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Aula I Prof.

Cidalina Abreu I 14/09/2021

Quadro conceptual da PSICOLOGIA DA SAÚDE

• Reconhecimento e análise dos fatores psicossociais na saúde e na doença.


• Um novo olhar sobre os comportamentos de saúde (influencia dos fatores
psicossociais na saúde e de como estes podem ser um risco para a saúde).
• Modelo teórico à volta do qual se desenvolveu – Modelo BioPsicoSocial: relações
interdependentes entre vários fatores em funcionamento na saúde e na doença.

Revolução industrial

- transição da pessoa do meio rural para o meio citadino

- Surgimento de doenças: tuberculose, cólera, febre tifóide, difteria, sarampo, poliomielite →


aparecimento das vacinas => diminuição da mortalidade → MODELO BIOMÉDICO: A DOENÇA É
ALGO FÍSICO E A COMPONENTE MENTAL NÃO IMPORTA

Compreensão da Doença - Evolução do conceito

CULTURAS ANTIGAS

Doenças provocadas por forças sobrenaturais ou demoníacas.

(os outros animais eram estudados mas o Homem não era).

IDADE MÉDIA

Doença considerada um castigo de Deus.

Ser humano fora das leis da natureza (possui alma):

- não à dissecação

- não à investigação

RENASCENÇA

Mente e corpo são entidades separadas; Após a morte a alma segue o seu caminho;

- sim à dissecação

(começa a investigação)

Séc. XIX

DARWIN “A origem das espécies”


- início da medicina moderna

- investigação científica

- descoberta das doenças

ANULAÇÃO DAS CRENÇAS

Emergência do MODELO BIOMÉDICO

“Todas as doenças podem ser explicadas por distúrbios nos processos biológicos”

(o exterior afeta a parte interna do indivíduo, sendo que a mente não era relevante)

HOMEM = SER BIOLÓGICO / IDENTIDADE BIOLÓGICA

Séc. XIX

MODELO BIOMÉDICO: Conceitos como “mente” não são necessários para explicar o
funcionamento físico, ou mesmo o comportamento.

antibióticos

Doente passivo face à doença


MAS … Mudanças ocorridas nas principais causas de morte e nas doenças das sociedades
modernas, tornaram o modelo biomédico inadequado e insuficiente.

Doenças atuais estão associadas a comportamentos de risco (hipertensão, diabetes,


toxicodependência, AVC, alcoolismo), nomeadamente, sendentarismo, maus hábitos
alimentares → o modelo biomédico não fornece resposta a este tipo de doenças uma vez que
vários fatores contribuem para este tipo de doença

Séc. XX

As hipóteses subjacentes à biomedicina foram postas em causa ao longo do séc. XX.

Novas abordagens que provocaram o emergir de um novo paradigma:

- Medicina Psicossomática

- Saúde Comportamental

- Medicina Comportamental

- Psicologia da Saúde

Medicina Psicossomática - Início do séc. XX


Resposta à análise freudiana da relação entre mente e doença física (Início do séc. XX)

Ex.: “paralisia histérica” → Experiências e sentimentos reprimidos são expressos sob a forma
de um problema físico. (É o reflexo do estado mental do indivíduo)

Saúde Comportamental - (próximo do meio do séc.XX)

* Manutenção da saúde

* Prevenção da doença

Com informações educativas para modificar comportamentos e estilos de vida.

(A pessoa é responsável por modificar comportamentos)

Comportamento é determinante do estado de saúde → Responsabilidade Individual


Importância das sessões educativas
para importância das vacinas

Medicina Comportamental (15 a 20 anos após a 2ª guerra mundial) → Interesse


multidisciplinar (psicologia, sociologia, educação para a saúde…)

• Conjunto de elementos das disciplinas científicas que estudam os comportamentos que


incidem sobre os cuidados de saúde

Relação dos comportamentos com a doença física

(Ex: hipertensão; obesidade; aditivos, etc.).

• Investigação relativamente às doenças e disfunções com elas relacionadas

(problemas psicológicos não podem aqui ser incluídos a não ser que contribuam para o
desenvolvimento de doença física) - neuroses e psicoses não incluídas

Psicologia da Saúde (anos 80)

(Matarazzo, 1984, EUA) → doenças da nossa época implicam análise das pessoas como um
todo (aspetos psicológicos, sociais e biológicos)

Abordagem holística da saúde e da doença

A mente tem um papel tanto na causa como no tratamento da doença.

Alternativa criada face às abordagens que questionaram a cisão corpo/mente:

Modelo biopsicossocial da saúde e da doença (Engek, 1977; 1980)


Emergência do modelo biopsicossocial por oposição ao modelo biomédico

Coping → forma de lidar com uma situação de setress


Modelo biopsicossocial

Pode ser entendido pela resposta que dá às seguintes questões:

1-o que causa a doença?

“Processos multifatoriais resultantes da interação entre o indivíduo e o meio, interação essa


que é comportamento”

2 - quem é responsável pela doença?

O indivíduo deixou de ser considerado uma vítima passiva; É corresponsável na sua doença.

3 - como devem ser tratadas as doenças?

A pessoa no seu todo, a nível físico e do comportamento, crenças, coping e adesão às


recomendações.

4-quem é responsável pelo tratamento?

Profissionais de saúde e doente.

5-qual a relação entre saúde e doença?

Contimuum onde o indivíduo progride do estado de saúde ao de doença e vice versa.

6-qual é a relação entre mente e corpo?

Influências mútuas que não podem ser consideradas independentemente.

7-qual é o papel da psicologia na saúde e na doença

Fatores psicológicos como consequência das doenças, mas também contribuindo para a sua
etiologia e progressão.
Psicologia da saúde
É o ramo da psicologia que investiga os fatores psicológicos relacionados com:

- a saúde e a doença

- prevenção, diagnóstico e o tratamento de problemas médicos.

Psicologia da saúde - conceitos

“Conjunto de contribuições específicas, educacionais, científicas e práticas da disciplina de


psicologia, para promoção e manutenção da saúde, prevenção e tratamento da doença e
disfunções relacionadas.” (Matarazzo, 1984, EUA)

“...é a área disciplinar da psicologia que diz respeito aos comportamentos humanos no
contexto da saúde e da doença.” (Weinman,1990)

“...é a mais adequada para designar a investigação e a intervenção psicológicas, nos campos da
saúde e da doença.” (Teixeira, 1993)

OBJECTO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA DA SAÚDE

O funcionamento psicológico dos sujeitos na sua relação com a saúde e com a doença e
ainda os sujeitos habitualmente saudáveis envolvidos em situações que implicam ajustamento
psicológico mas que não acarretam alterações do estado de saúde (Ex: gravidez, menopausa,
envelhecimento).

