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PSICOPATOLOGIA
NA INFÂNCIA E
ADOLESCÊNCIA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................3
DEFICIÊNCIA MENTAL.....................................................................................................................5
TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO..............................................................8
TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM...................................................14
TRANSTORNO ESPECÍFICO DA ARTICULAÇÃO DA FALA......................................................14
TRANSTORNO EXPRESSIVO DE LINGUAGEM...........................................................................14
TRANSTORNO RECEPTIVO DA LINGUAGEM.............................................................................14
AFASIA ADQUIRIDA COM EPILEPSIA [SÍNDROME DE LANDAU-KLEFFNER].....................15
TRANSTORNOS DE ESCOLARIDADE...........................................................................................15
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM..................................15
TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM E SEUS SUBTIPOS.........................................................17
PREVALÊNCIA..................................................................................................................................18
PROBLEMAS ESCOLARES QUE “SIMULAM” OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM18
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO................................................................................................19
ESQUIZOFRENIA INFANTIL...........................................................................................................19
PREVALÊNCIA E EPIDEMIOLOGIA...............................................................................................22
SINTOMATOLOGIA..........................................................................................................................23
Formas Clínicas....................................................................................................................................29
TDAH..................................................................................................................................................39
SUBSTRATO NEUROBIOLÓGICO..................................................................................................41
TRANSTORNOS ANSIOSOS.............................................................................................................57
FOBIA..................................................................................................................................................59
TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA......................................................................62
ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO........................................................................................................64
TRANSTORNO DO PÂNICO.............................................................................................................65
TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO.....................................................................68
TRANSTORNOS ALIMENTARES....................................................................................................72
ANOREXIA NERVOSA.....................................................................................................................73
OBESIDADE.......................................................................................................................................84
OBESIDADE PSIQUIÁTRICA...........................................................................................................85
REFERÊNCIAS...................................................................................................................................89
INTRODUÇÃO
EPIDEMIOLOGIA
Como a maioria dos problemas psiquiátricos, em nosso meio não há estudos que
definam sua frequência populacional. Por isso, temos que nos ater a dados projetivos,
organizados e coletados em outras realidades e sem que, a nosso ver, possam ser projetados de
forma adequada para o nosso meio.
As melhores estimativas de deficiência mental, com quociente intelectual abaixo de
50, realizadas em países desenvolvidos, sugerem uma prevalência ao redor de 3 a 4: 1.000
pessoas (OMS, 1985).
ETIOLOGIA
A etiologia da deficiência mental é variável, podendo, de modo geral, ser subdividida
da seguinte maneira, segundo a OMS, 1968:
Fatores Antes da Concepção
Fatores que atuam antes da concepção envolvem causas genéticas e ambientais,
consistindo nos aspectos mais importantes na gênese da deficiência mental, a exemplo do que
cita Kuo-Tai (1988), com cifras da ordem de 50% da população estudada por esse autor.
Fatores Genéticos
Entre os fatores genéticos há os que estão relacionados a um único gene e os que se
devem a vários (CUNHA, 1992).
Fatores Químicos
Estes são representados principalmente pela ação de fatores tóxicos que provocam
lesão cerebral na criança. O próprio oxigênio, usados frequentemente na reanimação de
crianças recém-nascidas, está relacionado à fibroplasia retroletal, causadora de intenso deficit
visual. Do mesmo modo, são descritas intoxicações por chumbo pós-ingestão de alimentos
que o contenha (STERN, 1972).
Fatores Nutricionais
Privações diversas podendo ser estas sensoriais, sociais, familiares.
Sendo necessário serem vistas com bastante cuidado, pois se sobrepõem diversos
outros fatores causais, tornando-se quase impossível a sua separação.
DIAGNÓSTICO
As crianças com deficiência mental têm de ser submetidas a uma bateria de
avaliações que possibilite o esclarecimento da provável etiologia do quadro.
CLASSIFICAÇÃO
A classificação da deficiência mental também é ampla, uma vez que ela não
corresponde a uma ruptura no desenvolvimento intelectual do indivíduo, estabelecendo,
assim, um conceito de patologia.
EPIDEMIOLOGIA
Inicialmente a prevalência do autismo era estimada em 4 a 5: 10.000 pessoas, porém
recentes estudos chegam aos índices da ordem de 2: 1.000 pessoas apresentando a tríade de
deficit social, comunicacional e de atividade imaginativa (BRYSON, 1997).
DIAGNÓSTICO
Autismo
Em relação à sua inteligência são poucas as crianças autistas com inteligência normal
ou acima da média que podem apresentar altas habilidades acadêmicas e serem confundidas
com superdotadas. No autismo infantil, a criança sempre apresenta o QI executivo maior que
o QI verbal - WISC.
Síndrome de Aspenger
Descrita por Aspenger em 1994, sob a designação “psicopatia autística”,
correspondendo a um quadro caracterizado por deficit na sociabilidade, interesses
circunscritos, deficit de linguagem e na comunicação (BOWMAN, 1988; SZATAMARI,
1991).
Alguns sintomas de Asperger são: QI verbal maior do que o QI executivo (WISC);
inteligência normal ou alta; dificuldade de interação social e empatia com pedantismo na fala;
interpretação muito literal da linguagem; dificuldade com mudanças, perseveração em
comportamentos estereotipados; alguns são hiperléxicos.
Transtornos Desintegrativos
Síndrome de Rett
Esse transtorno foi identificado em 1966 por Andréas Rett, mas somente após o
trabalho de Hagberg tornou-se mais conhecido. Nesse mesmo trabalho foi proposto
o epônimo síndrome de Rett (SR). A descrição original de Rett enfatizava a deterioração
neuromotora, predominância em mulheres, sinais e sintomas particulares, a presença de
hiperamonemia, tendo sido denominada “Atrofia Cerebral Associada à Hiperamonemia”.
