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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA


ANAIS DA VIII MOSTRA CIENTÍFICA FAMEZ

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL


FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

DIRETORA
a
Prof . CAMILA CELESTE BRANDÃO FERREIRA ÍTAVO

COORDENADORES DE CURSO

MEDICINA VETERINÁRIA
Prof. CARLOS ALBERTO DO NASCIMENTO RAMOS

ZOOTECNIA
Prof. GUMERCINDO LORIANO FRANCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
ANAIS DA VIII MOSTRA CIENTÍFICA FAMEZ

APRESENTAÇÃO

Apresentamos mais uma edição dos Anais da MOSTRA FAMEZ. A Comissão


Organizadora agradece a todos os professores e acadêmicos que auxiliaram na
realização da VIII MOSTRA FAMEZ, em especial, aos alunos do Grupo PET Zootecnia.

Para a confecção dos Anais os artigos foram disponibilizados aleatoriamente, de


maneira que não estão ordenados por área. Assim, esperamos que os artigos de áreas
distintas também possam ser apreciados.

Esperamos que os membros da comunidade acadêmica aproveitem essa edição


dos ANAIS da VIII MOSTRA FAMEZ, e, ainda mais, desejamos que os artigos
apresentados satisfaçam os anseios e que os eventos vindouros sejam coroados de
êxito.

COMISSÃO ORGANIZADORA

O conteúdo dos artigos e revisões contidos nesta publicação são de responsabilidade dos respectivos
autores.

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FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
ANAIS DA VIII MOSTRA CIENTÍFICA FAMEZ

SUMÁRIO
RESUMOS Página

ADERÊNCIA DE PÊNIS SEGUIDA DE RUPTURA DE URETRA EM UM 8


TOURO – RELATO DE CASO

ANALISE RADIOGRÁFICA COMPARATIVA DE LAMINITE CRÔNICA EM 11


DOIS EQUINOS

LEVANTAMENTO DA MASTITE SUBCLÍNICA E CONTAGEM DE CÉLULAS 15


SOMÁTICAS EM REBANHOS LEITEIROS DE MATO GROSSO DO SUL

ARTRITE SÉPTICA EM CÃO – RELATO DE CASO 18

BABESIOSE CEREBRAL EM BEZERROS 21

BOTULISMO EM CÃES – RELATOS DE CASOS 24

CARACTERIZAÇÃO CITOLÓGICA DA CALCINOSE CIRCUNSCRITA EM 27


CÃO

EFEITO DO TEMPO DE INCUBAÇÃO NO TESTE DE INIBIÇÃO DA 29


MIGRAÇÃO LARVAL COM ISOLADO DE HAEMONCHUS CONTORTUS

EFICÁCIA ANTIFÚNGICA DO EXTRATO DE SENNA OCCIDENTALIS E 32


RICINUS COMMUNIS CONTRA DERMATÓFITOS

CERATOCONJUNTIVITE NODULAR EM UM CASO DE LEISHMANIOSE 35


CANINA

USO DE FITA ADESIVA PARA DIAGNÓSTICO DE SARNA DEMODÉCICA 37


EM UM CÃO

DIAGNÓSTICO IN VITRO DA RESISTÊNCIA A BENZIMIDAZÓIS EM 39


CIATOSTOMÍNEOS NA FAZENDA ESCOLA

DILATAÇÃO GÁSTRICA EM CÃO - RELATO DE CASO 43

FREQUÊNCIA DA OBSERVAÇÃO DE AGENTES PATOGÊNICOS EM 46


ESFREGAÇO SANGUÍNEO DE CÃES

ESTENOSE SUBAÓRTICA EM CÃO – RELATO DE CASO 49

ENDOCARDITE VALVULAR EM NOVILHA NELORE – RELATO DE CASO 52

SURTO DE INTOXICAÇÃO POR UREIA EM BOVINOS DO MATO GROSSO 55


DO SUL

LEIOMIOSSARCOMA EM CÃO - RELATO DE CASO 58

ASPECTOS CITOLÓGICOS DE EFUSÃO NEOPLÁSICA ASSOCIADA À 60


ADENOCARCINOMA PAPILAR OVARIANO EM CÃO

SUSPEITA DE ENCEFALITE BOVINA POR TRYPANOSOMA EVANSI NO 63


MATO GROSSO DO SUL

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SURTO DE INTOXICAÇÃO CRÔNICA POR COBRE EM OVINOS 66

INTOXICAÇÃO POR SENNA SPP. EM UM EQUINO 69

ASSOCIAÇÃO DE DIFERENTES NÍVEIS DE MANDIOCA, MORINGA E 72


BOCAIUVA SOBRE A QUALIDADE INTERNA DE OVOS BRANCOS TIPO
CAIPIRA

MENINGOENCEFALITE NÃO SUPURATIVA NECROSANTE CAUSADA POR 75


HERPESVÍRUS BOVINO TIPO 5 EM MATO GROSSO DO SUL

MENINGOENCEFALITE SUPURATIVA ASSOCIADA À OTITE MÉDIA E 78


INTERNA EM OVINO – RELATO DE CASO

INTOXICAÇÃO ESPONTÂNEA EM POTROS POR SENNA SP. EM 81


PROPRIEDADE NO MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE-MS

LEVANTAMENTO DE DIAGNÓSTICOS CLÍNICOS E INTERVENÇÕES 84


CIRÚRGICAS EM GRANDES ANIMAIS ATENDIDOS PELA DISCIPLINA DE
CLÍNICA MÉDICA E TERAPÊUTICA DE EQUINOS, NO PERÍODO DE
FEVEREIRO A JUNHO DE 2015

AVALIAÇÃO DA ADIÇÃO DE AMILASE E XILANASE EM RAÇÕES DE 87


SUÍNOS

DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA CISTICERCOSE BOVINA EM AMOSTRAS 91


DE UM FRIGORÍFICO EM CAMPO GRANDE – MS

CONSUMO DE LEITE EM CAMPO GRANDE, MS, SOB ENFOQUE DO 95


HÁBITO DE CONSUMO

COMUNIDADE PARASITÁRIA EM SERIEMAS (Cariama cristata) NA REGIÃO 99


DA NHECOLÂNDIA, PANTANAL; BRASIL

CONTAGEM BACTERIANA TOTAL EM CAMA DE FRANGOS DE CORTE 103


TIPO CAIPIRA

CONTRIBUIÇÃO DA RINOSCOPIA NO DIAGNÓSTICO DE ASPERGILOSE 106


SINONASAL EM CÃES: RELATO DE CASO

CONSUMO DE LEITE EM CAMPO GRANDE, MS, SOB ENFOQUE DO 109


PADRÃO HIGIÊNICO E TIPO DE EMBALAGEM

QUALIDADE EXTERNA DE OVOS BRANCOS DO TIPO CAIPIRA: 112


ASSOCIAÇÃO DE NÍVEIS DE MANDIOCA, MORINGA E BOCAIÚVA NA
ALIMENTAÇÃO DE POEDEIRAS

COMPARAÇÃO ENTRE LAMP E PCR NO DIAGNÓSTICO MOLECULAR DE 115


LEISHMANIA (INFANTUM) CHAGASI

CORREÇÃO CIRÚRGICA DE PERSISTÊNCIA DE ARCO AÓRTICO DIREITO 119


EM UM CÃO DE TRÊS MESES DE IDADE: RELATO DE CASO

VARIABILIDADE GENÉTICA PARA PRODUÇÃO DE MEL EM COLÔNIAS 122


DE TIÚBA (Melipona fasciculata) NA REGIÃO DE SÃO BENTO – MA

FATORES QUE AFETAM O PREÇO DE REPRODUTORES DA RAÇA 126


NELORE EM LEILÕES

CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E MOLECULAR DE STAPHYLOCOCCUS 130

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AUREUS ISOLADO DE MASTITE BOVINA (DADOS PARCIAIS)

PADRONIZAÇÃO DA METODOLOGIA DE COLETA DE Brachiaria decumbens 133


PARA DETERMINAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES TÓXICAS DE
PROTODIOSCINA PARA OVINOS

ESTRATÉGIAS FARMACOLÓGICAS PARA O CONTROLE DE HELMINTOS 136


COM RESISTÊNCIA MÚLTIPLA A DROGAS EM CAPRINOS

CARACTERÍSTICA MORFOLÓGICA DA CARCAÇA DE CORDEIROS 140


SUBMETIDOS A DIFERENTES SISTEMAS DE TERMINAÇÃO

VALORES DE REFERÊNCIA PARA OS TESTES BIOQUÍMICOS SÉRICOS DE 143


CREATININA, UREIA E FÓSFORO EM VEADO-CAMPEIRO (Ozotoceros
bezoarticus) DE VIDA LIVRE

DESENVOLVIMENTO SEXUAL E CLASSIFICAÇÃO ANDROLÓGICA POR 146


PONTOS (CAP) EM TOUROS JOVENS DA RAÇA SENEPOL

CONTAMINAÇÃO BACTERIANA DE JALECOS EM UM HOSPITAL 150


VETERINÁRIO

FALHA NA PREVENÇÃO DA INTOXICAÇÃO POR 154


MONOFLUOROACETATO ATRAVÉS DA ADMINISTRAÇÃO REPETIDA DE
DOSES NÃO LETAIS DESTA SUBSTÂNCIA A OVINOS

LAPAROTOMIA PARAMEDIANA DIREITA COM CECOSTOMIA EM 157


EQUINO COM EVENTRAÇÃO – RELATO DE CASO

FRATURA DE ESCÁPULA EM CACHORRO DOMÉSTICO – RELATO DE 160


CASO

LEVANTAMENTO RADIOGRÁFICO DE LESÕES NA COLUNA VERTEBRAL 162


EM PEQUENOS ANIMAIS

PERFIL FERMENTATIVO DAS SILAGENS DE CAPIM BRACHIARIA 165


BRIZANTHA cv. MARANDU COM DIFERENTES NÍVEIS DE ADITIVOS

IDADE À PUBERDADE E À MATURIDADE SEXUAL EM TOUROS SENEPOL 169


CRIADOS A PASTO

RELAÇÃO ENERGIA:NUTRIENTES SOBRE O DESEMPENHO DE FRANGOS 172


DE CORTE TIPO CAIPIRA DE 1 A 56 DIAS DE IDADE

O IMPACTO DA LEISHMANIOSE VISCERAL NA SAÚDE PÚBLICA 175

ATRIBUTOS DE QUALIDADE DA CARNE DE FRANGO TIPO CAIPIRA 177


SUBMETIDOS A DIFERENTES NÍVEIS DE ENERGIA

DESEMPENHO DE CORDEIROS CRIADOS EM PASTAGEM Brachiaria spp. 181

PERFIL FERMENTATIVO DAS SILAGENS DE CAPIM BRACHIARIA 184


BRIZANTHA cv. BRS PAIAGUÁS COM DIFERENTES NÍVEIS DE ADITIVOS

TRICOBEZOAR EM COELHO DOMÉSTICO (Oryctolagus cuniculus) – 188


RELATO DE CASO

CARACTERÍSTICAS QUANTITATIVAS DA CARCAÇA DE CORDEIROS 190


SUBMETIDOS A DIFERENTES SISTEMAS DE TERMINAÇÃO

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LEVANTAMENTO MOLECULAR DE MYCOPLASMAS SANGUÍNEOS EM 193


CÃES PROVENIENTES DE CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL,
BRASIL

PERCEPÇÃO DOS CRIADORES DE CAVALO PANTANEIRO SOBRE 196


ENDOPARASITAS E ECTOPARASITAS NA REGIAO CENTRO - OESTE

AVALIAÇÃO DA MICROBIOTA DA CAVIDADE ORAL DE CÃES 199

SÍNDROME DO GATO PARAQUEDISTA – RELATO DE CASO 202

TÉCNICA DE ESTABILIZAÇÃO ATRAVÉS DE FIXADOR EXTERNO TIPO II 205


EM SERIEMA (Cariama cristata) APRESENTANDO FRATURA TÍBIO-
TARSICA

PROLAPSO VAGINAL EM OVELHA GESTANTE – RELATO DE CASO 207

RENDIMENTO INTRÍNSECO DA ESPERMATOGÊNESE E ÍNDICE DE 211


CÉLULAS DE SERTOLI EM TOUROS NELORE

ECOTEXTURA TESTICULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A 214


ESPERMATOGÊNESE DE TOUROS NELORE

INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DE QUERCETINA QUANDO 217


ASSOCIADA À IVERMECTINA EM UM ISOLADO DE Haemonchus contortus
RESISTENTE A IVERMECTINA

REVISÕES Página
PRODUÇÃO DE METANO POR BOVINOS DE CORTE E ALTERNATIVAS
PARA SUA MITIGAÇÃO 222
IMPUTAÇÃO DE GENÓTIPOS E SUA UTILIZAÇÃO NO MELHORAMENTO
GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE 231
PONTOS CRÍTICOS PARA A VIABILIDADE DO USO DA FIV NO EXTRATO
COMERCIAL DA CADEIA BOVINA DA CARNE 238

PREVENÇÃO E CONTROLE DA LEISHMANIOSE VISCERAL 247


ADITIVOS FITOTERÁPICOS NA ALIMENTAÇÃO DE NÃO-RUMINANTES 252
ESTRAGÉGIA DE JEJUM E SEUS EFEITOS METABÓLICOS LIGADOS AO
ESTRESSE COM REFLEXO NA REPRODUÇÃO BOVINA 261
ATIVIDADE DA PROTEÍNA FOSFOLIPASE C ZETA NA FERTILIZAÇÃO DO
OÓCITO 266
XILANASE NA ALIMENTAÇÃO DE FRANGOS DE CORTE E POEDEIRAS
COMERCIAIS 274

ENERGIA METABOLIZÁVEL PARA FRANGO DE CORTE 282


FATORES DE CRESCIMENTO FGFb E EGF NA REPRODUÇÃO 289
MODELOS MATEMÁTICOS PARA PREDIÇÃO DA PRODUÇÃO DE
METANO EM RUMINANTES 296

ÓLEOS ESSENCIAIS COMO ADITIVO NA DIETA DE RUMINANTES 303


BIOHIDROGENAÇÃO RUMINAL E FORMAÇÃO DO ÁCIDO LINOLEICO
CONJUGADO 309

DOENÇAS INFECCIOSAS DO TRATO REPRODUTIVO DO TOURO 316

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GLUTAMINA NA DIETA DE LEITÕES DESMAMADOS 321


ESTOCAGEM E PRESERVAÇÃO DA CARNE 328
ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO, ANTIOXIDANTES, E SUAS
CONSEQUÊNCIAS NA QUALIDADE DO SÊMEN BOVINO 336

MANEJO DOS SUÍNOS NO FRIGORÍFICO: DO DESEMBARQUE AO ABATE 343


PRINCIPAIS ASPECTOS DO COMPORTAMENTO INGESTIVO DE OVINOS 349
PRINCIPAIS CAUSAS INFECCIOSAS DE ABORTAMENTO EM BOVINOS 355
QUALIDADE DA ÁGUA NA PRODUÇÃO DE PEIXES EM VIVEIROS 362
RENDIMENTO DE PROCESSAMENTO DE CARCAÇA DE SURUBINS
(Pseudoplatystoma spp.) 369

DESENVOLVIMENTO SEXUAL EM TOUROS SENEPOL 375


FATORES QUE DETERMINAM A FIDELIZAÇÃO DA COMPRA POR
CONSUMIDORES DE CARNES NOS SUPERMERCADOS 383
DESEMPENHO ZOOTÉCNICO DO PACU (Piaractus mesopotamicus),
TAMBAQUI (Colossoma macropomum) E DO HÍBRIDO TAMBACU (Colossoma 388
macropomum X P. mesopotamicus)
INFLUÊNCIA DA ANGIOTENSINA II NA REPRODUÇÃO ANIMAL 393
REPRODUÇÃO DE TAMBAQUI 400
EFEITOS DO TRATAMENTO COM DIFLUBENZURON EM PEIXES DE
PRODUÇÃO 404

ZINCO NA NUTRIÇÃO DE NÃO – RUMINANTES 409


MANEJO REPRODUTIVO E LARVICULTURA DE Pseudopladystoma spp 418
EXIGÊNCIA DE FÓSFORO PARA FRANGOS DE CORTE 424
ENZIMA CONVERSORA DA ANGIOTENSINA E SEU USO POTENCIAL NA
AVALIAÇÃO REPRODUTIVA DO MACHO 432

CONSUMO ALIMENTAR RESIDUAL COMO MEDIDA DE EFICIÊNCIA


ALIMENTAR NA SELEÇÃO DE BOVINOS DE CORTE 438

A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO ECONÔMICA DOS SISTEMAS


PRODUTIVOS DE PINTADO COM E SEM USO DE AERADORES 446
PROJETO PET EQUIPE – SISTEMA DE FORMULAÇÃO DE RAÇÃO
(PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO) 451
USO DO SISTEMA DE ANÁLISE COMPUTADORIZADA DO EJACULADO
BOVINO 459

PROJETOS Página
AÇÕES DESENVOLVIDAS PELO PROJETO DE EXTENSÃO LEISHNÃO DA 465
UFMS EM 2015
PROJETO DE PESQUISA: USO DE DUAS TÉCNICAS PARA
CRIOPRESERVAÇÃO DE SÊMEN DE TOUROS NELORE, CARACU E 468
SENEPOL
AÇÕES DE EXTENSÃO DESENVOLVIDAS PELO PET ZOOTECNIA UFMS 471
NO PRIMEIRO PERÍODO DE 2015

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RESUMOS

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ADERÊNCIA DE PÊNIS SEGUIDA DE RUPTURA DE URETRA EM UM TOURO – RELATO


DE CASO

Willian Vaniel Alves dos Reis1, Amanda Moura Silva Quintiliano1, Rodrigo Madruga da Silva2, Luis
Guilherme Pereira Guerra2, Marcelo Augusto de Araújo3, Fernando Arévalo Batista4
1
Acadêmico do curso de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul. Email: willian.vet.ufms@gmail.com
1
Acadêmico do curso de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul. Email: amandaquintiliano@hotmail.com
2
Residente no Programa de residência em Clínica Médica e Cirúrgica de Grandes Animais, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Email: madruga_vet@hotmail.com
3
Médico Veterinário do setor de Clínica Médica e Cirúrgica de Grandes Animais da da, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Email: marcelo.augusto@ufms.br
4
Professor de Clínica Cirúrgica de Grandes Animais da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul. Email: zpt5151@hotmail.com

Resumo: Objetivou-se relatar um caso de aderência peniana seguida por ruptura de uretra em um touro,
oito meses após uma lesão caudal ao prepúcio, cicatrizada por segunda intenção. O diagnóstico foi
realizado por meio das informações colhidas na anamnese, do exame físico e exames complementares e
confirmado após o procedimento cirúrgico. O tratamento consistiu de falectomia no terço médio do corpo
peniano. Seis meses após o procedimento o animal não apresentou nenhuma complicação e apresenta-se
bem.

Palavras-chave: Bovino, falectomia, uretrostomia

PENIS ADHERENCE FOLLOWED BY URETHRAL RUPTURE IN A BULL – CASE REPORT

Abstract: This study aimed to report a case of penis adherence followed by urethral rupture in a bull,
eight months after an injury caudal to the prepuce, healed by secondary intention. The diagnosis was
made by means of anamnesis, physical examination and complementary tests and confirmed after
surgery. Treatment consists of penectomy in the middle third of the penis body. Six months after the
procedure the animal showed no complication and presents well.

Keywords: Bovine, penectomy, urethrostomy

Introdução
Todas as espécies domésticas são passíveis de sofrer contusões, inflamações e feridas no pênis e
uretra (Eurides et al. 1996).
A causa mais frequente de alterações na uretra é a obstrução por cálculos urinários, que são
formados em consequência da precipitação de minerais ou substâncias orgânicas no trato urinário, com
consequente ruptura (Assis et al., 2009). Embora, devido ao seu diâmetro relativamente menor em relação
às fêmeas, a ruptura também possa ocorrer após traumatismos (Turner & Lwraith, 1985).
Segundo Turner & Lwraith (1985), em qualquer que seja a causa da ruptura, é preciso ser eficaz na
liberação do fluxo de urina, evitando assim, que ocorra morte do animal por uremia. Nesse caso, indica-
se a falectomia como uma solução, a fim de estabilizar o animal, mantendo-o vivo até que esteja apto ao
abate.
Objetivou-se relatar um caso de aderência peniana seguida de ruptura de uretra em um touro
tratado por meio de falectomia.

Material e Métodos
Foi atendido um bovino macho, SRD, de quatro anos de idade, com histórico de apatia, hiporexia,
disúria e aumento de volume na porção ventral do abdome. Na anamnese, foi informado que o animal
havia sofrido uma lesão por arame liso na região ventral do abdome, caudal ao óstio prepucial, há oito
meses, com cicatrização por segunda intenção. Após algum período, foi observado que o mesmo começou
a apresentar disúria e não conseguia expor o pênis durante as tentativas de monta observadas pelo
proprietário. E nos três dias anteriores à consulta, verificou-se aumento gradativo de volume na porção

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ventral do abdome, além de apatia, hiporexia, iscúria e períodos prolongados de permanência em


decúbito.
No exame físico verificou-se apatia, condição corpórea magra, aumento de volume na região
ventral do abdome, pronunciado para o lado esquerdo, com sinal de godet positivo, sensibilidade e
temperaturas aumentadas. As mucosas apresentavam-se róseas, TPC de dois segundos, desidratação leve
e linfonodos sem alterações. A frequência cardíaca estava 88 bpm, frequência respiratória 30 mpm,
temperatura retal 39,3°C e apresentou quatro movimentos ruminais completos em cinco minutos. Após
palpação retal, observou-se que a vesícula urinária estava com pouca quantidade de urina. Durante
avaliação do prepúcio, houve a tentativa de introduzir uma sonda de silicone, não conseguindo avançar da
porção média do prepúcio. Ao se remover a sonda, observou-se a presença de sangue e secreção
purulenta. Foi realizado punção com uma agulha 18G no local do aumento de volume e enviado o
conteúdo obtido para o laboratório de patologia clínica da FAMEZ. Após a avaliação do material
constatou-se que os valores de creatinina da amostra eram de 12,4 mg/dL, enquanto na amostra sérica era
de 2 mg/dL, demonstrando que a amostra obtida da punção da região do edema era urina.
Diante dos achados e da evolução progressiva do quadro, optou-se por realizar a falectomia para
reestabelecimento da micção. Como protocolo anestésico, foi realizada sedação com xilazina (0,1 mg/kg
IM) e bloqueio peridural caudal e do nervo pudendo com lidocaína 2%.
Para a realização do procedimento cirúrgico seguiu-se as orientações de Eurides et al. (1996). O
animal foi contido e posicionado em decúbito dorsal, e após a realização da tricotomia e antissepsia, foi
realizada uma incisão no períneo, em um ponto médio entre o ânus e o escroto, para a exteriorização da
porção descendente do pênis. Visando a exposição da porção cranial do pênis, foi imposta uma força de
tração, a fim de liberá-lo dos tecidos adjacentes. Após a ligadura da artéria e veia dorsais, o pênis foi
seccionado transversalmente, reservando um pequeno segmento da uretra, a qual foi fixada com fio
poliglactina 910 0, envolvendo o corpo cavernoso e esponjoso do pênis. Feito isso, a túnica albugínea
peniana foi suturada nas extremidades da pele incisionada, deixando cerca de três cm de coto peniano
exposto. Ao final da cirurgia, o animal também foi submetido a orquiectomia.
Para o pós-operatório, além de curativos diários da ferida cirúrgica com PVPI 0,1%, foi realizada
terapia antimicrobiana com penicilina benzatina 22.000 UI/kg/IM a cada 48 horas, totalizando cinco
aplicações e, terapia anti-inflamatória com flunixin meglumine 2,2 mg/kg/IM a cada 24 horas durante
Decorridos 13 dias do procedimento cirúrgico, o edema formado pelo acúmulo de urina nos tecidos se
organizou em uma coleção líquida na porção mais ventral do abdome e, após um pequeno procedimento
cirúrgico, o edema foi drenado e o animal se recuperou totalmente.

Resultados e Discussão
A porção amputada do pênis apresentava avançado estado de necrose devido a saturação de urina
no tecido e não continha cálculos uretrais, o que exclui a urolitíase como causa, uma vez que é a principal
responsável por casos de ruptura de uretra em bovinos.
O bovino se recuperou rapidamente do procedimento cirúrgico e o edema proporcionado pelo
acúmulo de urina nos tecidos evoluiu para uma coleção líquida podendo ser drenado e não causando
maiores danos como esperado.
Pelo fato do coto peniano ser posicionado no sentido caudoventral, foi evitado que ocorresse
dermatite inflamatória por contato com urina durante a micção.
A cirurgia de falectomia é vantajosa, pois ainda que o animal não tenha reflexo produtivo, foi
realizada com o intuito de preservar a vida do animal e “ganhar tempo”, a fim de que o mesmo se
estabilizasse e estivesse apto ao abate.

Conclusões
Os procedimentos realizados foram eficazes para diagnosticar a ruptura uretral e a realização da
falectomia possibilitou a recuperação do animal.

Literatura Citada
ASSIS, A.C.O.; SILVA, T.R.; AGUIAR, G.M.N. et al. Urolitíase obstrutiva em bovinos no semi-árido
paraibano. Ciência Animal Brasileira, 2009.
EURIDES, D.; BOMBONATO, P.P.; SILVA, L.A.F. et al. Correção Cirúrgica da ruptura de pênis em
bovinos. Veterinária Notícias, v.2, n.1, p.37-43, 1996.

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RABELO, R.E.; VULCANI, V.A.S.; CARDOSO, L.D. et al. Aspectos Anatômicos e suas relações com
as enfermidades do prepúcio e pênis no touro. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária,
n.18, 2012.
TURNER, A.S.; LWRAITH, C.W.M. Uretrostomia. Técnicas Cirúrgicas em Animais de Grande
Porte, p.266-270, 1885.

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ANALISE RADIOGRÁFICA COMPARATIVA DE LAMINITE CRÔNICA EM DOIS EQUINOS

Surama Ferreira¹, Bartira Damiana Lemes Cipriano², Desireé Reis de Oliveira³, Rodrigo Madruga da
Silva4, Fernando Arévalo Batista5, Paulo Antonio Terrabuio Andreussi6

¹ Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/ UFMS. E-mail: suramaferreira@hotmail.com


² Residente de Diagnóstico por Imagem da FAMEZ/ UFMS. E-mail: bartiradlc@gmail.com
³ Residente de Diagnóstico por Imagem da FAMEZ/ UFMS. E-mail: desiree_soh@hotmail.com
4
Residente de Clínica Médica e Cirúrgica de Grande Animais FAMEZ/ UFMS. E-mail: madruga_vet@hotmail.com
5
Professor de Clínica Cirúrgica de Grande Animais da FAMEZ/ UFMS. E-mail: zpt5151@hotmail.com
6
Professor de Diagnóstico por Imagem da FAMEZ/ UFMS. E-mail: pauloandreussi@hotmail.com

Resumo: A laminite é considerada uma afecção grave em equinos por acometer o sistema locomotor, ter
alto índice de morbidade e exigir tratamento prolongado. Quando evolui para o quadro crônico gera dor
intensa impedindo o animal de ter vida atlética ou limitando sua qualidade de vida. O exame radiográfico
é importante no diagnóstico precoce, indicando os primeiros sinais de afundamento e/ou rotação de
falange distal, e também na condução do tratamento. Este estudo tem como objetivo comparar
radiograficamente dois casos de laminite crônica em equinos com diferentes estágios de evolução.

Palavras-chave: claudicação, falange distal, locomotor, radiografia

COMPARATIVE RADIOGRAPHIC REVIEW OF CHRONIC LAMINITIS IN TWO HORSES

Abstract: Laminitis is considered a serious disease in horses since it affects the locomotor system, have
high morbidity and prolonged treatment, when progresses to the chronic condition, generates a lot of pain,
impeding the animal to have an athletic life or limiting their quality of life. Radiographic examination
helps in early diagnosis indicating the first signs of subsidence and / or rotation of the distal phalanx, and
is useful for early treatment. This study aims to compare radiographically two cases of chronic laminitis
in horses with different stages of evolution.

Keywords: distal phalanges, lameness, locomotor, radiography

Introdução
Nos últimos anos a laminite tem sido muito estudada, porém sua patogênese ainda é desconhecida
(Stashak, 2006). Atualmente ela é considerada um processo inflamatório que atinge as lâminas dos
cascos, podendo ser considerada uma afecção metabólica sistêmica. Ocorre ação vasoativa gerando
vasoconstrição que determina redução do fluxo sanguíneo de retorno, edema e diminuição das trocas
gasosas do sistema podofiloso do membro, predispondo a situação de isquemia no tecido lamelar, edema
e abertura de shunts (Thomassian, 2005), seguidas de degeneração e necrose (Lemes, 2010).
Segundo Lemes et al (2010) foi encontrado infiltrado multifocal de neutrófilos em 80% das
amostras coletadas de laminites induzidas em 72 horas, sendo provável consequência das alterações
vasculares iniciais, indicando um processo inflamatório. Neste mesmo estudo foi possível observar
hiperplasia na túnica íntima das arteríolas das lâminas dérmicas primárias em 15% das amostras,
indicativo de venoconstrição, como resposta para aumentar a pressão do fluxo sanguíneo e manter o
retorno circulatório. Observou-se também congestão, degeneração de células epiteliais das lâminas
epidérmicas secundárias (presença de células picnóticas), assimetria entre as lâminas dérmicas e
epidérmicas, separação e perda da arquitetura das lâminas e ruptura da membrana basal.
A laminite pode ser classificada quanto à evolução sendo subdividida em subaguda, aguda,
refratária e crônica. Na laminite subaguda a manifestação é moderada, com sinais clínicos menos graves e
geralmente com resolução rápida, sem danos laminares permanentes. A forma aguda da laminite
apresenta sinais clínicos mais graves com resposta mais lenta ao tratamento, os principais sinais clínicos
apresentados pelos animais incluem pulsos digitais aumentados, aumento de temperatura na parede do
casco, aumento da temperatura retal, alternância de apoio, claudicação moderada e dor detectada ou não
sobre a região da pinça com pinças de casco. A laminite refratária ocorre nos animais que não
responderam ou que responderam minimamente à terapia em sete a dez dias, geralmente indica
inflamação e degeneração laminar grave, com prognóstico desfavorável à recuperação (Stashak, 2006).

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ANAIS DA VIII MOSTRA CIENTÍFICA FAMEZ

A laminite crônica inicia-se aos primeiros sinais de afundamento e/ou rotação da falange distal
dentro da cápsula do casco, em casos crônicos ativos a falange distal pode penetrar na sola. As alterações
no crescimento do casco incluem concavidade da parede dorsal do casco, convergência dorsal dos anéis
da parede do casco, pinças crescidas e solas caídas, consequências da diminuição do suprimento vascular
e perda da interdigitalização laminar. O animal pode apresentar ou não sensibilidade ao pinçamento de
casco (Stashak, 2006). A rotação da falange distal ocorre pela ação do tendão extensor digital comum,
compressão da sola no sentido ventro-dorsal e tração do tendão flexor digital profundo alterando a relação
de paralelismo com a muralha do casco (Thomassian, 2005).
Para exames de laminite são aconselhadas, no mínimo, duas projeções radiográficas, sendo elas
látero-medial (LM) e dorsopalmar (DP). Na projeção látero-medial deve ser colocado um marcador
radiopaco à face dorsal da muralha do casco, o feixe do raio deve ser direcionado paralelamente ao solo e
centrado na banda coronária, na metade da distância das superfícies dorsal e palmar e os bulbos dos talões
superpostos. Na projeção dorsopalmar ou palmarodistal oblíqua o feixe de raios é centralizado na linha
media da banda coronária e direcionado perpendicular ao chassi (O’Brien, 2006).
O objetivo deste estudo é comparar as alterações radiológicas no estado crônico de laminite em
dois pacientes da espécie equina.

Material e Métodos
Foram atendidos no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul no dia 22 de setembro de 2015, dois equinos, fêmeas, da
raça Quarto de Milha. O primeiro animal, com sete anos de idade e pelagem alazã, com queixa principal
de laminite crônica há um ano. No exame físico constatou-se frequência cardíaca 52 bpm, frequência
respiratória 44 mpm, temperatura retal 37,8 °C, ausência de pulso nas artérias digital palmar, mucosas
róseas, hidratado, com tempo de preenchimento capilar de dois segundos e motilidade normal. O segundo
animal, com onze anos e pelagem zaina, com queixa principal de laminite crônica há quatro anos. No
exame físico constatou-se frequência cardíaca 54 bpm, frequência respiratória 28 mpm, temperatura retal
37,8 °C, ausência de pulso em artéria digital palmar, mucosas róseas, hidratado, com tempo de
preenchimento capilar de dois segundos e motilidade normal. Ambos apresentaram grau de claudicação
IV ao passo, deformação nas muralhas e sensibilidade nas solas dos cascos dos membros torácicos.
Foram realizadas radiografias dos membros torácicos em posição látero-medial e dorso palmar,
segundo O’Brien (2006).

Resultados e Discussão
Os achados radiológicos no primeiro animal evidenciaram presença de osteófitos próximos das
articulações e enteseófitos nas articulações interfalangianas proximais e interfalangianas distais. A
falange distal apresentou-se com irregularidade na córtex dorsal. Observou-se afundamento de falange
distal com valores de 30 milímetros para o ponto distal e 26 milímetros para o ponto proximal em relação
à espessura da parede dorsal do casco de acordo com o modelo de O’Brien (2006). Foi observada
irregularidade na superfície dorsal da muralha do casco e angulação de 19 graus, segundo modelo de
Thrall (2010), (figura 1). Na projeção dorso palmar foi possível observar osteófitos nas cartilagens alares.
Sugeriu-se doença articular crônica e rotação da falange distal bilateral moderada.

Figura 1. Projeção radiográfica látero-medial do membro torácico direito. Visualizada a rotação da


terceira falange com relação à muralha do casco, osteófitos periarticulares (setas) e aumento de volume de
tecidos moles. Fonte: LDI/FAMEZ/UFMS, 2015.

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No segundo animal foi observado radiologicamente a presença de osteófitos periarticulares e


enteseófitos nas articulações interfalangianas proximais e distais. Constatou-se irregularidade no córtex
dorsal da falange distal, presença de leve acúmulo gasoso dorsal ao córtex e afundamento da espessura da
parede dorsal do casco com valores de 46 milímetros para o ponto distal e 26 milímetros para o ponto
proximal de acordo com o modelo de O’Brien (2006). Calculou-se a angulação da falange distal, de 30
graus, utilizando o método de Thrall (2010). A superfície dorsal da muralha do casco estava irregular e
apresenta ferradura com cravos (figura 2). Foram observados osteófitos nas cartilagens alares na projeção
dorso palmar. Sugeriu-se doença articular crônica e rotação da falange distal bilateral grave.

Figura 2. Projeção radiográfica látero-medial do membro torácico direito. Visualizada a rotação da


terceira falange com relação à muralha do casco, presença de conteúdo gasoso (seta) e aumento de
volume de tecidos moles. Fonte: LDI/FAMEZ/UFMS, 2015.

O afundamento de falange distal é considerado como o primeiro sinal radiográfico presente na


laminite crônica (Stashak, 2006), no presente estudo constatou-se para o primeiro animal 30 mm para o
ponto distal e 26 mm para o ponto proximal em relação à espessura da parede dorsal do casco e para o
segundo animal 46 mm para o ponto distal e 26 mm para o ponto proximal, segundo O’Brien (2006) a
espessura normal da parede do casco é 18 milímetros ou menos e as duas medidas devem ser iguais, se
ocorrer divergência nesses valores deve ser considerado edema das lâminas.
No presente estudo observamos que os membros torácicos foram os mais afetados, apresentando
angulação da falange distal de 19 graus para o primeiro animal e 30 graus para o segundo animal,
corroborando com Thrall (2010), que afirmou que os sinais radiográficos de deslocamento da falange
distal são evidências de laminite crônica e os membros torácicos são os mais comumente afetados.
O segundo animal apresentou irregularidades no córtex dorsal e presença de leve conteúdo gasoso
o que corresponde ao descrito por Thrall (2010), que afirmou que frequentemente a falange distal
desenvolve um formato côncavo, seja pela neoformação óssea, reabsorção do córtex palmar ou angulação
de uma fratura solear. A presença de gás é descrita pelo fenômeno de vácuo, pela rotação da falange
distal, levando a disfunção de nitrogênio pelo sangue, associado à infecção secundaria de tecidos moles.

Conclusões
A avaliação radiográfica é fundamental para o diagnóstico precoce da laminite, indicando os
primeiros sinais de afundamento e/ou rotação de falange, assim como, são essenciais para o tratamento da
laminite crônica, para o correto casqueamento e colocação das ferraduras. Foi considerado o grau de
rotação da falange distal inversamente correspondente ao retorno às atividades atléticas, porém
atualmente há vários estudos afirmando não ter correlação do grau de rotação com o prognóstico da vida
atlética do animal.

Literatura Citada
LEME, F.O.P.; BONNA, F.A.B.; DE MARVAL, C.A. et al. Histopatologia das lâminas do casco de
equinos com laminite aguda induzida e tratados com ketoprofeno, fenilbutazona e flunixin meglumine.
Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, vol. 62, n.2, 2010. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S0102-09352010000200001 > Acesso em: 27/10/2015.
O’BRIEN, T.R. Radiografia da Extremidade Distal. In: O’ BRIEN, T.R. Radiologia de Equinos. São
Paulo: Roca, 2006. p.42- 85.
RIEDESEL, E.A. As Falanges. In: THRALL, D.E. Diagnóstico de Radiologia Veterinária. 5. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2010. p. 436-440.

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STASHAK, T.S. Claudicação. In: STASHAK, T.S. Claudicação em Equinos. 5. ed. São Paulo: Roca,
2006. p. 603- 620.
THOMASSIAN, A. Afecções do Aparelho Locomotor (Pé). In: THOMASSIAN, A. Enfermidade dos
Cavalos. 4. ed. São Paulo: Livraria Varela, 2005. p. 181- 194.

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LEVANTAMENTO DA MASTITE SUBCLÍNICA E CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS


EM REBANHOS LEITEIROS DE MATO GROSSO DO SUL

Nathalia Guedes de Oliveira1, Gustavo Gomes de Oliveira2, Larissa Gabriela Avila3


1
Aluna do Curso de Medicina Veterinária da UFMS, e-mail: natguedes_vet@hotmail.com
2
Residente na área de Patologia Clínica Veterinária UFMS, e-mail: gustavogomesde@hotmail.com
3
Professora da UFMS, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, e-mail: larissa.avila@ufms.br

Resumo: Objetivou-se, por meio deste trabalho, fazer um levantamento da ocorrência de casos de mastite
subclínica em rebanhos leiteiros de Mato Grosso do Sul, através dos testes California Mastitis Test
(CMT) e a Contagem de Células Somáticas (CCS). Ao todo foram avaliados 54 animais de quatro
propriedades leiteiras, nos municípios de Campo Grande e Nova Alvorada do Sul. Foram realizados o
CMT e a coleta de pool de leite para a CCS. O resultado do CMT era obtido no momento da realização.
Já o pool de leite foi utilizado para a CCS, sendo encaminhadas amostras em frascos com conservante
Bronopol (2-bromo-2-nitropropano- 1,3-diol) em caixa lacrada para a Clínica do Leite/ESALQ-USP, em
Piracicaba/SP. A média de vacas consideradas positivas no CMT foi 61,1% e a média da CCS foi de
392,2x103cel/mL de leite. As propriedades analisadas possuem em média uma CCS e porcentagem de
animais positivos para mastite dentro do esperando, porém medidas como boas praticas de produção e
manejo dos animais podem garantir uma melhora significativa na qualidade e na produção do leite.

Palavras-chave: California Mastitis Test, bovinos, sanidade

SURVEY OF MASTITIS SUBCLINICAL AND SOMATIC CELL COUNT IN DAIRY HERDS OF


MATO GROSSO DO SUL

Abstract: This study aimed do a survey of the occurrence of cases of subclinical mastitis in dairy cattle in
Mato Grosso do Sul, through tests California Mastitis Test (CMT) and counting of somatic cells (CCS).
The whole were evaluated 54 animals of four dairy properties, in the municipalities of Campo Grande and
Nova Alvorada do Sul. The CMT were performed and the collection of pool of milk for the CCS. The
result of the CMT was obtained at the time of completion. Already the pool of milk was used for the
CCS, being forwarded samples in bottles with preservative Bronopol (2-bromo-2-nitropropane- 1,3 diol)
in sealed box to the Clinic of milk/ESALQ-USP, in Piracicaba/SP. The average number of cows
considered positive in CMT was 61.1% and the mean CCS was 392,2x103cel/mL of milk. The properties
surveyed have on average a CCS and percentage of positive animals for mastitis within the waiting,
however measures as good practices of production and management of the animals can ensure a
significant improvement in quality and in the production of the milk.
Keywords: California Mastitis Test, cattle, sanity

Introdução
O processo inflamatório da glândula mamária recebe o nome de mastite e pode apresentar-se na
forma clínica ou subclínica. A forma subclínica causa alterações na qualidade e na produção de leite além
de ser de difícil diagnóstico, uma vez que necessita de testes diretos ou indiretos, como a Contagem de
Células Somáticas (CCS) e o California Mastitis Test (CMT), para ser identificada (Müller, 2002).
As células somáticas do leite são células de defesa do organismo que migram do sangue para o
interior da glândula mamária com o objetivo de combater os agentes causadores da mastite. As células
somáticas também podem apresentar células secretoras descamadas (Müller, 2002).
O CMT é um método indireto que avalia a quantidade de células somáticas do leite, sob a ação de
um detergente aniônico capaz de romper a membrana celular. A formação do gel ocorre pela interação
dos ácidos nucléicos celulares com o detergente (Rosemberg, 1993). Já a CCS foi considerada por Müller
(2002) uma ferramenta valiosa para avaliação da prevalência de mastite subclínica no rebanho, além de
servir como indicativo para a qualidade do leite. Müller (2002) afirmou ainda que a identificação de
animais com mastite subclínica é essencial para o controle da mastite nos rebanhos leiteiros e para a
melhora na qualidade do leite.
O objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento da ocorrência de casos de mastite subclínica
em propriedades do estado de Mato Grosso do Sul através dos testes CMT e CCS.

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Material e Métodos
Foram avaliados 54 animais escolhidos aleatoriamente e oriundos de quatro propriedades rurais,
sendo três localizadas no município de Campo Grande e uma em Nova Alvorada do Sul, Mato Grosso do
Sul. Todas as propriedades apresentavam atividades voltadas à produção de leite, porém possuíam
métodos de ordenha diferentes. Após isso, foram realizados o CMT produzido pela Yakult S/A® e a
coleta de pool de leite para a CCS. O resultado do CMT era obtido no momento da realização, seguindo a
metodologia preconizada por Schalm & Noorlander (1957). Já o pool de leite coletado foi utilizado para a
CCS, sendo encaminhadas amostras em frascos com conservante Bronopol (2-bromo-2-nitropropano-
1,3-diol) em caixa lacrada para a Clínica do Leite/ESALQ-USP, em Piracicaba/SP. Na tabela 2 está a
quantidade total de animais em cada propriedade, a localização e o tipo de ordenha realizada.

Tabela 2. Caracterização das propriedades quanto à localização, ao tipo de ordenha e número de animais
avaliados.
Propriedade Localização Ordenha Animais avaliados
1 Campo Grande/MS Mecânica 22
2 Nova Alvorada do Mecânica 6
Sul/MS
3 Campo Grande/MS Mecânica 20
4 Campo Grande/MS Manual 6
Total - - 54

Resultados e Discussão
A partir da determinação da CCS e dos resultados do CMT foi montada a tabela 2, que mostra a
média de CCS, o número de animais positivos no CMT em cada propriedade, respectivamente, sendo
considerado positivo o animal que apresentasse ao menos uma cruz e um teto afetado e a porcentagem de
animais positivos para mastite pelo CMT.

Tabela 2. Média da contagem de células somáticas (CCS), número de animais positivos para mastite no
California Mastitis Test (CMT) e porcentagem de animais positivos no CMT em cada propriedade
estudada.
Propriedade Média CMT positivos % de animais
CCS(x1000/mL) positivos no CMT
1 424 13 59,09
2 938 05 83,33
3 164 10 50
4 44 05 83,33
Total 392,2 33 61,11

Ribeiro et al (2003) encontrou 4.888 (37%) tetos positivos para mastite no CMT entre13.118
analisados no estado do Rio Grande do Sul. Apesar de o trabalho citado utilizar como unidade de estudo
quartos da glândula mamário, diferente do presente trabalho que utilizou as vacas como objeto de estudo,
é possível verificar que nas propriedades pesquisadas no estado de Mato Grosso do Sul a prevalência de
mastite é superior (média de 61%). Esse aumento provavelmente se deve ao fato de que Ribeiro et al
(2003) utilizou animais localizados em unidades de produção de leite altamente especializadas em sua
atividade, diferenciando-se do trabalho em questão que utilizou propriedades com baixa especialização
em produção de leite.
Em trabalho realizado por Mello et al (2012), no estado do Paraná, verificou 70% de animais com
amostras de leite positivas para bactérias causadoras de mastite. Esse resultado se aproxima do
encontrado no presente estudo. Essa aproximação deve-se ao fato de que Mello et al (2012) utilizou
propriedades cadastradas em um laticínio da região, sendo portanto propriedades, em sua maioria, de
médio a pequeno porte, semelhante as utilizadas no trabalho em questão. Entretanto Mello et al ( 2012)
utilizou-se de método diferente, do presente trabalho, para realizar o diagnóstico de mastite subclínica
(isolamento bacteriano), podendo acorrer, portanto, distinção quanto a sensibilidade e especificidade dos
métodos.

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Já na CCS, a média das propriedades ficou em 392,2x10 3cel/mL de leite. Essa média está dentro
do considerado pela normativa 62 de dezembro de 2011 do MAPA, que preconiza CCS menores do que
400x103cel/mL de leite. Porém segundo Müller (2002) a qualidade do leite está diretamente relacionada à
quantidade de células somáticas presente no mesmo, logo sempre se deve procurar diminuir a CCS
através de boas praticas de produção e manejo, a fim de garantir uma boa qualidade no produto
produzido.

Conclusões
As propriedades analisadas possuem em média uma CCS e porcentagem de animais positivos para
mastite dentro do esperando, porém medidas como boas praticas de produção e manejo dos animais
podem garantir uma melhora significativa na qualidade e na produção do leite.

Literatura Citada
MELLO, P. L.; AGOSTINIS, R. O.; COLOMBO, R. B. et al. Prevalência da mastite subclínica e
associação dos agentes etiológicos com a contagem de células somáticas de vacas leiteiras da região
sudoeste do Paraná. Veterinária e Zootecnia, v. 19, n. 4, p.513-521, 2012.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Instrução normativa n. 62, de
29 de dezembro de 2011. Regulamento técnico de produção, identidade e qualidade de leite tipo A,
tipo B, tipo C, pasteurizado e cru refrigerado e o Regulamento técnico da coleta de leite cru
refrigerado e seu transporte a granel. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2011..
MÜLLER, E.E. Qualidade do leite, células somáticas e prevenção da mastite. In: Simpósio sobre
Sustentabilidade da pecuária Leiteira na Região Sul do Brasil. 2002, Maringá, Anais do II Sul-Leite,
Toledo, UEM/CCA/DZO, pag. 206-217.
RIBEIRO, M. E. R.;PETRINI, L. A.; AITA, M. F. et al. Relação entre mastite clínica, subclínica
infecciosa e não infecciosa em unidades de produção leiteiras na região sul do Rio Grande do SUL.
Revista brasileira de Agrociência. V.9, n.3, p.287-290, 2003.
ROSEMBERGER, G. Exame Clínico dos Bovinos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan SA, 1993. p.306.
SCHALM, O.W.; NOORLANDER, B. Experimental and observation leading to development of the
California Mastitis test. Journal American Veterinary Medicine Association, v.130, p.199-204, 1957.

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ARTRITE SÉPTICA EM CÃO – RELATO DE CASO

Silvana Marques Caramalac1, Fernanda Cristina Jacoby2, Gabriel Utida Eguchi1, Gustavo Gomes de
Oliveira4, Michelli Lopes de Souza5, Nathalia Barbosa Messas1, Mariana I. P. Palumbo3, Veronica Jorge
Babo Terra3

1 Residente da área de Clínica Médica de Pequenos Animais - UFMS


2 Acadêmica do curso de Medicina Veterinária - UFMS
3 Prof. Drª Clínica Médica de Pequenos Animais - UFMS
4 Residente da área de Patologia Clínica - UFMS
5 Residente da área de Medicina Veterinária Preventiva – UFMS

Resumo: A artrite séptica consiste na contaminação bacteriana da estrutura articular, podendo ocorrer em
diferentes espécies. A via de contaminação pode ser direta, hematógena ou por contaminação de tecidos
adjacentes.O presente estudo tem como objetivo relatar o caso de artrite séptica em um cão da raça Boxer
com dois meses atendido no Hospital Veterinário da UFMS. A queixa principal do proprietário foi
claudicação de membro torácico esquerdo. Após a anamnese, exames clínicos e laboratorias, constatou-se
que o animal apresentava artrite séptica, obtida por meio da contaminação de tecidos adjacentes, devido a
cateterização venosa não asséptica. Foi coletada amostra do liquido sinovial para cultura e antibiograma
e iniciado tratamento com fluidoterapia e antibiotecoterapia. O paciente apresentou melhora significativa
do quadro, recebendo alta após 14 dias de tratamento. A artrite séptica pode ter consequências
irreversíveis na função da articulação. A instituição precoce da terapêutica adequada é imprescindível
para cura do paciente e a integridade da estrutura articular.

Palavras-chave: articulação, bactéria, claudicação

SEPTIC ARTHRITS IN A DOG – CASE REPORT

Abstract: Septic arthritis is the bacterial contamination of the articular structure and can occur in
different species. The contamination route can be direct, hematogenous or contamination of tissues
adjacentes.O this study aims to report a case of septic arthritis in a boxer breed dog two months the
Veterinary Hospital of UFMS. The main complaint was the owner of left forelimb lameness. After the
history, clinical and laboratorial tests, it was found that the animal had septic arthritis, obtained by
infection of surrounding tissues due to non-aseptic venous catheterization. It was collected sample of
synovial fluid for culture and sensitivity and initiated treatment with fluid and antibiotecoterapia. The
patient presented significant clinical improvement and was discharged after 14 days of treatment.

Keywords: joint, bacteria, lameness

Introdução
A artrite séptica é artropatia inflamatória com contaminação bacteriana, levando a sinais clínicos
de dor, inchaço e claudicação, que resulta em um quadro clínico debilitante ao animal. Pode afetar
diferentes espécies, como humanos, equinos e caninos. Nesses últimos, geralmente acomete uma apenas
articulação (Dokuzeylül et al., 2014). AS principais espécies de bactérias isoladas são Staphylococcus
intermedius, S. aureus and β-haemolytic Streptococci podendo atingir as articulações por três vias
distintas: penetração direta (cirurgica ou traumática), propagação de infecção localizada nos tecidos moles
adjacentes ou pela via hematógena (Clements et al., 2005). O tratamento consiste no combate à infecção e
restabelecimento da função articular. O presente estudo tem como objetivo relatar um caso de artrite
séptica em um cão atendido no Hospital Veterinário da UFMS.

Relato de Caso
Foi atendido no Hospital Veterinário da UFMS um cão da raça Boxer, macho, com dois meses de
idade, pesando 4,250 quilos cuja queixa principal apresentada pelo proprietário foi claudicação em
membro torácico esquerdo. Pela anamnese constatou-se que animal já vinha recebendo tratamento em
clínica para gastroenterite viral. No exame fisíco, o paciente demonstrou apatia, claudicação e elevado
grau de desconforto durante a palpação das articulações escapulo-umeral e umero-radio-ulnar, que
estavam aumentadas de volume e de consistência flutuante. A temperatura retal foi 38,6 Cº. Não foram

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detectadas alterações ósseas aos exame ortopédico e radiográfico. Exame hematológico revelou
leucocitose (52.800 mm3) por neutrofilia (47.520mm3). Amostras do fluido sinovial foram aspiradas
assepticamente das articulações acometidas para análise de liquido sinovial, em que foi verificado
predomínio de neutrófilos degenerados e presença de bactérias intracitoplasmáticas, sendo sugestivo de
processo inflamatório purulento séptico. O liquido sinovial foi enviado para cultura e antibiograma e
iniciado o tratamento com cefalotina (30 mg/kg IV BID), meloxican (0,1 mg/kg VO SID) e dipirona (25
mg/kg VO BID) até obtenção dos resultados.
Cinco dias após o inicio do tratamento o proprietário relatou melhora significativa dos sinais
clinicos, com diminuição da claudicação e da dor à palpação. Na cultura houve o crescimento da bactéria
Actinomyces viscosus a qual demonstrou resistência e sensibilidade aos antibioticos listados na tabela 1.

Tabela 1 - Lista de antibióticos sensíveis e resistentes à bactéria encontrada no líquido sinovial do


presente relato de caso
Sensível Resistente
ciprofloxacina amoxicilina
amoxicilina + ac. clavulânico
enrofloxacina azitromicina
cefalexina
gentamicina cefalotina
doxiciclina
norfloxacina sulfazotrim
tetraciclina

Devido a melhora clinica observada no paciente e aos antibióticos a que a bactéria era suscetível
poder causar o comprometimento da linha epifisária, optou-se por continuar o tratamento já iniciado com
a cefalotina. Foi realizado o hemograma para avaliação do tratamento e o mesmo demonstrou diminuição
significativa da leucocitose para 19.500 mm3, e associado a melhora clínica significativa do paciente,
com apoio total do membro, indicou que o tratamento mostrou-se efetivo.

Discussão
A artrite séptica pode causar danos permanentes a articulação, devido a dificuldade da resolução
completa do caso e ao elevado grau de sensibilidade das estruturas ali localizadas. Devido a reação
inflamatória ocorre o aumento da circulação sanguínea, levando a infiltração de fibrina no espaço
articular, além da migração de leucócitos para dentro da articulação. As enzimas proteolíticas dos
leucocitos polimorfonucleares e celulas sinoviais dissolvem os proteoglicanos da cartilagem articular.
Essas lesões, quando cicatrizam, causam muitas vezes rigidez articular e anquilose.
As consequências desta afecção dependem não apenas do número, tipo de agentes envolvidos ou
estado geral do paciente, mas também da velocidade e escolhas realizadas para o tratamento. Estudos
revelam que o tratamento imediato é essencial para evitar danos permanentes A intervenção precoce e o
tratamento inicial da artrite séptica é relativamente simples, mas a efetividade do tratamento é muitas
vezes baixa (Dokuzeylül et al., 2014). No presente caso, este fato fica ainda mais evidente por se tratar de
um animal em fase de crescimento, uma vez que a ocorrência de dano a estrutura articular pode causar
sequelas permanentes ao paciente, como rigidez articular ou anquilose.
Clementes et al. (2005), em estudo realizado com 31 cães acometidos com atrite séptica, concluiu
que o tratamento médico e/ou cirúrgico são geralmente bem sucedidos para resolução das infecções,
entretanto, foram frequentemente frustrantes quanto aos restabelecimento da função normal articulação.
Neste relato, entretanto, não houve prejuizo da função articular do membro comprometido, demonstrando
eficacia do tratamento
Estudo retrospectivo realizado entre março de 2007 e agosto de 2011 por Scharf et al. (2015)
concluiu que cultura de fluido sinovial de cães com suspeita de artrite séptica tem um rendimento baixo,
necessitando de um meio mais eficiente de identificação de bactérias em animais com suspeita de artrite
séptica. Entretanto, no presente relato, a cultura bacteriana foi eficiente tanto para identificação do agente,
como para a realização do antibiograma.
O gênero Actinomyces compreende um grupo de bactérias aeróbicas ou microareróbicas gram
positivas, comumente encontrada em bovinos, mas pode ocorrer também em outras especies animais,
como cãninos e felinos. A bactéria que anteriormente se tratava de um organismo comensal, passa a se

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tornar patológica devido a criação de um ambiente suscetível a replicação bacteriana, muitas vezes
causado lesão perfurativa ou ferida (Koenhemsi et al., 2014).
Apesar dos avanços do desenvolvimento de meios de cultura, o diagnóstico da artrite séptica
continua sendo um desafio para os clínicos. O crescimento em meio de cultura ou a observação das
bactérias na citologia sinovial são considerados padrão ouro para o diagnóstico definitivo da artrite
séptica. Relatos variam quanto a sensibilidade da citologia do líquido sinovial e da cultura bacteriana
(CLEMENTS, 2005). O tratamento deve ser iniciado rapidamente com altas doses antibióticos por via
intravenosa,podendo ser trocado para via oral após 2-4 dias da terapia. A terapia empírica deve cobrir
sempre Staphylococcus aureus e patógenos respiratórios comuns (Pääkkönen & Peltola, 2013).
Os diagnósticos diferenciais para dor articular com claudicação progressiva incluem fraturas,
reação periosteal, panosteite, reação vacinal,, artrite séptica e osteodistrofia fibrosa, de acordo com
Wentzell (2011) Segundo o mesmo estudo, casos de animais filhotes com histórico de claudicação
progressiva cujo diagnóstico final obtido foi de celulite juvenil. Em ambos os casos, entretanto, os
animais apresentavam pústulas em região de pina e febre, não observado no presente caso.

Conclusão
A artrite séptica é uma afecção debilitante que muitas vezes causa consequências irreversíveis a
função da articulação.A caracterização do agente patogênico, seja por análise microscópica do liquido
sinovial ou por culturas do material, e o uso do antibiograma são de grande auxílio para que a cura do
paciente seja obtida, e a integridade da estrutura articular seja preservada.
Para que o resultado do tratamento seja o mais satisfatório possível, a instituição precoce da
terapêutica adequada é imprescindível.

Literatura Citada
CLEMENTS, D. N.; OWEN, M. R.; MOSLEY, J. R. et al. Retrospective study of bacterial infective
arthritis in 31 dogs. Journal of small animal practice, v.46, n..4, p171-176, 2005.
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BABESIOSE CEREBRAL EM BEZERROS

Amanda Gimelli1, Rayane Chitolina Puppin2, Diego Gonçalves Lino Borges3, Ricardo Antonio Amaral de
Lemos4, Tessie Beck Martins5
1
Aluna de graduação em Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. Bolsista PIBIC UFMS. E-mail: amanda_gimelli@hotmail.com
2
Residente em Anatomia Patológica, FAMEZ/UFMS. E-mail: rayane.pupin@gmail.com
3
Laboratório de Doenças Parasitária, FAMEZ/UFMS. E-mail: dyegogborges@hotmail.com
4
Professor de Anatomia Patológica, FAMEZ/UFMS. E-mail: ricardo.lemos@ufms.br
5
Professor de Anatomia Patológica, FAMEZ/UFMS. E-mail: tessie.martins@ufms.br

Resumo: A Babesiose bovina é uma doença hemolítica e potencialmente fatal que no Brasil é causada
pelos protozoários Babesia bovis e B. bigemina e transmitida por carrapatos da espécie Rhipicephalus
(Boophilus) microplus. A variedade neurológica da doença, conhecida como babesiose cerebral, é
causada exclusivamente por B. bovis. Apesar de geralmente afetar animais adultos, a babesiose cerebral
deve ser incluída na lista de diagnósticos diferenciais de doenças neurológicas que afetam bezerros. Neste
trabalho estão descritos os achados clinicopatológicos e de patologia clínica observados em bezerros
atendidos no hospital veterinário da UFMS. Sinais clínicos incluíram apatia, icterícia, tremores
musculares e movimentos de pedalagem, nistagmo, taquicardia e taquipneia. A principal lesão
macroscópica observada foi a coloração róseo-cereja difusa na substância cinzenta do córtex telencefálico
e cerebelar e dos núcleos da base. Esfregaços de sangue periférico e encéfalo e cortes histológicos de
encéfalo demostraram eritrócitos parasitados por microorganismos de morfologia compatível com B.
bovis. Outros achados incluíram icterícia, esplenohepatomegalia, bilestase e rins escuros.

Palavras-Chave: doenças de bovinos, doenças neurológicas, hematozoários, Babesia bovis

CEREBRAL BABESIOSIS IN CALVES

Abstract: Bovine Babesiosis is an hemolytic, potencially fatal disease that in Brazil is caused by the
protozoa Babesia bovis and B. bigemina and transmitted by ticks of the species Rhipicephalus
(Boophilus) microplus. The neurological variation of this disease, known as cerebral babesiosis, is caused
exclusively by B. bovis. Even tough adult animals are more often affected, cerebral babesiosis must be
included in the list of differential diagnoses of neurological diseases that affect calves. In this paper, we
describe the clinicopathologic findings and findings of clinical pathology observed in calves submitted to
the veterinary hospital of UFMS. Clinical signs included apathy, icterus, muscular tremors and paddling
movements, nystagmus, tachycardia and tachypneia. The main gross lesion observed was a diffuse pink-
cherry discoloration in the gray matter of the telencephalic and cerebellar cortices and of the basal
ganglia. Peripheral blood and brain smears and brain histological sections showed erythrocytes
parasitized by microorganisms with morphology compatible with B. bovis. Other findings included
icterus, splenohepatomegaly, bilestasis and dark kidneys.

Keywords: diseases of cattle, neurological diseases, hematozoa, Babesia bovis

Introdução
A babesiose bovina é uma doença hemolítica que pode causar sinais neurológicos e morte (Barros
et al. 2006). No Brasil, é causada pelos protozoários Babesia bovis e B. bigemina, que são transmitidos
por carrapatos da espécie Rhipicephalus (Boophilus) microplus, e causa prejuízos econômicos em
diversas regiões do país (Kessler et al., 1983; Rodrigues et al., 2005; Santarosa et al. 2013).
Os protozoários do gênero Babesia são inoculados no bovino pela saliva do carrapato na forma de
esporozoítos; a penetração nos eritrócitos ocorre por merozoítos, que irão romper a célula após a
multiplicação causando hemólise intravascular e consequente anemia hemolítica (Taylor et al., 2010). B.
bovis é considerada a espécie mais patogênica para os bovinos e é responsável pela babesiose cerebral
(Taylor et al., 2010), uma manifestação clínica distinta caracterizada por sinais neurológicos (Kessler et
al., 1983). Babesiose cerebral geralmente acomete animais com meses ou anos de idade (Rodrigues et al.
2005), e raramente é observada em neonatos e animais com poucos meses de vida (Santarosa et al., 2013).
Por causa disso, este trabalho tem como objetivo descrever os achados clínicos e patológicos de
um surto de babesiose cerebral em bezerros de até 15 dias de idade.

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Material e Métodos
Em setembro de 2015, numa propriedade Dois Irmãos do Buriti, Mato Grosso do Sul, oito de 100
bezerros mestiços (Angus x Nelore) de até 15 dias de idade adoeceram. Os animais apresentavam
dificuldade para acompanhar a mãe, apatia e quedas. Foram tratados com florfenicol e dipirona sódica
mas não apresentaram melhora. Cinco bezerros morreram. Os três restantes foram encaminhados ao
hospital veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde foram avaliados clinicamente e
receberam terapia de suporte. Dois animais morreram cerca de 12 horas após o início dos sinais clínicos e
foram submetidos à necropsia no Laboratório de Anatomia Patológica. Fragmentos de diversos órgãos
foram fixados em formol tamponado a 10%, processados rotineiramente para análise histopatológica e
corados pela técnica de hematoxilina e eosina. Esfregaços de sangue periférico e do córtex telencefálico
foram corados por panótico rápido. Um animal recebeu tratamento para babesiose.

Resultados e Discussão
Ao exame clínico, os três bezerros (duas fêmeas e um macho) apresentaram apatia, icterícia,
pescoço enrijecido e dificuldade de permanecer em estação (incoordenação motora), que rapidamente
progrediu para decúbito esternal, decúbito lateral, tremores musculares e movimentos de pedalagem,
nistagmo, taquicardia e taquipneia. Um animal apresentou ausência de resposta ao reflexo de ameaça e
outro, opistótono. Em um bezerro havia miíase no umbigo. Todos estavam parasitados por carrapatos.
Nos animais necropsiados (uma fêmea e um macho), a substância cinzenta dos córtex telencefálico
e cerebelar e dos núcleos da base tinham uma cor róseo-cereja. Nos esfregaços do córtex telencefálico, os
capilares apareciam repletos de eritrócitos parasitados por organismos basofílicos, solitários ou pareados,
de 2 μm de diâmetro, aspectos compatíveis com B. bovis. Estes organismos foram observados também
nos eritrócitos dos esfregaços sanguíneos. Outros achados macroscópicos observados em ambos os
bezerros incluíram icterícia (mucosas, tecido subcutâneo, pelve renal, gordura do coração e a íntima da
aorta), esplenomegalia e fígado aumentado de tamanho e amarelado. Um dos bezerros tinha os rins
escurecidos e urina levemente avermelhada, mas hemoglobinúria não foi um achado consistente. No
exame histopatológico havia congestão dos capilares do encéfalo, especialmente na substância cinzenta,
congestão esplênica e bilestase canalicular. Nos capilares do encéfalo, os eritrócitos sequestrados
continham microorganismos de morfologia compatível com B. bovis.
Com base nos achados dos esfregaços de sangue e de encéfalo, achados de necropsia e
histopatológicos, foi feito o diagnóstico de babesiose cerebral por B. bovis (Kessler et al., 1983; Barros et
al., 2006; Santarosa et al., 2013). Na babesiose cerebral, os merozoítos provocam uma modificação na
membrana do eritrócito que culmina com sequestro das células parasitadas nos capilares da substância
cinzenta do encéfalo, bloqueio do fluxo sanguíneo, e consequentemente necrose por anóxia (Taylor et al.,
2010; Viloria & Salcedo, 2004). Esse mecanismo leva à manifestação de sinais clínicos neurológicos que
incluem incoordenação motora; opistótono, cegueira, tremores musculares; paralisia dos membros
pélvicos, movimentos de pedalagem, pressão da cabeça contra objetos, andar em círculos e agressividade.
A lesão macroscópica do encéfalo descrita e ilustrada neste relato ocorre no cérebro de bovinos
exclusivamente na infecção por B. bovis e, portanto, seu achado na necropsia permite o diagnóstico
definitivo dessa condição (Rodrigues et al. 2005).
Embora não sejam comuns, surtos de babesiose em bezerros com menos de um mês de idade são
ocasionalmente descritos (Kessler et al., 1983; Santarosa et al. 2013). Conforme revisado por Kessler et
al. (1983), a ocorrência de surtos de babesiose por B. bovis em bezerros com apenas poucos dias de idade
pode ser explicada se considerarmos: falhas na transferência de imunidade passiva, parasitismo dos
bezerros por larvas do carrapato R. microplus já no primeiro dia de vida e período de incubação de oito a
dezesseis dias.
Assim como em adultos, o diagnóstico precoce baseado nos sinais clínicos, a instituição de
terapia babesicida e de suporte são fundamentais para obter recuperação clínica (Santarosa et al. 2013).
Isto foi comprovado neste caso, em que, com base no diagnóstico da necropsia, a fêmea restante e os
demais bezerros da propriedade foram tratados para babesiose e não houve novas mortes.

Conclusões
Os achados clínicos, de necropsia, de patologia clínica e histopatologia descritos neste relato são
característicos de babesiose cerebral, uma infecção causada pelo hematozoário B. bovis.
A babesiose cerebral deve ser incluída na lista de diagnósticos diferenciais de bezerros que
apresentem sinais neurológicos junto a lesões de anemia hemolítica.

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Literatura Citada
BARROS, C.S.L.; DRIEMEIER, D.; DUTRA, I.S. et al. Babesiose cerebral. In: IBID (Eds). Doenças do
sistema nervoso de bovinos no Brasil. São Paulo: Coleção Vallée, 2006, p.87-95.
KESSLER, R.H.; MADRUGA, C.R.; SCHENK, M.A.M et al. Babesiose cerebral por Babesia bovis
(Babés 1888 Starcovici 1893) em bezerros no Estado de Mato Grosso do Sul. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v.18, p.931-935, 1983.
RODRIGUES, A.; RECH, R.R.; BARROS, R.R et al. Babesiose cerebral em bovinos: 20 casos. Ciência
Rural, v.35, n.1, p.121-125, 2005.
SANTAROSA, B.P.; DANTAS, G.N.; FERREIRA, D.O.L et al. Infecção neurológica por Babesia bovis
em bovino neonato – Relato de caso. Veterinária e Zootecnia, v.20, n.3, 2013. Disponível em:
<http://www.fmvz.unesp.br/rvz/index.php/rvz/article/view/385> Acesso em 20/10/2015.
TAYLOR, M.A.; COOP, R.L.; WALL, R.L. Parasitologia Veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2010. 89-90p.
VILORIA, M.I.V.; SALCEDO, J.H.P. Patofisiologia da infecção por Babesia bovis. Revista Brasileira
de Parasitologia Veterinária, v.13, n.1, p.12-16, 2004.

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BOTULISMO EM CÃES – RELATOS DE CASOS

Gabriel Utida Eguchi1, Nathália Barbosa Messas1, Silvana Marques Caramalac1, Veronica Jorge Babo-
Terra2, Mariana Isa Poci Palumbo2
1
Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais FAMEZ/UFMS. E-mail: utida.gabriel@gmail.com
1
Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais FAMEZ/UFMS. E-mail: silvanacaramalac@gmail.com
1
Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais FAMEZ/UFMS. E-mail: nathaliabmessas@gmail.com
2
Professora do Curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS. E-mail: mariana.palumbo@ufms.br
2
Professora do Curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS. E-mail: vjb@terra.com.br

Resumo: O botulismo é uma doença infecciosa provocada pela ingestão da neurotoxina pré-formada por
esporos do bacilo Clostridium botulinum em matéria orgânica em decomposição e é considerada rara em
cães. Relatam-se três casos de suspeita de botulismo em cães, todos com evolução de sintomas clínicos de
tetraparesia flácida ascendente e histórico de possível ingestão de material orgânico em decomposição.
Todos os proprietários receberam orientações sobre manejo do paciente e relataram melhora dos sintomas
clínicos entre cinco e dez dias. Apesar da impossibilidade de confirmação de diagnóstico através de
exame laboratorial específico, o histórico e evolução clínica dos pacientes permitiram o diagnóstico
presuntivo de botulismo.

Palavras-chave: Paralisia flácida; Tetraparesia; Neurônio motor inferior

BOTULISM IN DOGS –CASES REPORTS

Abstract: Botulism is an infectious disease caused by ingestion of the preformed neurotoxin produced by
the bacillus Clostridium botulinum spores in decomposing organic matter and is rare in dogs. We report
three cases of suspected botulism in dogs, all with development of clinical symptoms of flaccid ascending
tetraparesis and history of possible ingestion of decaying matter. All owners received guidelines about
patient management and reported improvement of clinical symptoms between five and ten days. Despite
the impossibility of diagnostic confirmation through specific laboratory tests, the history and clinic
evolution of the patients allowed the presumptive diagnosis of botulism.

Key-words: Flaccid paralysis; Tetraparesis; Lower motor neuron

Introdução
O botulismo é considerado uma doença neuromuscular rara em cães e ocorre pela ingestão da
neurotoxina C pré-formada pela bactéria Clostridium botulinum, um bacilo gram-positivo anaeróbio
obrigatório e formador de endosporos, presente em alimentos em decomposição (TAYLOR, 2010;
TORTORA et al., 2012).
A neurotoxina inibe a liberação de acetilcolina (ACh) pré-sináptica na junção neuromuscular que
leva ao desenvolvimento de sintomas clínicos associados a neurônio motor inferior (NMI), como perda de
tônus muscular e reflexos espinhais diminuídos a ausentes, porém, com preservação do movimento de
cauda na maioria dos casos (TAYLOR, 2010).
O diagnóstico baseia-se no histórico e alterações clínicas apresentadas pelo paciente, e torna-se
mais sugestivo quando ocorrem em surtos de animais que apresentem paralisia associada a NMI
(TAYLOR, 2010). O teste de inoculação em camundongos é utilizado para diagnóstico final da doença, e
baseia-se na inoculação intraperitoneal de sangue, secreções como vômito, fezes e conteúdo estomacal do
paciente suspeito em camundongos, de forma que o teste será positivo se ocorrer o óbito do camundongo
em até 72 horas (TORTORA et al., 2012).
O tratamento é inespecífico e de suporte, sendo indicados antibióticos de amplo espectro e
fisioterapia para recuperação mais rápida, evitando uma atrofia muscular grave (TAYLOR, 2010). A
penicilina (20.000 U/kg/BID/IM/> 7 dias) é indicada, porém, há controvérsias quanto à eficácia
(TAYLOR, 2010; SOUSA, 2012). A antitoxina tipo C ou polivalente (10.000 a 15.000 U/animal/a cada 4
horas) é indicada no início da enfermidade, pois atua apenas em toxinas livres no sangue (SOUSA, 2012).
O prognóstico está associado à quantidade de toxina C ingerida pelo paciente e acometimento do
sistema respiratório. Nos casos em que o animal não chega ao óbito, normalmente a recuperação é
gradativa e não há sequelas (TAYLOR, 2010).

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Material e Métodos
Foram atendidos no hospital veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, três caninos variando entre sexo e idade,descritos a seguir.
Caso Clínico 1:
Fêmea, sem raça definida (SRD), dois anos de idade, com queixa principal de paraparesia há 72h
e início súbito. Tinha livre acesso à rua, porém, não foi observada ingestão de material em decomposição.

Caso Clínico 2:
Macho, SRD, dois anos de idade, com tetraparesia de 96h de início súbito e progressão
ascendente. O animal residia em chácara e possuía hábito de enterrar e desenterrar ossos oferecidos pelo
proprietário.

Caso Clínico 3:
Macho, SRD, cinco anos de idade, com paraparesia há 24h e início súbito. Foi relatado pelo
proprietário que após saída à rua, o paciente retornou com odor fétido de animais em decomposição.

Todos os animais possuíam histórico de potencial acesso a material biológico em decomposição.


À avaliação clínica neurológica, todos os pacientes apresentaram sintomas de acometimento de
NMI (reflexos espinhais reduzidos a ausentes), propriocepção consciente reduzida a ausente, reflexo
palpebral reduzido, reflexo percutâneo presente, sensibilidade superficial presente e tônus e movimento
de cauda normais. Não foram observadas alterações em outros parâmetros fisiológicos de rotina
avaliados.
Foi coletada amostra de sangue periférico venoso para realização de hemograma para os pacientes
P1 e P3, sendo observado leucocitose discreta e hiperproteinemia respectivamente.
A conduta para todos os pacientes foi orientação aos proprietários quanto ao manejo desses
animais, sendo recomendado auxílio para mantê-los em estação, trocas frequentes de decúbito e cuidados
com a alimentação.
Todos os pacientes apresentaram melhora dos sintomas clínicos em cinco a 10 dias, sem relato de
qualquer disfunção motora permanente.

Discussão
O diagnóstico de botulismo em pequenos animais é, na maioria dos casos, realizado pela
associação do histórico e sintomas clínicos sugestivos (PENDERIS, 2013; TAYLOR, 2013). Os sintomas
neurológicos relacionados a NMI com progressão ascendente concomitantemente à permanência de tônus
e movimento de cauda são informações clássicas observadas para esses pacientes (PENDERIS, 2013) e
identificadas nos casos deste relato.
O histórico de acesso presuntivo a matéria orgânica em decomposição (carcaças de animais, lixo,
etc.) e início de sintomas clínicos alguns dias após, reforçam a suspeita clínica da doença (PENDERIS,
2013; TAYLOR, 2013).Todos os pacientes atendidos possuíam histórico de provável acesso a material
orgânico em decomposição, sendo mais evidentes para o caso número 2 (hábito de enterrar/desenterrar
ossos oferecidos pelo proprietário) e número 3 (odor fétido de carcaça de animal após saída à rua).
A polirradiculoneurite idiopática (PRNI) é um dos principais diagnósticos diferenciais para
botulismo, tendo evolução similar de tetraplegia flácida com manutenção da sensibilidade (TAYLOR,
2010). Apesar da semelhança entre as doenças, comumente a PRNI provoca uma atrofia muscular rápida
e evidente associada a resposta exacerbada a estímulos dolorosos (SHELL, 2008), o que não foi
observado nos pacientes do relato.
Outra doença que deve ser levada em consideração para animais com tetraparesia/plegia flácida
ascendente é a miastenia grave, porém, o déficit motor aparente pela fraqueza muscular generalizada
ocorre geralmente após exercícios, e apenas em casos mais graves o animal evolui para não deambulação
(INZANA, 2004).
Apesar da impossibilidade de diagnóstico através de testes específicos, a anamnese e avaliação
física, com ênfase na neurológica, associados à ausência de alterações hematológicas mais graves e
melhora progressiva dos sintomas clínicos levaram ao diagnóstico sugestivo de botulismo para os três
animais.

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Conclusões
O botulismo tem baixa incidência em cães e gatos. A dificuldade de diagnóstico e de obter sucesso
terapêutico nos casos mais graves é devido principalmente ao desconhecimento da maioria dos
proprietários sobre o perigo potencial da ingestão de material orgânico em decomposição. Apesar de na
maioria dos casos o diagnóstico ser presuntivo, os sintomas clínicos característicos, histórico e evolução
dos casos permitem uma forte suspeita, assim como para os casos deste relato.

Literatura Citada
INZANA, K.D. Distúrbios dos Nervos Periféricos. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. (Eds).
Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda., 2004. p.
699-723.
PENDERIS, J. Junctionopathies: disorder of the neuromuscular junction. In: DEWEY, C.W. (Ed.) A
Practical Guide to Canine and Feline Neurology. 2nd. ed. New York: John Wiley & Sons, 2013. p.
517-51.
SHELL, L.G. Afecções de Nervos Periféricos. In: BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. (Eds). Manual
Saunders Clínica de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 2008. p. 1329-1341.
SOUSA, M.G. Doenças Infecciosas. In: CRIVELLENTI, L.Z. & BORIN-CRIVELLENTI, S. (Eds.)
Casos de Rotina em Medicina Veterinária de Pequenos Animais.1a ed. São Paulo: MedVet, 2012.
p.67-94.
TAYLOR, S.M. Doenças Neuromusculares. In: NELSON, R.W. & COUTO, C.G. (Eds.) Medicina
Interna de Pequenos Animais. 4a ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p.1104-106.
TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C.L. Doenças Microbianas do Sistema Nervoso. In: TORTORA,
G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C.L (Eds). Microbiologia. 10a ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 616-618.

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CARACTERIZAÇÃO CITOLÓGICA DA CALCINOSE CIRCUNSCRITA EM CÃO

Simone Sorgatto1, Renata Amarilha Valençoela Peixoto2, Bruna Brito Oliveira3, Gustavo Gomes de
Oliveira4, Alexandre Welzel da Silveira5, Tamires Ramborger Antunes6, Kelly Cristina da Silva Godoy7,
Alda Izabel de Souza8
1
Residente de Patologia Clínica Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: simone_sorgatto@hotmail.com
2
Médica Veterinária Autônoma. E-mail: medvet.renata@gmail.com
3
Residente de Patologia Clínica Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: bruoliveira_vet@hotmail.com
4
Residente de Patologia Clínica Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: gustavogomesde@hotmail.com
5
Residente de Patologia Clínica Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: ale_welzel@hotmail.com
6
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, FAMEZ-UFMS. E-mail:
tamires_ramborger_antunes@hotmail.com
7
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, FAMEZ/UFMS. E-mail: k.c.s.godoy@gmail.com
8
Docente do curso de Medicina Veterinária, FAMEZ-UFMS. E-mail: aldaizabel@ufms.br

Resumo: A avaliação citopatológica é de fácil execução, baixo custo, pouca invasibilidade e considerada
de valor diagnóstico para a definição de calcificações ectópicas de caráter benigno, a partir da
identificação de determinados aspectos microscópicos. Portanto, o objetivo deste estudo é descreve as
características citomorfológicas de um caso de calcinose circunscrita em um cão jovem apresentando
nódulos firmes nos coxins e região interdigital. O fluido obtido após aspiração com agulha fina
apresentou marcada concentração de material amorfo granular púrpura e basofílico e grânulos
extracelulares refringentes de tamanhos e formatos irregulares semelhantes a cristais de cálcio. A
ausência de escamas de queratina, os aspectos macroscópicos e dados de anamnese permitiram a
confirmação diagnóstica. A análise citológica possibilitou reconhecimento precoce e indicação
terapêutica do caso.

Palavras-chaves: calcinose tumoral, canino, citopatologia

CYTOLOGICAL CHARACTERIZATION OF CIRCUMSCRIPTA CALCINOSIS IN DOG

Abstract: The cytopathologic evaluation is easy to execution, cost low, invasibility little and of
considered of diagnostic value for the ectopic calcifications definition of benign character, from the
identification determined of microscopic aspects. Therefore, the objective of this study is describe the
cytomorphological characteristics of a case circunscripta calcinosis in a young dog presenting firm
nodules in the pads and interdigital region. The fluid obtained after fine needle aspiration presented
marked concentration of granular amorphous material purple and basophily and refractile extracellular
granules of irregular size and shape similar to calcium crystals. The absence of keratin lamellae, the
macroscopic aspects and data of anamnesis allowed the diagnostic confirmation. The cytological analysis
enabled early recognition and therapeutic indication of the case.

Keywords: tumoral calcinosis, canine, cytopathology

Introdução
Calcinose circunscrita ou calcinose tumoral é definida como uma síndrome de mineralização
ectópica caracterizada pela deposição de sais de cálcio na camada mais profunda da derme ou do tecido
subcutâneo (Raskin & Meyer, 2011). Embora de etiologia primária desconhecida atribui-se a formação à
calcificação distrófica, uma vez que afeta comumente áreas de articulações ou pontos de pressão em sítios
de traumatismo prévio (Scott & Buerger, 1988).
Macroscopicamente, é descrita como uma lesão única, contudo podem manifestar-se como
nódulos bilateralmente simétricos ou múltiplos (Scott & Buerger, 1988). A avaliação microscópica de
características citológicas combinada ao histórico clínico permite a sugestão diagnóstica de calcinose
mesmo antes da investigação histológica (Sharkey et al., 1999).
Deste modo, considerando a facilidade de execução, o baixo custo e a pouca invasibilidade do
exame citológico, este trabalho tem como objetivo descrever os aspectos microscópicos de um caso
canino de calcinose circunscrita.

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Material e Métodos
Um canino fêmea, da raça Dachshund, com dois anos de idade, apresentou nódulos alopécicos,
lobulados, de consistência firme, com aproximadamente um centímetro nos coxins dos membros pélvicos
e região interdigital do membro torácico direito.
Amostras citológicas dos nódulos foram obtidas pela técnica de punção aspirativa com agulha fina
(PAAF) e processadas para análise citopatológica de acordo com o protocolo estabelecido por Raskin &
Meyer (2011). Os esfregaços, após confecção, foram corados com panótico.

Resultados e Discussão
Calcinose circunscrita é uma síndrome de mineralização ectópica caracterizada por depósitos de
sais de cálcio em tecidos moles, principalmente em pontos anatômicos de maior pressão, especialmente
metatarsos laterais, dígitos, coxins e cotovelos. A predisposição em animais jovens e de grande porte
pode estar associada ao metabolismo ativo de cálcio e fósforo (Scott & Buerger, 1988). Tanto a
localização dos nódulos quanto a idade do animal do presente relato corroboram com os dados
epidemiológicos apresentados por diferentes autores (Scott & Buerger, 1988; Bettini et al., 2005; Raskin
& Meyer, 2011).
Assim como observado por Sharkey et al. (1999) e Bettini et al. (2005), antes da coloração o
esfregaço obtido a partir do fluido aspirado dos nódulos apresentou aspecto arenoso, espesso e
esbranquiçado. Depois de corado foi possível identificar marcada quantidade de material amorfo granular
púrpura e basofílico, além de grânulos extracelulares refringentes de tamanhos e formatos irregulares
semelhantes a cristais de cálcio, dispersos no fundo da lâmina. Associado ao material calcário notou-se
discreta celularidade de macrófagos, neutrófilos, linfócitos, células gigantes multinucleadas e
fibroblastos. Bactérias ou outros agentes infecciosos não foram visualizados.
Os diagnósticos citológicos diferenciais incluem os cistos epidérmicos ou foliculares, neoplasias
do folículo piloso e calcinose cutânea. As afecções foliculares, entretanto apresentam frequentemente
abundante concentração de escamas de queratina (Bettini et al., 2005), as quais não foram verificadas no
presente animal. Em relação à calcinose cutânea as particularidades citomorfológicas são semelhantes,
entretanto os fibroblastos são mais comumente observados na calcinose circunscrita (Raskin & Meyer,
2011).
A associação entre histórica clínica e exames físico, radiográficos e histopatológicos,
especialmente quando associado à imunohistoquímica, aumentam as chances de diagnóstico da calcinose
circunscrita (Sharkey et al., 1999; Marcos et al., 2006). Contudo, diagnósticos realizados em seres
humanos e em cães reconheceram o valor diagnóstico da avaliação citopatológica, principamente quando
são considerados os benefícios da técnica para os pacientes (Sharkey et al., 1999; Bettini et al., 2005;
Marcos et al., 2006; Snitchler & Silverman, 2011).

Conclusões
As características citológicas indicativas de mineralização ectópica associadas aos aspectos
macroscópicos das lesões, dados de anamnese e histórico clínico do animal fundamentaram o diagnóstico
de calcinose circunscrita e auxiliaram no prognóstico e definição precoce dos procedimentos terapêuticos
instituídos.

Literatura Citada
BETTINI, G.; MORINI, M.; CAMPAGNA, F. et al. True grit: the tale of asubcutaneous mass in a dog.
Veterinary Clinical Pathology, v.34, n.1, p.73-75, 2005.
MARCOS, R.; SANTOS, M.; OLIVEIRA, J. et al. Cytochemical detection of calcium in a case of
calcinosis circumscripta in a dog. Veterinary Clinical Pathology, v.35, n.2, p.239-242, 2006.
RASKIN, R.E.; MEYER, D.J. Citologia Clínica de Cães e Gatos. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
73p.
SCOTT, D.W; BUERGER, R.G. Idiopathic calcinosis circumscripta in the dog: a retrospective analysis
of 130 cases. Journal of the American Animal Hospital Association, v.24, n.6, p.651–658, 1988.
SHARKEY, L.C.; GLIATTO, J.M.; GALLAGHER, J.G. Deep tissue mass aspirate from a young German
Shepherd dog.Veterinary Clinical Pathology, v.28, n.4, p.147-149, 1999.
SNITCHLER, A.N.; SILVERMAN, J.F. Cytologic Diagnosis of Tumoral Calcinosis: A Case Report.
Acta Citologica, v.55, n.5, p.478-80, 2011.

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EFEITO DO TEMPO DE INCUBAÇÃO NO TESTE DE INIBIÇÃO DA MIGRAÇÃO LARVAL


COM ISOLADO DE HAEMONCHUS CONTORTUS

Mário Henrique Conde1, Patrícia Melancieiro Pizani1, Maria Julia Hipólito da Silva1, Renata
Pache Matias1, Andressa Farias1, Dyego Gonçalves Lino Borges2, Fernando de Almeida Borges3
1
Graduação em Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS.
2
Pós-Graduação em Ciência Animal pela UFMS- Doutorado.
3
Docente pela UFMS.

Resumo: O objetivo deste estudo foi avaliar o tempo mínimo necessário de contato droga-parasito
usando Ivermectina e Ivermectina+Quercetina para observar o efeito nematodicida sobre Haemonchus
contortus resistente. Para isso foi realizado, um teste de inibição da migração larval, utilizando
Ivermectina na concentração de 1 x 10-4 M e Quercetina na concentração de 5 x 10-5 M. As larvas foram
expostas a diferentes tempos de incubação, são eles: 1 hora, 2 horas, 3 horas, 4 horas, 5 horas e 6 horas.
Os tratamentos e as contagens de larvas foram realizados em triplicata. Com isso foram geradas três
médias das contagens, esses valores foram transformados na base de Log(y), normalizados e submetidos a
uma analise de variância de dois fatores. Não houve diferença estatística (P<0,05) entre os tempos de
incubação, o que indica que, in vitro, é necessário no minimo uma hora de contato droga-parasito. Não
houve acréscimo da eficácia de Ivermectina associado a Quercetina, ou seja, não houve interação entre as
drogas indicando ausência de modulação de P-Gp.

Palavras-Chave: Glicoproteína P, ivermectina, modulador, quercetina, resistencia

EFECT OF INCUBATION TIME IN MIGRATION INHIBITION LARVAL TEST WITH


ISOLATE OF HAEMONCHUS CONTORTUS

Abstract: The aim this research was evaluate to minimum time of contact drug-parasite using Ivermectin
and Ivermectin+Quercetin, for observe to nematocidida over Haemonchus contortus resistance. For this,
was done a migration inhibition larval test, using Ivermectin in concentration to 1 x 10-4 M and Quercetin
in concentration to 5 x 10-5 M. The larvae was exposed to six incubation times, it are: 1 hour, 2 hours, 3
hours, 4 hours, 5 hours e 6 hours. The treatments and the larvae counts was done in triplicate. Com isso
were geradas three means os count, this value were transformed in Log(y), normalized and submetidos
to Two Way Anova. Didn’t had significant difference(P<0,05) between to incubation times,whats means
that,in vitro,is necessary a minimum an hour of contact between drug and parasit.Wasn`t have increase of
ivermectin efficacy associated to Quercetin,than,didn`t has interaction between drugs indicating no
modulation to P-Gp.

KeyWords: P Glycoprotein, ivermectin, modulator, quercetin, resistance

Introdução
No inicio da década de 80 foi lançada uma nova classe de medicamento, as Lactonas
Macrocíclicas, a primeira e única classe endectocida do mercado. A ivermectina ganhou grande força no
mercado, justamente pelo seu grande espectro de ação e também elevado período residual. Entretanto,
com o uso indiscriminado dessa droga, instalou-se um sério quadro de resistência anti-helmíntica, tanto
para Ivermectina, como para as outras drogas da classe, principamente em ovinos.
As drogas endectocidas tem-se mostrado como substratos do transportador protéico GlicoProteína-
P(P-Gp). As P-Gps apresentam algumas funções quando relacionadas aos endectocidas, são elas:
Secreção biliar e intestinal da droga, promovendo a eliminação da droga do organismo; Distribuição da
droga no SNC, o que garante uma elevada margem de segurança; Efluxo de drogas a partir do parasita,
relacionando-se com a resistência antiparasitária.
Heckler et al. 2014, observou a potencialização do efeito da ivermectina quando associada a
fármacos, são eles: trifluoperazina, dexametasona, quercetina, verapamil, ciclosporina A, vimblastina e
ceftriaxona. Com isso, pode-se inferir a capacidade de modulação da P-Gp por esses fármacos, in vitro,
em isolados de H. placei .
Para garantir a eficácia de um anti-helmíntico, necessita-se manter uma determinada concentração
de droga por certo período em contato com o parasito, entretanto, quando se avança para testes in vivo,

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uma série de fatores fisiológicos e físico/químicos interferem negativamente no sucesso do efeito de


drogas moduladoras quando rotas parenterais são utilizadas. Quando a rota oral é utilizada, o pH, a
microbiota ruminal e a velocidade de trânsito de ingesta, são fatores complicadores para atingir o efeito
nematocida dos anti-helmínticos.
O objetivo deste estudo é avaliar qual o tempo mínimo necessário de contato droga-parasito in
vitro quando se utiliza Ivermectina e Ivermectina+quercetina para observar efeito nematodicida.