O sujeito pessoal e intersubjectivo e os seus funcionamentos afectivo, cognitivo,


comportamental e social.
Intersubjetivo porque a nossa individualidade é subjetiva
___

Importante frequência

COMPORTAMENTOS DE SAÚDE

Comportamentos saudáveis ou imunogénicos comportamentais:

É o aumentar dos comportamentos que promovem a saúde e previnem as doenças.

Comportamentos de risco ou patogénicos:

São um conjunto de comportamentos que os estudos epidemiológicos identificaram como


comportamentos que acarretam riscos para a saúde em geral, ou em relação a certas doenças
em particular. (Teixeira, 1992, p. 152) ex: tabaco, sedentarismo

___
Comportamentos de saúde – exemplos

• 7 grandes medidas para diminuir os comportamentos de risco e aumentar a promoção


da saúde e prevenção de doenças (estudo Alameda Country - EUA)

Não fumar

Não ingerir gorduras em excesso

Não consumir álcool

Não comer em excesso

Não ingerir muito sal

Lidar de forma eficaz com o stress

Ter atividade física regular

----------

Dormir 7 a 8 horas por noite

CONCEITOS DE SAÚDE E DE DOENÇA

Conceitos:

• Não operacionalizáveis de forma singular,

• Não inteiramente distintos,

• Não inteiramente objetivos

SAÚDE: baseia-se na perceção pessoal;

é um constructo subjetivo.

DOENÇA:

É possível sentir-se doente (illness) sem ter doença

É possivel ter doença (disease) sem se sentir doente

É possível comportar-se como doente (sichness)


DETERMINANTES PSICOLÓGICOS DOS COMPORTAMENTOS DE
SAÚDE

3 grupos de fatores associados à doença

Socioambientais (pobreza, redes, trabalho e desemprego, …)

Comportamentais (tabagismo, exercício, dieta alimentar, …)

Psicológicos (personalidade, coping, crenças relativas à saúde,…)

Determinantes sociais e psicológicos dos comportamentos de saúde

• Idade - Personalidade

• Género - Stress

• Classe social - Coping

• Etnia - Psicopatologia

• Estilo de vida - Crenças relativas à saúde

• Solidão - Atribuição de causalidade

• Violência - Locus de controlo

•… - Motivação

- Emoções

- Atitudes

- Perceção

- Autoeficácia

- Persuasão

– ………………

Locos de controlo interno – pessoa é responsável pela sua situação de doença

Locos de controlo externo – pessoa não é responsável pela sua situação de doença, deve-se
por exemplo a Deus
DETERMINANTES PESSOAIS – CARATERÍSTICAS DA PESSOA - PERSONALIDADE

Personalidade → é a expressividade do nosso sentir e agir (comportamento)

Personalidade

A personalidade pode ser entendida como uma estrutura interna, psicológica, multifacetada e
durável, fortemente influenciada por fatores biológicos e com potencial influencia sobre
comportamentos individuais (Mondak,2010).

Características únicas dos indivíduos, padrões consistentes de sentimentos, pensamentos,


atitudes e comportamentos. (Trentini, Hutz, Bandeira, Teixeira, Gonçalvez, & Thomazoni 2009;
Rebollo & Harris, 2006).

A natureza multifacetada da personalidade pode ser entendida como categorias básicas de


diferenciação individual (Winter, 2003)

Um modelo altamente compreensivo e hierarquizado para a descrição e compreensão da


estrutura da personalidade poderia ser composto por cinco grandes fatores também
conhecido como “Big Five” (Costa e McCrae, 2003)
Cinco grandes fatores de personalidade “BIG FIVE”
As personalidades de tipo A e B e as doenças de coração

As pessoas, por norma, não sejam um tipo A ou um tipo B puros", mostrando em vez disso
uma combinação de ambos os tipos de comportamento, em geral cabem numa ou noutra das
categorias (Rosenman, 1990; Strube, 1990; ver Quadro 15-2).

• Padrão comportamental do tipo A: padrão de comportamento caraterizado por


competitividade, impaciência, tendência para a frustração e hostilidade

Os indivíduos do tipo A são competitivos, revelam um permanente sentido de urgência quanto


ao tempo, são agressivos, demonstram energia relativamente ao seu trabalho, são hostis,
verbalmente ou não especialmente se interrompidos quando estão a executar uma tarefa. As
pessoas do tipo a levam vidas apressadas, enérgicas. Elas dedicam ao trabalho muito mais
horas do que as do tipo B e sentem-se impacientes com o desempenho dos outros, que
normalmente consideram demasiado lento. Elas também se entregam ao que é conhecido por
pensamento polifásico, dedicando-se simultaneamente a várias atividades.

• Padrão comportamental do tipo B: padrão de comportamento caraterizado por ausência


de competitividade e de agressividade, e paciência em momentos de stress potencial

Os indivíduos do tipo B são muito menos competitivos, não são particularmente orientados em
termos de tempo, e normalmente não são agressivos, nem enérgicos, nem hostis.

O tipo A tende a ser mais vulnerável à doença coronária do que o tipo B. Porquê?

A teoria mais convincente é a de que o padrão comportamental do tipo A desencadeia uma


excitação fisiológica excessiva em situações de stress. Esta excitação, por seu turno, traduz-se
numa produção acrescida das hormonas epinefrina e norepinefrina, bem como num aumento
do ritmo cardiaco e da tensão arterial. Uma tão exagerada resposta fisiológica origina finalmente
uma incidência acrescida da doença coronaria (Suarez e Williams, 1992; Blascovitch e Katlin,
1993; Lyness, 1993; Raikkonen et al., 1995; Sundin et al., 1995).

Por outro lado, a pesquisa nem sempre tem mostrado de forma consistente uma clara e forte
relação entre o padrão comportamental do tipo A em geral e a doença coronária. Por exemplo,
alguma pesquisa sustenta que os homens que se encaixam no padrão tipo A podem ter mais
probabilidade de sobreviver a um segundo ataque cardíaco do que os que se encaixam no
padrão do tipo B - mesmo se os homens do tipo A tem mais probabilidade de sofrer um primeiro
ataque (Ragland, 1988). As discrepâncias nas descobertas da pesquisa levaram alguns
pesquisadores a minimizar a importância do padrão comportamental do tipo A em geral na
ocorrência de doenças do coração. Estes críticos argumentam que o padrão do tipo A é vago e
respeita a uma tal mistura de traços, que se torna demasiado impreciso. Alternativamente,
defendem que a futura pesquisa deve incidir sobre as componentes específicas do tipo A que
estão relacionadas com a doença coronaria, em vez de incidir sobre o padrão em geral.