A perda dos movimentos propositais das mãos, a torção estereotipada das mãos e a
hiperventilação são características deste transtorno. O desenvolvimento social e o
desenvolvimento lúdico estão detidos enquanto o interesse social continua em geral
conservado. A partir da idade de quatro anos manifesta-se uma ataxia do tronco e uma
apraxia, seguidas frequentemente por movimentos coreoatetósicos. O transtorno leva quase
sempre a um retardo mental grave (CID10).
TRATAMENTO
Uma vez diagnosticado um caso de criança com um transtorno autístico, deve- se
priorizar as técnicas pedagógicas de tratamento e a orientação aos pais e familiares. Um dos
principais objetivos do tratamento destas crianças é o desenvolvimento de suas aptidões e
habilidades linguísticas e de comunicação, visando sua maior autonomia.
A abordagem terapêutica nesses quadros deve englobar, segundo Rutter (1994):
cuidados médicos e tratamento das condições médicas, quando presentes.
Educação Especial:
Classes ou escolas especializadas;
Serviços auxiliares e outros recursos pedagógicos.
Suporte Familiar:
Métodos comportamentais;
TRANSTORNOS DE ESCOLARIDADE
Uma criança pode ter dificuldades para aprender por vários motivos: retardo mental,
paralisia cerebral, epilepsia e prejuízos sensoriais podem interferir no processo de
aprendizagem. Neste capítulo estudaremos a criança cuja dificuldade de aprendizagem não
seja resultado direto dessas ou de outras condições incapacitantes ou privações. Ao contrário,
elas apresentam prejuízos em algum aspecto do desenvolvimento visuo perceptivo e da
linguagem, que interferem na aprendizagem.
Algumas crianças que não são portadoras desses transtornos podem apresentar
dificuldades na aprendizagem escolar como consequência de outros problemas ao longo do
desenvolvimento, tais como doenças crônicas, problemas psicossociais, carências globais,
dentre outros. Alterações agudas do SNC, como meningite, encefalite e traumatismos
cranioencefálicos podem prejudicar o desenvolvimento e acarretar dificuldades na
aprendizagem.
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO
ESQUIZOFRENIA INFANTIL
Não existe um quadro típico de esquizofrenia da infância. Trata-se daquela que surge
sob a base de uma personalidade em desenvolvimento.
Assim, os sintomas desta sofrem modificações em sua expressão clínica em função do
grau da evolução do aparelho psíquico da criança, bem como do acesso do clínico ao
sofrimento infantil por meio do exame mental.
HISTÓRICO
À luz da importante obra de Bleuler (1968) sobre as Esquizofrenias, Potter (1933)
descreveu um novo quadro psicopatológico, a Esquizofrenia Infantil. Segundo o autor, as
crianças, assim como os adultos, rompem repentinamente o contato com a realidade, depois
de um período de desenvolvimento normal, e preservam uma vida interior fantasiosa e
criativa, porém privada e isolada.
Com os trabalhos posteriores de Bender (1947), Bradley (1941), e, em especial, Léo
Kanner (1954) – autor da Síndrome do Autismo Infantil Precoce –a noção de autismo na vida
infantil ganhou outra significação. Kanner, em particular, estabeleceu uma distinção
importante entre a Esquizofrenia Infantil e o Autismo Infantil Precoce.
DEFINIÇÃO
PREVALÊNCIA E EPIDEMIOLOGIA
ETIOPATOGENIA
• Fatores Genéticos;
• Neuroquímica;
• Neurodesenvolvimento.
HISTÓRIA PRÉ-MÓRBIDA
Hollis (1995) descreveu que pacientes com início precoce da esquizofrenia, ou seja,
antes da idade dos 13 anos apresentam mais atrasos no desenvolvimento e dificuldades pré-
mórbidas nas áreas sociais, da linguagem e motora, do que os pacientes com início tardio.
Esses pacientes apresentam pior desenvolvimento pré-mórbido (CANNON, SPOOR,
1982), particularmente nas áreas do desenvolvimento social e da linguagem (DONE, 1994;
JONES, 1994), e pacientes com início precoce da esquizofrenia indicam semelhantes
anormalidades, porém mais acentuadas (ALAGHBAND, 1995; HOLLIS, 1995).
SINTOMATOLOGIA
EVOLUÇÃO
Esta, quando em crianças, segundo Grünspun (1987) é um quadro grave, com mau
prognóstico, na maioria dos casos; incide numa personalidade que ainda não está
completamente desenvolvida e bloqueia o processo de desenvolvimento dessa personalidade,
por isto, considera-se que a gravidade é menor quando mais “velha” está a criança, pelas
defesas que já têm estruturadas.
Os quadros esquizofrênicos de início agudo, quando surgem perto da adolescência,
têm prognóstico mais favorável, especialmente quando a personalidade se desenvolveu de
forma satisfatória. A esquizofrenia sempre evolui das formas de melhor prognóstico para as
formas de melhor prognóstico.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Os sintomas psicóticos podem ocorrer numa série de transtornos na infância, onde
devemos considerar aspectos como:
TRATAMENTO
TRANSTORNOS DO HUMOR
DEPRESSÃO
O reconhecimento de transtornos depressivos na infância ocorreu no final da década de
60, quando surgiram então três conceitos:
Sintomas depressivos análogos aos dos adultos não existem;
A depressão manifesta-se por sintomas específicos nessa faixa etária;
A sintomatologia depressiva surge mascarada por outros sintomas ou
síndromes, tais como hiperatividade, enurese, encoprese, deficit de aprendizagem e
transtorno de conduta.