Material e Métodos
Dentre as técnicas in vitro disponíveis para avaliações de eficácia de anti-helmínticos em geral, foi
utilizada neste estudo o teste de inibição da migração larval assim como Heckler et al., 2014; Molento &
Prichard, 2001; D`Assonville et al.,1996.
O estudo foi realizado no Laboratório de Doenças Parasitárias(LADPAR) da Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia(FAMEZ/UFMS), no qual foi utilizado um isolado de Haemonchus
contortus resistente proveniente de ovinos naturalmente infectados, mantidos estabulados nas
dependências da FAMEZ. Este isolado foi submetido ao teste de redução da contagem de ovos nas
fezes(TRCOT) apresentando 0% de eficácia.
Inicialmente os animais foram submetidos a exame coproparasitológicos quantitativos, pelo
método de McMaster(OPG), para confirmar o paratismo pelos nematodas gastrintestinais. Após a
confirmação pelo OPG foi realizada a coprocultura para obtenção das L3, as quais então foram utilizadas
no teste.
O teste de migração larval foi realizado conforme a metodologia utilizada por Heckler et al. 2014
ilustrado na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma das etapas do Teste de Inibição da Migração Larval.

Neste estudo foram avaliados dois tratamentos: tempo mínimo de contato droga-parasito utilizando
somente ivermectina(IVM); tempo mínimo de contato droga parasito utilizando ivermectina(IVM)
associado a quercetina(QUERC). Ambos submetidos a diferentes tempos de incubação droga-larva: 1
hora, 2 horas, 3 horas, 4 horas, 5 horas e 6 horas.
Foi utilizada uma solução estoque na concentração de 1 x 10 -2 diluída em DMSO 100%. A partir
desta solução foram preparadas as soluções de trabalho, solução de IVM à 1 x 10 -4 M e uma solução de
QUERC à 5 x 10-5 M, ambas diluídas em DMSO 2%.
Cada tratamento foi realizado em triplicata, sendo que para cada replica, utilizaram-se três
contagens de larvas, gerando posteriormente uma média das contagens de larvas. Esses valores foram
transformados na base de Log(Y) seguido de normalização, e então submetidos a uma analise de
variância de dois fatores (Two way ANOVA) para avaliar a influencia do tempo de incubação e do
tratamento sobre a capacidade de migração larval, utilizando-se do programa GraphPad Prism versão
5.03.

Resultados e Discussão
Não foi observada diferença estatística do tempo de incubação(P=0,0805) sobre a migração larval,
assim como o tratamento utilizado(P=0,5065) logo não houve influencia ou interação entre as drogas
utilizadas (Figura 2)

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2.5
IVM

Contagem de larvas Log (y) 2.0 IVM + QUERC.

1.5

1.0

0.5

0.0
1h

2h

3h

4h

5h

6h
Tempo de incubação

Figura 2. Contagem de larvas na base de Log(y) sob diferentes tempos de incubação e o tratamento
utilizado.

Pode-se observar que na concentração de QUE (5 x 10-5 M) e IVM (1x10-4 M), não foi observada
acréscimo da eficácia de IVM em isolado de Haemonchus contortus resistente, possivelmente pela
ausência de modulação da P-Gp (Heckler et al., 2014). A ineficácia do modulador neste estudo, pode ser
justificada, pelo fato de que, in vitro, quando se aumenta as concentrações de IVM em relação a
concentração do modulador, ocorre possivelmente uma competição pela P-Gp, prevalecendo a IVM, logo
ausência de modulação, esse efeito foi observado por Heckler et al. (2014) utilizando Haemonchus placei
resistente.
A ausência de diferença estatística do tempo de incubação no teste de inibição da migração larval
pode fundamentar uma alteração na metodologia do teste, reduzindo o tempo de incubação para no
mínimo uma hora, quando se utiliza IVM, o que poderia tornar o teste mais rápido. Alem disso este
estudo pode servir como base para as avaliações, in vivo, do efeito das drogas moduladoras associadas aos
anti-helmínticos. Entretanto novos estudos fazem-se necessário para avaliar o comportamento dos
moduladores, quando em diferentes doses, associados a concentrações reduzidas de IVM.

Literatura Citada
Heckler R.P.; Almeida G.D.; Santos L.B. ; Borges D.G.L.; Neves J.P.L.; Onizuka M.K.V.; Borges F.A.;
P-gp modulating drugs greatly potentiate the in vitro effect of ivermectin against resistant larvae of
Haemonchus placei. Veterinary Parasitology. v. 205, p. 638-645, 2014
D`Assonville, J.A.; Janovsky, E. & Verster, A. In vitro screening of Haemonchus contortus third stage
larvae for ivermectin resistance. Veterinary Parasitology. v.61, n.1-2, p.73-80, 1996.
Molento, M. B. & Prichard, R.K. Effect of multigrug resistance modulators on the activity of ivermectin
and moxidectin against selected strains of Haemonchus contortus infective larvae. Pesquisa Veterinária
Brasileira. v. 21, n. 3, p. 117-121, 2001.

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EFICÁCIA ANTIFÚNGICA DO EXTRATO DE SENNA OCCIDENTALIS E RICINUS


COMMUNIS CONTRA DERMATÓFITOS

Michelli Lopes de Souza¹, Tiago Venancio da Silva², Resenângela da Costa Lunas3, Rosiane Araújo
Rodrigues4, Thiago Gonsalo da Silva5, Cássia Rejane Brito Leal6

¹Residente em Medicina Veterinária Preventiva da FAMEZ/UFMS. E-mail: michelli_lopes_1@hotmail.com


²Aluno do curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. E-mail: tiagosilva3943@hotmail.com
³Zootecnista autônoma. E-mail: resenangela@gmail.com
4
Mestranda do programa de pós-graduação em Ciência Animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: rosiaraujo_19@hotmail.com
5
Aluno do curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: thiagogonsalo@gmail.com
6
Professora da FAMEZ/UFMS. E-mail: cassia.leal@ufms.br

Resumo: O presente trabalho teve o objetivo de investigar a atividade antifúngica do extrato das plantas
Senna occidentalis e Ricinus communis sobre amostras clínicas de cães e gatos naturalmente infectados
por fungos dermatófitos. Foram realizados ensaios de determinação da concentração inibitória mínima
(CIM) de dez amostras. O resultado foi considerado satisfatório quando a CIM não ultrapassou a
concentração de 0,5mg/mL. O extrato de R. communis não apresentou CIM satisfatória sobre os isolados
testados enquanto o extrato de S. occidentalis apresentou resultado satisfatório sobre duas amostras. Com
isso, conclui-se que os extratos testados para fungos dermatófitos não foram eficientes e que mais estudos
a fim de comparação devem ser feitos.

Palavras-Chave: Concentração Inibitória Mínima, Extrato de plantas, Fungos

ANTIFUNGAL EFFICACY OF THE EXTRACT OF SENNA OCCIDENTALIS AND RICINUS


COMMUNIS AGAINST DERMATOPHYTES

Abstract: This study aimed to investigate the antifungal activity of the extract of Senna occidentalis and
Ricinus communis on ten clinical samples from dogs and cats naturally infected by dermatophytes. Assays
to determinate the minimum inhibitory concentration (MIC) were realized with ten samples. The result
was considered satisfactory when MIC was up to 0,5mg/mL. R. communis extract didn’t presented
satisfactory MIC on the isolates while S. occidentalis presented satisfactory result on two samples.
Therefore, it is concluded that the tested extracts to dermatophyte fungi were not effective and that more
studies to comparison have to be made.

Keywords: Fungi, Minimum Inhibitory Concentration, Plants extracts

Introdução
Infecções fúngicas são importantes causas de doenças de pele no atendimento clínico de pequenos
animais. Nos últimos anos, o interesse por drogas naturais vêm aumentando, principalmente pela idéia
disseminada de que remédios naturais são mais saudáveis e seguros que os sintéticos, além dos problemas
de resistência já encontrados em muitos medicamentos (Wagh & Vidhale, 2010).
Senna occidentalis, popularmente conhecida como fedegoso, é uma planta invasora encontrada em
todo o território brasileiro. Em alguns países asiáticos é frequentemente utilizada como purgativa, mas
também apresenta propriedades antibacteriana, antifúngica, antiviral, anti-inflamatória, dentre outras
aplicações. Estudos apontam que S. occidentalis possui atividade antimalárica, testes in vitro
demonstraram inibição de até 81% do desenvolvimento do parasita (Viegas Junior et al., 2006).
Ricinus communis planta tipicamente encontrada em áreas de clima tropical, tem potencial
terapêutico, incluindo propriedade laxativas, efeitos anti-inflamatórios, ação contra doenças hepáticas,
hipoglicemias, atividade antimicrobianas, entre outras. Também é utilizado como método contraceptivo
na Tunísia, possui atividade antioxidante, porém sua atividade antimicrobiana não foi totalmente
elucidada (Zaira et al., 2012).
Estudos preliminares demonstram que a eficácia da ação do extrato dessas plantas contra
patógenos depende de condições geoclimáticas, época do ano, forma de obtenção e de qual região da
planta que foi extraído.

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No presente estudo, extratos das plantas Mamona e Fedegoso foram testados para uma potencial
atividade antifúngica contra fungos dermatófitos pelo teste de determinação da concentração inibitória
mínima (CIM).

Material e Métodos
Local: O experimento foi conduzido no segundo semestre de 2015, na Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul – UFMS.
Material Vegetal: A coleta das partes aéreas (ramos, folhas, flores e frutos) das plantas ocorreu
em 18 de março de 2014, no Canteiro de Plantas Tóxicas, da FAMEZ/UFMS. Após a colheita as mesmas
foram imediatamente envolvidas em papel pardo e colocadas em estufa por cinco dias para desidratar.
Após esta etapa foi moída em moinho de facas utilizando-se peneira de 2mm de diâmetro no Laboratório
de Nutrição Animal da FAMEZ.
Preparação do Extrato: O extrato foi preparado no laboratório de Farmacognosia da UFMS.
Utilizou-se 13,78g de folhas dentro da célula de aço inox junto com terra de diatomáceas que evita a
compactação do princípio dentro da célula. A célula foi levada ao aparelho Extrator de Fluxo
Pressurizado até que fosse extraído todo o princípio ativo da amostra, por cerca de vinte minutos. Antes
de ser inserida a amostra para extração, foi feito primeiramente um índice com uma célula padrão. Nessa
fase utilizou-se um tubo de ensaio para coletar o resíduo (rinse) que o aparelho libera enquanto faz o
índice, após isso o equipamento estava preparado para a extração da amostra. A próxima fase foi a de
rotaevaporação em banho maria a 50° C. Após a amostra foi congelada para a próxima etapa, a
liofilização. Para a liofilização foi preparada uma solução de acetona com nitrogênio líquido em um
recipiente. O processo foi finalizado após 20 horas. O extrato seco foi pesado em balança analítica para
cálculo de rendimento do extrato. Obteve-se no final 3,33g de extrato em pó com rendimento de 24,16%.
Este foi posto em um recipiente fechado e protegido de calor e umidade para posterior uso. O extrato seco
foi pesado e diluído em dimetilsulfóxido (DMSO) na proporção de 20mg do extrato liofilizado para 1mL
de DMSO, com o auxílio de um agitador, contendo assim 20000 µg de extrato em 1000 µL de DMSO.
Assim, em 1 µL de solução havia 20 µg de extrato, e em 100 µL havia 2000 µg.
Amostras de fungos: Os fungos obtidos foram isolados de amostras de pelos de cães e gatos
naturalmente infectados que foram semeados inicialmente em tubos contendo Agar Sabouraud Dextrose +
Antibiótico. Após o crescimento, amostras puras eram obtidas com um repique e então semeadas em
placas de Petri contendo Agar Sabouraud Dextrose sem antibiótico. A classificação foi feita com base na
morfologia de colônias e de células coradas com cotton blue.
Determinação da CIM: Os ensaios de avaliação da atividade antifúngica foram realizados em
triplicata pelo método de difusão em meio sólido utilizando cavidades em placa (Hadaceck & Greger,
2000). Para determinação da concentração inibitória mínima (MIC) a solução do extrato foi obtida a partir
de 1mL de DMSO com 20mg do extrato da planta em questão e homogeneizado a mistura com auxílio do
aparelho vortex. O inóculo foi preparado retirando-se uma fração de 1cm de diâmetro do agar contendo o
fungo com um tubo de ensaio com diâmetro de aproximadamente 10mm, esse conteúdo foi misturado em
10mL de salina estéril e homogeneizado com auxílio do aparelho vortex. A quantidade de inóculo
suficiente foi padronizada de acordo com a turvação com o tubo de 0,5 da escala de MacFarland. Em uma
placa estéril, foi adicionado 1mL da suspensão fúngica e sobre este, 20mL de Agar Sabouraud Dextrose
fundido, homogeneizando então a solução. Após a solidificação do Agar, nove orifícios bem distribuídos
foram feitos com o fundo de ponteiras estéreis. Sobre os poços foram então adicionadas as diluições feitas
em uma microplaca de acordo com a tabela abaixo:

Tabela 1. Diluição do extrato de planta para determinação da CIM


100% 75% 50% 25% 12% 6% 3% Controle
Extrato 250µL 188 µL 125 µL 63 µL 31 µL 15 µL 7,5 µL 250 µL
planta DMSO
Salina 10 µL 72 µL 135 µL 197 µL 229 µL 245 µL 253 µL 7,5 µL

Após as diluições, 50 µL foram transferidos para seus respectivos poços na placa e um controle
positivo também foi adicionado com cetoconazol 200mg, diluído em 1mL de salina e também transferido
50 µL para seu poço correspondente. A determinação da zona de inibição foi considerada quando o halo
de inibição tivesse diâmetro maior ou igual a 10mm.

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Resultados e Discussão
Foi testada a ação fungicida dos extratos de mamona e fedegoso em dez isolados de dermatófitos
obtidos de amostras clínicas. Dos isolados testados para extrato alcoólico de folha mamona, nenhuma das
diluições apresentou inibição do crescimento fúngico, não sendo, portanto, o resultado satisfatório
comparando-se ao estudo feito por Zarai et al. (2012), que encontrou alta sensibilidade em extrato de
folhas de mamona pelo teste de concentração inibitória mínima quando testados em 4 diferentes tipos de
fungos. Estudos feitos por Naz & Bano (2012) revelaram que o extrato alcoólico da folha de mamona
teve a porcentagem da ação fungicida maior quando comparado ao extrato aquoso da folha de mamona,
mas que ambos apresentam inibição fúngica efetiva. O extrato de fedegoso inibiu duas amostras com
CIM de 0,1mg/mL e 0,5mg/mL e para as demais não houve inibição efetiva. Outros estudos empregando
extratos de fedegoso revelaram resultado divergente entre eles. Davariya & Vala (2011) relataram
resultados satisfatórios na inibição de fungos enquanto Wagh & Vidhale (2010) relataram não haver
sensibilidade de fungos do gênero Microsporum sp. ao extrato dessa planta, resultado este também
verificado no presente estudo. Dessa forma, considera-se o que as amostras de fungos dermatófitos foram
resistentes aos extratos testados, ainda que tenha ocorrido inibição de duas amostras com o extrato de
fedegoso.

Conclusões
O presente trabalho não apresentou atividade antifúngica efetiva quando comparado a outros
estudos feitos com extratos das plantas estudadas. Sugerem-se mais estudos com fungos dermatófitos para
comparação se são os fungos desse gênero que são mais resistentes ou se as amostras usadas no estudo
que são resistentes por se tratarem de amostras clínicas.

Literatura Citada
Davariya, V. S.; Vala, A. K. Antifungal activity of crude extracts of Cassia occidentalis. Res.
Phytochem. Pharmacol., 1(2), 2011, 36-38.
Hadaceck, F, Greger, H. Testing of antifungical natural products: methodologies, comparability of results
and assay choice. Phytoch Anal, 11: 137-147, 2000.
Naz, R.; Bano, A. Antimicrobial potencial of Ricinus communis leaf extracts in different solvents against
pathogenic bacterial and fungal strains. Asian Pac. J. Trop. Biomed. 2012; 2 (12): 944-947
Viegas Junior, C.; Rezende, A.; Silva, D. H. S.; et al. Aspectos Químicos, Biológicos e
Etnofarmacológicos do Gênero Cassia. Quim. Nova. V. 29, N. 6, 1279-1286, 2006.
Wagh, S.; Vidhale, N. N. Antimicrobial Efficacy of Cassia occidentalis (Kasmard) against Some Human
Pathogenic Bacteria and Fungi. Pharmacologyonline 1, 706-713, 2010. Disponível em:
http://pharmacologyonline.silae.it/files/newsletter/2010/vol1/80.Deore.pdf Acesso em: 10/11/2015.
Zarai, Z.; Chobba, I. B.; Mansour, R. B.; et al. Essential oil of the leaves of Ricinus communis L.: In vitro
cytotoxicity and antimicrobial properties. Lipds In Health Disease. 2012, 11:102.

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CERATOCONJUNTIVITE NODULAR EM UM CASO DE LEISHMANIOSE CANINA

Gabriel Utida Eguchi1, Gustavo Gomes de Oliveira2, Nathália Barbosa Messas1, Silvana Marques
Caramalac1, Veronica Jorge Babo-Terra3, Mariana Isa Poci Palumbo3
1
Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais FAMEZ/UFMS. E-mail: utida.gabriel@gmail.com
1
Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais FAMEZ/UFMS. E-mail: silvanacaramalac@gmail.com
1
Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais FAMEZ/UFMS. E-mail: nathaliabmessas@gmail.com
2
Residente em Patologia Clínica Veterinária FAMEZ/UFMS. E-mail: gustavogomesde@hotmail.com
3
Professora do Curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS. E-mail: mariana.palumbo@ufms.br
3
Professora do Curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS. E-mail: vjb@terra.com.br

Resumo:A leishmaniose visceral canina é uma doença sistêmica que pode se desenvolver com diferentes
manifestações clínicas. Lesões oculares são comuns, porém, na maioria dos casos, apresentam-se
concomitantemente a outras alterações sistêmicas. Relata-se um caso de leishmaniose canina com
ceratoconjuntivite nodular, com a presença de formas amastigotas de Leishmania sp. no exame
parasitológico direto de citologia aspirativa conjuntival, sendo as alterações oculares a única queixa do
proprietário.

Palavras-chave: Ocular, Leishmania, Oftálmico

NODULAR KERATOCONJUNCTIVITS IN A CASE OF CANINE LEISHMANIASIS

Abstract: Canine visceral leishmaniasis is a systemic disease that can develop with different clinical
manifestations. Eye lesions are common, however, in most cases they are shown at the same time as other
systemic changes. We describe a case of canine leishmaniasis with nodular keratoconjunctivits with the
presence of Leishmania sp. amastigotes in parasitological examination from conjunctival aspirative
cytology, eye changes being the only owner’s complain.

Key-words: Ocular, Leishmania, Oftalmic.

Introdução
Lesões oculares são frequentes na leishmaniose visceral canina, desde alterações discretas como
ceratoconjuntivite a outras mais graves como uveíte, ceratoconjuntivite seca e coriorretinite (PEÑA et al.,
2000; NARANJO et al., 2012). No entanto, é incomum serem a queixa principal do proprietário,
ocorrendo em sua maioria associadas a outros sintomas sistêmicos da doença (PEÑA et al., 2000).
O objetivo deste trabalho foi relatar um caso de leishmaniose canina com sintoma clínico ocular
como queixa principal do proprietário.

Material e Métodos
Foi atendido um paciente canino, labrador, fêmea, não castrada, de aproximadamente cinco anos
de idade com queixa principal de surgimento de nódulos nos dois olhos, com evolução progressiva de 60
dias, sem prurido ou aparente sensibilidade dolorosa.
Durante exame físico, foram observados nódulos variando entre 0,1 a 0,5 cm de diâmetro em
conjuntiva ocular, membrana nictitante e região de limbo (bilateral) e ceratoconjuntivite (bilateral).
Também foi observado linfadenomegalia (linfonodos pré-escapulares e poplíteos).
Foram realizadas punções aspirativas por agulha fina de linfonodos (pré-escapulares e poplíteos) e
swab ocular conjuntival para avaliações citológicas, os quais identificaram tecido linfoide normal e
presença de células de descamação, respectivamente. Nesse momento, foi prescrito dexametasona (0,2
mg/kg/BID/PO/durante 3 dias).
Durante a consulta de retorno (20 dias após consulta inicial), o proprietário relatou remissão
completa dos nódulos oculares após o início da corticoterapia sistêmica, porém, com recidiva após curto
período de término da medicação. As mesmas alterações oculares foram observadas durante exame físico.
Porém, foi identificado um nódulo em região de osso frontal, aderido, com consistência firme, medindo
1,0 cm de diâmetro. O paciente foi sedado e então realizada punção aspirativa por agulha fina de ambos,
nódulos oculares e da região da cabeça.

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Foram identificadas formas amastigotas de Leishmania sp., intracitoplasmáticas e livres em ambos


exames citológicos.

Resultados e Discussão
Lesões oculares são frequentes na manifestação clínica da leishmaniose canina, sendo a ceratite,
conjuntitive e uveíte as alterações comumente observadas (BLAVIER et al., 2001; BARBOSA et al.,
2012). Incomum, no entanto, são afecções oculares como queixa principal em casos suspeitos de
leishmaniose (PEÑA et al., 2000) como no presente relato, cujo paciente apresentava alterações oculares
sem manifestações físicas mais específicas, excetuando-se linfadenomegalia.
Neoplasias devem ser incluídas como diagnóstico diferencial para nódulos oculares e conjuntivais,
podendo ocorrer em linfomas extranodais, carcinoma de células escamosas, hemangiomas,
hemangiossarcomas, adenoma de glândulas sebáceas tarsais e papilomas virais (MONTIANI-FERREIRA
et al., 2009), mas com características macroscópicas de pouca semelhança às alterações encontradas no
paciente deste relato.
Desordens proliferativas não neoplásicas também devem ser ponderadas. A episcleroceratite
nodular granulomatosa (sin. fasciite nodular, síndrome da ceratoconjuntivite proliferativa, granuloma
límbico) já foi descrita em cães das raças Collie e Pastor de Shetland (GRAHN & SANDMEYER, 2008),
em cujo perfil não se enquadrava o animal estudado.
Pelo fato de habitar em região endêmica, aliado à presença de linfadenomegalia, leishmaniose foi
incluída na lista de suspeitas clínicas deste cão. Entretanto, o achado de formas amastigotas de
Leishmania sp. nas lesões oculares não era esperado, e acrescenta informações a respeito da possibilidade
de diversas manifestações clínicas da leishmaniose canina, como alerta para médicos veterinários clínicos
de regiões endêmicas e não endêmicas.

Conclusões
A leishmaniose visceral canina é uma doença infecciosa sistêmica que pode manifestar-se em
vários aspectos clínicos, dos quais, em alguns casos, os sintomas podem não ser de ocorrência frequente.
A ceratoconjuntivite nodular, apesar de ser uma manifestação incomum da doença, pode ocorrer, e
ressalta a importância da realização de exames complementares para auxílio diagnóstico.

Literatura Citada
BARBOSA, V.T.; SILVA, M.A.G.; SOUSA, M.G. et al. Detecção de formas amastigotas em exame
parasitológico de esfregaço obtido a partir de suabe conjuntival de cães com leishmaniose visceral.
Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v. 64, n. 6, p. 1465-1470, 2012.
BLAVIER, A.; KEROACK, S.; GOY-THOLLOT, D.I. et al. Atypical Forms of Canine Leishmaniosis.
The Veterinary Journal. v. 162, p. 108–120, 2001.
GRAHN, B.H & SANDMEYER, L.S. Canine Episcleritis, Nodular Episclerokeratitis, Scleritis, and
Necrotic Scleritis. Veterinary Clinics Small Animal Practice. v. 38, p. 291-308, 2008.
MONTIANI-FERREIRA, F.; WOUK, A.F.P.F.; LIMA, A.S. et al. Neoplasias oculares. In: DALECK,
C.R.; DE NARDI, A.B.; RODASKI, S. Oncologia em cães e gatos. São Paulo: Editora Roca LTDA,
2009, p.293-312.
NARANJO, C.; FONDEVILA, D.; ALTET, L. et al. Evaluation of the presence of Leishmania spp. by
real-time PCR in the lacrimal glands of dogs with leishmaniosis.The Veterinary Journal. v. 193, p. 168–
173, 2012.
PEÑA, M.T.; ROURA, X.; DAVIDSON, M.G. Ocular and periocular manifestations of leishmaniasis in
dogs: 105 cases (1993-1998). Veterinary Ophthalmology. v. 3, p. 35-41, 2000.

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USO DE FITA ADESIVA PARA DIAGNÓSTICO DE SARNA DEMODÉCICA EM UM CÃO

Bruna Colombo Baptista1, Andresa da Silva Frade Gomes1, Alíria Priscilla dos Santos Aristides1, Lucas
Bezerra Taketa1, Gabriel Utida Eguchi2, Mariana Isa Poci Palumbo³, Veronica Jorge Babo-Terra³

¹Acadêmica do curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS E-mail:bruna.cbaptista@hotmail.com


1
Acadêmica do curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS E-mail:andresa.frade@gmail.com
1
Acadêmica do curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS E-mail:aliria.santos@gmail.com
1
Acadêmico do curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS Email:lucas_taketa@hotmail.com
2
Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais FAMEZ/UFMS. E-mail: utida.gabriel@gmail.com
3
Professora do Curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS. E-mail: mariana.palumbo@ufms.br
3
Professora do Curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS. E-mail: vjb@terra.com.br

Resumo: A sarna demodécica é causada pelo ácaro do gênero Demodex sp., que acomete animais
domésticos como cães e gatos. A doença se manifesta por queda de pelos branda, principalmente da face
e dos membros torácicos e dependendo da cronicidade a pele pode se tornar espessa. Foi relatado um caso
de demodicose canina com alopecia generalizada, prurido intenso e pústulas, cujo diagnóstico foi
realizado através da coleta de impressões de pele através do método de fita adesiva transparente e
observação do parasito adulto ao microscópio óptico. Foi instituído tratamento a base de antiparasitário e
após 30 dias observou-se remissão completa dos sintomas clínicos. O uso de fita adesiva transparente
demonstrou-se um método de fácil execução, boa sensibilidade e possivelmente um método substituto
como escolha inicial ao raspado de pele profundo, evitando lesões físicas ao paciente.

Palavras-chave: Demodex sp.; Sarna; Raspado de pele

USE OF ACETATE TAPE FOR CANINE DEMODICOSIS DIAGNOSIS – CASE REPORT

Abstract: The demodecic mange is caused by mites of the genus Demodex sp., which affects domestic
animals such as dogs and cats. The disease is manifested as a milder drop of fur, mainly of the face and
chest limbs and depending on the chronicity the skin may become thickened. A case of canine
demodicosis has been reported with widespread alopecia, severe itching and pustules, which diagnosis
was made by collecting skin impressions using transparent acetate tape method and observation of adult
parasites by optical microscopy. Treatment was instituted based with antiparasitic drug and after 30 days
there was complete remission of clinical symptoms. The use of transparent adhesive tape proved to be a
method of easy implementation, good sensitivity and possibly a replacement method to the initial choice
of deep skin scraping to avoid injury to the patient.

Key-words: Demodex sp.; Mange; Skin scraping

Introdução
A sarna demodécica, também conhecida como demodicose canina, é uma das dermatopatias
parasitárias mais comumente encontradas na clínica médica veterinária (SILVA et al., 2008). O agente
responsável é o Demodex canis, um artrópode aracnídeo da família Demodicidae, subclasse
Trombidiforme (SILVA et al., 2008).
Classifica-se em duas formas: localizada e generalizada. Segundo Unquhart (1996) a forma
localizada caracteriza-se por branda queda de pelos e espessamento de pele, com discretas lesões
localizadas que desaparecem espontaneamente sem tratamento. Por outro lado, a forma generalizada
apresenta lesões disseminadas por todo o corpo, podendo assumir a forma escamosa ou pustular: a
primeira é menos grave, com lesões secas e pouco eritema e alopecia difusa; a pustular é considerada a
forma mais grave devido à contaminação bacteriana e maior severidade das lesões (SILVA et al., 2008).
O contágio ocorre pela transmissão do parasito diretamente entre a cadela e seus filhotes durante o
período de amamentação. (SILVA et al.,2008). Provavelmente pela sua localização profunda na derme, a
transmissão entre animais é improvável, a menos que haja contato prolongado (UNQUHART et al.,
1996).
O diagnóstico geralmente empregado é o de raspado de pele cutâneo, devendo ser profundo para
maior probabilidade de detecção dos ácaros Demodex canis (ESTEVES, 2015). Recentemente, tem-se
utilizado o teste de fita adesiva de acetato, que baseia-sena aplicação de pequenas tiras de fita adesiva
transparente sobre a pele do paciente, acompanhada de beliscamento da pele para aumentar a

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possibilidade de exteriorização do ácaro e posterior rápida retirada da fita, um método menos invasivo e
considerado mais sensível do que o raspado profundo de pele (SILVA et al., 2008; PEREIRA et al.,
2012).
O objetivo deste trabalho foi relatar um caso de demodicose generalizada em um cão
diagnosticado por meio do teste da fita adesiva.

Material e Métodos
Foi atendido no hospital veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul um canino, fêmea, SRD, três meses de idade, resgatado de
rua, com queixa principal de ausência de pelos e várias lesões de pele pruriginosas.
No exame físico, foram constatadas alopecia, lesões crostosas e pústulas dispersas e áreas de
liquenificação. Os demais parâmetros físicos de rotina não apresentaram nenhuma alteração.
Em seguida, conforme Pereira et al. (2012) foram coletadas impressões de pele por meio da
técnica de fita adesiva transparente da região dorsal do crânio, posteriormente posicionada sobre uma
lâmina de microscópio e avaliada em objetiva de 40x, sendo observadas até 40 formas adultas de
Demodex sp. por campo.
Foi prescrito tratamento com ivermectina (0,5mg/kg por via oral, SID/30 dias), cefalexina
(20mg/kg/BID/21 dias), banhos a cada cinco dias com shampoo à base de clorexidine 3%, ureia 2% e
glicerina 2%, além de suplemento vitamínico. Após 30 dias da consulta inicial, o paciente retornou com
recuperação completa dos sinais dermatológicos, com crescimento de pelos em todas as áreas
previamente alopécicas.

Resultados e Discussão
Os sinais da demodicose generalizada, como alopecia multifocal, espessamento da pele e lesões
disseminadas (UNQUHART et al., 1996), foram consistentes com as observadas no paciente deste relato.
Segundo Silva et al. (2008) a técnica parasitológica de escolha para o diagnóstico da demodicose,
tanto na forma localizada quanto na generalizada, é o raspado cutâneo profundo, e que apesar de pouco
traumático, ainda apresenta maiores riscos do que o teste com fita adesiva transparente. Para o paciente
do relato, a técnica confirmou-se de fácil execução e boa sensibilidade como já descrito previamente por
outros autores (SILVA et al., 2008; PEREIRA et al., 2012).
O tratamento à base de ivermectina foi efetivo e sem efeitos adversos citados como letargia,
hipersalivação, ataxia, cegueira transitória, coma e convulsão, diferentemente do que já foi constatado
anteriormente por Silva et al. (2008).
A utilização de antibioticoterapia, polivitamínico e terapia tópica como suporte, podem ter sido
responsáveis pela rápida recuperação da condição em que o paciente se encontrava.

Conclusões
O teste de raspado cutâneo profundo, embora considerado teste de eleição, pode ser substituído
pela técnica da fita adesiva transparente, que tem demonstrado sensibilidade semelhante, e sua realização
depende de menos habilidade técnica do executor e com riscos não relatados para o animal.

Literatura Citada
ESTEVES, A.C. Demodicose generalizada em cão da raça Teckel: relato de caso. 2015. Monografia
(Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015.
PEREIRA, A.V.; PEREIRA, S.A.; GREMIÃO, I.D. et al. Comparasion of acetate tape impression with
squeezing versus skin scraping for diagnosis of canine demodicosis. Australian Veterinary Journal, v.
90, n.11, p.448-450, 2012.
SALZO, P.S. Demodicose canina. O que há de novo? Revista Nosso Clínico, v. 66, p.26-28, 2008.
SILVA, R.P.B.; BELETTINI, S.T.; STEL, R.F. et al. Sarna demodécica canina e suas novas perspectivas
de tratamento - revisão. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia, v.11, n.2, p.139-151, 2008.
URQHUART. G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J.L. et al. EntomologiaVeterinária. In: URQHUART.
G.M; ARMOUR, J.; DUNCAN, J.L. et al. (Eds.) Parasitologia Veterinária. 2 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1996. p. 169-171.

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DIAGNÓSTICO IN VITRO DA RESISTÊNCIA A BENZIMIDAZÓIS EM CIATOSTOMÍNEOS


NA FAZENDA ESCOLA

Mariana Green de Freitas¹, Juliana Katia Souza¹, Larissa Bezerra dos Santos², Dyego Gonçalves Lino
Borges² Fernando de Almeida Borges³

¹Aluna do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: marigreenf@hotmail.com


¹Aluna do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: ju.katia.sousa@gmail.com
²Doutoranda da FAMEZ/UFMS. E-mail: larissamedvet@hotmail.com
²Doutorando da FAMEZ/UFMS. E-mail: dyegogborges@hotmail.com
³Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: fernando.borges@ufms.br

Resumo: O teste de eclodibilidade larval é uma técnica in vitro utilizada para diagnosticar parasitas
resistentes aos benzimidazóis e uma de suas vantagens é apresentar menos variações que o teste de
redução da contagem de ovos. O objetivo desse trabalho foi avaliar o teste de eclodibilidade larval como
ferramenta para diagnóstico de resistência em ciatostomíneos contra thiabendazole. Foram utilizados seis
animais oriundos da Fazenda Escola UFMS, Terenos – MS para a realização do teste de eclodibilidade
larval com dez concentrações de thiabendazol 0,5; 0,3; 0,2; 0,1; 0,05; 0,025; 0,01; 0,005; 0,002 e
0,001µg/ml, além de coprocultura com a finalidade de identificar qual o isolado em estudo. Ocorreu
eclodibilidade larval nas concentrações 0,2 e 0,5 demostrando resistência aos benzimidazóis, o fator de
resistência e a CE50 foram respectivamente 2,5 e 0,05 µg/ml. Este estudo diagnosticou a resistência a
thiabendazole e demonstrou que é possível utilizar o teste de eclodibilidade larval para diagnosticar a
resistência em ciastostomíneos.

Palavras-chave: Thiabendazol, equinos, teste de eclodibidade larval

DIAGNOSTIC RESISTANCE IN VITRO THE BENZIMIDAZOLE IN CYATHOSTOME IN


SCHOOL FARM

Abstract: The egg hatch assay (EHA) is an in vitro technique used for diagnosing parasite resistance to
benzimidazoles, has fewer variations than the reduction test egg counts. This study evaluated the egg
hatch assay as a tool for diagnosis of resistance in cyathostominae against thiabendazole. We used six
animals from the Farm School UFMS, Terenos – MS. We conducted larval hatchability test with ten
concentrations of thiabendazole 0.5; 0.3; 0.2; 0.1; 0.05; 0.025; 0.01; 0.005; 0.002 and 0,001μg / ml, and
stool cultures in order to identify the isolate studied. Larval hatchability occurred at concentrations 0.2
and 0.5 demonstrating resistance to benzimidazoles, the resistance factor and EC50 were respectively 2.5
and 0.05 µg /ml. We diagnosed resistance to thiabendazole and demonstrated that it is possible use the
egg hatch assay to diagnose cyathostominae resistance.

Keywords: Thiabendazole, equine, the egg hatch assay

Introdução
Os ciatostomíneos são os parasitas com maior prevalência em equinos, eles se tornaram ainda mais
importante nas ultimas décadas, depois de serem reportados vários relatos de resistência à benzimidazóis.
(Vera, 2014)
É importante monitorar a eficácia dos produtos, no entanto, esse monitoramento só é realizado
quando as drogas apresentam falha na sua ação e a resistência já está instalada na propriedade. Desse
modo, os testes in vivo e in vitro são as principais formas de identificar a resistência. (Canever, 2012)
Entretanto, o Teste de Redução da Contagem de Ovos (FECRT), teste in vivo, possui muitos
inconvenientes, por ser muito variável, além de ser necessário um número maior de animais, o que se
torna um fator limitante pelo rebanho de equinos ser menor, além de detectar a resistência quando esta já
está em 25% e é necessário ir à fazenda duas vezes. (Matthews, 2014)
O Teste de Eclodibilidade Larval é o mais utilizado para avaliar a ação ovicida de anti-helmínticos
e extratos de plantas, destacando-se os benzimidazóis. É um teste viável por ser possível realizar com
apenas um animal, além de proporcionar um diagnóstico da resistência precoce, facilitando assim a
intervenção do problema. (Coles et al., 2006)

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Deste modo, o objetivo desse trabalho foi avaliar o teste de eclodibilidade larval como ferramenta
para diagnóstico de resistência de ciatostomíneos à benzimidazóis.

Material e Métodos
O estudo foi realizado na Fazenda Escola, localizada em Terenos – MS. Foram utilizados seis
animais, as fezes foram coletadas direto da ampola retal acondicionada em sacos plásticos e levados até o
Laboratório de Doenças Parasitárias na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Os ovos foram recuperados segundo o método descrito por Coles et al (2006) modificado por
Bizimeniera et al (2006). O teste de eclodibilidade foi realizado com dez concentrações e água destilada
como controle, sendo as concentrações 0,5; 0,3; 0,2; 0,1; 0,05; 0,025; 0,01; 0,005; 0,002 e 0,001 µg/ml.
Cada poço recebeu 900 µl de água destilada, 10 µl de thiabendazol e 100 µl contendo 100 ovos. Foram
utilizadas placas de 24 poços, onde cada concentração foi avaliada em triplicata.
As placas foram levadas para uma estufa B.O.D onde permaneceram por 24 horas a 27 °C, depois
foi realizada a leitura das placas em um microscópio invertido com objetiva de 10X e o percentual de
eclodibilidade foi calculado pela equação: (nº de larvas/ nº larvas + ovos) x 100.
Foi realizada coprocultura das fezes dos seis equinos, onde foi mistura as fezes com vermiculita
com a proporção 1:1, acondicionadas em frascos de vidro com orifício central, mantidas por 10 dias a
27°C e a umidade era mantida todos os dias com spray de água.
As larvas foram identificadas segundo chave descrita por Monteiro, 2011.

Resultado e Discussão
Neste estudo, as concentrações de 0,2 e 0,5 µg/ml apresentaram larvas nos poços, indicando assim
resistência desses parasitas ao thiabendazol, pois a presença de larvas em concentrações a partir de 0,185
µg/ml indica resistência (Coles et al, 2006).
Através da coprocultura foi possível identificar um isolado puro de ciatostomíneos. O isolado em
questão demonstrou um fator de resistência de 2,5 µg/ml, sendo que foi utilizado um isolado devidamente
caracterizado como susceptível para o cálculo do fator e o valor da CE50, concentração efetiva para inibir
50% dos ovos foi de 0,05 µg/ml.
Na fazenda que foi realizado o estudo já utilizava os benzimidazóis como tratamento os equinos há
muitos anos, dessa forma é possível que tenha ocorrido uma seleção dos parasitas resistentes, o que foi
confirmado através do teste de eclodibilidade larval e demonstrado que os benzimidazóis nessa
propriedade já não possuem mais efeito.
No Brasil os relatos de resistências a benzimidazóis só são confirmados com o auxilio de testes in
vivo, sendo este o primeiro utilizando um teste in vitro, como o teste de eclodibilidade larval, que é
especifico para essa classe de medicamento.

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Figura 1. Percentual de eclodibilidade de ovos de ciatostomíneos nas concentrações de


0,5;0,3;0,2;0,1;0,05;0,025;0,01;0,005;0,002 µg/ml de thiabendazol e água como controle negativo do
teste.

150
Isolado sensível
Isolado resistente
% eclosão

100

50

0
0.0 0.2 0.4 0.6
µg/mL

Figura 2. Comparação da eclodibilidade larval entre o isolado sensível e o resistente, demostrando que o
isolado resistente apresentou eclosão nas maiores concentrações de thiabendazol.

Conclusões
Esse estudo permitiu diagnosticar a resistência aos benzimidazóis em equinos naturalmente
infectados com ciatostomíneos.
O teste de eclodibilidade larval apresenta resultados satisfatórios para diagnosticar a resistência em
equinos, porém essa técnica é restrita ao benzimidazóis, visto que avalia apenas a ação ovicidade das
drogas.

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Literatura Citada
BIZIMENYERA, E. S.; GITHIORI, J. B.; ELOFF, J. N.; SWAN, G. E. In vitro activity of Peltophorum
africanum Sond. (Fabaceae) extracts on the egg hatching and larval development of the parasitic
nematode Trichostrongylus colubriformis. Veterinary Parasitology. 142, 336–343, 2006.
CANEVER, R. J. Diagnóstico da resistência anti-helmíntica em cíatostomineos de equinos por meio
de testes in vivo e in vitro. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2012. 59p. Dissertação (Mestrado
em Ciências Veterinárias) - Universidade Federal do Paraná, 2012.
COLES, G.C.; JACKSON, F.; POMROY, W.E.; PRICHARD, R.K.; SAMSON-HIMMELSTJERNA,
G.V.; SILVESTRE, A.; TAYLOR, M.A.; VERCRUYSSE, J. The detection of anthelmintic resistance in
nematodes of veterinary importance. Veterinary Parasitology. 136, 167-185, 2006.
MATTHEWS, J.B. Anthelmintic resistance in equine nematodes. International Journal for
Parasitology. 4, 310–315, 2014.
MONTEIRO, S.G. Parasitologia na Medicina Veterinária. 1. ed. ROCA. 368p, 2011.
VERA, J.H.S. Resistência anti-helmíntica em equinos na região Oeste do estado de São Paulo.
Dracena: Universidade Estadual Paulista “Julio Mesquita Filho”, 2014. 39p. Dissertação (Mestrado em
Ciência e Tecnologia Animal) - Universidade Estadual Paulista “Julio Mesquita Filho”, 2014.

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DILATAÇÃO GÁSTRICA EM CÃO - RELATO DE CASO

Simone Marques Caramalac1, Fabiano de Oliveira Frazilio2, Silvana Marques Caramalac3, Desiree Reis4,
Vanessa Hitomi5, Karen Fernanda da Silva6, Fabrício de Oliveira Frazilio7

1 Residente da área de Anestesiologia e Medicina de Emergência - UFMS


2 Médico veterinário do Hospital Veterinário - UFMS
3 Residente da área Clínica Médica de Pequenos ani mais- UFMS
4 Acadêmica da área de Diagnóstico por Iamgem - UFMS
5 Acadêmica do curso de Medicina Veterinária - UFMS
6 Residente da área de Anestesiologia e Medicina de Emergência - UFMS
7 Prof Drº Anestesiologia -UFMS

Resumo: O presente estudo tem como objetivo relatar o caso de um animal atendido no Hospital
Veterinário com dilatação e compactação gástrica. Também denominada como timpanismo alimentar, tal
enfermidade deve ser prontamente identificada e tratada, uma vez que precede a torção gástrica, o que
caracteriza a síndrome dilatação-volvulo gástrico. Foi atendido no Hospital Veterinário um canino, fêmea,
basset hound, 04 anos de idade, com histórico de intensa prostração há 30 minutos e aumento de volume
abdominal de evolução aguda. Ao exame físico apresentava distensão abdominal cuja percussão
apresentava-se com som timpânico. Foi realizado sedação com propofol (2 mg/kg) associado a
midazolan (0,25 mg/kg) para passagem de sonda nasogástrica nº 10, sendo o procedimento eficaz para o
esvaziamento gástrico e descompactação. Após a estabilização do paciente foi realizado radiografia
gástrica contrastada onde foi possível verificar o estômago posição anatômica. Foi recomendado
internação para monitoramento do paciente, que apresentou recuperação total do quadro clinico.

Palavras-chave: compactação,emergência,estômago

GASTRIC DILATATION IN DOG - CASE REPORT

Abstract: This study aims to report the case of an animal the Veterinary Hospital with gastric dilation
and compression. Also known as bloat food, such condition should be readily identified and treated since
the above gastric twist, featuring the gastric dilation volvulus-syndrome. Was the Veterinary Hospital a
dog, female, basset hound, 04 years old, with severe prostration history for 30 minutes and increase in
abdominal volume of acute evolution. Physical examination revealed abdominal distension whose
percussion presented with hollow sounds. It was held sedation with propofol (2 mg / kg) associated with
midazolam (0.25 mg / kg) for passage of a nasogastric tube No. 10, with the effective procedure for
gastric emptying and unpacking. After stabilizing the patient was performed gastric contrast radiography
where we observed the stomach anatomical position. It was recommended hospitalization for patient
monitoring, which showed full recovery of the clinical picture

Keywords: compaction, emergency, stomach

Introdução
A dilatação gástrica consiste em uma patologia de evolução aguda, grave e que exige rápida
intervenção para o sucesso do tratamento. Esta afecção pode causar a torção do estomago ao redor de seu
próprio eixo, compressão dos orgãos vizinhos, choque cardiogênico e hipovolêmico, e se não tratado,
morte (LANTZ, 1996). É uma doença comum em cães de raças grandes e gigantes (ALLEN E PAUL,
2014), havendo relatos também em porquinhos da índia, gatos e cães pequenos.(MAZZAFERO E
MONET, 2013). Em cães com elevado risco de dilatação volvulo-gástrica, a realização de atividades pós-
prandial consiste em importante fator responsável por esta síndrome. A alimentação exclusivamente com
alimento comercial seco pode não ser a melhor escolha para cães em situação de risco (PIPAN, 2012)
O tratamento desta afecção consiste na rápida estabilização de paciente, seguida de cirurgia para o
reposicionamento do estomago em sua posição anatômica normal( É responsabilidade do médico
veterinário educar os proprietários de cães susceptíveis sobre a gastropexia profilática, dado o custo-
benefício deste procedimento (ALLEN E PAUL, 2014)
Os sinais clínicos podem variar, dependendo da conformação do corpo do animal e do grau de
dilatação e rotação do estomago, com o diagnóstico baseado no histórico e sinais clínicos. O tratamento é

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direcionado no restabelecimento da perfusão e pressão sanguínea, além do oferecimento de analgesia ao


paciente. A fluidoterapia deve ser realizada preferencialmente por cateteres posicionados nas veias
cefálicas. A descompressão percutânea é uma técnica fácil se houver pessoal suficiente para conter o
paciente. Para realizar a descompressão gástrica percutânea, o abdômen deve ser auscultado a fim de
localizar a área com um som ping afiado (MAZZAFERO, E MONET, 2013). O presente artigo teve como
objetivo relatar um caso de compactação e dilatação gástrica atendido no hospital veterinário da UFMS.

Relato de Caso
Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul um canino,
Basset Hound, fêmea, 4 anos, 24,8 kg que segundo proprietário apresentou aumento de volume
abdominal de evolução rápida e perda da consciência 30 minutos antes de ser levado ao hospital. No
exame físico animal apresentava 38 ºC, 90 batimentos por minuto, 24 movimentos respiratórios por
minuto, tempo de preenchimento capilar 3 segundos, 8% de desidratação e distensão abdominal em
região epigástrica. Devido ao estado clínico geral do animal, intensa dilatação abdominal, histórico de
mudança de tratador no dia anterior, associado ao som timpânico a percussão abdominal, suspeitou-se de
dilatação gástrica com torção. Foi colocado dois cateteres intravenosos para administração de solução
fisiologica NaCl (90ml/kg/30 min) e solução colóide (20ml/kg/20 min). Com a piora repentina durante o
decorrer do atendimento, como tratamento emergencial foi realizado a descompressão rápida percutânea
com cateter 18 G na região abdominal lateral esquerda após limpeza asséptica do local, objetivando o
restabelecimento da pressão e perfusão tecidual. Com a eliminação de grande quantidade de gás e
consequente melhora do padrão respiratório do animal, foi realizado anestesia geral com 2mg/kg de
propofol associado a 0,25mg/kg de midazolam, o que possibilitou a tentativa de passagem de sonda
orogástrica. Diante da impossibilidade de passagem de sonda por via oral, optou-se como medida de
emergência a passagem de sonda nasogástrica, sendo esta efetiva para o esvaziamento gástrico, levando a
melhora do quadro clínico do paciente após remoção de grande quantidade de gás, líquido e alimento não-
digerido. Foi realizado lavagem gástrica e com a estabilização do paciente realizado exame radiografico
contrastado. Foi verificado que, apesar da intensa distensão gástrica, houve a manutenção do
posicionamento anatômico dos orgãos na cavidade abdominal, sugerindo apenas dilatação gástrica, e não
dilatação com torção. Foi recomendado internação para acompanhamento da evolução do paciente, que
teve recuperação clínica completa após o episódio. Os proprietários foram instruídos quanto ao
oferecimento fracionado da alimentação, de modo a evitar que o quadro se repita..

Discussão
A dilatação gástrica consiste em uma emergência clínica, que se não rapidamente identificada e
tratada pode resultar na morte do animal. A ingestão de grande quantidade de alimento e aerofagia são
fatores importantes que predispõem a tal enfermidade. Outras causas que contribuem para a ocorrência de
tal afecção são predisposição racial, traumatismos, distúrbios primários de motilidade gástrica, ingestão
de grandes quantidades de alimento de uma só vez ou alimentação em comedouro elevados ( o que
contribui para a ocorrência de aerofagia) (FOSSUM, 2005). No presente relato de caso a refeição era
oferecida apenas uma vez ao dia.Além disso, na noite anterior havia ocorrido mudança do tratador que
oferece o alimento ao cão, de modo que quantidade exacerbada de ração foi disponibilizada ao animal.
Diante da dilatação gástrica, os meios fisiológicos de descompressão, como eructação, vômito ou
esvaziamento pilórico não ocorrem (SILVA, 2012). A distensão severa do estômago é responsável pelo
aumento da pressão intra-abdominal, com redução significativa do fluxo sanguíneo venoso na veia cava e
no sistema portal. Além disso, há a diminuição do débito cardíaco devido ao menor retorno venoso
(LANTZ, 1996). A menor expansão do tórax na respiração decorrente da restrição mecânica e diminuição
da complacência pulmonar resulta da falha de oxigenação tecidual, o que é agravado pelo menor débito
cardíaco e desequilíbrio entre ventilação/perfusão dos animais acometidos (LANTZ, 1996).
Segundo Lantz (1996) o tratamento inicial consiste na descompressão gástrica e tratamento do
choque. A descompressão gásrtica pode ser realizada por meio da introdução percutânea de cateteres
intravenosos de grande calibre ou realização de sondagem (FOSSUM, 2005).
No presente relato de caso foi realizado a colocação de dois cateteres venosos objetivando tratar o
quadro grave de hipotensão e hipoperfusão tecidual. No presente relato de caso, apesar de não ter obtido
sucesso de descompressão gástrica com a sondagem orogastrica, foi realizado a sondagem nasogástrica,
sendo esta efetiva para remoção do conteúdo estomacal, não sendo necessário submeter o animal ao

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procedimento cirúrgico (gastrotomia). Logo após a descompressão gástrica o animal apresentou melhora
significativa do quadro clínico.

Conclusões
O compactação e dilatação gástrica é uma afecção que deve ser rapidamente identificada e tratada
pelo médico veterinário. Atenção aos sinais clínicos e aos detalhes da anamnese são fundamentais para
que o quadro seja revertido da maneira mais rápida e eficiente possível. Hipotensão e redução da perfusão
tecidual, associada a dificuldade respiratória são consequências graves da dilatação gástrica que, quando
não tratados, podem levar o animal rapidamente a óbito.
No presente relato, a observação das manifestações clínicas agudas associadas ao histórico de
mudança recente do tratador foram essenciais para o estabelecimento do diagnóstico e tratamento do
animal.

Literatura Citada
ALLEN, P.; PAUL, A. Gastropexy for Prevention of Gastric Dilatation-Volvulus in Dogs: History and
Techniques. Topics in companion animal medicine, v. 29, n. 3, p. 77-80, 2014.
FOSSUM, T.W. Cirurgia do Aparelho Digestório. Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 2005.
p 354-360.
LANTZ, G.C. Tratamento da síndrome Volvulo-Dilatação Gástrica. In Bojrab, M.J. Técnicas atuais em
cirurgia de pequenos animais.3.ed. São Paulo:Roca, 1996. p.213-220.
MAZZAFERRO, ELISA M.; MONNET, ERIC. Gastric Dilatation Volvulus. Small Animal Soft Tissue
Surgery, p. 341-359, 2013.
PIPAN, M.; BROWN, DC.; BATTAGLIA, CL. et al., An Internet-based survey of risk factors for
surgical gastric dilatation-volvulus in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association,
v. 240, n. 12, p. 1456-1462, 2012.
SILVA, SSR.; CASTRO, JLC.; CASTRO, VSP et al., . Síndrome da dilatação volvo gástrica em cães.
Ciência Rural, v42, n1, p122-130, 2012.

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FREQUÊNCIA DA OBSERVAÇÃO DE AGENTES PATOGÊNICOS EM ESFREGAÇO


SANGUÍNEO DE CÃES

Gustavo Gomes de Oliveira¹, Bruna Brito Oliveira¹, Simone Sorgatto¹, Alexandre Welzel da Silveira¹,
Kelly Cristina da Silva Godoy², Tamires Ramborger Antunes³, Renata Amarilha Valençoela Peixoto4,
Alda Izabel de Souza5

¹Residentes de Patologia Clínica Veterinária do Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária da UFMS, email:
,gustavogomesde@hotmail.com, bruoliveira_vet@hotmail.com , simone_sorgatto@hotmail.com , ale_welzel@hotmail.com
²Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias-UFMS , e-mail: k.c.s.godoy@gmail.com
³Mestranda no Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias-UFMS , e-mail:tamires_ramborger_antunes@hotmail.com
4
Médica Veterinária Autônoma especialista em Patologia Clínica Veterinária. E-mail: medvet.renata@gmail.com
5
Professora da FAMEZ/UFMS, e-mail:alda.izabel@ufms.br

Resumo: Diversos agentes patogênicos podem ser encontrados e identificados por meio de microscopia
óptica em esfregaços sanguíneos. A frequência com que estes agentes aparecem pode variar de acordo
com a região estudada. Por isso o objetivo desse trabalho foi verificar a frequência de observação de
diferentes microrganismos em esfregaços sanguíneos de cães atendidos no Hospital Veterinário da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ), no período entre março de 2014 a fevereiro de
2015. Estudo retrospectivo do resultado de esfregaço de sanguíneos de 2828 cães, independente de sexo,
idade ou raça foram revisados. Do total de exames avaliados, 309 (10,93%) apresentaram pesquisa
positiva no esfregaço sanguíneo. A Ehrlichia spp. apresentou maior frequência (4,28%), seguida de,
Babesia spp. (3,32%), Anaplasma spp (1,41%), Leishmania spp. (1,27%), corpúsculos de Lentz
(cinomose) (0,78%), Hepatozoon spp. (0,6%) e Mycoplasma sp. (0,04%). Diante dos dados obtidos é
importante ressaltar que o conhecimento da distribuição de frequência dos microrganismos na região
estudada pode contribuir com a elaboração de procedimentos profiláticos eficientes a fim de evitar a
disseminação desses agentes.

Palavras-chaves: hemoparasitas, frequência, caninos

FREQUENCY OF OBSERVATION OF PATHOGENS IN SMEAR DOGS BLOOD

Abstratc: Several pathogens can be found and identified by light microscopy in blood films. The
frequency with which these agents appear may vary according to the region studied. Therefore the aim of
this study was to determine the frequency of observation of different microorganisms from the blood of
dogs attended at the Veterinary Hospital of the Faculty of Veterinary Medicine and Zootechny (FAMEZ)
during the period from March 2014 to February 2015. A retrospective study of the result blood smear of
2828 dogs, regardless of gender, age or race were reviewed. Of the total of assessed examinations, 309
(10.93%) presented positive research on blood smear. The Ehrlichia spp. showed a higher rate (4.28%),
followed by, Babesia spp. (3.32%), Anaplasma spp (1.41%), Leishmania spp. (1.27%), corpuscles Lentz
(distemper) (0.78%), Hepatozoon spp. (0.6%) and for Mycoplasma sp. (0.04%). Before data is important
to note that knowledge of the frequency distribution of microorganisms in the studied region can
contribute to the development of effective prophylactic procedures in order to prevent the spread of these
agents.

Keywords: hemoparasites, often, canines

Introdução
Diferente da etapa automatizada do hemograma, a avaliação minuciosa de um esfregaço sanguíneo
pode propiciar a observação de diferentes agentes infecciosos, frequentes em áreas endêmicas. Parasitos e
bactérias como Hepatozoon spp., Ehrlichia spp., Anaplasma sp., Babesia spp., Leishmania spp.,
Mycoplasma spp. e corpúsculos de inclusão viral, ao serem identificados, podem apoiar precocemente
um diagnóstico e antecipar o início da terapia (Stockham & Scott, 2011).
Porém, a frequência com que esses microrganismos são encontrados em esfregaço sanguíneo varia
com a região endêmica estudada. (Bhattacharjee & Sarmah, 2013; Silva et al, 2014; Scherer & Mergener,
2014). Por isso, o objetivo desse trabalho foi apresentar a frequência de observação de diferentes agentes
patogênicos em esfregaços sanguíneos de cães de Campo Grande – MS

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Material e Métodos
Para o estudo realizou-se uma análise retrospectiva dos laudos de hemogramas executados no
período de março de 2014 a fevereiro de 2015, no Laboratório de Patologia Clínica no Hospital
Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ). Para a avaliação foram
incluídos todos os hemogramas completos de cães independente do sexo, idade ou raça e excluídos
exames parciais.
Os dados foram tabulados e a frequência de exames positivos determinada pelo quociente entre o
número de exames positivos para cada microrganismo observado e o número total de exames realizados
no período.
Resultados e Discussão
No período de 12 meses, 2828 hemogramas de cão foram realizados. Um total de 309 exames
(10,93%) apresentaram esfregaços sanguíneos positivos para um ou mais agentes patogênicos. A
distribuição de frequência dos achados esta demostrada na Figura 1. Nos exames positivos, a
identificação de mais de um agente patogênico, no mesmo esfregaço sanguíneo, ocorreu em 7,12%
(22/309).

Figura 1. Frequência de esfregaços sanguíneos positivos para os diferentes agentes patogênicos


encontrados em 2828 amostras de cães atendidos no Hospital veterinário da FAMEZ de março de 2014 a
fevereiro de 2015.

A frequência dos achados do presente trabalho são inferiores aos descritos por Bhattacharjee &
Sarmah (2013) e Scherer & Mergener (2014). Esta variação pode ser explicada pela diferença na
metodologia empregada. Os pesquisadores citados selecionaram esfregaços sanguíneos de cães com
suspeita prévia de hemoparasitose, enquanto que no trabalho em questão foram incluídos os dados de
exames de todos os cães atendidos no período, independente da indicação clínica. Estudo semelhante,
realizado com animais de uma zona rural no Estado de Minas Gerais, durante uma campanha antirrábica,
também identificou índice superior e pode ser responsabilizada à distinção entre os grupos populacionais
estudados (Silva et al 2014).
A Ehrlichia spp. foi o microorganismos mais frequente (4,28%), seguido de Babesia spp. (3,32%),
Anaplasma spp (1,41%), Leishmania spp. (1,27%), 0,78% para corpúsculos de Lentz (cinomose), 0,6%
para Hepatozoon spp. e 0,04% para Mycoplasma sp.. Esta distribuição difere de estudos semelhantes, na
Índia (Bhattacharjee & Sarmah, 2013), que identificou maior frequência de Babesia spp (50%), e de
estados brasileiros como Minas Gerais, com 24% de lâminas positivas para Hepatozoon spp (Silva et al
2014) e Rio Grande do Sul, com 16,25% de cães positivos para Babesia spp. (Scherer & Mergener,
2014). Esta discrepância corrobora a assertiva de que as diferenças de frequência de agentes patogênicos
podem estar associadas às distintas características regionais que incluem, entre outras coisas, o clima, as
condições de vida dos animais e de espécies vetoriais (Bhattacharjee & Sarmah, 2013; Silva et al, 2014;
Scherer & Mergener, 2014).

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Conclusões
A Ehrlichia spp. foi o agente patogênico mais frequente nos esfregaços sanguíneos de cães
atendidos em Campo Grande - MS. Os dados encontrados reforçaram a importância do conhecimento da
distribuição de frequência dos microrganismos, uma vez que pode haver variação na região estudada,
além disso, poderão contribuir na elaboração de procedimentos profiláticos eficientes a fim de evitar a
disseminação desses agentes.

Literatura Citada
BHATTACHARJEE, K.; SARMAH,P.C. Prevalence of haemoparasites in pet, working and stray dogs of
Assam and North-East India: A hospital based study. Veterinary World, v.6, 874-878, 2013.
SCHERER, M.; MERGENER, M. Prevalência de hemocitozoários em caninos de municípios do Vale do
Taquari com foco em Lajedo-RS. Revista destaques acadêmicos, v.6, n. 3, 206-212, 2014.
SILVA, M. C.;MUNDIM, A. V.; MENDONÇA, G.,A. et al. Hemoparasitoses em cães domésticos
naturalmente infectados, provenientes das zonas urbanas e rural do município de Abadia dos Dourados,
Minas Gerais , Brasil. Bioscience Journal,v.30, 892-900, 2014.
STOCKHAM S. L.; SCOTT M. A. Fundamentos de patologia clínica veterinária. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan,2011.729.

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ESTENOSE SUBAÓRTICA EM CÃO – RELATO DE CASO

Nathalia Barbosa Messas1, Gabriel Utida Eguchi1, Silvana Marques Caramalac1, Paula Velozo Leal2,
Desireé Reis de Oliveira3, Mariana Isa Poci Palumbo4, Veronica Jorge Babo Terra4
1
Residente de Clínica Médica de Pequenos Animais – FAMEZ
2
Residente de Anatomia Patologia – FAMEZ
3
Residente de Diagnóstico por Imagem – FAMEZ
4
Professora Doutora de Clínica Médica de Pequenos animais – FAMEZ

Resumo: Dentre as doenças cardíacas congênitas, a estenose subaórtica é uma das mais frequentes,
geralmente é encontrada em animais com menos de 12 meses de idade. A severidade dos sinais clínicos
depende da gravidade da estenose e é caracterizado por intolerância ao exercício, edema pulmonar, sopro
sistólico audível claramente do lado esquerdo. Ecocardiografia é o exame complementar de escolha para
estabelecimento do diagnóstico in vivo. Descreve-se um caso, Atendido no Hospital Veterinário da UFMS
(FAMEZ), um cão, Pinscher, macho, de seis meses de idade com dispneia há um dia. Na auscultação foi
possível verificar a presença de crepitação pulmonar, compatível com edema moderado. Devido à
severidade dos sinais clínicos, o animal apresentou parada cardiorrespiratória e foi encaminhado para
necropsia, que evidenciou a presença de estenose subaórtica. As cardiopatias congênitas devem constar na
lista de diagnósticos diferenciais de cães jovens com dispneia.

Palavras-chaves: canino, cardiopatia, congênita

SUBAORTIC STENOSIS IN A DOG - CASE REPORT

Abstract: Subaortic stenosis in one of the most commom congenital heart diseases. Generally it presents
in dogs less than 12 months of age. The severity of clinical signs depends of the degree of stenosis and
these are characterized by exercise intolerance, pulmonary edema, systolic heart murmur (more audible in
the left). The most accurate diagnostic method is echocardiography, it allows for the final diagnosis to be
reached while the animal is still alive. Herein we present a case report of a six month old, male intact
Pinscher that presented to the UFMS veterinary teaching hospital (FAMEZ) with dyspnea of 1 day
duration. There were crackles during pulmonary auscultation, likely due to moderate edema. Due to the
severity of the clincal signs the patient died due to cardiopulmonary arrest. A necropsy was performed
and revealed the patient suffered from subaortic stenosis. The congenital heart disease should be in the
differenatial lit for any young dog with dyspnea.

Keywords: canine, congenital, heart disease

Introdução
As doenças cardíacas congênitas (DCCs) são a causa principal de morbidade e mortalidade
cardíacas em animais com menos de 12 meses. Uma das alterações de maior ocorrência é a estenose
aórtica. É classificada como doença cardíaca congênita caracterizada por uma obstrução parcial no fluxo
de saída ventricular esquerda, provocando sobrecarga de pressão que anatomicamente pode ser
classificada em valvular, supravalvular e subvalvular. A estenose subvalvular é também denominada
estenose subaórtica, caracterizada por obstrução feita por um anel de tecido fibroso localizado
imediatamente abaixo da valva ou na saída do ventrículo esquerdo e é mais comumente encontrada em
animais de grande porte (Oyama, et al., 2010; Chetboul et al., 2006; Umbelino & Larsson, 2015).
A anamnese e o exame físico completo nesses pacientes com auscultação adequada são
fundamentais para o diagnóstico precoce de cardiopatia congênita. Nos casos mais graves, pode-se
observar intolerância ao exercício, síncope e raramente sinais de insuficiência cardíaca esquerda. O
conhecimento das afecções cardíacas em cães é de fundamental importância para o clínico de pequenos
animais auxiliando na formulação de diagnósticos diferenciais e no estabelecimento de terapia adequada
(Umbelino & Larsson, 2015).
O diagnóstico deve ser baseado no histórico, exame físico e exames de imagem, que facilita o
diagnóstico precoce de doenças cardíacas congênitas (Oyama, et al., 2010; Chetboul et al., 2006). Em
casos mais leves, a radiografia pode parecer normal. A ecocardiografia é a ferramenta essencial para o

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diagnóstico e prognóstico da doença, o qual depende da gravidade da estenose. Este trabalho tem como
objetivo relatar um caso de estenose subaórtica em cão atendido na FAMEZ.

Material e Métodos
Foi atendido no Hospital Veterinário da UFMS (FAMEZ) um cão macho, da raça Pinscher, com
seis meses de idade, apresentando tosse seca e dispneia há um dia. Ao exame físico o animal apresentava
dificuldade expiratória, pulso filiforme bilateral e na auscultação pulmonar havia crepitação compatível
com edema moderado. Não foram evidenciadas alterações cardíacas na auscultação. Outros parâmetros
físicos apresentavam-se dentro da normalidade. O animal foi encaminhado para realização de radiografia
torácica que evidenciou silhueta cardíaca apresentando mensuração do Vertebral heart size (VHS) de
aproximadamente 11,7 v, sugerindo cardiomegalia, além de abaulamento de câmaras direita e esquerda,
compatíveis com aumento de átrio direito, região de arco aórtico, e aurícula esquerda, desvio dorsal da
traqueia torácica e alterações compatíveis com aumento do átrio esquerdo e edema pulmonar.
O tratamento foi iniciado com Furosemida (IV – 2mg/kg), mas não houve melhora. O animal
apresentou parada cardiorrespiratória seguida de morte. Na necropsia foi observado coração aumentado
de tamanho, aproximadamente 1,5 vezes do tamanho normal, átrio esquerdo duas vezes do tamanho
normal por causa de um divertículo que se projeta lateralmente, o endocárdio de todo átrio é difusamente
brancacento e brilhante (fibrose). O ventrículo esquerdo apresentava-se dilatado e com paredes
adelgaçadas. A aorta apresentava-se aproximadamente metade da espessura normal em sua origem, e
abaixo desta havia constrição leve na luz do ventrículo, caracterizando a estenose subaórtica.

Resultados e Discussão
A suspeita de cardiopatia congênita foi baseada na apresentação dos sinais clínicos, idade e
achados radiográficos característicos da enfermidade, mas o diagnóstico definitivo foi estabelecido
apenas pós mortem.
Dentre as cardiopatias congênitas, a estenose subaórtica á uma das mais frequentes. Um estudo
retrospectivo realizado por Umbelindo & Larsson (2015) revelou que 78 animais apresentaram
diagnóstico de doença cardíaca congênita, e dentre eles, 73 apresentavam raça definida. O mesmo estudo
mostrou que a maior ocorrência foi da persistência do ducto arterioso (47,05%) seguida de estenose
subaórtica (15,29%) ocorrendo em animais menores de 12 meses. Em outro estudo retrospectivo de 105
casos de doenças cardíacas congênitas em cães da raça Boxer, realizado por Chetboul et al. (2006),
mostrou que a ocorrência de estenose subaórtica foi de 46,7% e os autores afirmam que é possível
auscultar sopro sistólico no lado esquerdo, mas este fator não deve ser usado como único critério de
diagnóstico. Os achados do caso descrito corroboram as citações de Umbelindo & Larsson (2015), pois se
trata de um animal de raça definida com diagnóstico de estenose subaórtica, mas não foi evidenciada
nenhuma alteração cardíaca na auscultação.
Segundo Bahr (2010), quando ocorre insuficiência mitral secundária a estenose aórtica (valvar ou
subaórtica) sinais radiográficos como aumento do átrio esquerdo e arco aórtico, elevação da traqueia e
presença de edema pulmonar podem estar presentes, achados compatíveis com o deste relato, visto que o
animal apresentava aumento de átrio, desvio dorsal da traqueia e edema pulmonar. No entanto, alguns
autores citam que na maioria dos casos de estenose aórtica não ocorre alterações radiográficas evidentes
(Lamb et al., 2001). A realização de ecocardiografia é de fundamental importância quando há suspeita de
doença cardíaca congênita, pois fornece informações mais completas para o diagnóstico definitivo
(Chetboul et al., 2006). McConkey (2011) relatou um caso de anomalia congênita em um Bulldog Inglês
em que o diagnostico foi estabelecido pelo aparecimento dos sinais clínicos e ecocardiografia. O animal
em questão foi encaminhado para realização deste exame, mas devido à gravidade do quadro clinico, não
houve tempo para a realização do mesmo.
A necropsia evidenciou presença de tecido fibroso no ventrículo esquerdo caracterizando a
estenose subaórtica, concordando com Oyama, et al.( 2010), que afirma que a enfermidade é
caracterizada pela presença de um anel composto por tecido fibroso abaixo da válvula aórtica.

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Conclusões
A estenose subaórtica é uma doença cardíaca congênita que ocorre com frequência em cães
principalmente em raças grandes, mas que às vezes pode encontrada em raças menores. Os sinais clínicos
e auscultação cardiopulmonar são de fundamental importância quando existe a suspeita de cardiopatia
congênita, porém o diagnóstico definitivo baseia-se na realização de exames de imagem sendo a
ecocardiografia o exame complementar de eleição.

Literatura Citada
BAHR, J.R. Coração e Vasos Pulmonares. In: THRALL, E.D. (Ed.) Diagnóstico de Radiologia
Veterinária, 5ed, Elsevier, São Paulo, 2010, p. 587.
CHETBOUL. V.; TROLLÉ, J.M.; NICOLLE. A.; et al. Congenital Heart Diseases in the Boxer Dog: A
Retrospective Study of 105 Cases (1998–2005). J. Vet. Med., n. 53, p. 346-351, 2006.
LAMB, CR, BOSWOOD, A, VOLKMAN, A, CONNOLLY, DJ. Assessment of survey radiography as a
method for diagnosis of congenital cardiac disease in dogs. Journal of Small Animal Practice. v. 42,
n.11, p. 541-545, 2001.
MCCONKEY, M.J. Congenital cardiac anomalies in an English bulldog. Can Vet J, v. 52, p. 1248-1250,
2011.
OYAMA, M.A.; SISSON, D.D.; THOMAS, W.P. et al. In: ETTINGER, S.J & FELDMAN, E.C.
Veterinary Internal Medicine. 7ªed, Saunders, Missouri, 2010, p. 1250-1298.
UMBELINO, R. M.; LARSSON, M. H. M. A. Estudo Retrospectivo da Ocorrência de Cardiopatias
congênitas Diagnosticadas em cães. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e
Zootecnia, v.13, n.1, 2015.

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ENDOCARDITE VALVULAR EM NOVILHA NELORE – RELATO DE CASO

Rayane Chitolina Pupin1, Paula Velozo Leal2, Stephanie Carrelo de Lima3, Carolina de Castro Guizelini4,
Amanda Gimelli5, Hugo Storari Loro6, Marcelo Augusto Araujo7, Danilo Carloto Gomes8
1
Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária. E-mail: rayane.pupin@gmail.com
2
Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária. E-mail: paulavleal@hotmail.com
3
Programa de Mestrado em Ciência Animal UFMS. E-mail: stephanie_k_lima@hotmail.com
4
Aluna de Graduação do curso de Medicina Veterinária UFMS. E-mail: carolina.guizelini@gmail.com
5
Aluna de Graduação do curso de Medicina Veterinária UFMS. E-mail: amanda_gimelli@hotmail.com
6
Aluno de Graduação do curso de Medicina Veterinária UFMS. E-mail: storariloro@gmail.com
7
Médico Veterinário do Setor de Clínica Médica e Cirúrgica de Grandes Animais UFMS. E-mail: marcelo.augusto@ufms.br
8
Professor Adjunto do curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS. E-mail: danilo.gomes@ufms.br

Resumo: Endocardites são processos inflamatórios que acometem o endocárdio, sendo nos bovinos o
local de mais comum ocorrência a válvula tricúspide, podendo ocorrer insuficiência cardíaca congestiva.
Descreve-se nesse trabalho aspectos clínicos e patológicos de uma novilha nelore, de 12 meses, com
edema de barbela, apatia e taquicardia, que foi encaminhada ao Hospital Veterinário da UFMS e posterior
necropsia. Os achados macroscópicos foram típicos de insuficiência cardíaca direita, caracterizados por
edema subcutâneo, hidrotórax e fígado de noz-moscada, além de espessamento da válvula tricúspide por
uma massa amarelada, de superfície lisa e ao corte aspecto caseoso. O diagnóstico de endocardite
bacteriana direita foi baseado nos achados patológicos, não foi possível identificar qual o agente
envolvido e nem localizar a porta de entrada da infecção.

Palavras-Chave: bovino, coração, insuficiência cardíaca

TRICUSPID ENDOCARDITIS IN A NELORE HEIFER - A CASE REPORT

Abstract: Endocarditis are inflammatory processes that affect the endocardium, and in cattle the most
common site of occurrence of the tricuspid valve, may occur congestive heart failure. It was referred to
the Veterinary Hospital of UFMS one Nelore heifers, 12 months age, with dewlap edema, apathy and
tachycardia, that was submitted to necropsy. Macroscopic findings were thickening tricuspid valve by a
yellowish mass with a smooth surface and cheesy aspect cut, and increased and firm liver, which the court
had dark red areas interspersed with yellowish areas. The diagnosis was right bacterial endocarditis, and
could not locate the infection of the entrance door.

Keywords: cattle, heart, heart failure

Introdução
O endocárdio é a camada mais interna do coração, reveste as câmaras e forma projeções, as
válvulas cardíacas (Miller et al., 2012), que permitem o fluxo sanguíneo dentro do coração seja
unidirecional, prevenindo o refluxo (Maxie & Robinson, 2007).
Processos inflamatórios e/ou degenerativos nas válvulas prejudicam o funcionamento correto
destas, o que culmina com regurgitação sanguínea para a câmara anterior (Radostits et al., 2010). Animais
afetados por processos inflamatórios nas válvulas geralmente apresentaram infecções extracardíacas
como mastite, infecções podais, metrites, peritonite traumática, abscessos hepáticos, que resultaram em
focos de bacteremia crônica (Maxie & Robinson, 2007; Reef & McGuirk, 2009; Radostits et al. 2010;
Miller et al. 2012).
A endocardite acomete qualquer porção do endocárdio. Quando ocorre nas válvulas, caracteriza a
forma valvular, e na parede das câmaras é a mural. Nos bovinos, o local mais comum de ocorrência é na
válvula tricúspide, seguida da mitral (Maxie & Robinson, 2007; Radostits et al. 2010).
Inicialmente, a maioria dos animais não apresenta sinais clínicos perceptíveis, exceto os sons
cardíacos anormais (Reef & McGuirk, 2009), que são audíveis em cerca de 81% dos pacientes (Bexiga et
al., 2008). Com a evolução do quadro, as manifestações clínicas ocorrem devido à queda na função
cardíaca e ao embolismo bacteriano, que pode causar formação de abscessos ou infartos em outros órgãos
(Radostits et al., 2010).

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A insuficiência cardíaca congestiva (ICC) esquerda manifesta-se com congestão pulmonar e


edema, com sinais clínicos de dispneia e tosse, enquanto a ICC direita resulta em aumento da pressão no
átrio direito, congestão venosa sistêmica e congestão hepática – resulta em fígado de noz moscada; há
edema, que é predominantemente subcutâneo e ventral (barbela, peito, abdômen) e jugular ingurgitada e
com pulso (Maxie & Robinson, 2007; Miller et al., 2012)
Em exames hematológicos observa-se leucocitose com neutrofilia, hiperfibrinogenemia, aumento
das proteínas totais e hiperglobulinemia, que são achados inespecíficos (Bexiga et al., 2008; Radostits et
al., 2010). Em casos crônicos os exames podem ser normais. Quando há congestão passiva crônica, pode
haver aumento de fosfatase alcalina e GGT (Reef & McGuirk, 2009; Radostits et al., 2010).
Ultrassonograficamente é possível visualizar as vegetações valvulares, distensão de veia cava
caudal e veia hepática (quando acomete o lado direito do coração), consolidação pulmonar (endocardite
lado esquerdo) (Reef & McGuirk, 2009).
Macroscopicamente, as válvulas acometidas encontram-se espessadas por massas grandes,
irregulares, friáveis, amarelo-acinzentadas, que são as chamadas “vegetações”. Microscopicamente, é
formada por camadas de fibrina, colônias bacterianas, leucócitos e plaquetas (Maxie & Robinson, 2007;
Reef & McGuirk, 2009; Radostits et al., 2010; Miller et al., 2012).
Não há tratamento eficaz para o problema devido à dificuldade de controlar a infecção, pois a
espessura da lesão impede a penetração adequada dos fármacos (Radostits et al., 2010).
Este trabalho tem por objetivo relatar a ocorrência de uma endocardite valvular em uma
novilhaNelore, ressaltando os achados hematológico, clínicos e patológicos.

Material e Métodos
Foi solicitado a visita de veterinários do setor de Clínica Médica de Grandes Animais da UFMS
para avaliar uma novilha nelore, de 12 meses de idade. A novilha foi examinada clinicamente, foram
coletadas amostras de sangue para realização de exames hematológicos e bioquímicos e, após três dias,
foi encaminhada ao Hospital Veterinário da FAMEZ. Foi novamente realizado exame físico, exame de
ultrassonografia e devido ao prognóstico ruim foi realizada eutanásia, com posterior necropsia e
fragmentos de diversos tecidos foram coletados em solução de formol à 10% e posterior processamento
rotineiro para histopatologia, foi coletado material da válvula para exame microbiológico.

Resultados e Discussão
O animal havia sido adquirido aproximadamente há 40 dias e mostrou-se apático, com hiporexia e
aumento de volume na região peitoral, 20 dias após entrar na propriedade. Ao exame físico a novilha
apresentava-se em posição quadrupedal temperatura corporal 38,4º C, frequência cardíaca 88 batimentos
por minuto, frequência respiratória de 20 movimentos por minuto. O nível de consciência era deprimido,
havia exoftalmia bilateral, a tricúspide era afonética, havia edema de barbela e jugular ingurgitada
bilateralmente. Foi realizada coleta de sangue em tubos sem EDTA e tubos com EDTA para realização de
hemograma e bioquímico.
O hemograma evidenciou redução dos níveis de proteínas plasmáticas totais (6 g/dL) e do
fibrinogênio (200 mg/dL), além de discreto aumento de neutrófilos (4140/mm³). Na avaliação bioquímica
havia diminuição da albumina (2,2 g/dL) e aumento de AST (97,1 UI/L), GGT (173 UI/L), ureia 72,86
mg/dL) e creatinina (2 mg/dL).
Ao exame ultrassonográfico observou-se acentuado conteúdo anecoico nos dois lados do tórax,
com poucos pontos de fibrina; e válvula cardíaca direita hiperecogênica.
Durante a necropsia, no exame externo, observou-se no tecido subcutâneo da região ventral do
pescoço se estendendo a região esternal, acentuado aumento de volume, flutuante e ao corte fluía
abundante quantidade de líquido translúcido e abundante material gelatinoso (edema submandibular). As
veias jugulares estavam bastante distendidas; as porções média e caudal do esôfago estão com a parede
espessada por edema. No hemitórax direito havia cerca de 8 litros de líquido amarelo translucido. Havia
discreto hidropericárdio e a válvula tricúspide estava acentuadamente espessada por uma massa
amarelada, de superfície lisa que ao corte tinha aspecto caseoso. O fígado estava bastante aumentado de
tamanho, firme, e ao corte observou-se áreas vermelho escuras intercaladas com áreas amareladas (fígado
de noz moscada).
Histologicamente, o endocárdio valvular está acentuadamente espessado por nódulos bem
delimitados que possuem área central necrótica, com abundante mineralização, envolta por moderada
quantidade de infiltrado inflamatório composto predominantemente por neutrófilos íntegros e

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degenerados, seguidos por discreta quantidade de células mononucleares (linfócitos, plasmócitos e


macrófagos), e por fim acentuada proliferação de fibroblastos. Há também acentuada quantidade de
fibrina e moderada quantidade de colônias bacterianas. No fígado, as regiões centrolobulares estão
discretamente congestas e há formação de vacúolos únicos ou múltiplos no citoplasma de hepatócitos. No
esôfago, há distanciamento das fibras de colágeno por acentuada quantidade de edema.
O espessamento da válvula tricúspide por massa composta de fibrina, material necrótico, células
inflamatórias e colônias bacterianas, indica a existência de endocardite bacteriana. O acometimento da
válvula atrioventricular direita corrobora com os achados da literatura que citam essa válvula como a mais
acometida nos bovinos (Maxie & Robinson, 2007; Radostits et al., 2010).
Os sinais clínicos apresentados pelo animal de distensão e pulso da veia jugular e taquicardia são
característicos de insuficiência cardíaca, e são os principais sinais observados em bovinos (Bexiga et al.,
2008). Por outro lado, esses mesmos autores descrevem que o edema subcutâneo não é frequente, já que
69% dos animais não tinham esse quadro clínico. Quanto a presença ou não de febre, alguns autores
afirmam que a ocorrência é comum em bovinos com endocardite (Radostits et al. 2010), enquanto outros
observaram o oposto (Bexiga et al., 2008).
No animal do caso descrito foram observadas hipoproteinemia, hipoalbuminemia e
hipofibrinogenemia. A principal causa envolvida nesses eventos é a hemodiluição em distúrbios
edematosos como a insuficiência cardíaca congestiva (hipoproteinemia), a redução na síntese de albumina
causada por citocinas inflamatórias e a diminuição dos níveis de fibrinogênio pela sua conversão em
fibrina. A elevação dos níveis de AST e GGT ocorreram devido a hipóxia dos hepatócitos secundária à
congestão passiva e ao comprometimento do fluxo biliar secundário à tumefação celular,
respectivamente. O aumento da concentração de ureia e cretinina ocorre pela queda na taxa de filtração
glomerular que segue à hipóxia renal (Stockham & Scott, 2011).
No presente animal não foi observada embolização séptica para os pulmões, provavelmente pelo
fato da lesão não ser uma vegetação típica, que é friável e desprende-se facilmente, e sim ser uma massa
ligeiramente encapsulada. Embolização séptica para os pulmões é relativamente comum, no caso de o
coração direito estar afetado, sendo descrita em 22 de 52 casos (Bexiga et al., 2008).
Culturas de lesões valvulares podem ser realizadas e as principais bactérias relacionadas à
endocardite são Trueperella (Arcanobacterium) pyogenes, Staphylococcus spp., Pseudomonas spp e
Micrococcus spp. (Maxie & Robinson, 2007; Reef & McGuirk, 2009; Radostits et al., 2010). Entretanto,
em muitos casos não ocorre crescimento (Maxie & Robinson, 2007; Radostits et al., 2010), o que foi
observado neste bovino, no qual também não foi possível localizar a porta de entrada.

Conclusões
A endocardite bacteriana é uma doença cardíaca importante, que pode acometer bovinos de todas
as idades, com ou sem sinais clínicos de insuficiência cardíaca congestiva.

Literatura Citada
Bexiga, R.; Mateus, A.; Philbey, A. W.; et al. Clinicopathological presentation of cardiac disease in cattle
and its impact on decision make. Veterinary Record, 162, p. 575-580. 2008.
Maxie, G. M. & Robinson, W. F. Cardiovascular System. In: Maxie, M. G. Jubb, Kennedy and
Palmer’s – Pathology of Domestic Animals. Ed. Elsevier, v.3, 2007. 734p.
Miller, L. M.; Van Vleet, J. F. and Gal, A. Cardiovascular System and Lymphatic Vessels. In: Zachary, J.
G. & McGavin, M. D. Pathologic Basis of Veterinary Disease. Ed. Elsevier, 5ª Ed., 2012. 1322p.
Radostits, O. M.; Gay, C. C.; Hinchcliff, K. W. et al. Veterinary Medicine – a textbook of cattle, sheep,
goats, pigs and horses. Ed. Elsevier, 10ª Ed., 2007.
Reef, V. B. & McGuirk, S. M. Diseases of the Cardiovascular System. In: Smith, B. P. Large Animal
Internal Medicine. Ed. Elsevier, 4ª Ed., 2009. p.463-468.
Stockham, S. L. & Scott, M. A. Fundamentos da Patologia Clínica Veterinária. Ed. Guanabara Koogan, 2ª
Ed., 2011.729p.

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SURTO DE INTOXICAÇÃO POR UREIA EM BOVINOS DO MATO GROSSO DO SUL

Hugo Stoarari Loro¹, Rayane Chitolina Pupin², Carolina de Castro Guizelini 3, Paula Velozo Leal4,
Stephanie Carrelo de Lima5, Ricardo Antônio Amaral de Lemos6, Tessie Beck Martins7, Danilo Carloto
Gomes8

¹ Bolsista de Iniciação Científica CNPq – storariloro@gmail.com


2
Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC –rayane.pupin@gmail.com
3
Bolsista de Iniciação Científica CNPq – carolina.guizelini@gmail.com
4
Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC – paulavleal@hotmail.com
5
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal UFMS – stephanie_k_lima@hotmail.com
6
Professor da FAMEZ/UFMS – ricardo.lemos@ufms.br
7
Professor da FAMEZ/UFMS – tessie.martins@ufms.br
8
Professor da FAMEZ/UFMS – danilo.gomes@ufms.br

Resumo: A ureia é uma substância nitrogenada que é utilizada como aditivo alimentar para bovinos na
forma de um substituto proteico de baixo custo e como incentivo ao consumo e melhor aproveitamento de
foragem e volumoso de baixa qualidade. No entanto, quantidade a ser administrada deve ser controlada
devido as suas propriedades tóxicas quando consumida em altas quantidades. Esse trabalho descreve um
surto de intoxicação por ureia no Mato Grosso do Sul. Em um lote de 70 vacas e 60 bezerros de 1 a 5
meses que estavam alocados no mesmo piquete há 2 meses, e após um mês começaram a receber
alimentação no cocho. Das 70 vacas, 17 vacas morreram e outras 2 adoeceram. A alimentação fornecida
era rolo de feno, ração (1 saco por dia) e sal mineral 1 vez por semana com 10% de ureia (2 sacos de sal).
Veterinários do Laboratório de Anatomia Patológica da UFMS realizaram necropsias de três animais de
uma propriedade em Jaraguari – MS, nos quais não foram observadas lesões macro e microscópicas. Os
dados epidemiológicos associados à ausência de lesões são fortemente sugestivos de intoxicação por
ureia.

Palavra-Chave: amônia, intoxicação, nitrogênio

OUTBREAK OF POISONING BY UREA IN MATO GROSSO DO SUL CATTLE

Abstract: The urea is a nitrogen substance that is used as food additive to cattle as a low cost replacement
protein and as an incentive to the consumer and better utilization of forage and bulky of low quality.
However, the amount to be administered must be controlled because of their toxic properties when
consumed in high quantities. This paper describes an outbreak of poisoning by urea in Mato Grosso do
Sul. In a batch of 70 cows and 60 calves 1-5 months that were allocated in the same paddock for two
months, and after a month began receiving food in the trough. Of the 70 cows, 17 cows died and 2 got
sick. The feed provided was hay roll feed (1 bag per day) and mineral salt 1 time per week with 10% of
urea (2 bags of salt). Veterinarian Pathology Laboratory UFMS performed necropsies of three animals of
a property in Jaraguari - MS, in which macro and microscopic lesions were observed. Epidemiological
data associated with the absence of lesions is highly suggestive of poisoning urea.

Key words: ammonia, nitrogen, poisoning

Introdução
A ureia é uma substância nitrogenada utilizada na agricultura como fertilizante para pastagens e
lavouras, e na pecuária é fornecida a bovinos como substituto proteico. A ureia sofre ação de uréase, no
rúmen, produzindo amônia (NH3) ou amônio (NH4), que se combinam com outras substâncias para
produção de aminoácidos e proteínas (Riet-Correa, 2007).
Tanto a ureia quanto o nitrato têm sido utilizados na pecuária como fonte de nitrogênio não
proteico (NNP) e são frequentes os surtos de intoxicação por estes compostos. A carência de proteína nas
pastagens leva à utilização de suplementos proteicos, tais como farelos de soja ou algodão, uma vez que
parte do nitrogênio requerido pelos ruminantes deve ser proveniente de uma fonte orgânica, sendo a ureia
uma alternativa para essa suplementação. Mais de 90% da produção endógena de ureia pode ser reciclada
no rúmen e convertida em proteína microbiana (Huntington et al, 1996).
Apesar de proporcionar vantagens na alimentação de ruminantes, sua utilização inadequada pode
trazer sérios danos à saúde animal devido à sua alta toxicidade. A ureia é transformada no ambiente

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ruminal em amônia, sendo este o responsável pela morte dos animais. Apesar de ser esporádica nos
rebanhos, a intoxicação por amônia apresenta quadro clínico drástico, rápido e na maioria das vezes
devastador, podendo levar bovinos à morte em até 30 minutos após a ingestão da substância (Antonelli et
al. 2009).
A ureia ingerida é rapidamente hidrolisada no rúmen em compostos amoniacais (NH4+ e NH3),
pela urease bacteriana, sendo amônio (NH4+) hidrossolúvel e não absorvível pela parede ruminal e a
amônia lipossolúvel e altamente absorvível. Assim, condições que favoreçam o surgimento de pH
alcalino como jejum, dieta rica em fibra e/ou com baixo teor de carboidratos solúveis ou mesmo a
ingestão de quantidades consideráveis de ureia, predispõem à intoxicação por amônia, por aumentar e
acelerar a absorção desta para a corrente sanguínea. A maior parte da amônia absorvida é transformada no
fígado em ureia. Quando há aumento na produção e absorção de amônia ocorre sobrecarga no sistema
hepático, e consequentemente aumento dos teores de amônia no sangue. No ambiente intracelular a
amônia bloqueia o ciclo de Krebs, por saturação do sistema glutamina-sintetase, resultando em
diminuição da produção de energia e inibição da respiração celular (Antonelli et al. 2009).
O presente trabalho tem como objetivo descrever um surto de intoxicação por ureia em bovinos
nelore de alto valor zootécnico, em uma propriedade localizada no município de Jaraguari – MS.