De facto, um crescente consenso defende que a hostilidade e a agressividade associadas ao


padrão comportamental do tipo A são os únicos factores de risco importantes para a doença
coronária. Além disso, a hostilidade e a agressividade não estão apenas relacionadas com a
doença coronária mas também e em especial com a mortalidade

DETERMINANTES PESSOAIS – PSICOLÓGICOS COGNITIVOS (CONCEITOS ESSENCIAIS)

Cognições de saúde e de doença

- são as crenças, perceções e atribuições que os sujeitos fazem, ou têm, acerca da saúde e da
doença e que podem desempenhar um papel importante no seu desenvolvimento.

Coping

- Estratégias adotadas pelo indivíduo destinadas a dominar ou a atenuar as exigências criadas


por uma situação de stress.

- Depende mais da perceção individual da ameaça e das circunstâncias sociais do que da


situação específica

Crenças de saúde e de doença

“É a verdade de uma realidade subjetiva que influencia a estrutura e funcionamento


biopsicossocial e espiritual do indivíduo” (Wright et al, 1996)

Perceção

- “processo individual de organização e interpretação dos dados sensoriais (as sensações) que
permite a identificação dos objetos e da realidade.

Fatores que influenciam a perceção: atenção, expectativas, memória, emoções, experiências


de vida, motivações.

Sensação versus perceção

Sensação – 1º contacto que o nosso organismo tem com os estímulos sensoriais do meio
ambiente.

Perceção – processo pelo qual os estímulos são interpretados, analisados e integrados com
outra informação sensorial. (ex. som de campainha escola)

- Influência biofisiológica

Leis da Gestalt (dar coerência ao percecionado)

Série de princípios que descrevem a forma como se organizam partes de informação num todo
coerente.
- Ilusões percetivas ou deceção da perceção:

Ex: Óticas – estímulos visuais que produzem ilusões ou erros percetivos

- Reversibilidade (leis da Gestalt da organização percetiva) .

- A APRENDIZAGEM POR “INSIGHT” (KOHLER, 1927)

“INSIGHT” – A CONSCIÊNCIA SÚBITA DAS RELAÇÕES ENTRE OS VÁRIOS ELEMENTOS QUE ATÉ AÍ
PARECIAM SER INDEPENDENTES”.

(reestruturação súbita do campo percetivo)

Cultura e perceção (perceção influencia a nossa visão do mundo)

• “a nossa visão do mundo é, em grande medida, uma função de processos psicológicos


fundamentais.
• Assim sendo, cada pessoa apreende o mundo que a rodeia de uma forma única e especial
– de facto isso permite-nos dar um contributo próprio e especial ao mundo.”

(Feldman, 2001)

Perceção subliminar

• Perceção de mensagem sem que tenhamos consciência de que isso está a acontecer.
• (estudos atuais apontam para uma pequena influência nas nossas atitudes e
comportamentos)

Motivação (impulsionador da ação humana)

• Processo intrínseco mobilizador de energias, que leva o indivíduo à ação


(comportamento).
• Fatores que proporcionam direção e energia ao comportamento dos seres humanos e de
outros organismos (Feldman, 2001)

MOTIVOS: - objetivos desejados específicos subjacentes ao comportamento

- “Forças que dirigem o comportamento”

A maior parte das ações humanas são motivadas.

Os motivos têm uma função dupla.

• Dirigem o organismo para um comportamento;


• Potenciam algumas perceções, comportamentos e sentimentos.

A motivação é influenciada pelo pensamento, expectativas, valor e compreensão do mundo


Explicação da motivação

• Instintos (inicio do Séc. XX)


• Redução do impulso (1943, Hull)
• Teoria motivacional – Maslow
• Teoria cognitiva (motivação intrínseca (prazer) e extrínseca (recompensa)) – (visão
atual) → mais importante

Maslow ( 1908- 1970) Motivation and Personality

Um dos maiores especialistas em motivação humana, apresentou uma teoria motivacional


(esquema em pirâmide) que pressupõe a hierarquização das necessidades humanas, sendo as
mais baixas as fisiológicas e as mais elevadas as de autorrealização.

É necessário que certas necessidades estejam satisfeitas para que se possa sentir outras e nem
todos os indivíduos alcançam o topo da pirâmide, ficando estagnados num dos patamares.

necessidades fisiológicas

necessidades de segurança

necessidades sociais

necessidade de estima

necessidade de autorrealização

Motivação e frustração andam de mãos dadas, pelo que não se pode referir uma, sem referir a
outra.

Estes dois fenómenos são próximos, pois a frustração resulta da não satisfação de uma
necessidade ou desejo.

Nota: dissonância cognitiva → pensamentos e ações são contraditórios

DETERMINANTES PESSOAIS – PSICOLÓGICOS AFETIVOS (CONCEITOS ESSENCIAIS)

Emoção – conceitos

• Perceção do nosso estado interior – experiência subjetiva (GLEITMAN, 1998).


• Adaptações que fazem parte integrante do mecanismo através do qual os organismos
regulam a sua sobrevivência (DAMÁSIO, 2000).
• “A emoção é a combinação de um processo avaliativo mental, simples ou complexo, com
respostas disposicionais a esse processo, na sua maioria dirigidas ao corpo propriamente
dito, resultando num estado emocional do corpo, mas também dirigidas ao próprio
cérebro (núcleos neurotransmissores no tronco cerebral), resultando em alterações
mentais adicionais” (Damásio 2011, p.189).
EMOÇÃO – Teorias

Teoria de James-Lange: “a experiência subjetiva da emoção não é nem mais nem menos do
que a tomada de consciência das nossas próprias mudanças corporais, na presença de algum
estímulo desencadeador”.

Teorias Cognitivas da Emoção

• Enfatizam o papel dos fatores cognitivos.


• (…) a experiência emocional é produzida não pela excitação nervosa autónoma como tal,
mas pela interpretação relativa desta excitação, guiada pelo modo como o sujeito
apreende (perceciona) a situação total. (Gleitman, 1998)
TIPOS de emoções (António Damásio em O Sentimento de si):

• Emoções primárias ou universais – alegria, tristeza, medo, cólera, surpresa ou aversão.


• Emoções secundárias ou sociais – vergonha, ciúme, a culpa, o orgulho.
• Emoções de fundo – bem-estar ou mal-estar, a calma, a tensão.

FUNÇÕES DAS EMOÇÕES:

Funções biológicas

1.ª Produção de uma reação específica para a situação indutora.

2.ª Regulação do estado interno do organismo.