A depressão pode estar presente na forma de sintoma, síndrome, estado ou transtorno.
Há dois tipos de organização: a neurótica e a psicótica.
Não se utilizam atualmente a distinção útil e explicativa oferecida pelos termos
“depressão neurótica” e “depressão psicótica” (melancolia). Existe uma forte relação entre
ansiedade e depressão.
A depressão infantil não se traduz, invariavelmente, por tristeza e outros
sintomas típicos. As alterações cognitivas são, principalmente, relacionadas à atenção,
raciocínio e memória, estas interferem sobremaneira no rendimento escolar. Em pré-escolares
ocorre hiperatividade, agressividade; em escolares há dificuldades escolares, agressividade e
somatizações, principalmente dor na barriga e dor de cabeça; em pré-adolescentes surge
agressividade, distúrbios das emoções
e conduta.
Nas crianças e adolescentes é comum a depressão ser acompanhada também de
sintomas físicos, tais como fadiga, perda de apetite, diminuição da atividade,
Diagnóstico
Um grande número de critérios diagnósticos tem sido utilizado nas últimas décadas,
buscando uma maior fidedignidade. Os mais importantes talvez sejam o The Research
Diagnostic Criteria (RDC) de Sptzer (PATAKI, 1990), o DSM III (APA, 1980), o DSM III-R
(APA, 1989) e, atualmente, o DSMIV (APA, 1993) e a CID-10 (OMS, 1993).
Ao estudarmos a criança, nem sempre a encontramos referindo sintomas que
descrevam seu estado interno; com frequência, ela relata somente tristeza ou solidão, de modo
pouco claro e inespecífico, isso em função da dependência do seu desenvolvimento cognitivo
para a identificação dos próprios sentimentos.
As súbitas mudanças de conduta da criança são de extrema importância pelo caráter
episódico, tendo que ser consideradas, principalmente, quando são abruptas, e se ocorrem de
modo inexplicável.
Crianças antes adequadas e adaptadas socialmente passam a apresentar irritabilidade,
destrutividade e agressividade, com violação de regras sociais anteriormente aceitas. Esse
comportamento pode ser decorrente de alterações de humor tipo disfórico e aparenta ser um
dos sinais mais importantes para o diagnóstico, uma vez que, pela sua heteronomia, a criança
é levada ao psiquiatra da infância muito mais por suas condutas do que por seu próprio
sofrimento.
As disforias podem ser descritas pelos pacientes como ansiedade, irritabilidade,
tristeza ou mesmo como uma combinação desses afetos. Nas disforias
Alterações cognitivas:
Concentração, desatenção ou pensamento lentificado;
Indecisão.
Apetite/peso:
Redução do apetite;
Perda de peso;
Aumento do apetite;
Ganho de peso.
Embora tenhamos descrito de modo claro o quadro clínico das depressões, vale frisar
que é evidente que elas são, muitas vezes, mal diagnosticadas ou despercebidas. Tal fato
ocorre pela sua pequena especificidade na criança, pelo fato de seu diagnóstico diferencial
incluir vários problemas orgânicos, assim como outros quadros psiquiátricos (RUSH, 1990).
Da mesma maneira, o uso de determinadas drogas, utilizadas no tratamento de
algumas condições clínicas infantis, pode mimetizar quadros semelhantes.
Formas Clínicas
Primária-Secundária:
Tendo como base padrões causais compreensivos, estes se caracterizam pelo conceito
de depressão maior apresentado pelo DSM III.
Endógeno-Reativo:
Um Mecanismo Compreensivo
A criança é um ser singular que gradativamente vai construindo um mundo a partir de
seu desenvolvimento afetivo, diretamente relacionado com a interação que estabelece com os
outros indivíduos e pessoas, e de seu desenvolvimento cognitivo, que lhe fornece um
instrumental adequado para essas inter-relações. Dessa maneira, constrói gradativamente as
noções deEu, realidade, espaço e tempo, pilares fundamentais da existência. Entretanto,
somente com o advento do pensamento formal, na adolescência, é que inicia a construção de
projetos existenciais que, embora ainda incipientes, já são passíveis de orientar seu existir.
Na experiência depressiva podemos observar uma retração do Eu, independentemente
do momento da vida em que ela ocorre, devendo-se somente levar em consideração o
momento evolutivo, que delineará a patoplastia e, em consequência, a compreensibilidade da
sintomatologia. Com essa retração, diminui- se o contato com o ambiente, manifesto por meio
do desinteresse, da falta de reatividade, da anedonia e da fadiga constantes.
No caso da criança, essas limitações são acentuadas, uma vez que seu instrumento
cognitivo já lhe permite um horizonte limitado, sem a possibilidade de projetos futuros que
caracterizam a transcendência. Assim, seu mundo restrito basicamente à família e ao ambiente
escolar perde o sentido, caracterizando o pessimismo e a visão pessimista de um futuro que, já
por dificuldades instrumentais, é imprevisto.
Entretanto, diferentes são as possibilidades de compreensão dos quadros depressivos
na criança, de acordo com o modelo de desenvolvimento proposto por Dwivedi (1997):
Tratamento
A abordagem da depressão na criança e no adolescente é múltipla, visando a uma
compreensão do quadro e a uma intervenção sob o ponto de vista biológico, psicológico e
social. O plano de tratamento será, então, determinado pelas condições do paciente que, em
presença de risco de suicídio, será submetido à hospitalização.