Material e Métodos
O surto aconteceu em uma propriedade no município de Jaraguari MS, foi solicitado ao
Laboratório de Anatomia Patológica da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul a realização de
necropsias dos animais mortos, foi necropsiado um animal e fragmentos de diversos órgãos foram
coletados e armazenados em solução de formol tamponado a 10%, foi coletado encéfalo de outros dois
animais em avançado estado de autólise em solução fixadora e posteriormente submetidos a técnicas
rotineiras de processamento histológico, os outros dois cadáveres encontravam-se autolisados e foram
coletados apenas os encéfalos destes para diferenciação de outras doenças neurológicas. Informações
clínicas e epidemiológicas foram obtidas através do funcionário e proprietário da propriedade.

Resultados e Discussão
Há dois meses, 70 vacas e 60 bezerros de 1 a 5 meses de idade, eram mantidos em um piquete,
após um mês da permanência destes animais na área, devido à escassez de pastagem, começou a ser
fornecido diariamente aos animais rolo de feno de Brachiaria sp., estes estavam muito seco e
aparentemente de péssima qualidade, além de ração no cocho e sal mineral uma vez por semana com
adição de 10% de ureia no mesmo cocho em que os animais recebiam ração. Segundo o funcionário os
animais foram alimentados pelo início da manhã e por volta das 11:00, observou alguns animais deitados.
Segundo o funcionário, antes de morrer as vacas estavam “estufando”, tremiam e saía líquido esverdeado
pela boca.
Dos animais mantidos no piquete, 19 vacas adoeceram e 17 destas morreram, todos animais era
fêmeas, adultas e em excelente estado corporal. Os achados macroscópicos foram mucosas oral e oculares
congestas, discreta quantidade de líquido amarelo citrino translúcido na cavidade abdominal, no lobo
esquerdo do fígado uma área esbranquiçada, radiada e deprimida, de 4 cm de comprimento (cicatriz de
abscesso resolvido) e rúmen repleto de matéria verde fibrosa e ressecada.
Os achados histopatológicos observados nas amostras coletadas dos três animais foram
praticamente ausentes. Em um dos animais observaram-se discretas coleções de neutrófilos abaixo da
camada córnea, achado compatível com acidose metabólica.
Com base na epidemiologia, sinais clínicos e ausência de lesões macro e microscópicas
significativas se realizou o diagnóstico de intoxicação por ureia. Assim como descrito por Barros et al.
(2006), o diagnóstico pode ser estabelecido associando-se a ocorrência de mortalidade de evolução aguda
aos sinais clínicos, em rebanho bovino que esteja ingerindo dieta contendo ureia. Dessa forma, a ingestão
de ureia é um dado epidemiológico importante para o estabelecimento do diagnóstico.
Acredita-se que os quadros de intoxicação observados nestes animais possa estar relacionados com
a dieta rica em volumoso fibroso, tornando o pH ruminal mais alcalino e facilitando a transformação da
ureia em amônia e acelerando a sua absorção (Antonelli et al. 2009). Outro fato que pode ter contribuído
para este quadro é a falta de adaptação à ureia, pois esta era fornecida aos animais de maneira
interrompida, uma vez por semana, perdendo assim a adaptação e predispondo a intoxicação.
Os sinais clínicos dos animais, decúbito esternal, mucosas hiperêmicas, são compatíveis com os
descritos por Riet-Correa (2007), que ocorrem geralmente 15-30 minutos após o inicio da ingestão, mas

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podem ser observados em até 4 horas. Ruminantes intoxicados podem apresentar ainda mudanças de
comportamento com excitação ou agressividade, dor abdominal intensa, incoordenação, fraqueza,
dispneia, timpanismo, atonia ruminal, mugidos altos e bruxismo. Há tremores musculares localizados
inicialmente nas pálpebras, lábios e pescoço, que se tornam generalizados.
Alguns sinais neurológicos observados nos casos de intoxicação por ureia são podem ocorre em
várias enfermidades neurológicas de bovinos. Nos diagnósticos diferenciais, deve-se considerar a
anafilaxia, hipomagnesemia, intoxicação aguda por sal, encefalites ou polioencefalomalácia (Barros et al.
2006).

Conclusões
O presente de trabalho demostra a importância da intoxicação de ureia em bovinos, que está
diretamente relacionada à forma de administração deste produto e esta quando ocorre, pode levar a morte
de grande número de animais.

Literatura Citada
ANTONELLI, A. C.; TORRES G. A. S.; MORI C. S.; SOARES P. C.; MARUTA C. A.; ORTOLANI E.
L. Intoxicação por amônia em bovinos que receberam ureia entrosada ou granulada: alterações em alguns
componentes bioquímicos do sangue. Braz. J. vet. Res. anim. Sci., São Paulo, v. 46, n. 1, p. 69-76, 2009.
BARROS, C.S.L.; DRIEMEIER, D.; DUTRA, I.S.; LEMOS, R.A.A. Doenças do sistema nervoso de
bovinos no Brasil. 1aedição. São Paulo: Coleção Vallée, 2006. 207 p.
HUNTINGTON GB et al. Effects of Dietary Concentrate Level on Nutrient Absorption, Liver
Metabolism, and Urea Kinetics of Beef Steers Fed Isonitrogenous and Isoenergetic Diets. Journal Animal
Science. 74:908–916. 1996.
RIET-CORREA, F. Intoxicação por Ureia. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A.;
BORGES, J.R.J.; Doenças de Ruminantes e Equinos Vol.1, 3a edição. Santa Maria: Pallotti, 2007. p.
126-137.
SILVA, J. A. Intoxicações Por Ureia E Nitrato Em Ruminantes: Revisão De Literatura. Goiânia:
Escola De Veterinária E Zootecnia – Evz, 2012. 46p. Seminários Aplicados do Programa de Pós
Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás.
Nível: Mestrado, 2012.

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LEIOMIOSSARCOMA EM CÃO - RELATO DE CASO

Marcos Antônio da Silva Souza¹, Zelina dos Santos Freire², Valcire Guimarães Nogueira¹, Luiz Carlos
Bárbaro Lescano¹, Dayane Rodrigues de Morais¹, Flávia Barbieri Bacha³

¹Acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Grande Dourados/UNIGRAN e-mail:


marcos_co93@hotmail.com,valcir7q@hotmail.com, luizcarloslescano@hotmail.com, day_rodrigues95@hotmail.com
²Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS e-mail: zelinafreire@hotmail.com
³Docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Grande Dourados/UNIGRAN e-mail:
flaviabacha@hotmail.com

Resumo: Leiomiossarcoma é uma neoplasia da musculatura lisa. Neste trabalho, relata-se o caso de
leiomiossarcoma intestinal em um cão de um ano de idade, com sintomatologia caracterizada por êmese e
emagressimento progressivo. Após realização de ultrassonografia e cirurgia, foram detectados presença
de massas de aspecto tumoral no pâncreas, fígado e intestino. O paciente foi eutanasiado, e na
macroscopia foram observadas massas de coloração amarelo esbranquiçada no pâncreas, aderindo-se ao
intestino, figado e estômago. Microscopicamente, havia proliferação de células neoplásicas, com núcleo e
citoplasma apresentando variação de forma e tamanho. As células encontravam-se dispostas em direções
variadas e organizadas em feixes. Baseados nas características macroscópicas e microscópicas, o caso foi
diagnosticado como leiomiossarcoma.

Palavras chave: Musculatura lisa, neoplasia

DOG LEIOMYOSARCOMA – CASE REPORT


Abstract: Leiomyosarcoma is a neoplasm of smooth muscle. In this work , the case of intestinal
leiomyosarcoma is reported in a dog one year old with symptoms characterized by vomiting and
progressive emagressimento . After performing ultrasound and surgery, were detected the presence of
tumor-like mass in the pancreas , liver and intestine. The patient was euthanized , and macroscopic
whitish yellow coloring masses were observed in the pancreas , adhering to the intestine, liver and
stomach. Microscopically , there was proliferation of neoplastic cells with nuclei and cytoplasm
presenting varying shape and size . Cells found themselves arranged in different directions and arranged
in bundles . Based on macroscopic and microscopic features , the case was diagnosed as leiomyosarcoma.

Keywords: smooth muscle, neoplasm

Introdução
Leiomiossarcomas são neoplasias malignas de fibras musculares lisas, da camada muscular e mais
raramente da muscularis mucosae. Apresentam-se macroscopicamente como massas circunscritas,
brancacentas e de consistência firme, com tendência à infiltração profunda na parede e serosas intestinais.
O cão é a espécie mais frequentemente acometida (Guedes, et al, 2010), mas há relatos em ratos, cavalos
e primatas (Gelberg, 2013).
Segmentos intestinais, como, jejuno íleo e ceco, foram identificados como os de maior
prevalência para ocorrência de adenocarcinoma, leiomiossarcoma e linfoma (Sobral , 2010). Ainda
segundo Sobral (2008), pacientes portadores de tumores intestinais apresentam sinais variáveis e
inespecíficos de doença crônica gastrointestinal. Nos casos em que as formações situam-se no intestino
delgado, o animal pode apresentar vômito, anorexia, dor abdominal, perda de peso, melena e diarreia.
O objetivo desse trabalho é relatar a ocorrência de neoplasia da musculatura lisa do sistema
digestório em um cão de um ano de idade atendido no Hospital Veterinário do Centro universitário da
Grande Dourados.

Material e Métodos
Em agosto de 2015, foi atendido no Hospital Veterinário do Centro Universitário da Grande
Dourados, um canino, macho, raça Labrador, com um ano de idade, pelagem marrom escura. Foi
realizado hemograma, que revelou apenas anemia discreta. O paciente foi encaminhado para o exame
ultrassonográfico em que foi visualizado alteração no pâncreas devido à presença de uma estrutura
semelhante à massa tumoral. Foi realizada cirurgia, e detectado massas tumorais no estômago, pâncreas,
fígado e intestino. O paciente foi encaminhado para eutanásia e necropsiado. Foram observados os

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aspectos macroscópicos e coletados os seguintes materiais: pulmão, coração, fígado, rins, baço, estômago,
intestino, pâncreas, massa tumoral, linfonodos e SNC. Os fragmentos dos mesmos foram fixados em
formol e encaminhados para exame histopatológico.

Resultados e Discussão
Os sinais clínicos apresentados pelo paciente consistiam em êmese toda vez que se alimentava , e
emagrecimento progressivo há aproximadamente 30 dias, o que era compatível com o grau de
comprometimento das estruturas gastrointestinais, observados na necropsia.
No exame macroscópico, foi observado presença de massa de coloração branco amarelada, de
aproximadamente 22 cm na região pancreática, na qual se aderiu ao intestino (porção duodenal e cólon),
fígado e estômago. De acordo com Morris (2007), a maior parte das neoplasias malignas de
comprometimento intestinal são localmente invasivas, fazendo metástases em fígado, omento, baço ou
linfonodos regionais. Os leiomiossarcomas são provenientes da camada muscular interna e produzem
formação em placas ou nódulos (Sobral, 2008). O fígado estava acentuadamente aumentado, com textura
discretamente firme e leve resistência ao corte.
Na microscopia, a camada muscular da parede intestinal apresentava-se espessa. Havia
proliferação de células neoplásicas, com núcleo e citoplasma apresentando variação de forma (alongado a
oval) e tamanho. As células encontravam-se dispostas em direções variadas e organizadas em feixes.
Havia infiltrado inflamatório linfoplasmocítico, áreas de necrose, focos hemorrágicos e hipertrofia de
células endoteliais. As alterações tumorais infiltravam-se no fígado, pâncreas e intestino, e apresentavam-
se bem vascularizadas com estroma fibrovascular discreto.
As alterações microscópicas encontradas, são compatíveis com a descrita por Souza et al (2012
apud Alves et al 2015) que consistiam em feixes de fibras musculares lisas dispostas em direções
diferentes, células fusiformes em grandes quantidades, citoplasma eosinofílico, anisocariose, núcleos
bizarros, alto índice mitótico e cromatina dispersa .
No fígado foram observados desorganização de hepatócitos, discreto infiltrado plasmocítico
periportal, congestão discreta e proliferação de tecido conjuntivo no espaço porta. No pulmão havia
congestão e edema discretos.
Baseado nas alterações macroscópicas e microscópicas foi diagnosticado leiomiossarcoma. O
diagnóstico diferencial mais importante para leiomiossarcoma é fibrossarcoma, uma neoplasia
mesenquimal maligna, que na maioria dos casos requer imunohistoquímica para ser definitivamente
distinto de leiomiossarcoma (Ranen et al 2004 apud Alves et al 2015).

Conclusões
Apesar das neoplasias intestinais não serem frequentes em pequenos animais, deve-se suspeitar
destas sempre que o paciente apresentar êmese e emagrecimento progressivo. O presente caso foi
diagnosticado como leiomiossarcoma, o prognóstico para esse tipo de neoplasia é de reservado a ruim,
pois depende da localização e se há envolvimento de estruturas adjacentes.

Literatura Citada
ALVES, R.C.C; BATISTA, T.L; AMORIN, R.L et al. Clinicopathological and immunohistochemical
evaluation of oesophageal leiomyosarcoma in a dog. Ciência Rural, v.45, n.9, p.1644-1647, 2001.
GELBERG, H.B Sistema alimentar, peritônio, omento, mesentério e cavidade peritoneal. In: ZACHARY,
J.F; McGAVIN, M.D Bases da Patologia em Veterinária. Elsevier: Rio de Janeiro, 2013. p. 403
GUEDES, R.M.C; BROWN, C.C; SEQUEIRA, J.L Sistema Digestório. In: SANTOS, R.L; ALESSI,
A.C. Patologia Veterinária. Roca: São Paulo, 2010. p. 143
MORRIS, J, DOBSON, J. Trato Gastrintestinal. In: MORRIS, J, DOBSON, J. Oncologia em Pequenos
Animais. 1 ed. São Paulo: Rocca, 2007. p. 125-144.
SOBRAL, R.A; DALECK, C.A; RODASKI, S et al Neoplasias do Sistema Digestório. In: DALECK,
C.A; NARDI, A.B; RODASKY, S Oncologia em cães e gatos. Roca: São Paulo, 2008.

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ASPECTOS CITOLÓGICOS DE EFUSÃO NEOPLÁSICA ASSOCIADA À


ADENOCARCINOMA PAPILAR OVARIANO EM CÃO

Tamires Ramborger Antunes1, Renata Amarilha Valençoela Peixoto2, Kelly Cristina da Silva Godoy3,
Bruna Brito Oliveira4, Simone Sorgatto5, Alexandre Welzel da Silveira6, Gustavo Gomes Oliveira7, Alda
Izabel de Souza8
1
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, FAMEZ-UFMS. E-mail:
tamires_ramborger_antunes@hotmail.com
2
Médica Veterinária Autônoma especialista em Patologia Clínica Veterinária. E-mail: medvet.renata@gmail.com
3
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, FAMEZ-UFMS. E-mail: k.c.s.godoy@gmail.com
4
Residente em Patologia Clínica Veterinária pelo Programa Profissional em Saúde em Medicina Veterinária, FAMEZ-UFMS. E-
mail: bruoliveira_vet@hotmail.com
5
Residente em Patologia Clínica Veterinária pelo Programa Profissional em Saúde em Medicina Veterinária, FAMEZ-UFMS. E-
mail: simone_sorgatto@hotmail.com
6
Residente em Patologia Clínica Veterinária pelo Programa Profissional em Saúde em Medicina Veterinária, FAMEZ-UFMS. E-
mail: ale_welzel@hotmail.com
7
Residente em Patologia Clínica Veterinária pelo Programa Profissional em Saúde em Medicina Veterinária, FAMEZ-UFMS. E-
mal: gustavogomesde@hotmail.com
8
Docente do curso de Medicina Veterinária, FAMEZ-UFMS. E-mail: alda.izabel@ufms.br

Resumo: O Adenocarcinoma Papilar Ovariano é uma neoplasia maligna de origem epitelial que pode
acometer cães, especialmente animais idosos. Os tumores de ovário frequentemente provocam derrame
peritoneal onde a causa mais comum de efusões neoplásicas em cães são os carcinomas. O objetivo desse
trabalho é descrever as características citomorfológicas de efusão de um caso de adenocarcinoma papilar
ovariano em cão. O exame citológico da efusão consistiu de marcada celularidade de células epiteliais em
anel de sinete com características de malignidade arranjadas em grupos coesivos tridimensionais que às
vezes encontravam-se em padrão acinar ou tubular. A avaliação citológica da efusão, como
complementação do diagnóstico, foi de fundamental importância para a detecção das células neoplásicas,
permitindo a determinação da etiologia de maneira precoce, auxiliando na definição do protocolo
terapêutico adequado.

Palavras-chave: diagnóstico citológico, neoplasia, derrame cavitário

CYTOLOGICAL ASPECTS OF NEOPLASTIC EFFUSION ASSOCIATED WITH OVARIAN


PAPILLARY ADENOCARCINOMA IN DOG

Abstract: Papillary Ovarian Adenocarcinoma is a malignant neoplasm of epithelial origin that can affect
dogs, especially older animals. The ovarian tumors often cause peritoneal effusion where the most
common cause of malignant effusions in dogs are carcinomas. The objective of this study is to describe
the features of cytomorphologic effusion a case of ovarian papillary adenocarcinoma in dog. The
cytological examination of effusion consisted of marked cellularity of epithelial cells in signet ring with
malignancy features arranged in three-dimensional cohesive groups that sometimes were in tubular or
acinar pattern. The cytological evaluation of the effusion, to complement the diagnosis, was of
fundamental importance for the detection of neoplastic cells, allowing the determination of the etiology of
early way, helping to define the appropriate treatment protocol.

Keywords: cytological diagnosis, cancer, stroke cavity

Introdução
As neoplasias ovarianas de origem primária são consideradas incomuns em animais domésticos,
apresentando diferentes tipos de classificação de acordo com suas características histogenéticas (Simon &
Kumar, 2012). Tumores de origem epitelial são considerados mais comuns, representando 46% dos
tumores ovarianos caninos (Bertazzolo et al., 2004; Ajadi et al., 2011).
O Adenocarcinoma Papilar Ovariano é uma neoplasia maligna de origem epitelial que pode
acometer cães, especialmente os idosos (Raskin & Meyer, 2011). Geralmente ambos os ovários são
afetados (Simon & Kumar, 2012) e desencadeiam aumento de volume abdominal, perda de peso, letargia,
alopecia, descarga vaginal e distúrbios no ciclo estral, que incluem anestro, ninfomania e masculinização
(Ajadi et al., 2011).

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O diagnóstico precoce das neoplasias ovarianas pode ser obtido pela técnica citológica, ainda que a
histopatologia seja fundamental para a confirmação do diagnóstico (Peleteiro et al., 2011). Com o
objetivo de demonstrar a importância da avaliação citológica para o diagnóstico de efusão de origem
neoplásica, este trabalho descreve as características citomorfológicas de um caso de adenocarcinoma
papilar ovariano em cão diagnosticado por análise citológica de efusão.

Material e Métodos
Amostra de efusão abdominal proveniente de um animal da espécie canina, fêmea, teckel, com
histórico de aumento de volume em região lateral direita do abdômen há aproximadamente 60 dias, foi
encaminhada ao laboratório de Patologia Clínica Veterinária da FAMEZ/UFMS. As análises realizadas
incluíram a avaliação do volume, aspecto e coloração no exame físico; do pH, das concentrações de
glicose e bilirrubinas no exame químico por meio de fita reagente; da densidade e proteína por meio de
refratometria e do hematócrito por centrifugação do fluído em microcentrífuga. A determinação da
concentração de células nucleadas foi realizada após diluição da efusão com reagente de Turk e posterior
contagem em hemocitômetro. Posteriormente, realizou-se centrifugação do material e o sobrenadante
resultante foi descartado. Com o sedimento confeccionou-se as lâminas que foram coradas com panótico
rápido para a determinação das características microscópicas.

Resultados e Discussão
No exame físico, o fluído analisado apresentou coloração vermelho escuro e aspecto turvo. Na
análise quantitativa, o total de células nucleadas foi de 22.200 células/µL e corroboram a informação que
alguns tipos de neoplasia as células neoplásicas sofrem esfoliação e o diagnóstico precoce pode ser
estabelecido a partir da análise do fluído (Raskin & Meyer, 2011).
No exame químico, a efusão apresentou alta concentração de proteínas (7,6 g/dL), pH 8,0 e
hematócrito de 35% que reforçaram a suspeita de neoplasia, uma vez que efusões neoplásicas
frequentemente são exsudatos hemorrágicos e tendem a expressar reações mais alcalinas (Peleteiro et al.,
2011; Raskin & Meyer, 2011).
Na avaliação citomorfológica foi possível identificar marcada celularidade de células epiteliais
pleomórficas arranjadas em grupos coesivos tridimensionais que às vezes encontravam-se em padrão
acinar ou tubular. Essas células eram arredondadas a poliédricas com um único núcleo apresentando
cromatina frouxa à grosseira, citoplasma escasso a moderado com halo perinuclear (células em sinete) e
nucléolos evidentes e múltiplos. As características observadas foram compatíveis com as descritas para
Adenocarcinoma Papilar Ovariano por Bertazzolo et al. (2004) e Raskin & Meyer (2011).
Peleteiro et al. (2011) citam que os tumores de ovário frequentemente provocam derrame
peritoneal e que, em cães, a causa mais comum de efusões neoplásicas são os carcinomas. A associação
das informações clínico-laboratoriais e especialmente o achado das células em “anel de sinete”,
distribuídas em padrão tridimensional e acinar (Bertazzolo et al., 2004), favoreceu a diferenciação entre
os diferentes tipos de neoplasia.
Após a excisão cirúrgica, macroscopicamente foram observados múltiplos nódulos intercalados
com regiões císticas contendo fluído vermelho-amarelado no ovário direito. De acordo Simon & Kumar,
(2012), esses achados são característicos desse tipo de neoplasia, reforçando o diagnóstico citológico.
Posteriormente, o diagnóstico definitivo e confirmatório foi obtido por análise histopatológica.
Aproximadamente três meses após a excisão cirúrgica, efusão torácica desse mesmo paciente foi
encaminhada para análise laboratorial, na qual identificou-se as mesmas características obtidas na efusão
peritoneal, sugerindo a presença de metástase. Ao exame radiológico, nenhuma lesão compatível com
massa tumoral foi detectada, contudo nódulos pequenos (inferiores a 6mm) são de difícil observação por
esse método (Thrall, 2012) e enfatizam a importância da análise citológica de derrames cavitários como
exame complementar para o diagnóstico precoce de enfermidades.

Conclusões
A avaliação citológica das efusões, como complementação do diagnóstico, foi de fundamental
importância para a detecção das células neoplásicas, permitindo a determinação da etiologia de maneira
precoce, auxiliando na definição do protocolo terapêutico adequado.

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Literatura Citada
AJADI, A.T.; ANTIA, E. R.; AKANG, E. E. Cystadenocarcinoma Arising from Ovary in a Three Year
Old Doberman Bitch. International Journal of Morphology,v. 29, n. 3, p. 988-991, 2011.
BERTAZZOLO, W.; DELL’ORCO, M.; BONFANTI, U. et al. Cytological features of canine ovarian
tumours: a retrospective study of 19 cases. Journal of Small Animal Practice, v. 45, p. 539-545,
November 2004.
PELETEIRO, M.C.; MARCOS, R.; SANTOS, J.C. et al. Atlas de Citologia Veterinária. Lisboa: Lidel,
308p., 2011.
RASKIN, R.E; MEYER, D.J. Citologia Clínica de Cães e Gatos, Atlas Colorido e Guia de
Interpretação, Tradução da 2ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 450p., 2011.
SIMON, S.M.; KUMAR, R.S. Surgical Management of Ovarian Papillary Adenoma in a Bitch.
Tamilnadu Journal of Veterinary and Animal Sciences, v.8, n.6 p. 329-331, November - December,
2012.
THRALL, D.E. Textbook of Veterinary Diagnostic Radiology, Sixth Edition. Missouri: Elsevier,
850p., 2012.

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SUSPEITA DE ENCEFALITE BOVINA POR TRYPANOSOMA EVANSI NO MATO GROSSO


DO SUL

Amanda Gimelli1, Diego Gonçalves Lino Borges2, Guilherme Moraes Marques3,


Ricardo Antonio Amaral de Lemos4, Tessie Beck Martins5
1
Aluna de graduação em Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. Bolsista PIBIC UFMS. E-mail: amanda_gimelli@hotmail.com
2
Laboratório de Doenças Parasitárias, FAMEZ/UFMS. E-mail: dyegogborges@hotmail.com
3
Prefeitura Municipal de Ribas do Rio Pardo-MS. E-mail: guilherme_2311@hotmail.com
4
Professor de Anatomia Patológica, FAMEZ/UFMS. E-mail: ricardo.lemos@ufms.br
5
Professor de Anatomia Patológica, FAMEZ/UFMS. E-mail: tessie.martins@ufms.br

Resumo: Trypanosoma evansi é um protozoário com grande distribuição geográfica e ampla gama de
hospedeiros domésticos e selvagens. A enfermidade varia de acordo com a espécie e com a localização, e
tem demonstrado ser potencialmente fatal para bovinos assim como em equinos. Neste trabalho estão
descritos os achados clinicopatológicos de uma possível encefalite causada por T. evansi em um bovino
oriundo de uma propriedade onde houve morte de bovinos, equídeos e animais selvagens. Há poucos
relatos de T. evansi causando doença e morte de bovinos no Brasil, porém a epidemiologia, os sinais
clínicos e achados de necropsia e de parasitologia observados neste rebanho sugerem que a doença circula
no país e que sua importância pode estar sendo negligenciada.

Palavras-Chave: tripanossomíase, doenças de bovinos, doenças neurológicas

SUSPECTED BOVINE ENCEPHALITIS CAUSED BY TRYPANOSOMA EVANSI IN MATO


GROSSO DO SUL

Abstract: Trypanosoma evansi is a protozoa with large geographic distribution and wide range of
domestic and wild hosts. The disease varies according to the species and location, and has been shown to
be potentially fatal to cattle as well as horses. This paper describes the clinicopathological findings of an
encephalitis possibly caused by T. evansi in a bovine originating from a property where cattle, horses and
wild animals died. There are few reports of T. evansi causing disease and death of cattle in Brazil, but
epidemiology, clinical signs, pathological and parasitology findings noted in this herd suggest that the
disease is circulating in the country and its importance may be neglected.

Keywords: trypanosomiasis, diseases of cattle, neurological diseases.

Introdução
As tripanossomíases são doenças de humanos e animais domésticos que resultam da infecção pelos
parasitas protozoários do gênero Trypanosoma. Classicamente, a transmissão ocorre através da
transferência das formas sanguíneas diretamente de um mamífero para outro, pela inoculação dos
tripanossomas via saliva dos insetos hematófagos das famílias Tabanidae e Stomoxidae artificialmente
com agulhas contaminadas com sangue infectado. Carnívoros podem se infectar através da ingestão de
carcaças de animais com tripanossomíase logo após a sua morte, e a transmissão por carrapatos também é
sugerida (Connor & van den Bossche, 2004). Tripanossomas são encontrados em uma ampla faixa de
reservatórios silvestres, sendo a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) um dos mais conhecidos
(Desquesnes et al., 2013).
De todos os tripanossomas potencialmente patogênicos, T. evansi é o que possui maior
distribuição geográfica e a maior gama de hospedeiros (Desquesnes et al., 2013). No Brasil, a doença
causada por T. evansi está principalmente relacionada a cavalos, nos quais causa doença neurológica ou
caquetizante que leva a grandes prejuízos econômicos (Rodrigues et al. 2005). Sabe-se que bovinos
infectados por T. evansi ocasionalmente apresentam doença neurológica (Tuntasuvan et al., 1997), mas
poucos relatos associam a infecção com a ocorrência de sinais clínicos e mortes em bovinos no país
(Santos et al. 2009). Além disso, embora os achados de necropsia e lesões histológicas estejam bem
descritas em equinos (Rodrigues et al., 2005), os relatos da doença em bovinos não mencionam a
realização de necropsias com coleta de materiais para exames histológicos ou relatam lesões inespecíficas
que não acometem o encéfalo (Santos et al., 2009).

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Entende-se que a que a tripanossomíase deva ser incluída como possível diagnóstico diferencial
para doenças nervosas em bovinos no Brasil, e que a espécie bovina, devido ao seu contato próximo com
equinos, deva ser considerada um reservatório eficiente para o T. evansi neste país. Por causa disso, está
descrito neste trabalho um caso de encefalite bovina em que se suspeita de tripanossomíase por T. evansi.

Material e Métodos
Nos meses de junho e julho de 2015 um surto de mortalidade de bovinos e equinos foi
acompanhado por técnicos da IAGRO e do Laboratório de Anatomia Patológica da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul em uma propriedade localizada no município de Rio Negro, no Pantanal Sul
Mato-grossense. Morreram, de um total de 5.000 bovinos, pelo menos 40 bezerros, 20 vacas, 10 novilhas,
um touro, um equino e um muar. Os animais eram mantidos em invernadas próximas a aguadas onde
viviam muitas capivaras. Os responsáveis pela fazenda relataram que frequentemente se observavam
capivaras com dificuldade de locomoção, que não conseguiam acompanhar as demais e que logo
morriam. Os sinais clínicos observados nos bovinos e equídeos eram semelhantes e se caracterizaram
principalmente por apatia, emagrecimento, andar cambaleante e decúbito.
Um bovino e uma capivara foram avaliados clinicamente e necropsiados. Diversos órgãos foram
coletados, fixados em formol tamponado a 10%, processados rotineiramente para análise histopatológica
e corados pela técnica de hematoxilina e eosina. Fragmentos de encéfalo e medula espinhal foram
encaminhados para pesquisa do vírus da raiva através das provas de imunofluorescência direta (IFD) e
inoculação intracerebral em camundongo (ICC). Amostras de sangue de 40 bovinos clinicamente sadios e
um equino com apatia e incoordenação motora leve foram coletadas e analisadas pela técnica de
microhematócrito para pesquisa de Trypanosoma sp.

Resultados e Discussão
O bovino examinado era uma fêmea adulta da raça Nelore. Sinais clínicos incluíram desidratação,
diarreia, sialorreia, incoordenação dos membros pélvicos e decúbito esternal. As principais lesões
macroscópicas observadas foram lesões cutâneas perfurantes cobertas por crostas sanguíneas (sugestivas
de sugadura de morcegos) no pescoço e na cauda, e hiperemia da meninge do encéfalo e medula espinhal.
Ao exame histopatológico havia manguitos perivasculares composto de linfócitos, plasmócitos e
linfoblastos em vários segmentos do encéfalo, além de astrocitose multifocal. A capivara apresentou
incoordenação marcada dos membros pélvicos. Na necropsia, haviam áreas pálidas no coração. As
principais lesões histológicas incluíram manguitos linfoplasmocíticos ricos em células de Mott em
múltiplos focos do encéfalo e medula espinhal e infiltrado inflamatório idêntico no miocárdio. Em nove
dos quarenta bovinos e no equino se observaram espécimes de T. evansi em análise de esfregaço
sanguíneo. Os testes de IFD e ICC foram negativos para o vírus da raiva.
O diagnóstico presuntivo de tripanossomíase por T. evansi foi baseado nos dados epidemiológicos,
clínicos, patológicos e, principalmente, na presença do parasita em esfregaços de sangue de animais do
mesmo rebanho. Não foi possível realizar exame hematológico deste bovino.
Acredita-se que as capivaras tenham sido a fonte de infecção neste surto, pois elas estiveram em
contato constante com os bovinos e equídeos. O fato de capivaras apresentarem incoordenação e
morrerem na mesma época e próximas do local onde os eram rebanhos eram mantidos e que as lesões de
encefalite observadas na capivara necropsiada foram idênticas às descritas para a encefalite equina por T.
evansi (Rodrigues et al., 2005) reforça essa hipótese. Suspeita-se que tenha ocorrido transmissão
mecânica por insetos (Stomoxys e tabanídeos, principalmente) ou morcegos hematófagos (o morcego da
espécie Desmodus rotundus atua como hospedeiro, vetor e reservatório do T. evansi) dos animais
reservatório (silvestres) para o rebanho, como já é conhecido (Desquesnes et al., 2013).
A infecção por T. evansi em bovinos nem sempre causa sinais clínicos, mas doença nervosa com
andar em círculos, excitação, comportamento agressivo, decúbito lateral, convulsão e morte já foi descrita
(Tuntasuvan et al., 1997). Neste estudo, 80 animais foram positivos para T. evansi em inoculação em
camundongo e imunofluorescência indireta. Além dos sinais neurológicos, anemia e perda de peso eram
comumente vistos no gado. Sinais neurológicos são mais relatados em cavalos, nos quais a forma nervosa
da doença, que cursa principalmente com incoordenação dos membros pélvicos, é conhecida como “mal
das cadeiras” (Rodrigues et al., 2005).
Em cavalos, as lesões de encefalite típicas da tripanossomíase por T. evansi consistem de uma
encefalite necrosante grave, na qual os manguitos perivasculares são volumosos e incluem as células de
Mott (Rodrigues et al., 2005). As lesões observadas neste bovino são semelhantes às descritas em cavalos,

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mas não foram encontradas descrições de lesões histológicas em bovinos para comparação. No trabalho
que trata de tripanossomíase cerebral por esse agente em bovinos (Tuntasuvan et al., 1997). Os autores
descrevem o achado de T. evansi em esfregaços de encéfalo, porém não mencionam a realização de
exames histológicos.
Os principais diagnósticos diferenciais para encefalite não supurativa em bovinos incluem raiva,
febre catarral maligna e encefalite por herpesvírus bovino. Raiva foi descartada pelos resultados negativos
de IFD e ICC. Não foi observada vasculite, a principal lesão de febre catarral maligna. E finalmente,
encefalite por herpesvírus foi considerada pouco provável pela epidemiologia. Um método de
confirmação etiológica das lesões, a imuno-histoquímica para T. evansi, está sendo buscado para este
caso. Em um estudo de 1.437 materiais de sistema nervoso central de bovinos de corte das regiões
Centro-Oeste e Sudeste do Brasil (Lemos et al., 2005), em 9% dos casos as lesões histológicas eram de
meningoencefalite não supurativa de etiologia desconhecida. Destes, a grande maioria apresentava a
distribuição das lesões iguais a da raiva bovina, e aspectos epidemiológicos e clínicos compatíveis com
essa enfermidade, porém em nenhum desses casos a etiologia foi confirmada. Acreditamos que parte
destes casos poderiam ser de infecção por T. evansi.

Conclusões
Tripanossomíase por T. evansi pode estar sendo negligenciada na bovinocultura de corte. Os
achados clínicos, de necropsia, de parasitologia e a epidemiologia descritos neste relato são fortes indícios
de que T. evansi pode estar envolvido em mortes de bovinos no Mato Grosso do Sul.

Literatura Citada
CONNOR R.J. & VAN DEN BOSSCHE. African animal trypanosomoses. In: Coetzer J.A.W. & Tustin
R.C. Infectious Diseases of Livestock. 2nd ed. Cape Town: Oxford University Press, 2004, v.1, p.251-
296.
DESQUESNES, M.; DARGANTES, A.; LAI, D. et al. Trypanosoma evansi and Surra: A Review and
Perspectives on Transmission, Epidemiology and Control, Impact, and Zoonotic Aspects. BioMed
Research International, v. 2013, 2013.
LEMOS, A.A.R. Enfermidades do sistema nervoso de bovinos de corte das regiões centro-oeste e
sudeste do brasil. Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho", 2005. 149p.
Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) - Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho",
2005.
RODRIGUES, A.; FIGHERA, R.A.; SOUZA, T.M. et al. Surtos de tripanossomíase por Trypanosoma
evansi em equinos no Rio Grande do Sul: aspectos epidemiológicos, clínicos, hematológicos e
patológicos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.25(4), p.239-249, 2005.
SANTOS, C.E.P. et al. Isolamento de Trypanosoma evansi em Bos taurus indicus no Pantanal Norte,
Brasil. Ciência Animal Brasileira, v.10, supl.1, p.625-630, 2009.
TUNTASUVAN, D.; SARATAPHAN, N.; NISHIKAWA, H. Cerebral trypanosomiasis in native cattle.
Veterinary Parasitology, v.73, p.357-363, 1997.

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SURTO DE INTOXICAÇÃO CRÔNICA POR COBRE EM OVINOS

Carolina de Castro Guizelini¹, Rayane Chitolina Pupin², Paula Velozo Leal³, Stephanie Carrelo de Lima 4,
Hugo Storari Loro5, Marcelo Augusto de Araújo6, Gabriella de Oliveira Dalla Martha7, Luiz Guilherme
Pereira Guerra8, Tessie Beck Martins9

¹Bolsista de Iniciação Científica CNPq – carolina.guizelini@gmail.com


²Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC – rayane.pupin@gmail.com
³Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC – paulavleal@hotmail.com
4
Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal/FAMEZ/UFMS – stephanie_k_lima@hotmail.com
5
Bolsista de Iniciação Científica UFMS – storari.loro@gmail.com
6
Médico Veterinário FAMEZ/UFMS – marcelo.augusto@ufms.br
7
Programa de Doutorado em Ciência Animal do Famez UFMS – gabriella.odm@zootecnista.com.br
8
Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC – medvet.guilherme@gmail.com
9
Professora FAMEZ/UFMS – tessie.martins@ufms.br

Resumo: descrevem-se casos de intoxicação crônica por cobre em três ovinos utilizados para
experimento metabólico. Estimou-se que os animais tenham recebido acidentalmente 80ppm de cobre
diariamente por seis meses. Sinais clínicos incluíram anorexia, apatia, icterícia e urina de coloração
escura. As principais lesões macroscópicas foram tecido subcutâneo amarelo, fígado aumentado de
tamanho e alaranjado ou amarelado, rim enegrecido e urina vermelho escura. No exame histológico, as
lesões se caracterizavam por fígado com necrose centrolobular e células de Kupffer com o citoplasma
repleto de pigmento finamente granular marrom claro, e rim com necrose das células epiteliais, túbulos
corticais e medulares contendo material róseo-alaranjado liso ou granular compatíveis com cilindros
hemoglobinúricos. Os principais diagnósticos diferenciais para este caso incluíram leptospirose,
anaplasmose e babesiose.

Palavras-Chave: anemia hemolítica, hepatopatia tóxica, doenças de ruminantes

SHEEP COPPER CRONIC POISONING OUTBREAK

Abstract: cases of chronic copper poisoning in three sheep used in a metabolic experimental study are
described. It was estimated that the animals received accidentally 80ppm of copper daily for six months.
Clinical signs included anorexia, apathy, icterus and dark urine. Main gross lesions were yellow
subcutaneous tissue, moderately enlarged, orange or yellowish liver, diffusely black kidney and bladder
containing urine dark red. Histologically, lesions were characterized by liver with centrilobular necrosis
and Kupffer cells with cytoplasm full of a light brown granular pigment, and kidney showing epithelial
cells necrosis, cortical and medullary tubules containing smooth or granular pinkish-orange material
compatible with hemoglobinuric casts. Main differential diagnoses for this case included leptospirosis,
anaplasmosis and babesiosis.

Keywords: hemolytic anemia, toxic hepatopathy, diseases of ruminants

Introdução
O cobre é um microelemento essencial responsável pela formação de hemoglobina, além de ter
ações significantes sobre enzimas cobre-dependentes que desempenham papéis fundamentais no
transporte de ferro, respiração celular, biossíntese de catecolaminas e transferências de elétrons na cadeia
respiratória, entre outros (Stalker & Hayes, 2007; Tokarnia et al., 2010). O fígado é o principal órgão
responsável pelo metabolismo do cobre, realizando o seu armazenamento e excreção via biliar. O
armazenamento do cobre é temporário devido à ação da enzima hepática ceruloplasmina, que se liga ao
cobre e o direciona aos demais órgãos (Silva Júnior, 2013). A quantidade excessiva desse microelemento
associada com o seu potencial de redução são responsáveis pela formação de radicais livres, resultando na
oxidação direta dos componentes celulares (Stalker & Hayes, 2007). Bovinos, ovinos, suínos e cães de
algumas raças são susceptíveis à intoxicação (Riet-Correa & Méndez, 2007; Stalker & Hayes, 2007;
Tokarnia et al., 2010). Os ovinos são os animais mais sensíveis à intoxicação por cobre, pois nesta espécie

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a ação da ceruloplasmina é reduzida, o que faz com que o cobre permaneça armazenado por mais tempo,
predispondo a quadros de intoxicação crônica (Silva Júnior, 2013).
A intoxicação por cobre pode ocorrer de forma aguda ou crônica (Cullen & Brown, 2013; Riet-
Correa & Méndez, 2007; Stalker & Hayes, 2007). A forma aguda é rara em ovinos, e ocorre através da
ingestão acidental de grandes doses de cobre em um mesmo episódio (Stalker & Hayes, 2007). Na forma
crônica, o cobre se acumula lentamente no fígado, sem que se observem sinais clínicos. A manifestação
clínica, no entanto, é aguda, e ocorre com a liberação do cobre para a corrente sanguínea, causando
hemólise intravascular. Este acúmulo pode acontecer pela ingestão de alimentos contendo altas doses de
cobre ou por dieta com níveis normais de cobre e baixos níveis de molibdênio (Cullen & Brown, 2013;
Riet-Correa & Méndez, 2007; Stalker & Hayes, 2007), mineral que tem a função de formar compostos
insolúveis com o cobre no fígado e intestino, inativando a sua biodisponibilidade (Cullen & Brown, 2013;
Stalker & Hayes, 2007).
O objetivo deste trabalho é relatar os achados clínicos e patológicos de um surto de intoxicação
crônica por cobre em ovinos.

Material e Métodos
Foram encaminhados para o Laboratório de Anatomia Patológica da Universidade Federal do
Mato Grosso do Sul (LAP – UFMS) três ovinos utilizados em um experimento metabólico da UFMS.
Dados epidemiológicos e sinais clínicos foram relatados pelos responsáveis pelo experimento. Durante a
necropsia, fragmentos de diversos órgãos foram coletados e fixados em solução tamponada de formalina
10% para posterior técnica rotineira de hematoxilina e eosina (HE). Também foram realizadas dosagens
do nível de cobre a partir do alimento concentrado que os animais estavam ingerindo.

Resultados e Discussão
Os animais eram mantidos em gaiolas metabólicas e estavam recebendo 2,5% do peso vivo de
concentrado diariamente, durante seis meses. Todos os animais apresentaram anorexia, apatia, mucosas
ictéricas e urina de coloração escura dois dias antes da morte, o que caracteriza um quadro clínico agudo.
Antes da morte, relatou-se que as mucosas estavam de coloração amarronzada. Os animais foram
tratados, mas morreram.
À necropsia, foram observadas as seguintes lesões: tecido subcutâneo moderadamente amarelado,
pulmões difusamente amarronzados, fígado moderadamente aumentado, de coloração alaranjada ou
amarelada, esplenomegalia moderada, serosas intestinais levemente amarronzadas, rins difusamente
enegrecidos e bexiga contendo urina de coloração vermelho escura. A icterícia está relacionada à
liberação de bilirrubina proveniente da hemólise intravascular e é a causa da coloração amarelada ou
alaranjada do fígado. A oxidação da hemoglobina forma o composto chamado metahemoglobina, que é
responsável pelas mucosas amarronzadas. Os rins escuros e a urina vermelho escura são manifestações
resultantes da hemoglobinúria associada à metahemoglobina (Radostits et al., 2007; Stalker & Hayes,
2007).
No exame histológico, um animal estava em acentuado estado de autólise e os outros dois
apresentaram lesões semelhantes que se restringiam a fígado e rim e se caracterizavam por fígado com
necrose centrolobular, ductos biliares repletos de pigmento amarelo-esverdeado compatível com bile e
células de Kupffer com o citoplasma repleto de pigmento finamente granular marrom claro compatível
com cobre. A necrose hepatocelular é proveniente do rompimento das membranas lisossomais causado
por enzimas hidrolíticas que são associadas à alta concentração de cobre armazenado nos lisossomos
(Stalker & Hayes, 2007). O rim apresentava necrose das células epiteliais, túbulos corticais e medulares
contendo material róseo-alaranjado liso ou granular compatíveis com cilindros hemoglobinúricos, além
de proteína e hemoglobina no espaço de Bowman.
Os achados macroscópicos e histológicos observados nestes casos são compatíveis com trabalhos e
literaturas anteriores (Radostits et al., 2007; Stalker & Hayes, 2007). Esses achados associados aos sinais
clínicos caracterizam o quadro de crise hemolítica, que são encontrados na intoxicação crônica por cobre
(Riet-Correa & Méndez, 2007). A morte dos animais pode estar relacionada à anemia hemolítica aguda e
à nefrose hemoglobinúrica (Radostits et al., 2007).
Apesar de a intoxicação ser primariamente crônica, o quadro clínico é agudo, e ocorre por causa da
alta liberação dos níveis cúpricos para a corrente sanguínea. A partir daí ocorre crise hemolítica aguda,
que pode evoluir para morte em poucas horas ou até quatro dias (Radostits et al., 2007; Stalker & Hayes,
2007). É importante salientar que a crise hemolítica pode ser acelerada por estresse dos animais (Stalker

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& Hayes, 2007), o que pode ser compatível com o fato de os animais viverem em espaços limitados nas
gaiolas metabólicas.
Os níveis de cobre dosados no concentrado foram de 53ppm. Considerando que os animais
recebiam em média 1,5kg de ração por dia, ingeriam em média 80ppm de cobre diariamente. Riet-Correa
& Méndez, (2007) afirmam que níveis de cobre superiores a 15-20 ppm em concentrados podem
ocasionar intoxicação crônica em ovinos. Para evitar esta enfermidade, visto que a letalidade pode chegar
a 100% (Radostits et al., 2007), Riet-Correa & Méndez (2007) afirmam que o ideal seria que as rações
não fossem suplementadas com cobre, já que este pode ser absorvido cerca de 10 vezes mais do que o
cobre da pastagem. Caso houvesse necessidade, a suplementação não deveria passar de 10ppm.
O tratamento pode ser feito durante a fase aguda da doença, utilizando-se penicilamina, e na fase
pré-clínica, quando deve-se retirar o cobre da alimentação e administrar molibdato de amônia associado a
sulfato de sódio (Radostits et al., 2007). A lista de diagnósticos diferenciais deve incluir leptospirose,
anaplasmose e babesiose (Radostits et al, 2007), que também cursam com icterícia e hemoglobinúria.

Conclusões
Os achados anatomopatológicos associados com o histórico e a comprovação da ingestão diária de
altos níveis de cobre, através da dosagem do cobre na ração, são suficientes para concluir que se trata de
um surto de intoxicação crônica por cobre. Informações sobre a fisiologia dos animais e da fisiopatogenia
da intoxicação são importantes para evitar prejuízos econômicos. Conhecer sobre os diagnósticos
diferenciais da doença é um importante fator de descarte de outras enfermidades.

Literatura Citada
CULLEN, J.M. & BROWN, D.L. Sistema Hepatobiliar e Pâncreas Exócrino. In: ZACHARY, J.F.&
McGAVIN, M.D. (Eds). Bases da Patologia em Veterinária. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
p.407-460.
MÉNDEZ, M.C. & RIET-CORREA, F. Intoxicação por Cobre. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.;
LEMOS, R.A.A. et al. (Eds). Doenças de Ruminantes e Equídeos. 3.ed. v.2. Santa Maria: Pallotti, 2007.
p.62-68.
RADOSTITS, O.M; GAY, C.C.; HINCHCLIFF, K.W. et al. Diseases associated with inorganic and farm
chemicals. In: ______. (Eds.). Veterinary medicine: a textbook of diseases of cattle, horses, sheep,
pigs, and goats. 10.ed. Oxford: Elsevier, 2007. p.1798-1850.
SILVA JÚNIOR, S.S. Diagnóstico e determinação de cobre e seus antagonistas em caprinos e ovinos
criados no território do sertão de São Francisco em Pernambuco. Petrolina: Universidade Federal do Vale
do São Francisco, 2013. 93p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) - Universidade Federal do Vale
do São Francisco, 2013.
STALKER, M.J.; HAYES, M.A. Liver and biliary system. In.: MAXIE, M.G. (Ed.). Jubb, Kennedy &
Palmer’s pathology of domestic animals. 5.ed. v.2. Philadelphia: Elsevier, 2007. p.298-397.
TOKARNIA, C.H.; PEIXOTO, P.V.; BARBOSA, J.D. et al. Cobre. In: ______ Deficiências Minerais
em Animais de Produção. Helianthus: Rio de Janeiro, 2010. p.88-109.

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INTOXICAÇÃO POR SENNA SPP. EM UM EQUINO

Carolina de Castro Guizelini¹, Rayane Chitolina Pupin², Paula Velozo Leal³, Stephanie Carrelo de Lima 4,
Amanda Gimelli5, Tessie Beck Martins6

¹ Bolsista de Iniciação Científica CNPq – carolina.guizelini@gmail.com


² Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC – rayane.pupin@gmail.com
³ Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC – paulavleal@hotmail.com
4
Mestrado em Ciência Animal – stephanie_k_lima@hotmail.com
5
Bolsista de Iniciação Científica UFMS – amanda_gimelli@hotmail.com
6
Professora da FAMEZ/UFMS – tessie.martins@ufms.br

Resumo: Relata-se a intoxicação por Senna spp em um equino. Clinicamente, o animal apresentou
pressão da cabeça contra estruturas, ataxia, rigidez e quedas. Os principais achados anatomopatológicos
se restringiram ao fígado caracterizado por acentuação difusa simétrica do padrão lobular, com áreas
avermelhadas deprimidas (necrose) no centro dos lóbulos. Na histopatologia, havia necrose centrolobular
e mediozonal de hepatócitos, com moderada quantidade de macrófagos contendo hemossiderina no
citoplasma e vacúolos bem delimitados no citoplasma de hepatócitos da periferia dos lóbulos, adjacentes
às áreas de necrose. Nos fragmentos de encéfalo observou-se moderada quantidade de astrócitos com
núcleo tumefeito e vacuolizado, dispostos em pares ou trios, envoltos por espaço claro (astrócitos
Alzheimer tipo II). O diagnóstico de intoxicação por Senna spp. baseou-se na epidemiologia, sinais
clínicos e achados post mortem.

Palavras-Chave: hepatopatia tóxica, fedegoso, encefalopatia hepática

SENNA SPP. POISONING IN A HORSE

Abstract: A Senna spp poisoning in a horse is related. Clinically, the animal had the head pressing
structures, ataxy, stiffness and falls. The main pathological findings were restricted to the liver
characterized by a symmetrical diffuse accentuation of the lobular pattern, with reddish areas depressed
(necrosis) in the lobes’ center. On histopathologic exam, there was mediozonal and centrilobular
hepatocytes necrosis with moderate amounts of macrophages with hemosiderin on cytoplasm and well-
delimited vacuoles in the cytoplasm of hepatocytes on lobes’ periphery adjacent to areas of necrosis. In
the brain fragments was observed moderate amount of astrocytes with tumescent and vacuolated nucleus
arranged in pairs or trios, surrounded by a clear space (Alzheimer type II astrocytes). The diagnosis of
Senna spp. poisoning was based on the epidemiology, clinical signs and post-mortem findings.

Keywords: toxic hepatopathy, fedegoso, hepatoencephalopathy

Introdução
Senna sp. é uma planta leguminosa anual, popularmente chamada de “fedegoso” (Tokarnia et al.,
2012), que comumente é encontrada invadindo áreas com cultivos de verão (Riet-Correa et al., 1998),
como de soja, sorgo e milho, em pastagens baixas, solos férteis, ao longo de estradas e currais em todo o
Brasil (Tokarnia et al., 2012; Riet-Correa & Méndez, 2007). Todas as partes da planta são tóxicas, porém
as sementes têm maior toxidez (Tokarnia et al., 2012).
Casos de intoxicação por Senna sp. normalmente estão associados a quadros de miopatia e
cardiomiopatia degenerativa, sendo a intoxicação já descrita em equinos, coelhos, suínos, bovinos e aves
(Riet-Correa & Méndez, 2007). Ocorre pela ingestão de cereais ou feno contaminados com a semente ou
outras partes da planta, e também pode ocorrer pelo pastejo da planta quando esta invade os piquetes aos
quais os animais têm acesso, sobretudo quando há escassez de forragem (Riet-Correa & Méndez, 2007;
Tokarnia et al. 2012).
Ao contrário da grande quantidade de informações a respeito da intoxicação por Senna sp. em
ruminantes, suínos, coelhos e aves, os relatos e estudos da mesma em equinos são escassos (Irigoyen et
al., 1991). Por isso, o objetivo do presente trabalho é relatar a ocorrência de um caso de intoxicação por
Senna sp. em um equino.

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Material e Métodos
Foram encaminhados para o Laboratório de Anatomia Patológica da Universidade Federal do
Mato Grosso do Sul (LAP – UFMS) fragmentos de órgãos refrigerados provenientes de um equino
pertencente ao Quartel do município de Bela Vista, Mato Grosso do Sul. Dados epidemiológicos e sinais
clínicos foram relatados pelo veterinário responsável. Os órgãos foram fixados em solução de formalina a
10% e processados para o exame histopatológico através da técnica rotineira de hematoxilina e eosina.

Resultados e Discussão
O animal ficava em um piquete de Brachiaria sp. marcadamente invadido por Senna sp. Foi
exercitado no período da manhã e solto no piquete, sendo levado à baia ao anoitecer. Após algumas horas,
foi notada mudança de comportamento do equino, que pressionava a cabeça contra o comedouro,
apresentava ataxia, rigidez, cegueira com midríase, nistagmo, tremores, quedas e convulsões e andava em
círculos. Tentativa de tratamento foi realizada, porém após aproximadamente 14 horas o animal morreu.
À necropsia, as alterações observadas foram: fígado com acentuação difusa simétrica do padrão
lobular, com áreas avermelhadas deprimidas (necrose) no centro dos lóbulos, múltiplos focos de
congestão em intestinos delgado e grosso, bexiga, coração, pulmões, encéfalo e medula espinhal. As
alterações histológicas restringiram-se a fígado e encéfalo. No fígado havia necrose centrolobular e
mediozonal de hepatócitos, com moderada quantidade de macrófagos contendo hemossiderina no
citoplasma, e vacúolos bem delimitados no citoplasma de hepatócitos da periferia dos lóbulos, adjacentes
às áreas de necrose. Nos fragmentos de encéfalo (córtex frontal, núcleo da base e córtex occipital)
observou-se moderada quantidade de astrócitos com núcleo tumefeito e vacuolizado, dispostos em pares
ou trios, envoltos por espaço claro (astrócitos Alzheimer tipo II).
O diagnóstico baseou-se nos sinais clínicos e post mortem associados com à presença da planta e
ao seu fácil acesso pelos animais. As alterações hepáticas e neurológicas associadas aos sinais
neurológicos correspondem a um quadro de encefalopatia hepática, que é um achado característico em
equinos intoxicados por Senna sp (Oliveira-Filho et al., 2012). A dose tóxica da mesma para equinos
corresponde a 0,3 e 0,15% do peso corporal, causando morte em 4 a 96 horas (Riet-Correa et al., 1998),
porém relatos mais recentes observaram intoxicação com sementes na dose de 0,05% do peso corporal
(Oliveira-Filho et al., 2012). A duração do início do quadro clínico até a morte do animal está de acordo
com o que foi descrito por Riet-Correa et al. (1998). É importante salientar que a intoxicação é dose-
dependente e tem efeito cumulativo (Irigoyen et al., 1991; Oliveira-Filho et al., 2012; Méndez & Riet-
Correa, 2007), podendo isso estar relacionado à morte de apenas um animal do piquete, seja por consumo
de doses não-tóxicas pelos outros animais ou pelo excesso de ingestão da planta.
Acredita-se que a planta e seus princípios tóxicos, ainda desconhecidos, possuem efeito
hepatotóxico direto no fígado, e que esse dano, provavelmente por resultado de uma hiperamonemia,
promove alterações no sistema nervoso central e leva aos sinais clínicos apresentados por este animal
(Barros et al., 1990; Oliveira-Filho et al., 2012).
É notável que a intoxicação por Senna sp. em equinos causa quadros principalmente no fígado. As
alterações musculares que são frequentes em bovinos, caracterizadas como áreas pálidas nos músculos
esqueléticos e cardíaco, são de menor ocorrência e de mais lento aparecimento nos equinos (Irigoyen et
al., 1991; Barros et al., 1990). As alterações histológicas do presente relato foram observadas em
trabalhos anteriores (Oliveira-Filho et al., 2012). Na intoxicação experimental realizada por Irigoyen et al.
(1991), os astrócitos Alzheimer tipo II e os sinais neurológicos não foram observados.
Não é possível realizar o tratamento nos animais intoxicados. Para evitar esse tipo de enfermidade,
deve-se conhecer a ração utilizada na alimentação diária dos animais, assim como evitar a contaminação
de fenos, sorgos ou rações com sementes da planta, ter cuidado ao utilizar a colheita mecânica em
piquetes de cereais invadidos pela mesma e retirar os animais de piquetes invadidos principalmente em
situações de escassez de pasto e geadas (Méndez & Riet-Correa, 2007; Tokarnia et al., 2012; Oliveira-
Filho et al., 2012).
É de extrema importância a exclusão dos diagnósticos diferenciais da intoxicação por Senna sp.
como raiva, intoxicação por fumonisinas e aflatoxinas, que devem ser investigadas em casos de sinais
neurológicos e pela epidemiologia de alimentação com alimentos secos ou fermentados, como feno,
milho ou sorgo (Oliveira-Filho et al., 2012).

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Conclusões
De acordo com a compatibilidade da epidemiologia, sinais clínicos e achados post mortem,
confirma-se a intoxicação por Senna sp. em um equino. Devido à alta sensibilidade à intoxicação por
Senna sp., é de suma importância que medidas profiláticas sejam adotadas em propriedades invadidas por
esta planta. Outras doenças de caráter neurológico devem ser descartadas em casos de suspeita pela
intoxicação.

Literatura Citada
BARROS, C.S.L.; PILATI, C.; ANDUJAR, M.B. et al. Intoxicação por Cassia occidentalis (Leg. Caes.)
em bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.10, n.3/4, p.47-58, 1990.
IRIGOYEN, L.F.; GRAÇA, D.L.; BARROS, C.S.L. Intoxicação experimental por Cassia occidentalis
(Leg. Caes.) em equinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.11, n.1/2, p.35-44, 1991.
MÉNDEZ, M.C. & RIET-CORREA, F. Intoxicação por Plantas e Micotoxinas. In: RIET-CORREA, F.;
SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A. et al. (Eds). Doenças de Ruminantes e Equídeos. 3.ed. v.2. Santa
Maria: Pallotti, 2007. p.157-160.
OLIVEIRA-FILHO, J.P.; CAGNINI, D.Q.; BADIAL, P.R. et al. Hepatoencephalopathy syndrome due to
Cassia occidentalis (Leguminosae, Caesalpinioideae) seed ingestion in horses. Equine Veterinary
Journal, v.45, n.2, p.240-244, 2012.
RIET-CORREA, F.; SOARES, M.P.; MÉNDEZ, M.C. Intoxicações em equinos no Brasil. Ciência
Rural, v.28, n.4, p.715-722, 1998.
TOKARNIA, C.H.; BRITO, M.F.; BARBOSA, J.D. et al. Plantas que causam degeneração e necrose
musculares. In: ______ Plantas Tóxicas do Brasil para Animais de Produção. Helianthus: Rio de
Janeiro, 2012. p.295-301.

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ASSOCIAÇÃO DE DIFERENTES NÍVEIS DE MANDIOCA, MORINGA E BOCAIUVA SOBRE


A QUALIDADE INTERNA DE OVOS BRANCOS TIPO CAIPIRA

Larissa Albuquerque Rosa Silva¹, Arnaldo Vitorino Ofico 2, Natália Ramos Batista3, Karina Márcia
Ribeiro de Souza4, Henrique Barbosa de Freitas5, Raquel Soares Juliano6, Charles Kiefer7

¹Acadêmica do curso de Zootecnia FAMEZ/ UFMS: larissalbuquerquerosa@gmail.com


2
Mestrando em Ciência Animal FAMEZ/UFMS: oficoarnaldo@hotmail.com
3
Doutoranda em Ciência Animal FAMEZ/UFMS: nath.ramos@hotmail.com
4
Docente do curso de Zootecnia FAMEZ/UFMS: karina.souza@ufms.br
5
Mestrando em Ciência Animal FAMEZ/UFMS: henrique_barbosa_7@yahoo.com.br
6
EMBRAPA Pantanal: raquel.juliano@embrapa.br
7
Docente do curso de Zootecnia FAMEZ/UFMS: charles.kiefer@ufms.br

Resumo: Com o objetivo avaliar o efeito da associação de diferentes níveis de mandioca, moringa e
bocaiuva em dietas de poedeiras sobre a qualidade interna de ovos brancos do tipo caipira, foram
utilizados 900 ovos distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com quatro tratamentos e
cinco repetições cada. Os tratamentos utilizados foram: T1- ração controle sem adição de ingredientes
alternativos; T2- ração contendo 10% de folhas de moringa (MO), 20% de farelo de mandioca (FM) e 4%
de polpa de bocaiuva (PB); T3- ração contendo 15% MO, 25% FM e 6% BO; T4- ração contendo 20%
MO, 30% FM e 8% BO. As variáveis analisadas foram: porcentagem de gema e albúmen, unidade
Haugh, índice de gema e coloração de gema crua. Os tratamentos avaliados apresentaram efeito (P<0,05)
para porcentagem de gema, índice de gema e coloração de gema crua. A associação entre 20% de
moringa, 30% de farelo de mandioca e 8% de polpa de bocaiuva na alimentação de poedeiras resulta em
melhor qualidade interna de ovos brancos do tipo caipira, proporcionando intensa coloração de gema,
característica essa que é considerada um critério positivo de decisão em relação à preferência do
consumidor

Palavras-chave: Alimentos alternativos, cor de gema crua, índice de gema, porcentagem de albúmen,
porcentagem de gema, unidade Haugh

DIFFERENT LEVELS OF ASSOCIATION OF CASSAVA, MORINGA AND BOCAIUVA ON


INTERNAL QUALITY OF WHITE EGGS FREE-RANGE SYSTEM

Abstract: Aiming to evaluate the effects of combining different levels of cassava, moringa and bocaiuva
replacing corn in laying diets on the internal quality characteristics of white eggs hillbilly type were used
900 eggs, in a completely randomized design with four treatments and five repetitions each. The
treatments were: T1- control diet without the addition of alternative ingredients; T2 diet containing 10%
moringa leaves (MO), 20% cassava meal (FM) and 4% bocaiuva pulp (CP); T3 diet containing 15% MO,
25% FM and 6% BO; T4 diet containing 20% MO, 30% FM and 8% BO. The variables analyzed were:
percentage of yolk and albumen, Haugh unit, yolk index and color of raw egg yolk. The treatments had
effect (P <0.05) percentage of yolk, yolk index and color of raw egg yolk. The association between 20%
moringa, 30% cassava meal and 8% bocaiuva pulp in the feed of laying results in improved internal
quality egg whites of the rustic type, providing intense color yolk, a characteristic that is considered a
criterion decision in relation to consumer preference.

Key words: Alternative foods, raw yolk color, yolk index, albumen percentage, yolk percentage, Haugh
unit
Introdução
A criação tipo caipira permite às aves o consumo de alimentos alternativos, assim tem-se buscado
a utilização de alimentos nativos de cada região como uma forma de redução do custo de produção.
Alimentos como a mandioca (Manihot esculenta), a moringa (Moringa oleifera) e a bocaiuva (Acrocomia
aculeata), possuem grande disponibilidade no estado do Mato Grosso do Sul. Pesquisas mostram ser
possível a substituição parcial do milho pela farinha de raspa de mandioca, corrigindo-se algumas
limitações, como o baixo teor proteico e de aminoácidos essenciais e a ausência de pigmentantes (CRUZ
et al., 2006), por sua vez, a folha da Moringa é rica em proteínas, com um rico perfil de aminoácidos,
ácidos graxos, minerais e vitaminas, e pobre em fatores antinutricionais que podem, desempenhar um
grande papel na nutrição de aves, possibilitando que algumas das deficiências nutricionais de mandioca

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poderiam ser diminuídas com a inclusão de folhas de Moringa na dieta de poedeiras, aumentando assim a
utilização da mandioca. A bocaiuva apresenta alto teor de carotenoides disponíveis, o que leva a produção
gemas de cores mais fortes, sendo esta a preferência dos consumidores, devido ao fato de relacionarem
erroneamente a maior pigmentação com a maior concentração de nutrientes.
Desse modo, o presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a associação de diferentes
níveis de mandioca, moringa e bocaiuva em substituição ao milho sobre a qualidade interna de ovos
brancos do tipo caipira.

Material e Métodos
Os ovos foram obtidos no setor de Agropecuária da Escola de Bodoquena – Fundação Bradesco e
as análises de qualidade interna foram realizadas no Laboratório Experimental de Ciência Aviária da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Foram utilizados 900 ovos de poedeiras comerciais com 34
semanas de idade, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e
cinco repetições cada. Os tratamentos consistiram na inclusão de uma mistura de ingredientes alternativos
(IA), farelo de raiz de mandioca (FM), folhas de moringa (MO) e torta de bocaiuva (BO):
T1- Ração controle sem adição de ingredientes alternativos;
T2- Ração contendo 20% de farelo de mandioca, 10% de folhas de moringa e 4% de polpa de
bocaiuva.
T3- Ração contendo 25% de farelo de mandioca, 15% de folhas moringa e 6% de torta de
bocaiuva
T4- Ração contendo 30% de farelo de mandioca, 20% de moringa e 8% de torta de bocaiuva.
As variáveis analisadas foram: porcentagem de gema, porcentagem de albúmen, unidade Haugh,
índice de gema e coloração de gema crua.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey
(P<0,05), utilizando o programa estatístico SAS.

Resultados e Discussão
Os resultados para a qualidade interna dos ovos (Tabela 1) demonstraram efeito (P<0,05) dos
tratamentos avaliados somente para porcentagem de gema, índice de gema e coloração de gema crua.
Ovos de poedeiras alimentadas com ração contendo apenas milho e com o menor nível de IA
(20%FM+10%MO+4%BO) apresentaram maior (P<0,05) porcentagem de gema, sendo os menores
valores obtidos em dietas que continham o maior nível de ingredientes alternativos.
Em um estudo que avaliou diferentes níveis de inclusão de folhas de moringa (0%, 10%, 15%,
20%) em dietas para poedeiras, Abou-Elezz et al. (2011), observaram correlação entre os níveis de
inclusão de folhas de moringa e índice de gema, que diminuía a medida que a porcentagem de folhas de
moringa na dieta aumentava. Por sua vez, Cruz et al. (2006) não encontraram diferença significativa para
porcentagem de gema ao fazer a substituição integral de milho por farelo de mandioca, em dietas para
poedeiras comerciais.
Para o índice de gema, os tratamentos com maiores níveis de IA (25%FM+15%MO+6%BO e
30%FM+20%MO+8%BO) apresentaram os maiores valores, sendo a dieta sem inclusão de IA a que
apresentou os menores valores. Ao alimentar poedeiras com dietas contendo diferentes níveis de
mandioca e folhas de moringa (50% de Mandioca; 5% de Moringa; 50% de Mandioca + 5% de Moringa),
Tesfaye et al. (2014) encontraram diferença significativa para o índice de gema, sendo que os maiores
valores foram observados em dietas contendo mandioca associada as folhas de moringa ou apenas as
folhas de moringa. Da mesma forma, Kyawt et al. (2014) não encontrou diferença significativa para
índice de gema em dietas contendo 30% de farelo de mandioca, quando comparada as demais
substituições.
A variável coloração de gema crua apresentou diferença significativa entre todos os tratamentos. A
dieta contendo maior nível de IA (30%FM+20%MO+8%BO) apresentou maiores resultados (P<0,05), de
modo que, a dieta que não continha adição de IA apresentou menores valores de coloração de gema. A
coloração da gema tem grande influência na comercialização dos ovos, sendo a preferência do mercado
por gemas mais pigmentadas. Em poedeiras alimentadas com rações à base de milho, a média de
coloração da gema seguindo a escala colorimétrica Roche é de aproximadamente 7,0 pontos, não sendo
necessário a adição de pigmentantes artificiais nas dietas quando as gemas possuem coloração de até 5,0
pontos (Barbosa de Brito & Stringhini, 2003). No presente estudo, as dietas experimentais com a inclusão
de ingredientes alternativos apresentaram valores acima de 9,0 pontos. Sabendo que a mandioca não

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possui quantidades expressivas de carotenoides, é possível que os resultados encontrados estejam


relacionados com a inclusão de moringa e bocaiuva nas dietas, visto que as folhas de moringa são ricas
em carotenoides e a bocaiuva contem cerca de 83% de carotenoides disponíveis para serem utilizados
pelo organismo (Ramos, 2007).
Não houve diferença (P>0,05) entre os tratamentos para os valores de porcentagem de albúmen e
unidade Haugh. Entretanto, Cruz et al. (2006) observaram que, com o aumento da inclusão de mandioca
em dietas para poedeiras, ocorria ao aumento da porcentagem de albúmen. Além disso, Tesfaye et al.
(2014) ao alimentar poedeiras com dietas contendo farelo de mandioca e folhas de moringa e substituição
ao milho em níveis de 0% a 50% de mandioca e 0% a 5% de folhas de moringa, observaram diferença
significativa sobre os valores de unidade Haugh. Bem como, Kyawt et al. (2014), que encontraram
diferença significativa para unidade Haugh no nível de 40% de substituição do milho pela mandioca em
dietas de poedeiras comerciais.

Tabela 1. Qualidade interna de ovos brancos do tipo caipira de poedeiras alimentadas com diferentes
níveis de ingredientes alternativos
Ingredientes alternativos1 Gema Albúmen Unidade Índice de Coloração de
(%) (%) Haugh gema gema
Controle 27.11a 63,28 101,0 0.39b 7.07d
a ab
20%FM+10%MO+4%BO 26.86 63,85 99,38 0.40 9.26c
25%FM+15%MO+6%BO 26.21ab 63,94 96,93 0.41a 9.89b
b
30%FM+20%MO+8%BO 25.86 64,11 98,16 0.41ª 10.69ª
P-Value <0,05 0,131 0,290 0,02 <0,01
CV (%) 1.94 0,86 3,03 2,70 1,69
Médias seguidas de letras minúsculas distintas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05)
1
FM= farelo de mandioca, MO= farelo de moringa, BO=polpa de bocaiuva

Conclusões
A associação entre 20% folhas de moringa, 30% de farelo de mandioca e 8% de polpa de bocaiuva
na alimentação de poedeiras resulta em melhor qualidade interna de ovos brancos do tipo caipira,
proporcionando intensa coloração de gema, característica essa que é considerada um critério positivo de
decisão em relação à preferência do consumidor.

Literatura Citada
ABOU-ELEZZ, F. M. K.; SARMIENTO F.L.; RICALDE, R.S. et al. Nutritional effects of dietary
inclusion of Leucaena leucocephala and Moringa oleifera leaf meal on Rhode Island Red hens’
performance. Cuban Journal of Agricultural Science, v. 45, n. 2, p. 163-169, 2011.
BARBOSA DE BRITO, A.; STRINGHINI, J.H. Avaliação do gérmen integral de milho na nutrição de
poedeiras comerciais. Avicultura Industrial, n.10, p.22-24, 2003.
CRUZ, F.G.G.; PEREIRA FILHO, M.; CHAVES, F.L. Efeito da substituição do milho pela farinha da
apara de mandioca em rações para poedeiras comerciais. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, n. 6, p.
2303-2308, 2006.
KYAWT, Y.Y.; HTWE, W.M.; THAIKUA, S. et. al. Effectes of Cassava Substitute for Maize Based
Diets os Performance Characteristics and Eg Quality of Laying Hens. International Journal of Poultry
Science, v. 13, n. 9, p. 518-524, 2014.
RAMOS, Maria Isabel Lima. Polpa de bocaiuva: Composição Química e Biodisponibilidade de
carotenóides. 2007. 80 f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências da Saúde, Dta, Universidade Federal de
Goiás, Brasília, 2007. Cap. 2.
TESFAYE, E.B.; ANIMUT, G.M.; URGE, M.L. et al. Cassava root chips and Moringa oleifera leaf meal
as alternative feed ingredients in the layer ration. The Journal of Applied Poultry Research, p. japr920,
2014.

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MENINGOENCEFALITE NÃO SUPURATIVA NECROSANTE CAUSADA POR


HERPESVÍRUS BOVINO TIPO 5 EM MATO GROSSO DO SUL

Hugo Stoarari Loro¹, Amanda Gimelli2, Paula Velozo Leal3, Rayane Chitolina Pupin4, Stephanie Carrelo
de Lima5, Carlos Ramos6, Danilo Carloto Gomes7, Ricardo Antônio Amaral de Lemos8

¹ Bolsista de Iniciação Científica CNPq – storariloro@gmail.com


2
Bolsista de Iniciação Científica CNPq – amanda_gimelli@hotmail.com
3
Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC – paulavleal@hotmail.com
4
Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC –rayane.pupin@gmail.com
5
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal UFMS – stephanie_k_lima@hotmail.com
6
Professor da FAMEZ/UFMS – carlosanramos@yahoo.com.br
7
Professor da FAMEZ/UFMS – danilo.gomes@ufms.br
8
Professor da FAMEZ/UFMS – ricardo.lemos@ufms.br

Resumo: Descrevem-se casos de encefalite não supurativa necrosante em bovinos confinados. Os


animais faziam parte de um lote de 1000 bezerros recém desmamados, com 12 meses de idade,
provenientes de uma propriedade localizada em Rio Verde - MS. Após a compra, 500 destes bezerros
foram transferidos para outra propriedade em Nova Alvorada-MS onde 30 adoeceram. Os animais
apresentavam salivação e decúbito evoluindo para morte. Três bovinos, um Nelore e dois mestiços, foram
necropsiados e fragmentos de córtex frontal foram encaminhados para PCR. Na necropsia, dois
apresentaram amolecimento bilateral do córtex frontal. O terceiro animal apresentou apenas achatamento
das circunvoluções cerebrais (edema). No exame histopatológico todos os animais apresentaram graus
variados de meningoencefalite não supurativa necrosante, entretanto não foram vistos corpúsculos de
inclusão anfofílicos intranucleares em neurônios e astrócitos. A PCR detectou BoHV-5 em todas as
amostras. A utilização da PCR aliada aos achados patológicos é uma importante para se confirmar o
diagnóstico de meningoencefalite não supurativa necrosante por BoHV-5, doença responsável por
grandes perdas econômicas em bovinos confinados no Mato Grosso do Sul.

Palavra-Chave: BoHV-5, PCR, Encefalite

SUPPURATIVE NECROTIZING MENINGOENCEPHALITIS NOT CAUSED BY BOVINE


HERPESVIRUS TYPE 5 IN MATO GROSSO DO SUL

Abstract: Describes cases of non suppurative necrotizing encephalitis in feedlot cattle. The animals were
part of a batch of 1,000 calves weaned at 12 months old from a property located in Rio Verde - MS. After
purchase, 500 of these calves were transferred to another property in Nova Alvorada-MS where 30 fell ill.
The animals presented salivation and decubitus evolving to death. Three cattle, one Nellore and two
mestizos, were necropsied and frontal cortex fragments were sent for PCR. At necropsy, two had bilateral
softening the frontal cortex. The third animal showed only flattening of brain convolutions (edema). In
histopathology all animals showed varying degrees of suppurative necrotizing meningoencephalitis,
however were not seen corpuscles amphophilic intranuclear into neurons and astrocytes. The PCR
detected bovine herpesvirus type-5 in all samples. The use of PCR coupled with the pathological findings
it´s important to confirm the diagnosis of necrotizing meningoencephalitis nonsuppurative by BoHV-5,
disease responsible for great economic losses in feedlot cattle in Mato Grosso do Sul.

Key word: BoHV-5, PCR, Encephalitis

Introdução
A meningoencefalite necrosante herpética é uma doença infecciosa aguda e altamente fatal de
bovinos causada principalmente pelo Herpesvírus bovino tipo 5 (BoHV-5) (Barros et al., 2006). Embora
esteja frequentemente associado a doenças respiratórias e reprodutivas, o Herpesvírus bovino tipo 1
(BoHV-1) ocasionalmente pode acometer o sistema nervoso central e causar doença neurológica (Campos
et al. 2009).
Estes dois vírus possuem capacidade de estabelecer infecção latente em seus hospedeiros
principalmente nos gânglios trigêmios (Campos et al. 2009) e geralmente são reativados quando os
bovinos são submetidos a condições estressantes, como desmame, transporte, vacinações, castrações,
mudanças de pasto, de alimentação e introdução de novos animais no rebanho (Barros et al., 2006).

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BoHV-5 tem distribuição mundial e afeta mais frequentemente bovinos jovens, com idade entre 13
e 24 meses (Barros et al., 2006). Clinicamente, os animais apresentam distúrbios corticais, caracterizados
por depressão, secreção nasal/ocular, cegueira, andar em círculos, tremores, nistagmo, opistótono entre
outros (Rissi et al., 2006). O curso clínico da doença é de 4-15 dias e a morte ocorre mesmo após a
realização de tratamentos (Barros et al., 2006).
As lesões observadas ocorrem principalmente no córtex frontal e são macroscopicamente
caracterizadas por áreas amareladas a acinzentadas, amolecidas, que podem progredir para formação de
cavitações da substância cinzenta. Em outros casos, há apenas achatamento das circunvoluções cerebrais
(edema). Microscopicamente observam-se formação de manguitos perivasculares constituídos
predominantemente por linfócitos e plasmócitos, meningite não supurativa, áreas de necrose da
substância cinzenta preenchidas por grande quantidade de células Gitter e corpúsculos de inclusão viral
anfofílicos intranucleares (Barros et al., 2006; Rissi et al., 2006).
O diagnóstico de rotina é baseado na epidemiologia, sinais clínicos, lesões macroscópicas, achados
histológicos característicos. (Barros et al., 2006). No entanto, algumas técnicas laboratoriais permitem a
detecção viral e sua diferenciação entre BHV-1 e BHV-5. Dentre estas técnicas a que mais tem se
destacado é a PCR (reação em cadeia de polimerase) que busca amplificar sequências específicas de
nucleotídeos do gene que codifica a glicoproteína C ou o gene da DNA polimerase (Diallo et al. 2011).
O presente trabalho tem como objetivo relatar os achados anatomopatológicos de um surto de
meningoencefalite por BoHV-5 no Mato Grosso do Sul.

Material e Métodos
Três cadáveres de bovinos foram encaminhados ao Laboratório de Anatomia Patológica da
Universidade Federal de Mato Grosso de Sul para exame necroscópico. Informações quanto à história
clínica, epidemiologia, tempo de evolução e dados do rebanho, foram obtidas através do veterinário
responsável. Durante a necropsia, o sistema nervoso central e fragmentos de diversos órgãos foram
coletados e armazenados em solução de formol tamponado a 10% e posteriormente submetidos a técnicas
rotineiras de processamento histológico. Amostras do córtex frontal foram coletadas sob refrigeração e
encaminhadas ao Laboratório de Biologia Molecular da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
para realização de PCR.

Resultados e Discussão
O surto ocorreu entre os meses de junho e agosto de 2015. Os animais faziam parte de um lote de
1000 bezerros recém desmamados, com 12 meses de idade, adquiridos em Rio Verde-MS. Após a
compra, 500 destes bezerros foram transferidos para um confinamento em outra propriedade em Nova
Alvorada-MS onde 30 adoeceram. Os animais apresentavam decúbito e salivação e permaneciam em
decúbito até a morte. Três bovinos, machos, Nelore (1) e mestiços (2) foram necropsiados e as alterações
observadas se restringiram ao sistema nervoso central. Todos apresentavam graus variados de hiperemia
das leptomeninges. Em dois dos bovinos havia malacia bilateral do córtex frontal, caracterizadas por
áreas amolecidas, que variavam de amareladas a avermelhadas e em um dos casos substituíam a
substância cinzenta. No terceiro bovino havia apenas achatamento dos telencéfalos (edema). No exame
histopatológico todos apresentavam, em graus variados, meninges e espaços perivasculares distendidos
por linfócitos, plasmócitos e macrófagos, áreas de necrose de liquefação do parênquima cerebral com
células Gitter, neurônios vermelhos, neuronofagia, gliose, hipertrofia das células endoteliais e edema
perineuronal. Em nenhum dos animais foram visualizados corpúsculos de inclusão anfofílicos
intranucleares. BoHV-5 foi detectado pela PCR em todas as amostras encaminhadas.
O diagnóstico de meningoencefalite não supurativa necrosante causada por BoHV-5 baseou-se na
epidemiologia, achados macro e microscópicos e detecção viral pela PCR. Nos casos estudados, o
desmame, transporte e confinamento destes animais foram fatores estressantes extremamente importante
para ocorrência da doença, ja é relatado que esta cetegoria animal quando submetidas a estresse torna-se
mais susceptível a esta doença (Barros et al., 2006; Rissi et al., 2006). Depressão foi o principal sinal
clínico observado nos animais deste estudo, semelhante ao descrito por Rissi et al. (2006) após o
acompanhamento de sete surtos e um caso isolado de infecção natural por BoHV-5. Apesar de cegueira
não ter sido relatada, este também é um sinal clínico bastante sugestivo desta infecção (Barros et al.,
2006).
Os achados anatomopatológicos foram característicos da doença, inclusive quanto à sua
localização (Rissi et al., 2006), porém o diagnóstico histopatológico é considerado confirmatório apenas

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quando corpúsculos de inclusão intranucleares são observados em neurônios e astrócitos (Barros et al.,
2006). Neste estudo estes corpúsculos não foram observados, entretanto a infecção foi confirmada em
todos os bovinos pela PCR, demonstrando que a presença destes corpúsculos não é essencial para o
diagnóstico histopatológico.
A PCR que tem sido amplamente utilizada no diagnóstico de várias doenças, e apresenta algumas
vantagens sobre outras técnicas utilizadas para detecção de BoHV, como uma maior sensibilidade,
especificidade e praticidade (Campo et al. 2009).

Conclusões
Conclui-se que a utilização da PCR aliada aos achados patológicos são importantes para se
confirmar o diagnóstico de meningoencefalite não supurativa necrosante por BoHV-5. Fatores
estressantes como desmame, transporte e agrupamento dos animais são extremamente importantes para
desencadear a doença. Além disso, o BoHV-5 é responsável por grandes perdas econômicas em bovinos
confinados no Mato Grosso do Sul.

Literatura Citada
BARROS, C.S.L.; DRIEMEIER, D.; DUTRA, I.S.; LEMOS, R.A.A. Doenças do sistema nervoso de
bovinos no Brasil. 1aedição. São Paulo: Coleção Vallée, 2006. 207 p.
CAMPOS F.S.; FRANCO A.C.; HÜBNER S.O. ET AL. High prevalence of co-infections with bovine
herpesvirus 1 and 5 found in cattle in southern Brazil. Vet. Microbiol. 139: p 67-73, 2009.
DIALLO I.S.; CORNEY B.G. & RODWELL B.J. Detection and differentiation of bovine herpesvirus 1
and 5 using a multiplex real-time polymerase chain reaction. Journal Virological Methods. 175: p.46-52,
2011.
HALFEN, D.C.; RIET-CORREA, F. Infecções por Herpesvírus Bovino-1 e Herpesvírus Bovino-5. In:
RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A.; BORGES, J.R.J.; Doenças de Ruminantes e
Equinos Vol.1, 3a edição. Santa Maria: Pallotti, 2007. p. 126-137.
RIET-CORREA, G.; DUARTE, M.D.; BARBOSA, J.D.; OLIVEIRA, C.M.C.; CERQUEIRA, V.D.;
BRITO, M.F.; RIET-CORREA, F. Meningoencefalite e polioencefalomalacia causadas por Herpesvírus
bovino-5 no Estado do Pará. Pesquisa Veterinária Brasileira v.26, n.1, p.44-46, 2006.
RISSI, D.R.; OLIVEIRA, F.N.; RECH, R.R.; PIEREZAN, F.; LEMOS, R.A.A.; BARROS, C.S.L.
Epidemiologia, sinais clínicos e distribuição das lesões encefálicas em bovinos afetados por
meningoencefalite por herpesvírus bovino-5. Pesquisa Veterinária Brasileira v.26, n.2, p.123-132, 2006.

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MENINGOENCEFALITE SUPURATIVA ASSOCIADA À OTITE MÉDIA E INTERNA EM


OVINO – RELATO DE CASO

Paula Velozo Leal1, Rayane Chitolina Pupin1, Stephanie Carrelo de Lima2, Carolina de Castro Guizeline3,
Hugo Storari Loro3, Amanda Gimelli3, Danilo Carloto Gomes4, Ricardo Antônio Amaral de Lemos4
1
Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC - paulavleal@hotmail.com
1
Programa de Residência Profissional em Medicina Veterinária do MEC – rayane.pupin@gmail.com
2
Programa de Pós-graduação em Ciência Animal- Famez/UFMS – stephanie_k_lima@hotmail.com
3
Bolsista de Iniciação Científica do CNPq – carolina.guizeline@gmail.com
3
Bolsista de Iniciação Científica do CNPq – storariloro@gmail.com
3
Bolsista de Iniciação Científica do CNPq – amanda_gimelli@hotmail.com
4
Professor da FAMEZ/UFMS – danilo.gomes@ufms.br
4
Professor da FAMEZ/UFMS ricardo.lemos@ufms.br

Resumo: O objetivo deste trabalho é relatar um caso de otite média e interna que progrediu
desenvolvendo meningoencefalite supurativa com sinais vestibulares. Ovino encontra em decúbito lateral
com sintomatologia neurológica, espasticidade dos membros torácicos, opstótono, nistagmo, mucosa
oculopalpebral congesta e opacidade bilateral de córnea não sendo responsiva ao reflexo de ameaça visual
(cegueira bilateral). A necropsia entre a meninge e o tecido nervoso há coleção de material purulento,
amarelado, do lado direito do cerebelo; próximo a raiz do nervo abducente há moderada acúmulo deste
mesmo material, do qual isolou-se Staphylococcus sp. Microscopicamente observou-se deposição de
neutrófilos íntegros e degenerados nas meninges, este infiltrado estende-se para o neurópilo, na porção do
lado direito do cerebelo. Na orelha há múltiplos focos de necrose caseosa circundados por infiltrado
inflamatório de neutrófilos íntegros e degenerado, linfócitos, macrófagos e células gigantes (abscesso). O
diagnóstico baseou-se na associação dos achados clínicos e anatomopatológicos compatíveis com
meningoencefalite secundária a otite média e interna.

Palavras-chave: Sistema nervoso, síndrome vestibular, Staphylococcus sp.

MEDIA AND INTERNAL OTITIS ASSOCIATED WITH SUPPURATIVE


MENINGOENCEPHALITIS IN SHEEP - CASE REPORT

Abstract: This study aims to report a case of otitis middle and inner que progressed developing
suppurative meningoencephalitis with vestibular signs. Sheep is in the lateral position with Neurological
symptoms, spasticity Member chest, opstótono, nystagmus, oculopalpebral mucosa congested and
bilateral corneal opacity not being responsive When Reflection of visual Threat (bilateral blindness).
Autopsy between the meninges and nervous tissue there purulent material Collection, yellowish, the
cerebellum right side; Near the nerve root abducente there Moderate accumulation same this material, do
qua isolated Staphylococcus sp. Microscopically observed deposition of intact neutrophils and
degenerates of the meninges, the infiltration extends FOR neuropil in the cerebellum right. In ear for
multiple caseous necrotic foci surrounded FOR inflammatory infiltrate of intact and degenerated
neutrophils, lymphocytes, macrophages and giant cells (abscess). The diagnosis was based on the
association of clinical and pathological FINDINGS compatible with Secondary meningoencephalitis otitis
middle and inner.

Keywords: Nervous system, vestibular syndrome, Staphylococcus sp.

Introdução
Há quatro vias para os agentes infecciosos atingem o SNC, por disseminação hematógena, por
extensão de lesões de estruturas adjacentes, por lesões penetrantes ou cirúrgicas ou por migração
retrograda através dos nervos periféricos. A via hematógena é a mais importante pelo meio da qual os
êmbolos bacterianos de diferentes partes do organismo podem se disseminar e SNC (Fernandez et al.,
2007). Meningites e meningoencefalites neutrofílicas são mais comuns em animais neonatos a jovens pois
a barreira hematoencefálica e licorencefálica é mais frágil predispondo maior resposta nervosa por
injúrias sistêmicas (Machado, 2006). Em animais adultos meningites primariamente bacterianas são raras
com exceção de infecção por Listeria sp. ou Histophilus somni, sendo este último mais comum em
bovinos (Radotits, 2007).

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O sistema vestibular é um sistema essencialmente sensorial responsável pelo equilíbrio,


manutenção da posição dos olhos, pescoço e membros em relação ao posicionamento da cabeça (De
Lahunta & Glass, 2009). Injúrias ao sistema vestibular desenvolvem-se em síndromes que podem ser
classificadas em periféricas e centrais, que cursam com quadro clínico característico que os animais
apresentam head tilt, nistagmo, ataxia assimétrica andar em círculos e variáveis graus de paralisia facial.
(Njaa & Wilcook, 2012).
Otite é um processo inflamatório na orelha classificado em otite externa, média e interna. A otite
externa é mais relatada em cães e gatos, ocorrendo também em grandes animais, porém com menor
observação clínica (Radostits, 2007). Otite média é um processo inflamatório da cavidade timpânica,
maior causa é bacteriana, podendo ocorrer mais comumente por ascendência da tuba de auditiva ou
secundária a otite externa crônica, causa mais comum em cães e gatos.A otite interna é resultada de
infecção primaria da orelha média. A do processo infeccioso ascensão através do oitavo par de nervo
craniano e relativamente frequente ocasiona meningite supurativa ou focalmente extensa na região do
tronco encefálico. Otite média e interna são as causas mais comuns de síndrome vestibular periférica,
quando a infecção progride atingindo os núcleos vestibulares do tronco encefálico desenvolve a síndrome
central. (Njaa & Wilcook, 2012). O objetivo deste trabalho é relatar um caso de otite média e interna que
progrediu desenvolvendo meningoencefalite supurativa com sinais vestibulares.

Material e Métodos
Em dezembro de 2014 foi recebida uma ovelha pelo laboratório de Anatomia Patológica da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UFMS, o histórico foi obtido através de entrevista com
o veterinário responsável pela propriedade. Animal foi submetido a exame físico e posteriormente
indicada a eutanásia.