Segundo MÄRTIN e BOECK, 1997 desempenham outras funções:

• Ajudam-nos a reagir com rapidez perante acontecimentos inesperados;


• Ajudam-nos a tomar decisões com prontidão e segurança, e
• a comunicarmos de forma não verbal com outras pessoas.

As emoções → meio de comunicação

Para que uma emoção seja conhecida (sentir um sentimento):

1- Envolvimento do organismo através de um indutor de emoção – um determinado objeto


processado visualmente e resultando em representações visuais do objeto.
2- Os sinais que se seguem ao processamento da imagem do objeto ativam as regiões neurais
que estão preparadas para responder à classe específica de indutor a que o objeto
pertence.
3- Como resultado do passo 2, as regiões de indução da emoção desencadeiam um certo
número de sinais em direção a outras regiões cerebrais e em direção ao corpo (vísceras,
glândulas endócrinas).

DETERMINANTES PESSOAIS – PSICOLÓGICOS COMPORTAMENTAIS (CONCEITOS ESSENCIAIS)

Comportamento:

• ação; o que é diretamente observável.

Atitude:

• Posição mental estável assumida em relação a uma ideia, objeto ou pessoa.


• É uma predisposição interior para qualquer coisa.

Ex: Atitude face à ecologia.

Atitude sobre energia nuclear.


Atitude face à legalização das drogas

• Combinação de: Crenças; Sentimentos; Avaliações QUE Juntamente com uma


predisposição para agir de acordo com estas

Estrutura da atitude

• Três respostas avaliativas com 2 vértices (adesão e rejeição):

– Cognitiva

• Pensamentos; Crenças.

– Afetiva

• Emoções relativas ao objeto alvo.

– Comportamental

• Ação e interações comportamentais.

Ameaças às atitudes

• Preconceitos

• Padrões situacionais

• Comunicações persuasivas

• Publicidade e marketing

Mudança de atitude

• Requer esforço;

• Persuasão a partir de fontes credíveis e com mensagem apropriada;

• A tendência é para a consistência cognitiva.


TEORIAS E MODELOS EXPLICATIVOS DOS COMPORTAMENTOS DE
SAÚDE

Crenças de saúde e de doença

• “Crença abrange qualquer proposição ou hipótese sustentada por uma pessoa que
relacione dois ou mais objetivos ou elementos psicológicos.” (Kirscht, 1974, cit. In
Ribeiro, 1998, p.146)
• “É a verdade de uma realidade subjetiva que influencia a estrutura e funcionamento
biopsicossocial e espiritual do indivíduo” (Wright et al, 1996)
• Têm um papel muito importante na pré-determinação da adoção de estilos de vida
saudáveis ou de risco;
• Permitem aos indivíduos acreditar que controlam o seu estado de saúde e integram a
doença, se ela ocorrer, na sua história pessoal

CRENÇAS e REPRESENTAÇÕES

DETERMINAM, EM PARTE:

• Comportamentos de saúde de cada um (saudáveis e de risco);

• As relações estabelecidas com os profissionais de saúde.

TEORIAS COGNITIVAS

➔ Teoria da Atribuição (Heider, 1944, 1958; Kelley, 1967, 1992)

• Os indivíduos estão motivados para ver o mundo social como previsível e controlável;

• O humano tem necessidade de perceber a causalidade – atribuição de causalidade.

• Diferenciação entre:
– Atribuições sobre o seu próprio comportamento;

– Atribuições sobre o comportamento dos outros.

Dimensões da Atribuição:

• Interna versus externa

– Eu / outro

Ex: “A minha capacidade de arranjar emprego deve-se ….”

- “… ao meu fraco desempenho na entrevista” / “…aos preconceitos do entrevistador”

• Estável versus instável

– Sempre presente / específica ao momento

• Global versus específica

– Todas as situações / só naquela situação

• Controlável versus incontrolável

– Controlei o fracasso / não consegui controlar

» Fobia

Atribuições a comportamentos relacionados com a saúde (ex. controlo da diabetes, da HTA,


tratamento do alcoolismo, etc)

A dimensão interna versus externa da teoria da atribuição foi aplicada especificamente à saúde
→ Locus de controlo da saúde

➔ Teoria do Locus de controlo da saúde (Wallston & Wallston,1982)

Locus de controlo interno ou internalidade:

• Os acontecimentos são controláveis pelo próprio indivíduo;


• Atribuição de causalidade ao próprio – interna.
• As pessoas que possuem este tipo de locus conseguem mudar os seus comportamentos
e, por isso, possuem melhor adesão à terapêutica.

Locus de controlo externo ou externalidade:

• Os acontecimentos não são controláveis pelo próprio (destino, sorte);


• Atribuição de causalidade ao exterior – externa.

Problemas que se colocam à teoria do L.C.

• O Locus de controlo será um estado ou um traço?


• É possível ser simultaneamente interno e externo? sim

• Ir ao médico será algo externo (médico todo poderoso) ou interno (controlo o meu estado de
saúde)?

➔ Teoria da Perceção do risco: o otimismo Irrealista (Weinstein, 1983, 1984)

• Perceções erradas do risco e da suscetibilidade face às doenças, o que leva os indivíduos a


manter comportamentos prejudiciais à saúde.

» Atenção seletiva (ignorar o seu comportamento que aumenta o risco, centrando-se


naquele que o diminui)

» Egocentrismo (centrar-se no comportamento de risco dos amigos)

Fatores cognitivos que contribuem para o Otimismo Irrealista:

• Falta de experiência do problema;

• Crença de que o problema é facilmente prevenido pela ação individual;

• Crença de que se o problema ainda não apareceu, dificilmente aparecerá no futuro;

• Crença de que o problema é pouco frequente.


MODELO DE CRENÇAS NA SAÚDE

Tem como finalidade:

- Predizer os comportamentos de prevenção ligados à saúde e a resposta comportamental ao


tratamento dos doentes agudos e crónicos;

- Contributo precioso na explicação das diferenças sentidas pelas pessoas em aderir a programas
de saúde.

Perceção da
suscetibilidade à
doença provocada pelo
seu comportamento
Barreiras ou
dificuldades
Duas novas variáveis adicionadas ao MODELO DE CRENÇAS NA SAÚDE:

• Importância dada por cada indivíduo à sua saúde


• Locus de controlo da saúde

Interesse do MODELO DE CRENÇAS NA SAÚDE:

- Tem em conta as crenças e representações comuns dos indivíduos;

- Distingue-se dos modelos biomédicos que tentam definir a saúde e a doença o mais
“objetivamente” possível;

Numerosos estudos inspiraram-se neste modelo para avaliar:

-a adoção de comportamentos preventivos,

-a adoção de estilos de vida saudáveis,

-a elaboração de programas de prevenção.