MANIA
Evolução
O impacto da idade mais precoce no início dos transtornos bipolares ainda não é claro,
não se observando diferenças significativas, parecendo ser seu curso similar àquele observado
no adulto. Ao contrário, episódios de alcoolismo, o uso de drogas e doenças neurológicas
parece piorar esse desenvolvimento, aparentando mistos e de ciclagem rápida (PATAKI,
1990).
Tratamento
Os transtornos do humor são, por definição, um complexo clínico multifatorial e,
sendo assim, sua terapêutica deve ser orientada.
DEFINIÇÃO – CONSCIÊNCIA
Na visão da Neuropsicologia a consciência é vista no sentido de estado vigil, que de
certa forma iguala a consciência ao grau de clareza do sensório, aqui ela é fundamentalmente
o estado de estar desperto, acordado, vigil, lúcido. A definição psicológica conceitua como a
somatória das experiências conscientes de um indivíduo em um determinado momento; é a
dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade.
E, segundo a ética filosófica, que se utiliza mais frequentemente no campo da ética, da
filosofia, do direito ou da teologia; o termo consciência refere-se aqui à capacidade de tomar
ciência dos deveres éticos e assumir as responsabilidades, os direitos e deveres concernentes a
essa ética (DALGALARRONDO, 2000).
1° estágio:
1° mês;
“exercícios reflexos” – ponto de partida do desenvolvimento;
Assimilação de novos objetos.
3° estágio:
6 a 8-9 meses;
Formação de intenções a partir da estruturação de um esquema de
persistência de objeto;
Pega ativamente os objetos;
Esquema de causalidade;
Imita a fala dos adultos;
Vocaliza sílabas;
Entende quando chamada pelo nome;
Compreensão do “sinalizado não”;
Fase objetal (Spitz);
Posição depressiva (Klein);
Período do espelho (Lacan).
4° estágio:
8 a 12 meses;
Coordenação de esquemas secundários para situações novas – antecipação e
planejamento;
Melhor desenvolvimento da fala – compreensão de ordens simples;
Deambulação;
Processo de socialização familiar;
Início da estruturação real da consciência (Wallon).
3° estágio:
Coordenação entre visão e movimentos da mão; Reconhecimento tátil e
a preensão diferenciada dos objetos;
Percepção em profundidade, não mais restrita aos objetos próximos;
Formação de novos esquemas motores e novos hábitos a partir dos próprios reflexos;
Preensão-sucção, preensão comandada pela visão e a preensão fora do campo
visual.
4° estágio:
Exploração tátil mais ativa; Ampliação
da acomodação auditiva;
Início da percepção das funções espaciais;
Intencionalidade no comportamento motor;
Os movimentos exploratórios se amplificam e se relacionam com o objeto.
5° estágio:
Primeiros atos inteligentes – noção de permanência dos objetos;
Organização acústica;
Adequação da função visual permitindo a categorização dos objetos; Início
da função simbólica.
6° estágio:
Utilização de objetos e espaço de maneira mais elaborada;
Organização acústica – representação conceitual e esquemas abstratos. Funções
Afetivas
1° e 2° estágio:
Resposta afetiva basicamente homeostática, determinada pelas sensações de prazer-
desprazer corpóreo.
3° e 4° estágio:
Início da vinculação com o mundo externo, com investimento rico no mundo
animado, especialmente nas pessoas que cuidam da criança.
5° estágio:
Organização da resposta afetiva, por meio dos padrões emocionais, tornando- se mais
integrado e mais propositado em padrões causa-efeito.
Nas faixas etárias até os sete anos, podemos observar como principais fatores as lesões
prévias do Sistema Nervoso Central, encefalopatias tóxico- metabólicas, uso de drogas, como
antipsicóticos, antidepressivos, anticonvulsivantes ou outras drogas psiquiátricas, como
benzodiazepínicos, convulsões (KAUFFMAN, 1995), distúrbios do desenvolvimento, retardo
metal.
Rubinstein (1985) aponta como fatores importantes para pesquisa a história prévia de
trauma craniano seguido de perda da consciência, doenças perinatais, infecções bacterianas e
virais e tumores do SNC, desnutrição, erros inatos do metabolismo e tratamento
polifarmacológico.
TRATAMENTO
O tratamento orientado classicamente é o da correção da causa de base, com
manutenção das funções vitais e do estado nutricional, concomitantemente. O psiquiatra
consultor pode recomendar o uso moderado de drogas com ação do SNC, principalmente os
de ação sedativa, no sentido de proteger um parâmetro clínico importantíssimo, que é o nível
de consciência.
TDAH
EPIDEMIOLOGIA
Trata-se de um dos transtornos mentais mais frequentes nas crianças em idade escolar,
atingindo 3 a 5% delas. Apesar disto, o TDAH continua sendo um dos transtornos menos
conhecidos por profissionais da área da educação e mesmo entre os profissionais de saúde.
Falta ainda muita informação sobre esse problema (APA, 1994).
ETIOLOGIA
O TDAH é uma síndrome heterogênea; logo, a etiologia é multifatorial, dependendo
de:
• Fatores Genético-Familiares;
SUBSTRATO NEUROBIOLÓGICO
QUADRO CLÍNICO
A tríade sintomatológica clássica da síndrome caracteriza-se por desatenção,
hiperatividade e impulsividade. Independente do sistema classificatório utilizado.
