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Silva TCMF, Marcolan JF. Preconceito aos indivíduos com transtorno mental...
ARTIGO ORIGINAL
PRECONCEITO AOS INDIVÍDUOS COM TRANSTORNO MENTAL COMO AGRAVO
DO SOFRIMENTO
PREVENTING INDIVIDUALS WITH MENTAL DISORDERS AS A GRIEVANCE OF SUFFERING
PERJUICIO A LOS INDIVIDUOS CON TRANSTORNO MENTAL COMO AGRAVO DEL SUFRIMIENTO
Talita Cristina Marques Franco Silva1, João Fernando Marcolan2
RESUMO
Objetivo: analisar a percepção dos indivíduos com transtornos mentais sobre o preconceito, fatores,
sofrimento psíquico gerado e o enfrentamento. Método: estudo qualitativo, exploratório e descritivo. Foram
entrevistados, com a aplicação de questionário semiestruturado, 21 participantes atendidos em uma Unidade
Básica de Saúde. O processamento e a análise de dados se deram a partir da pré-análise, exploração do
material, tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Resultados: o preconceito e o estigma
vieram dos diversos atores e contextos sociais, sendo que o advindo do meio familiar causou maior sofrimento
ou agravo ao quadro instalado. Conclusão: os participantes relataram o sofrimento causado pelo preconceito.
A falta de conhecimento sobre o transtorno mental foi a principal causa do preconceito e o enfrentamento
ocorreu por meio de isolamento social, atividades laborais ou cotidianas. Este estudo traz à luz dados acerca
da temática do preconceito e sofrimento mental e contribui para formular mudanças na formação e na prática
dos profissionais envolvidos no atendimento com a finalidade de diminuição do preconceito, do estigma e do
sofrimento psíquico. Descritores: Transtornos Mentais; Preconceito; Estigma Social; Saúde Mental; Saúde
Coletiva; Enfermagem.
ABSTRACT
Objective: to analyze the perception of the individuals with mental disorders on the prejudice, factors,
psychic suffering generated and the confrontation. Method: qualitative, exploratory and descriptive study. A
total of 21 participants were interviewed using a semi-structured questionnaire. Data processing and analysis
were based on pre-analysis, material exploration, treatment of results, inference and interpretation. Results:
prejudice and stigma came from the various actors and social contexts, and the coming from the family
environment caused greater suffering or aggravation to the installed picture. Conclusion: participants
reported the suffering caused by prejudice. Lack of knowledge about mental disorder was the main cause of
prejudice and confrontation occurred through social isolation, work or daily activities. This study brings to
light data on the subject of prejudice and mental suffering and contributes to formulate changes in the
training and practice of the professionals involved in care for the purpose of reducing prejudice, stigma and
psychological distress. Descriptors: Mental Disorders; Preconception; Social Stigma; Mental health; Collective
Health; Nursing.
RESUMEN
Objetivo: analizar la percepción de los individuos con trastornos mentales sobre el perjuicio, factores,
sufrimiento psíquico generado y el enfrentamiento. Método: estudio cualitativo, exploratorio y descriptivo.
Se entrevistaron, con la aplicación de cuestionario semiestructurado, 21 participantes atendidos en una
Unidad Básica de Salud. El procesamiento y el análisis de datos se dieron a partir del pre-análisis, explotación
del material, tratamiento de los resultados, inferencia e interpretación. Resultados: el Perjuicio y el estigma
vinieron de los diversos actores y contextos sociales, siendo que el proveniente del medio familiar causó
mayor sufrimiento o agravo al cuadro instalado. Conclusión: los participantes relataron el sufrimiento
causado por el prejuicio. La falta de conocimiento sobre el trastorno mental fue la principal causa del
prejuicio y el enfrentamiento ocurrió por medio de aislamiento social, actividades laborales o cotidianas. Este
estudio trae a la luz datos sobre la temática del prejuicio y sufrimiento mental y contribuye a formular
cambios en la formación y en la práctica de los profesionales involucrados en la atención con la finalidad de
disminución del prejuicio, del estigma y del sufrimiento psíquico. Descritores: Trastornos Mentales; Prejuicio;
Estigma Social; Salud Mental; Salud Colectiva; Enfermeria.