Apesar das contradições na literatura, pode afirmar-se que permite predizer a realização de
rastreios vários como:

-hipertensão,

-cancro do colo do útero,

-doenças genéticas,

-prática de exercício físico,

-diminuição do consumo de álcool,

-alterações alimentares

-cessação de consumo de tabaco (Ogden, 2000)

Exercício tp:

Predição de rastreios
Analise o papel do Modelo de Crenças na Saúde na predição do comportamento
feminino de realização de rastreios do cancro.
De um modo geral, acredita-se que a deteção precoce do cancro da mama e do colo do
útero pode reduzir a mortalidade devida a estas doenças. Por isso, os programas de
rastreio têm como objetivo ajudar na deteção destas doenças nas fases mais precoces.
No entanto, mesmo quando convidadas a participar num rastreio ou encorajadas a
praticar o autoexame da mama, muitas mulheres resistem e não têm esses
comportamentos protetores de saúde.
A partir do modelo de crenças na saúde, indique as verbalizações que são possíveis
escutar da parte das mulheres que fazem o rastreio e daquelas que não o fazem, no
que se refere às quatro dimensões do modelo, a perceção da suscetibilidade, da
gravidade, dos benefícios e das barreiras.

1- Indique a importância das variáveis acrescentadas ao modelo de crenças


na saúde em cada um dos grupos de mulheres.

2- Indique algumas pistas para a ação que considere relevantes.

3- Aplique o Modelo de Crenças na Saúde à problemática da prevenção do


HIV / SIDA, ou à prevenção da covid-19.

Perceção da suscetibilidade adequada

• tenho comportamentos de risco que podem causar cancro da mama


• como existem vários casos na família, também posso ter
• tenho noção que sou bastante sedentária, o que me impede de fazer exercício
adequado
• tenho 51 anos e tenho noção que a partir dos 50 anos é mais provável

Perceção da suscetibilidade inadequada

• a mim nada me afeta


• só contraio esta doença se me sujeitar a muitos comportamentos de risco
• faço palpação adequada e não sinto caroços, é impossível ter cancro
• não sinto nada diferente, logo não preciso de fazer

Perceção da gravidade adequada

• conheço um caso de uma senhora que morreu de cancro da mama

Perceção da gravidade inadequada

• o tratamento é relativamente fácil


• o cancro não é assim tão grave, até há cura e tudo
• a medicina teve um grande evolução, o cancro é como outra doença qualquer

Perceção dos benefícios

• ao realizar o exame posso estar a prevenir uma situação muito grave


• ao detetar precocemente um tumor da mama, há maior probabilidade de cura e,
consequentemente, de sobrevivência
• se fizer diagnóstico precoce, diminui o risco de metastizar
• não custa muito e assim fico descansada

Perceção de barreiras

• Se realizar o rastreio há possibilidade de o diagnóstico ser mau (medo: barreira interna)


• Tenho vergonha de expor a mama perante o profissional de saúde/o meu médico é
homem (interno)
• Estou longe do CS
• Não tenho tempo de sair do trabalho para o fazer
• Não tenho dinheiro para o tratamento

MODELO TRANSTEÓRICO

(Prochaska & DiClement, 1982, 1983, 1992)

Estádios de um programa de mudança de comportamento.

• Precontemplação: período durante o qual a pessoa não considera a necessidade de fazer


qualquer mudança. (no problems, I am fine as I am)

• Contemplação: período durante o qual a pessoa está seriamente a considerar uma


possibilidade de mudança. (I can´t do what I used to; I need to get fitter)

• Preparação: período durante o qual a pessoa pensa na mudança ou inicia pequenas


mudanças nesse sentido (that new gym has opened up nearby; I 'ill buy myself a track suit)

• Ação: período de, no minimo, 6 meses em que a pessoa está ativamente empenhada no
novo comportamento (three times a week in the gym – I´m feeling good.)

• Manutenção: período após 6 meses do inicio da mudança de comportamento em que o


comportamento modificado continua (I´m attending regularly, and rarely miss a session)
COGNIÇÕES DE SAÚDE E DE DOENÇA

Quando o estado de saúde de um indivíduo é perturbado por uma situação de doença há uma
motivação para voltar ao equilíbrio e para restabelecer o estado de normalidade.

Modelo de auto-regulação do comportamento de doença (Leventhal)

“Um modelo é qualquer meio utilizado para representar algo que não ele próprio. Não pretende
ser uma representação das características da realidade que são essenciais para compreender
um problema particular.” (Ribeiro, 1998, p. 144)
ADESÃO TERAPÊUTICA

A adesão terapêutica é um processo:

- multidimensional

- multifatorial

- demasiado complexo

- com repercussões sociais, económicas, ambientais, políticas e na saúde dos indivíduos e das
populações cujo efeito negativo decorre da não-adesão às terapêuticas prescritas.

Aderir ao regime recomendado pelos profissionais de saúde é difícil.

A não-adesão traz problemas aos doentes e grande sobrecarga aos profissionais de saúde
(Horne et al., 2019)

ESTATÍSTICAS PREOCUPANTES:

As taxas de não-adesão oscilam:

- entre 4 e 94%.

- variação entre 30 e 50 a 60% é mais consensual para prescrições de longo prazo, relacionadas
com doenças crónicas.

EXEMPLOS ESPECIFICOS:

Doentes diabéticos

• 7% adere a um bom controlo


• 80% administra a insulina de modo inadequado
• 73% não cumpre a dieta
• 50% exibe deficiência de cuidados aos pés

Doentes hipertensos

• 50% adere ao tratamento

VIH

• Mais de 50% de adesão ao tratamento

Doentes transplantados

• 44% não tomam, em algum momento, a terapêutica imunossupressora 


Doentes psiquiátricos
• 50,8% dos doentes psiquiátricos aderem ao regime terapêutico de forma
descontinuada
• 24 a 63% na esquizofrenia.
• 9 a 57% na doença bipolar.

Hiperatividade

• 20% dos pais faz um tratamento descontinuo aos filhos ao 4º mês.