• Desatenção:
Dificuldade de prestar atenção em detalhes ou errar por descuido em
atividades escolares e de trabalho;
Dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
Parecer não escutar quando lhe dirigem a palavra;
Não seguir instruções e não terminar tarefas escolares, domésticas ou deveres
profissionais;
• Impulsividade:
Frequentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido
completadas;
Tem dificuldade para aguardar sua vez;
Interrompe ou se mete em assuntos de outros (APA, 1994).
DIAGNÓSTICO
Endócrina Hipertireoidismo;
EVOLUÇÃO
Antigamente, acreditava-se que todas as crianças com o transtorno superavam os
sintomas com a chegada da puberdade, porém os estudos mais recentes mostram uma
persistência do diagnóstico em cerca de 70-85% dos casos da adolescência inicial à
intermediária. Atualmente, cada vez mais, admite-se a existência do TDA-H em adultos
(ROHDE, 1998).
TRATAMENTO
O tratamento do TDAH envolve uma abordagem múltipla, englobando intervenções
psicossociais e psicofarmacológicas (SPENCER, 1996).
EPIDEMIOLOGIA
No Canadá, o transtorno da conduta atinge 5,5% dos indivíduos da população geral
com idade entre 4-16 anos, com taxas variando de 1,8% (meninas de 4-11 anos) a 10,4%
(meninos de 12-16 anos). O transtorno da conduta é mais frequente no sexo masculino,
independentemente da idade, e em crianças maiores (12-16 anos) comparadas às menores (4-
11 anos), independentemente do sexo (OFFORD, 1989; 1991).
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico tem como base a presença de condutas do seguinte tipo: crueldade com
relação a outras pessoas ou a animais; manifestações excessivas de agressividade e de tirania;
condutas incendiárias; destruição dos bens de outrem; roubos; cabular aulas e fugir de casa;
mentiras repetidas; crises de birra e de
Especificar gravidade:
- Leve: poucos problemas de conduta, se existem, além daqueles exigidos para fazer o
diagnóstico, e os problemas de conduta causam apenas um dano pequeno a outros.
- Moderado: número de problemas de conduta e efeito sobre outros são
intermediários, entre “leve” e “severo”.
- Severo: muitos problemas de conduta além daqueles exigidos para fazer o
diagnóstico ou problemas de conduta que causam dano considerável a outros.
ETIOLOGIA
A etiologia do transtorno de conduta é provavelmente heterogênea, havendo um
consenso geral de que as vulnerabilidades neuropsiquiátricas intrínsecas associadas com
estressores ambientais específicos, em particular um ambiente familiar abusivo, podem
resultar em transtorno de conduta (VITIELLO, 1999). Entretanto, existem discussões sobre a
importância dos fatores:
• Fatores Parentais;
• Fatores Bioquímicos e Genéticos;
• Fatores Neurológicos e Psiquiátricos.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL/COMORBIDADE
É raro que este transtorno se apresente de forma pura, sendo que geralmente se
encontra associado a outros sintomas e transtornos. É difícil separar diagnóstico diferencial de
comorbidade, uma vez que pode coexistir transtorno de conduta com outros, e em casos
diversos podem ser sintomas secundários de outros quadros, como se fosse uma base para
outra psicopatologia se instalar como consequência das alterações de conduta (PRAXEDES,
1995).
• TDAH;
• Transtorno Desafiador Opositivo.
EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO
Os sintomas do transtorno da conduta surgem no período compreendido entre o início
da infância e a puberdade e podem persistir até a idade adulta (ROBINS, 1991). Quando se
iniciam antes dos 10 anos, se observa com maior frequência a
TRATAMENTO
Os tratamentos citados na literatura são bastante variados, incluindo intervenções junto
à família e à escola (por exemplo, psicoterapia familiar e individual, orientação de pais,
comunidades terapêuticas e treinamento de pais e professores em técnicas comportamentais).
Apesar de nenhum deles ser muito eficaz, principalmente como intervenção isolada, quanto
mais precocemente forem iniciados e mais jovem o paciente, melhores os resultados obtidos
(RUTTER, 1998). Salienta-se a importância das intervenções concomitantes e
complementares em longo prazo.
Na faixa etária dos três aos oito anos, alguns sintomas do transtorno desafiador de
oposição (por exemplo, irrita-se com facilidade, recusa-se a cumprir regras ou atender
solicitações dos adultos, perturba as pessoas deliberadamente) ou do transtorno da conduta
(por exemplo, fere animais, furta) costumam ser identificados, merecendo ações preventivas
junto à criança, aos seus pais e professores.
Muitas vezes, o foco do problema está no conflito entre pais e filhos.
Outras vezes, os pais estão demasiadamente envolvidos com problemas pessoais e
necessitam de apoio. Alguns pais precisam de ajuda para estabelecer limites e escolher
métodos mais apropriados para educar os filhos.
O contato com a escola também pode ser útil para resolver conflitos entre professores
e alunos e ajudar os professores a encontrar maneiras mais adequadas de lidar com as
dificuldades da criança.
Quanto mais jovem o paciente e menos graves os sintomas, maior a probabilidade do
indivíduo se beneficiar de uma psicoterapia. Quando se trata de adolescente que já cometeu
delitos, observa-se maior resistência à psicoterapia,
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO
EPIDEMIOLOGIA
Embora o Transtorno Obsessivo-Compulsivo anteriormente fosse considerado
relativamente raro na população geral, estudos comunitários mais recentes estimaram uma
prevalência durante a vida de 2,5% e uma prevalência anual de 1,5-2,1% (APA, 1993).
Aspectos Etiopatogênicos e Fisiopatológicos
Aspectos Neurobiológicos;
Aspectos Genéticos;
Aspectos Imunológicos Relacionados ao TOC.