Resultados e Discussão
Exame físico de um ovino, fêmea, 6 anos oriundo de um confinamento localizado no município de
Campo Grande, segundo veterinário responsável animal apresentava cegueira bilateral e era produto
compra e estava na propriedade há 30 dias. Foi encontrada em decúbito lateral com sintomatologia
neurológica, foi realizado tratamento com corticoide sem resposta. Animal encontra-se em decúbito
lateral direito, espasticidade dos membros torácicos, opstótono, nistagmo, mucosa oculopalpebral
congesta e opacidade bilateral de córnea não sendo responsiva ao reflexo de ameaça visual (cegueira
bilateral).
Na necropsia no exame externo observou-se que o animal apresentava escoriações em função do
decúbito, a mucosa ocular congesta, mais acentuadamente no olho direito e ausência da orelha direita
havendo no local há cicatriz de sutura que oclui o canal auditivo. Ao rebater a calota craniana, entre a
meninge e o tecido nervoso há coleção de material purulento, amarelado, do lado direito do cerebelo;
próximo a raiz do nervo abducente há moderada acúmulo deste mesmo material. Na região petrosa do
osso temporal, seguindo até o meato acústico interno e orelha média secreção purulenta de coloração
amarelo esverdeada, na orelha também se observa formação de abscessos. Há opacidade e espessamento
moderado das meninges, sendo mais evidente em tronco encefálico e cerebelo, além disto observa-se
ingurgitamento dos casos das leptomeninges. O exsudato das lesões da orelha e das meninges foi coletado
com swab (meio Stuart estéril para transporte) e encaminhadas ao Laboratório de Bacteriologia da
FAMEZ/UFMS, onde foram semeadas em meios enriquecidos para cultivo bacteriano, no qual foi isolado
Staphylococcus sp.
Microscopicamente observou-se deposição de neutrófilos íntegros e degenerados nas meninges,
este infiltrado estende-se para o neurópilo, na porção do lado direito do cerebelo há em um dos
fragmentos observa-se nas meninges acentuado infiltrado inflamatório composto predominantemente por
neutrófilos íntegros e degenerados, deposição de fibrina e proliferação de vasos. No parênquima adjacente
há necrose da substância cinzenta e reação vascular. Na orelha há múltiplos focos de necrose caseosa
circundados por infiltrado inflamatório de neutrófilos íntegros e degenerado, linfócitos, macrófagos e
células gigantes (abscesso). Acima deste tecido há moderada deposição de tecido fibrovascular formando
uma cápsula. Também há estruturas fortemente basofílicas compatíveis com colônias bacterianas.
O diagnóstico baseou-se na associação dos achados clínicos e anatomopatológicos compatíveis
com meningoencefalite secundária a otite média e interna. Em animais adultos meningites primariamente
bacterianas são raras, neste relato trata-se de uma meningite secundária a processos infecciosos de
estruturas adjacentes ao sistema nervoso como descrito por Fernandez (2007). Os sinais clínicos são

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compatíveis com síndrome vestibular central (Radotits et al 2007), tendo porta de entrada para a infecção
foi o processo infeccioso na orelha média e interna que predispôs infecção por via ascendente através do
VII e VIII nervos cranianos do lado correspondente pois na necropsia observou-se secreção purulento no
local de imersão dos mesmos. Otites média e interna são as causas mais comuns de apresentação clínica
de síndrome vestibular periférica, e em casos mais graves da apresentação vestibular central (Njaa &
Wilcook, 2012), como ocorreu neste caso.
Doenças que cursam com sintomatologia neurológicas apresentam características histopatológicas
diferentes. Polioencefamalacia é o principal diferencial a partir da apresentação clínica, no entanto as
lesões histológicas não são compatíveis (Radostits et al.2007). Raiva, é uma doença rara em ovinos e o
apresenta infiltrado linfoplasmocítico, característico de processos virais (Maxie & Youssef, 2007).
Linteriose é uma doença característica histologicamente apresenta microabscessos no tronco encefálico
(Radostits et al., 2007). Tumores de sistema nervoso são raramente observados em animais de grande
porte (Maxie & Youssef, 2007). Coenurus cerebralis são facilmente visualizados na macroscopia e não
há relato de casos de cenurose no Mato Grosso Sul (Njaa & Wilcook, 2012). Estas doenças com mesmo
curso clínico foram descartadas pela observação das alterações compatíveis com processos bacterianos
confirmado pelo resultado positivo na cultura bacteriana. Staphylococcus sp está entre as bactérias mais
comuns em meningites bacterianas secundárias e entre otites com secreção purulenta em animais de
grande porte (Radostits et al., 2007).

Conclusões
O exame físico adequado é essencial para diferenciar tipos de síndromes vestibulares, neste caso a
macroscopia foi essencial para a elaboração do diagnóstico. Casos clínicos semelhantes a este são de
baixa porem deve-se incluir como diagnóstico diferenciais das principais doenças com sintomatologia
nervosa em ovino.

Literatura Citada
De Lahunta A, Glass E. 2009. Veterinary Neuroanatomy and clinical neurology. 3.ed. Missouri:
Elsevier, 540p.
Fernandez C. Meningite bacteriana. 2007. In: Riet-Correa F., Schild A.L., Lemos R.A.A. & Borges J.R.J.
(ed.), Doenças de ruminantes e equídeos. 3ª ed. Vol. 1. Pallotti, Santa Maria. 694p.
Marcolongo-Pereira C., Sallis E.S.V., Grecco F.B., Raffi, M.B., Soares, M.P. & Schild A.L. 2011. Raiva
em bovinos na Região Sul do Rio Grande do Sul: epidemiologia e diagnóstico imuno-histoquímico.
Pesquisa Veteterinária Brasileira v.31, n.4 p.331-335.
Maxie, M. G. & Youssef S. Nervous System. 2007. In: Maxie, M.G. (ed), Jubb, Kennedy and Palmer´s
Pathology of Domestic Animals. Philadelphia, USA. Editora Elsevier, 5th ed, v.1 p 283-455.
Njaa. B.L & Willcook B.P The Ear and Eye. In: Zachary, J.F. & McGavin, M.D. Pathologic Basis of
Veterinay Disease. 2012. Missouri, Editora Elsevier. p.1194-1243.
Radostits O.M., Gay C.C., Hinchcliff K.W. & Constable P.D. 2007. Veterinary Medicine: A textbook of
the diseases of cattle, horses, sheep, pigs, and goats. 10th ed. Saunders Elsevier, Edinburgh, p.2156.

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INTOXICAÇÃO ESPONTÂNEA EM POTROS POR SENNA SP. EM PROPRIEDADE NO


MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE-MS

Marcos Antônio da Silva Souza¹ Zelina dos Santos Freire², Valcire Guimarães Nogueira¹, Luiz Carlos
Bárbaro Lescano¹, Dayane Rodrigues de Morais¹, Flávia Barbieri Bacha³

¹Acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Grande Dourados/UNIGRAN e-mail:


marcos_co93@hotmail.com,valcir7q@hotmail.com, luizcarloslescano@hotmail.com, day_rodrigues95@hotmail.com
²Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS e-mail: zelinafreire@hotmail.com
³Docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Grande Dourados/UNIGRAN e-mail:
flaviabacha@hotmail.com

Resumo: Senna occidentalis e Senna obtusifolia são plantas importantes no Brasil por causarem
degeneração e necrose muscular em bovinos, equinos e suínos. Neste trabalho é apresentado um relato de
caso de intoxicação por Senna sp. em dois potros de seis meses de idade, pelagem alazã, raça quarto de
milha, que adoeceram e vieram a óbito um dia após apresentar os sinais clínicos. Na propriedade havia
presença de fedegoso e vestígios de que os animais a consumiram. As lesões macroscópicas foram áreas
pálidas na musculatura, urina levemente escura e fígado com aspecto de noz moscada. Na microscopia
havia necrose e degeneração muscular e no fígado degeneração vacuolar com necrose dos hepatócitos. De
acordo com os achados epidemiológicos clínicos e patológicos, o diagnóstico foi de intoxicação por
Senna sp. Deve-se evitar o contato dos animais com pastos infestados por essa planta toxica, fornecer
feno de qualidade e ter muito cuidado ao formar pastagens em locais onde anteriormente foi lavoura.

Palavras chave: Equino, fedegoso, planta tóxica

SPONTANEOUS POISONING IN COLTS FOR SENNA SP. PROPERTY IN THE FIELD OF


CAMPO GRANDE -MS

Abstract: Senna obtusifolia and Senna occidentalis are important plants in Brazil to cause degeneration
and muscle necrosis in horses and pigs cattle. this work was presented a poison case report by Senna sp.
in two foals from 6 months old, alazã coat, quarter mile race, became ill and died came one day after
presenting clinical signs. On the property there was presence of fedegoso and traces of the animals
consumed. Gross lesions outside pale areas in muscles, slightly dark urine and liver with nutmeg
appearance. In microscopy showed necrosis and degeneration of muscle and liver vacuolar degeneration
of hepatocytes with necrosis. According to the clinical and pathological findings epidemiological
diagnosis was poisoning Senna sp. Should avoid contact with animals infested pastures by this plant,
providing quality hay and be very careful when forming pastures in places where previously was farming.

Keywords: horse, fedegoso, toxic plant.

Introdução
Senna occidentalis e Senna obtusifolia, conhecidas como fedegoso, são importantes causas de
miopatias no Brasil em bovinos, equinos e suínos. Os dois gêneros possuem quadros semelhantes de
intoxicação (Tokarnia et al., 2012). São encontrados em pastagens, solos férteis e ao longo de estradas
(Riet-Correa et al., 2007).
Os animais comem fedegoso quando o mesmo está misturado ao feno, ou suas sementes
misturadas na ração, ou na pastagem em meses de inverno e outono (Tokarnia, 2012). Barros et al.,
(1999), descreveram três surtos de intoxicação por S. occidentalis em bovinos, com curso clínico de 2 a 5
dias, que ocorreram entre abril e junho, em pastos onde anteriormente eram lavouras.
Os sinais clínicos em equinos e bovinos mais observados são apatia, tremores musculares,
incoordenação motora, andar cambaleante, taquicardia, taquipnéia, sudorese, decúbito e morte (Irigoyen,
Graça & Barros, 1991; Barros et al., 1999;). Em bovinos também é observado diarreia (Carvalho et al.,
2014). Barros, (2010) cita que os equinos são mais sensíveis à intoxicação por fedegoso do que os
bovinos.
Os achados de necropsia mais importantes são áreas pálidas na musculatura e fígado tumefeito
com cor de noz moscada. Na microscopia, degeneração e necrose hialina e flocular das miofibras
esqueléticas e, no fígado, vacuolização difusa e necrose dos hepatócitos são observados. Em equinos as

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lesões hepáticas são mais acentuadas do que as musculares (Barros et al., 1999; Barros, 2010; Carvalho et
al., 2014).
Este trabalho tem como objetivo apresentar um relato de caso de intoxicação espontânea por Senna
sp. em dois potros no Estado de Mato Grosso do Sul.

Material e Métodos
Em uma propriedade localizada no município de Campo Grande-MS, ocorreu um surto de
intoxicação onde dois equinos, de 6 meses de idade, pelagem alazã, raça quarto de milha, adoeceram e
vieram a óbito naturalmente. O curso clínico foi de aproximadamente 24 horas. Foi realizado tratamento
suporte com Flunixina Meglumina e antibióticos, porém sem sucesso.
Os animais estavam localizados em piquetes diferentes. Eram suplementados, não vacinados e
everminados. Na propriedade havia relato da presença de Senna sp. (Fedegoso) na qual havia vestígios de
ingestão pelos animais. Foi realizada a necropsia e todos os órgãos foram coletados e fixados em formol
a 10% e posteriormente processados e corados com HE.

Resultados e Discussão
Os animais apresentaram depressão, tremores musculares, ataxia, sudorese, respiração ofegante,
taquicardia, decúbito e no outro dia amanheceram mortos. Os achados macroscópicos encontrados foram
áreas pálidas nas grandes massas de musculatura esquelética, principalmente nos membros posteriores,
simétricas e intercaladas com áreas normais. Fígado com aspecto de noz moscada, e bexiga repleta com
urina levemente amarronzada.
Os sinais clínicos de depressão, tremores musculares, ataxia, sudorese, respiração ofegante,
taquicardia, decúbito e morte desse trabalho já foram observados por outro autor em uma reprodução
experimental de intoxicação por S. occidentalis em equinos, como também o fígado com aspecto de noz
moscada. (Irigoyen, Graça & Barros, 1991) . Apesar de ter sido relatado no trabalho urina escura e áreas
pálidas na musculatura, a literatura descreve que equinos não apresentam mioglobinuria (Barros, 2011) e
a lesão de musculatura não é visível na macroscopia nessa espécie (Riet-Correa, 2007).
Microscopicamente foram observadas degeneração e necrose acentuada das miofibras, tumefação
celular e infiltrado inflamatório moderado em endomísio e perimísio, no fígado necrose acentuada
centrolobular e periportal, degeneração vacuolar de hepatócitos e discretos infiltrados inflamatórios.
Barros, (2010) descreve lesões histopatológicas semelhantes no fígado de equinos intoxicados com
fedegoso. Lesões semelhantes nos músculos como necrose das miofiras, tumefação celular e infiltrado
inflamatório neutrofílico foi descrito por Carvalho, (2014), em uma intoxicação espontânea em bovinos
por Senna obtusifolia.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com outras enfermidades que cursam com lesões
musculares como deficiência de vitamina E e selênio, intoxicação por antibióticos ionóforos e
rabdomiólise, e ainda clinicamente diferenciar de afecções primárias do sistema nervoso central ou
periféricas como botulismo, e doenças que cursam com mioglobinúria, como babesiose ou leptospirose
(Barros, 2010;Tokarnia et al., 2012).

Conclusões
De acordo com os achados epidemiológicos, clínicos e patológicos, o diagnóstico consistiu em
intoxicação por Senna sp, planta tóxica conhecida popularmente como fedegoso. A intoxicação por
fedegoso em cavalos causa lesão hepática mais acentuada quando comparada com a lesão muscular. Esta
miopatia não tem tratamento. Deve-se evitar que os animais pastem em áreas com grandes concentrações
dessa planta, fornecer feno de qualidade e cuidar ao introduzir animais em pastagens que anteriormente
foi constituída de lavoura.

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Literatura Citada
BARROS C.S.L. Sistema Muscular, p.697-746. In: Santos R.L. & Alessi A.C. (Eds), Patologia
Veterinária. Roca: São Paulo, 2010.
BARROS C.S.L., ILHA M.R.S., BEZERRA JR. P.S., LANGHOR I.M. E KOMMERS G.D. Intoxicação
por Senna occidentalis (Leg. Caesalpinoideae) em bovinos em pastoreio. Pesquisa Veterinária
Brasileira, v.19, n.2, p.68-70 1999
CARVALHO A.Q., CARVALHO N.M., VIEIRA, G.P et al. Intoxicação espontânea por Senna
obtusifolia em bovinos no Pantanal Sul-Mato-grossense. Pesquisa Veterinária Brasileira v.34, n.2,
p.147-152, 2014.
IRIGOYEN, L.F.; GRAÇA, D.L.; E BARROS, C.S.L. Intoxicação experimental por Cássia occidentalis
(Leg. Cães) em equinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.11, n.1/2, p. 35-44, 1991.
RIET-CORREA, F. SCHILD, A. L.; LEMOS et al. Doenças de Ruminantes e Equídeos. Vol.2, 3ª ed.
Fernovi: Santa Maria RS, 2007 p. 159.
TOKARNIA, C. H.; BRITO M. F.; BARBOSA, J. D et al Plantas tóxicas do Brasil: para animais de
produção. 2ª ed. Helianthus: Rio de Janeiro, 2012 p566

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LEVANTAMENTO DE DIAGNÓSTICOS CLÍNICOS E INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS EM


GRANDES ANIMAIS ATENDIDOS PELA DISCIPLINA DE CLÍNICA MÉDICA E
TERAPÊUTICA DE EQUINOS, NO PERÍODO DE FEVEREIRO A JUNHO DE 2015

Éliti Valero Fiorin1, Rodrigo Madruga da Silva2, Valdemir Alves de Oliveira3


1
Aluna do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: elitifiorin@hotmail.com
2
Residente em Clínica Médica e Cirúrgica de Grandes Animais FAMEZ/UFMS. E-mail: madruga_vet@hotmail.com
3
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: valdemir.oliveira@ufms.br

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo catalogar a casuística no setor de Clínica Médica e
Terapêutica de Equinos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ), Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O levantamento de dados foi gerado a partir de diagnósticos e
procedimentos cirúrgicos feitos em aulas práticas entre fevereiro e junho de 2015, totalizando 93 casos.
Os bovinos apresentaram maior quantidade entre as espécies atendidas, evidenciando a utilidade de
instituir manejos profiláticos e sanitários pelo Médico Veterinário.

Palavras-chave: casos clínicos, cirurgia, hospital veterinário

SURVEY OF CLINICAL DIAGNOSES AND SURGICAL INTERVENTION IN LARGE


ANIMALS ATTENDED IN CLINICAL AND MEDICAL TREATMENT OF HORSES CLASSES,
PERIOD FROM JANUARY TO JUNE OF 2015

Abstract: This study aimed to catalog the casuistic on Large Animal Medical and Surgical Clinic,
department of Veterinary Medicine and Zootechny College (FAMEZ), Federal University of Mato Grosso
do Sul (UFMS). The survey data was generated from diagnostic and surgical procedures done in practical
lessons between february and june 2015, totaling 93 cases. Cattle showed higher morbidity among the
species attended, demonstrating the utility of establishing prophylactic and sanitarian managements by
veterinarian.

Keywords: clinical cases, surgery, veterinary hospital

Introdução
O Mato Grosso do Sul é conceituado como berço da pecuária, setor econômico que exerce
relevância em exportações, além de abastecer o mercado brasileiro. Em 2013, o agronegócio produziu
mais de oito milhões de toneladas de carcaças e 34 bilhões de litros de leite, de acordo com a Pesquisa
Pecuária Municipal (PPM) realizada pelo IBGE, sendo que 33.6% desses animais estão no centro-oeste,
integrando a região com maior porcentagem de rebanho brasileiro, segundo a Embrapa (2015). No
trabalho diário das atividades agropecuárias, os equídeos são requeridos principalmente para manejar o
gado bovino, mas a expansão da equideocultura é sinalizada por eventos esportivos, lazer e terapia.
Diante desse cenário, o suporte do Médico Veterinário torna-se indispensável.
Este trabalho visa registrar a casuística no setor de Clínica Médica e Terapêutica de Equídeos da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS).

Material e Métodos
Foi realizado um levantamento dos registros das intervenções clínicas e cirúrgicas do setor, a partir
de aulas práticas, durante quatro meses - fevereiro a junho de 2015 - em Campo Grande e municípios
próximos, estado de Mato Grosso do Sul.
As variáveis consideradas foram: espécies bovina, equina e suína, afecções clínicas e
procedimentos cirúrgicos.

Resultados e Discussão
Durante o período estudado foram atendidos 93 casos, 57 deles em bovinos (32 clínicos e 25
cirúrgicos), 32 em equinos (8 clínicos e 25 cirúrgicos) e 4 cirurgias em suínos (Tabela 1).

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Tabela 1. Atendimentos clínicos e cirúrgicos e os respectivos números de casos de cada espécie


Espécie Casos clínicos/N° de casos Casos cirúrgicos/N° de casos
Bovina Postite granulomatosa (06) Amputação de falanges (07)
Salmonelose em bezerros (05) Postoplastia (06)
Tristeza parasitária bovina (04) Desvio lateral de pênis e prepúcio (04)
Pododermatite verrucosa (03) Amputação de chifres (03)
Carcinoma de base de chifre (02) Caudectomia (01)
Deslocamento de patela (02) Ressecção de melanoma (01)
Catarata congênita (01) Ressecção de carcinoma (01)
Indigestão vagal (01) Desmotomia do patelar medial (01)
Pontas dentárias (01)
Melanoma (01)
Carcinoma de pele (01)
Leptospirose (01)
Mumificação fetal (01)
Retenção de placenta (01)
Compressão de nervo obturador (01)
Schwannoma (01)
Equina Sarcóide equino (01) Orquiectomia (18)
Periostite crônica (01) Ressecção de neoplasia cutânea (01)
Osteoartrose társica (01) Ostectomia parcial (01)
Osteodistrofia fibrosa (01) Penectomia parcial (01)
Carcinoma epidermóide de glande (01) Herniorrafia (01)
Hérnia umbilical em potra (01) Miectomia e miotomia de flexores (01)
Deformidade flexural (01) Laparotomia com cecostomia (01)
Eventração em equino (01)
Suína Ovariectomia (02)
Orquiectomia (02)

Entre os atendimentos clínicos efetuados em bovinos, observou-se maior casuística de postite


granulomatosa (18%), salmonelose em bezerros (15%) e tristeza parasitária bovina (12%).
A acrobustite é um processo inflamatório crônico do prepúcio, com lesão e aumento de volume,
podendo estar associada a balanite. O prolapso da mucosa prepucial e consequente traumatismo
constituem sua principal causa e geralmente os touros com bainha prepucial pendulosa são os mais
acometidos (Deriveaux, 1967). Os achados do presente trabalho corroboram com Rabelo et al. (2011):
indiscutivelmente, a postite granulomatosa apresenta-se como uma das enfermidades que acometem a
genitália externa do macho bovino de maior interesse na clínica cirúrgica de grandes animais.
As intervenções cirúrgicas de maior ocorrência foram de amputação de falanges (28%),
postoplastia (24%) e desvio lateral de pênis e prepúcio (16%).
Entre os equinos atendidos, a intervenção cirúrgica prevaleceu (75%), sendo a orquiectomia o
procedimento realizado com maior frequência (75%). A orquiectomia bilateral nos equinos tem a
finalidade de conferir maior docilidade e favorecer o convívio em grupo e o manejo. Silva et al. (2006)
afirma que é um dos procedimentos cirúrgicos mais comumente realizados em equinos e apesar de ser
considerada uma cirurgia simples e rotineira, o potencial para complicações é alto.
Os suínos corresponderam a somente 4,3% da casuística total (Figura 1).

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Figura 1. Comparação entre abordagens clínicas e cirúrgicas nas espécies atendidas.

Conclusões
Tratando-se de um hospital escola, o presente banco de dados referente aos atendimentos revela as
enfermidades em que os rebanhos da região estão inseridos, possibilitando cuidados profiláticos e
sanitários.

Literatura Citada
DERIVEAUX, J. Fisiopatologia de la reproducción e inseminação artificial de los animales
domésticos. Zaragoza: Acribia, 1967. 416p.
DICHOFF, N. [2015]. Os rumos das inovações em pecuária no MS. Disponível em:
<https://www.embrapa.br/web/portal/busca-de-noticias/-/noticia/2887660/os-rumos-das-inovacoes-em-
pecuaria-no-ms> Acesso em: 19/10/2015.
RABELO, E.R. Aspectos morfofuncionais, clínicos e cirúrgicos do pênis, prepúcio e testículos de
touros. Goiânia: Kelps, 2011. 212p.
SILVA, L.A.F.; FRANÇA, R.O.; VIEIRA, D. et al. Emprego da abraçadeira de náilon na orquiectomia
em equinos. Acta Scientiae Veterinariae, v. 34, p. 261-266, 2006.

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AVALIAÇÃO DA ADIÇÃO DE AMILASE E XILANASE EM RAÇÕES DE SUÍNOS

Amanda Marques Kai¹, Patricia Oliveira da Silva2, Giovana Cristina Giannesi3, Fabiana Fonseca Zanoelo3

¹Aluna do Curso de Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS, E-mail: amandamqkai@gmail.com


2
Mestranda do Curso de Biologia CCBS/UFMS, E-mail: patriciaoliveira.pos@gmail.com
3
Professora do CCBS/UFMS, E-mail: giannesigiovana@hotmail.com
3
Professora do CCBS/UFMS, E-mail: ffzanoelo@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo avaliar a atividade das enzimas amilase e xilanase em
rações destinadas a suínos, a fim de determinar seus desempenhos em determinados pHs. Os pHs mais
ácidos limitam a atividade da enzima, porém, os resultados mostram que apesar disso, a adição do
complexo amilase e xilanase reflete no aumento de até cinco vezes da conversão do substrato quando
comparada a nenhuma adição enzimática. As enzimas exógenas complementam as endógenas do animal,
principalmente em leitões por apresentarem o sistema enzimático imaturo, e desempenham funções
daquelas que o animal não é capaz por não sintetiza-la, resultando no melhor aproveitamento dos
nutrientes das rações e consequentemente conferindo aos suínos uma melhor conversão alimentar.

Palavras chave: amilase, enzima, suíno, xilanase

EVALUATION OF THE ADDITION OF AMYLASE AND XYLANASE’S IN SWINE FEED

Abstract: The current research had as objective to evaluate the enzyme activities amylase and xylanase in
feed destined to swines, in order to determinate its results in certains pHs. The most acid pHs limit the
enzyme’s activity, however, the results show that despite this, the addition of the amylase and xylanase
complex reflects on the increasing in the extent of five times the conversion of the substrate when
compared to no enzyme addition. The exogenous enzymes complement the animal’s endogenous, mainly
in piglets, as they have immature enzymatic system, and execute functions which the animal cannot
synthesize, resulting in better utilization of the feed nutrients and thereafter giving the piglets better food
conversion.

Keywords: amylase, enzyme, swine, xylanase

Introdução
A utilização de aditivos enzimáticos na indústria alimentícia vem sendo mais bem empregado em
decorrência da globalização e a necessidade de aumentar a eficiência no que se diz produção animal.
Embora tais aditivos não possuam função nutricional direta, estes contribuem para o processo digestivo
de forma que melhoram a digestibilidade dos nutrientes contidos na dieta, neutralizam alguns fatores
antinutricionais e diminuem a poluição ambiental causada por conteúdo nutritivo nas excretas (Guenter
2002).
Dentre os aditivos mais utilizados, destacam-se as enzimas, que são substâncias orgânicas de
natureza proteica que catalisam uma reação química, o qual sem sua presença ocorreria com dificuldade
(Champe & Harvery, 1989). Podem ser produzidas por fungos filamentosos utilizando-se resíduos
agroindustriais como fonte de carbono. Tais enzimas, quando adicionadas às rações animais tem como
propósito melhorar seu desempenho aumentando a absorção desses nutrientes. Normalmente, as enzimas
são adicionadas de forma a complementar as próprias enzimas digestórias endógenas dos animais, como
no caso proteases, amilases e fitases ou ainda aquelas que não são sintetizadas pelos animais (β-
glucanases, pentosanas, e α-galactosidases).
No caso dos suínos, eles possuem uma quantidade de enzimas endógenas insuficiente para atuar
sobre todo o substrato, sendo necessária a suplementação das enzimas exógenas, que são capazes de
aumentar a disponibilidade de polissacarídeos de reserva, gorduras e proteínas protegidas da atividade
digestória (Campestrine et al., 2005). Assim, elas intensificam o aproveitamento da dieta, principalmente
nas primeiras semanas de idade, pois o sistema enzimático do animal é imaturo.
O suíno é um monogástrico onívoro de estômago simples, onde as secreções enzimáticas dos
animais jovens em relação aos adultos diferem em concentração e atividade, assim como o pH estomacal.
Com a idade, ocorre a evolução do sistema enzimático (Cunningham, 2004), tal como a acidez do
estomago, que passa de 2 a 3,5 quando leitão (Campestrine et al., 2005) para 1,7 a 2 após períodos de

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ingesta de alimentos mais sólidos, demandando uma nova formulação na dieta. A desmama caracteriza-se
por ser a fase mais importante em consequência da necessidade de readaptação alimentar, pois o animal
sairá da dieta liquida e receberá uma quantia maior de nutrientes. Por isso, as dietas das fases iniciais
devem ser de fácil digestão e ricas em nutrientes, respeitando a evolução gradativa da secreção de
enzimas. Posteriormente, na fase de terminação, salientando o período que antecede a saída do animal
para o abate, concentra o maior consumo de ração, representando 25% da alimentação durante a vida do
animal (Meincke., 2010).
A alimentação é o componente de maior participação no custo de produção das suinoculturas,
sendo primordial o uso da formulação certa para não ocorrerem perdas econômicas. Partindo da premissa
de que o amido possua elevado conteúdo energético e de que os suínos, assim como todos os
monogástricos, não são capazes de sintetizar a amilase em quantidade suficiente, torna-se importante
avaliar a adição dessas enzimas (amilases) como outras carboidrases (xilanases) na ração de suínos para
leitão e em fase de terminação. Conforme, descrito até o momento o objetivo deste trabalho foi avaliar a
adição de enzimas na ração de suínos leitão e fase de terminação em diferentes pHs.

Material e Métodos
Os fungos Aspergillus japonicus e Neurospora crassa foram utilizados para a produção das
enzimas xilanase e amilase, respectivamente. Os fungos foram crescidos em meio líquido SR
suplementado com 1% de amido para a produção de amilase ou 1% de farelo de trigo para a produção de
xilanase. O material foi incubado em estufa a 30°C por um período de 120h. Culturas obtidas dos meios
utilizados foram filtradas a vácuo em funil de Büchner, obtendo-se um filtrado livre de células e um
micélio. O filtrado foi utilizado para a determinação das atividades enzimáticas extracelulares.
A determinação da atividade das enzimas foi realizada através da reação com ácido 3’, 5’
dinitrosalicílico (DNS), descrito por Miller (1959), utilizando-se xilana ou amido 1% como substrato. A
Unidade de Atividade Enzimática foi definida como a quantidade de enzima capaz de liberar 1 μmol de
açúcar redutor por minuto nas condições de ensaio.
Essas enzimas foram utilizadas como aditivos nas rações para suíno. Foram utilizadas 2 tipos de
ração para suínos: suíno leitão e suíno em terminação. Essas rações foram preparadas na Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ) da UFMS, e a composição centesimal e nutricional foi
estabelecida de acordo com as necessidades dos suínos leitões 1 a 14 dias após desmame, e suínos
machos castrados em fase de terminação. As rações foram lavadas com água destilada para a remoção do
açúcar redutor. Para essa lavagem 1g de ração e 5 ml de água destilada foram misturadas e agitadas em
vórtex, e posteriormente a mistura centrifugada por 10min a 5.000 rpm. A lavagem procedeu-se por seis
vezes, até que ocorresse a diminuição da quantidade de açúcar redutor liberado pela ração. Após as
lavagens procedeu-se a secagem á vácuo das rações sob 30°C.
Pesados 0,5 g das rações lavadas e secas foram adicionadas as amostras de enzima. Cada tipo de
ração foi tratada com 2 ml de xilanase, 2ml de amilase, ou uma mistura de 1ml de ambas. Foi tratado
ainda um controle com apenas 2 ml de água. A ração misturada com as enzimas ou a água foram
congeladas e liofilizadas. Ao material retirado do liofilizador foram então adicionados 4 ml de tampão
com diferentes pHs (2, 3 e 4 ) e levados ao banho maria a 30°C para avaliação da degradação promovida
pelas enzimas nos diferentes pHs. No tempo zero, com trinta minutos e uma hora de reação, alíquotas de
200 ul foram retiradas e adicionadas á 200 ul DNS, que foram posteriormente fervidas por 15 minutos e
adicionado 2 ml de água destilada, e centrifugadas por 10min. A leitura do açúcar redutor foi feita em
espectrofotômetro a 540nm.

Resultados e Discussão
As rações de suínos leitões em fase de lactação e em fase de terminação apresentam composições
nutricionais diferentes. Na fase de lactação os leitões estão adaptados para ingerir apenas os nutrientes do
leite, o que justifica a presença de uma grande quantidade da enzima lactase, responsável pela degradação
da lactose em açúcares facilmente assimiláveis pelo animal. A medida que o animal se desenvolve, a
quantidade dessa enzima diminui, e como consequência outras enzimas endógenas estarão presentes,
como as amilases. Isso justifica nas formulações o aumento na quantidade de carboidratos (amido e farelo
de soja) que passa de 54% de milho e 15% de farelo de trigo nas rações de leitões para 73,14% e 17,62%
nas de suínos adultos. Além disso, com a idade ocorre a evolução do sistema enzimático, tal como a
acidez do estomago, demandando uma nova formulação na dieta. Considerando que ambas as rações
apresentam milho (amido) e farelo de soja (hemicelulose) na sua composição, utilizamos as enzimas

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produzidas pelos fungos A. japonicus e Neurospora crassa como aditivos enzimáticos. As rações foram
incubadas com as enzimas em diferentes pHs (2.0-4.0), na tentativa de simular o pH estomacal do animal.
Os resultados das absorbâncias resultantes da adição das enzimas nos devidos pHs estão demonstrados na
Tabela 1.1 e 1.2.
Pode-se observar que ocorreu o aumento gradativo da atividade enzimática com o passar do tempo
em todas as misturas, sendo assim as enzimas amilase e xilanase capazes de converter o substrato. A
atividade da amilase, embora não muito discrepante da xilanase, foi relativamente maior em todos os pHs,
uma vez que as rações continham altas quantidades de amido. Os pHs 3 e 4 resultaram em melhores
conversões para as duas enzimas no tempo de uma hora, apresentando um desempenho superior de até
sete vezes em relação ao controle, caracterizado por nenhuma adição enzimática.

Tabela 1.1: Efeito da adição de enzimas na ração de suínos leitões


pH2 30 1h pH3 30 1h pH4 30 1h
min min min
controle 0,129 0,253 controle 0,117 0,071 controle 0,143 0,225
xilanase 0,515 0,860 xilanase 0,533 0,777 xilanase 0,546 0,881
amilase 0,526 0,625 amilase 0,745 0,991 amilase 0,888 1,450
xilanase e 0,508 0,759 xilanase e 0,843 1,099 xilanase e 0,947 1,535
amilase amilase amilase

Tabela 1.2: Efeito da adição de enzimas na ração de suínos de terminação


pH2 30 1h pH3 30 1h pH4 30 1h
min min min
controle 0,148 0,195 controle 0,157 0,182 controle 0,123 0,135
xilanase 0,128 0,483 xilanase 0,214 0,791 xilanase 0,403 0,689
amilase 0,498 0,630 amilase 0,630 1,013 amilase 0,929 1,542
xilanasa e 0,478 0,634 xilanase e 0,688 1,034 xilanase e 0,777 1,219
amilase amilase amilase

Pelo fato do estômago do suíno não atingir pH 4 em decorrência da sua fisiologia, ao ser ofertada a
ração com as enzimas, não é possível reproduzir os mesmos desempenhos de catálise da amilase e
xilanase apresentadas neste estudo, entretanto a aplicação delas continua a ser benéfica, pois a quebra do
substrato chega a ser em média cinco vezes mais elevada quando comparada ao controle.

Conclusões
O pH do estômago dos suínos exerce ação sobre o desempenho da amilase e xilanase no
organismo. Embora a fisiologia do animal não permita uma maior atividade das enzimas em função do
pH muito ácido, a suplementação da xilanase em animais que não são capazes de sintetizá-la, permite ao
animal a digestão de compostos antes não possíveis, gerando um superior aproveitamento dos nutrientes
da dieta. Ainda que os animais sejam dotados de sintetizar a amilase, a sua adição na ração complementa
a ação das enzimas endógenas, propiciando a elevada quebra do amido e potencializando o ganho
energético. A suplementação de amilase nos leitões ganha pleno mérito, pois eles não são capazes de
quebrar com efetividade o amido devido ao sistema enzimático imaturo.
Quanto mais cedo for feita a adição do complexo amilase e xilanase na ração dos suínos, maior
será o aproveitamento da ração ofertada e melhor será a conversão alimentar do animal, melhorando
assim, os índices zootécnicos e reduzindo a quantidade de nutrientes eliminados nas excretas.

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Literatura Citada
CAMPESTRINI, E.; SILVA, V.T.M.; APPELT, M.D. (2005). Utilização de enzimas na alimentação
animal. Revista Eletrônica Nutritime, v.2, n.6, 2005. Disponível em:
<http://nutritime.com.br/arquivos_internos/artigos/027V2N6P259_272_NOV2005.pdf.> Acesso em:
01/11/2015
CHAMPE, P.C.; HARVEY, R.A. Enzimas. In: Bioquimica Ilustrada. 2.ed. São Paulo: Artes médicas,
1989. 446p. p53-66.
CUNNINGHAM, J.G. Tratado de fisiologia veterinária. 3.ed. Brasil: Guanabara Koogan, 2004. p. 284-
285.
GUENTER, W. Pratical experience with the use of enzymes. In: MARQUARDT, R.R.; HAN, Z. (Ed).
Enzymes in Poultry and Swine Nutrition. Ottawa: International Development Research Centre, 1997.
p.53-60.
MILLER G. L. Use of dinitrosalicylic acid reagent for determination of reducing sugar. Analytical
Chemistry, v. 31, p. 426, 1959.

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DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA CISTICERCOSE BOVINA EM AMOSTRAS DE UM


FRIGORÍFICO EM CAMPO GRANDE - MS

Tamires Lima de Oliveira¹, Jessica Teles Echeverria², Renata Cunha Madureira 3, Herbert Patric
Kellermann Cleveland4, Catarina Greff Meignem5, Carlos Alberto do Nascimento Ramos6, Fernando de
Almeida Borges7

¹Aluna do curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. Email: tamiires_liima@hotmail.com


² Aluna do curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. Email: Jessica_teles18@hotmail.com
³
Fiscal Federal Agropecuária
4
Técnico do laboratório de Biologia Molecular da FAMEZ/UFMS
5
Residente na área de Medicina Veterinária Preventiva da FAMEZ/UFMS
6
Professor da FAMEZ/UFMS. Email:carlosanramos@yahoo.com.br
7
Professor da FAMEZ/UFMS. Email: borgesvet@hotmail.com

Resumo: A cisticercose bovina é responsável por grandes prejuízos econômicos no Brasil em virtude do
caráter zoonótico e deságio sofrido nas carcaças afetadas pela parasitose. Nos abatedouros fiscalizados
pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), o diagnóstico da cisticercose bovina é feito pela visualização
macroscópica de cisticercos em determinadas regiões da carcaça bovina. Porém, a detecção visual do
parasita pode acarretar em possíveis erros de diagnóstico e para minimizar tais falhas são necessárias
ferramentas de diagnósticos mais sensíveis. Diante disso, objetivou-se avaliar o diagnóstico presuntivo de
cisticercose pelo SIF em um frigorifico de Campo Grande-MS. No presente estudo, foram analisadas 78
amostras classificadas como calcificadas (n=61) e viáveis (n=17) pelo SIF e que posteriormente foram
submetidas à técnica de PCR. Dentre as amostras calcificadas (n=61), 56 (91,80%) apresentaram
resultado negativo e cinco (8,196%) destas foram positivas para Taenia saginata. As 17 amostras
classificadas como cisticercos viáveis pelo SIF apresentaram 100% de concordância com os resultados
obtidos no diagnóstico molecular. Os resultados positivos confirmam o diagnostico macroscópico feito
pelo SIF, porém as amostras calcificadas com resultado negativo não puderam ser confirmadas como
sendo provenientes de T. saginata.

Palavras-chave: cysticercus bovis, biologia molecular, DNA, parasitologia veterinária

MOLECULAR DIAGNOSIS OF BOVINE CYSTICERCOSIS I SAMPLES FROM A FRIDGES


IN CAMPO GRANDE - MS

Abstract: Bovine cysticercosis is responsible for great economic losses in Brazil because of zoonotic and
negative goodwill suffered at the carcasses affected by parasites. In slaughterhouses inspected by the
Federal Inspection Service (SIF), the diagnosis of bovine cysticercosis is made by macroscopic view of
cysticercosis in certain regions of the beef carcass. However, visual detection of the parasite can lead to
potential misdiagnosis and to minimize such flaws are necessary tools of more sensitive diagnostics. The
research objective was to evaluate the presumptive diagnosis of cysticercosis by SIF in a refrigerator of
Campo Grande-MS. In this study, 78 samples were analyzed classified as calcified (n = 61) and viable
(n=17) by SIF and were subsequently subjected to PCR. Among the calcified samples (n = 61), 56
(91.80%) were negative and five (8.196%) of these were positive for Taenia saginata. The 17 samples
classified as viable cysticerci by SIF showed 100% concordance with the results obtained in the
molecular diagnosis. The positive results confirm the macroscopic diagnosis made by the SIF, but the
calcified shown negative results could not be confirmed as being from T. saginata.

Keywords: bovis cysticercus, molecular biology, DNA, veterinary parasitology

Introdução
A cisticercose bovina é uma enfermidade causada pela forma larval da Taenia saginata, a qual
recebe o nome de Cysticercus bovis. O parasita pode ser encontrado nos músculos que exigem mais
irrigação sanguínea nos bovinos como masseter, coração, pilares do diafragma e língua (Lopes et al.,
2011).
A cisticercose bovina representa um importante problema de saúde pública, pois o homem adquire
a parasitose ao ingerir carne crua ou mal cozida que contenham metacestóides viáveis. A doença pode se
manifestar neste hospedeiro definitivo como teníase humana (Urquart et al., 1998). O homem acometido

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por T.saginata pode apresentar fortes dores abdominais, náuseas, debilidade, perda de peso, diarreia ou
constipação e em casos extremos de parasitismo é necessário intervenção cirúrgica devido a obstrução da
luz intestinal. Com relação a cisticercose humana, diversos autores relatam que a mesma não é causada
pela T. saginata, sendo originada apenas por T.solium.
Devido ao fato de os bovinos representarem uma importante fonte de infecção para a população
humana, o controle da cisticercose nos bovinos é necessário. Apesar do controle da parasitose ser
relativamente simples, a enfermidade ainda causa grandes prejuízos econômicos para o mercado de carne
brasileiro. Uma vez que nos frigoríficos inspecionados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), as
carcaças acometidas pelo metacestóide podem sofrer até 70% de deságio sobre o valor da arroba,
dependendo do grau de infestação e tipo de tratamento que a carcaça precisará para a inativação do
parasita. Além disso, segundo o RISPOA (Brasil, 1997), as carcaças que apresentam parasitismo intenso
são condenadas e o produtor não receberá nada pela mesma. Até mesmo as carcaças com lesões
consideradas calcificadas sofrem deságio, pois o tecido afetado e circunvizinho à lesão é condenado
acarretando em diminuição considerável do lucro obtido pelo produtor.
O diagnóstico da cisticercose bovina é baseado na analise macroscópica dos cisticercos pelo SIF e
este método por vezes é questionável, pois o poder infectivo das larvas de T. saginata depende do grau de
degeneração do cisticerco e esta inspeção é feita apenas em lugares específicos na carcaça. Alguns sítios
anatômicos como o fígado, esôfago e cortes como o miolo da paleta e filé mignon não entram na linha de
inspeção exigida pela legislação brasileira e por esse motivo podem ser subestimados, já que o parasita
também pode se instalar nestes e diversos outros locais (Lopes et al., 2011).
Diante da necessidade do aperfeiçoamento do diagnóstico da cisticercose pelo SIF, objetivou-se
comparar o diagnóstico macroscópico das lesões classificadas pelo SIF com o diagnóstico molecular
destas lesões pela técnica de PCR.

Material e Métodos
As amostras foram coletadas pelo SIF em um frigorifico localizado no município de Campo
Grande-MS no período de novembro a dezembro de 2014. Os cisticercos, vivos e calcificados, foram
assim classificados pelo Serviço de Inspeção Federal e totalizaram 78 amostras. Dentre as amostras
61(78,205%) foram caracterizadas como calcificadas e 17 (21,794%) como cisticercos vivos. Um dos
animais analisados no presente estudo teve a carcaça condenada à graxaria devido a intensa infestação por
C. bovis e foi usado como controle.
A extração de DNA foi realizada conforme o protocolo de Araújo et al. (2009), com adaptações
(previa incubação de 12 horas em proteinase K, 25ug/uL à 56ºC). Os primers e o protocolo de PCR
utilizados no presente trabalho, seguiram a metodologia utilizada por Yamasaki et al. (2004). Em seguida,
os produtos amplificados pela PCR foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a 1% e os
resultados visualizados em transiluminador UV e fotodocumentador GelDoc XR (BioRad).

Resultados e Discussão
Foram avaliadas 78 amostras, das quais 61 foram previamente classificadas pelo SIF como
calcificadas e 17 como vivas (Tabela 1). Constatou-se que todos os metacestódeos classificadas pelo
Serviço de Inspeção Federal (SIF) como vivos apresentaram resultado positivo na PCR, demonstrando
que a técnica possui 100% de sensibilidade para as lesões cisticercóticas vivas.
Dentre as 61 amostras calcificadas, 56 (91,80%) mostraram-se negativas pelo diagnóstico
molecular e cinco destas apresentaram resultado positivo para T.saginata (Figura 1). A PCR apresentou
8,19% de sensibilidade para os cisticercos calcificados.

Tabela 1. Resultados obtidos no diagnóstico molecular relacionados com o diagnóstico macroscópico de


cisticercose pelo SIF.
PCR Calcificado (SIF) Vivos (SIF) Total
Positivo 5 17 22
Negativo 56 0 56
61 17 78

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Os resultados obtidos no presente estudo corroboram com Jardim (2006) também observou maior
sensibilidade da técnica de PCR para os estágios classificados como vivos em relação às amostras tidas
como calcificadas pelo SIF.
Os resultados negativos para C. bovis levantam a hipótese de que a negatividade pode ser devido à
ausência de DNA do parasita ou as lesões cisticercóticas podem ser causadas por outros agentes. Porém, é
valido lembrar que o desenvolvimento do cisticerco no bovino ocorre em torno de 60 a 75 dias e a
degeneração em até nove meses. A calcificação é reação tecidual do hospedeiro diante da enfermidade e é
provável que nessa fase ocorra morte celular e a anulação do potencial zoonótico do cisticerco.
Já as amostras calcificadas apresentaram percentual de 8,196% de positividade para T.saginata
indicando que há presença de DNA em cisticercos calcificados, sugerindo que a degeneração do
cisticerco não tenha sido completa nas amostras avaliadas, portanto ainda pode apresentar caráter
zoonótico. No entanto, mais estudos são necessários para a comprovação de tal possibilidade.

Figura 1. Eletroforese em gel de agarose a 1% com produtos de PR resultantes da amplificação de 2µl de


DNA de amostras coletadas pelo SIF. Amostras calcificadas (71, 72, 73, 76 e 78) positivas para Taenia
saginata.

Conclusões
A técnica de PCR apresentou 100% de sensibilidade para o diagnóstico macroscópico feito pelo
SIF em cisticercos vivos. Porém, para as amostras consideradas calcificadas a PCR apresentou apenas
8,196% de sensibilidade. Isso sugere que o DNA da T. saginata ainda pode ser encontrado em amostras
tidas como calcificadas.
Diante do exposto, é importante a aplicação de ferramentas mais sensíveis de diagnóstico da
cisticercose bovina para que as medidas de controle tomadas tenham menor impacto econômico possível
à cadeia produtora. Entretanto, as amostras negativas precisarão ser avaliadas frente a outros patógenos
para que seja descartada tal possibilidade.

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Literatura Citada
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Lei 1283 de 18/12/1950, regulamento
pelo decreto 30691 de 20/03/1952 e alterado pelo decreto 1255 de 25/06/1952. Regulamento da
Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA). RIISPOA, 1997.
JARDIM, EA.G.V. Anatomo-histopatologia e PCR na identificação de cisticercos de bovinos.
Goiânia: Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, 2006. 96p. Tese (Doutorado em
Ciência Animal) – Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, 2006.
LOPES, W.D.Z.; SANTOS, T.R.; SOARES, V.E. et al. Preferential infection sites of Cysticercus bovis
in cattle experimentally infected with Taenia saginata eggs. Veterinary science. V. 90, p. 84-88, 2011.
SILVA A.C.; SILVEIRA, L.S.; SANTOS, A.S.O.; LEMOS, L.S. et al. Cisticercose (Cysticercus
cellulosae) canina generalizada. Ciência Animal Brasileira, v.5, n.4, p.195-198, 2004.
URQUHART G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN J.L. et al. Parasitologia Veterinária. 2 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara-koogan, 1998. p.150.
YAMASAKI, H.; ALLAN, J.C.; SATO, M.O. et al.; DNA differential of taeniasis and cysticercosis by
multiplex PCR. Journal of Clinical Microbiology, v.42, n.2, p. 548, 2004.

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CONSUMO DE LEITE EM CAMPO GRANDE, MS, SOB ENFOQUE DO HÁBITO DE


CONSUMO

Brenda Farias da Costa Leite1, Ricardo Carneiro Brumatti2, Leonardo Gomes Sitorski3, Naomi Kerkhoff
Gimenes4
1
Aluna do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PET. E-mail: brenda.farias2@hotmail.com
2
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: rbrumatti@gmail.com
3
Aluno do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. E-mail: leo.sitorski@hotmail.com
4
Aluna de mestrado da FAMEZ/UFMS. E-mail:naomi_kerkhoff@hotmail.com

Resumo: O consumo de leite no Brasil está abaixo do recomendado, dessa forma faz se necessário obter
maiores informações sobre essa cadeia. O trabalho teve como objetivo avaliar o padrão de consumo de
leite da população de Campo Grande, MS, questões sócio – econômico – educacionais, frequência e
preferência de consumo. Da população amostrada, 79,07% consome leite todos os dias e 20,93% não
consomem o alimento, sendo que o principal motivo para o não consumo é não apreciarem 11,63%, a
forma preferida de consumo é leite com café 29,07%. Conclui-se que o consumo de leite pode aumentar
havendo campanhas de marketing realizadas em conjunto de pesquisas com o consumidor, como também
melhorias na qualidade do produto, e suas preferências no setor alimentício.

Palavras-Chave: Marketing, Consumidor, Frequência

MILK CONSUMPTION IN CAMPO GRANDE, MS, UNDER CONSUMER HABIT OF FOCUS

Abstract: Milk consumption in Brazil is lower than recommended, therefore makes it necessary to obtain
further information about this chain. The study aimed to evaluate the milk consumption pattern of the
population of Campo Grande, MS, socio - economic - educational, frequency and preference of
consumption. Of the sampled population, 79,07% consume milk every day and 20,93% do not consume
food, and the main reason for non-consumption is not appreciating 11,63%, the preferred form of
consumption is coffee with milk 29,07%. It is concluded that milk consumption can increase their
marketing campaigns together research with consumers, as well as improvements in product quality, and
their preferences in the food industry.

Keywords: Marketing, Consumer, Frequency

Introdução
O leite é composto por água (87%), e sólidos totais (13%) dos quais são gordura (3,8%), proteína
(3,5%), lactose (5%) e minerais (0,7%). É considerado um alimento completo, rico em cálcio e fósforo,
sendo muito importante seu consumo por crianças e jovens na fase de crescimento, e por mulheres ao
longo da vida como medida preventiva da osteoporose.
A disponibilidade de leite no Brasil é de 140 litros/ano o que se encontra abaixo da recomendada
que é de 210 litros/ano. Em 2011 o Brasil produziu cerca de 32 bilhões de litros de leite e Mato Grosso do
Sul ficou em décimo segundo lugar para este mesmo ano, com uma produção de quase 522 milhões de
litros, o que ainda é baixo quando comparado a outros países e estados respectivamente (SEAB, 2013).
Em meio a esse cenário, políticas de divulgação dos benefícios do leite assim como melhorias na
qualidade do produto, campanhas de marketing atreladas à pesquisas sobre o perfil do consumidor e suas
preferências no setor alimentício, podem ajudar e estimular a população a aumentar seu consumo.
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar o padrão de consumo de leite pela população de
Campo Grande – MS, analisando o perfil sócio – econômico – educacional dos entrevistados, questões de
hábito, frequência e preferência de consumo.

Material e Métodos
O estudo foi realizado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS em Campo
Grande – MS, no período de 2011 a 2013. Através de questionários foram entrevistados 516
consumidores/frequentadores de supermercados da cidade, abordados em dias e horários distintos da

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semana e de forma aleatória, sendo esclarecidos sobre a pesquisa e que concordaram em participar por
vontade própria.
Os questionários eram compostos de 2 partes. A primeira parte se referia a dados sócio –
econômicos – educacionais do entrevistado e continha perguntas como: sexo, idade, estado civil, número
de filhos, nível de escolaridade e renda familiar.
A segunda parte continha perguntas diretamente relacionadas à pesquisa, como ter ou não hábito
de consumo de leite, em caso afirmativo o entrevistado deveria escolher a frequência, e em caso negativo
a pessoa deveria informar o motivo. A pesquisa prosseguia somente para aqueles que consumiam leite e
em seguida, foi questionado a respeito da forma preferida de consumo do produto.
Ao término da aplicação dos formulários, os dados foram digitalizados e processados, no software
Microsoft Office Excel 2010® e foram realizadas estatísticas descritivas e cálculo das frequências.

Resultados e Discussão
Foram entrevistadas 516 pessoas, das quais 231 (44,77%) eram do sexo masculino e 285 (55,23%)
do sexo feminino. Deste total, 257 (49,81%) pessoas eram casadas, 208 (40,31%) solteiros, 33 (6,40%)
divorciados e 18 (3,49%) viúvos. A maior participação das mulheres como entrevistadas mostra que estas
estão mais presentes nos supermercados. Em relação ao estado civil, a maioria dos entrevistados eram
casados.
Quanto a escolaridade, a maioria possuía ensino médio completo (31,40%), seguido de ensino
superior completo (29,26%), o que evidencia um bom grau de instrução da população; na sequência
estavam o ensino superior incompleto (20,16%), ensino médio incompleto (8,53 %), ensino básico
incompleto (6,20%), ensino básico completo (4,26%) e apenas 1 (0,19%) pessoa declarou ser analfabeta.
A faixa de renda de valor percentual mais alto foi a de R$1.245,00 a R$2.450,00 (31,40%), o que está de
acordo com o maior percentual de escolaridade encontrado, ensino médio completo.
Dos 516 entrevistados, 108 (20,93%) afirmaram não consumir leite e o principal motivo foi o fato
de não apreciarem (11,63%), seguido de intolerância (6,78%); os 408 (79,07%) indivíduos restantes
declararam consumir leite, o que difere de Soares et al. (2010) no qual apenas 8% não consumiam leite e
92% consumiam, assim como no estudo de Muniz et al. (2013) em que 8% da população não consumia
leite. Molina et al. (2010) ao estudar o perfil de consumo de leite e produtos derivados na cidade de
Maringá, PR, constatou que 8,73% dos entrevistados não consumiam leite, e a principal razão para a
maioria deles era por possuirem algum nível de intolerância à lactose.
Muniz (2010) em sua pesquisa sobre o consumo de leite entre adultos e idosos de Pelotas, RS,
encontrou resultados semelhantes, onde 26% dos participantes informaram não consumir leite, e o
principal motivo para o não consumo foi o fato de não apreciarem o alimento Diante desses resultados
pode-se inferir que ainda falta investir no marketing da cadeia de leite, a fim de estimular seu consumo e
informar sobre sua importância para a população.
Em relação a frequência de consumo, 289 (56,01%) das pessoas consomem leite todos os dias da
semana, o que está inferior ao encontrado pela pesquisa realizada por Soares et al. (2010) sobre os hábitos
de consumo de leite em três municípios do estado do Rio Grande do Norte no qual 84% tem o hábito de
consumir leite diariamente, e está de acordo com os resutados da pesquisa de Soares et al. (2009) sobre a
quantificação do consumo de leite no município de Janaúba/ MG que apresentou que 56,9% consomem
leite diariamente.

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Tabela 1 Padrão de consumo de leite pela população entrevistada


Critérios Frequência Valor Percentual %
Consome leite 408 79,07
Não consome leite 108 20,93
Total 516 100,00
Frequência de consumo
Não consomem
108 20,93
Consome todos os dias da
290 56,20
semana
16 3,10
Consome 4 a 5x na semana
43 8,33
Consome 3 a 4x na semana
27 5,23
Consome 2x na semana
22 4,26
Consome 1x na semana
1 0,19
Consome só no final de semana
2 0,40
Consome quinzenalmente
4 0,78
Consome 1x por mês
1 0,19
Consome 1x no trimestre
1 0,19
Consome 1x no semestre
0 0,00
Consome 1x no ano
1 0,19
Outras
516 100,00
Total

Tabela 2. Lista de fatores apontados ao não consumo de leite


Critérios Frequência Valor Percentual %
Consomem leite 408 79,07
Não consomem leite
Motivos
Não responderam 1 0,19
Não aprecia 60 11,63
Alto custo 2 0,39
Alto teor de gordura/colesterol 4 0,78
Motivos religiosos 0 0,00
Motivos de saúde/intolerância 35 6,78
Medo de doenças 1 0,19
Outros 5 0,97
Total 516 100,00

A forma preferida de consumo do leite pelos entrevistados foi leite com café (29,07%), seguido de
leite com achocolatado (25,39%) e leite puro (17,05%), apesar da seguinte ordem de preferência também
ter sido encontrada por Mallmann et al. (2012) na caracaterização do consumo de leite no município de
Palmeira das Missões – RS, os valores diferem, sendo 36,1%, 31,1%, 10,3%; respectivamente (Tabela 3).

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Tabela 3. Forma preferida de consumo de leite pela população entrevistada


Forma preferida Frequência Valor Percentual %
Não consomem 108 20,93
Não responderam 1 0,19
Leite puro 88 17,05
Leite com café 150 29,07
Leite com chá 3 0,58
Leite com achocolatado 131 25,40
Leite com sorvete 0 0,00
Leite com cereal 14 2,71
Leite com frutas (vitamina) 14 2,71
Outro 7 1,36
Total 516 100,00

Conclusões
A pesquisa apontou que a maioria das pessoas consomem leite diariamente, tendo como forma
preferida de consumo o leite com café. O principal motivo das que não consomem é o fato de não
apreciarem o alimento, com base nisto pode-se inferir que faltam de campanhas de marketing para
informar a população sobre os benefícios do consumo de leite e sua importância na alimentação humana.

Literatura Citada
MALLMANN, E.; CAVALHEIRO. M.; MELLO. P.; MAGRO. D.; MIRITZ. L. D.; CORONEL. D. A.
Caracterização do consumo de leite no município de Palmeira das Missões - RS. Sociais e Humanas,
Santa Maria, v.25, n. 02, p.295-308, 2012.
MOLINA, G.; PELISSARI. F. M.; FEIHRMANN, A. C. Perfil do consumo de leite e produtos derivados
na cidade de Maringá, Estado do Paraná. Acta Scientiarum. Technology, Maringá, v. 32, n. 3, p. 327-
334, 2010.
MUNIZ, L. C.; MADRUGA. S. W.; ARAÚJO. C. L. Consumo de leite e derivados entre adultos e idosos
no Sul do Brasil: um estudo de base populacional. Ciência & Saúde Coletiva, p.3515-3522, 2013.
MUNIZ, L C. Consumo de leite entre adultos e idosos de Pelotas, RS: Preferências e Perfil dos
Consumidores, 2010. 121 f. Dissertação (Mestrado em Medicina) - Universidade Federal de Pelotas,
Pelotas, 2010.
Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento. Cultura - Análise da Conjuntura Agropecuária -
Leite. SEAB/DERAL, 2013.
SOARES, F.D.S; AGUILAR, P.B.; GONÇALVES, W.C.; SOUZA, C.F.; CHAUCA, M.N.C; SILVA,
F.V.; OLIVEIRA, L.L.S. Quantificação do Consumo de leite no Município de Janaúba/ MG. In: ANAIS
III FÓRUM Gestão/ Pesquisa/ Ensino/ Extensão. Belo HorizonteMG. 2009.
SOARES, K. M. P.; GÓIS, V. A.; AROUCHA, E. M. M. Hábitos de consumo de leite em três municípios
do estado do rio grande do norte. Revista Verde, v.5, n.3, p.160 – 164, 2010.

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COMUNIDADE PARASITÁRIA EM SERIEMAS (Cariama cristata) NA REGIÃO DA


NHECOLÂNDIA, PANTANAL; BRASIL

Patrícia Eri Ishii1; Fernando Paiva2


1
Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da UFMS, bolsista de Iniciação Científica CNPq – PIBIC
2
Orientador Professor da UFMS, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde; e-mail: fernando.paiva@ufms.br

Resumo: O parasitismo pode ser definido como uma associação que se estabelecem entre dois
organismos, definidos como parasito e hospedeiro, durante uma parte ou totalidade dos seus ciclos vitais e
na qual o parasito vive à custa de seu hospedeiro. Essa associação é comum entre organismos, com os
parasitos sendo transmitidos através de interações diversas, desde o contato direto até relações tipo
predador-presa. Assim o conhecimento sobre espécies parasitas, na maioria das vezes, pode esclarecer
aspectos da cadeia alimentar como a localização da espécie nessa cadeia e tipos de interações; sendo os
parasitos considerados importantes definidores de dinâmicas populacionais e alterações comportamentais.
Foram recuperados três gêneros de helmintos no intestino delgado e ceco do hospedeiro, sendo eles:
Ascaridia sp. e Raillietina sp no intestino delgado e Heterakis sp. no ceco. A identificação específica não
pode ser conclusiva vista a necessidade de uma revisão consistente para os referidos gêneros. No entanto,
verifica-se que esses gêneros apresentam grande diversidade de hospedeiros susceptíveis.

Palavras-chave: Helmintos, Ecologia, Aves

IDENTIFICATION OF HELMINTS ON SERIEMA (CARIAMA CRISTATA) IN THE


PANTANAL ARE OF MATO GROSSO DO SUL

Abstract: Parasitism can be defined as an association between two organisms during part or total of their
life cycles in which they live upon their host. This association is common seen between organisms with
parasites being transmitted through many ways, from direct contact to even food-chain interactions. It is
so that knowledge about this parasites species can clarify food-chain aspects as the location of this species
telling us in which part of the food-chain it belongs and what type of interaction this host has with other
animals or insects on its environment. On this study it has been retrieved three helmint’s genera on both
small intestine and ceca of the host. These parasites were respectively, Ascaridia sp. e Raillietina sp on
the small intestine and Heterakis sp. on the ceca. The specific identification could not be conclusive due
to the fact that it would require a more consistent and accurate bibliographic review of the genera
presented in this work. However this genera presented here are shown to have a broad diversity of
susceptible hosts.

Key-words: Helmints, Ecology, Birds


Introdução
O parasitismo pode ser definido como uma associação que se estabelece entre dois organismos
hetereotípicos, definidos como parasito e hospedeiro, durante uma parte ou totalidade dos seus ciclos
vitais e na qual o parasito vive à custa de seu hospedeiro, normalmente causando danos, mas não
necessariamente a morte imediata do indivíduo que o abriga. O hospedeiro é utilizado como biótopo
temporal ou permanente e pode ser chamado de hospedeiro intermediário ou hospedeiro final,
respectivamente (ODUM, 1988; TOWNSEND et al., 2006). Essa a associação é negligenciada em
estudos de teias alimentares e redes ecológicas (MARCOGLIESE & CONE, 1997; MORAND & ARIAS-
GONZALEZ, 1997; POULIN & LEUNG, 2011) e vista apenas como causadora de prejuízos e mortes,
atraindo a atenção apenas quando causam patologias e doenças (MARCOGLIESE, 2004).
Para estudos ecológicos, a determinação e caracterização das comunidades de parasitas é
importante, visto a intensa interação dos organismos envolvidos. Portanto, esta proposta tem por objetivo
caracterizar a comunidade de parasitas em Seriemas, como parte do trabalho de pesquisa que está
abordando aspectos do parasitismo associado à cadeia trófica, com parasitos sendo transmitidos através
da interação predador-presa e podendo indicar a existência de relações tróficas entre organismos.

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Material e Métodos
Área de Estudo:
As aves foram capturadas na região da Nhecolândia (licença SISBIO Número: 36089-2), Fazenda
Alegria, município de Corumbá e um espécime recolhido às margens da rodovia BR 262 – Km 540.
Necropsia e recuperação de espécimes parasitas:
Os animais foram necropsiados adotando padrões de usuais em anatomia-patológica; os espécimes
parasitas encontrados eram separados e processados segundo protocolos específicos ao grupo a que
pertenciam.
Para a determinação taxonômica das espécies de helmintos parasitos, foram utilizados os critérios
propostos por González e Hamann (2004), Travassos et al. (1969), Vicente et al. (1990), Vrcibradic et al.
(2000) e Yamaguti (1961).

Resultados e Discussão
Foram examinadas dois espécimes de seriema (Cariama cristata), sendo um macho adulto,
abatido na Fazenda Alegria e outro fêmea adulta, recolhido após atropelamento na rodovia BR 262, km
540.
Após os processos de necropsia e separação de espécimes de helmintos encontrados no intestino
delgado (2) e ceco (1), ambos os indivíduos apresentaram os mesmos agentes parasitários, sendo eles:
Raillietina sp. e Ascaridia sp. no intestino delgado e Heterakis sp. no ceco. Agentes parasitários já
descritos para o hospedeiro anteriormente por VICENTE, J.J et al. (1995). Todos estão relacionados ao
hábito alimentar do hospedeiro quer seja pelo forrageio direto ou mesmo pela ingestão de artrópodes que
atuam como hospedeiros intermediários no ciclo de vida do cestoda Raillietina sp., que são
predominantemente dípteros.
O gênero Ascaridia sp. são parasitos comuns de intestinos de aves galináceas. Os seus ovos
embrionados liberados no ambiente externo sob condições favoráveis de temperatura são diretamente
infectantes para aves hospedeiras. Não foi concluída a identificação especifica, pois há necessidade de
comparação e melhor revisão da espécie em comparação a outras do mesmo gênero.
Outro gênero registrado foi Heterakis sp. (figuras 1-2) Travassos, 1941, ainda com espécie não
determinada, tem localização no ceco e se caracterizou por corpo estriado transversalmente, asas laterais
presentes. Boca com três lábios. Interlábios ausentes. Machos com ventosa pré-cloacal circular com anel
quitinoso. Asas caudais às vezes unidas ventralmente. Papilas caudais geralmente em número de um par.
Geralmente dois pares de papilas caudais ao lado da ventosa. Espículos iguais, quase iguais ou desiguais.
Gubernáculo ausente. Sulcos interlabiais ausentes. Fêmeas com vulva próxima ao meio do corpo ou
anterior. Úteros opostos. Este gênero é comum parasitando aves e talvez tenha pouca especificidade, caso
contrário há grandes perspectivas para descrição de espécies novas.
O terceiro gênero encontrado foi Raillietina sp. (figuras 3-4), no intestino delgado, com até 11 cm
de comprimento, por 3,5 mm de largura, escólice pequeno com ganchos na coroa, ventosas pequenas e
opostas, abertura genital unilateral, vários testículos (50-60), útero com poucos ovos, as proglotes
imaturas e maduras se imbricam sobre a posterior, dando aspecto de sobreposição. São parasitas de aves e
também com inúmeras espécies descritas, uma revisão do gênero poderá resultar em descrição de novas
espécies ou pelo menos caracterizar o agente como de baixa especificidade aos hospedeiros.

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Figura 1. Imagem em microscopia de luz da Figura 2. Imagem em microscopia de luz da


extremidade posterior de um exemplar macho de extremidade anterior de um exemplar macho de
Heterakis sp, recuperado no ceco de seriema Heterakis sp, recuperado no ceco de seriema
(Cariama cristata). (Cariama cristata).

Figura 3. Imagem em microscopia de luz do Figura 4. Imagem em microscopia de luz de


escólice de um exemplar de Raillietina sp, proglotes de um exemplar de Raillietina sp,
recuperado no intestino delgado de seriema recuperado no intestino delgado de seriema
(Cariama cristata). (Cariama cristata).

Conclusões
Os agentes parasitários recuperados são de ocorrência frequente em aves, de forma geral, no
entanto para assegurar tal afirmativa há necessidade de estudo de revisão nas espécies dos referidos
gêneros para confirmação e identificação das espécies.

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Literatura Citada
GONZÁLEZ, C.E. & HAMANN, M.I. 2004. Primer registro de Cosmocerca podicipinus Baker y
Vaucher, 1984 (Nematoda: Cosmocercidae) en Pseudopaludicola falcipes (Hensel, 1867) (Amphibia:
Leptodactylidae) en Corrientes, Argentina. Facena, 20:65-72.
MARCOGLIESE, D.J. 2004. Parasites: small players with crucial roles in the ecological theatre.
EcoHealth, 1:151-164.
TRAVASSOS, L.; FREITAS, J.F.T.; KOHN, A. 1969. Trematódeos do Brasil. Memórias do Instituto
Oswaldo Cruz, 67:11-886.
VICENTE, J.J.; RODRIGUES, H.O.; GOMES, D.; PINTO, R.M. 1991. Nematóides do Brasil. Parte II:
Nematóides de Anfíbios. Revista Brasileira de Zoologia, 7:549-626.
VRCIBRADIC, D.; CUNHA-BARROS, M.; VICENTE, J.J.; GALDINO, C.A.B.; HATANO, F.H.; VAN
SLUYS, M. & ROCHA, C.F.D. 2000. Nematode infection patterns in four sympatric lizards from a
restinga habitat (Jurubatiba) in Rio de Janeiro State, southeastern Brazil. Amphibia-Reptilia, Leiden, 21:
307-316.
YAMAGUTI, S. 1961. Sistema helminthum 3. The Nematodes of Vertebrates. New York, Interscience
Publishers, 1261p.

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CONTAGEM BACTERIANA TOTAL EM CAMA DE FRANGOS DE CORTE TIPO CAIPIRA

Lidiane Akemi Minamiguti¹, Karina Márcia Ribeiro de Souza 2, Cássia Rejane Brito Leal2, Thiago
Gonsalo da Silva3, Tiago Venâncio da Silva4, Thiago Rodrigues da Silva5, Luanna Lopes Paiva5

1Aluna do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PIBC/CNPq. E-mail: lidi_akemi@hotmail.com


2Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: karina.souza@ufms.br
2Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: cassia.leal@ufms.br
3Aluno do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS, E-mail: thiagogonsalo@gmail.com
4Aluno do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS, E-mail: tiagosilva3943@hotmail.com
5Aluno(a) de mestrado em ciência animal do programa de pós graduação FAMEZ/UFMS

Resumo: O objetivo to trabalho foi verificar a carga microbiana em cama de frangos de corte tipo caipira,
criados de 1 a 84 dias de idade. As fases de criação foram: inicial (1 a 28 dias de idade), crescimento (29
a 56 dias de idade) e final (57 a 84 dias de idade). Foi utilizado para quantificar as bactérias do ambiente,
o método da contagem bacteriana total (CBT). Foram coletadas sete amostras, a cada 14 dias e enviadas
ao laboratório para posterior análise. Observou-se uma redução na contagem bacteriana total após a
soltura das aves, á partir da quinta coleta, porém mais estudos devem ser realizados para melhor
avaliação.

Palavras-chave: criação alternativa, frangos de corte colonial, microbiologia da cama, Pour-plate

TOTAL SCORE BACTERIAL HILLBILLY TYPE BROILERS BED

Abstract: The goal to work was to evaluate the microbial load in hillbilly type broiler bed, created 1-84
days old. Creating phases were: Initial (1 to 28 days of age), growth (29 to 56 days of age) and final (57
the 84 days of age). It was used to quantify the bacterial environment, the method of total bacterial count
(TBC). Seven samples were collected, every 14 days and sent to the laboratory for further analysis. There
was a reduction in total bacterial count after release of the birds, will from the fifth collection, but more
studies are needed to better assess.

Keywords: alternative creation, colonial broiler, bed microbiology, Pour-plate

Introdução
A avicultura brasileira tem destaque no cenário mundial, sendo a terceira maior produtora e a
segunda maior exportadora de carnes de frango. Desta forma o uso de metodologias para garantir a
qualidade aos produtos avícolas, tem se mostrado cada vez mais necessário na rotina de uma empresa. E
para isso a mensuração da quantidade de microrganismos, como as bactérias, no ambiente de criação dos
animais de produção é de grande importância, uma vez que a redução da carga microbiana ambiental se
reflete no estado imunológico do trato digestivo, melhorando, desta forma a conversão alimentar.
De acordo com CARDOSO (2010), as aves precisam de mecanismos de defesa contra agentes
infecciosos e resistir à sua proliferação, sendo o sistema imunológico o responsável por sua defesa. A
nutrição como ferramenta para modular o sistema imunológico, produzindo um estado ideal de
imunidade, tem se tornado um fato real não apenas em estados patológicos de imunossupressões, como
também para a manutenção de estados saudáveis em aves, sem comprometimento do seu sistema
imune. Sabe-se que o sistema imune das aves é relativamente resistente a deficiências nutricionais, pois é
o sistema prioritariamente atendido pelos nutrientes disponíveis.
A alta prioridade do sistema imune para os nutrientes é baseada na observação de que uma
restrição alimentar moderada é suficiente para prejudicar a taxa de crescimento, mas não prejudica os
índices de imunocompetência. De acordo com PAGANINI (2000) uma forma de diminuir a carga
microbiana da cama de aviários é o uso da inibição competitiva, que consiste em inocular a cama com
quantidades elevadas de bactérias que tenham condições de se multiplicar e predominar sobre populações
bacterianas potencialmente patogênicas, trazendo benefícios como o menor estresse imunológico e
consequentemente uma redução de mortalidade, melhora na conversão alimentar, redução das
condenações no abatedouro, e melhora no ganho de peso.
A criação de frangos caipiras pode ser de duas formas, o extensivo e o semi-intensivo. No sistema
extensivo ou tradicional, não ocorre nenhum controle, ou seja, os animais são criados livres ingerindo o

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que tiverem como alimento, sem controle sanitário, nutritivo, ou produtivo. O sistema semi-intensivo
possibilita obter controle sanitário e consequentemente animais saudáveis, pois este é delimitado desta
forma permite total controle produtivo, nutricional e sanitário. Neste sistema as aves são distribuídas de
acordo com a idade do animal e o desenvolvimento possui fases, inicial, crescimento e fina, são vacinados
e recebem ração balanceada de acordo com as fases de desenvolvimento.
Portanto uma empresa que preza pela qualidade de seus produtos deve se atentar em disponibilizar
as aves uma dieta equilibrada juntamente com um correto manejo sanitário dos mesmos, pois a sanidade
animal e a nutrição possuem uma grande intercorrelação na melhoria do desempenho produtivo da ave e
para isso deve-se lançar mão de coletas periódicas de amostras do ambiente avícola, seguida da análise
laboratorial, como a Contagem Bacteriana Total em Pour Plate (CBT). O objetivo do trabalho foi verificar
a carga microbiana em cama de frangos de corte tipo caipira, criados de 1 a 84 dias de idade.

Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Laboratório de Bacteriologia da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus Campo Grande, no
período de 11 de março a 3 de maio de 2015. As coletas de amostras foram realizadas no galpão
experimental do LECA (Laboratório experimental em ciências aviárias), onde estavam alojados em torno
de 450 aves divididas em 18 boxes. Foram utilizadas as camas de criação de frangos de corte tipo caipira
de pescoço pelado. Nas fases de criação: inicial (1 a 28 dias de idade), crescimento (29 a 56 dias de idade)
e final (57 a 84 dias de idade). A partir do 28 dias de idade as aves eram soltas pela manhã em um piquete
e ao final do dia eram recolhidas.
As coletas das amostras proveniente das camas de criação foram realizadas por meio de swab de
arrasto, que consiste em arrastar por toda extensão dos boxes uma gaze amarrada a um barbante, ambos
estéreis. Os procedimentos foram realizados a cada 14 dias, num total de sete coletas, utilizando-se um
swab de arrasto por amostragem. Momentos antes da coleta umedeceu-se o swab de arrasto na solução
salina estéril. Logo a amostra foi colocada no interior do pote com solução salina e levada para o
laboratório de bacteriologia, onde foi realizada a metodologia de diluição seriada e o plaqueamento da
mesma. Utilizou-se como técnica para avaliar a carga bacteriana dos boxes, o CBT em Pour Plate, pois
este confere o crescimento de colônias em toda a extensão do Agar, desde a superfície até o seu interior.
A técnica de CBT em Pour-plate consiste na diluição seriada de 1mL da amostra em 9mL de
solução salina estéril. A partir de cada diluição utiliza-se 1,0 ml como inóculo e distribui-se nas placas
descartáveis estéreis. Em seguida, pega-se o meio fundido (em Banho-Maria) e esfriado a 45oC e verte-se
sobre a placa de Petri contendo a suspensão diluída da amostra. O material é homogeneizado efetuando-se
movimentos descrevendo o número oito. Esses movimentos são efetuados por cerca de 10 vezes. Após a
solidificação do meio, as placas tampadas são invertidas e incubadas em estufas na temperatura 35º C. Ao
final da incubação, usualmente 48 horas, as colônias são contadas e o resultado médio de cada diluição é
registrado e multiplicado pelo fator da diluição. As placas adequadas para contagem devem conter entre
25 a 250 colônias. Exemplo, 156 colônias na diluição 1/100, o resultado é 15.600 UFC/ml. Usualmente o
resultado final é registrado em UFC que significa unidades formadoras de colônias, pois em algumas
situações não é uma única célula que dá origem a uma colônia, mas um agregado de células.

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Resultados e Discussão
Houve um decréscimo na carga bacteriana ambiental, após a quinta coleta a quantidade média de
microrganismos contidos da cama declinou consideravelmente (Figura1).

Figura 1 - Valores médios de Contagem Bacteriana Total (CBT)

Após as 48 horas de incubação das placas de primeira coleta foram observadas algumas colônias
de número três e quatro, entretanto a quantidade de colônias formadas foi muito baixa, comprovando que
o processo de vazio sanitário e desinfecção do galpão foram realizados de maneira correta e eficaz. A
partir da segunda amostragem aos 14 dias de experimento, observou-se que havia aumentado o número de
colônias verdadeiras formadas. NANDI (2004) e REHBERG (2002) afirmam que a origem dos micro-
organismos encontrados na cama de aviário é, predominantemente, a excreta das aves. Desta forma o
ambiente de criação de frangos de corte pode oferecer condições ótimas para a multiplicação de uma série
de microrganismos, como as bactérias as quais podem causar danos à saúde das aves (RESENDE, 2010).
Esse aumento foi semelhante até os 42 dias de experimento. Dos 42 dias até 56 dias ocorreu uma
estabilização na colonização da cama, haja vista que neste período as aves já estavam sendo soltas nos
piquetes, o que pode ser o indicativo da estabilização do crescimento bacteriano e consequentemente na
diminuição da carga bacteriana encontrada no final do experimento, entretanto outros fatores físicos,
químico podem influenciar a carga bacteriana das camas, tais como pH, temperatura e concentração de
amônia (SILVA, 2007). Necessitando, neste caso, mais estudos para uma correta avaliação.

Conclusões
Com o presente trabalho pode-se concluir que houve diferenças nas quantidades de bactérias
encontradas nas camas criação frangos de corte criados em sistema semi-intensivo, nas diferentes fases de
criação. Porém mais estudos são necessários para melhor avaliação das diferenças encontradas.

Literatura Citada
CARDOSO, A.L.S.P.; TESSARI, E.N.C.[2010] - Nutrição e imunidade das aves. Comunicado técnico.
Instituto Biológico, 2010. Disponível em: <http://www.biologico.sp.gov.br/artigos_ok.php?id_artigo=130>.
Acesso em: 19/10/2015.
NANDI, S.; MAURER, J. J.; HOFACRE, C.; SUMMERS, A. O. Gram- -positive bacteria are a major
reservoir of class 1 antibiotic resistence intergrons in poultry litter. Proceedings of the National
Academy of Science, v. 101, p. 7118-7122. 2004.
PAGANINI, F. J. - Inibição competitiva no ambiente de produção de frangos. SIMPÓSIO DE
SANIDADE AVÍCOLA. Santa Maria, RS. Anais. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2000. 67p. 1.Ave –
doença. congresso. I. Título.
REHBEGER, T. Controlling litter microorganisms. E-Digest, v. 2, p. 1-7. 2002.
RESENDE, F. M. S. – Análise físico-químicas e virucidas da fermentação com cobertura e sem
amontoamento da cama de aves. Belo Horizonte: Escola de Veterinária – Universidade Federal de Minas
Gerais, 2010. 49p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Escola de Veterinária, 2010.
SILVA, V. S – Métodos e segurança sanitária. [2015] Disponível em: <
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/57061/1/metodos-e-seguranca-sanitaria.pdf> Acesso
em: 11/11/2015

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CONTRIBUIÇÃO DA RINOSCOPIA NO DIAGNÓSTICO DE ASPERGILOSE SINONASAL EM


CÃES: RELATO DE CASO

Patrícia Eri Ishii1; Franz Naoki Yoshitoshi2; Paulo Antonio Terrabuio Andreussi3 ; Ana Eliza Meireles
Maciel4 ; Bárbara Lumi Yatsunami4
1
Graduanda do curso de medicina veterinária pela UFMS, e-mail: ishii_patricia@hotmail.com
2
Médico veterinário, Endoscopet
3
Médico veterinário, Professor de diagnóstico por imagem da UFMS
4
Aluna do curso de medicina veterinária pela UFMS

Resumo: A aspergilose sinonasal é uma enfermidade incomum e mal diagnosticada em todo o mundo
que causa uma debilitação profunda no animal, e muitas vezes, apresenta um protocolo frustrante de
tratamento em animais domésticos. Se diagnosticado tardiamente, pode causar morte. A rinoscopia se
mostra importante no diagnóstico e tratamento desta doença, possibilitando a visualização direta das
placas fúngicas na cavidade nasal, assim como sua contribuição para auxiliar o médico veterinário da
aplicação do tratamento tópico. O estudo em questão tem como objetivo descrever um caso de aspergilose
sinonasal diagnosticado por meio de rinoscopia em um cão Rottweiler.

Palavras-chave: epistaxe, rinite canina, placa fúngica

RHINOSCOPY CONTRIBUTION ON CANINE ASPERGILLOSIS: CASE REPORT

Abstract: The sinonasal aspergillosis is a worldwide uncommon and misdiagnosed disease that can cause
patient debilitation and on most cases, comes with a frustrating treatment protocol in domestic animals. If
late diagnosed, can cause death. The rhinoscopy is shown to be important both on diagnosing and treating
this disease, allowing a direct view of fungal plaques on the nasal cavity as well as guide the veterinarian
to apply topical treatment. This study objective is to describe a clinical case of a Rottweiler dog,
diagnosed by rhinoscopy with sinonasal aspergillosis.

Key-words: epistaxe, canine rhinitis, fungal plaque

Introdução
Aspergillus spp. são fungos ubíquos no ambiente e na cavidade nasal de muitos animais e a espécie
frequentemente associada a aspergilose sinonasal é a Aspergillus fumigatus, fungo saprófita, que tem um
papel importante na reciclagem ambiental do carbono e do nitrogênio. Seu nicho ecológico é o solo, onde
sobrevive e se prolifera em material orgânico (Laetgé, 1999; Nelson & Couto, 2014; Sanches &
Coutinho, 2007; Sharman & Mansfield, 2007).
Os conídios dispersos no ar são pequenos, característica essa que os tornam flutuantes, tendendo a
se manter dispersos tanto em ambientes externos como internos. O seu pequeno tamanho os tornam aptos
a alcançar os alvéolos pulmonares (Laetgé, 1999).
A aspergilose sinonasal é uma enfermidade incomum e sua ocorrência foi observada em animais
entre seis meses a nove anos de idade, não mostrando nenhum tipo de predileção para alguma raça até o
momento (Sharp et al., 1993). Animais mesocefálicos e dolicocefálicos são mais diagnosticados com
aspergilose sinonasal, mas também pode ocorrer em braquicefálicos (Sharman & Mansfield, 2007).
Esta enfermidade é comumente causada por uma infecção fúngica não invasiva. Acredita-se que
pode ser secundária a uma falha na imunidade inata ou adquirida (Sharman & Mansfield, 2007).
Entretanto, tentativas de provar isso falharam. Existe uma variedade de opiniões conflitantes sobre o
diagnóstico e centenas de protocolos de tratamento para esta doença (Laetgé, 1999; Sharman &
Mansfield, 2007).
Os sinais clínicos desta doença podem estar presentes por meses, ou até anos antes que ocorra o
seu diagnóstico. Os mais reportados são secreções nasais purulentas ou mucopurulentas, dor nasal,
ulceração e despigmentação das narinas externas. O envolvimento pulmonar não é esperado (Nelson &
Couto, 2014; Sanches & Coutinho, 2007; Sharman & Mansfield, 2007).
Espirros, epistaxe, baixo apetite e sinais de depressão podem ser vistos. A epistaxe pode ser tão
severa que pode levar a uma anemia fatal, muitas vezes levando o paciente a necessitar transfusões

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sanguíneas. Em doença severa, pode-se perceber deformação facial, epífora e convulsões (Sharman &
Mansfield, 2007).
O diagnóstico da aspergilose sinonasal é determinado pelo conjunto da história clínica do animal e
da citologia da cultura de fungos, que determinará qual espécie de fungo está afetando a cavidade.
Entretanto, alguns métodos de diagnóstico por imagem como rinoscopia, radiografia e a tomografia
computadorizada podem ser de fundamental importância para a sua exata localização e muitas vezes até
tratamento (Nelson & Couto, 2014; Sanches & Coutinho, 2007; Sharman & Mansfield, 2007). A
sensibilidade de diagnóstico é maior na tomografia computadorizada (88 a 92%), quando comparado com
à radiografia (72 a 84%) (Sharman & Mansfield, 2007).
Na rinoscopia, podem ser observados erosão dos turbinados nasais e placas fúngicas, que parecem
placas de mofo branco a esverdeado na mucosa nasal. Durante a rinoscopia, as placas podem ser
mecanicamente desbridadas através da raspagem ou de lavagem vigorosa para aumentar a eficácia do
tratamento tópico (Nelson & Couto, 2014). A coleta de amostras para citologia pode ser realizada durante
a rinoscopia, que guiará o profissional a realizar esta coleta em local preciso (Sharman & Mansfield,
2007).
O tratamento da aspergilose sinonasal pode ser por via oral ou tópica, sendo esta última a mais
efetiva de acordo com Sharp et al. (1993). Em uso tópico, o enilconazol é mais efetivo que o tiabendazol,
cetoconazol ou o fluconazol administrados oralmente. Com base em estudos anteriores, o enilconazol é
mais efetivo que o itraconazol como terapia tópica em aspergilose sinonasal em cães (Sharp et al., 1993).
A aplicação tópica de clotrimazol formulada com uma base de propilenoglicol é associada com
sinais adversos severos e risco de vida em cães, incluindo edema da nasofaringe grave a ponto de
necessitar de uma traqueostomia temporária. Esses sinais adversos não são observados quando se usa uma
base de polietilenoglicol junto ao clotrimazol. Uma pequena quantidade de casos documentou neoplasia
nasal seguida de tratamento tópico com clotrimazol e uma base de polietilenoglicol, mesmo que uma
relação causal direta não tenha sido confirmada (Sharman & Mansfield, 2007).
O prognóstico para cães com aspergilose sinonasal melhora com os consecutivos desbridamentos
das placas fúngicas e do tratamento tópico. Em grande parte dos casos, um bom prognóstico é encontrado
quando não há proliferação do fungo para outros tecidos e se diagnosticado precocemente. (Nelson &
Couto, 2014; Sharman & Mansfield, 2007; Sharp et al., 1993).

Relato de Caso
Um canino fêmea, Rottweiler, de 8 anos de idade, com histórico de epistaxe severa, foi atendida
em hospital veterinário. Foi realizada tomografia onde foi visualizado seio frontal esquerdo com presença
de massa e área de lise com comunicação discreta com o bulbo olfatório esquerdo, porém sem efeito de
massa intracraniana e sem sinais de meningite. A placa cribiforme esquerda estava aparentemente íntegra.
O assoalho do seio nasal não estava íntegro do lado esquerdo. O cão foi encaminhado para rinoscopia.
Foi visibilizada por rinoscopia, a nasofaringe com conteúdo sanguinolento em grande quantidade,
integridade em vômer, de septo nasal, coana direita e esquerda. A cavidade nasal direita (Figura 1)
apresentava secreção mucopurulenta, edema e hiperemia em conchas maxiloturbinados e etmoturbinados.
Houve a inspeção de meato nasal comum dorsal, médio, ventral e suas delimitações pela concha nasal
dorsal, ventral e septo nasal. Na cavidade nasal esquerda foi visibilizada necrose em concha
maxiloturbinado, ausência de conchas etmoturbinados visibilizando uma grande loja com uma grande
placa de colônia fúngica recobrindo região próxima a lâmina cribiforme (Figura 2 e 3). Foi realizado
curetagem e remoção parcial da placa fúngica para estudos citológicos (Figura 4). Na citologia, foi
confirmada por meio de cultura, o fungo Aspergillus sp.

Discussão
Apesar do pequeno tamanho dos conídios de Aspergillus sp tornando-os aptos à alcançar os
alvéolos pulmonares, não é comum o envolvimento pulmonar no quadro de aspergilose sinonasal de
acordo com Nelson & Couto (2014). Os sinais clínicos e achados rinoscópicos foram compatíveis com os
citados pela literatura. O paciente foi encaminhado para tratamento tópico com clotrimazol guiado por
rinoscopia. O uso da tomografia computadorizada em enfermidades da cavidade nasal são indispensáveis
para o seu diagnóstico e prognóstico da doença, uma vez que a doença pode evoluir e afetar estruturas de
tecidos moles, como a órbita ocular.

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Figura 1 – cavidade nasal direita Figura 2 – cavidade nasal esquerda

Figura 3 – placa fúngica na cavidade nasal Figura 4 – material coletado para cultura e
esquerda histopatológico

Conclusões
Ainda que não muito diagnosticada, a aspergilose sinonasal em cães é uma doença do trato
respiratório superior importante, pois se não diagnosticada e tratada, pode acometer o encéfalo e causar
diversos distúrbios neurológicos e morte. A falta de recursos como rinoscopia e tomografia
computadorizada pode levar a uma demora no diagnóstico e consequente prejuízo para o paciente. A
rinoscopia neste caso, foi essencial para um melhor diagnóstico e tratamento da doença.

Literatura Citada
LATGÉ, J.P. Aspergillus fumigatus and Aspergillosis. Clinical Microbiology Reviews, v.12, n.2, p.310-
350, 1999.
NELSON, R. W.; COUTO, C.G. Small Animal Internal Medicine. 5a edição. St. Louis: Elsevier, 2014.
247-57p.
PEE TERS, D., PETERS, I., HELPS, C., GABRIEL, A., DAY, M. & CLERCX, C. Distinct tissue
cytokine and chemokine mRNA expression in canine sino-nasal aspergillosis and idiopathic
lymphoplasmacytic rhinitis. Veterinary Immunology and Immunopathology, v.117, p.95-105, 2007.
SANCHES, P.P.; COUTINHO, S.D.A. Aspergilose em cães-revisão. Rev Inst Ciênc Saúde, v.25, n.4,
p.391-397, 2007
SHARMAN, M.J.; MANSFIELD, C.S. Sinonasal aspergillosis in dogs: a review. Journal of Small
Animal Practice, v.53, p.434–444, 2012.
SHARP, J.H.; SULLIVAN, M.; HARVEY, C.E.; WEBB, T. Treatment of Canine Nasal Aspergillosis
with enilconazole. Journal of Internal Veterinary Medicine, v.7, n.1, p.40-43, 1993.