1
Mestra, Universidade do Oeste Paulista/UNOESTE. Presidente Prudente (SP), Brasil. E-mail: tali.franco2000@gmail.com ORCID iD:
https://orcid.org/0000-0001-8625-2468; 2Doutor (Pós-Doutor), Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP. São Paulo (SP), Brasil. E-mail:
jfmarcolan@uol.com.br ORCID iD: https://orcid.org/0000-0001-8881-7311
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Rev enferm UFPE on line., Recife, 12(8):2089-98, ago., 2018 2089
ISSN: 1981-8963 https://doi.org/10.5205/1981-8963-v12i8a234776p2089-2098-2018
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preconceituosa, não aceitaram o transtorno opinião dos outros...não faz diferença para
mental ou fingiram que nada acontecia ao seu mim, não sofro com isso não, sei lidar como
redor. tudo isso hoje. (E2)
[...] sentia, assim, rejeição de família, sei Procurou-se a religião, pelos participantes,
que sempre existem os mais prediletos; como meio para o aumento da esperança em
sentia que só era útil trabalhando, uma possível cura e para o alívio do
limpando, se não tivesse fazendo nada, não sofrimento.
presto, não tenho valor...acho que família
Levanto a cabeça e vou para igreja, escuto a
foi uma causadora, acho, dos meus
palavra de Deus no rádio durante a semana
problemas. (E11)
e é difícil. Às vezes, fico também limpando
A gente fica muito triste, se sente inferior,
as coisas, mesmo tendo limpado antes, fico
fico pensando que queria voltar igual era
limpando de novo. (E7)
antes porque, se tudo voltasse ao normal...,
O único lugar que não parei de ir foi na
não receberia preconceito de ninguém, o
igreja....a melhor atitude que tomei é ir
preconceito prejudica muito mais no
para igreja e ocupar a cabeça para tentar
tratamento. (E15)
ter uma vida melhor, é isso. (E8)
Rejeitada, diminuída, desprezada e muito
Vou à igreja e procuro muito Deus porque,
triste viu saber que a própria família tem
se não fosse minha fé em Deus, não sei o
preconceito da gente. (E21)
que seria, então, minha fé me ajudou
Unidade temática 2 – Enfrentamento do muito. (E13)
sofrimento promovido pelo preconceito Afirma-se, por fim, que alguns
Lembra-se que a maioria dos participantes participantes entenderam o tratamento
afirmou que acreditava na fuga e isolamento médico como solução e enfrentamento dos
como alternativa para não se expor ao problemas, apesar de que alguns somente
preconceito. Alguns afirmaram, ainda, que procuraram ajuda médica nos momentos de
essa foi a atitude correta e o único mecanismo crise. Ainda, que alguns participantes
para o enfrentamento do preconceito, uma sentiram a expectativa pela mudança de
vez que não estariam a se expor ainda mais conceitos por parte da sociedade e outros
para o sofrimento. gostariam que ocorresse o fim do preconceito
Fico só dentro de casa sem passeio, sem sair e ansiavam por programas de socialização e
na rua; se eu ver gente, já fujo, fecho a inserção no mercado de trabalho.
porta do meu quarto, ali não quero nem os
Posso até ter uma revolta...de querer que a
filhos...Me escondo, fico dentro de casa,
sociedade seja um pouquinho mais
fico no meu quarto, evito visitas, já cheguei
inteligente ou pouquinho...mais
ao extremo de expulsar gente para fora da
observadora e deixar de ser um pouco
minha casa...não quero ver ninguém...fujo
ignorante. (E9)
das pessoas o tempo todo. (E4)
As pessoas são muito egoístas, deveriam
Não frequento mais os lugares pelo mudar este comportamento. (E16)
desprezo, exclusão e pelo medo de ser
Porque as pessoas tinham que ajudar mais
zombada pelas pessoas; a gente sente muita umas às outras, entendeu, e não ficar
vergonha da gente mesmo e, também, da zombando, criticando, é muito frustrante a
doença. (E6) gente ficar vendo isso, é muita falta de
Evidencia-se, ainda, que outros afirmaram compreensão mesmo com o próximo. (E 10)
que aprenderam a lidar com a situação e não Tornou-se o tempo aliado, para alguns
se preocupavam mais com os comentários e participantes, para o enfrentamento ao
olhares maldosos. Outra forma encontrada preconceito recebido e para aliviar as dores.
pelos participantes para enfrentarem o Dessa forma, relataram que a reação da
preconceito foi o envolvimento em trabalhos e sociedade não interferia mais no seu
atividades sociais ou a participação em grupos cotidiano, ou seja, viviam da maneira que
sociais ou religiosos. achavam melhor sem dar atenção ao que a
Agora, comecei a participar de um grupo de sociedade falava ou pensava a seu respeito.