As “manias”, alguns tiques e pensamentos absurdos que não saem da cabeça podem
fazer parte do quadro de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e, embora esse quadro
tenha geralmente início na adolescência ou começo da idade adulta, ele pode aparecer na
infância de forma tão comum quanto em adultos. A idade de início costuma ser um pouco
mais precoce nos homens, mas de qualquer forma, cerca de 33 a 50% dos pacientes com TOC
referem que o início do transtorno foi na infância ou adolescência.
O manual do DSM-IV recomenda como critérios para o diagnóstico do Transtorno
Obsessivo-Compulsivo a ocorrência do seguinte (APA, 1993):
Existem obsessões ou compulsões definidas pelas características abaixo:
• Pensamentos, impulsos ou imagens mentais recorrentes e persistentes
experimentados como emancipados da vontade, intrusos e inadequados, causando ansiedade
ou sofrimento. É claro que a criança tem dificuldades para entender o que está se passando
com ela;
• Esses pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas
com problemas da vida cotidiana. Isso quer dizer que a criança pode apresentar uma ideia de
contaminação completamente desvinculada de seu cotidiano;
• A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens, ou
neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. Às vezes a criança passa a repetir as
mesmas perguntas com a intenção de afastar pensamentos intrusivos e negativos;
• A pessoa reconhece que os pensamentos, impulsos ou imagens obsessivas são
produto de sua própria mente e que não consegue controlá-los. Essa característica pode não
aparecer em crianças muito novas por falta de uma consciência mais desenvolvida.
O conteúdo das obsessões não é muito variado, independente da cultura, ou seja, se a
ideia obsessiva é de contaminação, sujeira, germes, etc., ela tanto aparece na África ou na
Suécia. As ideias podem aparecer sob formas de pensamentos, frases,
Tratamento
O tratamento do TOC é multimodal, como ocorre com várias condições psiquiátricas
na infância e adolescência. O esquema mais adequado de tratamento irá incluir a intervenção
diretamente com a criança e orientação, terapia familiar e psicoeducacional sobre TOC para a
criança e às pessoas que lidam com ela.
Da mesma forma que em adultos, pacientes com TOC de início na infância e na
adolescência têm sido tratados com sucesso por meio da farmacoterapia e terapia cognitivo-
comportamental (TCC).
Evolução e Prognóstico
O curso do TOC costuma ser crônico flutuante ou em episódios recorrentes, com uma
minoria dos casos tendo um único episódio sem recorrência no futuro (APA, 1994).
TRANSTORNOS ANSIOSOS
Entre 6/7 e 12 anos de idade, por intermédio das interações sociais, estabelece- se que:
• O desenvolvimento da ansiedade não indica nem impede fatos ruins;
• Mecanismos de defesa podem auxiliar no enfrentamento da ansiedade;
• As ansiedades normais auxiliam o enfrentamento de futuras experiências
ansiosas;
FOBIA
FOBIA SOCIAL
É definida como um persistente e significativo medo de situações sociais ou do
desempenho social. Para crianças, deve-se levar em conta a competência relativa à fase do
desenvolvimento, onde a fobia social nestas pode se expressar pelos mesmos sintomas de
ansiedade, isto é, choro, paralisia, “chilique”, etc. Essas crianças geralmente evitam ir à lousa
em sala de aula, ou mesmo responder questões que lhes são dirigidas pela professora.
Evitam brincar em grupo e, por vezes, não conseguirem ir ao banheiro da escola com
medo que os outros a vejam.
Medo de ser exposto à observação atenta de outrem e que leva a evitar situações
sociais. As fobias sociais graves se acompanham habitualmente de uma perda da autoestima e
de um medo de ser criticado. As fobias sociais podem se manifestar por rubor, tremor das
mãos, náuseas ou desejo urgente de urinar, sendo que o paciente por vezes está convencido
que uma ou outra destas manifestações secundárias constitui seu problema primário. Os
sintomas podem evoluir para um ataque de pânico (OMS, 1993).
A prevalência, assim como o quadro de fobia social na infância, é pouco conhecida.
Um estudo realizado com aproximadamente mil adolescentes pontuou uma prevalência de
11% de fobia social (FEEHAN, 1994). A maioria do conhecimento decorre de estudos
retrospectivos de adultos com fobia social. Geralmente, o início da fobia social não ocorre
antes da puberdade (HERSOV, 1985), sendo mais frequente após a segunda metade da
adolescência (SOLYOM, 1986), e mais prevalente em meninos (COSTELLO, 1989).
Um ponto importante na fobia social é que esse transtorno, embora raramente
incapacitante, tem uma evolução crônica e com alto índice de comorbidade, inclusive para
abuso de substâncias (HOVENS, 1994). Apesar dos escassos estudos, evidências sugerem que
os mesmos mecanismos de defesa estariam presentes, tanto nos quadros de fobia social em
crianças, como em adultos.
A neurofisiologia deste transtorno não é bem entendida. A amígdala tem sido descrita
como uma região importante nesse processo, onde o tamanho desta, medida por ressonância
magnética, mostrou-se maior nessas crianças quando comparadas a um grupo-controle (DE
BELLIS, 2000).
A prevalência é estimada entre 3 e 5%, sendo mais frequente em crianças entre os sete
e os nove anos. Em torno de 50% dessas crianças apresentam comorbidade com algum outro
transtorno psiquiátrico, sendo mais comum com os outros transtornos de ansiedade e
depressão.