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CONSUMO DE LEITE EM CAMPO GRANDE, MS, SOB ENFOQUE DO PADRÃO HIGIÊNICO


E TIPO DE EMBALAGEM

Brenda Farias da Costa Leite1, Ricardo Carneiro Brumatti2, Leonardo Gomes Sitorski3, Naomi Kerkhoff
Gimenes4
1 2
Aluna do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PET. E-mail: brenda.farias2@hotmail.com Professor da
FAMEZ/UFMS. E-mail: rbrumatti@gmail.com
3
Aluno do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. E-mail: leo.sitorski@hotmail.com
4
Aluna de mestrado da FAMEZ/UFMS. E-mail: naomi_kerkhoff@hotmail.com

Resumo: A higiene é um fator muito importante, para os consumidores, em relação à qualidade dos
alimentos, além de ser determinante na realização da compra, como também o tipo de embalagem que
remete percepções positivas ou negativas. Saber como o consumidor entende esses fatores permite fazer
melhorias e correções, trazendo benefícios ao setor. O trabalho objetivou avaliar a percepção da
população de Campo Grande – MS em relação ao padrão de higiene do leite e o quão informados se
consideram sobre este aspecto além da preferência pelo tipo de embalagem deste produto. Da população
amostrada, 35,46% consideram o leite longa vida como o de melhor padrão higiênico e 36,63%
declararam ser informados, porém com dúvidas a respeito da higiene do alimento. A forma preferida de
embalagem foi o leite loga vida com 63,37%. Conclui-se que é necessário maior divulgação sobre o
processo de produção do alimento a fim de esclarecer a população, e esta por sua vez opta por maior
comodidade e praticidade em relação ao tipo de embalagem preferida.

Palavras-Chave: Consumidor, Higiene, Industrialização

MILK CONSUMPTION IN CAMPO GRANDE, MS, IN FOCUS OF TOILET STANDARD AND


PACKAGING TYPE

Abstract: Hygiene is a very important factor for consumers in relation to food quality as well as being
crucial in the realization of purchase, as well as the type of packaging that brings positive or negative
perceptions. Knowing how consumers understand these factors allows improvements and fixes, bringing
benefits to the sector. The study aimed to evaluate the perception of the population of Campo Grande -
MS in relation to milk hygiene standard and how informed you consider this aspect in addition to the
preference for the type of packaging of this product. Of the sampled population, 35.46% consider the
long-life milk as the best hygienic standard and 36.63% said they informed, but with questions regarding
food hygiene. The preferred form of package has logs life milk with 63.37%. It concludes that requires
more disclosure about the food production process in order to inform the population, and this in turn
chooses convenience and practicality on the type preferred packaging.

Keywords: Consumer, Hygiene, Industrialization

Introdução
O leite é considerado um alimento completo, rico em cálcio e fósforo, sendo muito importante o
seu consumo diário pela população. A variação na sua composição depende de vários fatores genéticos
como a raça; fisiológicos como o estágio de lactação, idade e saúde; e ambientais como estação do ano.
Nele existem mais de cem mil tipos diferentes de moléculas como as proteínas que juntas oferecem
nutrientes e proteção ao recém-nascido. Além disso, é um alimento que serve de matéria-prima para o
processamento de vários produtos destinados à alimentação humana.
Por ser um alimento de origem animal, a demanda do leite é influenciada por diversos fatores
como o aumento de população, crescimento na renda do consumidor, redução nos preços de produtos
concorrentes ou substitutos e mudanças nos hábitos alimentares.
A entrada do leite longa vida ou UHT no mercado influenciou diretamente o setor de lácteos e
contribuiu para uma grande mudança já que os supermercados se tornaram os principais distribuidores
dos produtos. Isto possibilitou um melhor atendimento aos clientes, satisfação de suas necessidades e
gostos, já que estes estão cada vez mais cientes e exigentes de seus direitos (EMBRAPA, 2002).

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Sabe-se que a higiene é um dos atributos mais importantes, para os consumidores, em relação à
qualidade dos alimentos, e que a embalagem tem forte poder de influêncian na decisão da compra de
determinado produto. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a percepção da população de
Campo Grande – MS em relação ao padrão de higiene do leite e o quão informados se consideram sobre
este aspecto além da preferência pelo tipo de embalagem deste produto.

Material e Métodos
O estudo foi realizado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS em Campo
Grande – MS, no período de 2011 a 2013. Através de questionários foram entrevistados 516
consumidores/frequentadores de supermercados da cidade, abordados em dias e horários distintos da
semana e de forma aleatória, sendo esclarecidos sobre a pesquisa e que concordaram em participar por
vontade própria.
Os questionários eram compostos de 2 partes. A primeira parte se referia a dados sócio –
econômicos – educacionais do entrevistado e continha perguntas como: sexo, idade, estado civil, número
de filhos, nível de escolaridade e renda familiar. A segunda continha as perguntas diretamente
relacionadas à pesquisa, como o leite de melhor padrão higiênico; o quão informados os consumidores se
consideram a respeito da higiene deste e o tipo de embalagem preferida.
Ao término da aplicação dos formulários, os dados foram digitalizados e processados, no software
Microsoft Office Excel 2010® e foram realizadas estatísticas descritivas e cálculo das frequências.

Resultados e Discussão
Foram entrevistadas 516 pessoas, das quais 231 (44,77%) eram do sexo masculino e 285 (55,23%)
do sexo feminino. Deste total, 49,81% pessoas eram casadas e 40,31% solteiros. Quanto a escolaridade, a
maioria possuía ensino médio completo (31,40%), seguido de ensino superior completo (29,26%), o que
evidencia um bom grau de instrução da população; e apenas 1 (0,19%) pessoa declarou ser analfabeta. A
faixa de renda de valor percentual mais alto foi a de R$1.245,00 a R$2.450,00 (31,40%), o que está de
acordo com o maior percentual de escolaridade encontrado, ensino médio completo.
O leite de melhor padrão higiênico-sanitário para os entrevistados é o leite longa vida (35,47%),
seguido do leite em pó (20,35%). Em relação a higiene do leite, 189 (36,63%) se consideram informados
porém com dúvidas e 129 (25,00%) pouco informados. Essas informações diferem da pesquisa de
Isernhagen (2012) sobre o perfil do consumidor de leite da cidade de Campo Grande –MS, na qual 45%
dos indivíduos escolheram o leite longa vida e 23% o leite em pó, a respeito da informação sobre higiene
46% acredita estar informado, porém com dúvidas e 35% pouco informados. Essas informações indicam
claramente que faltam divulgações à respeito do processo de produção do leite.

Tabela 1. Nível de informação de questões sanitárias vinculadas ao consumo


Critérios Frequência Valor Percentual %
Padrão de higiene do leite
Não responderam 102 19,77
Tipo A 102 19,77
Tipo B 5 0,97
Tipo C 12 2,32
Tipo cru refrigerado 7 1,36
Longa vida 183 35,46
Em pó 105 20,35
Total 516 100,00
Higiene do leite
Não responderam 102 19,77
Totalmente informado 67 12,98
Informado porém com dúvidas 189 36,63
Pouco informado 129 25,00
Sem nenhuma informação 29 5,62
Total 516 100,00

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A forma de embalagem preferida dos indivíduos é a embalagem longa vida (63,37%), o que está
inferior ao encontrado por Mallmann et al. (2012) no qual 84% optou pela embalagem longa vida
(caixinha), e também difere um pouco de Goldbarg (2007) que encontrou a preferência de 68% por esta
embalagem.
Estes dados demostram que a questão de comodidade e praticidade são muito importantes para os
consumidores, uma vez que o leite tipo longa vida é vendido em fardos e possui um prazo de validade
muito superior em relação ao leite das outras embalagens, o que permite ser adquirido e estocado. Porém,
pode-se observar que ainda há espaço para outros tipos de embalagens no mercado, como o saquinho e a
garrafa plástica. (Tabela 2).

Tabela 2 Forma de embalagem preferida pela população


Tipo de embalagem Frequência Valor Percentual %
Não consomem 108 20,93
Não responderam 3 0,58
Saquinho 45 8,72
Garrafa plástica 33 6,40
Longa vida 327 63,37
Total 516 100,00

Conclusões
A pesquisa apontou que a população acredita que o leite tipo longa vida tem o melhor padrão
sanitário-higiênico e que também o preferem como melhor embalagem para o produto. A falta de
informação da população e dúvidas quanto à higiene do leite mostram claramente que é preciso maior
divulgação sobre a cadeia agroindustrial do leite.

Literatura Citada
EMBRAPA. Mercado de leite e derivados. 2002. Disponível em:
<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Leite/LeiteCerrado/mercados.html >.
Acessado em: 12 de maio de 2015.
GOLDBARG, M. Perfil do Consumidor de Leite do Município de Volta Redonda- RJ 2007. 42 f.
Monografia (Pós-Graduação em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal e Vigilância Sanitária
em Alimentos) Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, 2007.
MALLMANN, E.; CAVALHEIRO. M.; MELLO. P.; MAGRO. D.; MIRITZ. L. D.; CORONEL. D. A.
Caracterização do consumo de leite no município de Palmeira das Missões - RS. Sociais e Humanas,
Santa Maria, v.25, n. 02, p.295-308, 2012.

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QUALIDADE EXTERNA DE OVOS BRANCOS DO TIPO CAIPIRA: ASSOCIAÇÃO DE


NÍVEIS DE MANDIOCA, MORINGA E BOCAIÚVA NA ALIMENTAÇÃO DE POEDEIRAS

Isabela Bartz1, Arnaldo Vitorino Ofico2, Natália Ramos Batista3, Karina Márcia Ribeiro de Souza4,
Charles Kiefer 5, Raquel Soares Juliano6, Patrícia Rodrigues Berno7

¹Acadêmica do curso de Zootecnia FAMEZ/UFMS: isabelabartz@gmail.com


²Mestrando em Ciência Animal FAMEZ/UFMS: oficoarnaldo@hotmail.com
3
Doutoranda em Ciência Animal FAMEZ/UFMS: nath.ramos@hotmail.com
4
Docente do curso de Zootecnia FAMEZ/UFMS: karina.souza@ufms.br
5
Docente do curso de Zootecnia FAMEZ/UFMS: charles.kiefer@ufms.br
6
Pesquisadora Embrapa Pantanal: raquel.juliano@embrapa.br
7
Mestranda em Ciência Animal FAMEZ/UFMS: patricinhaberno@outlook.com

Resumo: Com o objetivo de avaliar o efeito da inclusão de ingredientes alternativos na dieta de aves
poedeiras sobre as características qualitativas externas de ovos brancos tipo caipira, foram utilizados 900
ovos, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e cinco repetições
cada. Os tratamentos utilizados foram: T1- Ração controle sem adição de ingredientes alternativos (IA);
T2- ração contendo 20% de farelo de mandioca (FM), 10% de farelo de moringa (MO) e 4% de polpa de
bocaiúva (BO); T3-ração contendo 25% FM, 15% MO e 6% BO; T4-Ração contendo 30% FM, 20% MO
e 8% BO. As variáveis analisadas foram: peso médio dos ovos, porcentagem e espessura de casca e
gravidade específica, onde todas apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos. O peso dos
ovos foram maiores para o tratamento contendo 25% FM, 15% MO e 6% BO e menores para os níveis de
30% FM, 20% MO e 8% BO. A maior (P<0,05) espessura de casca foi obtida em ovos de aves
alimentadas com dieta sem inclusão de ingredientes alternativos. A gravidade específica dos ovos foi
menor (P<0,05) somente com a inclusão de 20% FM + 10% MO + 4% BO. Não houve efeito (P>0,05)
dos tratamentos avaliados sobre a porcentagem de casca dos ovos. A inclusão de 25% de farelo de
mandioca, 15% de farelo de moringa e 6% de polpa de bocaiúva na dieta de poedeiras, melhora o peso e a
qualidade externa de ovos brancos do tipo caipira.

Palavras-chave: espessura de casca, gravidade específica, ingredientes alternativos, peso médio dos ovos

EXTERNAL QUALITY OF EGGS WHITE HILLBILLY TYPE:ASSOCIATION OF


LEVELSCASSAVA, MORINGA BOCAIUVA IN FEEDING OF LAYING HENS

Abstract: In order to evaluate the effect of inclusion of alternative ingredients in the diet of laying hens
on external quality characteristics of white hillbilly type eggs were used 900 eggs, in a completely
randomized design with four treatments and five repetitions each. The treatments were: T1-control feed
without the addition of alternative ingredients (IA); T2-feed containing 20% cassava meal (FM), 10% of
moringa meal (MO) and 4% bocaiúva pulp (BO); T3- feed containing 25% FM, 15% MO and 6% BO;
T4-feed containing 30% FM, 20% MO and 8% BO. The variables analyzed were: average egg weight,
percentage and shell thickness and specific gravity, which all showed significant differences between
treatments. The egg weight were higher for the treatment containing 25% FM, 15% MO and 6% MO, and
lower for levels FM 30%, 20% MO and 8% BO. The higher (P <0.05) shell thickness was obtained in
eggs of hens fed a diet without the addition of alternative ingredients. The specific gravity of the eggs was
lower (P <0.05) only with the inclusion of 20% FM + 10% MO + 4% BO. There was no effect (P> 0.05)
of the treatments evaluated on the percentage of shell eggs. The inclusion of 25% cassava meal, 15%
moringa meal and 6% bocaiúva pulp in the diet of laying hens, improves weight and external quality eggs
white hillbilly type.

Keywords: alternative ingredients, average egg weight, shell thickness, specific gravity

Introdução
A alimentação das aves representa grande parte do custo de produção. O milho e farelo de soja são
os ingredientes mais utilizados no fornecimento de energia e proteína nas dietas de aves. Devido aos
baixos níveis de produção e por serem matérias-primas de alimentos humanos, são ingredientes que
elevam custo da ração (TESFAYE et al., 2014). Pesquisas estão sendo realizadas em busca de fontes

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proteicas e energéticas alternativas, em alimentos que sejam economicamente viáveis e de fácil acesso,
sem que prejudiquem o desempenho animal.
Entre os alimentos com alto potencial de substituição aos ingredientes tradicionais, pode-se
destacar a farinha de mandioca, a moringa e a torta de bocaiúva.
A farinha da mandioca (Manihot esculenta) apresenta alto valor energético, podendo crescer em
solos de baixa fertilidade, possui rápida propagação e tolera longos períodos de seca. É considerada boa
fonte de amido e calorias, no entanto, contém baixa qualidade e quantidade de proteínas, baixo nível de
carotenóides, o que limita seu uso na alimentação avícola.
A Moringa oleifera é uma árvore nativa do continente indiano. A farinha de folhas de moringa é
rica em proteínas, com um bom perfil de aminoácidos, ácidos graxos, minerais e vitaminas, além de ser
pobre em fatores antinutricionais, podendo dessa forma, desempenhar grande papel na nutrição das aves
(TESFAYE et al., 2014).
Além da mandioca e moringa, presentes em abundância no estado do Mato Grosso do Sul, destaca-
se a Bocaiúva (Acrocomia aculeata),localizada em grande quantidade no Cerrado e Pantanal. A polpa da
bocaiúva é rica em carboidratos e fibras, possui grande potencial energético e boa quantidade de minerais,
como potássio, cálcio, fósforo e outros (CICONINI, 2012).
A nutrição das aves poedeiras está diretamente relacionada com a qualidade dos ovos, e esta
característica é de grande interesse dos consumidores. Desta forma, o presente estudo foi realizado com o
objetivo de avaliar o efeito da inclusão de diferentes níveis de farelo de mandioca, farelo de moringa e
polpa de bocaiúva na ração de poedeiras, sobre as características de qualidade externa de ovos brancos do
tipo caipira.

Material e Métodos
A fase experimental do estudo foi desenvolvida no setor de Agropecuária da Escola de Bodoquena
– Fundação Bradesco e as análises de qualidade externa foram realizadas no Laboratório Experimental de
Ciência Aviária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul no campus de Campo Grande - MS.
Foram utilizados 900 ovos de poedeiras criadas no sistema semi-intensivo, com 34 semanas de
idade, distribuídas em delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e cinco repetições
cada.
Os tratamentos consistiram na inclusão de uma mistura de ingredientes alternativos (IA), farelo de
raiz de mandioca (FM), folhas de moringa (MO) e polpa de bocaiúva (BO):
T1: Ração controle sem adição de ingredientes alternativos;
T2: Ração contendo 20% de farelo de mandioca, 10% de farelo de moringa e 4% de polpa de
bocaiúva;
T3: Ração contendo 25% de farelo de mandioca, 15% de farelo de moringa e 6% de polpa de
bocaiúva;
T4: Ração contendo 30% de farelo de mandioca, 20% de farelo de moringa e 8% de polpa de
bocaiúva;
As variáveis analisadas foram: peso dos ovos, porcentagem de casca, espessura da casca e
gravidade específica.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey
(P<0,05), com auxílio do programa estatístico SAS (Statistical Analysis System).

Resultados e Discussão
Os resultados para a qualidade externa dos ovos (Tabela 1) demonstram o efeito (P<0,05) dos
tratamentos avaliados sobre todas as variáveis analisadas.
Para o peso dos ovos, o tratamento contendo 25% FM + 15% MO + 6% BO na dieta de poedeiras,
proporcionou a produção de ovos mais pesados (P<0,05), com o menor peso dos ovos obtido pelo maior
nível de inclusão de IA (30% FM + 20% MO + 8% BO) na dieta.
No entanto, ao alimentarem poedeiras com níveis de 0, 25, 50, 75 e 100% de farelo de apara de
mandioca, CRUZ et al. (2006) observaram que os ovos mais pesados foram obtidos nos níveis 50 e 100%
de inclusão. Resultados semelhantes foram obtidos por TESFAYE et al. (2014) que ao alimentarem
poedeiras com dietas contendo 0% e 50% de aparas de raiz de mandioca e 0% e 5% folhas de moringa,
observaram que o peso dos ovos foi maior em aves alimentadas com o maior nível de cada ingrediente.

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A maior espessura de casca (P<0,05) foi observada em ovos provenientes do tratamento controle
(0% de IA) e no tratamento com inclusão de 25% de FM, 15% de MO e 6% de BO na dieta das poedeiras.
Resultados parcialmente semelhantes foram obtidos por CRUZ et al. (2006) que verificaram maior
espessura de casca em ovos produzidos por poedeiras alimentadas com rações sem a inclusão de farelo de
mandioca. Estes autores relataram que devido o farelo de mandioca apresentar baixa concentração de
cálcio, grandes inclusões na alimentação das aves pode levar a incidência de ovos com casca fina. Por
outro lado, TESFAYE et al. (2014) não encontraram efeito sobre a espessura de casca dos ovos
produzidos com a utilização de aparas de mandioca e folhas de moringa na alimentação de poedeiras.
Com exceção do tratamento com inclusão de 20% de FM, 10% de MO e 4% de BO, todos os
tratamentos proporcionaram a produção de ovos com maior gravidade específica (P<0,05).
Ao utilizar 100% de inclusão de apara de mandioca em substituição ao milho, Cruz et al. (2006)
observaram maior gravidade específica dos ovos.

Tabela 1. Qualidade externa de ovos brancos do tipo caipira de poedeiras alimentadas com diferentes
níveis de ingredientes alternativos
Peso do ovo Casca Espessura de casca Gravidade
Ingredientes alternativos1
(g) (%) (mm) específica
Controle 62.678 ab 9.45 0.538 a 1.090ª
20%FM+10%MO+4%BO 61.466 ab 9.40 0.528ab 1.089b
25%FM+15%MO+6%BO 62.944ª 9.57 0.530 ab 1.090a
30%FM+20%MO+8%BO 61,072b 9,56 0.526 b 1.091a
P-Value 0,018 0,284 0,049 <0,01
CV (%) 1,55 1,94 1,22 0,05
Médias seguidas de letras minúsculas distintas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05)
1
FM= farelo de mandioca, MO= folha de moringa, BO= polpa de bocaiúva

Conclusões
A inclusão de 25% de farelo de mandioca, 15% de farelo de moringa e 8% de polpa de bocaiúva
na dieta de poedeiras, melhora o peso e a qualidade externa de ovos brancos do tipo caipira.

Literatura Citada
CICONINI, G. Caracterização de frutos e óleo de polpa de macaúba dos biomas Cerrado e Pantanal
do estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, 2012. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia) –
Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, 2012
CRUZ, F.G.G.; PEREIRA FILHO, M.; CHAVES, F.L. Efeito da substituição do milho pela farinha da
apara de mandioca em rações para poedeiras comerciais. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, n. 6, p.
2303-2308, 2006.
TESFAYE, E.B.; ANIMUT, G.M.; URGE, M.L. et al. Cassava root chips and Moringa oleifera leaf meal
as alternative feed ingredients in the layer ration. The Journal of Applied Poultry Research, p. japr920,
2014.

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ANAIS DA VIII MOSTRA CIENTÍFICA FAMEZ

COMPARAÇÃO ENTRE LAMP E PCR NO DIAGNÓSTICO MOLECULAR DE LEISHMANIA


(INFANTUM) CHAGASI

Jessica Teles Echeverria1, Tamires Lima de Oliveira1, Rodrigo Leite Soares1, Herbert Patric Kellermann
Cleveland2, Catarina Josefina Greff Meignen3, Carlos Alberto do Nascimento Ramos4, Fernando de
Almeida Borges4
1
Aluna do curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: jessica_teles18@hotmail.com
1
Aluna do curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. Bolsista PIBIC. E-mail: tamiires_liima@hotmail.com
1
Aluno do curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. Bolsista PIBIC. E-mail: rodrigo_fls@hotmail.com
2
Técnico do Laboratório da FAMZEZ/UFMS. E-mail: herbert.cleveland@ufms.br
3
Residente em Medicina Veterinária Preventiva. E-mail: cata.vet@hotmail.com
4
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: carlosanramos@yahoo.com.br
4
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: borgesvet@hotmail.com

Resumo: Métodos de diagnósticos capazes de identificar com eficiência animais infectados representam
um grande desafio para pesquisa científica. Uma das metodologias recentemente desenvolvidas para
detecção de Leishmania é a Amplificação Isotérmica Mediada por Loop (LAMP). Assim como a reação
de PCR essa técnica é baseada na amplificação de fragmentos específicos de DNA, porém em
temperatura constante e com possiblidade de obtenção de resultado visual por meio da presença ou
ausência de turbidez, possibilitando sua implementação em laboratórios que não possuam equipamentos
como o termociclador. Essa metodologia tem sido aplicada ao diagnóstico de L. (infantum) chagasi em
cães e em humanos. A LAMP é um teste prático, rápido e apresenta sensibilidade e especificidade
comparáveis aos da PCR, devido a isso, o objetivo do presente estudo foi comparar as reações de LAMP
com a PCR para L. (infantum) chagasi. A reação de LAMP apresentou uma sensibilidade 100 vezes
maior do que a PCR, sendo capaz de detectar 1000 parasitas/ml de sangue enquanto a PCR detectou a
partir de 100000 parasitas/ml. Não houve turbidez nos tubos ou mudança de coloração pelo azul de
hydroxynaftol. A reação de LAMP foi mais sensível e prático do que a PCR para L. (infantum) chagasi,
no entanto, deve-se avaliar o parâmetro especificidade antes de ser utilizada como diagnóstico e
inquéritos epidemiológicos.

Palavras-chave: biologia molecular, lamp, leishmaniose

COMPARISON BETWEEN LAMP AND PCR MOLECULAR DIAGNOSTIC FOR


LEISHMANIA (INFANTUM ) CHAGASI

Abstract: Efficient diagnostic methods to identify infected animals represent a major challenge for
scientific research. One of the methods recently developed for detection of Leishmania is the Loop
Mediated Isothermal Amplification (LAMP). As the PCR reaction this technique is based on
amplification of specific DNA fragments, but in a constant temperature and possibility of obtaining visual
result through the presence or absence of turbidity, allowing its implementation in laboratories that do not
have equipment such as thermocycler. This methodology has been applied to the diagnosis of L.
(infantum) chagasi in dogs and humans. The LAMP is a quickly, rapidly and has a sensitivity and
specificity comparable to PCR, because of these, the aim of this study was to compare the LAMP
reactions with PCR for L. (infantum) chagasi. The LAMP reaction showed a 100 times higher sensitivity
than PCR are be able to detect 1000 parasites/ml of blood while the PCR detected from 100000
parasites/ml. There was no turbidity in the tubes or color changes by Hydroxynaftol blue. The LAMP
reaction was more sensitive and practical than PCR L. (infantum) chagasi, however, the specificity
parameter should be evaluated before being used as a diagnostic and epidemiological studies.

Keywords: lamp, leishmaniasis, molecular biology

Introdução
As técnicas de biologia molecular vêm sendo empregadas na pesquisa científica para inquéritos
epidemiológicos e diagnósticos de agentes patogênicos, como o protozoário Leishmania (infantum)
chagasi, sendo a mais utilizada a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). Em contrapartida, outra
técnica, a Amplificação Isotérmica Mediada por Loop (LAMP), vem ganhando espaço devido a maior

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praticidade de execução e menor custo, melhorando a detecção do agente (Notomi et al., 2000; Cortes et
al., 2004; Chaouch et al., 2013).
A reação de LAMP consiste em uma reação de deslocamento de fitas provocadas pela enzima Bst
DNA polimerase devido à ausência da atividade 5’-3’ exonucleásica. O processo de amplificação envolve
a utilização de ao menos dois pares de primers, sendo dois internos (FIP e BIP) e dois externos (F3 e B3)
em que são desenhados a partir de uma sequência de DNA. Ao final da reação ocorre a formação de
várias estruturas de tamanhos diferentes, todas contendo a sequência alvo, com isso obtém-se várias
cópias da sequência desejada, com vários loops em uma mesma fita, além disso, a técnica pode amplificar
em uma escala de 109 fragmentos em menos de uma hora com uma temperatura constante (Notomi et al.,
2000).
Uma das principais vantagens da reação de LAMP é o fato de não necessitar de equipamentos
sofisticados utilizados na PCR, como o termociclador, equipamentos para eletroforese e transiluminador
com fotodocumentador. Além disso o resultado pode ser visualizado pela turbidez nos tubos de reação ou
alteração de coloração quando são utilizados corantes de DNA. Outra importante vantagem está
relacionada a velocidade na obtenção de resultados, tendo em vista que na reação de LAMP é possível
obter resultados em apenas uma hora de processamento, já em uma reação de PCR convencional são
necessárias ao menos 2 horas (PARIDA et al., 2008). Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi
comparar uma reação de LAMP e uma reação de PCR para o diagnóstico de L. (infantum) chagasi.

Material e Métodos
A comparação entre as técnicas de PCR e LAMP foi realizada por meio da análise de
sensibilidade. Para tanto, foi realizada extração de DNA a partir de uma amostra contendo promastigotas
de Leishmania spp. cultivada e cedida pelo Laboratório de Análises Clínicas (LAC)/UFMS. Antes da
extração foi realizada a contagem de parasitas por mililitro (mL) de cultura em Câmara de Neubauer.
Após determinação do número de parasitos/mL foram realizadas diluições seriadas com razão 10,
obtendo-se oito diluições (105, 104, 103, 102, 101, 100, 10-1 e 10-2). Cada diluição foi submetida a extração
de DNA de acordo com protocolo estabelecido por Araújo et al. (2009).
As reações de PCR foram realizadas com os primers MC1 e MC2 (Cortes et al., 2004), específicos
para o DNA do minicírculo do cinetoplasto de L. (infantum) chagasi. As reações de LAMP foram
realizadas seguindo o protocolo de Chaouch et al. (2013) utilizando-se o gene cisteína-protease B de L.
(infantum) chagasi para a confecção dos primers. As reações foram adaptadas da seguinte forma: cada
reação continha 25μl de volume total, com 1μl de DNA, (2,5mM) de tampão 10x Bst DNA polimerase,
0,2mM de dNTPs, 1,6μM de FIP e BIP, 0,2μM de F3 e B3, 0,2M de betaína, 8U de Bst DNA polimerase
(New Englands BioLabs), e H2O ultra pura para completar o volume final. As condições de amplificação
da LAMP no termobloco foram de 64ºC por 60 minutos e posteriormente 85ºC por 5 minutos.
Para ambas as metodologias, foram utilizados: 1μl de controle negativo (H 2O ultra pura) e positivo
(DNA de L. (infantum) chagasi). O controle positivo foi cedido pelo Laboratório de Biologia Molecular
da Famez/UFMS, DNA extraído de cultura cedido pela Fiocruz de Pernambuco
(MHOM/BR/1974/PP75).
Ao final, as reações foram submetidas à eletroforese em gel de agarose a 2% e ao corante
intercalante de DNA GelRed® (Biotium). As bandas foram visualizadas em transiluminador UV e
aparelho de fotodocumentação GelDoc XR (BioRad).

Resultados e Discussão
A reação de LAMP avaliada no presente estudo conseguiu amplificar até 103 parasitas/mL de
cultura, enquanto a PCR amplificou apenas a partir da amostra de DNA extraída da maior concentração
de parasitos (105 parasitas/mL) (Figura 1). Dessa forma a reação de LAMP apresentou uma sensibilidade
100 vezes superior à observada para a reação de PCR.

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Figura 1. Eletroforese em gel de agarose 2% corado com GelRed com os produtos da reação de LAMP
(A) e PCR (B) de diluições seriadas (10 5 a 10-2 parasitos/mL) de L. (infantum) chagasi. M: marcado de
massa molecular 1kb. +: controle positivo. -: controle negativo.

Em relação ao protocolo original da reação de LAMP utilizada no presente estudo (Chaouch et al.,
2003), foram realizadas algumas adaptações, relativas principalmente às concentrações dos primers. As
comparações nas concentrações de cada componente podem ser visualizadas na Tabela 1.

Tabela 1. Comparação de reagentes e suas concentrações entre PCR e LAMPs


Reagentes PCR (Cortes et al., 2004) LAMP (Chaouch et al., 2013) LAMP adaptado
Tampão 10x 10x 10x
Co-fator MgCl2 (1,5mM) Betaína (10μM) e MgSO4 (10mM) Betaína (0,2M)
dNTPs 0,2mM 2,5mM 0,2mM
A B
Primer MC1 (5pmol) FIP (1,6mM) FIP (1,6μM)
Primer MC2 (5pmol) BIP (1,6mM) BIP (1,6μM)
Primer - F3 (0,2mM) F3 (0,2μM)
Primer - B3 (0,2mM) B3 (0,2μM)
Primer - LF (0,8μM) -
Primer - LB (0,8μM) -
Enzima Taq polimerase (1U) Bst DNA polimerase (8U) Bst DNA polimerase (8U)
DNA 1μl 1μl 1μl

No presente estudo, não foi possível observar a formação de turbidez nas reações de LAMP, assim
como a alteração de cor entre as reações positivas e negativas quando foi utilizado o corante Azul de
Hydroxinaftol (HNB). Esses problemas podem ter ocorrido devido a não liberação dos íons Mg 2+ para a
formação do composto insolúvel pirofosfato de magnésio devido a não adição de MgSO 4, ou pelas baixas
concentrações de primers e dNTPs utilizados, que também influenciam na liberação desses íons (Goto et
al., 2009).

Conclusões
A reação de LAMP avaliada no presente estudo apresentou sensibilidade superior a observada na
reação de PCR para o diagnóstico de L (infantum) chagasi. Outro importante parâmetro, como a
especificidade, ainda precisa ser avaliado antes que se justifique a utilização do LAMP na rotina de
diagnóstico ou em inquéritos epidemiológicos.

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Literatura Citada
ARAÚJO, F.R.; RAMOS, C.A.N.; LUÍZ, H.L. et al. Avaliação de um Protocolo de Extração de DNA
Genômico a Partir de Sangue Total. Embrapa Gado de Corte, 2009. p.2 (Comunicado Técnico,120).
CHAOUCH, M.; MHADHBI, M.; ADAMS, E.R. et al. Development and evaluation of a loop-mediated
isothermal amplification assay for rapid detection of Leishmania infantum canine leishmaniasis based on
cysteine protease B genes. Veterinary Parasitology, v.198, p.78-84, 2013.
CORTES, S.; ROLÃO, N.; RAMADA, J. et al. PCR as a rapid and sensitive tool in the diagnosis of
human and canine leishmaniasis using Leishmania donovani s.l.-specific kinetoplastid primers.
Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine Hygiene, v.98, p. 12-17, 2004.
GOTO, M.; HONDA, E.; OGURA, A. et al. Colorimetric detection of loop-mediated isothermal
amplification reaction by using hydroxy naphthol blue. Short Technical Reports, v.46, n.3, p.167-172,
2009.
NOTOMI, T.; OKAYAMA, H.; MASUBUCHI, H. et al. Loop-mediated isothermal amplification of
DNA. Nucleic Acids Research, v.28, n.12, 2000.
PARIDA, M.; SANNARANGAIAH, S.; DASH, P.K. et al. Loop mediated isothermal amplification
(LAMP): a new generation of innovative gene amplification technique; perspectives in clinical diagnosis
of infectious diseases. Reviews in Medical Virology, v.18, p.407-421, 2008.

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CORREÇÃO CIRÚRGICA DE PERSISTÊNCIA DE ARCO AÓRTICO DIREITO EM UM CÃO


DE TRÊS MESES DE IDADE: RELATO DE CASO

Alice Rodrigues de Oliveira1, Fabrício Oliveira Frazílio2, Klebs Tavares de Assis3, Munir Azambuja4,
Pamella Karina Gomes Cunha5, Paulo Henrique Affonseca Jardim6
1
Pós Graduanda em Ciências Veterinárias da FAMEZ/UFMS. Email: aliceoliveira.br@gmail.com
2
Professor da FAMEZ/UFMS. Email: fabrício.frazilio@ufms.br
3
Residente em Clínica Cirúrgica da FAMEZ/UFMS. Email: klebstavares@hotmail.com
4
Residente em Diagnóstico por Imagem da FAMEZ/UFMS. Email: munirazambuja@hotmail.com
5
Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais da FAMEZ/UFMS. Email: pamellakarina@hotmail.com
6
Médico Veterinário da FAMEZ/UFMS. Email: paulo.jardim@ufms.br

Resumo: A persistência do 4º arco aórtico resulta na obstrução esofágica que passa a ser evidente ao
desmame do animal devido à constante regurgitação após ingestão de alimentos sólidos. O presente relato
descreve a ocorrência desta malfomação em um cão da raça chow chow aos três meses de idade que
apresentava sinais clínicos sugestivos da malformação de anel vascular como regurgitação,
emagrecimento progressivo e desidratação. O diagnóstico foi baseado nos sinais clínicos, exame físico e
radiografia que comprovaram a presença de megaesôfago. A cirurgia exploratória permitiu o diagnóstico
definitivo de persistência do 4º arco aórtico e sua respectiva correção cirúrgica de excisão do ligamento
arterioso. Radiografias foram feitas no pós-cirúrgico, permitindo a observação da redução do
megaesôfago quando decorrido um mês da cirurgia. O animal voltou a ser alimentado normalmente com
dieta sólida e não apresentou regurgitação, permitindo aumento do seu escore corporal. A abordagem
cirúrgica precoce foi eficaz para a correção do megaesôfago secundário à persistência do 4º arco aórtico.

Palavras chave: Malformação, megaesôfago secundário, regurgitação

SURGICAL CORRECTION OF RIGHT AORTIC ARC PERSISTENCE IN A THREE MONTHS


OLD DOG: CASE REPORT

Summary: The 4th aortic arch persistence results in esophageal obstruction which becomes evident at
weaning due to the constant regurgitation after solid foods ingestion. This report describes the occurrence
of this malformation in a chow chow breed dog at three months of age who presented suggestive clinical
signs of vascular ring malformation as regurgitation, progressive weight loss and dehydration. The
diagnosis was based on clinical signs, physical examination and radiographs that demonstrated the
presence of megaesophagus. Exploratory surgery allowed the definitive diagnosis of 4th aortic arch
persistence and its respective surgical excision of the ligamentum arteriosum. Radiographs were taken
after surgery, allowing the observation of reduced megaesophagus within one month of surgery. The
animal was again fed with solid diet and showed no regurgitation, allowing increased body score. The
approach was effective for early surgical correction of megaesophagus secondary to the persistence of the
4th aortic arch.

Key words: Malformation, secundary megaesophagus, regurgitation

Introdução
A persistência do 4o arco aórtico direito é definida como uma malformação do anel vascular e que
tem como principal característica a regurgitação de alimento sólido em animais desmamados
(ETTINGER, 2005).
Durante a vida embrionária seis pares de arcos aórticos circundam a traquéia e esôfago dos
animais. Estas estruturas passam por uma regressão ao nascimento, adquirindo assim a forma adulta da
vasculatura (HOLBERG & PRESNEL, 1979). Ainda no útero, o arco aórtico direito é ligado à artéria
pulmonar esquerda pelo ducto arterioso persistente, este que após o nascimento se fecha e passa a ser o
ligamento arterioso, responsável pela compressão do esôfago ou traquéia (MacDONALD, 2005).
Segundo MacDONALD (2005) o exame diagnóstico adequado é o esofagrama que permite distinguir as
anormalidades do anel vascular. Através de radiografias observam-se alterações sugestivas de persistência
de arco aórtico por megaesôfago e silhueta cardíaca deslocada para a direita (MACPHAIL 2001).

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O tratamento para correção do 4º arco aórtico persistente é a excisão do ligamento arterioso,


obtendo um melhor prognóstico quando feito cedo para evitar danos irreversíveis no esôfago
(MacDONALD, 2005).
O presente trabalho objetiva relatar um caso de persistência de 4 o arco aórtico direito com
megaesôfago secundário em um cão macho da raça chow chow, com 2,5 kg e 3 meses de idade, que foi
atendido no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ), na
Universidade Federal de Mato Grosso do sul (UFMS), apresentando como principal sinal clínico
regurgitação minutos após a alimentação.

Relato de Caso
Um cão macho, da raça chow chow, com 3 meses de idade, pesando 2,5 Kg foi atendido no
Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ), na Universidade
Federal de Mato Grosso do sul (UFMS), apresentando queixa principal de regurgitação com intensa
salivação há 15 dias e emagrecimento progressivo. Na anamnese foi relatado que o animal apresentava
regurgitação após ingestão apenas de dieta sólida, normorexia, sem presença de diarréia, fezes firmes e
em pequena quantidade. Todos os sinais clínicos foram observados pelo proprietário desde que
adquiriram o animal. Ao exame físico apresentou temperatura retal de 38,9 0C, nível de consciência alerta,
estado nutricional caquético, pulso arterial normal, desidratação 8%, abdome abaulado e presença de
conteúdo cervical à palpação.
O plano diagnóstico traçado para o animal foi de fluidoterapia, hemograma completo e radiografia,
esta que confirmou a suspeita clínica de megaesôfago sugerindo-se à persistência do 4o arco aórtico.
Algumas alterações no hemograma foram observadas, sendo elas um volume globular abaixo do
preconizado (31,1%) e leucocitose de 25.100 mm3 por aumento de neutrófilos (20.331 mm3).
Após os exames, o animal foi submetido à cirurgia de correção da persistência do 4 o arco aórtico.
O protocolo anestésico baseou-se na utilização de meperidina 3 mg/kg como medicação pré
anestésica e indução com propofol 4 mg/kg. A anestesia realizada foi inalatória com isofluorano
vaporizado em oxigênio a 100% e a utilização de fentanil transoperatório na dose de 5 µg/kg. O método
de mensuração da pressão arterial foi invasivo, no qual se observou hipotensão (pressão arterial média
oscilando em 48 a 60) que foi corrigida com o uso de dopamina a 10mcg/kg/min em infusão constante. O
animal foi ventilado durante a cirurgia a partir do momento de abertura do tórax e manteve a saturação
entre 94 e 98% durante o procedimento que teve duração de 2 horas. A freqüência cardíaca manteve-se
em média de 126 bpm.
A incisão cirúrgica foi realizada no quarto espaço intercostal esquerdo conforme sugerido pela
literatura e as musculaturas foram divulsionadas para acessar a cavidade torácica. Através de cuidadosa
dissecção, as estruturas envolvidas foram vizualizadas, entre elas o nervo vago que foi identificado e
isolado. O ligamento arterioso pôde ser observado estenosando o esôfago e em seguida sua ligadura foi
realizada em dois pontos com fio de ácido poliglicólico número 2-0, permitindo a secção do ligamento
entre os dois pontos. O tecido fibroso ao redo do esôfago na região da estenose foi liberado e uma sonda
endotraqueal foi introduzida pela cavidade oral até a região estenosada do esôfago. Em seguida o cuff do
traqueotubo foi levemente inflado para observar a dilatação do esôfago no local que havia a estenose.
Terminado o procedimento de desobstrução do esôfago, a síntese da musculatura intercostal foi realizada
com fio 2-0 de ácido poliglicólico. Após o completo fechamento da musculatura intercostal, a pressão
negativa do tórax foi reestabelecida utilizando-se de uma torneira de três vias conectada a uma seringa de
20 ml e a uma agulha 26/7.
A analgesia pós operatória foi realizada com metadona a 0,5 mg/kg, cetoprofeno 1 mg/kg e
levobupivacaína ao redor da incisão cirúrgica, proporcionando analgesia satisfatória após a recuperação
anestésica. A metadona na dose de 0,5 mg/kg foi repetida após 8 e 16 horas do término do procedimento
cirúrgico.
Durante as duas semanas que se seguiram da cirurgia, o cão foi alimentado com comida pastosa e
segundo o proprietário o paciente não apresentou regurgitação durante este período. Ao final da segunda
semana no pós operatório o animal retornou ao hospital veterinário apresentando-se 2 kg mais pesado e
foi submetido a novos exames radiográficos e o hemograma, que constatou a presença de aerofagia e
leucocitose respectivamente. Na quarta semana que se seguiu da cirurgia o cão foi submetido novamente
a radiografias que constataram a redução parcial do megaesôfago na porção torácica e um sinal discreto
de aerofagia na porção cervical esofágica

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Discussão
A queixas principais do proprietário na consulta inicial do animal, foram os episódios de
regurgitação após ingestão de alimento sólido e estado caquético do animal assim como foi relatado por
McPhail (2001). A regurgitação em animais jovens, no período de desmama é um indicativo de
megaesôfago secundário à persistência do arco aórtico direito (MacDONALD, 2005).
Para o diagnóstico de megaesôfago a radiografia simples foi suficiente, não sendo necessário o uso
de esofagrama contrastado como utilizado por OLIVEIRA, et al. (2004) ou radiografias contrastadas
como realizado por COSTA, et al. (2007). Segundo MacDONALD (2005) o esofagrama contrastado pode
ser útil para diferenciar o megaesôfago generalizado das anormalidades de anel vascular.
A persistência do arco aórtico direito foi confirmado com a toracoscopia exploratória, realizada
conforme COSTA et al. (2007), permitindo a visualização do ligamento arterioso e consequentemente
sua ligadura.
No período pós-operatório é indicado que a comida do animal seja mantida em locais altos para
que a alimentação seja em posição bipedal (Quessada et al. 2010). De acordo com MacPHAIL, et al.
(2010) é esperado que o paciente apresente regurgitação mesmo que esporádica. Entretanto, apesar do
animal ter sido alimentado em posição quadrupedal durante o pós-operatório, o proprietário relatou a
ausência de regurgitação.
Segundo MacPhail et al. (2001), problemas respiratórios podem ser evidenciados no período de
recuperação, porém o paciente não apresentou alterações pulmonares nas radiografias realizadas após
duas semanas do pós cirúrgico.
Diferentemente do que foi relatado por Quessada et al. (2010) e MacPhail et al. (2001), no qual
mesmo após meses decorridos da cirurgia o esôfago manteve-se dilatado, houve a redução parcial do
megaesôfago na porção torácica conforme constatado pelas radiografias realizadas na quarta semana do
pós operatório.

Conclusões
A cirurgia exploratória para correção do 4º arco aórtico persistente é indicada para animais que
apresentam sinais clínicos de regurgitação após desmame, perda de peso e desidratação seguidos de
diagnóstico de megaesôfago confirmado por radiografias.

Literatura Citada
COSTA, J. L. O.; PENA, S. B.; BRUSCKI, J. F. Correção Cirúrgica de Obstrução Esofágica Ocasionada
por Persistência do 4o Arco Aórtico Direito em Cão. Revista Eletrônica de Medicina Veterinária, ano
5, n. 9, 2007.
ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária: Doenças do Cão e do
Gato. Guanabara Koogan, 3020p., 1997.
HOLBERG, D.L.; PRESNELL, K.R. Vascular Ring Anomalies: Case Report and Brief Review.
Canadian Veterinary Journal, v.20, p. 78-81, 1979.
MacDONALD, K. A. Congenital Heart Diseases of Puppies and Kittens. Veterinary Clinics Small
Animal Practice, v. 36, p. 503-531, 2006.
MacPHAIL, C. M.; MONNET, E.; TWEDT, D. C. Thoracoscopic Correction of Persistent Right Aortic
Arch in a Dog. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 37, p. 577-581, 2001.
OLIVEIRA, E. C.; GAIGA, L. H.; COLOMÉ, L. M.; MELLO, F. P. S.; MARTINS, J. M.; FREIRE, C.
D. Persistência do Arco Aórtico Direito em um Cão – Relato de Caso. Revista da Faculdade de
Zootecnia, Veterinária e Agronomia, v.11, n.1, p.172-180, 2004.
QUESSADA, A. M.; FONTELES, Z. C.; ALMEIDA e CRUZ, N. E.; RODRIGUES, M. C.; FREITAS,
M. V. M.; BEZERRA, F. B.; SOUZA, J. M. Persistent Right Aortic Arch in a Dog. Acta Scientiar
Veterinariae, v. 38, n. 3, p. 333-336, 2010.

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VARIABILIDADE GENÉTICA PARA PRODUÇÃO DE MEL EM COLÔNIAS DE TIÚBA


(Melipona fasciculata) NA REGIÃO DE SÃO BENTO – MA

Thalles Policarpo de Carvalho Lima1, Fabio José Carvalho Faria2, Gustavo Garcia Santiago3 José de
Ribamar Silva Barros4
1
Doutorando em Ciência Animal, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: thallescarvalho02@hotmail.com
2
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: fabio.faria@ufms.br
3
Doutorando em Ciência Animal, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: garciasantiago@hotmail.com
4
Professor da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. E-mail: jrs.barros@ig.com.br

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo estimar a variabilidade e a herdabilidade da


característica produtividade de mel das colônias de tiúba na região de São Bento MA. Foram utilizadas 37
colônias de tiúba em condições ambientais idênticas para análise da variabilidade na produtividade de mel
das colônias e entre as colônias. A quantidade produzida de mel foi comparada utilizando a análise de
variância (ANOVA) por meio do pacote estatístico Bioestat 5.0, além dessa estimativa foi estabelecido
um ranking de desempenho com base na média da produtividade de cada colônia (25% melhores, 25%
piores e as 50% de produtividade intermediária). Os resultados observados demonstraram que as colônias
mais produtivas, de produção intermediária e de menor produção de potes de mel obtiveram médias de
X S : 25,05, X I : 19,45 e X B : 13,17, respectivamente. O valor do coeficiente de herdabilidade estimado
juntamente com o coeficiente de correlação de intraclasse foi (h2 = 0,13 e t =0, 024) o que revelou que a
variação do caráter (produção de mel) na população depende significantemente de outros fatores não
genéticos, sendo que as variações genéticas só correspondem a 13% do total e a variabilidade observada
na população analisada foi dentro das colônias do que entre elas.

Palavras-Chave: genética de abelhas, meliponicultura, herdabilidade

GENETIC VARIABILITY FOR HONEY PRODUCTION IN COLONIES OF TIÚBA (Melipona


fasciculata) IN THE REGION OF SÃO BENTO – MA

Abstract: The present study aimed to estimate the variability and heritability of honey productivity
feature of tiúba colonies in the region of St. Benedict MA. 37 tiúba colonies were used in identical
environmental conditions for analysis of the variability in honey productivity of the colonies and between
the colonies. The amount of honey produced was compared using analysis of variance (ANOVA) using
the statistical package Bioestat 5.0, but this estimate was established a ranking based on the average
performance of productivity of each colony (25% better, 25% worse and 50% of intermediate
productivity). The results observed show that the more productive colonies, intermediate production and
lower production of honey pots obtained average, X S : 25.05, X I : 19.45 e X B : 13.17, respectively. The
estimated heritability coefficient along with the intraclass correlation coefficient was (h 2 = 0.13 and t = 0,
024) which showed that the variation of the character (honey) in the population depends on significantly
other factors not genetic, and genetic variations represent only 13% of the total variability observed in the
population examined was within the colonies than between them.

Keywords: genetic bee, meliponicultura, heritability

Introdução
Meliponicultura é a criação racional de abelhas sem ferrão, onde seus indivíduos são pertencentes
ao gênero Melipona, com aproximadamente 55 espécies distribuído em toda região neotropical. Segundo
Kerr (1996), as abelhas sem ferrão brasileiras constituem-se nos principais polinizadores de 90% das
árvores brasileiras. As 10% restantes são polinizadas pelas abelhas solitárias, borboletas, coleópteros,
morcegos, aves, alguns mamíferos, água, vento, e pelas abelhas do gênero Apis.
Entre os meliponíneos distribuídos no estado do Maranhão, encontra-se a Melipona fasciculata,
sua principal abelha, conhecida popularmente como tiúba. Essa abelha possui um importante papel
ecológico, pois é uma das principais polinizadoras da flora nativa nas áreas onde ela está distribuída. A
tiúba ocorre em outras regiões de clima tropical e subtropical, se estendendo desde o Maranhão até o
Estado do Pará, Piauí e Tocantins, entretanto, nesses estados é conhecida como Uruçu cinzenta (Bezerra,
2004).

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A base de todo melhoramento genético é a seleção de características desejáveis que possam ser
mantidas após realizados os cruzamentos. Moreno & Soares (2006) relatam que o melhoramento genético
em qualquer organismo visa o aumento na população das frequências gênicas dos loci a serem
selecionados.
O melhoramento genético das abelhas é um processo que tem por finalidade aumentar a produção
da característica de interesse que são: aumento da produtividade de mel, própolis, geoprópolis, pólen ou
cera, aumento da resistência a doenças, redução da atividade enxameatória e boa atividade de postura das
rainhas. Seu principal objetivo entre as abelhas é a obtenção, por meio de seleção, de linhagens que
apresentem características desejáveis escolhidas pelos apicultores e meliponicultores (Gramacho, 2004).
O objetivo deste estudo foi estimar a variabilidade genética, por meio do coeficiente de herdabilidade e o
coeficiente de correlação de intraclasse da abelha tiúba (Melipona fasciculata) na região de São Bento
MA.

Material e Métodos
O trabalho foi desenvolvido no meliponário do Núcleo de Conservação de Abelhas da Fazenda
Escola da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA na Cidade de São Bento (S 02º41’45” W
44º49'17") de janeiro a setembro de 2011 no Maranhão. Foram utilizadas 37 colônias de M. fasciculata,
escolhidas aleatoriamente, onde foi analisado o número de potes com mel de todas as colônias, durante os
nove meses de monitoramento, que foi estimada de forma indireta pela quantidade de potes com mel
produzidos a cada 30 dias.
Posteriormente com os dados coletados foi estabelecido um ranking de desempenho, classificando
as 25% das colônias com maior produtividade (nove colônias dentre as 37) e as 25% de menor
produtividade (nove colônias dentre as 37) e as dezenove colônias de produtividade intermediária.
A estimativa da variabilidade da produtividade de mel das colônias e entre as colônias foi realizada
pela análise de variância (ANOVA), por meio do pacote estatístico Bioestat 5.0 (Ayres et al, 1998).
Sendo que essa análise foi realizada para obtenção dos componentes visando o calculo da herdabilidade e
do coeficiente de correlação de intraclasse de M. fasciculata e para o estudo dos componentes de
variância foi adotado o modelo estatístico FISHER 1954.

Resultados e Discussão
Os resultados observados demonstraram que as colônias mais produtivas obtiveram médias X S :
25,05, as menos produtivas médias X B : 13,17 e as de produção intermediárias médias X I : 19,45 de potes
com mel. A análise do número de potes com mel se caracteriza como um parâmetro importante para se
identificar o desempenho e a produtividade de mel das colônias. Colônias com o maior número de potes
com mel se caracterizam como geneticamente adaptadas à região e como potenciais colônias para o
melhoramento genético. O número de potes com mel por colônia é uma variável quantitativa regida por
vários genes aditivos os quais sofrem grande influência ambiental. A verificação do numero de potes com
mel por colônias demonstrou que a produtividade se manteve em quase todos os meses estável por todo
período de verificação da característica.
Para tanto, Dantas (2005) afirma que um ambiente dinâmico, indivíduos intermediários (isto é,
com genótipo mais frequente) podem não ser os mais bem adaptados da população, entretanto, mantêm
boa parte de variabilidade genética. Em tal situação, ocorre seleção direcional e a média populacional
tende a um fenótipo mais bem adaptado ao novo ambiente. De acordo Santos (2010) no final de um ciclo
de produção, a menos que o ambiente continue a mudar, um equilíbrio é alcançado no qual a população
está reajustada a esse novo ambiente. Nesse caso, a seleção direcional está atuando favoravelmente para
as colônias que suportaram melhor os dois períodos estacionais bastante rigorosos.
O coeficiente de correlação de intraclasse (t) é relativamente baixo (0, 024) Tab 1, o que reflete
que a maior parte de variabilidade observada na população analisada foi dentro das colônias do que entre
elas. Isto pode ser explicado em decorrência das variações ambientais. O baixo valor no coeficiente de
herdabilidade (h2 = 0,13) Tab 1, significa que a variação do caráter na população depende em apenas 13%
de variações genotípicas e em 87% de fatores não genéticos. A estimativa do coeficiente de herdabilidade
para produção de mel em colônias de M. fasciculata demonstra grande influência de fatores ambientais. A
importância da estimativa de herdabilidade se dá por ela indicar que tipo de seleção deve ser adotada em
programas de melhoramento genético em abelhas, além de antever o progresso genético á seleção.

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Tabela 1. Estimativa do coeficiente de herdabilidade para produção de potes com mel e coeficiente de
correlação de intraclasse de Melipona fasciculata em 2011
Caráter Local T h2
Quantidade de potes com mel São Bento 0, 024 0,13

Barros (2006) estimou a herdabilidade realizada para produção bruta (mel, pólen, cria e
geoprópolis) em Melipona scutellaris, e obteve uma estimativa baixa (h2 = 0,16) sugerindo também
grande influência do ambiente. Trabalhos foram também realizados para obter a estimativa do coeficiente
de herdabilidade para a característica produção de mel em Apis mellifera, entre eles Vesely & Siler
(1963), Hellmich et al (1985), Pegoraro et al (1999) e Pickler (2009) encontraram os valores de
herdabilidade respectivos (h2 = 0,16, h2 = 0, 063, h2 = 0,42 e h2 = 0,36) para produção de mel similar ao
obtido nesse trabalho com M. fasciculata. Costa-Maia (2009) encontrou a estimativa de herdabilidade
para produção de mel (h2 = 0,20), utilizando inferência bayesiana. Entretanto, a inferência bayesiana, que
não utiliza estatística frequentista clássica, geram valores fora do espaço de parâmetro para herdabilidade
que entre 0 e 1. Isto significa que a produção de mel é altamente influenciada pelo ambiente, ou seja, pelo
potencial nectarífero de uma região.
A importância do coeficiente de herdabilidade reside na relação que tem com a seleção. Quando
selecionamos, visamos obter um grupo novo de indivíduos, geneticamente melhor que o original.
Neste trabalho a seleção não foi realizada, mas o coeficiente de herdabilidade poderá nos dá uma
estimativa de quanto à população melhorada será superior a original.

Conclusões
A partir dos resultados apresentados, conclui-se que houve uma diferença significativa entre os
grupos existentes de uma mesma área e que a variação do caráter (produção de mel) na população
depende significantemente de outras variações não genéticas, sendo que as variações genéticas só
correspondem a 13% do total e a variabilidade observada na população analisada foi dentro das colônias
do que entre elas.

Literatura Citada
AYRES, M.; AYRES Jr, M.; AYRES, D.L.; SANTOS, A.S. (2007). BioEstat 5.0.Sociedade Civil
Mamirauá. Pará.
BARROS, J.R.S. Genetic breeding on the bee Melipona scutellaris (Apidae, Meliponinae). Acta
Amazonica, 36(1): 115-120, 2006.
BEZERRA, J.M. Meliponicultura: Uma atividade essencial para a economia familiar do trópico úmido In:
Agroambientes de Transição entre o Trópico Úmido e Semi-Árido Maranhense: atributos,
alterações e uso na produção familiar, Emanoel Gomes de Moura (Coord. e Orgs.), Programa de Pós-
Graduação em Agroecologia da Universidade Estadual do Maranhão, 1º edição, p. 144-203, São Luís,
MA, UEMA, (2004).
COSTA MAIA, F.M. Aspectos genéticos e fenotípicos para peso e medidas morfometricas em
rainhas Apis mellifera africanizadas. Maringá, Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Estadual
de Maringá, 96p 2009.
DANTAS, M.P. Seleção natural espontânea em sistemas presa-predador com difusão. Monografia de
graduação, Minas Gerais: Universidade Federal de Lavras, 79 p, 2005.
FISHER, R.A. Statistical methods for research workers. 12.ed. edinburg: Oliver and boyd., 1954.
GRAMACHO, K.P. Considerações sobre o melhoramento de abelhas com base no comportamento
higiênico, In: Annais do XV Congresso Brasileiro de Apicultura. 1º Congresso Brasileiro de Apicultura e
Meliponicultura, Natal (RN), 8 p, 2004.
HELLMICH, R.L.; KULINCEVIC, J.M.; ROTHENBUHLER, W. C. Selection for higth and low pollen-
hording honey bees. Journal Heredity. 76: p, 155-158, 1985.
KERR, W.E. CARVALHO,G.A. NASCIMENTO, V.A. et al. Abelha urucu: biologia, manejo e
conservação. Belo Horizonte: Fundação Agangau,. 144 p., 1996.
MORENO, U. & SOARES. A. E. E. Melhoramento genético em abelha Apis mellifera. In: Anais do VII
Encontro sobre Abelhas, Ribeirão Preto: São Paulo, p. 639-639, 2006.
PEGORARO, A.; MARQUES, E.N.; CHAVE – NETO, A. Estoque de recursos alimentares em Apis
mellifera scutellata. Arc. Vet. Science. V.4, n.1. p51-56,1999.

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PICKLER, M.A. Defensividade, higiene, produção de própolis e mel. (Dissertação de Mestrado) -


Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido Rodon. 49 p, 2009.
VESELY, V., SILER, R. Possibilities of the application of quantitative and population genectic in bee
breeding. Proc. Inter. Apic. Cong. (Apimondia) v. 19, p. 120-121, 1963.

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FATORES QUE AFETAM O PREÇO DE REPRODUTORES DA RAÇA NELORE EM


LEILÕES

Roseane de Souza Carlos1, Fabio José Carvalho Faria2, Deiler Sampaio Costa3, Ricardo Carneiro
Brumatti3, Gumercindo Loriano Franco3
1
Aluna do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PET. E-mail: roseanesouzarc@gmail.com
2
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: fabio.faria@ufms.br
3
Professores da FAMEZ/UFMS.

Resumo: Analisou-se os efeitos sobre o preço final de 815 reprodutores da raça Nelore comercializados
em 11 leilões na praça de Campo Grande, MS, através das variáveis tempo de venda, ordem de entrada
dos animais, lote, criador, classificação, data de nascimento, peso do animal, circunferência escrotal,
avaliação genética, genealogia e número de parcelas, por meio de regressões múltiplas. O peso corporal, a
idade, a ordem e o tempo de venda influenciaram o preço final dos animais. Dessa forma o comprador
revelou-se mais sensível às características qualitativas ao em vez do valor genético do animal.

Palavras-chave: Avaliação genética, Bovino, Comercialização.

FACTORS AFFECTING NELORE BULLS PRICE IN AUCTIONS

Abstract: Analyzed effect on the final price 815 breeders of Nellore sold in 11 auctions in Campo
Grande, MS, through variable selling time, animal order, lot, breeder, classification, birth date, animal
weight, scrotal circumference, genetic evaluation, genealogy and number of parcels, through multiple
regressions. The body weight, the age, the order and the selling time influenced the final price of the
animals. This way the buyer revealed to be more sensible to the phenotypic attributes instead of the
genetic value of the animal.

Keywords: Bovine, Commercialization, Genetic Evaluation

Introdução
A Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) em 2013 mostra que o efetivo do rebanho de bovino no
Brasil é de 211.764.292 milhões de cabeças. E uma parcela de 80% desse rebanho é composta pela raça
Nelore e seus cruzamentos (BERGMANN et al. 1999).
De acordo com Frenau et al. (2011) desse total de animais existem aproximadamente 1,5 milhão
de reprodutores. Dessa forma estima-se que tenha 37,5 milhões de matrizes bovinas. Por isso, a
importância dos programas de melhoramento genético da raça.
Em função da importância do zebuíno na pecuária bovina nacional, cada vez mais os criadores têm
buscado o aprimoramento dos sistemas de produção. Entretanto, uma das etapas na ênfase dada à
produção deve ser a escolha acertada de reprodutores. Sabe-se que, a importância dos reprodutores
reflete-se não só pelo número de filhos que eles deixam, mas também nas gerações seguintes. Desse
modo, o valor monetário do reprodutor em relação a outras categorias do sistema de criação é diluído.
No sistema tradicional de venda os reprodutores alcançam preços equivalentes de 35 a 50 arrobas.
Nesse caso, o comprador avalia apenas o animal para uso, desconsiderando atributos técnicos associados
a este. Entretanto, outra forma de comercialização são os leilões de reprodutores. Os animais atingem
preços que vão além daqueles obtidos no sistema tradicional, mas, em contrapartida, o criador dispõe de
informações como as avaliações genéticas, que vão além do fenótipo apresentado. Apesar disso, não são
disponíveis os estudos sobre as diferentes causas que afetam os preços dos reprodutores em leilões.
O presente trabalho objetivou a determinação de alguns fatores que influenciam o preço final de
reprodutores da raça Nelore comercializados em leilões na região de Campo Grande, MS.

Material e Métodos
O estudo foi realizado em Campo Grande, MS, e tratou-se de uma pesquisa observacional a partir
de coletas com informações de 815 reprodutores da raça Nelore, distribuídos em 107 lotes, de 11 leilões,
durante os meses de abril a setembro de 2014.
As informações usadas no presente estudo foram: tempo de venda, preço final do animal, além de
informações que estavam presentes nos catálogos fornecidos aos compradores no início dos leilões,

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como: ordem de entrada dos animais, lote, criador, classificação, idade em meses, peso do animal,
perímetro escrotal, avaliação genética, genealogia e número de parcelas.
Participaram dos leilões, animais de 56 criadores, distribuídos em 110 ordens de entrada, para
serem vendidos em 24 parcelas de pagamento. O tempo de permanência em pista foi contabilizado em
segundos, da entrada do animal até a batida do martelo pelo leiloeiro. As classes dos animais eram dividas
em elite, superior e regular. O preço médio final dos leilões foi de R$ 8.920,00.
As informações das avaliações genéticas coletadas foram os percentis do índice da avalição
genética TOP e POP, IQG (Índice de Qualificação Genética), iABCZ (Índice Associação Criadores
Zebuínos) e MGT (Mérito Genético Total), de diversas avaliações genéticas. ,
O efeito de TOP e POP foi agrupado em uma variável, assim como os índices MGT, iABCZ e o
IQG, já que os programas distintos usam valores diferentes. Todos os 11 Leilões visitados para coleta dos
dados, foram considerados apenas como um leilão. Já que os criadores participantes, em geral, não foram
os mesmos em todos os leilões. A variável criador foi retirada do modelo por não apresentar significância,
e a variável genealogia foi retirada do modelo inicial por falta de determinação objetiva de reprodutor
“famoso”.
Após o término dos leilões, os dados foram digitalizados e processados, no software Microsoft
Office Excel 2010®. Usou-se o software livre R i386 3.1.2 para a análise. Foi usada a regressão múltipla
como forma de avaliar o efeito de cada variável, e o nível de significância adotado foi de 5%. As
variáveis que não foram significativas (P>0,05) eram excluídas do modelo geral.

Resultados e Discussão
A análise de regressão foi usada para testar o nível de significância de IQG e TOP, além das outras
como: ordem, idade, peso e tempo. O sinal de IQG e TOP foram iguais e significativos. Por essa razão, o
IQG foi excluído do modelo, por apresentar sinal diverso do esperado. Ao se retirar o IQG, a variável
TOP passou a ser não significativa, desse modo as duas foram retiradas do modelo final. O valor do IQG
deveria ser positivo, já que quanto maior esse valor, melhor o valor genético do animal. Uma possível
causa para essa diferença, pode ser devido aos diferentes programas de avaliações genéticas utilizados em
cada leilão.
Dessa maneira, a análise de regressão não detectou efeito da avaliação genética sobre o preço final
dos animais. Madalena et al. (1996) analisaram os fatores que afetaram o preço do sêmen da raça Gir
leiteiro e Nelore. Relataram que as informações que afetaram o preço do sêmen do GIR foram o teste de
progênie, comprovando o valor genético do animal. Já o preço do sêmen Nelore não foi afetado pelo valor
genético, pois estavam relacionados ao parentesco com touros famosos e premiações em exposições
nacionais.
Resultado esse diferente de Paneto et al. (2009) ao concluírem que os animais com predominância
genética são os de maior preferência entre os produtores, dessa maneira a DEP teve influência positiva
nos preços finais na comercialização dos animais.
Esperava-se que a circunferência escrotal seria significativa, devido a sua relação com a
fertilidade. Isso deve ter ocorrido devido à pré-seleção dos animais pelo próprio criador, ou ainda pelo
fato do criador colocar animais para serem leiloados com o mesmo padrão de idade. Assim como também
a classificação de desempenho (elite, superior e regular) não teve influência no preço final do reprodutor.
Paneto et al. (2009) relataram que o próprio fato de o animal ser comercializado em leilão, torna-se
propícia a venda a preços mais elevados. Entretanto, ao desconsiderar o efeito dos leilões, a variável
criador não foi significativa.
As análises de ordem, idade, peso e o tempo de permanência em pista influenciaram
significativamente nos preços de comercialização dos reprodutores em leilões, e seus parâmetros são
apresentados na Tab. 1.

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Tabela 1. Parâmetros de regressão sobre o preço final de reprodutores Nelore


Variavél Parâmetro estimado Erro padrão t Value Pr > t
Ordem -46,88 8,96 -5,23 < 0,0001
Idade -308,20 51,68 -5,96 < 0,0001
Peso 20,97 3,03 6,90 < 0,0001
Tempo 30,03 3,00 9,98 < 0,0001

A ordem de entrada dos animais foi significativa (P < 0,0001), com parâmetro negativo, ou seja, os
primeiros lotes foram os mais valorizados. Isso pode ser devido à estratégia da ordem de entrada dos
animais. Esse resultado foi semelhante ao encontrado por Christofari et al. (2009) na venda de bezerros de
corte. Os autores relataram que os dois primeiros lotes obtiveram os melhores preços, devido ao grande
número de compradores no início do leilão.
A idade apresentou-se de maneira negativa com o preço final (P < 0,0001). Sendo os reprodutores
mais velhos os menos valorizados. De acordo com o parâmetro obtido verificou-se que essa foi a variável
de maior impacto sobre o preço final. Na figura abaixo nota-se uma maior concentração de animais entre
21 a 25 meses e 28 a 32 meses de idade, em que essa variável apresentou-se com uma distribuição
bimodal.

Figura 1. Distribuição da idade dos reprodutores em relação ao número de animais.

Isso se contrapõe ao peso observado para a idade. Sabe-se que animais mais novos são mais leves,
porém, o maior peso alcançou maiores valores. Por serem os animais mais pesados e jovens, os
compradores poderiam confundir com potencial para ganho de peso. Sua influência foi maior nos animais
com maior peso, porém a influência foi pouca, o que explica a pequena variação do preço por unidade de
peso.
Christofari et al. (2009) em seus estudos sobre a comercialização de bezerros de corte em leilões,
também observaram que o quilo de peso vivo estava relacionado ao preço final. E isso dependia muito da
época de comercialização, da demanda e oferta de bezerros no mercado.
O preço dos tourinhos foi maior em relação ao tempo de pista. Os maiores tempos de permanência
em pista obtiveram impactos significantes no preço final do reprodutor (P < 0,0001).
Resultado idêntico foi encontrado por Christofari et al. (2009) em bezerros de corte. Os autores
relataram que os maiores tempo de permanência em pista são devido ao fato, da propaganda dos animais
e dos criadores esperarem os preços estabilizarem-se.

Conclusões
De acordo com os resultados obtidos, o comprador revelou-se mais sensível às características
qualitativas em detrimento de variáveis que mensurassem o valor genético dos animais. Nesse caso,
variáveis como circunferência escrotal e as DEPs não apresentaram impacto significativo no preço final.

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Literatura Citada
BERGMANN, J. A. G. Seleção de zebuínos para a precocidade sexual. In: Primeiro Simpósio de
Reprodução de Gado de Corte, MG Anais do primeiro simpósio de reprodução de gado de corte. Viçosa,
UFV. V, 1. P 51-64, 1999.
CHRISTOFARI, L, F. et al. Manejo da comercialização em leilões e seus efeitos no preço de bezerros de
corte. Revista Brasileira Zootecnia, v.38, n.1, p.196-203, 2009.
FRENAU,G. E. Aspectos da morfologia espermática em touros. Revista Brasileira de Reprodução
Animal. 35. P160-170, 2011.
MADALENA, F. E.; MADUREIRA, A. P., PENNA, V. M. et al. Fatores que afetam o preço do sêmen
bovino. Raça Nelore e Gir Leiteiro. Revista Brasileira Zootecnia, v. 25, n. 3, p. 428 – 436, 1996.
PANETO, J. C. C.; BITTAR, E. R., BARBOSA, E. F. et al. Causas de variação nos preços de bovinos
Nelore elite no Brasil. Ciência Rural, v.39, n.1, p.215-220, 2009.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Pecuária Municipal. 2013.

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CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E MOLECULAR DE STAPHYLOCOCCUS AUREUS


ISOLADO DE MASTITE BOVINA (DADOS PARCIAIS)

Thiago Gonsalo da Silva1, Michelli Lopes de Souza2, Cássia Rejane Brito Leal3, Carlos Alberto do
Nascimento Ramos3, Maria Carolina Silva Marques4
1
Aluno do curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: thiagogonsalo@gmail.com
2
Residente em Medicina Veterinária Preventiva da FAMEZ/UFMS. E-mail: michelli-lopes-1@hotmail.com
3
Professores da FAMEZ/UFMS. E-mail: cassia.leal@ufms.br; carlos.nascimento@ufms.br
4
Professora do CCBS/UFMS. E-mail: mcarolinaqpn@gmail.com

Resumo: O objetivo desse estudo é estabelecer o perfil bioquímico e molecular de Staphylococcus aureus
isolados de amostras de leite bovino com mastite, confirmada previamente pelo California Mastitis Test
(CMT). As amostras de leite foram coletadas em na região de Campo Grande e também provenientes do
Ambulatório da FAMEZ/UFMS. As amostras foram identificadas por provas bioquímicas e
antibiogramas para determinação do perfil de resistência. Para caracterização molecular foi feita a
extração de DNA e a reação de PCR foi realizada com os primers para identificação de Staphylococcus
aureus resistentes à meticilina (MRSA). Os resultados preliminares demonstram que 76,47% das
amostras são resistentes a pelo menos um dos antibióticos testados. O gene de resistência a meticilina não
foi encontrado nas amostras testadas.

Palavras-Chave: Antibiograma, Mastite, MRSA, Staphylococcus aureus

BIOCHEMISTRY AND MOLECULAR CHARACTERIZATION OF STAPHYLOCOCCUS


AUREUS OF BOVINE MASTITIS ISOLATES (PARTIAL DATES)

Abstract: The aim of this study was to establish biochemical and molecular profile of Staphylococcus
aureus isolated from bovine milk samples with mastitis, previously confirmed by the California Mastitis
Test (CMT). Milk samples were collected in Campo Grande area and they were also from the Ambulatory
of FAMEZ/UFMS. The samples were identified by biochemical tests and antibiograms tests were
performed to determine the resistance profile. For molecular characterization DNA extraction was made
and the PCR reaction was performed with primers for identification of samples methicillin resistant
(MRSA). Preliminary results demonstrate that 76,47% of the samples are resistant to at least one of the
antibiotics tested. The methicillin resistance gene wasn’t found in the samples tested.

Keywords: Antibiogram, Mastitis, MRSA, Staphylococcus aureus

Introdução
A mastite é um processo inflamatório das mamas que pode acometer todas as fêmeas de
mamíferos, porém tem importância econômica em bovinos, caprinos e ovinos. Ela pode ocorrer por
fatores ambientais e por erros no manejo. É mais comum que a mastite aconteça em animais que estão em
lactação, mas não é raro acontecer em animais fora desse período e em fêmeas juvenis que nunca tiveram
lactação (Radostits, 2002).
Nas mastites bacterianas ocorre a ascensão das bactérias através do esfíncter mamário até a
cisterna da glândula, onde se multiplicam rapidamente e atingem os adenômeros mamários. Neste local,
alteram o ambiente celular através da ação de suas enzimas, catabólitos e também devido à acidificação
do meio causada pela fermentação da lactose. A soma destes fatores resulta em inflamação com aumento
da exsudação do líquido tecidual e o pH da glândula mamaria torna-se alcalino. Ocorre também a
migração de neutrófilos e linfócitos para o local inflamado, o que agrava ainda mais a inflamação. Em
casos muito agudos a mama fica aumentada de volume e com eritema causado pela vasodilatação e
migração de células do sistema imune, já em casos mais brandos as alterações visíveis são mínimas, ou
até inexistentes. O leite produzido por uma mama infectada fica purulento, com grumos de caseína e em
alguns casos com estrias de sangue (Radostits, 2002). Em vacas os causadores mais comuns de mastites
são Streptococcos sp., Escherichia coli e Staphylococcos sp.
Staphylococcus aureus é o agente mais comum da mastite bovina podendo algumas cepas
possuírem o gene de resistência à meticilina. Nos últimos anos a identificação de cepas de S. aureus
portadores desse gene tornou-se mais frequente, havendo relatos desse evento em amostras isoladas de

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carne suína, gado bovino, frango, além de queijo bovino, leite e outros produtos derivados (Cerqueira e
Almeida, 2013). Os estudos sobre amostras resistentes a meticilina são importantes porque revelam o uso
inadequado de antimicrobianos que, de certa forma, selecionam Staphylococcus aureus resistentes.
Neste contexto, este trabalho objetivou avaliar amostras de S. aureus obtidas de leite bovino de
criações do Estado de MS, com a finalidade de identificar o índice de resistência aos antibióticos mais
comumente usados na terapêutica e também a presença do gene de resistência a meticilina.

Material e Métodos
As amostras de leite usadas neste trabalho foram coletadas em Campo Grande (MS) e região ou
então são recebido no ambulatório da FAMEZ/UFMS para análise de rotina. É mantido sob refrigeração
desde o momento da coleta até a realização dos testes.
Para isolamento bacteriano as amostras foram semeadas em agar infusão de cérebro e coração
(BHI) e incubadas a 37ºC por até 72 horas, com observações feitas a cada 24 horas. A caracterização
bioquímica foi realizada em meios específicos para este grupo. Foram realizados os seguintes testes:
produção de hemolisinas, atividade de catalase e coagulase, fermentação do manitol, crescimento em alto
teor de NaCl e resistência a polimixina B e bacitracina.
Os antibiogramas foram feitos por meio da técnica de difusão de discos utilizando-se os seguintes
antibióticos: amoxicilina (10µg), ácido clavulônico + amoxicilina (30 µg), ampicilina (10µg),
azitromicina (15µg), cefalotina (30µg), doxiciclina (30µg), enrofloxacina (5µg), eritromicina (20µg),
oxacilina (1µg), penicilina (10 U.I.), tetraciclina (30µg) e vancomicina (30µg).
Para caracterização molecular foi realizada a extração do DNA da amostras por método de
termólise em três etapas. Na primeira etapa o tubete com salina foi aquecido em um termobloco a 90 oC
por dez minutos, na segunda etapa o tubete foi congelado por 20minutos e depois vai para a terceira etapa
no termobloco, onde foi aquecido novamente a 90 oC por dez minutos.
A reação da polimerase em cadeia (PCR) foi realizada para o gene mec A (Lee, 2003) nas
seguintes condições: 94oC por três minutos, repetição de 40 ciclos a 94 oC por 30 segundos, 55oC por 30
segundos e 72oC por um minuto, após a repetição dos ciclos permanece a 72oC por 5 minutos e pode ser
armazenado a 4oC por tempo indeterminado ou usado para eletroforese.

Resultados e Discussão
Até o presente momento foi possível realizar a caracterização bioquímica de 17 amostras. O perfil
encontrado foi de 100% de coagulase positiva, fermentação de manitol positiva, crescimento em alto teor
de NaCl positivo, e resistência a polimixana B e bacitracina. Houve diferença no níveis de hemólise,
sendo que 17% apresentaram hemólise parcial e 73% hemólise completa.
Os antibiogramas revelaram que 76,47% das amostras testadas são resistentes a pelo menos um
dos antibióticos testados. Todas as amostras foram sensíveis a associação amoxacilina+Ac., azitromicina,
cefalotina, oxacilina e a vancomicina. Eritromicina e enfloxacina foram os antibióticos menos eficazes,
pois foi demonstrada resistência em 13 e 10 isolados, respectivamente. Estudo realizado por Silva et al
(2012) em Pernambuco, demonstrou que amostras de S. aureus de leite bovino foram resistentes a
penicilina (95%) e ampicilina (88%), e que a clindamicina, tetraciclina e eritromicina foram os
antibióticos mais eficientes. Os índices de resistência citados pelos autores foi muito superior ao que foi
encontrado neste estudo para penicilina e ampicilina, respectivamente 35% e 35%. Essa diferença pode
ter como explicação o fato de serem isolados bacterianos geograficamente distintos e a possibilidade de
diferentes sistemas de produção.
A multiresistência a três ou mais drogas foi encontrada em 41% dos isolados enquanto que em um
estudo realizado por Krewer et al (2013) foi encontrada multiresistência em 52% dos isolados, esses
dados revelam que S. aureus apresentam diferentes perfis de resistência em locais geográficos diferentes e
que a resistência a mais de três antibióticos não é um fato isolado encontrado apenas nesse presente
estudo.
A presença do gene mec A não foi encontrada em nenhum dos isolados, resultado semelhante ao
de Silva et al (2012), que encontraram em apenas 1% dos S. aureus a presença do gene em questão. Isso
demonstra que mesmo com perfis de resistência diferentes, a resistência a oxacilina se mantém baixa,
mesmo com variação geográfica e outras diferenças entre os animais estudados.

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Conclusões
Apesar não ter sido encontrado nenhum isolado com presença do gene mec A, isso não indica a
total ausência do gene na região de Campo Grande (MS) pois o N estudado até o momento ainda é baixo.
Quanto aos graus de resistência e multiresistência encontrados pode-se dizer que é menor do que
os encontrados em outras regiões do país.

Literatura Citada
CERQUEIRA, E.S.; ALMEIDA, R.C.C. Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) em
alimentos de origem animal: uma revisão sistemática. Revista do Instituto Adolfo Lutz, n.4, p.72-81,
2013.
KONEMAN, E; WINN, JR.W; ALLEN, S. et al. Diagnóstico Microbiológico. 6.ed. Guanabara Koogan,
2006. 1565p.
KREWER, C.C; LACERDA, I.P.S; AMANSO, E.S. ET al. Etiology, antimicrobial susceptibility profile
of Staphylococcus spp. and risk factors associated with bovine mastitis in the states of Bahia and
Pernambuco. Pesquisa Veterinária Brasileira, n.33, p. 601-606,2013.
LEE, J,H; Methicillin (Oxacillin) – Resistent Staphylococcus aureus Strains Isolated from Major Food
Animals and Their Potential Transmission to Humans. Veterinary Public Health. V.69, n.11, p. 6489-
6494, 2013.
RODOSTITS, O.M; GAY, C.C; BLOOD, D.C. et al. Clínica Veterinária. 9.ed. Guanabara Koogan,
2002. 1738p.
SILVA, E.R; PEREIRA, A.M.G; MORAES, W.S; et al. Perfil de sensibilidade antimicrobiana in vitro de
Staphylococcus aureus isolado de mastite subclínica bovina. Revista Brasileira de Saúde e Produção
Animal, v.13, n.3, p. 701-711, 2012.

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PADRONIZAÇÃO DA METODOLOGIA DE COLETA DE Brachiaria decumbens PARA


DETERMINAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES TÓXICAS DE PROTODIOSCINA PARA
OVINOS

Westerlly Jacobson da Silva1, Gleice Kelli Ayardes de Melo2, Rubiane Ferreira Heckler2, Rayane
Chitolina Pupin3, Ricardo Antônio Amaral de Lemos4, Paula Velozo Leal3, Stephanie Carrelo de Lima2
1
Aluno do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PIBIC. E-mail: westerlly_tecagro@hotmail.com
2
Alunas do Curso de Pós-graduação em Ciência Animal - UFMS : gleiceayardes@gmail.com
3
Alunas do Curso de Pós-graduação em Residência Veterinária. E-mail: rayane.pupin@gmail.com
4
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: ricardo.lemos@ufms.br

Resumo: Objetivou-se padronizar a metodologia de coleta de Brachiaria spp. para a determinação de


concentrações tóxicas de protodioscina para ovinos. As coletas ocorreram em pastagens de Brachiaria
decumbens, realizadas entre agosto e novembro de 2014, na fase de terminação dos cordeiros, divididos
em rebanho sensível (RS) e resistente (RR). Foram realizadas coletas de forragem com duas
metodologias, o pastejo simulado e o método do quadrado e análises para extração e quantificação da
protodioscina. As concentrações foram maiores no pastejo simulado, quando comparados com a
metodologia do quadrado sendo em media 1,46% e 0,92% respectivamente. No rebanho RR não foram
registrados casos de fotossensibilização e no rebanho RS nove cordeiros adoeceram e deste total, dois
morreram e três foram eutanasiados A ocorrência de casos de fotossensibilização comprovam que as
concentrações de protodioscina encontradas nas pastagens são tóxicas aos cordeiros. A metodologia do
pastejo simulado foi mais eficiente, porem, não foi possível estabelecer concentrações tóxicas, pois os
cordeiros apresentaram diferentes níveis de sensibilidade.

Palavras-Chave: Fotossensibilização, Cordeiros, Pastagens

STANDARDIZATION METHODOLOGY OF COLLECTION Brachiaria decumbens. FOR


DETERMINING THE MERGER OF TOXIC PROTODIOSCINA FOR SHEEP

Abstract: This study aimed to standardize the Brachiaria spp. collection methodology for the
determination of concentrations of protodioscin toxic to sheep. The collections occurred in Brachiaria
decumbens pastures, conducted between August and November 2014, in the finishing phase of lambs,
divided into sensitive flock (FS) and resistant (FR). Forage samples were collected with two
methodologies, plucked and square method and extraction and quantification of protodioscin.
Concentrations were highest in plucked, compared with the methodology square averaging 1.46% and
0.92% respectively. RR in the herd have been no cases of photosensitivity and the herd RS nine lambs
were affected and of this total, two died and three were euthanized The occurrence of photosensitivity
prove that Protodioscin concentrations found in the pastures are toxic to sheep. The methodology of the
simulated grazing was more efficient, however, could not be established toxic because the lambs showed
different sensitivity levels.

Keywords: Photosensitization, Lambs, Pastures

Introdução
Por sua tolerância edafoclimática a Brachiaria spp. se tornou a principal forrageira utilizada na
região Centro-Oeste. Entretanto, devido aos casos de fotossensibilização associados a essa gramínea, a
intoxicação tornou-se um dos principais problemas para a ovinocultura. A substância presente na
Brachiaria spp., responsável pelas intoxicações é a protodioscina, uma saponina esteroidal litogênica, que
provoca alterações no parênquima hepático e nos ductos biliares com perturbações no mecanismo de
eliminação da filoeritrina, um pigmento fotodinâmico (Brum et al., 2007). Sabe-se que os ovinos são mais
sensíveis que os bovinos, e, além disso, que cordeiros são mais acometidos que os animais mais velhos
(Riet-Correa et al., 2011). Nesse caso, supõem-se algumas hipóteses como a influência genética sobre a
frequência de intoxicação em ovinos sensíveis e resistentes (Faccin et al., 2014; Pupin et al., 2014). Outra
hipótese poderia estar relacionada ao hábito de pastejo dos ovinos, por apresentarem comportamento
ingestivo caracterizado por maior seleção alimentar, sendo possível observar que os animais possuem
preferência pelas folhas, em comparação ao colmo e material senescente.

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Embora vários trabalhos tenham avaliado as concentrações de protodioscina no momento dos


surtos (Brum et al., 2007) ou em diferentes estádios vegetativos da planta (Faccin et al., 2014), nenhum
desses trabalhos considerou o hábito alimentar dos ovinos. Assim, as metodologias anteriormente
empregadas não permitem avaliar se as quantidades do principio tóxico ingeridas são aquelas
determinadas nas análises. O objetivo do presente trabalho foi a comparação de concentrações de
protodioscina em amostras de Brachiaria decumbens colhidas por duas metodologias distintas.

Material e Métodos
As análises foram realizadas em pastagens de Brachiaria decumbens pertencentes à Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ) da UFMS. As coletas foram realizadas entre os meses de
agosto e novembro de 2014. Durante o período experimental o piquete era pastejado por cordeiros na fase
de terminação. Os cordeiros foram criados em pastagens de Brachiaria spp. desde o nascimento e
classificados em rebanho sensível (RS) e rebanho resistente (RR), sendo que o critério de seleção adotado
foi o cordeiro ter apresentado ou não sinais clínicos de intoxicação em alguma fase da vida. Após o
desmame os cordeiros dos rebanhos RS e RR foram alocados em uma mesma pastagem de Brachiaria
decumbens, com histórico de ocorrência de fotossensibilização.
Para dosagens das concentrações da protodioscina foram realizadas coletas de forragem com duas
metodologias distintas, com intervalos de 28 dias. A primeira metodologia empregada foi realizada com o
uso de um quadrado metálico (0,5 x 0,5 m), onde as amostras eram colhidas de forma aleatória, rente ao
solo, em seis pontos distintos do piquete (Mc Meniman, 1997). Após a coleta, foi realizada a separação
morfológica dos componentes em lamina foliar, colmo + bainha e material morto. A segunda metodologia
foi realizada através da avaliação do comportamento ingestivo dos cordeiros. Foram observados os
hábitos alimentares, quanto á altura e às partes da planta consumida, a fim de se obter amostras
semelhantes à consumida pelos cordeiros. A apreensão do capim foi realizada com as mãos, simulando o
movimento dos lábios dos animais, e o corte realizado com o auxílio de um canivete á altura do pastejo,
de acordo com o bocado dos animais, sendo coletados no mínimo 100 gramas de amostra (Cook, 1964-
modificada). Em seguida, as lâminas foliares das duas amostragens foram acondicionadas em estufa de
ventilação forçada a 55°C por 72 horas. As amostras foram processadas para realização da porcentagem
da matéria seca (MS), para extração da protodioscina e sua quantificação pela high-performance detection
(ELSD) de acordo com o método descrito por Ganzera et al. (2001). Após, as metodologias foram
comparadas entre si para determinação da ocorrência de variação nas concentrações de protodioscina.

Resultados e Discussão
As concentrações de protodioscina nas lâminas foliares de Brachiaria decumbens foram superiores
na metodologia do pastejo simulado, quando comparados à metodologia do quadrado. No pastejo
simulado as concentrações de protodioscina foram de 1,61% a 1,15%, com média de 1,46%. Em
contrapartida as concentrações da protodioscina pelo método do quadrado variaram de 1,14% a 0,67%,
apresentando média de 0,92%. (Tabela 1).

Tabela 1. Concentrações de protodioscina em pastagens de Brachiaria decumbens obtidas pela


metodologia do pastejo simulado e pela metodologia do quadrado
Metodologia
Período de Coleta Pastejo Simulado (% de MS) Quadrado (% de MS)
Agosto 1,61 1,14
Setembro 1,81 0,99
Outubro 1,27 0,89
Novembro 1,15 0,67
Média ± DP 1,46±0,30 0,92±0,20

Em todos os períodos de coleta as concentrações de protodioscina foram superiores nas amostras


colhidas pelo método do pastejo simulado, demonstrando que esta forma de coleta é a mais indicada para
a estimativa das concentrações tóxicas de protodioscina para os ovinos. Independentemente da
metodologia utilizada os valores máximos das concentrações de protodioscina foram inferiores a estudos
anteriormente realizados, 2.36% (Brum et al., 2007) e 2,45% (Faccin et al., 2014).

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Embora os níveis encontrados possam ser considerados baixos quando comparados a outros
estudos, os mesmos foram tóxicos para os cordeiros. Considerando que ocorreram casos apenas em
animais provenientes do RS não é possível estabelecer as concentrações tóxicas da protodioscina para os
ovinos, pois existe variação de sensibilidade, provavelmente de origem genética entre os cordeiros.
No rebanho RR não foram registrados casos de fotossensibilização. No entanto, no rebanho RS
nove cordeiros adoeceram com histórico de recidivas. Deste total, dois morreram e três foram
eutanasiados in extremis devido à fotossensibilização. As principais manifestações clínicas encontradas
foram, acentuado atraso no desenvolvimento corporal, edema de face e orelhas, crostas nas orelhas e ao
redor dos olhos, alopecia e retração cicatricial. Os principais achados macroscópicos foram mucosas
pálidas, fígado aumentado, com padrão lobular evidente, coloração amarela e friável, íntima dos vasos de
coloração amarelada, hidrotórax discreto. Histologicamente, nos fígados, as lesões observadas foram
semelhantes, variando apenas quanto à intensidade, e caracterizaram-se por tumefação e vacuolização de
hepatócitos, acentuado infiltrado de macrófagos espumosos, necrose individual de hepatócitos, retenção
biliar e proliferação das células dos ductos biliares. Quanto às lesões de pele, foram observados áreas de
necrose da epiderme, com infiltrado inflamatório de neutrófilos íntegros e degenerados, além de
hiperqueratose.

Conclusões
Ambas as metodologias mostraram-se eficientes para comprovar a presença de protodioscina,
porém a metodologia do pastejo simulado foi mais eficiente, pois retrata de maneira fidedigna a
quantidade efetivamente ingerida. Apesar disso, não foi possível estabelecer concentrações tóxicas, pois
os cordeiros apresentaram diferentes níveis de sensibilidade.

Literatura Citada
BRUM, K.B.; HARAGUCHI, M.; LEMOS, R.A.A. et al. Crystal-associated cholangiopathy in sheep
grazing Brachiaria decumbens containing the saponin protodioscin Pesquisa Veterinária Brasileira,
v.27, p. 39-42, 2007
FACCIN, T.C.; RIET-CORREA, F.; RODRIGUES, F.S. et al. Poisoning by Brachiaria brizantha in
flocks of naïve and experienced sheep. Toxicon, v.82, p. 1-8, 2014
GANZERA, M., BEDIR, E., KHAN, I.A. Determination of steroidal saponins in Tribulus terrestris by
reversed-phase high-performance liquid chromatography and evaporative light scattering detection.
Journal of Pharmaceutical Sciences, n. 90 v.11, p.1752-1758, 2001
McMENNIMAN, N.P. Methods of estimating intake of grazing animals. In: REUNIÃO ANUAL DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 34., 1997, Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: Sociedade
Brasileira de Zootecnia, 1997. p.133-168
PUPIN, R.C.; MELO, G.K.A.; LEAL, P.V. et al. Frequência da Intoxicação por Brachiaria sp. em
cordeiros provenientes de rebanhos sensível e resistente. In: VIII Encontro Nacional de Diagnóstico
Veterinário, 2014, Cuiabá. Anais VIII Encontro Nacional de Diagnóstico Veterinário, 2014
RIET-CORREA, B.; CASTRO, M.B.; LEMOS, R.A.A. et al. Brachiaria spp. poisoning of ruminants in
Brazil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.31, n.3, p. 183-192, 2011.

