
por exemplo. No sonho estão presentes os estímulos sensoriais, os restos diurnos e os conteúdos
inconscientes. Como já mencionado os conteúdos inconscientes são censurados nos sonhos, assim
sendo, o sonho é uma mistura de estímulos presentes no ambiente do sujeito, conteúdos marcantes
do seu dia, e conteúdos inconscientes não acessíveis durante o estado de vigília. Freud por meio do
processo de introspecção e associação livre no seu período de isolamento trouxe a nós esse imenso
conhecimento a respeito do sonho, das fantasias infantis, e é claro mencionando também a
compreensão que nos deixou de seu modelo estrutural, presente na obra o Ego e o Id (1923-1925).

Na segunda tópica ou modelo estrutural do aparelho psíquico, se encontra as instâncias


complementares do modelo topográfico, Id, Ego e Superego. Em resumo, o Id (princípio do prazer)
busca a satisfação imediata, é movido e move as demais instâncias pela energia psíquica presente no
seu sistema, é todo inconsciente. O ego possui uma parte consciente e inconsciente, é o mediador
de dois grandes senhores: o Id (seus desejos e busca pela satisfação) e o Superego (suas proibições,
regras e punições), também tendo que lidar com o mundo exterior. O Superego possui uma parte
consciente e inconsciente, nele está a introjeção do narcisismo dos pais, sendo responsável por inibir
os desejos do Id na maioria das vezes, resultando também na punição do Ego. Com isso em mente,
podemos dizer que lidar com duas grandes instâncias e mundo exterior pode ser penoso para o Ego.
Se o Ego for frágil, possivelmente desenvolverá conflitos internos, e de acordo com a denominação
de Freud, psiconeuroses e neuroses atuais.

Quando os desejos do Id não são satisfeitos e as interdições do Superego são intensas, o Ego
desenvolve os denominados mecanismos de defesa sendo eles: o recalcamento, negação,
renegação/denegação/recusa, regressão, conversão orgânica, projeção, deslocamento,
racionalização, formação reativa e a sublimação. Essas são as formas como lidamos com a não
realização do desejo, com uma fantasia ou evento traumático, entretanto, a forma mais eficaz é com
o tratamento clínico psicanalítico, pois, é a forma correta e funcional de se tratar as denominadas
“psiconeuroses e neuroses atuais”, o aprofundamento da causa da queixa do sujeito e sua queixa
em si.

Por fim, podemos dizer que Freud nos proporcionou uma sistematização fundamental do
inconsciente e suas demais teorias, indo ainda mais além, criando um método de tratamento eficaz
e preciso por meio da associação livre, elucidou a nós a ética psicanalítica (tripé) teoria, análise
pessoal e supervisão. Por meio de seu trabalho, outros teóricos puderam criar ainda mais teorias
relacionadas a psicanálise e sofrimento do sujeito ou do sujeito em sociedade. Em sua teoria base,
vemos a relação entra cada uma das instâncias psíquicas presentes no aparelho psíquico, a
complexidade e a importância da interpretação dos sonhos, o desenvolvimento da compreensão das
neuroses até os dias atuais e a formação dos mecanismos de defesa do Ego. Para finalizar, termino
com uma frase do escrito de Freud: “todas as neuroses representam uma defesa contra ideias
insuportáveis” - As neuropsicoses de defesa (1894).

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