TRANSTORNO DO PÂNICO
TRATAMENTO
Como descrito, uma grande maioria dos casos com transtornos de ansiedade na
infância não irão procurar serviços de atendimento especializado, apresentando melhora ou
mesmo remissão espontânea. Além disso, alguns casos mais simples podem se beneficiar de
uma simples orientação dirigida à criança e aos pais. Procedimentos psicossociais têm sido
aplicados no tratamento dos transtornos de ansiedade: terapia cognitiva e comportamental,
terapia psicodinâmica, terapia suportiva, terapia familiar, ludoterapia, etc.
Apesar do pequeno número de trabalhos publicados em nosso meio, os recursos mais
frequentemente empregados são as terapias de base psicanalítica e as terapias familiares de
orientação psicodinâmica ou sistêmica.
Trabalhos americanos relatam uma predominância de terapias comportamentais com
excelentes respostas, principalmente nos casos de fobias simples e social (LIVINGSTON,
1991; KING, 1990; LABELLARTE, 1999). Técnicas de
Até tempos atrás, o estresse era tido como exclusividade dos adultos, sendo as crianças
imunes porque “elas não tinham problemas”. Entretanto, recentes pesquisas mostram que,
hoje em dia, elas também têm sido acometidas ou, como se suspeita, hoje em dia elas
passaram a merecer também atenção quanto ao seu conforto emocional.
Entre as principais situações relacionadas ao estresse infantil considera-se importante:
as perdas familiares, mudança de cidade ou escola, separação dos pais, brigas entre os pais,
violência doméstica, quando um dos pais bebe e fica violento, exigência exagerada de
desempenho escolar, social ou no esporte, nascimento de irmãos, doenças e hospitalização.
O estresse infantil pode ser físico e psicológico. Entre eles podemos encontrar:
pesadelos, ansiedade, impaciência, medo excessivo, choro excessivo, introversão súbita,
agressividade, desobediência, hipersensibilidade.
Sintomas físicos: diarreia crônica, tique nervoso, dores de cabeça, gagueira, tensão
muscular, bruxismo, falta de apetite, dores de barriga, náusea, xixi na cama à noite.
Na maioria das vezes o estresse infantil acomete crianças a partir dos seis anos de
idade e, com frequência, é primeiramente suspeitado quando começam os problemas de
adaptação na escola. Pode ainda se manifestar como agravamento de quadros preexistentes,
como por exemplo, asma, obesidade, problemas de pele, alergias, recaídas de gripes e
resfriados. Uma criança estressada pode ser preditiva de futuro quadro depressivo na
adolescência, de futura dificuldade de adaptação e autoestima rebaixada.
Classificação
Os dois maiores sistemas de Classificação de Doenças Psiquiátricas, a CID-10 (WHO,
1990) e o DSM-IV (APA, 1994), incluem em seu eixo I (concorrente a distúrbios
psiquiátricos) quadros diretamente ligados à ansiedade e ao medo na infância.
Epidemiologia
Estudos comunitários revelam uma prevalência durante a vida do Transtorno de
Estresse Pós-Traumático variando de 1 a 14%, estando a variabilidade relacionada aos
métodos de determinação e à população amostrada. Estudos de indivíduos de risco (por
exemplo, veteranos de guerra, vítimas de erupções vulcânicas ou violência criminal) cederam
taxas de prevalência variando de 3 a 58% (APA, 1994).
Etiologia
• Teoria Biológica das Emoções;
• Sistema Límbico;
• Neurofisiologia e Comportamento Humano: medo e ansiedade.
Quadro Clínico
O estado de ansiedade caracteriza-se por sensações psíquicas características,
acompanhadas de diversas manifestações orgânicas. Do ponto de vista psíquico, a principal
manifestação de ansiedade é descrita como uma sensação inespecífica, vaga, da existência de
algum tipo de ameaça ao nosso bem-estar. A inquietante sensação de que “algo está para
acontecer” tanto pode estar ligada a situações a serem enfrentadas no dia a dia, como à
véspera de uma prova, um novo emprego, uma mudança de casa, uma viagem, quanto pode
ocorrer sem nenhuma causa objetiva aparente.
ANOREXIA NERVOSA
A anorexia nervosa caracteriza-se por perda de peso intensa à custa de dietas rígidas
autoimpostas em busca desenfreada da magreza, distorção da imagem corporal e amenorreia.
William Gull, no ano de 1874, descreve três pacientes com quadro anoréxico restritivo,
cunhando o termo “apepsia histérica”. O quadro clínico incluía emagrecimento, amenorreia,
bradicardia, baixa temperatura corporal, edema nos membros inferiores, obstipação e cianose
periférica (ABREU & CORDÁS, no prelo).
Brunch (1962), nos anos 1960 e 1970, foi o primeiro autor a mencionar a distorção da
imagem corporal vista como um distúrbio da paciente com anorexia nervosa na percepção de
seu corpo. A partir de 1970, pacientes avaliadas clinicamente demonstravam um receio
exagerado de ganhar peso, sendo este o primeiro passo para incorporar o “medo mórbido de
engordar” como característica psicopatológica da anorexia nervosa, juntamente com o
emagrecimento, a distorção da imagem corporal e a amenorreia (RUSSELL,1970).
Aspectos Clínicos
Critérios Diagnósticos
Diagnóstico Diferencial
Outras possíveis causas de perda significativa de peso devem ser consideradas no
diagnóstico diferencial de Anorexia Nervosa, especialmente quando as características
apresentadas são atípicas (tais como início da doença após os 40 anos).
Em condições médicas gerais (por exemplo, doença gastrintestinal, tumores cerebrais,
condições malignas ocultas e síndrome de imunodeficiência adquirida [AIDS]) pode ocorrer
séria perda de peso, mas os indivíduos com esses transtornos em geral não têm uma imagem
distorcida de seus corpos e um desejo de perder ainda mais peso (APA, 1994).