mulheres que pintam telas e lá sou muito Agora, o preconceito já sofro faz muito
bem tratada, as professoras são carinhosas, tempo, então, sei lidar com
me sinto bem...mas tento buscar a Deus e isso...incomodou bastante antigamente,
estou me dando bem... faço também
mas, hoje em dia, não me incomoda
trabalho de pet shop, daí, me distraio e
não...agora, sofrimento psíquico gerado
procuro não ficar remoendo muito, também
procuro evitar lugares que não me faz bem pelo preconceito não, nem ligo para
e pessoas que não gostam de mim. (E1) isso, deixa as pessoas pensarem o que
Mas, com o tempo, você cria modos de quiser, não ligo que não trabalho, não
lidar com as coisas, depois que comecei a ligo que acham que sou louco,
tomar os remédios, não ligo muito para entendeu. (E14)
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justamente a ausência da atenção que deveria ser fator decisivo na diminuição e erradicação
ser melhor e mais humana por parte dos do preconceito em relação aos indivíduos com
profissionais responsáveis pelo tratamento.14 transtornos mentais. Para tanto, são
Considera-se que o trabalho em saúde necessários investimentos e conscientização.
mental deve resultar no atendimento às Mostra-se, por meio do sofrimento psíquico
principais necessidades do indivíduo. O relatado, que o alvo dos preconceituosos e dos
processo de atendimento à saúde mental não estigmatizadores não é propriamente a
pode ficar restrito a procedimentos técnicos, pessoa, mas, sim, as características que essas
mas deve atingir quesitos sobre prevenção, deixam evidenciar. Nada de se estranhar, pois
promoção, reabilitação, socialização e se está diante de uma sociedade
proteção. Tais profissionais devem atuar com contraditória, alvo fácil do preconceito, um
criticidade e inovação e ser agentes fenômeno que tem suas raízes alocadas nos
transformadores. No entanto, essa situação férteis solos sociais e psicológicos.20
está longe do desejado, pois se trata de Percebe-se que a sociedade se esquiva dos
momento de transição entre o que se assuntos relativos ao transtorno mental e não
considera a especificidade do agir técnico há iniciativa dos gestores públicos em
para o que se entende como satisfação das trabalhar no imaginário das pessoas para que
necessidades do indivíduo com transtorno as ideias estigmatizadoras do passado não
mental.15 venham resultar em preconceito e estigma.21
Requere-se, dos profissionais, ética no Adverte-se que há inúmeras dificuldades
cuidado e tratamento. No entanto, é comum enfrentadas por esses indivíduos,
esses profissionais cobrarem, da família, o principalmente quando desejavam ajudar nas
envolvimento e a aceitação do transtorno despesas da casa, pois se sentiam incapazes,
mental, mas eles mesmos não compreendem o demonstravam alterações de ânimo e humor,
sofrimento psíquico, muitas vezes, pela falta acusavam a baixa autoestima e sofriam com o
de capacitação, informação ou insegurança. estresse, a ansiedade e a vergonha de si
Muitos profissionais encontram dificuldades mesmos.22
devido à formação insuficiente e Destaca-se que algumas famílias não estão
16
inadequada. preparadas para protagonizar papéis no
Aponta-se que a escolarização é fase de processo de reabilitação dos indivíduos com
vital importância, pois serve de indicador de transtornos mentais e, em vez de ajudarem,
saúde mental, de desenvolvimento e aumentam o sofrimento e favorecem a
socialização, a ver a importância da escola no manifestação do preconceito e estigma.23
fator relacional e no desenvolvimento Entende-se, no entanto, que a família não
cognitivo e pedagógico. Nos casos dos pode ser culpabilizada pelos casos de
indivíduos com transtornos mentais, que manifestação de transtorno mental, pois
apresentaram algum tipo de transtorno deve-se levar em conta os contextos histórico,
mental em que houve a exclusão intelectual e social e cultural dessas famílias para que esse
social no ambiente escolar, sem o devido equívoco não seja cometido. Portanto, as
acompanhamento ou tratamento, os famílias também necessitam de ajuda para
problemas relativos à inserção na escola enfrentar essa situação, que sobrecarrega
foram se agravando, fato que deflagrou as toda essa estrutura social. Apoio é dado aos
diferenças e originou o preconceito e a indivíduos acometidos pelo transtorno mental,
discriminação.17 mas pouco ou nada de cuidado eficaz é
Entende-se que a escola deveria ser o local destinado às famílias desses indivíduos para
ideal para se explorar a diversidade, eliminar lidarem com a carência de recursos materiais,
a segregação e o preconceito. É espaço as dificuldades psicossociais, educacionais,
propício para a promoção e articulação, por financeiras, emocionais, de saúde e a
meio de ações que envolvam educação, mudança de rotina de toda a família.24
saúde, assistência social, para a Sabe-se que o preconceito piora a situação
conscientização a fim de antever e resolver os e, infelizmente, alguns familiares agem de
conflitos.18 forma preconceituosa, pois se furtam do dever
Compreende-se que a mídia é forte de ajudar. No entanto, as famílias sofrem
instrumento que move e molda a opinião devido às dificuldades materiais que se
pública, portanto, as informações em massa apresentam e ao despreparo e
podem contribuir para a manifestação do desconhecimento sobre o transtorno mental.