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ESTRATÉGIAS FARMACOLÓGICAS PARA O CONTROLE DE HELMINTOS COM


RESISTÊNCIA MÚLTIPLA A DROGAS EM CAPRINOS

Flávia Carolina Fávero1, Larissa Bezerra dos Santos1, Mariana Green de Freitas2, Lair Covizzi Junior3,
Fernando de Almeida Borges4
1
Doutoranda no programa de pós-graduação em Ciência Animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: flaviafavero@zootecnista.com.br
1
Doutoranda no programa de pós-graduação em Ciência Animal da FAMEZ/UFMS. E-mail: larissabezerra.vet@gmal.com
2
Aluna do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS, E-mail: marigreenf@hotmail.com
3
Residente no programa de Residência em Medicina Veterinária FAMEZ/UFMS. E-mail: covizzijunior@gmail.com
4
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: fernando.borges@ufms.br

Resumo: Este trabalho objetivou avaliar diferentes estratégias farmacológicas no controle de parasitos
resistentes em caprinos do município de Bandeirantes/MS, por meio de associações de drogas anti-
helmínticas, bem como pela utilização destes fármacos por dias consecutivos. Foram utilizados 90
animais parasitados naturalmente, distribuídos aleatoriamente em nove grupos, sendo um grupo controle e
os oito grupos tratamentos: Albendazole, Nitroxinil, associação de Levamisol, Closantel e Moxidectin;
Levamisol, Albendazole e Moxidectin; Levamisol, Closantel e Albendazole; e administração em três dias
consecutivos de Levamisol, Albendazole ou Closantel. Foram coletadas fezes dos caprinos sete dias após
os tratamentos para avaliação da eficácia terapêutica dos princípios utilizados, realizados exames de OPG
e coprocultura, e os dados analisados por RESO. Os tratamentos aplicados a este rebanho não
apresentaram eficácia na redução das contagens de OPG, porém, nos grupos tratados com closantel e
nitroxinil houve redução superior a 95% na porcentagem de larvas das coproculturas do gênero
Haemonchus.

Palavras-Chave: Associação, Eficácia, Haemonchus, Nematódeos

PHARMACOLOGICAL STRATEGIES FOR CONTROL HELMINTH WITH MULTIPLE


DRUG RESISTANCE IN GOATS

Abstract: This study evaluated different pharmacological strategies in the control of resistant parasites in
goats in the city of Bandeirantes / MS through anthelmintic drug associations as well as the use of these
drugs for consecutive days. 90 animals infected naturally were randomly distributed into nine groups, one
control group and the eight treatment groups: Albendazole, nitroxynil, Levamisole association,
Moxidectin and Closantel; Levamisole, Albendazole and Moxidectin; Levamisole, Closantel and
Albendazole; administration and for three consecutive days Levamisole, Albendazole either Closantel.
Goat feces were collected seven days after treatment to evaluate the therapeutic efficacy of the principles
used, tests of OPG and stool culture, and analyzed by RESO. The treatments applied to this herd did not
show efficacy in reducing OPG counts, however, in the groups treated with closantel and nitroxynil was
reduced by more than 95% in the percentage of larvae of Haemonchus faecal cultures of gender.

Keywords: Association, Efficacy, Haemonchus, Nematodes

Introdução
O parasitismo por nematódeos gastrintestinais é provavelmente a doença mais comum que afeta a
produção de pequenos ruminantes. Haemonchus contortus é relatado como o nematódeo mais importante
em caprinos (Boomker et al., 1994). Durante muitos anos, o controle das doenças parasitárias baseou-se
exclusivamente no uso de drogas quimioterápicas (anti-helmínticos), o que resultou na seleção de
indivíduos resistentes.
Atualmente, as combinações de dois ou mais fármacos anti-helmínticos estão sendo utilizados para
minimizar o quadro de resistência em ruminantes. Associações de anti-helmínticos com amplo espectro e
diferente mecanismo de ação, assim como a utilização de dosagens acima das recomendadas
comercialmente, têm sido propostas como estratégias alternativas no controle de parasitos (Geary et al.,
2012), que buscam a potencialização dos fármacos disponíveis no mercado.
O objetivo do presente estudo foi avaliar diferentes estratégias farmacológicas no controle de
parasitos resistentes, através de associações de fármacos e utilização de drogas por dias consecutivos.

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Material e Métodos
Foram selecionados do plantel da fazenda Água Clara, município de Bandeirantes/MS, 90
caprinos, com idade entre seis e oito meses de idade, naturalmente infectados por parasitos
gastrintestinais. Foram colhidas fezes, diretamente da ampola retal, para seleção e quantificação da
infecção dos animais. Os exames coproparasitológicos foram realizados no Laboratório de Doenças
Parasitárias (LADPAR), localizado na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FAMEZ), da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Os animais faram randomizados em nove grupos de acordo
com os resultados de OPG, sendo um grupo mantido como controle, e os demais grupos expostos aos
tratamentos apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Grupos dos caprinos divididos de acordo com os tratamentos aplicados e suas dosagens
Grupos tratados Dose
Albendazole 5mg/kg
Nitroxinil 10,2mg/kg
Levamisol 5mg/kg
Associação Closantel 7,5mg/kg
Moxidectina 200µg/kg
Levamisol 5mg/kg
Associação Albendazole 5mg/kg
Moxidectina 200µg/kg
Levamisol 5mg/kg
Associação Closantel 7,5mg/kg
Albendazole 5mg/kg
Levamisol (três dias consecutivos) 5mg/kg
Albendazole (três dias consecutivos) 5mg/kg
Closantel (três dias consecutivos) 7,5mg/kg

Todos os grupos, inclusive o controle, foram mantidos sob as mesmas condições de manejo ao
longo do experimento.
Os exames laboratoriais realizados foram técnica de Gordon e Whitlock modificada (1939), para
quantificar a presença de ovos de helmintos por grama de fezes (OPG), e técnica de Roberts e O’Sullivan
(1950) para identificar larvas dos respectivos gêneros de nematódeos. Sete dias após os tratamentos,
foram repetidos os exames coproparasitológicos para detecção de presença de ovos de nematódeos, e a
eficácia anti-helmíntica foi estimada de acordo com o programa RESO (Analysis Program, Version2.01,
CSIRO, Division of Animal Health, Glebe, NSW, Australia), no qual é utilizada a média aritmética de
OPG para o grupo controle e grupo tratado, calculando o intervalo de confiança das médias. Considerou-
se a existência de resistência anti-helmíntica quando a redução de OPG observada no pós-tratamento, era
inferior 95% e o intervalo de confiança menor que 90%; conforme recomendado por Coles et al. (1992).
Com os resultados das coproculturas calculou-se a condição de sensibilidade/resistência dos diferentes
gêneros de helmintos presentes na propriedade do estudo.

Resultados e Discussão
Os resultados da redução da contagem de OPG demonstraram que os oito tratamentos testados na
propriedade apresentaram eficácia inferior a 80%, sendo pouco eficazes no tratamento anti-helmíntico dos
grupos experimentais (Tabela 2). Estes resultados indicam que a população de nematódeos
gastrintestinais presente no rebanho estudado apresenta elevado grau de resistência aos produtos
utilizados, considerando, ainda, o baixo intervalo de confiança dos grupos.

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Tabela 2. Eficácia na redução de OPG dos tratamentos realizados em caprinos


Tratamento Eficácia (%) IC 95% Há resistência
Albendazole 42,0 0-70 Sim
Nitroxinil 76,0 55-87 Sim
Levamisol + Closantel + Moxidectin 61,4 27-80 Sim
Levamisol + Albendazole + Moxidectin 71,0 51-83 Sim
Levamisol + Closantel + Albendazole 79,0 62-88 Sim
Levamisol (três dias consecutivos) 11,0 0-55 Sim
Albendazole (três dias consecutivos) 69,0 47-82 Sim
Closantel (três dias consecutivos) 74,4 57-85 Sim

Os diferentes mecanismos de ação envolvidos nas combinações entre fármacos, contribuem para
uma maior eficiência no tratamento de nematódeos resistentes, entretanto, observa-se no presente estudo,
que as eficácias foram abaixo de 95%, com intervalo de confiança interiores aos valores propostos por
Coles et al. (1992).
Os resultados das coproculturas das amostras pré-tratamento e controle indicaram a predominância
dos gêneros Haemonchus sp., e a porcentagem de redução de larvas está apresentada na Tabela 3.

Tabela 3. Redução da contagem de larvas dos nematódeos identificados nas coproculturas


Tratamento % Redução da contagem de larvas
Haemonchussp. Cooperia spp. Trichostrongylussp.
Albendazole 48 22 61
Nitroxinil 98 29 35
Levamisol + Closantel + Moxidectin 98 0 49
Levamisol + Albendazole + Moxidectin 88 32 57
Levamisol + Closantel + Albendazole 99 36 60
Levamisol(três dias consecutivos) 26 0 56
Albendazole (três dias consecutivos) 64 76 90
Closantel (três dias consecutivos) 99 19 76

Os grupos tratados com closantel e nitroxinil apresentaram eficácias superiores a 95% contra
Haemonchus sp. Os gêneros Cooperia e Trichostrongylus não apresentaram redução superior a 95% em
nenhum dos tratamentos utilizados. A utilização do albendazole em três dias consecutivos mostrou-se
mais eficiente, quando comparado a utilização da mesma droga, em dose única, tendo efeito sobre os três
gêneros de larvas recuperados.

Conclusões
De maneira geral, os fármacos utilizados nesta população não se mostraram eficazes no controle
das parasitoses gastrintestinais, porém, os grupos expostos ao tratamento com closantel e nitroxinil
apresentam uma boa alternativa como auxiliar no tratamento, sendo eficazes na redução de Haemonchus.
A utilização do albendazole em dias consecutivos apresenta uma alternativa viável na redução das
infecções por nematódeos gastrintestinais.

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Literatura Citada
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goats in the northern Transvaal.Onderstepoort Journal of Veterinary Research, 61, 13–20.
COLES, G.C., BAUER, C., BORGSTEEDE, F.H.M., GEERTS, S., KLEI, T.R., TAYLOR, A.,
WALLER, P.J.,1992.World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology (W.A.A.V.P.)
methods for the detection of anthelmintic resistance in nematodes of veterinary importance. Veterinary
Parasitology.44, 35–44p.
GEARY, T.G., HOSKING, B.C., SKUCE, P.J., VON SAMSON-HIMMELSTJERNA, G., MAEDER, S.,
HOLDSWORTH, P., POMROY, W., VERCRUYSSE, J., 2012. World Association for the Advancement
of Veterinary Parasitology (W.A.A.V.P.) Guideline: anthelmintic combination products targeting
nematode infections of ruminants and horses. Veterinary Parasitology.190, 306–316p.
GORDON, H.McL.; WHITLOCK, H.N. A new technique for counting nematode egg in sheep faeces.
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infesting the gastro-intestinal tract of catlle. Australian Journal of Agriculture Research, v. 1, p. 99-
103, 1950.

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CARACTERÍSTICA MORFOLÓGICA DA CARCAÇA DE CORDEIROS SUBMETIDOS A


DIFERENTES SISTEMAS DE TERMINAÇÃO

Bruna Junqueira Rodrigues1, Jessica Lira da Silva2, Tereza Gabriela da Costa3, José Carlos da Silva
Florêncio Filho4, Pâmila Carolini Gonçalves da Silva5, Jonilson Araújo da Silva6, Kedma Leonora Silva
Monteiro7, Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo8
1
Aluna do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PIBIC. E-mail: bruna.junqueira.r@gmail.com
2
Aluna do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PET. E-mail: jessica.zooufms@gmail.com
3
Aluna do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PET. E-mail: terezagabrielacosta@gmail.com
4
Aluno do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PIBIC. E-mail: josecarlos_1266@hotmail.com
5
Doutoranda em Ciência Animal, FAMEZ/UFMS. E-mail: carolinigoncalves@zootecnista.com.br
6
Doutorando em Ciência Animal, FAMEZ/UFMS. E-mail: jonilsonsilva@zootecnista.com.br
7
Mestranda em Ciência Animal, FAMEZ/UFMS. E-mail: ked_monteiro@hotmail.com
8
Professora da FAMEZ/UFMS. E-mail: camila.itavo@ufms.br

Resumo: Objetivou-se avaliar as características morfológicas da carcaça de cordeiros terminados em


diferentes sistemas de terminação. Foram utilizados 28 cordeiros com peso corporal médio inicial de
19,78 kg ± 4,11 e dois meses de idade distribuídos em cinco tratamentos: pastagens, com suplementação
mineral (controle negativo), pastagens com suplementação proteico-energética baseada em fornecimento
diário de 0,8, 1,6 e 2,4% do peso corporal (PC) e confinamento, com relação volumoso:concentrado de
40:60 na dieta (controle positivo). Os animais foram encaminhados ao abate ao atingirem peso corporal
médio de 30,9 kg, com idade média de 164 dias ± 18. O sistema de terminação influenciou o
comprimento externo (CE), comprimento interno (CI), perímetro de garupa (PG) e profundidade de tórax
(PT). Não houve influência no comprimento da perna (CP) e largura de garupa (LG) com média de 29,95
e 18,8 cm respectivamente. Recomenda-se o fornecimento mínimo de 1,6% PC de suplementação
proteico-energética para animais criados em Brachiaria spp.

Palavras-Chave: medidas morfológicas, ovinos, pastagem, suplementação

MORPHOLOGIC CHARACTERISTICS OF LAMBS CARCASS SUBJECT TO DIFFERENT


FINISHING SYSTEMS.

Abstract: In this study aimed to evaluate the morphological characteristics of the carcass of lambs
finished in different finishing systems. It was used 28 lambs with an average initial body weight of 19.78
kg ± 4.11 and two months old distributed in five treatments: pasture, with mineral supplementation
(negative control), pastures with protein-energy supplementation based on daily supply of 8 , 16 and 24 g
/ kg body weight (BW) and feedlot, with forage:concentrate ratio of 40:60 in the diet (positive control).
The animals were sent to slaughter when they reached average body weight of 30.9 kg, with an average
age of 164 days ± 18. The finishing system influenced the external length (EL), internal length (IL),
perimeter rump (PR) and depth of chest (DC). There was no influence in leg length (LL) and rump width
(LG) with an average of 29.95 and 18.8 cm respectively. It is recommended the minimum delivery 1.6%
PC protein-energy supplementation for animals raised in Brachiaria spp.

Keywords: morphological measures, sheep, pasture, supplementation

Introdução
A indústria frigorífica busca por carne de animais jovens, pois os cordeiros são a categoria ovina
que possui a carne de maior aceitabilidade no mercado consumidor, devido as melhores características de
carcaça, além disso, busca-se por carcaças grandes, pesadas e uniformes com teor de gordura adequado e
elevada porcentagem de músculos (BUENO et al., 2000) garantindo bons rendimentos de corte.
O conhecimento dos níveis adequados de suplementação é de grande importância, pois a
suplementação em excesso pode causar alterações no ambiente ruminal, o que afeta negativamente o
consumo e digestibilidade do alimento, consequentemente piores carcaças e gastos desnecessários, que
podem inviabilizar o sistema de produção, ao mesmo tempo o déficit na suplementação pode fazer com
que os resultados esperados não sejam obtidos.
O estudo das carcaças tem como finalidade avaliar parâmetros subjetivos e objetivos, os quais
estão relacionados com aspectos qualitativos e quantitativos das mesmas. As medidas da carcaça, quando

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combinadas com o peso, podem determinar sua qualidade (El Karin et al., 1988). Nesse contexto objetiva-
se avaliar as características morfológicas da carcaça de cordeiros terminados em diferentes sistemas de
terminação, abatidos na mesma idade.

Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Setor de Ovinocultura na Fazenda Escola da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, localizada em Terenos, MS, e o abate foi realizado no frigorífico
experimental da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS. O protocolo experimental foi aprovado
pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da UFMS.
Foram utilizados 28 cordeiros com peso corporal médio inicial de 19,78 kg ± 4,11 e dois meses de
idade distribuídos em 5 sistemas de terminação em dois anos de avaliação, sendo os tratamentos
constituindo: (1) pastagens, com suplementação mineral; (2) pastagens, com suplementação baseada em
fornecimento diário de 0,8% do peso corporal (PC); (3) pastagens, com suplementação baseada em
fornecimento diário de 1,6% do peso corporal (PC); (4) pastagens, com suplementação baseada em
fornecimento diário de 2,4% do peso corporal (PC) e (5) confinamento, com relação
volumoso:concentrado de 40:60 na dieta (como controle positivo de ganho de peso – referencial da
máxima expressão genética dos animais utilizados). Os animais em pastagem permaneceram em piquetes
formados por Brachiaria spp. em pastejo contínuo com lotação variável, de modo a garantir uma oferta
de forragem de 10% PC.
O suplemento a base de milho, farelo de soja e minerais (51,7% de fubá de milho, 47,2% de farelo
de soja e 1% de premix mineral) foi formulado, com base na disponibilidade e análise bromatológica da
pastagem, de forma que os animais que receberam 1,6% PC de suplemento apresentasse ganhos médios
de 150 g/dia, conforme as exigências do NRC (2007). Os animais foram suplementados uma vez ao dia,
às 9 hs.
No confinamento, os animais foram submetidos a dietas compostas por feno de Tifton-85
(Cynodon dactylon spp.) como volumoso e concentrado (mesma composição que o suplemento fornecido
para os animais em pastagem), uma vez ao dia (9 horas) na forma de ração total misturada.
Os animais foram encaminhados ao abate ao atingirem peso corporal médio de 30,9 kg, com idade
média de 164 dias ± 18. No abate foi realizada a insensibilizados por meio de concussão cerebral,
utilizando-se pistola de dardo cativo, e posterior sangria por secção das artérias carótidas e veias
jugulares.
Foram realizadas as seguintes mensurações: do comprimento externo (CE), comprimento interno
(CI), comprimento de perna (CP), largura de garupa (LG), perímetro de garupa (PG) e profundidade de
tórax (PT). O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, os dados foram
avaliados por meio de análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Dunnet a 0,05 de
significância, utilizou-se o peso da carcaça fria como co-variável.

Resultados e Discussão
O sistema de terminação influenciou as medidas morfológicas da carcaça. Os animais em
confinamento produziram carcaças superiores em relação ao controle, com diferenças significativas
(P<0,05) no comprimento externo, comprimento interno, perímetro de garupa e profundidade de tórax,
sem influência na largura de garupa e comprimento de perna (Tabela 1).

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Tabela 1.Valores médios e erro padrão da média do comprimento externo (CE), comprimento interno
(CI), comprimento de perna (CP), largura de garupa (LG), perímetro de garupa (PG) e profundidade de
tórax (PT), da carcaça de cordeiros produzidos em diferentes sistemas de terminação
Item Níveis de suplementação
(cm) 0 g/kg PC 0,8% PC 1,6% PC 2,4 % PC Confinamento EPM P-value
CE 57,23b 61,35ab 62,93ab 66,00a 65,84ª 4,43 0,0167
CI 54,83ab 52,42b 56,08ab 53,95ab 57,21ª 2,30 0,0001
CP 33,53 27,08 29,52 28,88 30,74 6,19 0,1700
LG 17,70 17,53 19,55 19,45 19,77 1,78 0,2070
bc c ab bc
PG 53,93 51,00 56,00 54,92 59,59ª 2,52 0,0001
PT 24,07b 24,35ab 25,75ab 25,97ab 26,50a 1,29 0,0028
Médias seguidas de letras diferentes diferem pelo teste de Dunnet a 5% de probabilidade. EPM: Erro padrão da média. *Co-
variável: peso da carcaça fria (PCF).

Souza et al. (2010) avaliaram os níveis 0; 0,6; 1,3 e 2,0 % do PC, o aumento dos níveis de
suplemento promoveu maior peso de carcaça quente, comprimento externo da carcaça, largura da garupa,
profundidade do tórax, perímetro da garupa e perímetro do pernil. No entanto, no estudo de Almeida et al.
(2006) o sistema de alimentação não influenciou as medidas morfológicas da carcaça.

Conclusões
O sistema de terminação influenciou as medidas morfológicas da carcaça. O fornecimento mínimo
de 1,6% PC de suplementação proteico-energética para animais criados em Brachiaria spp. produziu
carcaça maiores.

Literatura Citada
ALMEIDA, H.S.L.; PIRES, C.C.; GALVANI, D.B. Características de carcaça de cordeiros Ideal e cruzas
Border Leicester x Ideal submetidos a três sistemas alimentares. Ciência Rural, v.36, n.5, p.1546-1552,
2006.
BUENO, M.S.; CUNHA, E.D.; SANTOS, L.D.; RODA, D S.; LEINZ, F. F. Características de carcaça de
cordeiros Suffolk abatidos em diferentes idades. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.6, p.1803-
1810, 2000.
EL KARIN, A.I.A.; OWEN, J.B.; WHITAKER, C.J. Measurement on slaughter weight, side weight,
carcass joints and their association with carcass composition of two types of Sudan Desert sheep. Journal
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suplementados com doses crescentes de concentrado. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v. 32, n. 3, p.
323-329, 2010.

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VALORES DE REFERÊNCIA PARA OS TESTES BIOQUÍMICOS SÉRICOS DE CREATININA,


UREIA E FÓSFORO EM VEADO-CAMPEIRO (Ozotoceros bezoarticus) DE VIDA LIVRE

Maitê Cardoso Coelho da Silva¹, Igor Alexandre Hany Fuzeta Schabib Péres², Namor Pinheiro
Zimmermmann³, Paulo Henrique Braz4, Alda Izabel de Souza5

¹Aluna do Curso de Medicina Veterinária da UFMS. Bolsista PIBIC/UFMS (2014/2015). E-mail: maitecoelhocardoso@gmail.com
² Doutorando do Programa Ciência Animal da UFMS. E-mail:igor.peres@embrapa.br
³ Doutorando do Programa Ciência Animal da UFMS. E-mail: namorpz@hotmail.com
4
Doutorando do Programa Ciência Veterinária da UFMS. E-mail: pauloh.braz@hotmail.com
5
Professora da FAMEZ/UFMS. E-mail: aldaizabel@hotmail.com

Resumo: Alterações nas concentrações séricas de analitos bioquímicos são considerados úteis para a
identificação de problemas sanitários em um indivíduo ou em uma população, contudo reconhece-se a
necessidade da obtenção de intervalos de referência específicos para diferentes estratos animais. Em
relação aos Ozotoceros bezoarticus (veados-campeiro), um cervídeo em ameaça de extinção, nenhum
estudo que caracterize os valores de bioquímica sérica, para animais de vida livre, desta espécie foi
encontrado na literatura consultada. Por isso, este trabalho teve como objetivo caracterizar o intervalo de
referência para analitos bioquímicos de Veado-Campeiro de vida livre. Foram colhidas amostras de
sangue de 40 animais, saudáveis, capturados no Pantanal de Mato Grosso do Sul. A determinação das
concentrações séricas de ureia, creatinina e fósforo foram realizadas em equipamento automático. Os
valores de ureia, creatinina e fósforo sérico foram 40,40 ± 10,36 mg/dl,1,54 ± 0,33 mg/dl e 6,28 ± 1,18
mg/dl, respectivamente. Não houve diferença estatística significativa entre machos e fêmeas (P<0,05).
Esta é a primeira descrição do intervalo de referência de parâmetros bioquímicos séricos utilizados para
investigação da fisiologia renal em veado-campeiro de vida livre do Pantanal de Mato Grosso do Sul. O
tamanho da amostra e a distribuição normal dos dados indicam que os valores médios obtidos são
representativos e podem ser usados para a monitoração da saúde, estado nutricional e diagnóstico de
enfermidades nesse estrato populacional.

Palavras chave: Veado-campeiro, bioquímica sérica, valor de referência

REREFENCE VALUES FOR SERUM BIOCHEMICAL TESTS OF UREA, CREATININE AND


PHOSPHORUS IN FREE-RANGE PAMPAS DEER (Ozotoceros bezoarticus)

Abstract: Changes in serum biochemical analytes are considered useful indicators for identifying health
problems in an individual or in a population, however it is recognized a need to obtain specific reference
intervals for different animals strata. In relation to Ozotoceros bezoarticus (Pampas Deer), which is in
threat of extinction, there are no specific studies to characterize the serum biochemistry values for free
range pampas deers found in the literature. Therefore, the work aimed to characterize the reference
intervals for biochemical analytes of free range pampas deers. Blood samples from 29 females and 11
males, healthy adults, caught in the Pantanal of Mato Grosso do Sul. The determination of serum
concentrations for urea, creatinine and phosphorus was 40.40 ± 10.36 mg/dl, 1.54 ± 0.33 mg/dl and 6.28
± 1.18 mg/dl, respectively. There was no significant difference between males and females (P<0.05). This
is the first description of the reference intervals of serum biochemical parameters used for investigation
about renal physiology in free range pampas deers from Pantanal of Mato Grosso do Sul. The sample size
and the normal distribution of the data indicates that the mean values are representative and can be used
for monitoring the health, nutritional status and diagnosis of diseases in this population stratum.

Keywords: Pampas deer, Serum biochemistry, Reference intervals

Introdução
O veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) é um cervídeo de ambientes abertos que,
originalmente, apresentava ampla distribuição em savanas, campos e pampas da América do Sul.
Atualmente, a espécie é declarada como ameaçada de extinção ou extinta em alguns estados, de acordo
como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio (2012). Fatores como
alterações e fragmentações de ambientes naturais, aumento da população de animais bovinos para

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produção que elevam a transmissão de doenças infecciosas e a caça ilegal são apontados como
responsáveis por esta situação (DUARTE, 1997).
Autores admitem que é difícil comparar dados hematológicos de espécies diferentes ou mesmo de
espécies em cativeiro com os de vida livre e a Sociedade Americana de Patologia Clínica Veterinária -
ASVCP reconhece a necessidade da obtenção de intervalos de referência (IR) para diferentes estratos
animais (FRIEDRICHS et al., 2012).
Em vista disso, sabendo-se da importância das avaliações bioquímicas como ferramenta valiosa
para a aferição do estado de saúde, bem como para indicar diagnósticos, prognósticos, prevenção de
doenças e condutas terapêuticas e visando obter mais dados laboratoriais desta espécie, o presente estudo
estabelece os intervalos de referência de três analitos séricos utilizados na investigação de enfermidades
renais em Ozotoceros bezoarticus de vida livre.

Material e Métodos
Amostras sanguíneas de 11 machos e 29 fêmeas de veado-campeiro adultos capturados no
pantanal do Mato Grosso do Sul obtidas por venopunção da veia jugular, foram criopreservadas a – 1960C
até a chegada ao laboratório e posteriormente armazenada a -800 C até o processamento. Os animais
foram capturados com dardos anestésicos contendo tiletamina e zolazepan associados a atropina e
xilazina. Apenas amostras de animais adultos clinicamente saudáveis foram incluídos no estudo.
As análises bioquímicas foram realizadas utilizando um analisador automático (Cobas® C111
Analyzer, Roche® Diagnostics Ltda). Foram determinadas as concentrações séricas de creatinina, ureia e
fósforo, devido à importância destes analitos na identificação de alterações na fisiologia renal de
mamíferos.
A normalidade da distribuição dos dados foi comprovada pelo teste Shapiro-wilk. Média, desvio
padrão (DP), valores mínimos, máximos e coeficiente de variação foram calculados para cada analito. A
diferença estatística entre os grupos de macho e fêmea foram analisadas pelo teste não paramétrico de
Mann Whitney (admitindo-se P<0.05).

Resultados e Discussão
Os resultados das análises bioquímicas de Ureia, Creatinina e Fósforo dos animais estudados estão
demonstrados na Tabela 1. Não foram observadas diferenças estatísticas significativas nos valores séricos
entre machos e fêmeas e, portanto, o intervalo de referência foi combinado.
Análises sanguíneas podem ser usadas para acessar condições fisiológicas e de saúde em animais
de vida livre e indicar, entre outras coisas, o status de nutrição ou de estresse ambiental. Dados de
bioquímica sérica podem ser usados como sinais de alerta precoce de possíveis problemas sanitários em
uma população. Valores fisiológicos das concentrações séricas desses indicadores devem ser
estabelecidos para cada espécie animal antes que esses dados possam ser interpretados e aplicados
(FRIEDRICHS et al., 2012).
Os valores séricos médios de ureia (40,40 mg/dl), creatinina (1,54 mg/dl) e fósforo (6,28 mg/dl)
obtidos no presente estudo divergiram dos apresentados para outras espécies da família dos cervídeos
(PARK et al., 2012; CAMARGO et al, 2013; GUPTA et al, 2007) e reforçam a necessidade de
estabelecimento de valores de referência, por espécie, em diferentes condições ambientais e de manejo
(FRIEDRICHS et al. 2012).

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Tabela 1. Média, desvio padrão, valores mínimos e máximos, coeficiente de variação e intervalo de
referência de ureia, creatinina e fósforo sérico de veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) adultos de
vida livre do Pantanal Sul- Mato-Grossense.

Analitos Desvio CVa


Grupo N Média Mín Máx P IRb
Padrão (%)
Macho 1 44,09 12,55 24,88 68,55 28,45 30,04
Uréia (mg/dl) Fêmea 9 39,00 9,47 19,12 57,64 24,28 –
P>0.05 50,76
Total 0 40,40 10,36 19,12 68,55 25,64
Macho 1 1,51 0,19 1,2 1,9 12,89
Creatinina
Fêmea 9 1,56 0,37 0,8 2,6 24,10 P>0.05 <1,9
(mg/dl)
Total 0 1,54 0,33 0,8 2,6 21,66
Macho 1 6,42 1,09 4,73 8,19 17,01
Fósforo 5,10 –
Fêmea 9 6,30 1,28 3,71 9,76 20,35 P>0.05
(mg/dl) 7,46
Total 0 6,28 1,18 3,71 9,76 18,81
a
CV – Coeficiente de Variação bIR – Intervalo de referência

Conclusões
Os resultados obtidos neste estudo estabelecem o intervalo de referência para as concentrações
séricas de ureia, creatinina e fósforo em Ozotoceros bezoarticus adultos do Pantanal do Mato Grosso do
Sul, Brasil. E o número de animais amostrados e a distribuição normal dos dados indica que os valores
médios são representativos e podem ser usados para o monitoramento da saúde, estado nutricional e
diagnóstico de enfermidades nesse estrato populacional.

Literatura Citada
CAMARGO, C.; DUARTE, J.M.B.; FAGLIARI, J.; SANTANA, A.; SIMPLÍCIO, K; SANTANA, A.
Effect of sex and reasons of the year on hematologic and sérum biochemical variables of captive
brown brocket deer (Mazama gouazoubira). Pesquisa Veterinária Brasileira, v.33, p. 1364-1370, 2013.
DUARTE, J.M.B. 1997. Biologia e Conservação de Cervídeos Sul-Americanos: Blastocerus,
Ozotoceros e Mazama. Jaboticabal. FUNEP, p.238.
FRIEDRICHS, K. R.; HARR, K. E.; FREEMAN, K. P.; et al. ASVCP reference interval guidelines:
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GUPTA, A; PATRA, R; SAINI, M, et. Al. Haematology and sérum biochemistry of chital (Axis axis)
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DESENVOLVIMENTO SEXUAL E CLASSIFICAÇÃO ANDROLÓGICA POR PONTOS (CAP)


EM TOUROS JOVENS DA RAÇA SENEPOL

Fernanda Hvala de Figueiredo1, Caroline Eberhard Buss1, Daniel França Mendonça da Silva1, Eder
Cristian Queiroz Serrou da Silva2, Fernando Henrique Garcia Furtado1, Francisco Manuel Junior1, Tailisa
de Souza Silva2, Tainara Candida Ferreira2, Thycianne Rodrigues de Aguilar2, Zelina dos Santos Freire2,
Willian Vaniel Alves dos Reis2, Fábio José Carvalho Faria3, Deiler Sampaio Costa3

1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. E- mail: fernandahvala@yahoo.com.br
2Núcleo de Produção e Reprodução Animal – FAMEZ/UFMS
3Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
FAMEZ / UFMS

Resumo:O objetivo do presente estudo foi determinar a cronologia dos eventos de desenvolvimento
sexual e a classificação andrológica por pontos (CAP) em touros jovens da raça Senepol. Os reprodutores
foram submetidos a exame andrológico mensalmente para a determinação das idades a puberdade e
maturidade sexual, observando-se idade média 17,0 ±1,4 e 18,8±2,4 meses, respectivamente. Na última
avaliação os touros foram pontuados de acordo com a classificação andrológicos por pontos (CAP)
obtendo uma média de 92,1±8,1 pontos. Portanto, reprodutores Senepol podem ser considerados como
intermediários para precocidade sexual quando comparados com taurinos e zebuínos. Além disso, a
avaliação andrológica pode ser iniciada aos 16 meses de idade onde os animais podem se tornarem aptos
à reprodução.

Palavras-chave: exame andrológico, Senepol, sêmen, taurino adaptado

SEXUAL DEVELOPMENT AND BREEDING SOUNDENESS (CAP) EVALUATION IN YOUNG


SENEPOL BULLS
Abstract: The objective of this study was to determine the chronology of sexual development events and
breeding soundness evaluation (CAP) in young bulls Senepol breed. The players underwent monthly
soundness examination to determine the age of puberty and sexual maturity, observing mean age 17.0 ±
1.4 and 18.8 ± 2.4 months, respectively. In the last evaluation bulls were scored according to andrological
rating points (CAP) obtaining an average of 92.1 ± 8.1 points. Therefore, Senepol breeding can be
considered as intermediates for sexual precocity compared with taurus and zebu. In addition, the breeding
soundness evaluation may be initiated at 16 months of age when the animals can become able to
reproduce.

Keywords: breeding soundness evaluation, Senepol, semen, taurus adapted

Introdução
A pecuária de corte no Brasil é quase que totalmente dependente da monta natural, já que apenas
11,9% das matrizes são inseminadas (ASBIA, 2015). Portanto, esse manejo reprodutivo demanda um
volume em torno de 1,5 milhão de touros por ano (Freneau, 2011). Nesse contexto, o reprodutor da raça
Senepol (Bos taurus taurus) é uma importante ferramenta para a obtenção de produtos de cruzamento
industrial com alta heterose. É uma raça considerada como taurino adaptado com capacidade de realizar a
cobertura através da monta natural e da inseminação artificial (ABCBS, 2015). Assim, o objetivo do
presente estudo foi determinar a cronologia dos eventos que caracterizam o desenvolvimento sexual, além
da classificação andrológica por pontos (CAP) de touros jovens da raça Senepol.

Material e Métodos
O presente estudo foi realizado em uma propriedade particular, no município de Caarapó, região
Sudoeste do estado do Mato Grosso do Sul. Sessenta touros da raça Senepol, puros de origem (PO),
idades entre 14 e 18 meses no início e 22 a 26 meses no final do experimento, foram submetidos ao
exame andrológico com periodicidade mensal entre os meses de fevereiro e outubro de 2015. Os animais
foram criados em condição semi-extensiva, com pastagem Mombaça (Panicummaximumcv) e
suplementados com Silagem de cana-de-açúcar e concentrado. Água e sal mineral foram fornecidos ad
libidum.

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O exame andrológico compreendeu em palpação testicular para detecção de possíveis alterações,


avaliação do perímetro escrotal, características físicas e morfológicas do sêmen. Comprimento e largura
testiculares também foram medidos, com o auxílio de um paquímetro para detecção de possíveis
assimetrias testiculares. O sêmen foi obtido através da eletroejaculação e avaliado de acordo com as
normas do Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (CBRA, 1998). Dentro da avaliação física foram
estimados motilidade espermática progressiva retilínea (percentual de espermatozóides com movimento)
e vigor espermático (escala de 0 a 5). Em seguida, uma amostra de sêmen foi submetida à avaliação
morfológica, de acordo com classificação proposta por Blom (1973), com a contagem de 200
espermatozóides através de preparação úmida com auxílio de microscópio de contraste de fase.
Após essa avaliação andrológica, foi determinada a fase de desenvolvimento sexual, dividida em
pré-púbere, púbere ou maduro. Os conceitos de puberdade e maturidade sexual seguiram a proposta de
Garcia et al (1987), em que a puberdade é quando o animal apresenta o primeiro espermatozóide móvel
no ejaculado, e maduro sexualmente ao apresentar ejaculado com no mínimo 50% de motilidade, no
máximo 10% de defeitos maiores, 20% de defeitos menores e 30% de defeitos totais, segundo a mesma
classificação de Blom (1973). Por fim, os touros foram pontuados de acordo com a Classificação
andrológica por pontos proposta por Chenoweth e Ball (1980).
As características estudadas foram avaliadas de forma descritiva (média, desvio-padrão e
amplitude).

Resultados e Discussão
Na primeira avaliação realizada em fevereiro de 2015 foram desclassificados no exame
andrológico 5 animais, sendo que dois apresentaram assimetria testicular grave e três com
criptorquidismo. Os parâmetros observados na puberdade estão descritos na Tabela 1.

Tabela 1. Características na Puberdade


Características Resultados
Idade a puberdade (meses) 17,0 ±1,4 (14,2 – 20,9)
Perímetro escrotal (cm) 33,2±2,1 (28,9 – 38,3)
Motilidade espermática (%) 58,5±20,8 (10 – 95)
Vigor (0 – 5) 2,9±1,2 (1 – 5)

Os animais desse experimento foram mais precoces que touros da raça Guzerá que se tornaram
púberes aos 19,6 meses em média (Osorio & Souza, 2013). Porém, esses touros Senepol atingiram a
puberdade em idade superior à animais da raça Angus e Angus x Charolês (10,31 ± 0,99 meses)
observados por Brito et al (2012).
Foi superior também aos animais da raça Senepol acompanhados por Moraes (2012) (13,22±0,16
meses) em condições similares ao do presente estudo, no município de Uberlândia/MG. Essa divergência
na idade a puberdade quando comparado a outros trabalhos com reprodutores da mesma raça se deve
principalmente ao fato de que o acompanhamento dos animais do presente estudo se iniciou quando a
média de idade era de 16 meses. Sendo que na primeira avaliação 22 touros já estavam púberes na
primeira avaliação e 16 já estavam maduros sexualmente. Os parâmetros observados na maturidade
sexual estão descritos na Tabela 2.

Tabela 2. Características na maturidade sexual


Características Resultados
Idade a maturidade sexual (meses) 18,8±2,4 (14,1 – 24,9)
Perímetro escrotal (cm) 35,4±2,8 (29,7 – 42,5)
Motilidade espermática (%) 71±12,0 (50 – 95)
Vigor (0 – 5) 3,5±0,6 (3 – 5)
Defeitos maiores (%) 7,8±2,1 (2 – 10)
Defeitos menores (%) 3,3±3,3 (0 – 12,5)
Defeitos totais (%) 10,7±4,0 (0 – 20)
CAP (0-100) 92,1±8,1(74-100)

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A idade média à maturidade sexual observada no presente estudo foi inferior a touros Nelore que
se tornaram aptos à reprodução entre 20 e 22 meses (Silveira et al, 2010). Assim como quando se
compara esses resultados ao observado por Miranda Neto (2011), 21,43 meses para maturidade sexual,
em touros da raça Simental criados em condições extensivas no Brasil. Ao comparar-se com touros
Montana, composto adaptado (Fernandes Junior & Francesquini, 2007) e Caracu, taurino adaptado
(Monteiro et al., 2012), essas raças foram mais tardias, 22 e 23,2 meses respectivamente, que os animais
do presente estudo. Porém, os animais atingiram a maturidade sexual em idade superior aos touros
Senepol acompanhados por Moraes (2012), que obtiveram idade média de 16,25±0,16 meses. Esse
resultado também pode ser devido ao fato de que no início do presente estudo 27% dos animais já eram
maduros sexualmente.
Na última avaliação todos os animais foram submetidos ao exame andrológico, posteriormente
foram classificados de acordo com a metodologia de Chenoweth e Ball (1980) de classificação
andrológica por pontos (CAP). Após essas avaliações apenas 2 animais ainda não tinham atingido a
maturidade sexual. Portanto, ao final do experimento 96,36% dos touros foram classificados como
satisfatórios, ou seja, se tornaram aptos a reprodução.

Conclusões
Reprodutores da raça Senepol podem ser considerados como intermediários para precocidade
sexual entre animais taurinos e zebuínos. Para que uma proporção de reprodutores avaliados sejam aptos
no exame andrológico, essa avaliação pode ser realizada aos 18 meses de idade. Além disso, a CAP pode
ser utilizada para complementar essa avaliação de touros na raça Senepol.

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Literatura Citada
ABCBS. Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol. Disponível em
http://senepol.org.br/index.php?pid=inc/inc_institucional.php&id_grupo=81&id_conteudo=316.
Acessado em 21 de maio de 2015.
ASBIA. Associação Brasileira de Inseminação Artificial. Disponível em
http://www.asbia.org.br/novo/relatorios/. Acessado em 26 de maio 2015.
BLOM, E. The ultrastructure of some characteristic sperm deffects and a proposal for a new classification
of the bull spermio gram. Nordisk Veterinarer Medicin. v. 25, p. 383-391, 1973.
BRITO, L.F.C; BARTH, A.D.; WILDE, R.E.; KASTELIC, J.P. Effect of growth rate from 6 to 16
months of age on sexual development and reproductive function in beef bulls. Theriogenology. v. 77, p.
1398-1405, 2012.
CHENOWETH, P. J.; BALL, L. Breeding soundness evaluation in bulls. In: MORROW, D.A. (Ed.)
Current therapy in theriogenology. Philadelphia: Saunders Company: 1980, p. 330-339.
COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL - CBRA. Manual para exame andrológico e
avaliação do sêmen animal. 2.ed. Belo Horizonte: 1998. p.49
FERNANDES JUNIOR, J.A.; FRANCESCHINI, P.H. Maturidade sexual e biometria testicular de touros
jovens compostos montana tropical® criados a pasto. Ars veterinária. Vol. 23, n. 1, 059-066, 2007.
FRENEAU, G. E. Aspectos da morfologia espermática em touros. Revista Brasileira de Reprodução
Animal, v. 35, n. 2, p.160-170, 2011.
GARCIA, J.M.; PINHEIRO, L.E.L.; OKUDA, H.T. Body development and semen phisical and
morphological characteristics of young Guzerá bulls. Ars Veterinária, v.3, p.47-53, 1987.
MIRANDA NETO, T; CASTILHO, E.F.; PINHO, R.O. et al. Puberdade e maturidade sexual em touros
jovens da raça Simental, criados sob regime extensivo em clima tropical. Revista Brasileira de
Zootecnia. v. 40, n.9, p.1917-1924, 2011.
MONTEIRO, F.M.; OLIVEIRA, L.Z.; OLIVEIRA, C.S.; et al. Avaliação andrológica de touros jovens
de diferentes raças selecionadas para peso pós-desmama. Disponível em: http://pt.engormix.com/MA-
pecuaria-corte/genetica/artigos/avaliacao-andrologica-touros-jovens-t1292/103-p0.htm. Acessado em 19
de novembro de 2015.
MORAES, G.P. Puberdade e maturidade sexual de tourinhos Senepol, criados semi-extensivamente
na região do triângulo mineiro – MG. Belo Horizonte: Escola de Veterinária da UFMG, 2012. 56p.
Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) - Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.
OSORIO, J.P.; SOUZA, F.A. Identificação dos parâmetros do desenvolvimento sexual relacionados ao
período da peri puberdade em machos da raça Guzerá. Revista Ciência Animal, v. 6, p. 143-160, 2013.
SILVEIRA, T.S. Maturação Sexual e parâmetros reprodutivos em touros da raça Nelore criados em
sistema extensivo.Rev. bras. Zootec., v.39, n.3, p.503-511, 2010.

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CONTAMINAÇÃO BACTERIANA DE JALECOS EM UM HOSPITAL VETERINÁRIO

Victor Hugo Brito1, Talita de Queiroz Florentino1, Cássia Rejane Brito Leal2
1
Acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: victormedvethugo@gmail.com; talitadeqf
@hotmail.com
2
Professora da FAMEZ/UFMS. E-mail: cassia.leal@ufms.br

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo avaliar a contaminação bacteriana em jalecos de
profissionais atuantes em um hospital veterinário. Foram coletadas de modo aleatório amostras de 20
jalecos em três setores distintos; ambulatório, diagnóstico por imagem e centro cirúrgico. Foram
realizados cultivos bacterianos e contagem bacteriana total (CBT). Dezoito amostras apresentaram
crescimento bacteriano, sendo identificadas como: Sphirgomonas paucimobilis, Staphylococcus aureus,
Staphylococcus hyicus e Staphylococcus intermedius, Bacillus spp e Micrococcus. A técnica de CBT
revelou contagens entre zero a 838/UFC. Estes dados revelam que os jalecos atuam como carreadores de
bactérias podendo ter importância na disseminação desses organismos e na facilitação de infecções
hospitalares.

Palavras-Chave: Bactéria, Jalecos, Hospital Veterinário.

BACTERIAL CONTAMINATION OF LAB COATS IN A VETERINARY HOSPITAL

Abstract: The present work had the objective of evaluating the bacterial contamination of coats of
workers at a veterinary hospital. Twenty samples were collected, randomly, in three distinct sectors;
ambulatory, image diagnostic and surgery center. Bacterial cultures and total bacterial count (TBC) were
performed. Eighteen samples presented bacterial growth, identified as: Sphirgomonas paucimobilis,
Staphylococcus aureus, Staphylococcus hyicus, Staphylococcus intermedius, Bacillus sp.
and Micrococcus. The TBC technique disclosed counts between zero to 838/UFC. These data showed
that the lab coats act as bacterial carriers and may play an important role in the dissemination of these
organisms and in facilitating hospital infections.

Keywords: Bacteria, Lab Coats, Veterinary Hospital.

Introdução
Comumente profissionais de diversas áreas da saúde não se atentam ou negligenciam o uso de
jaleco fora do ambiente de trabalho, simplesmente ignorando o risco que este hábito pode provocar uma
vez que esta vestimenta pode servir como carreador para diversos tipos de microorganismos, colocando
em risco a própria saúde e a de terceiros.
Os profissionais da área de saúde estão expostos às contaminações e/ou transmissões de doenças
em decorrência de contatos manuais inadequados diretos ou indiretos de aerossóis, gotículas e perdigotos,
os quais são gerados durante o exercício da profissão. A carência do zelo na prevenção dos contágios é
uma evidência patente para a maioria dos profissionais que agem por desconhecimento ou negligência,
com o uso inadequado dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) nos seus ambientes de trabalho
(Nesi et AL., 2006).
Os profissionais de saúde, de forma geral, realizam a higienização de suas vestimentas em seus
domicílios, o que potencialmente gera riscos para a família e comunidade onde estão inseridos
(Margarido et AL., 2008).
Atualmente existem poucos estudos relacionados a contaminação de jalecos na medicina
veterinária, este fato justifica a importância desse trabalho.

Material e Métodos
No período de março a maio de 2015 foram coletadas amostras de 20 jalecos usados por
profissionais atuantes no hospital veterinário da FAMEZ (Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em três setores distintos;
ambulatório, diagnóstico por imagem e centro cirúrgico. O tempo de uso, a idade e o sexo dos
profissionais foram escolhidos de modo aleatório. As amostras foram coletadas esfregando delicadamente
swabs estéreis sobre a superfície do tecido em uma área delimitada por uma moldura de 5 cm². A região

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media frontal próxima aos bolsos no jaleco foi escolhida como padrão para obtenção das amostras. Foi
descartada a região dos punhos uma vez que a maioria dos jalecos usados era sem mangas. Para evitar
uma possível contaminação externa usou-se luvas de látex para manusear os swabs nos momentos das
coletas. Após o esfregaço, os swabs eram mergulhados individualmente em um tubo de ensaio estéril
contendo soro fisiológico, criando-se o inóculo que posteriormente era encaminhado para o laboratório de
bacteriologia da FAMEZ-UFMS para análise bacteriológica. As amostras foram semeadas em agar
infusão de cérebro e coração (BHI) e em Plate Count Agar (PCA) e incubadas por 24horas a 37ºC. As
colônias foram isoladas por meio de repiques em agar BHI e a identificação foi realizada pelas
características morfotintoriais e bioquímicas, usando meios específicos para bactérias Gram negativas e
Gram positivas, de acordo com Winn Jr. et al 2008, e o manual de microbiologia clínica para o controle
de infecções em serviços de saúde da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Resultados e Discussão
Entre as 20 amostras avaliadas 18 apresentaram crescimento bacteriano, cuja contagem bacteriana
total variou de 18 a 838 unidades formadora de colônia (UFC)/mL (tabela1). Em duas amostras restantes
não crescimento bacteriano.
Entre as amostras positivas duas tiveram crescimento de três tipos diferentes de colônias, 11
tiveram crescimento de dois tipos diferentes de colônias e cinco tiveram crescimento de apenas um tipo
de colônia. Foi possível realizar 32 isolados diferentes entre as 18 amostras positivas. Entre as bactérias
isoladas a maior prevalência foi de Gram positivas (93,75%), sendo 31,25% Staphylococcus intermedius,
28,12% Staphylococcus hyicus, 15,62% Staphylococcus aureus, 15,62% Micrococcus e 3,12% Bacillus
sp. Só houve o isolamento de uma espécie de bactéria Gram negativa a Sphirgomonas paucimobilis
correspondendo 6,25%. Segundo Winn Jr. et al (2008), os gêneros Staphylococcus sp., Bacillus sp.e
Streptococcus sp fazem parte da composição natural da microbiota da superfície da pele dos homens.
A idade, o sexo dos profissionais, o tempo de uso e o setor onde as amostras foram coletadas, não
apresentaram nenhum tipo de influencia sobre os resultados obtidos (Tabela 1).
Estudos semelhantes realizados por Margarido et al (2014) e Nesi et al (2006) revelaram que a
bactéria mais frequentemente encontrada nos jalecos utilizados por profissionais da saúde é o
Staphylococcus aureus.

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Tabela 1. Resultados das amostras coletadas de jalecos dos médicos veterinários atuantes no Hospital
Veterinário da FAMEZ

Número
Sexo do Tempo Nos de
da Idade Bactérias isoladas
Setor usuário* de uso UFC**
amostra

Staphylococcus hyicus
1 Ambulatório F 51 1 dia 38
Staphylococcus intermedius
Centro Staphylococcus hyicus
2 F 24 1 dia 838
Cirúrgico Staphylococcus intermedius
Centro
3 M 23 1 dia 62 Bacilos sp.
Cirúrgico
Diagnostico Staphylococcus hyicus
4 F 26 2 dias 52
por Imagem Staphylococcus aureus
Micrococcus
Diagnostico
5 F 25 3 dias 46 Staphylococcus
por Imagem
intermedius
Centro Staphylococcus hyicus
6 F 23 4 dias 120
Cirúrgico Staphylococcus aureus
Micrococcus
7 Ambulatório F 23 2 dias 62 Staphylococcus
intermedius
Staphylococcus hyicus
8 Ambulatório M 23 2 dias 45 Staphylococcus intermedius
Sphirgomonas paucimobilis
9 Ambulatório F 24 4 dias 208 Staphylococcus hyicus
Staphylococcus intermedius
10 Ambulatório M 28 3 dias 92
Sphirgomonas paucimobilis
11 Ambulatório F 24 1 dia 0 -
Staphylococcus intermedius
12 Ambulatório M 28 2 dias 587 Micrococcus
Staphylococcus aureus
Staphylococcus hyicus
13 Ambulatório M 37 4 dias 18

Diagnostico Staphylococcus intermedius


14 F 26 2 dias 37
por Imagem Staphylococcus aureus
Micrococcus
15 Ambulatório F 25 3 dias 123
Sphirgomonas paucimobilis
Centro
16 F 24 1 dia 0 -
Cirúrgico
17 Ambulatório F 24 1 dia 19 Staphylococcus intermedius
Staphylococcus aureus
18 Ambulatório F 24 4 dias 152
Micrococcus
Staphylococcus hyicus
19 Ambulatório M 37 3 dias 95
Staphylococcus intermedius
20 Ambulatório F 25 1 dia 21 Staphylococcus hyicus
* **
F= feminino e M= masculino; UFC = Unidades Formadoras de Colônias

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Conclusões
Os resultados obtidos sugerem que a maioria dos jalecos utilizados pelos profissionais atuantes no
hospital veterinário da FAMEZ apresentava contaminação bacteriana, independente do setor onde foi
coletado, do tempo de uso, da idade e sexo dos usuários. A pesquisa revelou resultados importantes como
a amostra do jaleco coletada no centro cirúrgico que apresentou o maior número de unidades formadoras
de colônia entre todas. Abre espaço para uma discussão a respeito de como essas vestimentas estão sendo
manipuladas e quais os riscos que trazem para a saúde dos veterinários uma vez que são potencialmente
uma fonte de contaminação bacteriana.

Literatura Citada
HIRSH, D.C.; ZEE, Y, C; Microbiologia Veterinária. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 194 p.
2003.
MARGARIDO,C.A.; BOAS,T.M.V.; MOTA,V.S. et al. Contaminação microbiana de punhos de jalecos
durante a assistência à saúde. Rev. bras. enferm., vol.67, no.1, Brasília, Jan./Feb. 2014.
NESI, M.A.A; FILHO, R.S.B; LIMA,E.G. et al. Contaminação em Jalecos Utilizados por Estudantes de
Odontologia. Saúde em Revista, Vol 8, 47-54 p. Piracicaba, 2006.
WINN JR, W.C.; KONEMAN, E.W.; ALLEN, S.D.; JANDA, W.M.; PROCOP, G.W.;
SCHRECKENBERGER, P.C.; WOODS, G.L. Diagnóstico Microbiológico: texto e atlas colorido. 6. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 1465 p. ISBN 978-85-277-1377-1.

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FALHA NA PREVENÇÃO DA INTOXICAÇÃO POR MONOFLUOROACETATO ATRAVÉS


DA ADMINISTRAÇÃO REPETIDA DE DOSES NÃO LETAIS DESTA SUBSTÂNCIA A
OVINOS

Stephanie Carrelo de Lima1, Thiago Gonsalo da Silva2, Ana Karla Moulard de Mello3, Rayane Chitolina
Pupin4, Paula Velozo Leal5, Cássia Rejane Brito Leal6, Danilo Carloto Gomes7, Ricardo Antônio Amaral
de Lemos8
1
Programa de Pós Graduação em Ciência Animal, FAMEZ/UFMS. Email: stephanie_k_lima@hotmail.com
2
Aluno do curso de Medicina Veterinária, FAMEZ/UFMS. Email: thiagogonsalo@gmail.com
3
Programa de Pós Graduação em Medicina Veterinária, FAMEZ/UFMS. Email: akm@terra.com.br
4
Residente em Patologia Veterinária, FAMEZ/UFMS. Email: rayane.pupin@gmail.com
5
Residente em Patologia Veterinária, FAMEZ/UFMS. Email: paulavleal@hotmail.com
6
Professor da FAMEZ/UFMS. Email: cassia.leal@ufms.br
7
Professor da FAMEZ/UFMS. Email: danilo.gomes@ufms.br
8
Professor da FAMEZ/UFMS. Email: ricardo.lemos@ufms.br

Resumo: Com o objetivo de verificar se a administração de doses crescentes não letais de


monofluoracetato (MFA), por via intraruminal a ovinos, torna os animais resistentes a este princípio
tóxico e induz a proliferação de bactérias intrarruminais que possam degradar MFA, 10 ovinos foram
distribuídos em dois grupos com cinco animais cada. Os ovinos do Grupo 1 (G1) receberam MFA por
seis períodos: 0,05 mg/Kg por 5 dias; 0,08 mg/Kg por 4 dias; 0,08 mg/Kg por 4 dias; 0,1 mg/Kg por 3
dias; 0,1 mg/Kg por 3 dias e 0,25 mg/Kg por 3 dias. Entre cada período houve um intervalo de 10 dias
sem a administração. O Grupo 2 (G2) recebeu apenas água deionizada nos mesmos períodos que os
ovinos do G1. Amostras do conteúdo ruminal de cada animal foram coletadas para avaliação do
crescimento, isolamento e identificação das bactérias. Dois ovinos do G1 apresentaram sinais de
intoxicação e outros três morreram sem apresentar sinais clínicos, evidenciando que não houve
resistência. Não houve diferença no crescimento bacteriano entre os grupos e a maioria das bactérias
isoladas nos dois grupos foram Staphylococcus aureus e Pseudomonas sp. Apesar de bactérias destes
gêneros serem citadas em outros trabalhos por sua capacidade de degradar MFA, não necessariamente
degradam este composto quando têm acesso a outras fontes de carbono, como ocorre no ambiente
ruminal.

Palavras-chave: Amorimia spp., bactérias com capacidade dehalogenase, indução de resistência,


intoxicação por plantas, monofluoroacetato, Palicourea spp.

FAILURE TO PREVENT POISONING MONOFLUOROACETATE BY REPEATED


ADMINISTRATION OF NON-LETHAL DOSES OF THIS SUBSTANCE SHEEP

Abstract: With the aim of verify if the administration of increasing doses of non-lethal monofluoracetate
(MFA), by means intra ruminal in sheep, the animals become resistant to this principle toxic and induces
the proliferation of bacteria that can degrade MFA, 10 sheep were divided into two groups of five animals
each. Sheeps from Group 1 received MFA for six periods: 0.05 mg/kg for 5 days; 0.08 mg/kg for 4 days;
0.08 mg/kg for 4 days; 0.1 mg/kg for 3 days; 0.1 mg/kg for 3 days and 0.25 mg/kg for 3 days. Between
each period there was an interval of 10 days without administration. Group 2 receives only deionized
water over the same periods as the G1 sheep. Samples of rumen contents were collected from each animal
to evaluate the growth, isolation and identification of bacteria.Two G1 sheep show signs of intoxication
and three others died without showing clinical signs, showing that there was no adaptation. There was no
difference in bacterial growth between the groups and the most bacteria isolated in both groups were
Staphylococcus aureus and Pseudomonas sp. Although bacteria of the genus are cited in other works for
their ability to degrade MFA, it doesn’t necessarily degrade this compound when they have access to
other sources of carbon, as in the rumen.

Keywords: Amorimia spp., bacteria with dehalogenase capacity, inducing resistance, monofluoroacetate,
Palicourea spp., plant poisoning.

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Introdução
Diversas metodologias de controle e prevenção têm sido propostas para evitar perdas econômicas
causadas por intoxicações por plantas em animais de produção, entretanto a maioria delas não previne
contra intoxicações por plantas do gênero Amorimia (Tokarnia et al. 2012).
A toxicidade das espécies de Amorimia se deve à presença de monofluoracetato (MFA), substância
que bloqueia o Ciclo de Krebs prejudicando a respiração celular e a produção de energia (Lee et al. 2012).
Estas plantas, juntamente com outros exemplares que também contêm MFA, principalmente as do gênero
Palicourea, são responsáveis por metade das mortes de bovinos causadas por intoxicação por plantas no
Brasil (Tokarnia et al. 2012).
Devido às dificuldades encontradas no controle das intoxicações por estas plantas, estudos estão
sendo desenvolvidos com a intenção de tornar os animais resistentes à intoxicação (Duarte et al. 2013,
Santos et al. 2014). A resistência à intoxicação por plantas que contêm monofluoracetato é atribuída à
presença intrarruminal de bactérias com capacidade dehalogenase, ou seja, capacidade de clivar a ligação
carbono-flúor presente neste composto para utilizar o carbono como fonte de energia (Camboim et al.
2012).
Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi verificar se a administração de doses crescentes
não letais de MFA, por via intrarruminal a ovinos, torna os animais resistentes a este princípio tóxico e
induz a proliferação de bactérias intrarruminais que possam degradar MFA.

Material e Métodos
Foram utilizados 10 ovinos (oito machos e duas fêmeas), sem raça definida, com 24 meses de
idade e pesos entre 30-50 kg, sem contato prévio com MFA. Todos foram mantidos em baias individuais,
alimentados com feno de Tifton (Cynodon dactylon), ração, sal mineral e água à vontade. Estes animais
foram divididos aleatoriamente em dois grupos.
O Grupo 1 (G1) foi constituído por cinco ovinos (1, 2, 3, 4, 5) que receberam doses crescentes não
letais de MFA (Sigma-AldrichCo.) diluído em 10 mL de água deionizada, através de cânula ruminal, por
seis períodos: 0,05 mg/kg por 5 dias (período 1); 0,08 mg/kg por 4 dias (período 2); 0,08 mg/kg por 4 dias
(período 3); 0,1 mg/kg por 3 dias (período 4); 0,1 mg/kg por 3 dias (período 5); 0,25 mg/kg (período 6).
Entre cada período houve um intervalo de 10 dias sem a administração, visando eliminar o efeito
acumulativo do MFA.
O Grupo 2 (G2) foi composto por outros cinco ovinos (6, 7, 8, 9, 10) que receberam apenas 10 mL
de água deionizada, também através de cânula ruminal, nos mesmos períodos e respeitando os mesmos
intervalos que os ovinos do G1. Os animais eram observados a cada seis horas e as observações
intensificadas quando havia manifestação de sinais clínicos.
Amostras de líquido ruminal foram colhidas imediatamente antes do início do experimento e
coletas posteriores foram realizadas no dia seguinte ao fim de cada período. Dois mililitros de conteúdo
ruminal eram coletados através da cânula ruminal, com auxílio de seringa estéril e posteriormente
depositados em tubos Eppendorf também estéreis, mantidos em caixa térmica e logo encaminhados ao
Laboratório de Doenças Infecciosas da Universidade de Mato Grosso do Sul.
Após centrifugação 9000 xg por um minuto, 100 microlitros do sobrenadante eram inoculados em
2 mL do Meio 1 (M1) e mais 100 microlitros em 2 mL do Meio 2 (M2) que eram incubados a 42°C por
24 horas. A cada 24 horas eram feitos repiques dos meios M1 e M2 durante cinco dias para o crescimento
e isolamento bacteriano. Após este período, a turbidez dos meios foi avaliada de acordo com a escala de
Mc Farland (Nakasato, L., dados não publicados).
Para isolamento e identificação das bactérias, amostras crescidas no M1 e M2 foram semeadas no
Meio 3 (M3) e incubadas a 37°C por 24 horas. Após esta etapa foram feitos repiques em infusão de
cérebro e coração (BHI) para obtenção de amostras puras.
A identificação dos gêneros e/ou espécies foi obtida por meio de testes bioquímicos em meios
específicos para cada grupo, de acordo com o preconizado por Winn Jr (2008).
Cada 200 mL de M1 era composto de 0,2 g de sulfato de amônio e fosfato de potássio, 0,1 g de
sulfato de sódio e 0,02 g de sulfato de magnésio e extrato de levedura. O M2 consistia do M1 adicionado
de 800 microgramas de MFA e o M3, M2 acrescido de Agar.

Resultados e Discussão
Sinais clínicos de intoxicação ocorreram em ovinos do G1 a partir do Período 2 e os outros três
animais do mesmo grupo morreram ao longo do experimento sem apresentar sinais clínicos prévios.

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Durante todo o período experimental não houve alterações na frequência respiratória, temperatura retal ou
comportamento dos ovinos do G2.
Não houve diferença no crescimento bacteriano entre os ovinos do G1 e G2 quando considerada a
escala de Mc Farland. A maioria das bactérias isoladas nos dois grupos foram Staphylococcus aureus e
Pseudomonas sp.
Os resultados obtidos neste estudo demonstraram que a administração de doses crescentes não
letais de MFA, por via intrarruminal, não induzem resistência em ovinos. Embora tenham sido
identificadas bactérias como Staphylococcus aureus e Pseudomonas sp. nos G1 e G2, o crescimento delas
foi semelhantes nos dois grupos, indicando que o MFA não serviu como substrato para o crescimento
bacteriano in vivo.
Santos et al. (2014) utilizaram doses não tóxicas de monofluoracetato por via oral na tentativa de
induzir resistência a este princípio em ovinos e também não observaram resistência. Por outro lado,
experimentos que utilizaram doses não tóxicas de folhas de plantas que contêm MFA para indução de
resistência em caprinos apresentaram êxito (Duarte et al. 2013).
A utilização de plantas para indução de resistência pode apresentar a vantagem de inocular,
juntamente com as plantas, bactérias com capacidade dehalogenase naturalmente presentes na superfície
das folhas (Camboim et al. 2012) o que facilitaria a colonização ruminal. Outro aspecto a ser considerado
é a possibilidade da presença de outros compostos nas plantas que favoreçam o crescimento das bactérias
o que não ocorre quando o princípio tóxico é inoculado na sua forma pura.
Neste estudo foram isoladas Pseudomonas sp. e Staphylococcus aureus, porém sua capacidade
dehalogenase não foi pesquisada. Pseudomonas sp. e Staphylococcus aureus são citadas como bactérias
com capacidade dehalogenase e podem ser facilmente encontradas no ambiente. (Camboim et al. 2012).
Mesmo pertencendo a gêneros de bactérias já descritas com atividade dehalogenase, as bactérias isoladas
neste trabalho não protegeram os ovinos contra intoxicação por MFA.

Conclusões
A administração de doses não letais repetidas de MFA não estimulou o aumento da população
bacteriana intrarruminal dos ovinos. Estes resultados demonstram que mesmo bactérias com potencial
capacidade dehalogenase não necessariamente degradam este composto quando têm acesso a outras
fontes de carbono, como ocorre no ambiente ruminal.

Literatura Citada
Camboim E.K.A., Tadra-Sfeir M.Z., Souza E.M. et al. Defluorination of sodium fluoroacetate by bacteria
from soil and plants in Brazil. Scientific World Journal 2012:149893, 2012.
Duarte A.L.L., Medeiros R.M.T., Carvalho F.K.L. et al. Induction and transfer of resistance to poisoning
by Amorimia (Mascagnia) septentrionalis in goats. Journal applied toxicology. 34(2):220-223.
Lee S.T., Cook D., Riet-Correa F., Pfister J.A. et al. Detection of monofluoracetate in Palicourea and
Amorimia species. Toxicon 60:791-796, 2012.
Santos A.C., Riet-Correa F., Heckler R.F. et al. Administração repetida de doses não tóxicas de
monofluroacetato de sódio não protege contra a intoxicação por este composto em ovinos, Pesquisa
Veterinária Brasileira. v. 34(7):649-654, 2014.
Tokarnia C.H., Brito M.F., Barbosa J.D. et al. Plantas tóxicas do Brasil. Editora Helianthus, Rio de
Janeiro. 586p, 2012.
Winn Junior, W., Allen, S., Janda et al. Diagnóstico Microbiológico - Texto e Atlas Colorido. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan.. p. 1057-118, 2008.

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LAPAROTOMIA PARAMEDIANA DIREITA COM CECOSTOMIA EM EQUINO COM


EVENTRAÇÃO – RELATO DE CASO

Éliti Valero Fiorin1, Rodrigo Madruga da Silva2, Karen Fernanda da Silva3, Valdemir Alves de Oliveira4
1
Aluna do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: elitifiorin@hotmail.com
2
Residente em Clínica Médica e Cirúrgica de Grandes Animais da FAMEZ/UFMS. E-mail: madruga_vet@hotmail.com
3
Residente em Anestesiologia e Medicina de Emergência Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: kahfernanda@hotmail.com
4
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: valdemir.oliveira@ufms.br

Resumo: O propósito deste trabalho é reportar um caso de eventração equina com aderência de ceco,
atendido no setor de Clínica Médica e Terapêutica de Equídeos da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia (FAMEZ), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O animal foi submetido à
laparotomia paramediana direita com cecostomia e redução da eventração. O equino recebeu alta após 30
dias da intervenção com a ferida cirúrgica cicatrizada e sem evidências de complicações pós-operatórias.

Palavras-chave: cecostomia, equino, eventração, laparotomia

RIGHT PARAMEDIAN LAPAROTOMY WITH CECOSTOMY IN EQUINE EVENTRATION –


CASE REPORT

Abstract: The purpose of this study is to report an equine eventration with cecal adhesion, attended at
Large Animal Medical and Surgical Clinic, department of Veterinary Medicine and Zootechny College
(FAMEZ), Federal University of Mato Grosso do Sul (UFMS). The animal underwent laparotomy with
right paramedian cecostomy and reducing herniation. The horse was discharged after 30 days of
intervention with the healed wound and no evidence of postoperative complications.

Keywords: cecostomy, equine, eventration, laparotomy

Introdução
Eventração é a ruptura traumática da parede abdominal com saída de vísceras, que permanecem
contidas apenas pelo tecido celular subcutâneo e pele. Segundo Knottenbelt & Pascoe (1998), podem ser
parcial ou totalmente redutíveis, de aparecimento brusco ou lento. Em geral, há tumefação na região da
abertura anatômica e problemas decorrentes do encarceramento definitivo das vísceras abdominais podem
ocorrer.
Auer & Stick (1999) consideram o tratamento cirúrgico, baseando-se em laparotomia e redução do
conteúdo eventrado e reconstituição da parede abdominal. A reestruturação da parede abdominal pode ser
complexa, sobretudo quando há alterações anatômicas, aderências estruturais e tecidos finos e friáveis. A
sutura peritoneal sofre com o peso das vísceras abdominais do equino, fator agravante durante a
cicatrização, que pode favorecer recidivas. Nesses casos, Brandão et al. (2004) salienta a necessidade de
reforçar a síntese cirúrgica.
As aderências formam-se a partir da união por fibrina ou tecido fibroso de uma ou mais áreas da
superfície peritoneal originalmente livres. Hau et al. (1979) defende que após o trauma, ocorre deposição
de fibrina e construção de aglutinações fibrinosas, que serão degradadas em poucos dias ou transformadas
em aderências fibrosas permanentes. Em relação a problemas clínicos, podem ser assintomáticas ou gerar
cólicas, obstrução intestinal, isquemia e necrose.
Objetivou-se, neste trabalho, relatar um caso de eventração com aderência de ceco em um equino e
a laparotomia paramediana direita com cecostomia que sucedeu como tratamento.

Material e Métodos
Foi encaminhado ao setor de Clínica Médica e Terapêutica de Equinos da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia (FAMEZ), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), um equino
adulto de aproximadamente 15 anos, sem raça definida, macho, pelagem castanha, pesando 460 kg,
pertencente ao esquadrão da Polícia Montada da Polícia Militar (PM) de Mato Grosso do Sul, utilizado
para execução de rondas no município de Campo Grande.
O animal foi atendido no dia 25 de maio de 2015, tendo como queixa principal aumento de volume
na região ventro-lateral direita do abdome há aproximadamente seis meses. No exame físico o paciente

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apresentou nível de consciência alerta e sinais vitais dentro dos valores de referência para a espécie:
frequência cardíaca 42 bpm, frequência respiratória 12 mpm, temperatura retal 37°C, pulso das artérias
digitais regular, mucosas normocoradas, tempo de preenchimento capilar de dois segundos, hidratado,
linfonodos inalterados, motilidade do trato grastointestinal normal nos quatro quadrantes. No hemograma
completo não validou-se nenhuma alteração importante.
O aumento de volume mostrou-se flácido e facilmente redutível. Devido à consistência e presença
de borborigmos, ficou evidenciado a existência de alças intestinais. Estabeleceu-se o diagnóstico de
eventração e o equino foi encaminhado à cirurgia, realizada dois dias após a internação.
O pré-operatório constou de jejum sólido de 24 horas e 12 horas de jejum hídrico. O acesso venoso
foi estabelecido por canulação da veia jugular direita, com cateter 14G. Prosseguiu-se com administração
de medicação pré-anestésica à base de cloridrato de xilazina 2%, dose de 0,8mg/kg. Após 10 minutos foi
administrado 2,2mg/kg de cetamina associada a 0,1mg/kg de midazolam para indução, por via
intravenosa. Sob efeito anestésico, o equino foi contido em decúbito dorsal, à campo. Para manutenção
foi utilizado 50g de Éter Gliceril Guaiacol (EGG), 2000mg de cetamina e 11ml de midazolam (taxa de
0,12mg/kg/h), diluídos em um litro de ringer com lactato. A taxa de infusão do triple drip foi de 2ml/kg/h.
Seguiu-se ampla tricotomia e anti-sepsia da região da tumefação e subsequente incisão de
aproximadamente oito centímetros em elipse da pele e do tecido subcutâneo, no sentido longitudinal.
Rebateu-se a pele, foi feita a incisão na fáscia muscular, divulsionou os músculos oblíquo externo,
oblíquo interno e transverso do abdome, sendo possível a visualização de aderência do músculo
transverso e do peritôneo com o ceco. Houve necessidade de realizar-se cecostomia e debridamento para
desfazer a aderência. Uma vez desfeita, iniciou-se a rafia do ceco com categute cromado 1 com sutura
contínua interrompida e em dois planos, o primeiro sero-mucosa, utilizou-se sutura do tipo Schmieden e
no segundo, sero-muscular, sutura do tipo Cushing. Em seguida, procedeu-se a sutura concomitante do
peritôneo, musculatura e fáscia muscular com categute cromado 2, sutura isolada do tipo Sultan. A síntese
do tecido subcutâneo foi realizada com categute 1 com sutura contínua de Cushing e na pele foi utilizado
fio inabsorvível de algodão 4, sutura isolada simples.
Logo após o procedimento cirúrgico, o animal recebeu 10000 UI de soro antitetânico, pela via
intramuscular.
No pós-operatório foi instituída antibioticoterapia com penicilina benzatina (22000 UI/kg a cada
48 horas, cinco aplicações, intramuscular) e gentamicina (6,6mg/kg a cada 24 horas, durante dez dias,
intravenoso). A terapia anti-inflamatória instituída foi com anitiinflamatório não esteroidal durante oito
dias, com meloxicam, dose de 0,6mg/kg, via intravenosa.
Diariamente foi empreendido tratamento à base de ducha para minimizar o edema, durante 20
minutos, até a alta do animal, além de cautelosa avaliação clínica. A higienização da ferida cirúrgica foi
realizada diariamente com iodopovidona e pomada cicatrizante à base de penicilina.
Durante a internação, o equino foi mantido estabulado em baia com cama de maravalha, recebendo
água e feno de alfafa à vontade.

Resultados e Discussão
No pós-operatório não foi observado deiscência de sutura, embora tenha exibido edema e seroma.
Os pontos foram removidos dez dias após o procedimento cirúrgico.
Durante 30 dias de internação, o paciente não apresentou alterações significativas dos sinais vitais
ou distúrbios do trato grastrointestinal, refutando, nesse caso, a consideração de Weiss et al. (1997) de
que as indigestões favorecem a transferência de bactérias e toxinas do lúmen intestinal para a corrente
sanguínea, contribuindo para manifestações de sinais sistêmicos, como choque séptico em equinos.
Após 15 e 30 dias foi realizado hemograma completo, não sendo salientado leucocitose ou indícios
de infecção bacteriana.
O equino recebeu alta após 30 dias da intervenção com a ferida cirúrgica cicatrizada e sem edema.

Conclusões
Conclui-se que a laparotomia paramediana é a manobra cirúrgica impreterível para solução de
eventração equina, uma vez que pode-se deparar com situações inesperadas como aderências de diversas
estruturas anatômicas.

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Literatura Citada
AUER, J.; STICK, J.A. Equine Surgery. Philadelphia: W B Saunders Company, 1999, 960p.
BRANDÃO, C.M.A.; GUEDES, M.A.V. et al. Plastia da valva mitral com a técnica do "Duplo Teflon".
Resultados de 10 anos. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, v.19, n.4, p.399-401, 2004.
HAU, T., PAYNE, D., SIMMONS, R. L. Fibrinolytic activity of the peritoneum during experimental
peritonitis. Surg Gynecol Obstet, v. 148, p. 415-418, 1979.
KNOTTENBELT, D.C.; PASCOE, R.R. Afecções e Distúrbios do Cavalo. São Paulo: Editora Manole,
1998. 432p.
WEISS, D.J.; EVANSON, O.A.; FAGLIARI, J.J. A preliminary study of mucosal barrier function in
experimental equine laminitis. Vet. Pathol., v.34, p.480, 1997.

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FRATURA DE ESCÁPULA EM CACHORRO DOMÉSTICO – RELATO DE CASO

Leandro Menezes Santos1; Jessica Sperandio2; Elise Manami Iwakura3; Bartira Damiana Lemes
Cipriano4, Paulo Henrique Affonseca Jardim5; Paulo Antonio Terrabuio Andreussi6; Eric Schmidt
Rondon7

1Médico Veterinário Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS mvet.leandro@gmail.com


2Aluno de curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. sperandiogrd@gmail.com
3Aluno de curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS.
4 Médico Veterinário Residente em Diagnóstico por Imagem/ FAMEZ-UFMS
5 Médico Veterinário em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS
6 Docente em Diagnóstico por Imagem / FAMEZ-UFMS
7 Docente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS

RESUMO: Na rotina clínica veterinária são comuns atendimentos devido a ocorrência de traumas, dentre
eles o envolvimento de fraturas é de número expressivo. A escápula tem como dupla função estabilizar
e permitir a mobilidade do ombro, são incomuns fraturas nesse osso, pela proteção que recebe dos
grandes músculos que o circundam. Mais da metade das fraturas nessa localização se apresentam
simultâneas a outras lesões, o que indica a importância da análise tanto da função respiratória do paciente
e ainda, a verificação da função neurológica do membro traumatizado. O objetivo desse trabalho tem
como importância o relato de fratura escapular em cão pelo fato incomum de ocorrer esse tipo de lesão.
PALAVRAS-CHAVE Traumatologia; Ortopedia; Trauma torácico;

SCAPULA FRACTURE IN DOMESTIC DOG - CASE REPORT

ABSTRACT: In clinical routine calls are common due to the occurrence of traumas, including the
involvement of fractures is a significant number. The scapula has the dual function stabilize and allow the
shoulder mobility, fractures are unusual in that bone, the protection it receives from the large muscles that
surround it. More than half of the fractures present in this location is simultaneous with other lesions,
indicating the importance of analysis of both the patient respiratory function and checking the
neurological function of the affected limb. The objective of this work is the importance of scapular
fracture reporting in dog by unusual fact occur this type of injury.
KEYWORDS Tramatology; Orthopedics; Trauma thoracic;

Introdução
O traumatismo torácico encontra-se hoje entre as principais causas de morte, principalmente no
que se refere a traumatismos causados por acidentes automobilísticos. As fraturas costais, assim como
qualquer outra lesão torácica compromete a função ventilatória por três motivos: dor, defeito costal e
movimentos paradóxicos. A fratura de escápula é bastante incomum nos casos de contusão torácica,
geralmente uma grande força é necessária para lesioná-la (PIERMATTEI et al, 2009).
De acordo com Johnson (2008), as fraturas escapulares correspondem cerca de 1,2% das fraturas
caninas. As fraturas podem ser classificadas de acordo com a localização comprometimento da superfície
articular e estabilidade. As fraturas de corpo e espinha escapulares podem ser minimamente desviadas e
estáveis, exigindo apenas terapia conservadora. Entretanto, as fraturas transversas do corpo e espinha da
escápula permitindo que ela se dobre sobre si mesma.
Tratamento cirúrgico é indicado para fraturas extra-articulares instáveis e para fraturas intra-
articulares. Os sistemas de fixação aplicáveis à fratura da escápula são placas e parafusos, fio ortopédico e
fios de Kirschner. O método de fixação mais apropriado deve ser determinado com base no escore de
avaliação da fratura e na localização desta (JOHNSON, 2008; PIERMATTEI et al, 2009).
Sendo assim, o objetivo desse trabalho tem como importância o relato de fratura escapular em cão
pelo fato incomum desse tipo de lesão e possíveis condutas terapêuticas.

Material e Métodos
Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS-
FAMEZ, um cão adulto sem raça definida, macho, pesando 14,2 kg, com histórico de ter sido vítima de
atropelamento e apresentando intensa dificuldade respiratória após o trauma. Ao exame físico, o mesmo
apresentava intensa dor na região de articulação escápulo-umeral e entre os arcos costais, frequência
cardíaca de 112 batimentos por minuto, frequência respiratória de 32 movimentos por minuto,

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temperatura corporal de 36,2ºC, tempo de preenchimento capilar aumentado, enfisema subcutâneo em


região costal direita e mucosas pálidas. Com auxílio de exame radiográfico, constatou-se fratura de corpo
da escápula com concomitante fratura de costela. O mesmo veio a óbito após início do atendimento
apresentando complicações respiratórias decorrente do trauma.

Discussão
Durante o exame físico além da observação da claudicação do animal, é importe pressionar
diretamente as bordas escapulares e a região da espinha do osso e em conjunto observar os sinais clínicos
de dor do paciente, com a finalidade de sugerir a fratura óssea parcial. A definição completa dessa lesão é
confirmada através de radiografias e o exame de tomografia pode auxiliar no grau de fragmentação, a fim
de preparar de forma mais precisa o plano cirúrgico a ser seguido se houver necessidade (ROUSH, 2008).
As fraturas de escápula são infrequentes na espécie canina, representam menos de 1,5% das
ocorrências de fratura em cães. O pequeno número de lesões nesse osso deve-se à proteção estabelecida
pelos grandes músculos que o circundam e a anatomia escapular permite uma classificação, de acordo
com a localização em que o osso foi atingido (JOHNSON, 2008; ROUSH, 2008; PIERMATTEI et al,
2009). Lesões concomitantes comuns incluem lesões torácicas, como contusões pulmonares,
pneumotórax fraturas de costelas e miocardiopatia traumática e lesão nervosa, como contusão do plexo
braquial e nervo supra-escapular (JOHNSON, 2008; ROUSH, 2008).
Entre o osso e a espinha na região central existe um achatamento e isso inviabiliza o uso dos pinos
intramedulares, entretanto, mesmo com a utilização de outras técnicas cirúrgicas, a consolidação é
excelente, uma vez que há irrigação sanguínea intensa (JOHNSON, 2008).
A escolha do tratamento parte primeiramente do envolvimento ou não da superfície articular e a
partir disso, o clínico pode construir um diagrama que ao afunilar as questões sobre essa articulação,
respondem com o uso ou não da técnica cirúrgica. Em tratamentos conservadores o uso de tipóia de
Volpeau, é a escolha de eleição para a eficácia na terapêutica, associado de restrição de espaço. Em geral,
apresenta a desvantagem de ocasionar redução da função articular do úmero e aumento da rigidez
articular em razão do período de imobilização (ROUSH, 2008; PIERMATTEI et al, 2009).
A abordagem aberta e a fixação interna são indicadas para fraturas de superfície articular, do colo
da escápula e na maioria das fraturas do processo acromial. O tratamento das fraturas articulares da
cavidade glenóide é difícil devido ao pequeno tamanho da maior parte dos fragmentos, e à relativa
dificuldade de exposição cirúrgica (PIERMETTEI et al, 2009).

Conclusões
As fraturas de escápula são de pouca ocorrência devido a proteção anatômica a esta região. O
relato de caso contribui com o enriquecimento literário sobre esse tipo de lesão e possíveis tratamentos.

Literatura Citada
JOHNSON, A.L. Tratamento de fraturas específicas. In: FOSSUM, T.W. Cirurgia de pequenos
animais. Rio de Janeiro : Elsiever. 2008
ROUSH, J.K. Fraturas de ombro. BIRCHARD, S.J. Manual Saunders de Clínica de Pequenos animais.
São Paulo : Roca 2ed. 2008.
PIERMATTEI, D.L.; FLO, G.L.; DeCAMP, C.E.; Ortopedia e tratamento de fraturas de pequenos
animais. Barueri: Manole, 2009.

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LEVANTAMENTO RADIOGRÁFICO DE LESÕES NA COLUNA VERTEBRAL EM


PEQUENOS ANIMAIS

Alexandre Coltro Gazzone ¹, Bartira Damiana Lemes Cipriano ², Desireé Reis de Oliveira ³, Paulo
Antonio Terrabuio Andreussi 4

¹ Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/ UFMS. E-mail: alexandregazzone@gmail.com


² Residente de Diagnóstico por Imagem da FAMEZ/ UFMS. E-mail: bartiradlc@gmail.com
³ Residente de Diagnóstico por Imagem da FAMEZ/ UFMS. E-mail: desiree_soh@hotmail.com
4
Professor de Diagnóstico por Imagem da FAMEZ/ UFMS. Email: pauloandreussi@hotmail.com

Resumo: No estudo radiográfico das vértebras são avaliadas alterações na radiopacidade, formato ósseo e
angulação das vértebras ou da coluna vertebral. Nem sempre as alterações observadas estão relacionadas
aos sinais clínicos apresentados. Neste relato foram incluídos casos de lesões observadas em todos os
segmentos da coluna vertebral de pequenos animais. Os dados foram obtidos das radiografias avaliadas
no período de março a setembro de 2015 no Laboratório de Diagnóstico por Imagem / FAMEZ / UFMS.
As principais lesões encontradas foram 13 casos de lesões decorrentes de trauma, 1 de afecção
relacionada ao desenvolvimento, 2 de alterações congênitas e 2 casos de doença degenerativa. As regiões
lombar, sacral e coccígea foram as mais acometidas principalmente nos casos decorrentes de trauma. O
objetivo deste relato é divulgar a casuística de lesões da coluna vertebral em pequenos animais, em um
período do ano de 2015, avaliados no Setor de Imaginologia da FAMEZ / UFMS.

Palavras-chave: canino, esqueleto axial, felino, radiografia

RADIOGRAPHIC SURVEY OF LESIONS IN THE SPINAL COLUMN IN SMALL ANIMALS

Abstract: In radiographic study of vertebrae are evaluated changes in radiopacity, bone format and
angulation of the vertebrae or vertebral column. Not always the observed alterations are related to clinical
signs presented. In this report were included cases of lesions observed in all segments of the spinal
column of small animals. The data were obtained from the radiographs evaluated in the period from
March to September 2015 in the Laboratory of Diagnostic Imaging / FAMEZ / UFMS. The main lesions
found were 13 cases of injuries resulting from trauma, 1 disorder linked to development, 2 congenital
alterations and 2 cases of degenerative disease. The lumbar regions, sacral and coccygeal were the most
affected mainly in cases of trauma. The objective of this report is to disclose the casuistry of lesions of the
vertebral column in small animals, in a period of the year 2015, evaluated in the Sector of Imaginology of
FAMEZ / UFMS.

Keywords: axial skeleton, canine, feline, radiography

Introdução
As afecções da coluna vertebral ocorrem comumente na rotina da clínica de pequenos animais,
sendo esta, uma das regiões anatômicas mais investigadas através dos recursos imaginológicos em
medicina veterinária (Widmer & Thrall, 2014).
A coluna vertebral é constituída por conjuntos de ossos irregulares individuais, as vértebras,
formando diferentes regiões (cervical, torácica, lombar, sacral e coccígea) nas quais estas vértebras
possuem características anatômicas mais aproximadas. O cão e o gato possuem fórmula numérica da
coluna vertebral semelhantes entre si: C7, T13, L7, S3 ou 4 e Cc 20-24. Cada vértebra possui 1 corpo, 1
arco vertebral, processos articulares e diversos processos ósseos. O conjunto de vértebras forma um túnel
flexível e longo. Na face dorsal de cada corpo vertebral localiza-se o arco oco, formando o canal espinhal,
o qual aloja e protege a medula espinhal (Colville & Bassert, 2010). Portanto, lesões do esqueleto axial
podem ocasionar dor e disfunções motoras importantes nos animais afetados.
Apesar da imagem por tomografia computadorizada e ressonância magnética constituírem as
principais modalidades de exames para a completa avaliação das vértebras e medula espinhal em
pequenos animais, a utilização da radiografia convencional de forma criteriosa pode oferecer informações
importantes no diagnóstico das afecções da coluna vertebral. Principalmente pela relação custo/benefício
e disponibilidade dos equipamentos, a radiografia convencional é o exame mais comumente utilizado

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quando se suspeitam de malformações congênitas, fraturas, luxações, doenças do disco intervertebral e


discoespondilites ou espondiloses (Taylor, 2010; Widmer & Thrall, 2014).
Vários tipos de fraturas podem ocorrer no esqueleto axial. Devido à dinâmica dos acidentes, um
dos tipos mais frequentes são as fraturas compressivas. Estas ocorrem em decorrência de um trauma que
flexiona a coluna vertebral, comprime e diminui as dimensões do osso, sendo mais comuns nos corpos
vertebrais, e podem levar a um desalinhamento da coluna, principalmente no segmento lombar, além da
diminuição no espaço intervertebral (Santos et al., 2006; Henry, 2014).
Além das fraturas que ocorrem nos corpos vertebrais, arcos, processos articulares e demais
processos ósseos, em animais jovens, com esqueleto imaturo, podem ocorrer fraturas ao longo das
cartilagens fisárias das vértebras. Estas fraturas são classificadas como Salter-Harris do tipo I (Henry,
2014).
Dentre as malformações congênitas e do desenvolvimento, as denominadas vértebras em bloco são
aquelas que apresentam os seguimentos vertebrais com seus corpos e/ou arcos vertebrais fusionados,
sendo comumente encontradas na região cervical, mas também podendo ocorrer na lombar. Algumas
destas afecções deste grupo podem ser consideradas como variação da normalidade, sem qualquer
expressão clínica, porém, em casos de vértebras em bloco, as regiões adjacentes às vértebras em bloco
podem sofrer com a sobrecarga gerada pela perda da flexibilidade do seguimento afetado, aumentando a
chance de ocorrer doença do disco vertebral ou subluxação (Widmer & Thrall, 2014).
A subluxação atlantoaxial congênita é um tipo de alteração na qual ocorre uma malformação do
processo odontoide do áxis e ou malformação do ligamento atlantoaxial. As alterações desse tipo, assim
como as de agenesia, hipoplasia, displasia, angulação dorsal do processo odontoide ou ausência do
ligamento transverso do atlas, gera instabilidade na articulação atlantoaxial, podendo levar a alterações
como o encurtamento do corpo vertebral do atlas, gerando uma anormalidade na articulação atlanto-
occipital com instabilidade articular e compressão medular variável (Lorigados et al., 2004).
A espondilose deformante é uma afecção degenerativa que acomete os anexos das articulações
vertebrais. Desenvolvem proliferações ósseas denominadas enteseófitos, causando a união dos discos com
as epífises vertebrais, podendo evoluir até a formação de pontes entre vértebras adjacentes. A causa da
espondilose não está definida, mas está associada a traumas repetitivos, instabilidade e desgaste pelo
envelhecimento. A ocorrência da doença é mais frequente na região toracolombar e lombossacra, sendo
mais comum em raças de porte grande (Widmer & Thrall, 2014).
O presente estudo tem por objetivo divulgar a casuística de lesões visualizadas nas radiografias da
coluna vertebral de pequenos animais, obtidas nos arquivos do Laboratório de Diagnóstico por Imagem
(LDI) da FAMEZ/UFMS, no período de março a setembro de 2015.

Material e Métodos
Foram avaliados os exames radiográficos dos arquivos do LDI / FAMEZ / UFMS, no período de
março a setembro de 2015. Os pacientes atendidos foram provenientes dos atendimentos clínico, cirúrgico
e de emergência.
Para a realização das radiografias, os pacientes foram posicionados em decúbito látero-lateral
direito ou esquerdo e ventrodorsal ou dorsoventral. Alguns pacientes precisaram ser anestesiados ou
sedados para o posicionamento. As radiografias foram criteriosamente avaliadas em negatoscópio, e as
conclusões descritas em laudo radiológico.