A síndrome da artéria mesentérica superior (caracterizada por vômitos pós- prandiais
secundários à obstrução intermitente da saída gástrica) deve ser diferenciada da Anorexia
Nervosa, embora esta síndrome possa ocasionalmente se desenvolver em indivíduos com
Anorexia Nervosa, em razão de seu estado emaciado. No Transtorno Depressivo Maior pode
ocorrer uma severa perda de peso, mas a maioria dos indivíduos com Transtorno Depressivo
Maior não tem um desejo excessivo de perder peso ou um medo excessivo de ganhar peso.
Epidemiologia
Estudos sobre a prevalência entre mulheres na adolescência tardia e início da idade
adulta verificam taxas de 0,5 a 1,0%, para apresentações que satisfazem todos os critérios
para Anorexia Nervosa. Indivíduos que não atingem o limiar para o
Imagem Corpórea
Por meio do personagem Peter Pan, dos contos infantis de James M. Barrie, “o menino
que não podia crescer” (DARTON, 1974), torna-se possível entendermos melhor as
anoréxicas. A respeito da vida de Barrie Lurie (1990) e Danton (1974) retratam que ele seria
um anoréxico. Peter Pan confirma o desejo íntimo de Barrie em ser uma eterna criança, de
maneira similar às anoréxicas, em sua luta diuturna para perder peso, acabando por não
apresentar os caracteres sexuais secundários e mantendo, dessa forma, uma identidade infantil.
Como corolário ao exposto, teve-se oportunidade de comprovar, dentro do Serviço de
Psiquiatria Infantil e da Adolescência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de
São Paulo (SEPIA-IPq-HC-FMUSP), que 10 pacientes anoréxicas submetidas à psicoterapia
manifestam, durante o tratamento, o desejo de estar com idades entre sete e 10 anos. Para
Bruch (1975), o corpo é experimentado
Família
A família da anoréxica apresenta como traço marcante, segundo Heron (1984), a falta
de limites entre os membros que a compõem, não se respeitando a identidade individual.
Ajuriaguerra (1976) afirma serem lares de excelentes condições econômicas, com
características peculiares de tendências perfeccionistas: preocupações estéticas e padrões
alimentares.
Porém, quanto ao último item assinalado, impõem-se regras e pseudoconceitos
nutricionais, não coincidindo com as reais necessidades do indivíduo.
A mãe, normalmente ligada a atividades profissionais de livre iniciativa, de grande
capacidade laborativa, tem dentro de sua casa uma presença marcante, procurando ter controle
total de tudo e todos (de maneira discreta) e dirigindo suas preocupações à aparência física, no
concernente à beleza. É evidente, com o perfil descrito, que a mãe desempenha um papel
castrador, inibindo sua filha de adquirir identidade.
O pai é, em regra, pessoa bem-sucedida profissionalmente, mas com participação
afetiva muito discreta ou mesmo ausente no âmago familiar, como bem ressalta Bruch (1975).
Quando seus familiares necessitam de ajuda no âmbito emocional, permanece sempre na
superficialidade. Bleuler (1971) salienta o fato de o pai participar de aventuras extraconjugais,
frustrando dessa forma a mãe, que procura em sua filha uma aliada contra seu cônjuge.
Psicodinâmica
Na anorexia nervosa, para Gabbard (1992), seria como se o corpo não pertencesse às
anoréxicas, e sim aos seus pais, não havendo individualidade.
Etiologia
• Hereditariedade;
• Fatores psicológicos e socioculturais;
• Transtornos mentais associados.
Terapêutica
Cordás (1995) compartilha a necessidade de tratamento hospitalar, já descrito por
Flaherty (1990), porém com parcimônia e cautela, administrando dieta hipercalórica, mesmo
contra a vontade da paciente, caso se faça necessário. Durante esse período de internação,
devem ser mantidos ou iniciados os demais tratamentos, a saber:
• CID-10
A bulimia é uma síndrome caracterizada por acessos repetidos de hiperfagia e uma
preocupação excessiva com relação ao controle do peso corporal conduzindo a uma
alternância de hiperfagia e vômitos ou uso de purgativos. Este transtorno partilha diversas
características psicológicas com a anorexia nervosa, dentre as quais uma preocupação
exagerada com a forma e peso do corpo. Os vômitos repetidos podem
Tratamento
Hospitalização indicada com frequência menor que para a anoréxica, ocorrendo
quando da vigência de complicações clínicas, riscos de suicídio ou fracasso no tratamento
ambulatorial. Tratamento feito por equipe multidisciplinar, com psicoterapia individual e
familiar, cabendo à nutricionista orientar e estabelecer técnicas comportamentais cognitivas,
como enfatiza Hsu (1990).
OBESIDADE
OBESIDADE PSIQUIÁTRICA
Epidemiologia
Os alarmantes aumentos nos seus indicadores sugerem que, à medida que ingressamos
no século 21, a obesidade deve ser considerada como uma epidemia mundial (FRIEDRICH,
2002; WHO, 1998). Estudos recentes que avaliam a prevalência da obesidade (índice de
massa corporal [IMC] = peso (Kg)/ altura (m2 19,8% entre adultos americanos, e que uma
maioria da população dos EUA (56,4%) preenche os (MOKDAD, 2001).
No Brasil, a prevalência da obesidade aumentou em 70% entre 1975 e 1989, indicando
que o excesso alimentar está rapidamente se tornando um problema mais proeminente do que
o deficit (MONTEIRO, 1995).