• 50% ao 10º mês.
• Tende a decair entre três e cinco dias - mesmo para os mais empenhados;
• o primeiro ano é o período mais crítico para a decisão de continuar um
tratamento - (mais de 50% dos doentes descontinua o tratamento, a maioria
nos primeiros 3 meses).
• Mais de 80% dos doentes faz um intervalo sem medicação, superior a 30 dias -
Mesmo com uma elevada taxa de adesão, de 74,1%,

Evolução do conceito de adesão terapêutica

1º) Situação em que o comportamento do doente corresponde às instruções clínicas fornecidas

- (compliance/complacência) (Sackette e Haynes, 1979) - Conceito inscrito no MODELO


BIOMÉDICO

2.º) É a medida em que o comportamento do doente coincide com os conselhos médicos ou de


saúde (Haynes e cols., 1979)

- Conceito inscrito nas disciplinas medicina comportamental e saúde comportamental

3.º) Atitude ativa, com envolvimento voluntário e colaborativo do utente e do profissional de


saúde, num processo conjunto para a mudança de comportamento do primeiro. (Turk e
Meichenbaum, 1987;1991).

- Conceito inscrito no MODELO BIOPSICOSSOCIAL

4.º) Grau ou extensão em que o comportamento da pessoa em relação à toma da medicação,


ao cumprimento da dieta e alteração de hábitos ou estilos de vida, corresponde às
recomendações veiculadas pelo profissional de saúde. (Organização Mundial de Saúde, OMS,
2003)

NÃO-ADESÃO TERAPÊUTICA

Traduz uma atitude negativa por parte do utente, pressupondo uma componente avaliativa que
é da sua responsabilidade.

Pode ocorrer a três níveis: medicação, tratamento e comportamento (Meichenbaum & Turk,
2012).

É responsável por um elevado número de mortes e de hospitalizações (Kini & Ho, 2018).
Adesão terapêutica parcial

Pode ser intencional ou não intencional.

Intencional:

Quando a pessoa opta unilateralmente por alterar a prescrição:

-Por se sentir melhor, ou pior

- Efeitos colaterais

- Desconhecimento da real necessidade do tratamento

- Ingestão de bebidas alcoólicas.

Mais frequente na fase aguda da doença.

Não intencional:

Causada por:

- Esquecimento da dose prescrita (causa mais comum)

- Pela confusão nos esquemas de tratamento

- Pelo rótulo impreciso e/ou

- Pela incapacidade de abrir as embalagens

Mais comum em idosos e crianças.

FORMAS DE NÃO-ADESÃO

→ A nível da medicação:

• Não cumprimento total da prescrição;


• Cumprir a prescrição mas falhar algumas tomas ou porções;
• Não seguir as instruções dadas para as doses e/ou frequência da prescrição;
• Tomar medicação não prescrita

→ A nível do tratamento

• Adiar a procura de cuidados;


• Falhar o início do programa de tratamento;
• Não cumprir as indicações;
• Terminar prematuramente

→ A nível do comportamento

• não aceitar as medidas preventivas recomendadas


• implementação incompleta das instruções
• sabotagem no regime de tratamento
• não participar nos programas de saúde prescritos
• criar o seu regime de tratamento e substituir o tratamento recomendado por esse
programa.

FATORES RELACIONADOS COM A ADESÃO TERAPÊUTICA

Cinco grupos de fatores:

• sociais, económicos e culturais;


• relacionados com os profissionais e serviços de saúde;
• relacionados com a doença de base e comorbilidades;
• relacionados com a terapêutica prescrita;
• individuais relativos ao doente.

Fatores sociais, económicos e culturais

• Políticas: promoção da saúde e prevenção das doenças, organização dos serviços de saúde.
• Redes de apoio, acessibilidade à informação, instrução/educação e literacia em saúde.
• Fatores culturais: crenças em saúde, as práticas em saúde, o estigma face à doença, o
contexto e o meio.
• Recursos económicos: financeiros, acesso aos serviços, custos e tempo necessário ao
tratamento.
• Apoio familiar

Nível socioeconómico baixo → mau indicador de saúde

Locus de controlo externo → maior adesão terapêutica

Fatores relacionados com os profissionais e serviços de saúde

• COMUNICAÇÃO entre clínicos e utente - (gestão da comunicação é da responsabilidade dos


profissionais)
• Os profissionais de saúde, aptos a estabelecer comunicação adequada e relação de
confiança, captam a atenção do utente para o êxito da terapêutica.
• Comunicação terapêutica, centrada no utente e adequada ao contexto.

Fatores relacionados com a doença de base e comorbilidades

• Natureza da doença, crónica ou aguda, sintomática ou assintomática.


• Gravidade e duração, o número de doenças associadas e o risco de contrair certas doenças.
• As doenças silenciosas enganam os doentes, levando-os a considerar que não há doença
por falta de sintomas.

Fatores relacionados com a terapêutica prescrita

• Terapêuticas farmacológicas.

- Ingestão e efeito orgânico, reações adversas, efeitos secundários, duração da ação

- Sistema de distribuição dos medicamentos

- Responsabilidade, conhecimento sobre os fármacos

• Complexidade e exigência do tratamento


• Perceção da necessidade do tratamento.
• Gestão terapêutica
• Compreensão do esquema terapêutico e estratégias proativas.

Fatores individuais relativos ao doente

• Psicológicos

- Significação da doença

- Crenças e representações de saúde

– Caraterísticas da personalidade

- Estilo de coping

- Nível intelectual

- Motivação

- Autoeficácia

- Locus de controlo

• Perturbações psicopatológicas

- Ansiedade

(aumenta ou diminui a adesão terapêutica:

- aumenta → casos de obsessão no tratamento

- diminui → esquecimento)

- Depressão (diminui a adesão terapêutica)

• Características sociodemográficas:

- Idade (nos idosos só existe problemas na adesão terapêutica em caso de problemas cognitivos.
Nos jovens é a diabetes que influencia a adesão terapêutica.)
- Género (EAM é maior nas mulheres)

- Literacia medicamentosa/em saúde

HIPÓTESE COGNITIVA DE ADESÃO

(predizer se os doentes aderem aos tratamentos)

A ADESÃO pode-se prever através de:

• Satisfação do doente em relação à consulta


• Compreensão da informação dada
• Memória: capacidade de recordar a informação (LEY, 1981-1989)

→ Satisfação:

• Aspetos afetivos
• Aspetos comportamentais
• Competência do profissional de saúde - É determinada pelo conteúdo da consulta

→ Compreensão: O doente tem necessidade de compreender as causas da doença e a


localização correta do órgão envolvido

→ Memória:

• Há uma % muito significativa de doentes que não consegue recordar as informações


dadas durante a consulta.
• A CAPACIDADE MNÉSICA é a capacidade de recordar as informações dadas durante a
consulta. Parece não ter a ver com a idade do doente.

Como se pode melhorar a adesão?