Resultados e Discussão
No período de abrangência deste levantamento, inúmeros animais foram avaliados, muitos deles
sem alterações identificáveis no exame radiológico convencional. Dentre estes, um total de 18 animais,
sendo 16 caninos e 2 felinos, tiveram identificadas alterações radiográficas em uma ou mais regiões na
coluna vertebral, como ilustra a figura 1.
Dos 18 animais avaliados, em 13 (72%), sendo 27,69 % de fêmeas e 44,3 % machos, a causa das
alterações estava relacionada ao trauma. Essa proporção foi semelhante ao citado por Santos et al., 2006,
que observaram 59% em machos e 41% em fêmeas. Segundo estes autores, a fratura da coluna vertebral
representou a terceira maior ocorrência, quando comparada a outras alterações, como degenerativas, do
desenvolvimento e congênita. Nos casos decorrentes de trauma observaram-se fraturas compressivas nos
corpos vertebrais de quatro lombares e uma torácica (12ª). Fraturas na face cranial da 4 ª vértebra coccígea
e caudal da 4ª lombar; espondilolistese entre 4ª e 5ª lombar e fratura Salter-Harris tipo I no sacro.

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Nos casos de vértebra em bloco (11%), um dos animais teve a lesão no segmento cervical (entre 2ª
e 3ª vértebras), e o outro no torácico (entre 6ª e 7ª vértebras). Neste, sugeriu-se o trauma como outra causa
para os achados visualizados, pois era um animal adulto.
Nos dois casos com alterações degenerativas (11%), apresentaram os seguintes achados
radiográficos: osteófitos formando ponte óssea entre vértebras torácicas compatível com espondilose
anquilosante (entre 12ª a 1ª lombar). A diminuição de espaço intervertebral e presença de material
radiopaco no forame intervertebral entre 2ª e 3ª vértebras lombares foram compatíveis com doença do
disco intervertebral.
Um animal (6%) teve sinal radiográfico compatível com subluxação atlantoaxial, com
deslocamento dorsal do áxis em relação ao atlas, provocando a instabilidade na articulação. O mesmo
resultado foi observado no estudo realizado por Santos et al., 2006, corroborando o identificado por
Lorigados et al., 2004, tendo observado subluxação em sete cães em um período de 10 anos.

Distribuição das lesões na coluna vertebral


em pequenos animais

11%

11%

6%
Congênitas

Degenerativas

Desenvolvimento
72%

T raumáticas

Figura 1. Gráfico de distribuição dos tipos de lesões na coluna vertebral em pequenos animais atendidos
no período de março a setembro de 2015. Fonte: LDI/FAMEZ/UFMS, 2015.

Conclusões
Os dados apresentados demonstram a importância do exame radiográfico na avaliação da coluna
vertebral em pequenos animais. Através do levantamento realizado percebe-se que a radiografia é um dos
exames indicados como triagem na avaliação de distúrbios neurológicos.
Através desse levantamento podemos observar que a maioria dos casos atendidos estava
relacionada ao trauma, e que outras alterações como congênitas, do desenvolvimento e degenerativas, são
pouco frequentes na rotina, mesmo considerando o curto período no qual foi realizado o estudo.

Literatura Citada
COLVILLE, T.; BASSERT, J.M. O Sistema Esquelético. In: Colville, T. e Bassert, J.M. Anatomia e
Fisiologia Clínica para Medicina Veterinária. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p. 170-174.
HENRY, G.A. Consolidação de Fraturas e Complicações. In: THRALL, D.E. Diagnóstico de Radiologia
Veterinária. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 288-291.
LORIGADOS, C.A.B.; STERMAN, F.A.; PINTO, A.C.B.F. Estudo clínico-radiográfico da subluxação
atlantoaxial congênita em cães. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.41,
p.368-374, 2004.
SANTOS, T.C.C.; VULCANO, L.C.; MAMPRIM, M.J. et al. Principais afecções da coluna vertebral de
cães: estudo retrospectivo (1995-2005). Veterinária e Zootecnia, v.13, n.2, p.144-152, 2006.
TAYLOR, S.M. Exames Diagnósticos do Sistema Neuromuscular. In: Nelson, R.W. e Couto, C.G.
Medicina Interna de Pequenos Animais. Tradução da 4ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p.1010.
WIDMER, W.E.; THRALL, D.E. Vértebras do Cão e do Gato. In: THRALL, D.E. Diagnóstico de
Radiologia Veterinária. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p.175-186.

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PERFIL FERMENTATIVO DAS SILAGENS DE CAPIM BRACHIARIA BRIZANTHA cv.


MARANDU COM DIFERENTES NÍVEIS DE ADITIVOS

Larissa Rodrigues do Nascimento Rocha1, Alexandre Menezes Dias2, Leandro Gomes da Silva1, Luís
Carlos Vinhas Ítavo2, Fabiane Ortiz do Carmo Gomes Coca3, Luciana Junges3
1
Acadêmico (a) do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PET. E-mail: lari_rocha11@hotmail.com,
gomeslufms@gmail.com
2
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: alexandre.menezes@ufmas.br , luis.itavo@ufms.br
3
Doutoranda do Programa de Ciência Animai FAMEZ/UFMS. E-mail: fabyortizgomes@gmail.com, ljungeszootecnia@hotmail.com

Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar os parâmetros fermentativos da silagem de Brachiaria
brizantha cv Marandu com diferentes níveis de aditivos na ensilagem. O experimento foi conduzido na
Fazenda Escola da UFMS. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado seguido de nove
tratamentos com quatro repetições cada. A forrageira foi colhida e ensilada em silos experimentais de
PVC. Observou-se dos nove tratamentos analisados que a combinação do aditivo inoculante com 40 g/kg
de melaço apresentaram um melhor desempenho fermentativo da silagem, considerando os valores de
MS, pH final e N-NH3 ( P< 0,05) respectivamente, não houve diferença significativa (P>0,05) para perda
por gases. O uso de inoculantes adicionados de 40g/Kg de melaço apresentaram os melhores resultados,
visto que aumentou o teor de MS, mostrou os menores valores de pH final e menor valor de N-NH3
entretanto apresentou altos valores de perdas por efluentes.

Palavras Chaves: Inoculante, Melaço, N-aminiacal

FERMENTATIVE OF SILAGE GRASS BRACHIARIA BRIZANTHA CV. MARANDU WITH


DIFFERENT LEVELS OF ADDITIVES

Abstract: The present work had as objective to evaluate fermentation parameters of silage of Brachiaria
brizantha cv. Marandu with different levels of additives in silage. The experiment was conducted in the
farm School of UFMS. It was used a completely randomized followed by nine treatment with four
repetitions each. Of the nine treatments analyzed that demonstrated the combination of additive inoculant
with 40 g/kg of molasses presented a better performance of the silage fermentation, considering the
values of MS, final pH and N-NH3 (P< 0.05) respectively and there was no significant difference
(P>0.05) for loss by gases. The use of inoculant added 40g/Kg of molasses showed the best results, since
increased the content of MS, showed the lowest values of final pH and less value of N-NH3, however
presented high values of effluent losses.

Keywords: Inoculant, molasses, Silage

Introdução
A produção de bovinos no Brasil caracteriza-se por utilizar como principal fonte de alimento as
pastagens, que segundo Nogueira (2012) estas atingem a proporção de 93% como a principal forma de
criação. No entanto, as forrageiras tropicais mantêm respostas diferentes ao longo do ano pela
sazonalidade de chuvas, com um excedente de produção forrageira no período das águas, sendo que este
excedente na forma de pasto poderia ser conservado por meio de silagem e se tornar fonte alternativa de
volumoso no período seco do ano.
Dentre as características para avaliação da qualidade de silagens os padrões de fermentação são
ferramentas importantes, dentre elas os valores de pH, Nitrogênio amoniacal, perdas por gases e
efluentes. Segundo Jobim et al. (2007) a resposta do animal à silagem é dependente do padrão de
fermentação que por sua vez afeta a forma, concentração dos nutrientes e a ingestão, e o pH deve ser
usado com critério para fazer inferências à qualidade de fermentação. Para Cherney & Cherney (2003), o
pH ainda permanece como um bom indicador da qualidade de fermentação em silagens com baixo teor de
Matéria seca (MS) e não sendo adequado para silagens com alto teor de MS.
Segundo McDonald et al. (1991), as alterações na composição das silagens são acompanhadas pelo
aumento do pH e concentração de nitrogênio amoniacal, variáveis importantes na avaliação das perdas
ocorridas pela respiração das partículas, atuação de microorganismos aeróbios, processos de de-
composição ou perdas por efluentes.

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Para tanto, a ensilagem de gramíneas forrageiras tropicais possuem baixos teores de MS e


carboidratos solúveis, essas características contribuem para uma má fermentação da silagem. Buscando
otimizar a qualidade do produto final, pode-se utilizar alguns aditivos que complementem o processo de
fermentação, como, materiais que possuam alto teor de matéria seca e de carboidratos solúveis. Os
aditivos reduzem os riscos do processo de ensilagem e melhoram o valor nutritivo da silagem (Vilela,
1998).
Assim, objetivou-se avaliar os parâmetros fermentativos da silagem de Brachiaria brizantha cv
Marandu com diferentes níveis de aditivos na ensilagem.

Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Fazenda Escola da UFMS, no município de Terenos, Mato
Grosso do Sul.
A espécie forrageira utilizada foi a Brachiaria brizantha cv Marandu, oriunda de canteiros
experimentais com dimensão 10 x 20 metros. A gramínea foi cortada rente ao solo, através de uma
roçadeira costal após 75 dias de idade. Logo após o corte, foi coletado parte do material, para posterior
análise do material antes da silagem e a outra parte foi picada em partículas de 2 a 5 cm, em picadeira
estacionária e ensilada em silos de laboratório, confeccionado com tubos de PVC.
Após a compactação e fechamento dos silos (dia zero), estes foram pesados e, aos 50 dias de
fermentação, foram pesados novamente para determinação das perdas por gases e, em seguida, foram
abertos. As perdas por gases foram medidas conforme equação adaptada por Jobim et al. (2007).
No momento da abertura foi desprezado 15 cm da parte superior do silo e retirado todo conteúdo,
homogeneizado e foi coletada uma amostra por minissilo para análise bromatológica.
Foram determinados os teores de MS conforme metodologias descritas por Silva e Queiroz (2002).
Para a análise de pH, foram coletadas subamostras de 25 g e adicionados 100mL de água e, após
repouso de 2 horas, realizou-se a leitura de pH, utilizando-se potenciômetro conforme metodologias
descritas por Silva e Queiroz (2002).
Para determinação do N-amoniacal (N-NH3), foi coletada uma subamostra de 25g, adicionados
200mL de uma solução de H2SO4 (0,2 N) que permaneceu em repouso por 48 horas dentro da geladeira e,
em seguida, realizou-se a filtragem em papel de filtro Whatman 54 para posterior determinação do N-NH3
(Bolsen et al., 1992).
O delineamento foi inteiramente casualizado, seguindo nove tratamentos com quatro repetições
cada. Os dados foram analisados estatisticamente pelos procedimentos de análise de variância e as médias
comparadas pelo teste Tukey a 5% de significância. Todas as variáveis foram obtidas através do
programa estatistico (SAS, 2001).

Resultados e Discussão
Os teores de MS, pH, N-amoniacal antes da ensilagem e das silagens, com diferentes aditivos,
encontram-se na tabela 1.

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Tabela 1. Teor de Matéria Seca (MS) antes da ensilagem e da silagem, parâmetros de fermentação da
silagem e perdas (g/kg de MS) na silagem do capim Brachiaria Brizantha cv. Marandu com diferentes
aditivos e níveis de inclusão de aditivos
Antes da
Silagem Perdas da silagem
Ensilagem
Tratamentos
MS N-NH3
pH MS (%) pH T (°C) Efluente Gases)
(%) (%)
27,07
Sem aditivo 26,45 6,1 g 4,7 a 6,89 a 18,27 c 3,75 d 7,85 a
bc
26,62
1 mg/kg I - 6,0 h 4,3 b 5,73 ab 25,47 ab 7,25 cd 9,51 a
bc
2 mg/kg I - 6,2 f 26,19 c 4,3 b 4,62 abc 27,05 ab 3,90 d 7,58 a
28,52
20 g/kg M - 6,7 b 4,2 bc 4,71 abc 26,40 ab 11,00 c 8,80 a
ab
40 g/kg M - 6,8 a 30,18 a 4,1 cd 4,45 abc 24,32 b 19,50 b 8,16 a
1 mg/kg I + 28,29
- 6,6 c 4,1 cd 4,04 bc 27,50 ab 10,75 c 5,74 a
20 g/kg M ab
2 mg/kg I + 27,80
- 6,6 c 4,1 cd 3,63 bc 27,40 ab 4,60 d 7,1 a
20 g/kg M bc
1 mg/kg I +
- 6,5 d 30,21 a 3,9 d 3,05 c 28,32 a 25,75 a 5,46 a
40 g/kg M
2 mg/kg I +
- 6,4 e 29,87 a 4,0 d 2,85 c 26,27 ab 21,25 ab 4,83 a
40 g/kg M
EPM - 0,02 0,83 0,08 1,08 1,53 0,87 2,42
P-Value - 0,001 0,001 0,001 0,003 0,001 0,006 0,139
Médias obtidas através do teste de Tukey com nível de significância a 0,05. EPM= Erro Padrão da média. Médias na coluna
seguidas de diferentes letras diferem (P<0,05) entre si. I= Inoculante, M= Melaço, T= Temperatura

Dos nove tratamentos utilizados os que demonstraram a combinação do aditivo inoculante com 40
g/kg de melaço apresentaram um melhor desempenho fermentativo das silagens analisadas, considerando
os valores de MS, pH final e N-NH3 (P< 0,05) conforme a Tabela 1. Em contrapartida, apresentaram
maiores valores para perdas por efluentes se comparado ao tratamento sem aditivo que apresentou os
menores valores. Para a perda por gases não houve diferença significativa (P> 0,05) em nenhum dos
tratamentos analisados.
Os tratamentos que foram acrescidos somente de inoculante (1mg/Kg e 2mg/Kg) mostraram altos
valores para as médias de pH e altos valores para a quantidade de N-NH3 ( P< 0,05). Comparando os
valores de N-NH3 de silagem sem aditivo e das silagens com combinação de aditivos (1 mg/kg I + 40 g/kg
M e 2 mg/kg I + 40 g/kg M) verificamos que, as perdas foram menores mostrando resultados
significativos(P<0,05).

Conclusões
O uso de inoculantes adicionados de 40g/Kg de melaço apresentaram os melhores resultados, visto que
aumentou o teor de MS, mostrou os menores valores de pH final e menor valor de N-NH3 entretanto
apresentou altos valores de perdas por efluentes.

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Literatura Citada
CHERNEY, J.H.; CHERNEY, D.J.R. Assessing Silage Quality. In: Buxton et al. Silage Science and
Technology. Madison,Wisconsin, USA. 2003. p.141-198.
BOLSEN, K.K.; LIN, C.; BRENT, B.E.; GADEKEN, D. Effect of silage additives on the microbial
succession and fermentation process of alfalfa and corn silages. J. Dairy Sci., v.75, p.3066-3083, 1992.
JOBIM, C.C.; NUSSIO, L.G.; REIS, R.A.; SCHMIDT, P. Avanços metodológicos na avaliação da
qualidade da forragem conservada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p.101-119, 2007.
McDONALD, P.; HENDERSON, N.; HERON, S. The biochemistry of silage. 2. ed. Marlow:
Chalcombe, 1991. 340 p.
NOGUEIRA,F. S. Desenvolvimento de Geotecnologias para Identificação e Monitoramento de Níveis de
Degradação em Pastagens . [2012].Disponível
em:<http://www.geodegrade.cnpm.embrapa.br/apresentacao>. Acesso em:19 nov. 2015.
SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. 3.ed. Viçosa:UFV,
2002. 235p.
STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM - SAS. The SAS System for Windows: version 8.02. Cary: SAS
Institute.[2001] (CD-ROM).

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IDADE À PUBERDADE E À MATURIDADE SEXUAL EM TOUROS SENEPOL CRIADOS A


PASTO

Francisco Manuel Júnior1, Fernando Henrique Garcia Furtado1, Caroline Eberhard Buss1,Willian Vaniel
Alves dos Reis1, Daniel França Mendonça da Silva1, Fernanda Hvala de Figueiredo1, Tailisa de Souza
Silva1, Thyciane Rodrigues de Aguilar1, Zelina dos Santos Freire1, Eder Cristian Queiroz Serrou da
Silva1, Gabrielle Ricardes da Silva1, Deiler Sampaio Costa2, Fábio José Carvalho Faria2
1
Nucleo de Produção e Reprodução Animal-NUPRA. Email: franciscomanueljunior@yahoo.com
2
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Resumo: Objetivou-se com esta pesquisa determinar a idade em que os touros da raça Senepol atingiram
a puberdade e maturidade sexual. Os animais experimentais foram divididos em 2 grupos, sendo o grup I
constituído por 46 animais, grupo II possuía 87 animais, totalizando 133 animais. Ambos os grupos foram
submetidos ao exame andrológico a cada 56 dias. Não houve diferenças entre os grupos nas
características estudadas P>0,05, os touros apresentaram na puberdade perímetro escrotal, motilidade
espermática e vigor de 30 a 32cm, 47,5 a 52,1% e 2 a 3 pesando mais de 300kg em média, na maturidade
sexual 33 a 34cm, 71% e 4 com peso de 409 a 428kg, tendo sido considerados satisfatórios 97 animais.
Concluiu-se que, bovinos machos da raça Senepol criados em regime extensivo chegaram a puberdade
aos 14 meses de idade e 17 meses a maturidade sexual.

Palavras-chave: defeitos espermáticos, motilidade espermática , perímetro escrotal, , vigor

AGE TO PUBERTY AND SEXUAL MATURITY IN SENEPOL BULLS CREATED ON


PASTURE

Abstract: The objective of this research was to determine the age at which the bulls of the breed Senepol
reached puberty and sexual maturity. The experimental animals were divided into 2 groups, with grub I
consisting of 46 animals, Group II owned 87 animals, totaling 133 animals. Both groups were subjected
to breeding soundness exam every 56 days. There were no differences between groups in traits P> 0.05,
the bulls presented at puberty scrotal circumference, sperm motility and vigor of 30 to 32cm, 47.5 to
52.1% and 2-3 weighing over 300kg on average , sexual maturity 33 to 34cm, 71% and 4 weighing 409 to
428kg, were considered satisfactory 97 animals. It was concluded that Senepol cattle breed males created
in extensive reached puberty at 14 months old and 17 months sexual maturity.

Keywords: Sperm motility, scrotal circumference, sperm defects, vigor


Introdução
No Brasil, a bovinocultura constitui um dos seguimentos do agronegócio mais rentáveis e de
elevada importância social e econômica, sendo a cadeia produtiva da pecuária de corte e leite responsável
por gerar emprego e renda desde a fazenda até a indústria e comércio (Silva at al., 2015). O sistema
extensivo, é o mais comumente utilizado na produção do gado de corte no Brasil, e as raças zebuinas e os
seus cruzamentos são responsáveis por cerca de 80% do efetivo nacional. Entretanto, para que a
bovinocultura continue sendo essa importante atividade económica, várias pesquisas têm buscado
otimizar técnicas e processos para que a sua lucratividade seja crescente.
A raça Senepol tem como origem a ilha Saint Croix, e é resultante do cruzamento de indivíduos
das raças taurinas Red Poll (britânica) e N’Dama (Africana), a sua seleção foi dirigida em busca dos
seguintes atributos: cor vermelha, conformação frigorífica, precocidade sexual, ausência de chifres,
docilidade e tolerância ao calor. Atualmente, o Senepol está presente em diversos países, com destaque
para o Brasil que, apesar da recente entrada desta raça no país (ano 2000), possui o maior rebanho
mundial (ABCBS, 2011).
No entanto, a otimização da produção, tanto quanto da produtividade em gado de corte é
diretamente proporcional ao potencial reprodutivo de machos em rebanhos, nessa ordem de ideias o
controle reprodutivo sustentável é um dos fatores importantes quando se quer almejar uma ótima
produção dentro de um grupo de animais. O macho constitui a chave do processo, em rebanhos que eles
atingem precocemente a puberdade assim como a maturidade sexual, o seu efetivo global tende a ser
maior.

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A eficiência reprodutiva nos machos, esta ligada a capacidade de produção de espermatozoides


viáveis em idade mais precoce e a habilidade de exercer a monta corretamente, touros que atingem a
puberdade precocemente reduzem os custos de produção encurtam intervalos entre gerações
incrementando os ganhos. Ball & Pitter (2004), definem esse evento fisiológico em touros como sendo os
primeiros ejaculados capazes de efetuar uma fecundação de sucesso (ejaculado com pelo menos 50 × 10⁶
de espermatozoides e mais de 10% de motilidade progressiva). A maturação sexual ocorre em torno de 16
a 20 semanas após a puberdade.

Material e Métodos
O experimento foi conduzido em Miranda, MS, região Pantanal Sul. Foram utilizados 133 animais
da raça Senepol, com idade media de 10 meses subdivididos em 2 grupos, grupo I constituido por 46
animais pesando em media 275,89kg e o grupo 2 possuia 87 animais pesando em media 255,29kg. Os
animais foram submetidos ao exame andrológico e pesagem a cada 56 dias, avaliando se as características
físicas dos testículos pela palpação, medindo os com auxilio de um paquímetro, a coleta de sémen foi
mediante um electroejaculador, em seguida a avaliação microscópica para a determinação da motilidade,
vigor e morfologia. Para melhor avaliação dos touros foi feita a classificação andrológica por pontos
(CAP). O delineamento estatístico inteiramente casualizado, foi o selecionado para o presente trabalho, as
variáveis estudadas foram: perímetro escrotal (PE), peso corporal (PC), ganho do peso diário (GPD),
idade final (IF) e características seminais que são mostrados de maneira descritiva em média e desvio
padrão.

Resultados e Discussão
As médias, desvios padrão, mínimo e máximo da idade, perímetro escrotal, peso corporal, ganho
de peso diário, motilidade progressiva e vigor espermático à puberdade encontram-se apresentados na
Tabela 1. Todos os 133 animais ficaram púberes até o final da prova de avaliação de desempenho a pasto
(PADS). Não houve diferença entre as variáveis avaliadas dos animais do grupo 1 e do grupo 2.

Tabela 1. Idade à puberdade, biometria corporal e características seminais de tourinhos Senepol criados a
pasto. Média ± desvio padrão (mínimo – máximo)
Variável Grupo 1 Grupo 2
a
Idade à puberdade (meses) 14,8 ± 1,0 (12,9 - 16,6) 14,8 ± 1,9(11,2 - 19,3)a
Perímetro escrotal (cm) 32,0 ± 3,3 (26,5 - 40,0)a 30,0 ± 3,0(22,5 - 38,0)a
a
Peso (Kg) 372,0 ± 31,9 (322,0 - 428,0) 332,6 ± 39,8 (241,0 - 394,0)a
Ganho de peso diário (kg) 0,8 ± 0,2 (0,4 - 1,3)a 0,8 ± 0,3 (0,1 - 1,6)a
a
Motilidade espermática (%)a 52,1 ± 23,6 (10,0 - 85,0) 47,5 ± 12,6 (10,0 - 80,0)a
a
Vigor (0 – 5) 3,1 ± 1,2 (2,0 - 5,0) 2,8 ± 0,8 (1,0 - 5,0)a
Médias acompanhadas por letras iguais na mesma linha, não diferiram pelo teste T de student (p ≥ 0,05).

Resultados semelhantes aos da presente pesquisa a puberdade foram encontrados por Wildeus
(1993) trabalhando com touros Senepol criados nos Estado Unidos da América. Por outro lado, Moraes
(2012), trabalhando com touros Senepol também criados em sistema semi-extensivo no Brasil, relataram
que os animais atingiram a puberdade com 13,22 meses. Isso evidencia que a dieta e ambiente em que os
animais são mantidos pode adiantar a idade em que os primeiros espermatozóides são encontrados no
ejaculado.
As médias, desvios padrão, mínimo e máximo da idade, perímetro escrotal, peso corporal, ganho
de peso diário, motilidade progressiva, vigor espermático, defeitos maiores, menores e totais à maturidade
sexual encontram-se apresentados na Tabela 2. Apesar de não ter havido diferença entre as variáveis
avaliadas dos animais do grupo 1 e do grupo 2, 100% dos touros do grupo 1 atingiram a maturidade
sexual até o final do PADS (23 meses), enquanto apenas 54% (47/87) dos touros do grupo 2 atingiram a
maturidade sexual até o final da prova.

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Tabela 2. Idade à maturidade sexual, biometria corporal e características seminais de tourinhos Senepol
criados a pasto. Média ± desvio padrão (mínimo – máximo)
Variável Grupo 1 Grupo 2
a
Idade à maturidade (meses) 17,81 ± 1,4 (15,8 - 23,1) 17,7 ± 1,7 (12,5 - 19,6)a
a
Perímetro escrotal (cm) 33,2 ± 2,1 (29,0 - 37,7) 34,7 ± 2,6 (29,0 - 40,5)a
Peso (Kg) 409,0 ± 37,6 (322,0 - 493,0)a 428,9 ± 47,1 (296,0 - 520,0)a
a
Ganho de peso diário (kg) 1,0 ± 0,2 (0,0 - 1,4) 0,9 ± 0,2 (0,2 - 1,4)a
a
Motilidade espermática (%)a 71,2 ± 14,3 (50,0 - 95,0) 71,9 ± 13,7 (50,0 - 95,0)a
Vigor (0 – 5) 4,0 ± 0,8 (3,0 - 5,0)a 4,1 ± 0,8 (3,0 - 5,0)a
a
Defeitos maiores (%) 7,8 ± 2,9 (1,0 – 10,0) 5,4 ± 2,6 (1,0 – 10,0)a
a
Defeitos menores (%) 2,8 ± 3,4 (0,0 – 12,0) 2,7 ± 2,3 (0,0 – 15,0)a
Defeitos totais (%) 10,6 ± 4,4 (4,0 – 22,0)a 8,1 ± 3,8 (3,0 – 23,0)a
Médias acompanhadas por letras iguais na mesma linha, não diferiram pelo teste T de student (p ≥ 0,05)

Em touros senepol sub regime semiextensivo, Moraes (2012) e Wildeus (1993), concluiram que o
tempo transcorrido da puberdade a maturidade sexual foi de 13 a 22 semanas. Estes resultados revelaram
ser superiores aos encontrados no presente estudo (12 semanas). Por outro lado, intervalo menor já foi
relatado por outros pesquisadores como por exemplo, Chase et al. (2001) que encontraram oito semanas
de intervalo entre a puberdade e maturidade sexual de touros Angus x Senepol criados em regime
intensivo, esses achados demostram que o touro senepol sub regime extensivo, tendem a apresentar
melhor desempenho reprodutivo.

Conclusões
Concluiu-se que touros da raça Senepol criados a pasto atingiram a puberdade aos 14 meses de
idade e maturidade sexual aos 17 meses.

Literatura Citada
ABCBS. Associação Brasileira Dos Criadores De Bovinos Senepol, 2011. Disponível em
<http://senepol.org.br/index.php?pid=inc/inc_institucional.php&id_grupo=81&id_conteudo=316>
.Acesso em 28 de Agosto de 2015.
BALL, P.J.H.; PETERS, A.R. Reproduction in Cattle, 3 edição, pp28, 2004.
CHASE, C.C., CHENOWETH, P.J., LARSEN, R.E., HAMMOND, A.C., OLSON, T.A., WEST, R.L.,
JOHNSON, D.D. Growth, puberty, and carcass characteristics of Brahman, Senepol and Tuli-sired F1
Angus bulls. Journal of Animal Science. v.79. p.2006-2015, 2001.
MORAES, G.P. Puberdade e maturidade sexual de tourinhos Senepol, criados semi-extensivamente na
região do Triangulo Mineiro – MG. 2009. 56p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) –
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte - MG, 2012.
SILVA, E. J.; CAMPOS, M. D. S. M.; NASCIMENTO, P. S.; MACIEL,J. P. O.; MELO, E. V. M.;
CHAVES, M. S.; BARTOLOMEU, C. C. Estudo dos índices de desempenho Reprodutivo de bovinos de
três propriedades situadas no Agreste e Zona da Mata do Estado de Pernambuco, v.11,n.4, p.046122,
2015.
WILDEUS, S. Age-related changes in scrotal circumference, testis size and sperm reserves in bulls of
thetropically adapted Senepol breed. Animal Reproduction Science. v. 32, p.185-195, 1993.

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RELAÇÃO ENERGIA:NUTRIENTES SOBRE O DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE


TIPO CAIPIRA DE 1 A 56 DIAS DE IDADE

Jeovania Vilhalba Leite1, Nadine Godoy1, Patrícia Santana1, Thiago Rodrigues da Silva2, Henrique
Barbosa de Freitas2, Karina Márcia Ribeiro de Souza3, Charles Kiefer3
1
Alunas do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Email: jeovaniajvl@hotmail.com; nadinegodoy@gmail.com;
patricia_santana12@hotmail.com
2
Alunos de pós graduação em ciência animal da FAMEZ/UFMS. Email: thiagoth_rodrigues@hotmail.com;
henrique_barbosa_7@yahoo.com.br
3
Professores da FAMEZ/UFMS. Email: karina.souza@ufms.br; charles.kiefer@ufms.br

Resumo: Objetivou-se analisar o efeito da relação energia:nutrientes sobre o desempenho de frangos de


corte tipo caipira de 1 a 56 dias de idade. Foram distribuídos 900 pintainhos machos e fêmeas da
linhagem pescoço pelado em delineamento inteiramente casualizado com seis tratamentos e seis
repetições de 25 aves cada. Os tratamentos foram os níveis de 2.700; 2.800; 2.900; 3.000; 3.100 e 3.200
kcal/kg de energia metabolizável estando todos os nutrientes proporcionais ao nível energético da dieta.
Os resultados foram submetidos à análise de variância e para qualificar as variáveis utilizou-se o teste de
Tukey com 5% de significância (p≥0,05) para a comparação entre médias. Os resultados demonstraram
que o aumento dos níveis de energia melhorou o desempenho das aves no período de 1 a 56 dias de idade,
apresentando maior peso final e ganho de peso e menor consumo de ração e conversão alimentar. A
viabilidade criatória não foi afetada pelos diferentes níveis de energia na dieta.

Palavras-chave: Energia metabolizável, Exigência energética, Frango colonial, Pescoço pelado

EFFECT OF NUTRIENTS ON THE RELATIVE ENERGY PERFORMANCE FREE-RANGE


BROILER CHICKEN 1-56 DAYS OLD

Abstract: This study aimed to analyze the effect of the relationship energy : nutrients on the performance
of Free-range broiler chicken 1-56 days old. 900 male and female chicks naked neck strain in a
completely randomized design with six treatments and six replications of 25 birds each were distributed.
The treatments were levels of 2,700; 2,800 ; 2,900 ; 3,000 ; 3,100 and 3,200 kcal / kg of metabolizable
energy in the diet. The results were submitted to analysis of variance and to describe the variables we
used the Tukey test at 5 % significance ( p≥0,05 ) to compare averages. The results showed that the
increase in energy levels improved bird performance during the period 1-56 days of age , with higher
final weight and weight gain and lower feed intake and feed conversion. The production viability was not
affected by different energy levels in the diet.

Keywords: Colonial chicken, Energy requirement , Metabolizable energy, Naked neck

Introdução
O setor de avicultura está em constante crescimento, o que leva os pesquisadores a buscar métodos
e esclarecimentos práticos e úteis aos produtores. O atual objetivo da produção de frangos de corte não é
só obter ótimo peso de abate, mas fornecer uma carcaça mais magra (Nascimento et al., 2004). Por isso, o
conhecimento dos alimentos e seus nutrientes se torna imprescindível para elaborar uma boa dieta que
atenda de maneira correta todas as exigências das aves.
A quantidade de energia da dieta é um fator muito importante para o crescimento,
desenvolvimento e mantença das aves tanto quanto os nutrientes como vitaminas, minerais e
aminoácidos. Segundo Lendro et al. (2003), as decisões mais importantes que podem ser tomadas na
formulação de uma dieta são relativas a quantidade de energia e proteína, pois seus níveis influenciam
não só o desempenho como o custo da dieta.
No entanto, o equilíbrio entre a energia e os nutrientes ofertados deve ser levado em consideração
na alimentação de frangos de corte, principalmente para o tipo caipira, visto que aves coloniais não
podem receber aditivos, como antibióticos, que poderiam facilitar o processo de digestão e absorção
levando a um melhor aproveitamento dos nutrientes ingeridos.
Objetivou-se analisar o efeito da relação energia:nutrientes sobre o desempenho de frangos de
corte tipo caipira de 1 a 56 dias de idade.

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Material e Métodos
O experimento foi realizado no Laboratório Experimental em Ciência Aviária da Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no período de março a
junho de 2015.
Foram distribuídos 900 pintainhos machos e fêmeas da linhagem pescoço pelado em delineamento
inteiramente casualizado com seis tratamentos e seis repetições de 25 aves cada. Os tratamentos foram os
níveis de 2.700, 2.800, 2.900, 3.000, 3.100 e 3.200 kcal/kg de energia metabolizável na dieta, onde todos
os nutrientes estavam proporcionais a estes níveis.
Cada box foi equipado com uma campânula que continha duas lâmpadas incandescentes de 100 W
para o aquecimento, um comedouro tubular e um bebedouro pendular. A cama utilizada era de maravalha
com oito centímetros de espessura. As aves permaneceram confinadas até os 28 dias de idade e a partir do
29º dia tiveram livre acesso ao piquete de gramíneas. O programa de luz adotado foi o de iluminação
artificial de 24 horas nos primeiros 14 dias e de luz natural até o final do período experimental.
Diariamente foram verificadas e anotadas as temperaturas, umidades (máxima e mínima) e a ocorrência
de mortalidade.
As aves e as rações foram pesadas no dia do alojamento, aos 28 e 56 dias de idade. As variáveis
de desempenho analisadas foram: peso corporal, ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar e
viabilidade criatória.
O peso corporal foi o peso absoluto médio das aves no final de cada fase. O ganho de peso foi
obtido pela diferença entre o peso corporal final e o peso corporal inicial. O consumo de ração por ave foi
obtido a partir da subtração da quantidade de ração fornecida e das sobras.
Os resultados foram submetidos à análise de variância e para qualificar as variáveis utilizou-se o
teste de Tukey com 5% de significância (p≥0,05) para a comparação entre médias. Todas as análises
foram feitas com o auxílio do programa SAS, versão 9.1.

Resultados e Discussão
No período de 1 a 56 dias de idade não houve efeito significativo (p≥0,05) para peso inicial nos
diferentes tratamentos estudados (Tabela 1).

Tabela 1- Desempenho de frangos de corte tipo caipira pescoço pelado de 1 a 56 dias de idade
Níveis de
energia
(Kcal/kg)
Valor CV
Variáveis 2700 2800 2900 3000 3100 3200
de P (%)

Peso inicial (g) 44,077 44,048 43,773 44,340 44,188 44,520 0,9978 6,06

Peso final (g) 2187c 2201bc 2257bc 2303abc 2348ab 2424a 0,0003 3,81
Ganho de peso
2143c 2157bc 2213bc 2259ab 2303ab 2379a 0,0003 3,80
(g/ave)
Consumo de
5458a 5360a 5343a 5224ab 5167ab 5039b 0,0028 3,24
ração (g/ave)
Conversão
2,54a 2,48ab 2,41b 2,31c 2,24c 2,12d 0,0001 2,30
alimentar (g/g)
Viabilidade
98,66 97,30 97,33 97,33 95,30 98,00 0,6582 3,49
criatória (%)
Linhas seguidas de letras diferentes diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05).

As variáveis peso final e ganho de peso apresentaram os melhores valores de desempenho para as
aves do tratamento contendo 3.200kcal seguidas do tratamento 3.100kcal e desempenhos inferiores para
as aves do tratamento 2.700kcal. Silva et al. (2001), também observaram maior ganho de peso para o

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nível mais alto de 3200kcal energia na dieta (P<0,05), porém os níveis médios e baixos não diferiram
entre si.
As aves que receberam os tratamentos com menores níveis energéticos (2.700; 2.800 e 2.900kcal)
obtiveram os maiores consumos devido a energia presente no alimento ser destinada prioritariamente para
o atendimento das exigências de energia. Leandro et al. (2003) e Nascimento et al. (2004), não
observaram diferença significativa no consumo de ração.
Verificou-se melhor desempenho para conversão alimentar das aves do tratamento 3.200kcal
seguido dos tratamentos 3.000 e 3.100. Isso se explica pelo fato de que as aves do tratamento 3200
tiveram menor consumo de ração e maior ganho de peso. Estes resultados corroboram com os observados
por Silva et al. (2001), que observaram melhor conversão alimentar para as aves que receberam o maior
nível de energia na dieta e mais proteína.
Não houve efeito significativo (p≥0,05) para viabilidade criatória no período de 1 a 56 dias de
idade nos diferentes tratamentos estudados.

Conclusões
A relação energia nutriente em rações para frangos de corte do tipo caipira de 1 a 56 dias de idade
altera o peso final, ganho de peso, consumo de ração e a conversão alimentar, apresentando melhores
respostas no nível de 3.200kcal de energia na dieta.

Literatura Citada
LEANDRO, N. S. M., CAFÉ, M. B., STRINGHINI, J. H., et al. Plano nutricional com diferentes níveis
de proteína bruta e energia metabolizável na ração, para frangos de corte. Revista Brasileira de
Zootecnia, 32(3), 620-631. 2003.
NASCIMENTO, A. H., SILVA, J. H. V., ALBINO, L, F, T,. et al. Energia metabolizável e relação
energia: proteína bruta nas fases pré-inicial e inicial de frangos de corte. Revista Brasileira de
Zootecnia,33(4), 911-918. 2004.
SILVA, J. H. V., ALBINO, L. F. T., NASCIMENTO, A. H. Níveis de energia e relações energia:
proteína para frangos de corte de 22 a 42 dias de idade. Revista Brasileira de Zootecnia, 30(6), 1791-
1800. 2001.

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O IMPACTO DA LEISHMANIOSE VISCERAL NA SAÚDE PÚBLICA

Luciana Rocha Costa¹, Juliana Arena Galhardo²

¹ Acadêmica de Enfermagem da UFMS. Bolsista de extensão PAEXT/2015. Email: lucianarocha_14@hotmailcom


² Docente do Curso de Medicina Veterinária da UFMS. Coordenadora do Projeto de Extensão LeishNão 2015. Email:
jugalhardo@gmail.com

Resumo: Realizou-se uma pesquisa bibliográfica na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), em livros texto
e nos manuais do Ministério da Saúde a respeito do tema proposto. Observa-se a importância da discussão
a respeito do impacto socioeconômico da leishmaniose visceral tanto para o gasto público quanto em
âmbito familiar dos pacientes acometidos pela doença, visto que a mesma pode gerar uma situação de
“invalidez temporária” dependendo da gravidade e da necessidade de tratamento do indivíduo. Deste
modo, reforça-se a necessidade da implementação e continuidade de programas de controle e combate à
doença por meio da educação em saúde da população.

Palavras-Chave: Calazar, Custos de cuidados de saúde, Efeitos psicossociais da doença

THE IMPACT OF VISCERAL LEISHMANIASIS IN PUBLIC HEALTH

Abstract: It was done a bibliographic research using “Biblioteca Virtual em Saúde (BVS)”, books and
guides from Brazilian Ministry of Health about the proposed subject. It was observed the importance of
discussing about the social and economic impact of visceral leishmaniasis to public spending as well as in
the family context of the patients affected by this illness, since this disease can lead to a situation of
“temporary disability” depending on the severity and the necessity of treatment. Thus, it is reinforced the
need to implement control programs and fight against this disease through health education of the
population.

Keywords: Kala-azar, Health care costs, Cost of illness.

Introdução
A leishmaniose visceral (LV) é endêmica em 62 países, com 90% dos casos concentrados
principalmente em cinco países: Índia, Bangladesh, Nepal, Sudão e Brasil. A LV atinge principalmente as
populações pobres dos países endêmicos e continua negligenciada. Sendo assim, apesar da existência de
métodos de diagnóstico e tratamento específicos, grande parte da população não tem acesso a estes
procedimentos, contribuindo para a elevação dos índices de mortalidade (GONTIJO; MELO, 2004).
Mesmo com grande quantidade de casos subnotificados, o Brasil é responsável por cerca de 90%
dos casos de LV da América Latina. Em 2012, foram notificados 3.038 casos da doença em humanos,
com uma incidência de 1,57 casos/100.000 habitantes e taxa de letalidade de 7,1% (MARCONDES;
ROSSI, 2013).
É importante também lembrar que a LV possui alta incidência e letalidade principalmente em
indivíduos não tratados, crianças desnutridas e pessoas imunossuprimidas, sobretudo portadores do vírus
HIV (FOGANHOLI; ZAPPA, 2011).

Material e Métodos
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), em livros texto e
nos manuais do Ministério da Saúde a respeito do tema proposto.

Resultados e Discussão
Segundo Melo (2004), o custo das novas terapias para a LV leva a diferentes práticas de
tratamento de acordo com a condição sócio-econômica e cultural de cada região. A Organização Mundial
da Saúde estima que o valor do antimoniato pentavalente seja de US$ 1.2 (5 ml - 81 mg/m), totalizando
um gasto médio de US$ 59,3 por paciente ao final do tratamento. Já a anfotericina B lipossomal foi
estimada com um valor de US$ 18 (50 mg), com gasto médio de até US$ 252 ao final do tratamento
(WHO, 2010).
Além disso, mesmo que os pacientes não tenham custos diretos relacionados ao tratamento da
leishmaniose, o impacto econômico desta doença na vida do indivíduo e de sua família inclui custos

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como, por exemplo, transporte (para locomoção até a instituição de saúde), perda de renda temporária
devido à ausência no trabalho e até mesmo possível morte do provedor de renda da família (WHO, 2010).
Para OMS (1990) apud Foganholi & Zappa (2011), esta doença causa impacto na saúde pública
devido a sua magnitude, transcendência e pouca vulnerabilidade às medidas de controle.
As campanhas de controle da LV muitas vezes não são concedidas à população pelas autoridades
governamentais devido ao custo gerado. Considera-se que a crise econômica global e os cães mantidos
em canis municipais representam fatores de risco para a transmissão em áreas com alta incidência da
doença e maior densidade de vetores (OTRANTO; DANTAS-TORRES, 2013).
Além da negligência em relação à LV em muitos municípios, nos quais as condições
socioeconômicas são desfavoráveis, há ainda o risco de ocorrência da doença em novas áreas, até então
não atingidas. Deste modo, é importante a elaboração e execução de ações de educação em saúde para a
população destas áreas (MARCONDES; ROSSI, 2013).

Conclusões
Observa-se a importância da discussão a respeito do impacto socioeconômico da LV tanto para o
gasto público quanto em âmbito familiar dos pacientes acometidos pela doença, visto que a mesma pode
gerar uma situação de “invalidez temporária” dependendo da gravidade e da necessidade de tratamento do
indivíduo. Deste modo, reforça-se a necessidade da implementação e continuidade de programas de
controle e combate à doença por meio da educação em saúde da população.

Literatura Citada
FOGANHOLI, J. N.; ZAPPA, V. Importância da leishmaniose na saúde pública. Revista Científica
Eletrônica de Medicina Veterinária, n. 17, jul. 2011.
GONTIJO, C. M. F.; MELO, M. N. Leishmaniose visceral no Brasil: quadro atual, desafios e
perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia, v.7, n.3, p.345, 2004.
MARCONDES, M.; ROSSI, C. N. Leishmaniose visceral no Brasil. Brazilian Journal of Veterinary
Research and Animal Science, São Paulo, v. 50, n. 5, p. 341-352, 2013.
MELO, M. N. Leishmaniose visceral no Brasil: desafios e perspectivas. Revista Brasileira de
Parasitologia Veterinária, v. 23, supl. 1, 2004.
OTRANTO, D.; DANTAS-TORRES, F. The prevention of canine leishmaniasis and its impact on public
health. Trends in Parasitology, v. 29, n. 7, jul. 2013.
WHO. World Health Organization. Control of the leishmaniasis: report of a meeting of the WHO
Expert Committee on the Control of Leishmaniases. Geneva: World Health Organization, 2010.

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ATRIBUTOS DE QUALIDADE DA CARNE DE FRANGO TIPO CAIPIRA SUBMETIDOS A


DIFERENTES NÍVEIS DE ENERGIA

Nadine Godoy de Oliveira1, Patricia Rodrigues Berno2, Karina Márcia Ribeiro de Souza3, Charles
Kiefer3, Gelson Luís Dias Feijó4, Marina de Nadai Bonin5, Luanna Lopes Paiva2, Patricia Santana1
1
Aluna do curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. E-mail: nadinegodoy@gmail.com
1
Aluna do curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. E-mail: patriciagsantanaa@gmail.com
2
Aluna de Mestrado em Ciência Animal FAMEZ/ UFMS. E-mail: patriciaberno@gmail.com
2
Aluna de Mestrado em Ciência Animal FAMEZ/ UFMS. E-mail: lu.paiva.lopes@gmail.com
3
Professora da FAMEZ/UFMS. E-mail: karina.souza@ufms.br
3
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: charles.kiefer@ufms.br
4
Pesquisador Embrapa Gado de Corte. E-mail: gelson.feijo@embrapa.br
5
DCR Embrapa Gado de Corte-CNPq. E-mail: marinabonin@hotmail.com

Resumo: Realizou-se este trabalho com o intuito de avaliar o efeito de diferentes níveis de energia sobre
o pH, perda por gotejamento, perda por cocção, luminosidade, tendência para vermelho e para amarelo e
força de cisalhamento, dos cortes peito, coxa e sobrecoxa de frangos de corte tipo caipira. Os tratamentos
foram: 2700, 2800, 3000, 3100 e 3200 Kcal/EM. Não houve influência dos níveis de energia sobre as
características analisadas (P>0,05) dos cortes peito, coxa e sobrecoxa, exceto para perda por cocção do
peito. A perda por cocção apresentou menores valores quando o nível de energia da dieta foi de 3100
Kcal/EM, sendo então este considerado o ideal para frango de corte tipo caipira.

Palavras chave: coloração, coxa e sobrecoxa, energia, peito, perda por cocção

MEAT QUALITY ATTRIBUTES OF CHICKEN CAIPIRA TYPE SUBJECT TO DIFFERENT


POWER LEVELS

Abstract: We conducted this study in order to evaluate the effect of different energy levels on the pH,
driploss, cooking loss, color and shear force of breastcuts, thigh and drumstickk indo fhill Billy broilers.
The treatments were: 2700, 2800, 3000, 3100 and 3200 Kcal/EM. There was no influence of energy
levels on the characteristics analyzed (P> 0.05) of breast cuts, thighs and drumsticks, except for cooking
loss of the breast. The cooking loss showed lower values when the dietary energy level was 3100
Kcal/EM, sowhich is considered ideal for rustic type broiler.

Keywords: breast, color, cooking loss, energy, thighs and drumsticks

Introdução
Atualmente, a produção avícola tem buscado maior excelência no produto final, de modo a
satisfazer os consumidores e produtores, obtendo animais com maior rendimento de carcaça, produção de
carne de peito e de pernas e qualidade da carcaça. A fim de potencializar a produção, tem-se investido em
novos critérios e métodos de nutrição, com o intuito de otimizar a produção. Com isso, a busca por definir
um padrão ótimo ou ideal de energia passou a ser item fundamental na produção.
Portanto, encontrar um nível ideal de energia na dieta para as aves é um fator de extrema
importância, associada aos padrões desejados de qualidade de carne, atendendo a busca dos
consumidores, com o intuito de manter o crescimento na procura dessa proteína animal.
Realizou-se este trabalho com o intuito de avaliar o efeito de diferentes níveis de energia sobre
atributos de qualidade dos cortes peito, coxa e sobrecoxa de frangos de corte tipo caipira.

Material e Métodos
O experimento foi realizado na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, UFMS, no
Laboratório Experimental em Ciência Aviária (LECA) e as análises foram realizadas no laboratório de
carne da Embrapa Gado de Corte. Os frangos de corte tipo caipira, da linhagem Pescoço Pelado, foram
alimentados com cinco diferentes dietas contendo os níveis de 2700; 2800; 3000; 3100 e 3200 Kcal/EM, e
receberam água e ração ad libitum em todo o período de criação.
Para as análises foram abatidos trinta carcaças de frangos, e realizadas as análises de pH, perda por
gotejamento, perda por cocção, coloração e força de cisalhamento da carne de peito, coxa e sobrecoxa.

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Primeiramente foi realizada a separação dos cortes e em seguida a desossa. Após a desossa foi
medido o pH de cada corte, utilizando um potenciômetro com eletrodo de vidro. Na sequência cada corte
foi pesado, devendo ter de 80 a 100 gramas, para realizar a perda por gotejamento pelo método
gravimétrico, descrito por Honikel (1998). Nas amostras destinadas as análises de cor, perdas por cocção
e força de cisalhamento, foi realizada inicialmente a medição de cor em três pontos de cada corte, com
aparelho MiniScan XE Plus, pelo método Hunter L*a*b*, originando valores de luminosidade (L*),
variando do preto ao branco, de a* variando do verde ao vermelho e de b*, variando do azul ao amarelo.
Posteriormente, as amostras foram pesadas e identificadas para realizar a perda por cocção, pelo
método de cozimento em forno com circulação de ar forçado a 193°C até atingir a temperatura de 70°C
no interior da amostra. Após o cozimento, a amostra foi resfriada, em temperatura ambiente, e foi pesada.
Em seguida essa amostra foi embalada com papel filme, e colocada em geladeira, over night, para
posterior realização da força de cisalhamento. A força de cisalhamento foi realizada em texturômetro,
com lâmina tipo WBSF a uma velocidade de 20 cm/minuto. O valor final de força de cisalhamento foi
obtido pela média dos valores das quatro sub-amostras.
Os resultados obtidos foram submetidos ao programa estatístico SAS (STATISTICAL
ANALYSIS SYSTEMS, modelo 9.1, 2009) para análise de regressão, e posteriormente pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão
Devido a não significância da análise de regressão, se optou por considerar o teste de Tukey a 5%
de probabilidade para as características avaliadas.
Para as variáveis analisadas do corte peito, foi encontrada diferença significativa (P<0,05) apenas
para a perda por cocção para os diferentes níveis de energia utilizados nas dietas, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Valores médios dos atributos de qualidade de carne de peito de frango de corte tipo caipira
alimentados com diferentes níveis de energia
Parâmetros Níveis de energia das dietas Valor P CV(%)
2700 2800 3000 3100 3200
pH 5,91 5,84 5,94 5,92 5,88 0,8382 2,62
PG 10,73 7,80 9,06 10,58 11,07 0,3849 32,94
PC 16,00a 14,19ab 15,07ab 10,98b 17,82a 0,0058 19,29
L* 59,78 57,78 59,26 58,36 59,72 0,7976 5,67
a* 7,95 8,34 8,31 9,75 7,88 0,0874 14,52
b* 18,89 19,75 21,03 21,06 20,90 0,0983 7,88
FC 2,39 1,98 2,04 2,03 2,04 0,4244 19,50
Perda por gotejamento (PG), perda por cocção (PC), luminosidade (L*), tendência de cor para vermelho (a*), tendência de cor para
amarelo (b*) e força de cisalhamento (FC) (Kgf/cm2)

As dietas não foram balanceadas na relação proteína:energia, assim dietas com baixas quantidades
de energia tendem a serem mais consumidas, e dietas com alta energia tendem a ter menor consumo. Isso
ocorre devido a regulação de consumo de ração pela ave estar relacionada a quantidade de energia
ingerida.
As aves alimentadas com a dieta de 2700 Kcal consumiram mais proteína bruta e lisina, sendo
estes favoráveis ao desenvolvimento muscular, pela hiperplasia e hipertrofia celular. Com uma maior
quantidade de células musculares e com seu diâmetro maior, a quantidade de água presente no músculo
também aumenta, elevando assim a perda por cocção.
Os animais que receberam dietas com 3200 Kcal de energia também obtiveram maior perda por
cocção. Possivelmente o baixo consumo de proteína resultou em uma menor quantidade desta no espaço
intracelular. Desta maneira a água presente na fibra não encontra proteína em quantidade suficiente para
se ligar (Ramos & Gomide, 2012) tornando as ligações protéicas mais susceptíveis ao rompimento com a
ação do calor, fazendo com que a água presente na fibra muscular sai mais facilmente, causando dessa
maneira maior perda por cocção.
As demais análises não diferiram significativamente entre os níveis de energia estudados (P<0,05).
As análises realizadas no corte coxa e sobrecoxa não apresentaram diferença significativa entre os
níveis de energia das dietas nos parâmetros estudados, conforme Tabela 2 e 3.

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Tabela 2. Valores médios dos atributos de qualidade de carne de sobrecoxa de frango de corte tipo caipira
alimentados com diferentes níveis de energia
Parâmetros Níveis de energia da dieta Valor P CV(%)
2700 2800 3000 3100 3200
pH 6,28 6,22 6,27 6,37 6,15 0,3563 3,03
PG 8,43 7,37 7,67 6,12 8,32 0,4553 30,95
PC 23,19 23,13 20,51 24,08 22,66 0,8468 21,73
L* 46,9 47,35 47,18 47,27 47,98 0,9666 5,16
a* 14,00 13,54 13,82 13,86 13,40 0,8822 8,02
b* 17,88 17,49 17,04 17,72 17,87 0,9176 8,90
FC 1,96 1,81 1,85 1,81 1,88 0,9549 20,09
Perda por gotejamento (PG), perda por cocção (PC), luminosidade (L*), tendência de cor para vermelho (a*), tendência de cor para
amarelo (b*) e força de cisalhamento (FC) (Kgf/cm2)

Tabela 3. Valores médios dos atributos de qualidade de carne de coxa de frango de corte tipo caipira
alimentados com diferentes níveis de energia
Parâmetros Níveis de energia da dieta Valor P CV(%)
2700 2800 3000 3100 3200
pH 6,21 6,16 6,30 6,35 6,16 0,1725 2,56
PG 8,11 7,41 7,50 6,05 6,66 0,5395 30,75
PC 19,05 17,12 15,55 17,97 21,06 0,2881 24,28
L* 54,05 55,38 51,41 52,23 52,71 0,1436 5,25
a* 12,10 12,10 13,20 14,10 13,20 0,0783 9,24
b* 18,24 18,39 18,48 19,55 19,39 0,1817 6,11
FC 1,81 1,78 2,10 1,82 1,88 0,8128 26,64
Perda por gotejamento (PG), perda por cocção (PC), luminosidade (L*), tendência de cor para vermelho (a*), tendência de cor para
amarelo (b*) e força de cisalhamento (FC) (Kgf/cm2)

Os valores de pH não obtiveram diferença significativa, entretanto diferem do encontrado por Sirri
et al. (2010), que avaliaram qualidade de carne de linhagens com diferentes velocidades de crescimento, e
encontraram o valor médio de pH do músculo da perna de 5,86 para a linhagem de crescimento médio
Pescoço Pelado.
Valores para perda por gotejamento e perda por cocção não apresentaram diferença entre os
tratamentos. Os parâmetros de luminosidade, tendência para vermelho e tendência para amarelo não
apresentaram diferença significativa entre os tratamentos. Os valores encontrados corroboram com
Mikulski et al. (2011), que encontraram valores médios de luminosidade de 52,22 e 52,45 para o músculo
na perna (coxa e sobrecoxa) de linhagens de crescimento lento e rápido, respectivamente. Entretanto para
tendência vermelho a média de valores foi de 10,45 e 10,55, lento e rápido crescimento, respectivamente.
Para tendência amarela, o valor médio foi de 12,95, sem diferença entre as linhagens. Os valores abaixo
do encontrado neste trabalho podem ser explicados pela idade ao abate, que foi de 65 dias no trabalho
citado, e de 84 dias neste experimento.
A força de cisalhamento, que indica a maciez da carne, não apresentou diferença significativa,
assim como as demais características anteriormente discutidas.

Conclusões
Portanto, conclui-se que diferentes níveis de energia em dietas para frangos de corte não altera as
características de qualidade da carne, exceto a perda por cocção do peito. De acordo com o consumo de
ração e características de qualidade pode-se indicar o nível de 3100 Kcal/EM para a ração de frangos de
corte. Elevados níveis de energia em dietas proporcionam menor consumo de ração, tornando a criação
mais rentável; e para essas análises de qualidade este nível de energia promoveu a menor perda por

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cocção, sendo de interesse aos consumidores, uma vez que estes acreditam que esta água perdida no
cozimento carreia muitos nutrientes.

Literatura Citada
HONIKEL, K.O. Reference methods for the assessment of physical characteristics of meat. Meat
Science, v.49, p.447-457, 1998.
MIKULSKI, D.; CELEJ, J.; JANKOWSKI, J.; MAJEWSKA, T.; MIKULSKA, M. Growth performance,
carcass traits and meat quality of slower-growing and fast-growing chickens raised with and without
outdoor access.Asian-Australasian Journal Animal Science, v.24, n.10, p.1407-1416, 2011.
RAMOS, E. M., & DE MIRANDA GOMIDE, L. A. Avaliação da qualidade de carnes: fundamento e
metodologias. UFV, p. 531-575, 2012.
SIRRI, F.; CASTELLINI, C.; BIANCHI, M.; PETRACCI, M.; MELUZZI, A.; FRANCHINI, A. Effect
of fast-, medium- and slow-growing strains on meat quality of chickens reared under the organic farming
method. Animal, v.5, n.2, p.312-319, 2010.
STATISTICAL ANALYSIS SYSTEMS. SAS User´sGuide: Statistics. Version 9.1. Cary, NC: SAS
Institute. 2009.

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DESEMPENHO DE CORDEIROS CRIADOS EM PASTAGEM Brachiaria spp.

Thais Fernanda Farias de Souza Arco1, Cibele Otoni de Oliveira Frangiotti2 Kedma Leonora Silva
Monteiro2, Jonilson Araújo da Silva3, Natália da Silva Heimbach3, Pâmila Carolini Gonçalves da Silva3,
Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo4
1
Bolsista PET acadêmica do curso de Zootecnia UFMS, Campo Grande, MS. Brasil. E-mail: thaisfernandaarco@gmail..com
2
Aluna de Mestrado em ciência animal - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS, Campo Grande, MS, Brasil. E-
mail: Bel_otoni@hotmail.com, kedma_monteiro@hotmail.com
3
Alunos de Doutorado em ciência animal – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UFMS. E-mail:
jonilsonsilva@zootecnista.com.br, nat_heimbach@hotmail.com, carolinigonçalves@zootecnista.com.br
4
Professora da FAMEZ/UFMS. E-mail: camila.itavo@ufms.br

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da adoção do creep-feeding no
desempenho de cordeiros criados sobre pastagem de Brachiaria spp. Utilizaram-se 31 cordeiros, 15
fêmeas e 16 machos, oriundos de 26 partos simples e 5 gemelares, distribuídos nos tratamentos (1)
controle e (2) creep-feeding. Os animais foram distribuídos em dois tratamentos, controle e creep-feeding,
pela ordem (nulípara ou plurípara) e tipo de parto (gemelar ou único) e sexo do cordeiro. O período
experimental teve uma duração de 97 dias e se encerrou ao final do desmame. Foram utilizados seis
piquetes, sendo três para cada tratamento. O ganho médio diário (GMD) dos cordeiros do tratamento
creep-feeding foi de 210,5 g/dia, superior em 64 g/dia, quando comparado aos animais não
suplementados, proporcionando um desmame antecipado em 21 dias. Concluindo-se que o uso do creep
feeding na fase de aleitamento dos cordeiros proporcionou melhor desempenho produtivo em relação aos
não suplementados.

Palavras-Chave: creep-feeding, ganho de peso, suplementação

LAMBS PERFORMANCE PASTURE GRAZED Brachiaria spp.

Abstract: This study aimed to evaluate the effects of the adoption of creep-feeding on performance of
lambs on pasture of Brachiaria spp. It were used 31 lambs, 15 females and 16 males, from 26 single births
and 5 twin, distributed in treatments (1) control and (2) creep-feeding. The animals were divided into two
treatments, control and creep-feeding, the order (nulliparous or plurípara) and type of birth (single or
twin) and sex of lamb. The experimental period lasted for 97 days and terminated at the end of the
weaning. Six padocks were used, three for each treatment. The average daily gain (ADG) of the lambs of
creep-feeding treatment was 210.5 g/day, an increase of 64 g/day, compared to animals not supplemented
by providing an early weaning at 21 days. Concluding that the use of creep-feeding the lambs suckling
provided better growth performance compared to not supplemented.

Keywords: creep-feeding, weight gain, supplementation

Introdução
A ovinocultura em regiões de clima tropical como o Brasil enfrenta como um dos obstáculos o
manejo nutricional, visto que, é comum nestas regiões o uso de forrageiras tropicais, como as do gênero
Brachiaria spp. que apresentam sazonalidade de produção de matéria seca e baixo aporte nutricional.
Devido ao não atendimento das exigências nutricionais dos cordeiros lactentes mantidos a pasto, torna-se
necessário a implantação de técnicas durante a fase inicial que promovam o melhor desempenho do
cordeiro.
Neres et al. (2001) afirmaram que a suplementação exclusiva de cordeiros (creep-feeding) se
mostrou como uma prática de manejo estratégica na produção de cordeiros, sendo uma técnica bastante
aplicada durante o aleitamento, objetivando uma menor idade ao desmame. Sampaio et al. (2001)
afirmaram que essa técnica suplementar pode se tornar indispensável para a redução da idade ao desmame
e abate, pois proporciona um aumento no ganho de peso e um acabamento mais precoce. Entretanto são
poucos os estudos em pastagem de Bracharia spp., desta forma, objetivou-se avaliar os efeitos do uso do
creep-feeding no desempenho produtivo de cordeiros lactentes criados em pastagens de Brachiaria spp.

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Material e Métodos
O experimento foi realizado no Setor de Ovinocultura da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul (UFMS), na Fazenda Escola da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ); situada no
município de Terenos/MS. O projeto foi aprovado pela comissão de Ética no uso de animais sob o
protocolo nº 481/2012. O período experimental durou 97 dias, com início no primeiro parto do rebanho,
que ocorreu em 21 de março de 2014, e término no último desmame, no dia 28 de junho de 2014. Os
cordeiros e suas respectivas matrizes foram mantidos em piquetes de pastagens de Brachiaria spp. em
uma área de 4,77 ha, divididos em seis piquetes, sendo três piquetes por tratamento.
Foram utilizados 31 cordeiros, sendo 15 fêmeas e 16 machos, oriundos de 21 partos simples e
cinco gemelares, distribuídos nos tratamentos (1) controle e (2) creep-feeding. No tratamento controle, os
cordeiros (sete machos e sete fêmeas) eram mantidos em pastagens juntamente com as matrizes,
recebendo apenas suplementação mineral. No tratamento creep-feeding os cordeiros (9 machos e 8
fêmeas) foram mantidos em pastagens juntamente com as matrizes, com acesso irrestrito ao creep-
feeding, e também a suplementação mineral.
O suplemento proteico-energético utilizado era fornecido no período da manhã e os cordeiros
tinham livre acesso ao creep-feeding durante todo o dia. Tal suplemento foi formulado para obtenção de
ganhos médios de 300 g/dia, conforme as exigências do NRC (2007), com 220 g de PB/kg MS e 2,99
Mcal de EM/kg de MS a base de milho, farelo de soja e minerais (517 g/kg de fubá de milho, 473 g/kg de
farelo de soja e 10 g/kg de premix mineral).
Para o cálculo do consumo médio diário eram feitas diariamente pesagens das quantidades
fornecidas e das sobras do suplemento proteico energético. Os cordeiros eram pesados semanalmente e
foi adotado como critério para o desmame, peso corporal de 16 kg. Para a determinação do desempenho
dos cordeiros foi realizado o cálculo do ganho médio diário (GMD), em gramas, através da diferença
entre o peso final (PF) e o peso ao nascimento (PN), dividido pelo número de dias de duração do
experimento.
Os tratamentos foram distribuídos em delineamento em blocos casualizados (sexo do cordeiro, tipo
de parto e ordem de parto). Analisaram-se o desempenho dos cordeiros por meio de análises de variância,
utilizando-se modelo linear (GLM) e as médias foram comparadas no teste de Tukey.

Resultados e Discussão
Os valores de peso ao nascimento, peso ao desmame, idade ao desmame, ganho de peso total e
ganho médio diário estão apresentados na Tabela 1. Os cordeiros não suplementados apresentaram
desempenho inferior quando comparados aos cordeiros com acesso ao creep-feeding, o que acarretou em
maior idade ao desmame, pois, os cordeiros não suplementados levaram mais tempo para alcançarem os
16 kg, peso adotado como critério para o desmame.
Não houve efeito do sexo no desempenho dos cordeiros, machos e fêmeas apresentaram pesos
semelhantes entre os tratamentos, isso se justifica pelo fato destes animais, ao fim do experimento,
estarem com idades entre 64 e 85 dias. De acordo com Carvalho et al. (1999) e Castro et al. (2012) isso se
explica pelo fato de que nesta faixa etária, machos e fêmeas não apresentam dimorfismo sexual devido à
ausência de níveis elevados de hormônios esteroides.
Os cordeiros suplementados em creep-feeding apresentaram GMD superior aos cordeiros do
tratamento controle, o que proporcionou a idade á desmama em torno de 64 dias. O ganho médio diário
dos cordeiros desmamados do creep-feeding foi de 210,44 g/dia, resultado superior em 64 g aos cordeiros
que não recebiam suplementação. Também Melo (2014) ao avaliar o desempenho de cordeiros lactentes
suplementados em creep-feeding em pastagens de Brachiaria spp., encontrou superioridade em relação ao
GMD dos cordeiros suplementados no creep em comparação aos não suplementados, apresentando GMD
de 268 g/dia, sendo os cordeiros desmamados com peso médio de 19,91 kg aos 58 dias, diferente dos
cordeiros não suplementados que obtiveram um GMD de 194 g/dia, o que acarretou em um desmame
tardio, aos 81 dias de idade.

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Tabela 1. Médias e desvio padrão do peso ao nascimento, idade ao desmame, ganho de peso total (GPT) e
ganho médio diário (GMD) em função do sexo do cordeiro e do sistema de criação a pasto e creep-
feeding aos 16 kg de peso corporal. Setor de Ovinocultura, Fazenda Escola da UFMS, Terenos/ MS
Controle Creep-feeding EPM P1 P2 P3
Fêmeas Machos Fêmeas Machos
PN (kg) 3,83 3,85 3,33 3,66 0,033 0,3584 0,5975 0,6728
PD (kg) 15,97a 15,86a 15,62a 16,08a 2,36 0,9517 0,8060 0,7408
a a b b
ID (dias) 87,29 82,14 62,12 65,56 14,95 0,0007 0,9341 0,4341
GPT (kg) 12,14b 12,02b 12,28a 12,42a 1,98 0,6885 0,9753 0,8487
GMD 141,91b 150,07b 216,12a 204,76a 57,76 0,0048 0,9041 0,6435
(g/dia)
* Médias seguidas por letra minúscula na mesma coluna, diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05)
PN= Peso ao nascimento, PD=Peso ao desmame, ID=Idade ao desmame, P1 = Efeito de Sistema de produção (controle x creep-
feeding), P2 = Efeito de Sexo do cordeiro (fêmeas x machos), P3 = Efeito da Interação entre Sistema de produção e Sexo do cordeiro

Em relação ao consumo de concentrado (CMS) no creep-feeding a média encontrada foi de 14,68


g/kg PC, resultados superiores a esse estudo foram encontrados por Neres et al. (2001) ao avaliarem o
desempenho de cordeiros cruzados Suffolk em creep- feeding encontraram um CMS de 18, 91g/kg de PC,
o que promoveu o desmame de animais mais pesados, pois machos e fêmeas suplementados obtiveram,
respectivamente, 6,28 kg e 4,93 kg de PV a mais que machos e fêmeas não suplementados. Segundo
Bittar et al. (2009) a superioridade no desempenho dos cordeiros suplementados pode ser explicada pelo
maior desenvolvimento das papilas ruminais, devido ao fato de ruminantes jovens que ingerem altas
porcentagens de fibras, provindas das forrageiras, não possuírem uma distribuição homogênea das
papilas, devido à baixa produção de ácido propiônico, pois sabe-se que o produto final da fermentação de
concentrado da dieta é o ácido propiônico.

Conclusões
A utilização do creep feeding durante a fase de aleitamento proporcionou um melhor desempenho
produtivo dos cordeiros suplementados, quando comparado, aos não suplementados, o que ocasionou a
redução da idade ao desmame. Portanto, a técnica de suplementação exclusiva se mostrou eficaz na
criação de cordeiros á pasto, em especial, em locais onde as forrageiras utilizadas não atendem totalmente
as exigências nutricionais dos cordeiros, como em pastagem de Brachiaria spp.

Literatura Citada
BITTAR, C.M.M.; FERREIRA, L.S.; SANTOS, F.A.P. et al. Desempenho e desenvolvimento do trato
digestório superior de bezerros leiteiros alimentados com concentrado de diferentes formas físicas.
Revista Brasileira de Zootecnia, v. 38, n. 8, p. 1561-1567, 2009.
CARVALHO, S.; PIRES, C.C.; PERES, J.R. et al. Desempenho de cordeiros machos inteiros, machos
castrados e fêmeas, alimentados em confinamento. Ciência Animal, v.29, n.1, p. 129 – 133, 1999.
CASTRO, F. A. B. D., RIBEIRO, E. L. D. A., MIZUBUTI, I. Y. et al. Influence of pre and postnatal
energy restriction on the productive performance of ewes and lambs. Revista Brasileira de Zootecnia,
n.41, n.4 p. 951-958, 2012.
MELO, G.K.A. Desempenho de cordeiros lactentes suplementados em cocho privativo em pastagens
de brachiaria spp. Campo Grande – MS: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2014. 60p.
Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2014.
NERES, M.A.; GARCIA, C.A.; MONTEIRO, A.L.G. et al. Níveis de feno de alfafa e forma física da
ração no desempenho de cordeiros em creep-feeding. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30. n.3 p. 941-
947. 2001.
SAMPAIO, A.A.M.; BRITO. R.M.; ROUTMAN, K.S. et al. Utilização de NaCl no suplemento com
alternativa de viabilizar o creep feeding. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de zootecnia, 38,
2001, Piracicaba. Anais... Piracicaba: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2001. p. 987 – 988.

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PERFIL FERMENTATIVO DAS SILAGENS DE CAPIM BRACHIARIA BRIZANTHA cv. BRS


PAIAGUÁS COM DIFERENTES NÍVEIS DE ADITIVOS

Leandro Gomes da Silva1, Larissa Rodrigues do Nascimento Rocha1, Alexandre Menezes Dias2, Luís
Carlos Vinhas Ítavo2, Fabiane Ortiz do Carmo Gomes Coca3, Luciana Junges3
1
Acadêmico (a) do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PET. E-mail: gameslufms@gmail.com,
lari_rocha11@hotmail.com
2
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: alexandre.menezes@ufmas.br, luis.itavo@ufms.br
3
Doutoranda do Programa de Ciência Animai FAMEZ/UFMS. E-mail: fabyortizgomes@gmail.com, ljungeszootecnia@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo avaliar os parâmetros fermentativos da silagem de
Brachiaria brizantha cv BRS Paiaguás com diferentes níveis de aditivos na ensilagem. O experimento foi
conduzido na Fazenda Escola da UFMS, no município de Terenos, Mato Grosso do Sul. Utilizou-se o
delineamento inteiramente casualizado com nove tratamentos e quatro repetições cada, as médias foram
comparadas pelo teste de Tukey com significância de 5%. O tratamento com 20 g/kg de melaço
apresentou o melhor desempenho fermentativo dentre as silagens analisadas. Considerando as médias de
MS, pH final e perdas de efluente, os tratamentos com 20 g/kg e 40 g/kg de melaço apresentaram os
menores valores se comparado aos demais tratamentos (P<0,05). A ensilagem com uso de melaço no
nível de 20 g/kg apresentou os melhores resultados, visto que aumentou o teor de MS, com menores
valores de pH final, menor concentração de N-NH3 e perdas por efluentes.

Palavras Chaves: Fermentação, Inoculante, Melaço, pH

FERMENTATIVE OF SILAGE GRASS BRACHIARIA BRIZANTHA CV. BRS PAIAGUÁS


WITH DIFFERENT LEVELS OF ADDITIVES

Abstract: The present work had as objective to evaluate fermentation parameters of silage of Brachiaria
brizantha cv. BRS Paiaguás with different levels of additives in silage. The experiment was conducted in
the Farm School of UFMS, in the city of Terenos, Mato Grosso do Sul. It was used a completely
randomized followed by nine treatment with four repetitions each, tests for the averages were compared
by the Tukey test with a significance of 5%. The treatment with 20 g /Kg of molasses obtained a better
fermentative performance aspect of all silages analyzed, considering the values of MS, final pH (P< 0.05)
and for the effluent losses of the treatments of 20 g/kg and 40 g/Kg of molasses presented the smallest
values when compared to the other treatments (P>0.05). The use of molasses with level of 20 g/Kg
presented the best results, since increased the content of MS, showed the lowest values of final pH, less
concentration of N-NH3 and losses by eflluent.

Keywords: Fermentation, Inoculant, Molasses, pH

Introdução
A Brachiaria brizantha cv. BRS Paiaguás é uma forrageira selecionada para solos de fertilidade
média, com uma estação seca bem definida. Apresenta um percentual elevado de folhas e bom valor
nutricional traduzindo uma ótima alternativa para a produção animal.A vantagem da BRS Paiaguás é que
durante o período seco, apresenta maior acumulo de forragem de melhor valor nutritivo, resultando em
maiores ganhos de peso por animal e por área (Valle, 2013)
Com isso, o excedente de produção forrageira na forma de pasto poderia ser conservado na forma
de silagem e se tornar fonte alternativa de volumoso no período seco do ano.
Dentre as características para avaliação da qualidade de silagens os padrões de fermentação são
ferramentas importantes, dentre elas os valores de pH, Nitrogênio amoniacal, perdas por gases e
efluentes. Segundo Jobim et al. (2007) a resposta do animal à silagem é dependente do padrão de
fermentação que por sua vez afeta a forma e a concentração dos nutrientes e a ingestão, e o pH deve ser
usada com critério para fazer inferências à qualidade de fermentação e ainda Cherney & Cherney (2003),
o pH ainda permanece como um bom indicador da qualidade de fermentação em silagens com baixo teor
de Matéria Seca (MS) e não sendo adequado para silagens com alto teor de MS.
Assim, objetivou-se avaliar os parâmetros fermentativos da silagem de Brachiaria brizantha cv.
BRS Paiaguás com diferentes níveis de aditivos na ensilagem.

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Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Fazenda Escola da UFMS, no município de Terenos, Mato
Grosso do Sul.
A espécie forrageira utilizada foi a Brachiaria brizantha cv BRS Paiaguás, oriunda de canteiros
experimentais com dimensão 10 x 20 metros. A gramínea foi cortada rente ao solo, através de uma
roçadeira costal após 75 dias de idade. Logo após o corte, foi coletado parte do material, para posterior
análise do material antes da silagem e a outra parte foi picada em partículas de 2 a 5 cm, em picadeira
estacionária e ensilada em silos de laboratório, confeccionado com tubos de PVC.
Após a compactação e fechamento do silo (dia zero), os silos foram pesados e, aos 50 dias de
fermentação, foram pesados novamente para determinação das perdas por gases e, em seguida, foram
abertos. As perdas por gases foram medidas conforme equação adaptada por Jobim et al. (2007).
No momento da abertura foi desprezado 15 cm da parte superior do silo e retirado todo conteúdo
do silo, homogeneizado e coletadas uma amostras por minissilo para análise bromatológicas.
Foram determinados os teores de matéria seca (MS) conforme metodologias descritas por Silva e
Queiroz (2002).
Para a análise de pH, foram coletadas subamostras de 25g e adicionados 100mL de água e, após
repouso de 2 horas, realizou-se a leitura de pH, utilizando-se potenciômetro conforme metodologias
descritas por Silva e Queiroz (2002).
Para determinação do N-amoniacal (N-NH3), foi coletada uma subamostra de 25g, adicionados
200mL de uma solução de H2SO4 (0,2 N) que permaneceu em repouso por 48 horas dentro da geladeira e,
em seguida, realizou-se a filtragem em papel de filtro Whatman 54 para posterior determinação do N-NH3
(Bolsen et al., 1992).
O delineamento foi inteiramente casualizado, seguindo nove tratamentos com quatro repetições
cada. Os dados foram analisados estatisticamente pelos procedimentos de análise de variância e as médias
comparadas pelo teste Tukey a 5% de significância. Todas as variáveis foram obtidas através do
programa estatístico (SAS, 2001).

Resultados e Discussões
Os teores de matéria seca (MS) das silagens de Brachiaria brizantha cv. Paiaguás submetidas a
diferentes tratamentos são apresentados na Tabela 1.
Dos tratamentos avaliados, observou-se um bom desempenho para os valores da MS com a adição
de inoculante e/ou melaço quando comparados ao sem aditivo. De acordo com Ribeiro et al.(2009) o uso
de aditivos em forrageiras tropicais propiciaram um maior teor de MS nas silagens analisadas.

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Tabela 1: teor de Matéria Seca (MS) antes da ensilagem e da silagem, parâmetros de fermentação da
silagem e perdas (g/kg de MS) na silagem do capim Brachiaria Brizantha cv. Paiaguás com diferentes
aditivos e níveis de aditivos
Antes da Ensilagem Silagem Perdas da silagem
Tratamentos MS MS
pH pH N-NH3 (%) T (°C) Efluente Gases
(%) (%)
Sem aditivo 27,43 6,3 a 25,56 b 5,3 a 13,29 a 227,8 a 5,25 c 23,14 a
1 mg/kg I - 6,4 a 30,12 a 4,4 c 7,14 b 28,05 a 9,25 b 9,77 b
2 mg/kg I - 6,4 a 29,75 a 4,3 c 4,08 bcd 28,03 a 9,50 b 9,63 b
20 g/kg M - 6,4 a 31,39 a 4,2 c 2,93 d 27,70 a 4,75 c 9,60 b
40 g/kg M - 6,3 a 30,69 a 4,2 c 6,31 bc 28,0 a 5,75 c 10,76 b
1 mg/kg I +
- 5,5 a 29,47 a 4,3 c 4,71 bcd 28,23 a 8,75 b 11,13 b
20 g/kg M
2 mg/kg I +
- 6,3 a 31,32 a 4,3 c 3,22 cd 28,13 a 9,75 b 11,66 b
20 g/kg M
1 mg/kg I +
- 6,1 a 31,91 a 4,7 b 5,69 c 27,40 a 12,74 a 10,68 b
40 g/kg M
2 mg/kg I +
- 6,2 a 29,86 a 4,3 c 6,93 b 28,62 a 14,25 a 10,16 b
40 g/kg M
EPM - 0,55 1,96 0,94 1,36 0,70 0,06 3,98
P-Value - 0,391 0,001 0,001 0,001 0,492 0,013 0,001
Médias obtidas através do teste de Tukey com nível de significância a 0,05. EPM= Erro Padrão da média.
Médias na coluna seguidas de diferentes letras diferem (P<0,05) entre si.
I= Inoculante, M= Melaço, T= Temperatura

Contudo, o tratamento 20 g /Kg de melaço obteve um melhor desempenho fermentativo de todas


as silagens analisadas, considerando os valores de MS, pH final (P< 0,05). Para perdas de efluente os
tratamentos de 20 g/Kg e 40 g/Kg de melaço apresentaram os menores valores se comparado aos demais
tratamentos (P>0,05).
Todos os tratamentos apresentaram uma menor perda por gases em comparação ao tratamento sem
aditivo (P>0,05). Para Ribeiro et. Al (2009) a aplicação de inoculante em silagens de forrageiras tropicais
apresentaram uma redução significativa na perda por gases.
Não houve diferenças significativas para o pH antes da ensilagem e a temperatura das silagens.

Conclusões
O uso de melaço com nível de 20 g/Kg apresentou os melhores resultados, visto que aumentou o
teor de MS, mostrou os menores valores de pH final, menor valor de N-NH3 e perdas por efluente.

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Literatura Citada
CHERNEY, J.H.; CHERNEY, D.J.R. Assessing Silage Quality. In: Buxton et al. Silage Science and
Technology. Madison,Wisconsin, USA. 2003. p.141-198.
JOBIM, C.C.; NUSSIO, L.G.; REIS, R.A.; SCHMIDT, P. Avanços metodológicos na avaliação da
qualidade da forragem conservada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p.101-119, 2007.
McDONALD, P.; HENDERSON, N.; HERON, S. The biochemistry of silage. 2. ed. Marlow:
Chalcombe, 1991. 340 p.
VALLE C.B. do; EUCLIDES V.P.B.; MONTAGNER D.B.; VALÉRIO J.R.; FERNANDES C.D.;
MACEDO M.C.M.; VERZIGNASSI J.R.; MACHADO L.A.Z. 2013. BRS Paiaguás: A new Brachiaria
(Urochloa) cultivar for tropical pastures in Brazil. Tropical Grasslands – Forrajes Tropicales 1:121–
122.
RIBEIRO, L. J.; NUSSIO, G. L.; MOURÃO, B. G.; QUEIROZ, M. C. O.; SANTOS, C. M.; SCHMIDT,
P. 2009. Efeitos de absorventes de umidade e de aditivos químicos e microbianos sobre o valor nutritivo,
o perfil fermentativo e as perdas em silagens de capim-marandu. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38,
n.2, p.230-239, 2009.
STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM - SAS. The SAS System for Windows: version 8.02. Cary: SAS
Institute.[2001] (CD-ROM).

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TRICOBEZOAR EM COELHO DOMÉSTICO (Oryctolagus cuniculus) – RELATO DE CASO

Leandro Menezes Santos1, Elise Manami Iwakura2, Jessica Sperandio3, Paulo Henrique Affonseca
Jardim5, Eric Schmidt Rondon7

1Médico Veterinário Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS mvet.leandro@gmail.com


2Aluno de curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. sperandiogrd@gmail.com
3Aluno de curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS.
4 Médico Veterinário em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS
5 Docente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS

Resumo: O aparelho digestivo do coelho é constituído por várias estruturas de dimensões variadas,
possuindo uma excelente flora microbiana que tem função de digerir forragens, semelhante ao equídeo.
No coelho, o estômago e o ceco são os maiores de todo o trato, portanto, cerca de 80% da digesta fica
contida neles. Devido a essa sua fisiologia, o animal não vomita, mesmo que os alimentos ingeridos lhe
sejam prejudiciais e portanto, precisa se alimentar várias vezes ao dia. O tricobezoar é um corpo estranho
gastroentérico, geralmente formado por pelos, sendo o diagnóstico feito com base na anamnese, exames
físicos, radiográficos e de ultrassonográficos. O objetivo desse trabalho relatar o caso de um coelho
doméstico que foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
(FAMEZ) apresentando compactação gástrica a partir de pelos, denominado tricobezoar.

Palavras-chave: Corpo estranho; Estômago; Exóticos

TRICHOBEZOAR IN DOMESTIC RABBIT (Oryctolagus cuniculus) – CASE REPORT

Abstract: The stomach of the rabbit contains a lot of different structures, with a huge microbial flora,that
has the funcion to digest forage, similar to equines. The cecum and stomach in the rabbit are the biggest
of all intestine, though, around 80% of what is eaten is inside it, and that’s why the animal doesn’t vomit,
even if all the food that was digest is harmfull, so the animal needs to be fed many times a day. The
tricobenzoar is a strange gastroenteric body,normally made by fur, diagnosis done from the anamnesis,
physical exams, radiography and ultrasound exam.The objective of this work is to narrate a case from a
domestic rabbit that was assisted at the Federal Hospital (FAMEZ), showing gastric compactation from
hair, named tricobezoar.

Keywords: Strange body; Stomach; Exotics

Introdução
O aparelho digestivo do coelho é constituído por várias estruturas de dimensões variadas, que vai
desde a boca até o anus. Pela sua condição de herbívoro, embora monogástrico, apresenta-se com o
estômago bissaculado e o ceco desenvolvido e funcional, com excelente flora microbiana que tem função
de digerir forragens, semelhante ao equídeo. No coelho, o estômago e o ceco são os maiores de todo o
trato, portanto, cerca de 80% da digesta fica contida neles. O estômago constitui-se de paredes onduladas
e delgadas, desprovidas de musculatura lisa, impossibilitando assim, as contrações musculares
responsáveis pelo peristaltismo e, consequentemente, o movimento da digesta para os intestinos (MELLO
& SILVA, 2003; VILARDO, 2006)
Devido a essa sua fisiologia, o animal não vomita, mesmo que os alimentos ingeridos lhe sejam
prejudiciais e portanto, precisa se alimentar várias vezes ao dia, pois só desta forma, mecanicamente, a
digesta do estômago passa para o intestino delgado. O hábito alimentar do coelho exige alto teor de fibra
indigestível para cumprir funções físicas essenciais, como: manter a consistência e o volume da digesta,
assegurar a normalidade do trânsito digestivo, substrato para a flora presente no ceco (MELLO & SILVA,
2003)
Uma dieta inapropriada é a causa mais comum de doenças em coelhos. Dietas deficientes afetam
diretamente o trato gastrointestinal. Um estômago com bolo alimentar que contenha qualidade de fibras
pode ser facilmente penetrado pelo suco gástrico o qual esterilizará seu conteúdo, eliminando bactérias
patogênicas (VILARDO, 2006)
O tricobezoar é um corpo estranho gastroentérico, geralmente formado por pelos, localizado na
maioria das vezes no estômago. A alotriofagia, ou perversão do apetite, é caracterizada pela ingestão de

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outras substâncias que não o alimento normal e varia do hábito de lambedura e mordedura à ingestão de
objetos e utensílios domésticos. O diagnóstico é feito com base na anamnese, exames físicos,
radiográficos e de ultrassonografia (VILARDO, 2006; DIAS, 2010).
Quando o fornecimento de fibra ocorre em níveis elevados, pode reduzir a digestibilidade dos
demais nutrientes, piorando a conversão alimentar, reduzindo o desempenho dos animais e a eficiência da
ração (MELLO & SILVA, 2003; VILARDO, 2006).
O tratamento requer a adoção de medidas agressivas para se obter sucesso, consistindo na
administração de fluidos parenterais, alimentação forçada e reidratação do conteúdo estomacal, além da
estimulação da motilidade gastrointestinal com alimentos de alto teor de fibras e medicamentos que
estimulem a peristalse e promovam o esvaziamento gástrico (VILARDO, 2006).
O presente trabalho tem como objetivo relatar o caso de um coelho doméstico que foi atendido no
Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ) apresentando
compactação gástrica a partir de pelos, denominado tricobezoar.

Material e Métodos
Foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia/ufms, um
coelho doméstico (Oryctolagus cuniculus), macho de quatro anos de idade, sob a queixa de anorexia há 2
dias e intenso hábito de se lamber. Ao exame físico foi observado intensa dilatação gástrica e alças
intestinais com aspecto gás e presença sugestiva de conteúdo gástrico compactado. O mesmo foi
encaminhado para exames de imagem no qual foi visualizado conteúdo sugestivo de corpo estranho em
estômago e intensa presença de gases em alças intestinais. O mesmo foi encaminhado para procedimento
cirúrgico devido à dimensão do corpo estranho e difícil tratamento clinico, sendo negado pelo proprietário
e o animal vindo a óbito cinco dias depois do atendimento.

Resultados e Discussão
O termo “bezoar” define a formação de corpos estranhos, ao longo do trato digestivo, pela ingestão
de diversas substancias, como pelos (tricobezoar) e fibras vegetais (fitobezoar), que tem a capacidade de
provocar obstruções graves. Essa obstrução leva ao quadro clínico de anorexia, oligodipsia, desidratação,
diarreia, redução da frequência de defecção, emagrecimento, letargia, prostração, abdômen tenso,
timpanismo e hipotermia (FERREIRA, et al 2003; VILARDO, 2006).
Portanto, a fibra, como visto, pelas suas funções nutritivas indiretas, inclusive produzindo energia
suficiente para manutenção da integridade física do trato digestivo do animal, e sendo o substrato
indispensável à manutenção da flora microbiana e sua estabilidade, é de grande importância no processo
fisiológico e digestivo dos coelhos (JUBA et al, 1985; VILARDO 2006)
Baixos níveis de fibra induzem ao aumento da produção de ácido butírico que, por conseguinte,
desestabiliza a flora microbiana cecal e, também, inibe os movimentos peristalticos dos intestinos. Com
isso, há alteração do nível de fermentação, o que favorece a instalação de micro-organismos maléficos,
com consequente promoção de distúrbios digestivos, causando elevado índice de mortalidade em animais
jovens (FERREIRA et al, 2003; VILARDO, 2006)

Conclusões
O manejo nutricional adequado influencia tanto como prevenção como terapêutica. Em casos
avançados de obstrução e compactação gástrica deve ser relevado a indicação do procedimento cirúrgico
para retirada do corpo estranho.

Literatura Citada
DIAS, T.A. et al. Tricobezoar gástrico decorrente de transtorno compulsivo em um cão – Relato de caso.
PUBVET, Londrina, V. 4, N. 4, Ed. 109, Art. 735, 2010.
FERREIRA M.A.; ALIEVI, M.M.; BECK, C.A.C.; FILHO, A.P.S.F, JÚNIOR, E.B.S.;
BEHEREGARAY, W.; STÉDILE, R; GONZALEZ, P.C.S. Corpo estranho gástrico em um coelho
(Oryctolagus cuniculus) Acta Scientiae Veterinariae. 35(2): 249-251, 2007.
JUBA, K. V. F., KENNEDY, P. C. , AND PALMER, N. Pathology of domestic animals, third edition.
V.2 1985.
MELLO, H., SILVA, J. F. Criação de coelhos.2 ed. P 74-83. 2003
VILARDO, F.E.S.; Lagomorpha. In: CUBAS Z.M.; SILVA, J.C.R.; CATÃO-DIAS, J.L.; Tratado de
animais selvagens. São Paulo: Roca, 2006.

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CARACTERÍSTICAS QUANTITATIVAS DA CARCAÇA DE CORDEIROS SUBMETIDOS A


DIFERENTES SISTEMAS DE TERMINAÇÃO

Caroline Canollas (1), Pâmila Carolini Gonçalves da Silva (2), Jonilson Araujo da Silva (2), Kedma Leonora
Silva Monteiro (3), Natália da Silva Heimbach (2), José Carlos da Silva Florêncio Filho (1), Marina de Nadai
Bonim (5), Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo (4)
1
Acadêmicos de Medicina Veterinária e Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsistas PIBIC/CNPq/UFMS
2
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. FAMEZ/UFMS
3
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. FAMEZ/UFMS
4
Professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UFMS
5
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária- Bolsista DCR

Resumo: Objetivou-se avaliar as características de carcaça de cordeiros terminados em diferentes


sistemas de terminação. Foram utilizados 28 cordeiros com peso corporal médio inicial de 19,78 kg e dois
meses de idade distribuídos em 5 tratamentos: pastagens, com suplementação mineral (controle negativo),
pastagens com suplementação proteico-energética baseada em fornecimento diário de 8, 16 e 24 g/kg do
peso corporal (PC) e confinamento, com relação volumoso:concentrado de 40:60 na dieta (controle
positivo). Os animais foram encaminhados ao abate ao atingirem peso corporal médio de 30,9 kg, com
idade média de 164 dias. A inclusão do suplemento proteico-energético na dieta influenciou
significativamente (P<0,05) o peso de abate (PA), peso da carcaça quente (PCQ) e peso da carcaça fria
(PCF). O rendimento comercial foi superior para carcaça dos animais que receberam maior inclusão do
suplemento proteico-energético quando comparado aos não suplementados e com baixa suplementação (8
g/kg PC). Houve influência do sistema de terminação na área de olho de lombo e espessura de gordura
subcutânea, sem influência no pH (P>0,05), com média de 5,79. Recomenda-se o fornecimento mínimo
de 1,6% PC de suplemento proteico-energético para cordeiros terminados em pastagem de Brachiaria
spp.