estigma e do preconceito.19 Considera-se que o autoisolamento é um
Propõe-se, por outro lado, que campanhas mal cronificador que piora a situação dos
em meios de comunicação de massa podem indivíduos com transtornos mentais, pois essa
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prática evidencia as fragilidades e o medo Orienta-se, porém, que somente isso não
pela reação da sociedade diante de sua garantirá o sucesso do processo, pois outras
situação. O constrangimento e o desconforto mudanças devem ocorrer, principalmente, no
são sentidos por esses indivíduos. O temor que tange aos profissionais envolvidos.
pela desmoralização leva esses indivíduos a se Julga-se que a criação dos serviços
esquivar de situações ou ambientes substitutivos surgiu como produto de algumas
provocando estresse ou comorbidade que dessas mudanças propostas pela Reforma
agravam ainda mais o quadro psicopatológico. Psiquiátrica, porém, mesmo consolidadas, elas
Portanto, o autoisolamento prejudica as ações não garantiram ainda a superação dos ideais e
de enfrentamento que poderiam ser colocadas práticas manicomiais que somente será
em prática pelos indivíduos com transtornos possível a partir do momento em que houver o
mentais.25 comprometimento dos profissionais, a
Valida-se, portanto, a tentativa dos participação mais efetiva e afetiva das
indivíduos com transtornos mentais em famílias e a destituição do legado manicomial
adaptarem-se ao meio em que vivem por meio por meio da urgente desconstrução do saber
de estratégias e ações de enfrentamento, social sobre a forma de ver e entender o
porém, verifica-se que o isolamento que os transtorno mental.28
indivíduos se propuseram a realizar e outras Tornar-se-á possível o efetivo combate ao
atitudes de enfrentamento não surtiram estigma e ao preconceito a partir do momento
efeito. Para alguns, isso ocorreu no curto em que houver a maior incidência de
prazo e o isolamento, por um lado, os afastou campanhas de informação e conscientização e
dos agentes estressores levando à piora do políticas públicas a fim de educar e informar a
quadro quanto à afetividade gregária. sociedade quanto à natureza, ao grau e ao
Aponta-se que as atividades desenvolvidas impacto dos males que o estigma e o
pelos participantes são importantes, pois preconceito provocam nos indivíduos com
contribuem para a melhora na qualidade de transtornos mentais, a dissipar mitos e
vida desses, para a reinserção psicossocial e incentivar atitudes e comportamentos mais
reconstrução de sua rede social. Por si só, positivos.29
podem auxiliar no alívio das perdas e Acredita-se que conceitos e preconceitos
prejuízos psíquicos gerados pelo preconceito e devem sofrer alterações drásticas por parte da
estigma. sociedade e do sistema de saúde mental. O
Informa-se que os indivíduos com pensar e a forma de cuidar os indivíduos com
transtornos mentais também fazem uso do transtornos mentais devem passar por
coping como estratégia para o enfrentamento transformações. Somente assim esses
dos eventos produtores de estresse, por indivíduos serão vistos como seres humanos
atitudes propositais, flexíveis e que levam em dignos de respeito e merecedores de viver
conta as aplicações e experiências que já integrados em sociedade tendo suas
foram bem-sucedidas.26 limitações respeitadas pelos seus
Adverte-se, porém, que o autoisolamento semelhantes.30
impede o uso do coping, pois essa prática Evidencia-se que falta vontade política dos
evidencia as fragilidades dos indivíduos com gestores para desenvolver campanhas para
transtornos mentais e os seus medos pela diminuir com o preconceito e estigma
reação da sociedade.25 relativos aos indivíduos com transtorno mental
Lembra-se que alguns participantes buscam na linha de investimento utilizado em
alívio por meio da fé como uma tentativa de campanhas de conscientização sobre
valorização e respeito e resgate da prevenção a outras doenças.
autoestima.27 Elencam-se, como limitações do estudo, as
Percebe-se, no entanto, que as práticas e o dificuldades para a coleta de dados derivadas
convívio no ambiente religioso não surtiram o do quadro de cronificação de alguns
efeito desejado, pois o preconceito também participantes.
foi sentido nesse contexto social.
CONCLUSÃO
Defende-se que o tratamento é
imprescindível para a estabilização do quadro Revela-se que todos os participantes
dos indivíduos com transtornos mentais e é relataram o sofrimento causado pelo
importante que esses indivíduos desejem o preconceito e estigma recebidos por parte dos
acompanhamento e a participação de seus grupos sociais nos diferentes contextos tais
familiares, o que dará segurança durante o como o familiar, o religioso, o laboral, o
processo proporcionando um ambiente de escolar e no ambiente de tratamento. Todos
confiança. relataram que se sentiram inferiorizados,
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