O papel da INFORMAÇÃO:

- A informação instrutiva e educacional leva a um índice de concordância de cerca de 52% (de


adesão às recomendações); ex: oralmente
- A instrução comportamental individualizada aumenta a adesão até 75%. Ex: mexer em
objetos

(Melhorar a comunicação, melhora a adesão)

Informação oral

• Efeito da primazia (o que se ouve em primeiro lugar é o que fica)


• Explicitar a importância da adesão
• Simplificar as informações
• Usar a repetição
• Ser claro
• Seguir a consulta com entrevistas adicionais.

Informação escrita:

• A informação escrita aumenta o conhecimento dos doentes (90%)


• Aumenta o grau de adesão (60%)
• Melhora os resultados (57%)

As intervenções mais eficazes combinam as componentes educacionais, comportamentais e


digitais.

Papel pedagógico do enfermeiro (Ações)

Avaliar dificuldades no cumprimento da tabela terapêutica

• Com que frequência se esquece de tomar a medicação e porquê;


• Qual o seu regime de tratamento (longo ou breve);
• Que horários tem;
• Assegurar que todos se esquecem e que estamos aqui para ajudar;

Se o doente está internado iniciar aqui os ensinos

• Nome da droga;
• Para que é necessária;
• Duração da ação;
• Nº de tomas diárias.

Conhecer o quotidiano do paciente

• Adaptar terapêutica à rotina;


• Fazer quadro de registo de tratamentos e nº de tomas;
• Ajudar a desenvolver estratégias para não esquecer:
- Relógio de alarme
- Programas de TV
- Rotinas

Promover a automonitorização

• Envolver a família (com consentimento do doente)


• Ajudar a construir calendário de registos;
• Explicar o que fazer no caso de perder doses

Continuar a acompanhar o doente

Como se pode promover a adesão? (não saber de cor)

1-melhorar relações interpessoais

2-facilitar a comunicação utente - sistema de saúde

3-cultivar as habilidades comunicacionais

4-explanar o modelo de doença do utente/crenças

5-conhecer as preocupações da pessoa acerca da sua doença

6-compreender as expectativas da pessoa acerca do tratamento

Em síntese:

Acompanhar os utentes

-Com entrevistas adicionais

-Em visitas domiciliárias

-Em consultas de seguimento

Envolver familiar próximo do utente


ABORDAGEM PSICOLÓGICA DO ADOECER CORPORAL

A pessoa com uma doença física deve ser considerada quer individualmente, quer inserida na
sua matriz familiar e social.

Doença

• CRISE: familiar, social, INDIVIDUAL


• Promove uma rutura na continuidade do ser e implica um movimento de
AJUSTAMENTO PISOCOLÓGICO a uma nova situação.
• Situação de mudança para melhor ou critica para pior

Compreensão da adaptação psicológica à doença

2 aspetos fundamentais a conhecer:

I- Adaptação psicológica à doença atual


II- Antecedentes psicológicos na doença corporal (como decorreram outras doenças
que eventualmente tenha sofrido; eventual psicopatologia)

O ajustamento a uma nova situação de doença, depende de:

- Acontecimentos de stress

- coping

- Psicopatologia

- Natureza da doença

- Significado psicológico

- Caraterísticas da personalidade

-…

Acontecimentos de stress (anteriores e atuais) podem diminuir a resistência e aumentar a sua


suscetibilidade aos agentes causadores de doença

Coping (estilo individual) influencia a forma como o individuo se ajusta à doença física e suas
consequências.
Psicopatologia

Eventuais antecendentes psicopatológicos têm importância para compreender como é que


reage à doença física:

- deprimir-se excessivamente;

- tentativa de suicídio;

- agressividade e conflito com profissionais de saúde;

- recusa em tratar-se;

- excessivamente dependente e apelativo.

Significado psicológico

- do momento em que é atingido (ex: idade da pessoa)

- do contexto familiar e social

Personalidade…

-certos traços de personalidade podem constituir vulnerabilidade para adoecer com certas
doenças corporais (ex. tipo A)

- alterações (ou distúrbios) de personalidade influenciam a adaptação do sujeito à doença, à


hospitalização e ao estilo relacional na interação com os técnicos de saúde.

Alterações ou distúrbios de personalidade (os chamados doentes difíceis)

• Traço anti-social (não são muito sociáveis, quebra de normas e regras da sociedade,
não gostam de cumprir regras e normas, é a que pode levar a medidas drásticas e
superiores pelos profissionais de saúde)
• Traço limite (bordaline) (ex: o mundo só pode ser preto ou branco – vivem muito nos
extremos sendo o meio termo/tolerância muito difícil)
• Traço Narcísico (quando estabelecem relações intimas com os outros escolhem
pessoas deslumbrantes para poder usá-las como espelho; perceção da pessoa de
grandiosidade e beleza; tem que ter prioridade sobre os outros; esperam que os
profissionais de saúde demonstrem preocupação e indicações de como melhorar o seu
sofrimento)
• Traço Histrónico (comportamentos exuberantes para chamar atenção; medo e
ansiedade face ao abandono; síndrome conversivo quando levado ao extremo)
• Traço Paranoide (pessoas desconfiadas)
• Traço Esquizóide (são desconfiadas e tem mania da perseguição)
• Traço Compulsivo (obsessivo-compulsivo) (pessoas têm comportamentos que
decorrem de obsessão, gostam de saber o que vai acontecer)
• Traço Dependente (pessoas manifestam não ter autonomia pessoa, maturidade,
capacidade de resolver problemas sozinhas)

ESTRATÉGIAS ADAPTATIVAS À DOENÇA GRAVE

Estratégias adaptativas à doença grave

→ Estágios adaptativos à doença grave (E. Kubler Ross) – estágios de adaptação à perda do
corpo saudável

• Negação e isolamento (não, não posso ser eu!) – “se eu fizer isto, recebo isto”
• Revolta/raiva/cólera (porquê eu?)
• Negociação (sim, sou eu, mas…)
• Depressão (sim, sou eu!)
• Aceitação (a minha hora chegou e
tudo está bem!)

Para todas as situações de perda (da


saúde, do outro, …)
→ Mecanismos de defesa

Os conflitos emocionais vão desencadear um conjunto de múltiplos mecanismos de defesa.

Os mecanismos de dessa mais relevantes em saúde

• “Negação da realidade (sem consciência que está a negar)


• Projeção (colocam nos outros partes difíceis que se encontram dentro de si)
• Limitação da consciência (esquece o que é mais difícil de reter)
• Racionalização (para não se confrontar com as emoções negativas)
• …”

“..têm como finalidade essencial evitar a ansiedade ligada ao adoecer corporal e encontrar um
novo equilíbrio psicológico face ao stress associado à doença.”

Cuidado! Há mecanismos que impedem o sujeito de fazer o teste de realidade e,


consequentemente, de adotar comportamentos adequados à situação em que se encontra!

PROTOCOLO SPIKES –
COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS

S- setting: Sítio, local onde as pesssoas devem ser recebidas

P – perception: o que a pessoa sabe, o que perceciona sobre o que vai acontecer, o que
estamos ali a fazer- levar a pessoa a dizer-nos algumas coisas “sabe porque vimos aqui hoje?”
“o que espera do resultado de exames?”

I – information – dar a informação

K – knowledge

E – empaty

S – summarize
MORTE – O CONTEXTO FAMILIAR, A FAMÍLIA ENLUTADA

PERDA VS VÍNCULO

VINCULAÇÃO (j. Bowlby, 1977):

É a tendência dos seres humanos para estabelecer fortes laços afetivos entre si e,
consequentemente, a forte relação emocional que ocorre quando estes laços ficam
ameaçados ou são rompidos.

Todas as pessoas sofrem com a perda, em maior ou menor grau.

Adaptação à perda = luto

Qual o impacto da perda sobre o sistema familiar?

A família vivencia e reage à perda, num sistema de realções do qual todos os membros
participam, com interações mutuamente reforçadas.

Em virtude das profundas conexões entre os membros de uma família, não é supreendente
que o ajustamento à perda por morte seja considerado mais difícil do que quaçuqer outra
mudança na vida. (Holmes e Rahe, 1967)

O luto é uma doença?

A morte de um membro da família aumenta a vulnerabilidade à doença e à morte prematura


dos membros sobreviventes (Osterweis, Solomon e Green, 1984)

Em especial para cônjuges viúvo, ou para pais que perderam um filho recentemente. (Huyen;
van de Gugen; van Eijk e Smits, 1989)

A PERDA DE UMA PESSOA AMADA É, PSICOLOGICAMENTE, UM ACONTECIMENTO


TRAUMÁTICO.
TAREFAS DO LUTO

4 a 5 anos é o tempo habitual de concretização do luto.

Tarefa I – Aceitar a realidade da perda

- Enfrentar a realidade de que a pessoa está morta e não irá voltar.

Obstáculo: NEGAÇÃO, Esquecimentos seletivos

Ajuda através de: velório; outros rituais tradicionais existentes em cada cultura.

Tarefa II – Elaborar a dor da perda

Perder alguém a quem se tenha estado muito ligado implica passar por algum Grau de Dor.

Nem todas as mortes têm a mesma importância na família:

- onda de choque emocional (Bowen)

- reações normais de sofrimento e luto

- alívio para a família.

Tarefa III- Ajustar-se ao ambiente onde está a faltar a pessoa que morreu

Depende de:

- papel que o falecido desempenhava na família

- adaptação à perda de papéis anteriormente desempenhados pelo falecido;


- confronto de cada um com os desafios de se ajustar ao seu próprio sentido do self,
(diferenciação/não diferrenciação)

Tarefa IV – Reposicionar, em termos emocionais, a pessoa que faleceu e continuar a vida

É a tarefa mais difícil de cumprir.

- o enlutado encontra um lugar adequado dentro da sua vida psicológica para a pessoa
falecida, um lugar que é importante, mas que deixa espaço para os outros.

- “relocalização” versus “retirada emocional”

Essa tarefa está completa quando se pode continuar, ou voltar a amar, sem que o lugar do
outro seja posto em questão.

LUTO ANTECIPADO (Lindermann, 1944)

- É o luto que ocorre antes da perda real.

A pessoa enlutada, em potencial, inicia as tarefas do luto e começa a vivenciar as várias


respostas ao luto, antes da perda.

Profissionais que trabalham com pacientes e família, antes da morte, devem ter uma
compreensão do luto antecipado para que possam ajudar os pacientes e os membros da
família.

Tarefa I (aceitar a realidade da perda) está mais facilitada porque à medida que se vê a pessoa
decair, a realidade e a inevitabilidade da morte ficam mais próximas. Mas há os que nutrem
esperanças e reforçam a negação.

Tarefa II (elaborar a dor da perda)

Há uma grande variedade de sentimentos associados à iminência da perda, sentimentos, em


geral, associados ao luto após a morte → aumento da ansiedade

Aumenta e acelera:

- quanto maior o período de luto antecipado

- quanto mais próximo a pessoa está da morte

Aumenta pela consciência da própria morte:

- Podia ser eu!

- A pessoa toma consciência que caminha para lá e pode ser o próximo a encarar a morte.
Tarefa III (acomodar-se a um ambiente onde irá faltar a pessoa que vai falecer)

Quando ocorre antecipação da morte é comum que as pessoa enlutadas façam um “ENSAIO
DOS PAPÉIS” na sua mente. Este ensaio mental tem uma função no todo do problema.

Tarefa IV- não se verifica no luto antecipado

GRANDES DIFICULDADES:

- A pessoa poder recuar muito cedo, emocionalmente, muito tempo antes do falecimento do
seu familiar e estabelecer uma relação inadequada chegando a desejar que a morte se
precipite.

- Uma aproximação excessiva dos membros da família à pessoa que está a morrer para
remediar sentimentos de culpa e para remediar a perda, envolvendo-se de “forma abusiva”
nos cuidados de saúde do paciente.

Em síntese:

• Quem está a perder perde só uma pessoa.


• Quem está a morrer perde muitas pessoas significativas de uma só vez.
• A antecipação da perda pode ser uma sobrecarga para o paciente levando-o a recuar e
voltar o seu rosto para a parede, para lidar com o ompacto disto.

LUTO PATOLÓGICO (pessoas não resolvem o luto)

1 – Reações de luto crónicas

Têm uma duração excessiva e nunca chegam a um fim satisfatório.

Ex: “eu não consigo voltar à minha vida”; “isto não termina para mim”; “eu preciso de
ajuda para voltar a ser quem era”

2- Reações de luto retardadas

Sentimentos oprimidos num primeiro luto são reativados e exacerbados numa


situação de perda posterior, que pode não ser uma morte.

“Uma perda recente ativa ou reativa uma perda anterior”

3 – Reações de luto exageradas

Reação excessiva e incapacitante com transtornos psiquiátricos

EX: depressão clínica, crises de pânico, fobias, comportamentos aditivos, transtornos


de stress pós-traumático
4- Reações de luto mascaradas

As pessoas apresentam sintomas e comportamentos que lhes causam dificuldade, mas


não os relacionam com a perda.

Habitualmente desenvolvem sintomas não afetivos denominados:

- equivalentes afetivos do luto

- doenças facsímile – situação de desencadear doenças parecidas com aquela que


levou a pessoa à morte

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