Palavras-chave: dieta, ovinos, suplementação

QUANTITATIVE CHARACTERISTICS OF LAMBS RAISING TO DIFFERENT


TERMINATION SYSTEMS

Abstract: It was aimed to evaluate the characteristics of carcass lambs finished in different systems. 28
lambs were used with average body weight initial 19.78 kg and two months of age distributed across 5
treatments: pastures, with mineral supplementation (negative control), pastures with protein-energy
supplementation based on daily supply of 0.8; 1.6 and 2.4% body weight (BW) and containment, with
bulky relationship: 40:60 concentrate in the diet (positive control). The animals were sent to slaughter to
reach 30.9 kg average body weight, with an average age of 164 days. The inclusion of protein-energy
supplementation-dietary influenced significantly (P < 0.05) the slaughter weight (SW), hot carcass weight
(HCW) and weight of the cold carcass (CCW). The commercial yield was superior to animal housing
which received greater inclusion of protein-energy supplementation when compared to non-supplemented
and with low supplementation (0.8% BW). There was influence of finishing system in the rib eye area
and thickness of subcutaneous fat, without influence on the pH (P> 0.05) with an average of 5.79. We
recommend the supply of 1.6% BW of protein-energy supplementation for lambs finished in grazing
Brachiaria spp.

Keywords: diet, sheep, supplementation

Introdução
A criação de ovinos é uma atividade em expansão, tendo a carne como um dos seus principais
produtos. A produção de carne ovina é uma atividade com grande potencial no mercado (Moreno et al.,
2010), no entanto precisa ser melhor explorada.
O fornecimento de suplemento para animais criados em pastagem já tem sido utilizado em
diversas regiões, uma vez que o sistema de produção tem grande influência na qualidade da carcaça,
animais criados exclusivamente em pastagens geralmente tem carcaças inferiores aos animais terminados
com o uso de concentrado (Priolo et al. 2002). No intuito de produzir carnes que atendam a necessidade

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do mercado consumidor a indústria frigorífica busca por carcaças pesadas e com boa cobertura de gordura
oriunda de animais jovens, sendo necessário um aumento no aporte de nutrientes aos animais através do
uso de alimentos que tenham uma maior concentração de nutrientes.
O conhecimento dos níveis adequados de suplementação é de grande importância, pois o uso de
suplemento em excesso pode causar alterações no ambiente ruminal, afetando negativamente o consumo
e digestibilidade dos alimentos, consequentemente haverá piores carcaças e gastos desnecessários,
inviabilizando o sistema de produção. Porém o déficit na suplementação pode fazer com que os resultados
esperados não sejam obtidos. Nesse contexto objetiva-se avaliar as características de carcaça de cordeiros
terminados em diferentes sistemas de terminação, abatidos na mesma idade.

Material e Métodos
O experimento foi realizado no Setor de Ovinocultura, na Fazenda Escola da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul, localizada em Terenos, MS, sendo o abate realizado no frigorífico experimental
da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS. O protocolo experimental foi aprovado pela
Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da UFMS.
Foram utilizados 28 cordeiros com peso corporal médio inicial de 19,78 kg e dois meses de idade
distribuídos em 5 sistemas de terminação: (1) pastagens, com suplementação mineral; (2) pastagens, com
suplementação baseada em fornecimento diário de 0,8% do peso corporal (PC); (3) pastagens, com
suplementação baseada em fornecimento diário de 1,6% do peso corporal (PC); (4) pastagens, com
suplementação baseada em fornecimento diário de 2,4% do peso corporal (PC) e (5) confinamento, com
relação volumoso:concentrado de 40:60 na dieta (como controle positivo de ganho de peso – referencial
da máxima expressão genética dos animais utilizados). Os animais em pastagem permaneceram em
piquetes formados por Brachiaria spp., em pastejo contínuo com lotação variável, de modo a garantir
uma oferta de forragem de 10% PC.
O suplemento a base de milho, farelo de soja e minerais (51,7% de fubá de milho, 47,2% de farelo
de soja e 1% de premix mineral), foi ofertado uma vez ao dia, às nove horas. No confinamento, os
animais foram submetidos a dietas compostas por feno de Tifton-85 (Cynodon dactylon spp.), como
volumoso, e concentrado (mesma composição que o suplemento fornecido para os animais em pastagem),
uma vez ao dia (nove horas) na forma de ração total misturada, na relação volumoso:concentrado de
40:60, com composição igual a 2,5 Mcal de EM/kg de matéria seca e 16% de proteína bruta.
Os animais foram encaminhados ao abate ao atingirem peso corporal médio de 30,9 kg, com idade
média de 164 dias. Antes do abate os animais foram pesados para determinação do peso ao abate, com
jejum prévio de 16 horas. Após o abate as carcaças foram pesadas para obter o peso da carcaça quente
(PCQ) e transferidas para câmara frigorífica a 4°C, onde permaneceram por 24 horas. Ao final desse
período, foram pesadas para determinação do peso da carcaça fria. Em seguida, o pH foi mensurado com
o auxílio de um pHmetro digital com eletrodo de penetração, em três locais: perna, lombo e paleta,
calculando-se o valor médio.
No músculo Longissimus dorsi, entre 12a e 13a costelas, foi tomada a área transversal em papel
manteiga, sendo a área de olho de lombo (AOL) determinada pelo software DDA v.1.2 (Instituto Federal
Farroupilha, Santo Augusto, RS, Brasil) (DDA, 2008). Na mesma secção foi determinada a espessura de
gordura subcutânea, obtida na última vértebra dorsal e primeira lombar, utilizando-se um paquímetro
digital.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, os dados foram avaliados
por meio de análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Dunnet a 0,05 de significância,
utilizou-se o peso da carcaça fria como co-variável para as características qualitativas da carcaça.

Resultados e Discussão
A inclusão do suplemento proteico-energético na dieta influenciou significativamente (P<0,05) as
características de carcaça, sem influência no pH final (Tabela 1).
O PA dos animais confinados foi superior ao controle, no entanto não houve diferença entre os
níveis de suplementação. Já no peso das carcaças, os maiores níveis de suplementação apresentaram
carcaças mais pesadas em relação ao controle, resultados semelhantes aos encontrados por Yirga et al.
(2011) que trabalharam com suplementação baixa, média e alta, onde o peso de carcaça quente foi maior
para ovinos que receberam nível médio e alto de suplementação comparados ao grupo controle, no
entanto, o grupo que recebeu baixa suplementação não diferenciou do controle, resultado semelhante ao
presente estudo. O rendimento comercial apresentou o mesmo comportamento, possivelmente os animais

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do tratamento controle e baixo nível de suplementação concentrada (8% PC) não ingeriram a quantidade
de proteína necessária para atender a exigência para o crescimento muscular o que refletiu em falta de
acabamento nas carcaças, consequentemente menores rendimentos comerciais. Carvalho et al. (2007)
avaliaram o efeito de diferentes níveis de concentrado (0 a 25 g/kg PC) sobre os rendimentos de carcaça
de ovinos mantidos em pastagens de capim Tifton 85 (Cynodon spp.) e observaram que o aumento da
suplementação melhorou de forma linear o rendimento de carcaça. Animais com dietas exclusivamente
em pasto apresentam menor rendimento verdadeiro, pois o conteúdo digestivo dos alimentos volumosos
fica mais tempo no trato gastrintestinal (Carvalho et al.,2007).
A AOL foi maior para os animais que receberam elevados níveis de suplemento em relação ao
controle sem diferença entre os animais que receberam baixo nível de suplementação. Maiores níveis de
suplemento proporcionaram maior EGS, o que está diretamente relacionado com a proteção da carcaça
durante o processo de resfriamento.

Tabela 1. Valores médios e erro padrão da média do peso de abate (PA), peso da carcaça quente (PCQ),
peso da carcaça fria (PCF), rendimento de carcaça (RC), área de olho de lombo (AOL), espessura de
gordura subcutânea (EGS) e pH de cordeiros produzidos em diferentes sistemas de terminação
Níveis de suplementação
16 g/kg 24 g/kg
0 g/kg PC 8 g/kg PC Confinamento EPM P-value
PC PC
PA (kg) 27,05b 27,65ab 31,51ab 31,48ab 36,94a 5,01 0,0265
b b ab ab a
PCQ(kg) 10,73 11,18 13,70 14,10 16,61 2,84 0,0197
b b ab ab a
PCF (kg) 10,33 10,88 13,40 13,88 16,27 2,70 0,0127
* b b a a a
RC (%) 39,38 40,01 42,98 44,69 44,87 3,25 0,0423
*
AOL
10,60b 11,42b 11,94 ab 12,92ab 14,17a 2,06 0,0331
(cm2)
EGS* (mm) 0,57c 0,75bc 1,72ab 1,69ab 1,97a 0,57 0,0001
*
pH 5,96 5,88 5,75 5,70 5,68 0,20 0,1996
Médias seguidas de letras diferentes diferem pelo teste de Dunnet a 5% de probabilidade. EPM: Erro padrão da média.* Co-
variável: peso da carcaça fria (PCF).

Conclusões
Maiores níveis de suplementação proteico-energética fornecida para animais criados em
Brachiaria spp. produzem melhores carcaças, semelhantes ao confinamento. A suplementação é uma
ferramenta útil para produzir carcaças de qualidade, sendo recomendado o fornecimento mínimo de 1,6%
do peso corporal de suplemento com 51,7% de fubá de milho, 47,2% de farelo de soja e 1% de premix
mineral.

Literatura Citada
CARVALHO, S.; BROCHIEIR, M. A.; PIVATO, J.; VERGUEIRO, A.; TEIXEIRA, R. C.; KIELING, R.
Ganho de peso, características da carcaça e componentes não-carcaça de cordeiros da raça Texel
terminados em diferentes sistemas alimentares. Ciência Rural, v.37, n.3, p.821-827, 2007.
DETERMINADOR DIGITAL DE ÁREAS - DDA. Manual DDA. Versão 1.2. Santo Augusto, RS:
Instituto Federal Farroupilha, 2008.
MORENO, G.M.B.; SOBRINHO, A.G.S.; LEÃO, A.G.; LOUREIRO, C.M.B.; PEREZ, H.L.
Rendimentos de carcaça, composição tecidual e musculosidade da perna de cordeiros alimentados com
silagem de milho ou cana-de-açúcar em dois níveis de concentrado. Arquivo Brasileiro de Medicina
Veterinária e Zootecnia,v.62, n.3, p. 686-695, 2010.
PRIOLO, A.; MICOL, D.; AGABRIEL, J.; PRACHE, S.; DRANSFIELD, E. Effect of grass or
concentrate feeding systems on lamb carcass and meat quality. Meat science,v.62, n.2, p.179-185, 2002.
YIRGA, H.; MELAKU, S.; URGE, M. U. Effect of concentrate supplementation on live weight change
and carcass characteristics of Hararghe Highland sheep fed a basal diet of urea-treated maize stover.
Livestock Research for Rural Development, v. 23, 2011.

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LEVANTAMENTO MOLECULAR DE MYCOPLASMAS SANGUÍNEOS EM CÃES


PROVENIENTES DE CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL, BRASIL

Rodrigo Leite Soares1, Jessica Teles Echeverria¹, Giovana Pazzuti¹, Herbert Patric Kellerman Cleveland 2,
Verônica Jorge Babo-Terra3, Carlos Alberto do Nascimento Ramos3 , Elisabete Friozi4
1
Graduando em Medicina Veterinária, FAMEZ/UFMS, E-mail: rodrigo_fls@hotmail.com
1
Graduando em Medicina Veterinária, FAMEZ/UFMS, E-mail: jessica_teles18@hotmail.com
1
Graduando em Medicina Veterinária, FAMEZ/UFMS, E-mail: gih_pazutti@hotmail.com
2
Laboratório de Biologia Molecular, FAMEZ/UFMS E- mail: herbert.cleveland@ufms.br
³Professora da FAMEZ/UFMS E-mail: vjb@terra.com.br
³Professor da FAMEZ/UFMS, E-mail: carlos.nascimento@ufms.br
4
Centro de Controle de Zoonoses, Campo Grande, MS, Brasil. Email: efriozi@gmail.com

Resumo: Mycoplasmas hemotrópicos de cães, como Mycoplasma haemocanis já foram descritos em todo
o mundo. Recentemente, mycoplasmas hemotrópicos têm sido apontados como causadores de zoonoses.
O objetivo no presente estudo foi determinar a freqüência de infecção por M. haemocanis em cães
infestados por carrapatos e analisar possíveis associações com alguns fatores epidemiológicos. Reação em
cadeia da polimerase (PCR) e sequenciamento de DNA foram utilizados para analisar amostras de sangue
de cães (n = 94). DNA de M. haemocanis foi identificado em quatro amostras. Não foram observadas
associações significativas com qualquer parâmetro epidemiológico analisado. No entanto, questões acerca
da importância de R. sanguineus sensu lato como principal vetor são levantadas.

Palavras-chave: Mycoplasma, cão, carrapato, Centro-oeste

MOLECULAR SURVEY OF HEMOTROPIC MYCOPLASMA IN DOGS INFESTED BY TICKS


FROM CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL, BRAZIL

Abstract: Hemotropic Mycoplasma species in dogs, such as Mycoplasma haemocanis have been
described worldwide. Recently, this pathogen has been reported to be a causative agent of zoonosis. The
aim of the present study was to determine the frequency of infection by M. haemocanis in dogs infested
by ticks and to assess possible associations with some epidemiological factors. Polymerase chain reaction
(PCR) and DNA sequencing were used to analyze dog blood samples (n = 94). DNA of M. haemocanis
was detected in four samples. No significant associations were observed with any epidemiological
parameter herein analyzed. However, questions about the importance of R. sanguineus sensu lato as a
main vector are raised.

Keywords: Mycoplasma, dog, tick, Center-west

Introdução
O gênero Mycoplasma compreende um grupo de bactérias sem parede celular e com diminuto
genoma que lhes torna extremamente dependentes das células do hospedeiro (Biondo et al., 2009). Estas
bactérias podem infectar várias espécies de animais e podem estar associadas a apatia, artrite, febre,
anemia hemolítica, infertilidade, letargia, distúrbios respiratórios, linfadenopatia, mucosas pálidas,
doenças urogenitais e perda de peso (Costa, 2011.).
A transmissão ocorre principalmente por meio de artrópodes hematófagos, transplacentariamente,
por transfusão sanguínea e através de objetos contaminados (Macieira et al. 2008). O Carrapato
Rhipicephalus sanguineus lato sensu (sl) tem sido considerado o principal vetor de M. haemocanis para
cães (Messick, 2003).
A maioria dos cães infectados apresenta infecção crônica assintomática (Costa, 2011). Na verdade,
as manifestações da doença em animais são mais frequentemente relatadas em casos especiais, por
exemplo, em associação com drogas, imunossupressão induzida por retrovírus, má nutrição, prenhez,
lactação e doenças concomitantes.
O objetivo do presente estudo foi avaliar a freqüência de infecção por micoplasma sanguíneo em
cães de Campo Grande, MS, Brasil, e identificar os principais aspectos epidemiológicos associados com a
infecção.

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Material e Métodos
Amostras de sangue (n = 94) de cães foram coletadas de agosto 2014 a abril de 2015, no Centro de
Zoonoses de Controle do município de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. A
amostragem foi realizada apenas em cães infestados por carrapatos. Informações clínicas e
epidemiológicas de todos os animais foram obtidas (raça, sexo, acesso à rua, contato com pulgas).
As amostras de DNA foram extraídos a partir de 350μl de sangue utilizando a metodologia
descrita por Araújo et al. (2009). A concentração e a integridade das amostras extraídas foram avaliadas
por espectrofotometria em BioPhotometer Plus (Eppendorf) e eletroforese em gel de agarose (1%),
respectivamente. A fim de verificar a ausência de inibidores de PCR, todas as amostras foram sujeitas a
PCR para o gene β-actina.
Posteriormente, as amostras foram analisadas por PCR para Mycoplasma sp. utilizando um
conjunto de iniciadores descritos anteriormente (Messick et al. 1998). As reações de PCR foram
realizadas num volume final de 25 ul contendo 10 mM de Tris-HCl (pH 8,3), KCl a 50 uM, MgCl2 1,5
mM, 0,2 mM de cada desoxinucleótido (dNTP), 1.25U de DNA-polimerase Taq (Ludwig Biotec), 11
pmol de cada iniciador, e aproximadamente 100ηg de DNA genômico. Os seguintes parâmetros foram
utilizados na PCR: 94 ° C durante três minutos, seguido de 30 ciclos a 94 ° C durante um minuto,
emparelhamento a 51 ° C durante 30 segundos e extensão a 72 ° C durante 40 segundos. Um passo de
extensão final a 72 ° C durante três minutos foi realizada.
A amostra positiva de Mycoplasma sp. utilizada como controle positivo foi obtido em um estudo
anterior, e a sequência de DNA está depositada no GenBank sob o número de acesso FJ911910 (Ramos et
al. 2010). Água livre de nuclease foi utilizada como controle negativo.
Os produtos de amplificação foram visualizados sob uma luz ultravioleta após eletroforese em gel
de agarose (2%) corado com GelRed (Biotium).
As Amplificações positivas foram cortadas do gel e purificadas com o auxílio de QIAEX gel
extraction kit II (Qiagen) de acordo com as instruções do fabricante. As amostras foram sequenciadas em
ambas as direções por sequenciador automático ABI 3130 (Applied Biosystems). Os cromatogramas
foram avaliados e editados com o programa BioEdit v.7.2.5 (Hall, 1999), e sequências consenso foram
submetidas a busca por homologia com o auxílio do programa BLASTn.
Associação entre a frequência de animais infectados e os parâmetros clínicos e epidemiológicos
foram avaliados utilizando Teste Exato de Fisher (5% de significância) com BioEstat 5.0®software.

Resultados e Discussão
Dentre 94 amostras de sangue analisadas, em quatro animais (4,25%) foram observados produtos
de amplificação (650 pb) compatíveis com Mycoplasma sp. de acordo com Messick et al. (1998).
Através da análise de sequência de DNA foi possível identificar a espécie Mycoplasma
haemocanis (homologia de 99% com sequências disponíveis no GenBank). Considerando que todas as
sequências de DNA obtidas no estudo apresentaram 100 % de homologia umas com as outras , apenas
uma sequência foi depositada no GenBank , com o número de acesso KT163241.
Um total de 345 carrapatos foram coletados nos animais amostrados, e todos foram identificados
como R. sanguineus. No Brasil, apesar do alto índice de infestação do cão por R. sanguineus, em geral, a
frequência de Mycoplasma sp. é baixa, especialmente quando comparado com outros agentes patogénicos
transmitidos por carrapatos, tais como Ehrlichia canis, Anaplasma platys e Babesia vogeli, (Ramos et al,
2010;. Costa, 2011). A maioria dos estudos têm associado a freqüência de infecção e presença de
carrapatos em cães. No entanto, uma associação significativa nem sempre foi observado (Barker et al.,
2010). Além disso, outras vias de transmissão em cães, incluindo a participação de outros artrópodes deve
ser investigada.
No presente estudo, não houve associação significativa entre a infecção por M. haemocanis e os
parâmetros epidemiológicos avaliados (raça, sexo, contato com pulgas, acesso ao exterior, área urbana ou
rural).
Curiosamente, no sul da Europa, Novacco et al. (2010) observaram que os cães jovens mestiços
que vivem em abrigos foram significativamente mais predispostas à infecção por Mycoplasma spp. Por
outro lado, na Tanzânia e Trinidad e Tobago (Barker et al., 2010), os cães machos com acesso a
ambientes livres foram significativamente mais propensos a apresentar infecção por hemoplasmas. Nestes
casos, a associação com infestação por carrapatos não foi observada.
A imunossupressão e fraqueza causada por outras doenças concomitantes foram identificados
como factor importante que favorece a infecção por Mycoplasma (Novacco et al, 2010;). No Brasil,

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também foram relatados co-infecções por M. haemocanis e outros patógenos vetorados por carrapatos em
cães (Ramos et al, 2010). No presente estudo dois cães foram infectados por M. haemocanis e
apresentaram sorologia positiva para Leishmania sp., mas não foi possível avaliar a correlação entre os
patógenos

Conclusões
Apesar da baixa frequência de infecção por M. haemocanis em cães de Campo Grande (4/94), os
resultados deste estudo confirmam que o patógeno está circulando na região e deve ser considerado no
diagnóstico diferencial de doenças em cães que apresentam anemia. Além disso, os dados aqui
apresentados levantam perguntas acerca do real papel do R. sanguineus na transmissão de M. haemocanis.

Literatura Citada
Araujo FR; Ramos CAN, Luiz HL, Peres IAHFS, Oliveira RHM, Souza IIF, Russi LS. Avaliação de um
protocolo de extração de DNA genômico a partir de sangue total. Campo Grande: Embrapa Gado de
Corte, (Embrapa Gado de Corte. Comunicado Técnico, 120). 5p, 2009.
Biondo AW, Santos AP, Guimarães AMS, Vieira RFC, Vidotto O, Macieira DB, Almonsy NRP, Molento
MB, Timenetsky J, Morais HA, González FHD, Messick JB. A review of the ocurrence of hemoplasmas
(hemotrophic mycoplasmas) in Brazil. Rev Bras Parasitol Vet 2009; 18: 1-7.
Costa HX. Interação de hemoparasitos e hemoparasitoses em casos clínicos de trombocitopenia em cães
no município de Goiânia. 58f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Veterinária da Universidade Federal de
Goiás, Goiânia, 2011.
Macieira DB, Menezes RCAA, Damico CB, Almosny NRP, Mclane HL, Daggy JK, Messick JB.
Prevalence and risk factors for hemoplasmas in domestic cats naturally infected with feline
immunodeficiency virus and/or feline leucemia virus in Rio de Janeiro – Brazil. J Feline Med Surg 2008;
10:120-129.
Messick JB. New perspectives about Hemotrophic mycoplasma (formely, Haemobartonella and
Eperythrozoon species) infections in dogs and cats. Vet Clin North Am Small Anim Pract 2003;
33:1453-1465.
Novacco M, Meli ML, Gentilini F, Marsilio E, Ceci C, Pennisi MG, Lombardo G, Lloret A, Santos L,
Carrapiço T, Willi B, Wolf G, Lutz H, Hofmann-Lehmann R. Prevalence and geographical distribution of
canine hemotropic mycoplasmas infections in Mediterranean countries and analysis of risk factors for
infection. Vet Microbiol 2010; 142:276-84.
Ramos R, Ramos C, Araújo F, Oliveira R, Souza I, Pimentel D, Galindo M, Santana M, Faustino M,
Alves L. Molecular survey and genetic characterization of tick-borne pathogens in dogs in metropolitan
Recife. Parasitol Res 2010; 07:1115–20.

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PERCEPÇÃO DOS CRIADORES DE CAVALO PANTANEIRO SOBRE ENDOPARASITAS E


ECTOPARASITAS NA REGIAO CENTRO - OESTE

Juliana Kátia de Souza1, Larissa Bezerra dos Santos2, Mariana Green de Freitas1, Lair Covizzi Junior3,
Valdemir Alves de Oliveira4 Fernando de Almeida Borges4
1
Aluna do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS, E-mail:ju.katia.sousa@gmail.com; marigreenf@hotmail.com
2
Doutoranda no programa de pós-graduação em Ciência Animal da FAMEZ/UFMS. Bolsista Fundect. E-mail:
larissabezerro.vet@gmal.com
3
Residente. E-mail: covizzijunior@gmail.com
4
Professor da FAMEZ/UFMS. E-mail: valdmir.oliveira@ufms.br; fernando.borges@ufms.br

Resumo: O presente trabalho foi realizado para ter uma percepção do controle de verminose e
ectoparasitas na tropa de cavalo pantaneiro na região centro- oeste. Foram entrevistados 13 proprietários.
Os entrevistados foram questionados nos seguintes temas: tipo de exploração, número de equinos,
critérios de utilização de anti-helmínticos, categorias animais tratadas, número de tratamentos por ano,
princípio ativo utilizado, conhecimento sobre métodos de controle, grau de importância das parasitoses no
rebanho e formas de assistência técnica. Os resultados demonstraram que estes animais têm um papel
social enorme, sendo que existe pouca ênfase quando se trata de quantificar a situação sanitária individual
dos animais de trabalho. Por outro lado, o cavalo de esporte e/ou lazer, por ser um animal de categoria
diferenciada, recebe atenção condizente quanto à saúde geral. Os proprietários têm preferencias para as
drogas com princípio ativo de ivermectina (72%), benzimidazoís (36%) e organofosforado (27%), sendo
que usa uma e outra. Destes 11% utilizam pastas para equinos, e 2% utilizam o mesmo medicamento de
bovinos para equinos, sendo que 40% dão preferência por fazer de 2 a 3 tratamentos ano, as messes de
predileção e maio, julho e outubro para a verminose

Palavras-Chave: equino, anti – helmínticos, ectoparasitas

PERCEPTION OF BREEDERS PANTANEIRO ON ENDO – AND ECTOPASITES BY HORSE


IN THE REGION CENTRE – WEST

Abstract: This study was conducted to have a sense of control worms and ectoparasites in the Pantanal
horse troop in the center-west region. They interviewed 13 owners. Respondents were asked the
following topics: type of operation, number of horses, of anthelmintic use criteria, treated animals
categories, number of treatments per year, the active ingredient used, knowledge of control methods,
degree of importance of parasites in flock and forms of technical assistance. The results showed that these
animals have a huge social role, and there is little emphasis when it comes to quantify the individual
health status of working animals. On the other hand, the sport of horse and / or pleasure, as a different
category of animal, receive consistent care for general health. The owners have preferences for drug
ivermectin with active principle (72%), benzimidazoles (36%) and organophosphate (27%), and uses one
another. Of these 11% use folders for horses, and 2% use the same cattle medicine for horses, and 40%
give preference to do 2-3 treatments year, the messes of predilection and may, july and october for worms

Keywords: equine, anti - helminthic, ectoparasites

Introdução
O início da formação do cavalo que conhecemos hoje como pantaneiro e que vem despertando
muito interesse ultimamente deste setor, se deu há mais de dois séculos, na região do pantanal mato-
grossense, nos municípios de Poconé, Cáceres, entre outros. Um animal rústico, porém, domável e
excelente para a lida do gado.
Uma raça única de equinos, que se adaptou como nenhuma outra ao ambiente quente e úmido e às
longas distâncias da planície pantaneira. O cavalo pantaneiro tem sua origem dos cavalos Ibéricos
trazidos ao Brasil na época da colonização.
Os animais introduzidos na região multiplicaram-se e formaram uma raça muito bem adaptada às
condições ecológicas do Pantanal. Isto foi fruto da ação da seleção natural durante centenas de anos.
Desde a implantação de fazendas no Pantanal, o cavalo pantaneiro tem sido importante para a lida do
gado e como meio de locomoção para os habitantes da região

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Estima-se que as atividades relacionadas à equideocultura tenham impacto direto na economia


acima de U$ 39 bilhões. Segundo estudos realizados pela Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação – FAO, o Brasil possui o terceiro maior rebanho equino do mundo, com
5.900.000 animais, superado apenas por China (8 milhões) e México (6.260.000).
Em um estudo realizado pelo CEPEA (Centro de Estudos em Economia Aplicada Esalq/Usp 2006)
a distribuição de insumos veterinários para equideocultura representa 75% de comercialização de
antiparasitários e 77% de vendas de antibióticos. Concentrando essas vendas na região Sudeste e Sul.
O trabalho exigido dos equídeos de um modo geral continua sendo executado de forma diária e
estafante. Estes animais têm um papel social enorme, sendo que existe pouca ênfase quando se trata de
quantificar a situação sanitária individual dos animais de trabalho. Nesta raça não se encontra estudo
demostrando e quantificando as principais dificuldades relacionados as parasitoses e suas consequências a
saúde destes animais. Por outro lado, o cavalo de esporte e/ou lazer, por ser um animal de categoria
diferenciada, recebe atenção condizente quanto à saúde geral.
Sendo assim o objetivo desde trabalho e verificar e quantificar as formas de manejo sanitário dos
pecuaristas da região centro oeste em relação a equideocultura.

Material e Métodos
Foram entrevistados 13 criadores de cavalo pantaneiro durante o evento da Expo Grande realizado
no dia 25 de abril de 2014 no Parque de exposição Laucidio Coelho na cidade de Campo Grande, Mato
Grosso do Sul.
O questionário utilizado foi ajustado segundo metodologia proposta por Selltiz et al. (1967). As
questões abordaram os seguintes temas: tipo de exploração, número de equinos, critérios de utilização de
anti-helmínticos, categorias animais tratadas, número de tratamentos por ano, princípio ativo utilizado,
conhecimento sobre métodos de controle, grau de importância das parasitoses no rebanho e formas de
assistência técnica.

Resultados e Discussão
Pela análise dos resultados verificou – se que 76,89% das propriedades se encontra na região do
pantanal, sendo 100% dessa tropa e de serviço, utilizado com a lida do gado devido a isso ocorre pastejo
consorciado de 84,61%. Observando que a principal atividade econômica das propriedades e da
bovinocultura, a equídeo ocupa 15,3% como uma fonte de renda para estes proprietários. 76,8% das
propriedades contém uma tropa superior a 100 animais. Os proprietários têm preferencias para as drogas
com princípio ativo de ivermectina (72%), benzimidazoís (36%) e organofosforado (27%), sendo que usa
uma e outra. Destes 11% utilizam pastas para equinos, e 2% utilizam o mesmo medicamento de bovinos
para equinos, sendo que 40% dão preferência por fazer de 2 a 3 tratamentos ano, as messes de predileção
e maio, julho e outubro para a verminose. Quando se observa o tratamento para ectoparasitas eles dão
autonomia para o funcionário quando este achar que convém tratar. E os meses mais tratados são janeiro,
fevereiro, maio, junho, setembro, novembro, dezembro.

Figura 1. Percepção do grau de importância de diferentes parasitoses em equinos dada por criadores de
cavalos Pantaneiros, Mato grosso do Sul, 2014.

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Conclusões
As diversas técnicas de controle das parasitoses da tropa equina são desconhecidas da maioria dos
pecuaristas, os quais não percebem na totalidade os prejuízos provocados pelas endoparasitoses e
ectoparasitose. As estratégias de controle de helmintos em equinos dependem de um processo de
educação sanitária continuada dos agentes envolvidos, a fim de se estabelecer um conhecimento coletivo.

Literatura Citada
CEPEA (Centro de Estudos em Economia Aplicada Esalq/Usp) e CNA (Confederação da agricultura do
Brasil) Estudo do complexo do agronegócio cavalo, 2006.
Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa,
vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
SELLTIZ, C. Métodos de pesquisa nas relações sociais. 2 ed. São Paulo: USP, 1967. 687 p.

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AVALIAÇÃO DA MICROBIOTA DA CAVIDADE ORAL DE CÃES

Talita de Queiroz Florentino1, Victor Hugo Brito1, Cássia Rejane Brito Leal2

¹ Alunos do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS, E-mail: talitadeqf@hotmail.com; victormedvethugo@gmail.com


2
Professora da FAMEZ/UFMS. E-mail: cassia.leal@ufms.br

Resumo: Os freqüentes acidentes por mordedura de cães, entre animais ou entre o animal e o ser humano,
relacionam-se ao risco de transmissão de patógenos. Isso gera a necessidade de se conhecer a microbiota
da cavidade oral dos animais. Com base nessa necessidade o experimento foi realizado com 21 cães
atendidos no Hospital Veterinário da FAMEZ – UFMS. As amostras provenientes da cavidade oral foram
coletadas por meio de um swab estéril e transportadas imediatamente ao Laboratório de Bacteriologia da
FAMEZ-UFMS para análise bacteriológica. Foram semeados em agar infusão de cérebro e coração (BHI)
e incubadas em estufa a 37ºC por 24 horas. As colônias bacterianas foram isoladas e identificadas por
meio da coloração de Gram e testes bioquímicos. Ao todo foram obtidos 38 isolados bacterianos distintos,
distribuídos em nove diferentes espécies. Apenas para um animal o resultado foi negativo. As duas
espécies bacterianas isoladas com maior freqüência foram Acinetobacter lwoffii (39%) e Staphylococcus
intermedius ( 21%.)

Palavras-chave: Mordedura, bactérias, cão

MICROBIOTA ASSESSMENT OF ORAL CAVITY OF DOGS

Abstract: Accidents by biting dogs, between animals or between animal and man are linked to risk of
pathogen transmission. Because of this it’s necessary to know the microbiota of the oral cavity of
animals. The experiment was conducted with 21 dogs treated at the Veterinary Hospital of FAMEZ -
UFMS. The samples from the oral cavity were collected through a swab sterile and transported
immediately to the Bacteriology Laboratory of FAMEZ-UFMS for analysis. They were plated on agar
brain heart infusion (BHI) and incubated at 37ºC for 24 hours. Bacterial colonies were isolated and
identified by Gram staining and biochemical tests. There were 38 different isolates distributed in nine
different species. For one animal the result was negative. The two bacterial species most frequently
isolated were Acinetobacter lwoffii (39%) and Staphylococcus intermedius(21%).

Keywords: Biting, bacteria, dog

Introdução
Mordeduras provocadas tanto por animais domésticos quanto por animais selvagens, e até mesmo
humanos, se expressam por uma significativa parte da porcentagem dos atendimentos médicos de
urgência. Estes acidentes ocasionam complicações como processos hemorrágicos do local e traumas por
lacerações da pele e região, culminando em infecções que são agravadas pela presença de diversas
bactérias inoculadas nas lesões (JUNIOR, et al. 2013).
Nos Estados Unidos estima-se que foram gastos 53,9 milhões dólares em despesas com
internações e procedimentos com pacientes que sofreram agressões por cães. Em média são gastos 18.200
dólares para manter esses pacientes internados, além dos custos com os procedimentos profiláticos
antirrábicos (Holmquist e Elixhauser, 2010).
Em Campo Grande as agressões por cães levaram 1489 pessoas a procurarem os Centros
Regionais de Saúde entre os meses de janeiro a maio de 2015, com uma média mensal de 297,8 registros.
Houve crescimento desses ataques, comparado com o mesmo período do ano anterior, no qual foram
registrados 1423 protocolos, com uma média de 284,6 de casos por mordedura de cães
(PMCG/SESAU/Relatórios do CCZ 2014; PMCG/SESAU/Relatórios do CCZ 2015).
Este trabalho foi executado devido a importância de se conhecer a microbiota da cavidade oral dos
cães, fornecendo assim o conhecimento sobre prováveis complicações que podem ocorrer após os
acidentes por mordedura causados pelos animais.

Material e Métodos
As amostras foram coletadas da cavidade oral de 21 cães atendidos no hospital veterinário da
UFMS. Não foi realizada seleção em função da idade, raça ou sexo do animal. Optou-se por animais de

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temperamento dócil devido ao local de coleta da amostra. Esta pesquisa foi submetida e autorizada pelo
comitê de ética para o uso de animais da UFMS, sob o número do protocolo nº 673/2015. O material foi
obtido por leve fricção de um swab estéril na linha horizontal entre a gengiva e os dentes dos animais. Os
swabs foram acondicionados em envoltório estéril e imediatamente transportados ao laboratório de
bacteriologia da FAMEZ-UFMS para análise bacteriológica. As amostras foram semeadas em agar
infusão de cérebro e coração (BHI) e incubadas a 37ºC por 24 horas. As colônias foram isoladas por meio
de repiques em agar BHI e a identificação foi realizada pelas características morfotintoriais na coloração
de Gram e por meio de testes bioquímicos específicos para cada grupo. Os métodos para a identificação e
meios utilizados foram de acordo com Winn Jr, 2008 e o manual de microbiologia clínica para o controle
de infecções em serviços de saúde da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Resultados e Discussão
Foram coletadas 21 amostras de cães, sendo 20 positivas para isolamento bacteriano e uma
negativa. Entre as 20 amostras com cultivos positivos foi possível obter 37 diferentes isolados. Cada
amostra positiva teve um crescimento de até três colônias diferentes. Entre as bactérias isoladas a maior
prevalência foi de bactérias Gram negativas (62%), sendo 39% da espécie Acinetobacter lwoffii. As
bactérias Gram positivas representaram 38% dos isolamentos, sendo o Staphylococcus intermedius a
espécie mais frequente (21%). Também foram isoladas outras Gram negativas como Moraxella spp 8%
(3); Sphingonomas paucimobilis 8% (3); Enterobacter agglomerans 3% (1); Acinetobacter haemolyticus
43% (1). Entre as Gram positivas também foi possível isolar: Staphylococcus hyicus 8% (3);
Streptococcus sp 5% (2) e Bacillus sp 3% (1) (Gráfico 1).

Gráfico 1- Resultado da avaliação bacteriológica de amostras obtidas de cavidade oral de cães, atendidos
no Hospital Veterinário da FAMEZ - UFMS. Freqüência em percentual.

Quanto ao perfil dos cães usados no experimento, verificou-se um equilíbrio em relação ao sexo,
sendo 52% (11) fêmeas e 48% (10) machos. As raças tiveram uma variação sendo 62% (13) sem raça
definida (SRD), 14% (3)Poodle, 9% (2) Pinscher, 5% (1) Labrador, 5% (1) Lhasa Apso e 5% (1) Pitbull.
Ocasionalmente a variação de idade dos cães foi entre dois meses até 14 anos de idade, três cães possuíam
até um ano, oito entre dois a cinco anos e outros oito cães com idade entre seis a 10 anos e dois cães com
mais de 11 anos.
A maioria das bactérias encontradas nesse experimento são de origem do ambiente ou da
composição normal da microbiota presente na pele e mucosas dos animais e humanos, apresentando
importância clinica geralmente apenas quando inoculada, sendo carreadas a outros sistemas e órgãos por
oportunismo. O trabalho de Fonseca, et al. (2011) tem semelhanças quanto aos resultados obtidos quando
comparado com esse experimento. Os autores relataram uma considerável freqüência do gênero
Staphylococcus sp.e a presença de outras bactérias, como Bacillus sp. e Streptococcus SP., que também

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foram isoladas neste trabalho. Já a análise feita na Universidade da Carolina do Norte dos Estados Unidos
elaborado por Rhea, et al. (2014), obteve dos ferimentos feitos por mordedura de cães as bactérias
Pasteurella multocida e Pasteurella canis, resultado destoante em relação a este experimento por
provável diferença climática e ambiental entre os países.

Conclusões
Amostras da cavidade oral de cães atendidos no Hospital Veterinário da FAMEZ-UFMS revelaram
uma freqüência maior da bactéria Gram negativa Acinetobacter lwoffii seguida pela bactéria Gram
positiva Staphylococcus intermedius. O estudo ressalta a necessidade de se aprofundar a pesquisa sobre a
microbiota da cavidade oral dos cães e possíveis complicações que esses microrganismos possam causar
em acidentes por mordeduras.

Literatura Citada
HOLMQUIST, L. AND ELIXHAUSER, A.; Emergency Department Visits and Inpatient Stays Involving
Dog Bites, 2008; Agency for Healthcare Research and Quality, Rockville, MD.; November, 2010.
Disponível em <http://www.hcup-us.ahrq.gov/reports/statbriefs/sb101.pdf>. Acessado em 18/08/2015
JUNIOR, V. H.; NETO, M. F. DE C.; MENDES, A. L.; Mordeduras de animais (selvagens e domésticos)
e humanas.RevPatolTrop, Vol. 42 (1): 13-19. Jan.-mar., 2013
WINN Jr, W.C.; KONEMAN, E.W.; ALLEN, S.D.; JANDA, W.M.; PROCOP, G.W.;
SCHRECKENBERGER, P.C.; WOODS, G.L. Diagnóstico Microbiológico: texto e atlas colorido. 6. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 1465 p. ISBN 978-85-277-1377-1
PMCG/SESAU/Relatórios do CCZ 2014; PMCG/SESAU/Relatórios do CCZ 2015.
RHEA, S.; WEBER, D. J.; POOLE, C.; CAIRNS, C.; Risk Factors for Hospitalization After Dog Bite
Injury: A Case-cohort Study of Emergency Department Visits; Academic Emergency Medicine;
Volume 21, Issue 2, pages 196–203, February 2014.
VELOSO, R. D.;AERTS, D. R. G. DE C.; FETZER, L. O.; ANJOS, C. B. DOS; SANGIOVANNI, J. C.;
Perfil epidemiológico do atendimento antirrábico humano em Porto Alegre, RS, Brasil. Ciênc. saúde
coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n.12, p.4875-4884, 2011.

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SÍNDROME DO GATO PARAQUEDISTA – RELATO DE CASO

Leandro Menezes Santos1; Nathalia Guedes de Oliveira2; Gustavo Gomes de Oliveira3; Gabriel Utida
Eguchi4; Desireé Reis de Oliveira5; Paulo Antonio Terrabuio Andreussi6; Paulo Henrique Affonseca
Jardim7; Eric Schmidt Rondon8

1Médico Veterinário Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS


2Aluno de curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS.
3 Médico Veterinário Residente em Patologia Clínica Veterinária/ FAMEZ-UFMS
4 Médico Veterinário Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS
5 Médico Veterinário Residente em Diagnóstico por Imagem / FAMEZ-UFMS
4 Docente em Diagnóstico por Imagem / FAMEZ-UFMS
5 Médico Veterinário em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS
6 Docente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS

Resumo: A síndrome de quedas de grandes alturas é apresentada pela queda de gatos de alturas elevadas,
causando traumas e fraturas em membros além de lesões torácicas e abdominais. As lesões mais perigosas
são entre o segundo e sexto andar, sendo que em quedas de altura intermediária a probabilidade de saírem
ilesos aumenta. O mecanismo está na habilidade dos gatos se prepararem para o impacto porém quando
caem de lugares baixos não possuem tempo suficiente para executá-la e distribuir as forças nos membros
e saem lesionados. O objetivo desse relato de caso é descrever brevemente a síndrome do gato
paraquedista e relato de caso de dois animais atendidos em julho de 2015 no Hospital Veterinário –
UFMS.

Palavras-chave: Traumatologia; Fratura; Felinos; Ortopedia;

HIGH-RISE SYNDROME IN CAT – CASE REPORT

Abstract: The falls from great heights syndrome is presented by cats falling from high places, causing
trauma and fractures in members as well as thoracic and abdominal injuries. The most dangerous injuries
are between the second and sixth floor, and at an intermediate height decreases the likelihood of leaving
unharmed increases. The mechanism is the ability of cats to prepare for the impact but when they fall
from low places do not have enough time to implement it and distribute the forces on the limbs and leave
injured. The purpose of this case report is to briefly describe the paratrooper cat syndrome and case report
of two animals met in July 2015 at the Veterinary Hospital - UFMS.

Keywords: Traumatology; Fracture; Felines; Orthopedics

Introdução
A síndrome do gato paraquedista ou high- rise syndrome (síndrome de quedas de grandes alturas)
é caracterizada pela queda de gatos de grandes alturas, causando lesões como trauma facial, fraturas de
extremidades, luxações traumáticas, fratura de palato duro, lesões torácicas e abdominais (Souza, 2003;
Fossum, 2008). Os gatos com reflexos posturais intactos corrigem a postura corporal durante a queda
(Souza, 2003). Nunes (2009) encontrou 40% de casos devido a quedas e 60% devido a atropelamentos em
trabalho realizando com animais (cães e gatos) traumatizados atendidos no Hospital veterinário do Porto
em Lisboa. Esses dados reforçam a importância da síndrome do gato paraquedista na rotina veterinária
atual. O objetivo deste trabalho é relatar dois casos da síndrome do gato paraquedista atendidos no
Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ) em julho de 2015.

Material e Métodos
Foram atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul/FAMEZ, dois casos com suspeita de síndrome do gato paraquedista em julho de 2015. Deu entrada ao
hospital, um felino, fêmea, com oito meses de idade apresentando o histórico de claudicação de membro
anterior esquerdo após queda do segundo andar. No exame físico foi observado crepitação em região
carpometacárpica esquerda, muscosas normocoradas, frequência cardíaca de 132 batimentos por minuto
(bpm), frequência respiratória de 18 movimentos por minuto (mbp), temperatura retal de 38,7ºC, sendo
confirmado através de exame radiográfico fratura completa de metacarpianos e estabilizado com tala de
Robert-Jones modificada. O segundo paciente, um felino, macho inteiro, com dois anos de idade deu

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entrada ao hospital apresentando histórico de claudicação de membro posterior direito após queda do
terceiro andar. Ao exame físico o mesmo apresentava crepitação em região femoral, mucosas
normocoradas, frequência cardíaca de 148 bpm, frequência respiratória de 26 mpm, sendo evidenciado
em exame radiológico fratura completa de fêmur direito. O mesmo foi estabilizado com tala de Robert-
Jones modificada e encaminhado para procedimento cirúrgico.

Resultados e Discussão
A gravidade das lesões dependem da altura que o animal cai e o tempo decorrido entre o acidente e
o atendimento veterinário. Em alturas menores que seis andares as lesões estão concentradas nos
membros (fraturas e luxações) enquanto que em alturas superiores os animais sofrem lesões internas mais
graves (traumas cardíacos e pulmonares) (Souza, 2003). Nos dois casos apresentados no presente
trabalho, os animais sofreram somente lesões em membros, concordando com o descrito por Souza
(2003), uma vez que os animais possuíam histórico de quedas do segundo e terceiro andar.
A diferença dos locais das lesões está relacionado com a altura que o animal cai devido ao
posicionamento durante a queda (figura 1), uma vez que em alturas maiores o animal tende a afastar os
membros na tentativa de aumentar a residência do ar e assim diminuir a velocidade de aceleração
(posição de esquilo voador), enquanto que em alturas menores o individuo não possui tempo suficiente
para abrir os membros, caindo com mesmos diretamente no solo (Souza, 2003). Consequentemente, em
gatos que caem de andares mais altos as lesões são também menos graves, porque a mesma energia de
impacto se distribui sobre uma maior área corporal. De acordo com Souza (2003), o tórax como recebe
grande parte do impacto inicial, lesões pulmonares, pneumotórax e hemotórax são frequentes e, se não
tratados adequadamente, aumentam de forma não justificável a mortalidade.

Figura 1 – Mecanismo de queda do gato paraquedista. Fonte: Modificado de Souza, 2003.

Segundo Piermattei et al (2009) e Fossum (2008), as fraturas dos ossos metacarpianos ocorrem em
todas as regiões anatômicas do osso: a base (extremidade proximal), a diáfise e a cabeça (extremidade
distal), elas podem resultar de um golpe ou força direta na pata ou de lesões de hiperextensão (como no
caso de quedas). Fraturas de avulsão da base ocorrem frequentemente nos 2º e 5º ossos, devido essas
áreas serem pontos de inserção ligamentar, fraturas do segundo metacarpiano podem resultar em graus
variáveis de deslocamento valgo (lateral) do pé, podendo ocorrer deslocamento varo (medial) nas fraturas
do quinto metacarpiano.
Em casos onde a redução fechada e a fixação externa são utilizadas, uma tala moldável ou gesso
de fibra de vidro são aconselháveis. A sustentação óssea é grandemente melhorada com o uso destes
dispositivos, uma vez que eles são moldados no próprio membro afetado e devem ser mantidos no animal
até que seja constatada consolidação, o que ocorre tipicamente entre 4 a 8 semanas, variando conforme a
idade do animal (Piermattei et al, 2009).
Segundo Piermattei et al (2009), o fêmur possui a maior incidência de fraturas, podendo chegar a
25% de todas as fraturas na clínica veterinária. Para o tratamento cirúrgico de fraturas em fêmur podem
ser utilizados pinos intramedulares, hastes bloqueadas, fixador esquelético externo e placas ósseas, sendo

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escolhido o sistema de implante a partir da avaliação da fratura. Pensos de gesso e talas não são
recomendados para fraturas femorais, pela dificuldade de estabilização adequada utilizando estes
métodos.
A redução aberta e fixação interna são indicadas, devido à carga excêntrica exercida sobre o fêmur
durante a sustentação do peso. O pino intramedular pode ser usado para a estabilização de fraturas
diafisárias femorais com excelente resistência a flexão, porem não resiste a forças rotacionais ou carga
axial, sendo necessário o uso de suporte rotacional e axial para a maioria das fraturas (Fossum, 2008,
Piermattei et al, 2009).

Conclusões
As diferentes lesões ocorridas após o trauma irão determinar o tratamento a ser elaborado para
cada paciente. Devido à restrição literária sobre essa síndrome, o trabalho apresentado colabora com o
enriquecimento sobre o tema.

Literatura Citada
Souza, H. J. Medicina e cirurgia felina. Rio de Janeiro: L. F. Livros de Veterinária,2003, p.475.
Fossum, T. W. et al. Cirurgia de pequenos animais. Rio de Janeiro: Elsevier,2008, p. 1606.
NUNES, B. F. F. Trauma torácico : fisiopatologia e prevalência de lesões intra-torácicas em canídeos e
felideos politraumatizados no Hospital Veterinário do Porto : utilidade da troponina cardíaca I no
diagnóstico de lesões intra-torácicas. Dissertação de Mestrado. Universidade Técnica de Lisboa,
Faculdade de Medicina Veterinária, Lisboa. 2009
Piermattei, D.L; Flo, G.L.; DeCamp, C.E. Ortopedia e tratamento de fraturas em pequenos animais.
4ed. Barueri, SP: Manole, 2009.

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TÉCNICA DE ESTABILIZAÇÃO ATRAVÉS DE FIXADOR EXTERNO TIPO II EM SERIEMA


(Cariama cristata) APRESENTANDO FRATURA TÍBIO-TARSICA

Lucas Bezerra da Silva Azuaga1; Leandro Menezes Santos2; Karen Fernanda da Silva3; Simone Marques
Caramalac4; Paulo Henrique Affonseca Jardim5; Claudia Regina Macedo Coutinho Netto 6; Paulo Antoni
Terrabuio Andreussi7; Eric Schmidt Rondon8

1Médico Veterinário Centro de Reabilitação de Animais Silvestres


2Médico Veterinário Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS
3Médico Veterinário Residente em Anestesiologia e Emergência veterinária / FAMEZ-UFMS
4Aluno de curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS.
5Aluno de curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS.
6 Médico Veterinário Centro de Reabilitação de Animais Silvestres
7 Docente em Diagnóstico por Imagem / FAMEZ-UFMS
8 Docente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais / FAMEZ-UFMS

RESUMO: Atualmente observa-se grande interesse na preservação da vida selvagem aumentando o


interesse em reabilitar animais que sofreram algum tipo de traumas ocasionando fraturas. Para redução de
uma fratura, deve-se considerar o seu objetivo, o local da lesão, o tamanho da ave, o tempo de evolução, o
tipo de fratura e a presença de problemas intercorrentes, a idade do paciente e o conhecimento e a
habilidade do cirurgião. Os princípios de osteossíntese em pássaros são os mesmos que os dos mamíferos:
fixação rígida, alinhamento anatômico, aposição de fragmentos, assepsia e rápido retorno à função. O
presente trabalho tem como objetivo relatar o caso de estabilização de fratura tibiotarsica em seriema
(Cariama cristata) através da técnica de Fixador Externo tipo II atendido no Hospital Veterinário da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ).
Palavras chave: Ortopedia; Traumatologia; Animais selvagens

Abstract: Currently there is great interest in preserving wildlife increasing interest in rehabilitating
animals that suffered some type of trauma causing fractures. To reduce a fracture, you should consider
your goal, the site of the lesion, the size of the bird, the time of evolution, the type of fracture and the
presence of intercurrent problems, the patient's age and the knowledge and skill the surgeon. The
principles of osteosynthesis in birds are the same as those of mammals: rigid fixation, anatomical
alignment, affixing fragments, aseptic and quick return to function. This study aims to report a case of
hock fracture stabilization in seriema (Cariama cristata) through External Fixer technique type II the
Veterinary Hospital of the Faculty of Veterinary Medicine and Zootechny (FAMEZ).
Keywords: Orthopedics; Traumatology; Wild animals

Introdução
Atualmente, no Brasil e no mundo, se observa grande interesse na preservação da vida selvagem.
Isso vem aumentando o interesse em reabilitar animais que sofreram algum tipo de traumas ocasionando
fraturas. As aves se destacam neste grupo, apresentando, não esporadicamente, uma variedade de
doenças, das quais, alguns requerem resolução cirúrgica (PACHALY 2004).
Para redução de uma fratura, deve-se considerar o seu objetivo, o local da lesão, o tamanho da ave,
o tempo de evolução (aguda ou crônica), o tipo de fratura (simples ou cominutiva, exposta ou infectada),
a presença de problemas intercorrentes, a idade do paciente e o conhecimento e a habilidade do cirurgião
(RUPLEY, 1999).
Após a osteossíntese, as aves sofrem modificações no esqueleto que poderão atrapalhar o vôo;
estas incluem perda ou fusão de ossos, redução da espessura cortical e pneumatização das cavidades
medulares. Os princípios de osteossíntese em pássaros são os mesmos que os dos mamíferos: fixação
rígida, alinhamento anatômico, aposição de fragmentos, assepsia e rápido retorno à função (DEGERNES
et al., 1998).
O presente trabalho tem como objetivo relatar o caso de estabilização de fratura tibiotarsica em
seriema (Cariama cristata) através da técnica de Fixador Externo tipo II atendido no Hospital Veterinário
da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FAMEZ).

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Relato de Caso
Neste relato foi utilizado fixador externo tipo II em seriema (Cariama cristata) com fratura
comunitiva em terço médio de tíbio-tarso. O animal chegou ao Centro de Reabilitação de Animais
Silvestres em Campo Grande - MS com histórico de atropelamento em uma rodovia. Ao exame físico o
mesmo apresentava sinais de estresse e dor causados pelo acidente. Constatou-se fratura exposta em
tibiotarso esquerdo, sendo estabilizada com bandagem adaptada de Ehmer e o animal encaminhado para o
hospital veterinário FAMEZ/UFMS para exames radiográficos e posteriormente estabilização cirúrgica.
Ao exame de imagem foi evidenciado fratura cominutiva em terço médio de tibiotarso esquerdo,
sendo optado a estabilização cirúrgica através de fixador externo tipo II. Como protocolo anestésico
utilizou Cetamina S (10mg/kg) associado de Midazolam (1mg/kg) e Butorfanol (0,4mg/kg) por via
intramuscular. Foi induzido com Isoflurano através de máscara e seguido de intubação endotraqueal com
tubo nº 04 e manutenção utilizando Isoflurano. Foi realizado fixação através de fixador externo tipo II
modificado com pino intramedular e fixado com resina autopolimerizável. Após procedimento cirúrgico o
mesmo ficou imbolizado por 7 dias com tala Ehmer modificada.

Resultados e Discussão
A localização anatômica da tíbia reflete a possibilidade de utilização de uma variedade de técnicas,
como bandagens, pinos intramedulares, fixadores esqueléticos externos, placas e parafusos ósseos na
reparação de fraturas (DENNY; BUTTERWORTH, 2006)
De acordo com EGGER (1993), foram classificados os aparelhos de fiação externa em três tipos:
a) Tipo I, aparelhos nos quais os pinos atravessam as duas corticais do osso, mas não se insinuam no lado
oposto do membro, sendo fixados unilateralmente por uma barra de metal ou de acrílico; b) Tipo II,
aparelhos nos quais os pinos, além de atravessar as duas corticais ósseas, atravessam ainda os tecidos
moles do lado oposto, sendo fixados bilateralmente por barras de metal ou acrílico; c) Tipo III, aparelhos
constituídos por uma associação dos tipos anteriores, tomando uma forma tridimensional.

Conclusões
O método de redução de fratura utilizado mostrou ser eficaz na espécie em questão, por
proporcionar estabilidade local durante o período de reparação óssea e permitir um retorno precoce da
função do membro.

Literatura Citada
DEGERNES L.A., ROE S.C. & ABRAMS C.F. Holding power of different pin designs and pin insertion
methods in avian cortical bone. Vet. Surgery 27(4):301-306. 1998
DENNY, H. R.; BUTTERWORTH, S. J. Opções de tratamento das fraturas. In: ______. Cirurgia
ortopédica em cães e gatos. 4. ed. São Paulo: Roca, 2006. p. 67-102.
Egger E.L. 1966. Fixação esquelética externa, 1944-1966. In: Sllater D. (ed.), Manual de Cirurgia de
Pequenos Animais. Vol.2. 2ª ed. Manole, São Paulo.
Pachaly J.R. 2004. Medicina de répteis. Ciênc. Anim. Bras. 5(Supl.):36-38.
RUPLEY, A.E. Sinais músculo-esqueléticos. In: Manual de cirurgia aviária. São Paulo: Roca, 1999.
Cap.12,
p.220-255.

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PROLAPSO VAGINAL EM OVELHA GESTANTE – RELATO DE CASO

Carolina Fazoli Okada1, Marina de Carvalho Cavalcanti2, Rodrigo Madruga da Silva3,


Luis Guilherme Pereira Guerra4, Paulo Antonio Terrabuio Andreussi5
1
Residente de Ginecologia e Obstetrícia da UFMS/FAMEZ. Email: krouokada@hotmail.com
2
Residente de Ginecologia e Obstetrícia da UFMS/FAMEZ. Email: marinacavalcanti89@gmail.com
3
Residente de Clínica e Cirurgia de Grandes Animais da UFMS/FAMEZ. Email: madruga_vet@hotmail.com
4
Residente de Clínica e Cirurgia de Grandes Animais da UFMS/FAMEZ. Email: medvet.guilherme@gmail.com
5
Professor de Diagnóstico por Imagem e Obstetrícia Veterinária da UFMS/FAMEZ. Email: pauloandreussi@hotmail.com

Resumo: O presente estudo teve como objetivo relatar um caso de prolapso vaginal em uma ovelha
gestante atendida pelo setor de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia – UFMS, em Campo Grande. O tempo decorrido entre a observação, pelo proprietário, do
órgão prolapsado e o atendimento do animal foi de aproximadamente seis horas, este se encontrava em
boas condições gerais, apresentando gestação gemelar em terço final. Foi realizada anestesia epidural
sacrococcígea, antissepsia do local com posterior reposicionamento da vagina e sutura de Bühner. O
animal recebeu antibioticoterapia de amplo espectro tendo total recuperação, com retirada da sutura de
Bühner após 15 dias. Não houve recidiva da afecção nos dias subsequentes, ocorrendo parto normal, sem
intercorrências, 31 dias depois.

Palavras-chave: ovino, sutura de Bühner, pequeno ruminante

VAGINAL PROLAPSE IN A PREGNANT EWE - CASE REPORT

Abstract: This is a case report of vaginal prolapse in a pregnant ewe examinated by the gynecology and
obstetrics department of the FAMEZ - UFMS in Campo Grande. The prolapse was noticed by the owner
six hours before the animal received veterinary assistance, the ewe was in good general condition, in the
last trimester of twin pregnancy. Sacrococcygeal epidural anesthesia was performed after local
disinfection and subsequent repositioning of the vagina and Bühner suture. The animal received broad
spectrum antibiotics having full recovery and removal of Bühner suture in 15 days. Vaginal prolapsed did
not reoccur following repositioning of the vagina and parturition occurred without complications 31 days
later.

Keywords: Bühner suture, sheep, small ruminant

Introdução
As complicações obstétricas causam significativas perdas econômicas na espécie ovina (Majeed &
Taha, 1995), decorrentes da mortalidade de matrizes e neonatos. Levantamento realizado com ovelhas no
Agreste e Sertão de Pernambuco, região Nordeste do Brasil, mostrou que dos 60 casos de distocia
atendidos, quatro apresentavam dilatação cervical insuficiente e prolapso vaginal, correspondendo a
6,67% do total de distocias atendidas (Câmara et al., 2009). Outro estudo realizado no Distrito Federal
entre 2001 a 2006 apontou o prolapso uterino/vaginal como sendo a vigésima doença mais acometida
pelos ovinos dentre todas diagnosticadas, correspondendo a 1,42% do total de 68 afecções diferentes
(Borges et al., 2007).
Os prolapsos vaginais, classificados em parciais ou totais de acordo com a exposição cervical
(Grunert & Birgel, 1984; Noakes et al., 2001), caracterizam-se pelo relaxamento da fixação da vagina na
cavidade pélvica, permitindo modificação da posição da parede vaginal com saída e exteriorização da
mucosa através da rima vulvar (Prestes & Landim-Alvarenga, 2006).
Os prolapsos vaginais possuem grande importância econômica, pois podem ocasionar
abortamento; baixa eficiência reprodutiva; perda de matrizes, que podem ser de alto valor zootécnico;
aumento das taxas de mortalidade perinatal e distocias. As fêmeas ovinas são mais acometidas que as
fêmeas bovinas e caprinas (Alves et al., 2013).
As causas determinantes para a ocorrência dos prolapsos vaginais e uterinos nos ovinos ainda não
estão bem esclarecidas, entretanto sabe-se que há fatores predisponentes para a sua ocorrência (Alves et
al., 2013).

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O tratamento de escolha para os prolapsos vaginais em ovelhas dependerá da causa, gravidade e


tempo de gestação (Prestes & Landim-Alvarenga, 2006). Em algumas situações quando é realizada a
reintrodução da área prolapsada, pode ser necessária a intervenção cirúrgica para assegurar que não tenha
reincidência do prolapso, entretanto, nesses casos, deve-se atentar ao período pré-parto (Prestes &
Landim-Alvarenga, 2006). A aplicação de anestesia epidural utilizando-se lidocaína a 2% ou esta
associada à xilazina é fundamental para o sucesso na redução do prolapso (Scott & Gessert, 1997; Prestes
& Landim-Alvarenga, 2006). A anestesia epidural pode ou não ser acompanhada de intervenção
cirúrgica. A sutura de Bühner é a técnica cirúrgica mais utilizada em ruminantes devido à sua praticidade
e eficiência (Prestes & Landim-Alvarenga, 2006).
O objetivo deste trabalho foi relatar um caso de prolapso vaginal em uma ovelha gestante
descrevendo o tratamento realizado e sua recuperação.

Material e Métodos
Foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul no dia 13 de agosto de 2015 às 14:00 horas, pelo setor de
Ginecologia e Obstetrícia, um ovino, fêmea, da raça Texel, com três anos de idade, com 50 kg de peso
corporal.
Na anamnese o proprietário relatou ter ocorrido exteriorização da vagina na manhã do mesmo dia,
negando a ocorrência dessa afecção em gestações anteriores. Ao exame físico o animal não apresentava
comprometimentos sistêmicos ou lesões que pudessem inviabilizar o tecido vaginal prolapsado.
Foi realizada anestesia peridural baixa (sacrococcígea) utilizando lidocaína 2% sem
vasoconstrictor (0,25 ml/kg) após correta tricotomia e desinfecção do local. A limpeza foi feita com água
e detergente seguida de antissepsia com solução de iodopovidine, para então efetuar-se a reintrodução
manual cuidadosa da vagina e realizar sutura de Bühner com fio de nylon 2.
Foi instituída antibioticoterapia à base de penicilina e estreptomicina, na dose de 22.000 UI por kg
a cada 48 horas, totalizando três aplicações. O animal permaneceu em observação em recinto individual
durante 15 dias, sendo realizado exame gestacional por ultrassonografia e curativo diário do local
suturado, para então ser liberado à propriedade de origem após remoção da sutura de Bühner.

Resultados e Discussão
Segundo Prestes & Landim-Alvarenga (2006), ao exame físico, a ovelha com prolapso vaginal ou
uterino pode apresentar anorexia, perda de peso, baixo escore de condição corporal, taquisfigmia e
fraqueza, causada por exaustão e esforço constante. Dependendo do tempo de duração do prolapso e do
grau de lesões no tecido prolapsado, esses animais podem apresentar sinais de endotoxemia e septicemia
pelo estado necrótico e contaminado do tecido exposto. Nestes casos, o animal fica dispneico, a
respiração torna-se abdominal e as mucosas oculares ficam avermelhadas com os vasos episclerais
ingurgitados.
No presente caso não foram observados tais sinais clínicos provavelmente devido à rapidez com
que o animal foi atendido, decorrido pouco tempo do início do prolapso até sua redução, não havendo
sinais de necrose e lesões com alto grau de contaminação que pudessem causar alterações sistêmicas.
Fatores predisponentes para a ocorrência de prolapsos vaginais em ovelhas incluem: disfunções
hormonais; hipocalcemia; aumento da pressão intra-abdominal causada por gestações gemelares,
obesidade, hidropisia dos envoltórios fetais e/ou timpanismo; uso de estrógenos como anabolizantes;
fornecimento de alimentos com alto teor de estrógeno; como plantas fitoestrogênicas e alimentos
mofados; predisposição hereditária; defeitos anatômicos; relaxamento exagerado do sistema de fixação da
vagina em fêmeas idosas e/ou multíparas e inflamações na região da vulva e do reto (Alves et al., 2013).
Não foram realizados exames laboratoriais, portanto não é possível constatar alterações
metabólicas ou hormonais no animal atendido. Não foi relatado consumo de alimentos mofados ou com
alto teor de estrógeno, já que o animal era criado a pasto e se alimentava apenas de brachiaria,
apresentando escore corporal normal. O proprietário não soube informar sobre hereditariedade ou
casuística da doença no rebanho, apenas informou que pela idade não se tratava de uma fêmea primípara,
sendo este e a gestação gemelar os únicos possíveis fatores predisponentes encontrados.
Ao exame ultrassonográfico foram observados dois fetos com aproximadamente 90 a 100 dias,
sem alterações dos envoltórios fetais. Além disso, não foram observados defeitos anatômicos que
pudessem predispor à afecção, apenas leve inflamação e edema da mucosa vaginal prolapsada.

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Estudo retrospectivo sobre os prolapsos vaginal e uterino em ovelhas atendidas no Serviço de


Clínica de Bovinos e Pequenos Ruminantes (CBPR) da FMVZ/USP mostrou que existe alta frequência de
prolapsos vaginais e uterinos em ovinos, principalmente no período pós-parto, na estação da primavera e
em fêmeas mais velhas, com mais de quatro anos de idade, sem raça definida (Alves et al., 2013). Tais
dados epidemiológicos não foram observados no presente relato.
Segundo Simões & Quaresma (2003) a anestesia epidural baixa permite evitar resistências do
animal durante a reposição uterina, aliviar o tenesmo e prevenir a defecação durante o tratamento. Nos
ovinos, esta anestesia não é necessária, mas previne pressões de esforço após a redução do útero.
Outros autores apontam a aplicação de anestesia epidural como fundamental para o sucesso na
recolocação do prolapso nos ovinos (Scott & Gessert, 1997; Prestes & Landim-Alvarenga, 2006).
Estudo realizado na Escócia indicou que houve esforço mínimo após a redução de prolapsos
vaginais ou uterinos e não houve recorrência em um grupo de 61 ovelhas estudadas após injeção epidural
sacrococcígea de lidocaína e xilazina (Scott et al., 1994).
No animal estudado a anestesia epidural também foi fundamental, pois este apresentava reflexos
de movimentos expulsivos no primeiro atendimento, provavelmente devido ao incômodo causado pela
vagina edemaciada e irritada que protruía para o exterior. Movimentos estes que cessaram completamente
após realização da anestesia epidural, sem que houvesse necessidade de maiores intervenções.
Durante 15 dias em observação a ovelha não apresentou sinais de tenesmo, ou complicações pós
cirúrgicas sendo, portanto, liberada e realocada na propriedade de origem após remoção da sutura de
Bühner, o proprietário relatou ter ocorrido parto eutócico de ambos os cordeiros no dia 28 de setembro,
sendo que um veio a óbito e o outro se encontra saudável. Não houve recidiva do prolapso durante o
parto, tampouco, no período puerperal.

Conclusões
O sucesso no tratamento decorreu-se do pouco tempo entre a apresentação do quadro e o
atendimento, sem que houvesse maiores complicações ao paciente.
A anestesia epidural se mostrou eficiente na redução do prolapso vaginal bem como a sutura de
Bühner evitando recidivas.
A falta de controle de parto e histórico do animal prejudicaram a análise epidemiológica do caso.
Fazem-se necessários maiores estudos e acompanhamento reprodutivo do rebanho, para melhor
compreensão dos fatores predisponentes que influenciaram a ocorrência do caso em questão e assim
evitar casos futuros no rebanho.

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Literatura Citada
ALVES, M.B.R.; BENESI, F.J.; GREGORY, L. et al. Prolapso vaginal e uterino em ovelhas. Pesquisa
Veterinária Brasileira, v.33, n.2, p. 171-176, 2015.
BORGES, J.R.; MOSCARDINI A.R.C.; TEIXEIRA NETO A.R. et al. Doenças de ovinos no Brasil
Central: Distrito Federal e entorno. In: QUINTO CONGRESSO LATINOAMERICANO DE
ESPECIALISTAS EN PEQUEÑOS RUMIANTES Y CAMÉLIDOS SUDAMERICANOS. Memorias.
Associación Latinoamericana de Especialistas en Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos.
Mendoza, Argentina. 2007.
CÂMARA A.C.L.; AFONSO J.A.B.; DANTAS A.C. et al. Análise dos fatores relacionados a 60 casos de
distocia em ovelhas no Agreste e Sertão de Pernambuco. Ciência Rural, v.39, n.8, p. 2458-2463, 2009.
GRUNERT E. & BIRGEL E.H.. Obstetrícia Veterinária. 2nd ed. Sulina, Porto Alegre, p.82-92, 1984.
MAJEED A.F. & TAHA M.B.. Obstetrical disorders and their treatment in Iraqi Awassi ewes. Small
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NOAKES D.; PARKINSON T. & ENGLAND G. Arthur’s Veterinary Reproduction and Obstetrics.
8th ed. Elsevier Limits, China, 2001.
PRESTES N.C. & LANDIM-ALVARENGA F.C.. Patologias da gestação. In: GONÇALVES R.C. &
VULCANO L.C. Obstetrícia Veterinária. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006, p.149- 154, 182-
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SCOTT P.R. & GESSERT M.E. Management of post-partum cervical uterine or rectal prolapses in ewes
using caudal epidural xylazine and lignocaine injection. Vet. Journal. v.153, n. 1, p. 115-116, 1997.
SCOTT P.R.; SARGISON N.D.; PENNY C.D. et al. The use of combined xylazine and lignocaine
epidural injection in ewes with vaginal or uterine prolapses. Theriogenology, 43 pp. 1175–1178,1995.
SIMÕES, J. & QUARESMA, M. [2003]. Prolapsos uterinos em ruminantes, 2003. Disponível em:
<Http://www.researchgate.net/publication/258293100 > Acessado dia 05/11/2015.

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RENDIMENTO INTRÍNSECO DA ESPERMATOGÊNESE E ÍNDICE DE CÉLULAS DE


SERTOLI EM TOUROS NELORE

Thycianne Rodrigues de Aguilar1, Daniel França Mendonça Silva1, Deiler Sampaio Costa2, Eder Cristian
Queiroz Serrou da Silva1, Fernanda Hvala de Figueiredo1, Gabrielle Ricardes da Silva1, Tailisa de Souza
Silva1, Zelina dos Santos Freire1
1
Núcleo de Produção e Reprodução Animal- NUPRA. E-mail: thycianne@live.com
2
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia- Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Resumo: O propósito deste trabalho foi avaliar o rendimento intrínseco da espermatogênese e o índice de
células de Sertoli em touros Nelore. Utilizaram-se 41 touros sexualmente maduros com idade entre 3 a 5
anos e peso corporal médio de 510,2 ± 21,61kg. Os animais foram orquidectomizados e em seguida os
testículos foram fixados por perfusão tecidual com solução de Karnovsky. Posteriormente os fragmentos
foram incluídos com glicolmetacrilato e corados com solução de azul de toluidina. A média do
coeficiente de eficiência de mitoses espermatogoniais: razão entre o número de espermatócitos primários
em (PL/L) e o número de espermatogônias A foi de 19,74. O rendimento meiótico: razão entre o número
de espermátides arredondadas e o número de espermatócitos primários em paquíteno foi de 2,63. O
rendimento geral da espermatogênese: razão entre o número de espermátides arredondadas e o número de
espermatogônias A foi de .52,0. Cada célula de Sertoli foi capaz de suportar 42,89±6,32 células
germinativas.

Palavras-chave: Parâmetros morfométricos, Touros púberes, Espermatogônias

INTRINSIC EFFICIENCY OF SPERMATOGENESIS AND SERTOLI CELL INDEX OF


NELORE BULLS

Abstract: The aim of this study was to evaluate the intrinsic efficiency of spermatogenesis and Sertoli
cell index of Nelore bulls. We used 41 pubertal bulls aged 3-5 years and mean body weight of 510.2
±21,61 kg.This animals were orchidectomized and then the testes were fixied by tissue perfusion with
Karnovsky solution. Then the fragments were included with glycolmethacrylate stained with toluidine
blue solution. The average of the coefficient mitosis spermatogonial efficiency ratio: ratio of the number
of primary spermatocytes (PL/L) and the number of spermatogonia A was 19,74. The meiotic yield: ratio
of the number round spermatids and the number of primary pachytene spermatocytes was 2,63. The
spermatogonesis efficiency: ratio between the number of round spermatids and the number of
spermatogonia A was 52,0. Each Sertoli cell was able to withstand 42,89 ± 6,32 germ cells.

Keywords: Morphometric Parameters, Pubertal Bulls, Spermatogonia

Introdução
A espermatogênese é um processo sincrônico onde a espermatogônia diploide se diferencia em
célula haploide em altamente especializada, o espermatozoide. Este processo ocorre nos túbulos
seminíferos, nos mamíferos tem duração média de 40 a 60 dias (França e Russell, 1998). De acordo com
Costa e Paula (2003), é fundamental a compreensão do processo espermatogênico para que se possa
otimizar a utilização de um reprodutor.
Assim sendo, ainda não existe um método eficiente, que seja bem aceito pelos produtores, e que
possa ser utilizado para selecionar touros com maior produção espermática diária (PED). Portanto, a
avaliação da espermatogênese possibilitaria selecionar aqueles animais geneticamente superiores,
colaborando sobremaneira com o melhoramento genético da espécie.
Um grande avanço poderia ser alcançado nos estudos de fisiologia reprodutiva dos touros caso
fosse possível utilizar um método menos invasivo e com maior repetibilidade para avaliação de
espermatogênese desses animais. Atualmente, está analise só pode ser feita após orquiectomia para
pesquisa cientifica ou por biopsia testicular, que, no entanto, é vista com muitas restrições pelos
proprietários.
Logo objetivou-se com esta pesquisa avaliar a espermatogênese de touros Nelore. Determinando o
rendimento intrínseco da espermatogênese e o índice de células de Sertoli.

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Material e Métodos
Utilizaram-se 41 touros Nelore púberes, os quais foram orquidectomizados. Os testículos foram
perfundidos com solução fixadora de Karnovsky, e posteriormente incluídos em glicol metacrilato. A fim
estimar a população celular, foram contados os tipos celulares presentes do estádio 1 do ciclo do epitélio
seminífero (CES); bem como a mensuração do diâmetro nuclear foram feitas com auxílio do software,
utilizando- se as imagens microscópicas digitalizadas. O rendimento intrínseco da espermatogênese foi
estimado com base nas razoes encontradas entre os números celulares corrigidos. O índice de célula de
Sertoli foi determinado a partir de razões entre os números corrigidos de células germinativas e o numero
corrigido de células de Sertoli, obtidas no estádio 1 do CES.

Resultados e Discussão
O número médio de cada tipo celular constituinte do epitélio seminífero de túbulos, seccionados
transversalmente, no estádio 1 do ciclo do epitélio seminífero de touros Nelore encontra-se apresentado
na Tab.1.

Tabela 1. População celular no estádio 1 do ciclo do epitélio seminífero de touros Nelore


Tipos Celulares Média ± DP
Células de Sertoli 4,06 ±0,50
Espermatogônias A 1,90 ± 0,22
Espermatócitos primários em pré-leptóteno/ leptóteno 36,87 ± 3,50
Espermatócitos primários em paquíteno 36,83 ± 3,27
Espermátides arredondadas 96,97 ± 18,30

O rendimento intrínseco da espermatogênese, estimado com base nas razões encontradas entre os
números celulares corrigidos obtidos por secção transversal de túbulo seminífero no estádio 1 do CES
encontram-se apresentados na Tab.2.

Tabela 2. Razões entre os números corrigidos de células germinativas por secção transversal de túbulos
seminíferos no estádio 1 do ciclo do epitélio seminífero em touros Nelore
Tipos Celulares Média ± DP
Pré-leptóteno/Leptóteno (PL/L): Espermatogônias A 19,74 ± 3,19
Paquíteno (PQ): (PL/L) 1,00 ± 0,04
Espermátides arredondadas (Ar): PQ 2,63 ± 0,45
Ar: Espermatogônias A 52,05 ± 12,37

Usualmente são utilizadas algumas razões numéricas entre espermatogônias A e os demais tipos
celulares por secção transversal de túbulos seminíferos para caracterizar a eficiência da espermatogênese
(Costa et al., 2004, Costa et al., 2007). Tais razões, além de permitir em comparações entre espécies
diferentes, possibilitam a quantificação das perdas que ocorrem durante os processos de divisão e
diferenciação celular.
Cada célula de Sertoli dos touros avaliados foi capaz de suportar um total de 43 células
germinativas (Tab.3). O índice das células de Sertoli pode ser interpretado como sendo a capacidade de
suporte das células de Sertoli (Russel e Peterson, 1984; Sharpe, 1994). Se tal informação pudesse ser
avaliada por um método não invasivo e alta repetibilidade, poderia ser determinante para escolha ou
descarte de um reprodutor, pois quanto maior a capacidade de suporte de uma célula de Sertoli, maior a
possibilidade de que este indivíduo produza um maior número de espermatozoides por grama de
parênquima testicular (Costa e Paula, 2003).

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Tabela 3. Razões entre os números corrigidos de células germinativas por secção transversal de túbulo
seminífero no estádio 1 do ciclo do epitélio seminífero e de células de Sertoli (CS) em touros Nelore
Tipos Celulares Média ± DP
Espermatogônias A: CS 0,47 ± 0,08
Pré-leptóteno (PL/L): CS 9,20 ± 1,33
Paquíteno (PQ): CS 9,19 ± 1,29
Espermátides arredondadas (Ar): CS 24,04 ± 4,62
Total de Células Germinativas: CS 42,89 ± 6,32

Conclusões
O rendimento geral da espermatogênese: razão entre o número de espermátides arredondadas e o
número de espermatogônias A foi de 52,0. Cada célula de Sertoli foi capaz de suportar 42,89±6,32 células
germinativas.

Literatura Citada
COSTA, D.S.; HENRY, M.; PAULA, T.A.R. Espermatogênese de Catetos (Tayassu tajacu). Arq. Bras.
Med. Vet. Zootec. v.56, p46-51, 2004.
COSTA, D.S.; MENEZES, C.M.C.; TARCÍZIO, A.R.P. Spermatogenesis in white-lipped peccaries
(Tayassu pecari). Animal Reproduction Science. v.98, p.322-334, 207.
COSTA, D.S.; PAULA, T.A.R. Espermatogênese em mamíferos. Scientia, v.4, p.53-72, 2003.
FRANÇA, L.R.; RUSSEL, L.D. The testis of domestic animals. In: REGADERA, J.; MARTINEZ-
GARCIA, F. (Eds). Male reproduction. A multidisciplinary overview. Churchill Livingstone, Madrid.
P.197-219,1998..
RUSSELL, L.D.; PETERSON, R.N. Determination of the alongate spermatid- Sertoli cell ratio in various
mammals. J. Reprod. Fertil. v.70, p 635-64, 1984.
SHARPE, R.M. Regulation of spermatogenesis. In: KNOBIL, E.; NEIL, J.D. (Eds). The physiology of
reproduction, 2ed. Raven Press, N.Y. p.1363-1434, 1994.

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ECOTEXTURA TESTICULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A ESPERMATOGÊNESE DE


TOUROS NELORE

Thycianne Rodrigues de Aguilar1, Caroline Eberhard Buss1, Fábio José Carvalho Faria2, Fernando
Henrique Garcia Furtado1, Francisco Manuel Junior1, Tainara Candida Ferreira1. Zelina dos Santos
Freire1, William Vaniel Alves dos Reis1, Deiler Sampaio Costa2
1
Núcleo de Produção e Reprodução Animal- NUPRA. E-mail: thycianne@live.com
2
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia- Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Resumo: Objetivou-se com esta pesquisa avaliar a ecotextura testicular e suas correlações com a
espermatogênese de touros Nelore. Utilizaram-se 41 touros púberes com idade variando de 3 a 5 anos e
peso corporal médio de 510,2 ± 21,61kg. Os exames ultrassonográficos foram realizados com auxílio de
um aparelho portátil de ultrassonografia. Em seguida os animais foram orquidectomizados e os
fragmentos testiculares fixados em solução de karnovisky e incluídos em resina plástica. A população
celular dos túbulos seminíferos foi avaliada no estádio 1 do ciclo do epitélio seminífero. A média da
intensidade de pixel da área de 1600mm² do parênquima testicular direito, esquerdo e média de
intensidade de pixel entre os dois testículos em cada animal foram respectivamente, 105,22 ± 13,58,
107,95 ± 12,82 e 106,59 ± 11,43. Não houve correlação (p>0,05) entre a ecotextura testicular e nenhum
dos parâmetros morfométricos da espermatogênese mensurados. Conclui-se que a ecotextura não é um
método viável para a avaliação indireta da população celular do epitélio seminífero.

Palavras-Chave: Parênquima testicular, Ultrassonografia, Bovino

TESTICULAR ECHOTEXTURE AND THEIR CORRELATION WITH SPERMATOGENESIS


IN NELORE BULLS

Abstract: The aim of this research was to evaluate the testicular echotexture and their correlation with
spermatogenesis of Nellore bulls. We used 41 pubertal bulls eged 3-5 years and mean body weight of
510.2 ± 21,61kg. The ultrasound examinations were performed with aid of a portable ultrasound. Then
animals were orchidectomized and testicular fragments fixed in karnovisky solution and enclosed in
plastic resin. The cell population of the seminiferous tubules was evaluated in stage 1 of the seminiferous
epitelial cycle. The average pixel intensity of the area of 1600mm² of testicular parenchyma and pixel
intensity averaging both testicles in each animal were respectively 105.22 ± 13,58, 107.95± 12,82 and
106.59 ± 1 1,43. There was no correlation (p>0,05) between the testicular echotexture with any of the
morphometric parameters measured spermatogenesis. It was concluded that the testicular echotexture is
not a viable method for the indirect evaluation of the cell population of the seminiferous epithelium.

Keywords: Parameters morphometric, Ultrasonography, Bovine

Introdução
A avaliação ultrassonográfica dos testículos de bovino começou a ser realizada a partir da década
de 80, quando Pechman e Eilts (1987) descreveram a anatomia dos testículos em matadouro. A técnica de
ultrassom é baseada na identificação, quadro a quadro (pixel), da intensidade do retorno da onda
ultrassonográfica. As análises computacionais das imagens permitem identificar diferenças de ecotextura
imperceptíveis ao olho humano, assim como mensura-las de forma bastante objetiva, pelo
estabelecimento de algoritmos computacionais.
Assim sendo, alguns pesquisadores vêm tentando correlacionar achados ultrassonográficos com
patologias testiculares (Eilts e Pechman, 1988). Entretanto, a ultrassonografia ainda tem sido pouco
utilizada como uma ferramenta de diagnóstico no exame andrológico. Acredita-se que em pouco tempo a
ultrassonografia será uma ferramenta indispensável para a avaliação de um reprodutor (Siqueira e Vianna,
2006). Logo, objetivou-se com esta pesquisa avaliar a ecotextura testicular e suas possíveis correlações
entre a ecotextura do parênquima testicular e a população celular do epitélio seminífero.

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Material e Métodos
Os exames foram realizados em 41 touros púberes, com assistência de um aparelho de
ultrassonografia portátil (Mindray DP 2200). As configurações do aparelho foram padronizadas em
valores pré-determinados e iguais durante doto experimento. Com aplicação de gel na área de leitura, o
transdutor foi posicionado verticalmente na face caudal do escroto, paralelo ao maior eixo de cada
testículo, procedendo uma pressão mínima suficiente para capturar a imagem (Artega et al., 2005). As
imagens foram congeladas e gravadas, obtidas da porção média entre o mediastino e a túnica albugínea. A
quantificação da ecotextura das imagens ultrassonográficas calculadas e salvas, foram realizadas com
auxílio de “Software”) e representada numericamente em uma escala de 256 tons de cinza. Após a
orquidectomia os fragmentos testiculares foram fixados com solução de karnovsky e incluídos em glicol
metacrilato. Os cortes histológicos foram feitos em micrótomo rotativo de as laminas coradas com azul de
toluidina e borato de sódio. As médias foram comparadas utilizando-se o teste de Turkey. O nível de
significância considerado foi de 5%.

Resultados e Discussão
A média da intensidade de pixel da área de 1600mm² do parênquima testicular direito, esquerdo e média
de intensidade de pixel entre os dois testículos em cada animal foram respectivamente: 105,22 ± 13,58,
107,95 ± 12,82 e 106,59 ± 11,43. As correlações entre a ecotextura testicular com as razões entre os
números corrigidos de células germinativas e de células de Sertoli de touro Nelore, encontram-se
apresentadas, respectivamente nas Tab.1,2 e 3. Não houve correlação significativa entre a ecotextura
testicular com nenhum dos parâmetros morfométricos da espermatogênese aqui mensurados.

Tabela 1. Coeficiente de correlação (r) entre a ecotextura do parênquima testicular direito (EcoTD),
ecotextura do parênquima testicular esquerdo (EcoTE) e ecotextura média do parênquima testicular
direito e esquerdo (EcoMed) com população celular no estádio 1 do ciclo do epitélio seminífero em
touros Nelore
CS A PL/L PQ Ar
EcoTD -0,053 0,155 -0,211 -0,110 -0,173
EcoTE -0,082 -0,005 -0,273 -0,210 -0,131
EcoMed -0,063 0,141 -0,209 -0,110 -0,173
CS: Células de Sertoli. A: Espermatogônias A. PL/L: Espermatócitos primários em pré-leptóteno/leptóteno. PQ: Espermatócitos
primários em Paquíteno. Ar: Espermátides arredondadas, (p>0,05).

Tabela 2. Coeficiente de correlação (r) entre a ecotextura do parênquima testicular direito (EcoTD),
ecotextura do parênquima testicular esquerdo (EcoTE) e ecotextura média do parênquima testicular
direito e esquerdo (EcoMed) com o rendimento intrínseco da espermatogênese de touros Nelore
Coefmitose Coefmeio Rendgeral Prófase
EcoTD -0,249 -0,125 -0,239 0,232
EcoTE -0,236 0,095 -0,179 0,102
EcoMed -0,238 -0,128 -0,233 0,231
Coefmitose: Coeficiente de rendimento das mitoses espermatogoniais. Coefmeio: Coeficiente meiótico. Rendgeral: Rendimento
geral da espermatogênese. Prófase: perdas celulares durante a prófase, (p>0,05).

Tabela 3- Coeficiente de correlação (r) entre a ecotextura do parênquima testicular direito (EcoTD),
ecotextura do parênquima testicular esquerdo (EcoTE) e ecotextura média do parênquima testicular
direito e esquerdo (EcoMed) com as razões entre números corrigidos de células germinativas e de Sertoli
CS/A CS/PL CS/PQ CS/Ar CS/total
EcoTD 0,168 -0,150 -0,036 -0,196 -0,185
EcoTE 0,084 -0,095 -0,091 -0,112 -0,141
EcoMed 0,164 -0,145 -0,032 -0,194 -0,181

Pinho et al. (2013) em sua pesquisa com touros nelores evidenciou a baixa eficiência de avaliação
indireta da qualidade do ejaculado pela intensidade média de pixels do parênquima testicular. Kastelic et

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al., (1997) trabalhando com touros Canchim, Nelore e suas cruzas, observou correlação positiva da
ecotextura com a porcentagem patologias espermáticas. Essas diferenças nos resultados de pesquisa
podem ser explicadas parcialmente ao fato de que os espermatozoides ejaculados começaram a ser
produzidos 70 dias antes de estarem disponíveis para serem liberados no ejaculado na cauda do
epidídimo.

Conclusões
Conclui-se que a ecotextura testicular não é um método viável para a avaliação indireta da
população celular do epitélio seminífero em touros Nelore.

Literatura Citada
ARTEAGA, A.A.; BARTH, A.D.; BRITO, L.F.C. Relationship between sêmen quality qnd pixel-
intensity of testicular ultrasonograms after scrotal insulation in beef bulls. Theriogenology, v.64, p.408-
415, 2005.
KASTELIC, J.P.; COOK, R.B.; COULTER, G.H. Contribution of the scrotum, testes and testicular artery
to scrotal/testicular termo-regulation in bulls at ambiente temperatures. Anim. Reprod.Sci. v.45, p.255-
216, 1997.
PECHMAN, R.D.; EILTS, B.E. B-mode ultrasonography of the bull testicle. Theriogenology, v.27, n.2,
p.431-441, 1987.
PINHO, R.O.; COSTA, D.S.; SIQUEIRA, J.B.; MARTINS, L.F.; CHAYA, A.Y.; MIRANDA, N.T.;
GUIMARÃES, S.E.F.; GUIMARÃES, J.D. Correlation of Sexual Maturity Stage WITH Testicular
Echotexture in Young Nellore Bulls. Acta Scientiae Veterinaria v.41, p.1161-1167, 2013.
SIQUEIRA, L.G.B.; VIANA, J.H.M. Novas tecnologias em diagnóstico por imagem Jornal O Embrião,
Soc. Bras. Tecnol. De Bem, 2006.

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INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DE QUERCETINA QUANDO ASSOCIADA À


IVERMECTINA EM UM ISOLADO DE Haemonchus contortus RESISTENTE A
IVERMECTINA

Renata Pache Matias¹, Maia Júlia Hipolito da Silva¹, Mario Henrique Conde¹, Patrícia Melancieiro
Pizani¹, Andressa Batista Farias¹, Dyego Gonçalves Lino Borges², Fernando de Almeida Borges³

¹Graduandodo Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: renatapachematias@gmail.com


¹Graduandodo Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: majuhipolito@gmail.com
¹Graduandodo Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS E-mail: marioh.vet@gmail.com
¹Graduandodo Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS, E-mail: patríciapizani@hotmail.com
¹Graduandodo Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS, E-mail: andressa.bfarias@gmail.com
²Doutorando do Programa de Ciência Animal da FAMEZ/UFMS, E-mail: dyegogborges@hotmail.com
³Docente da FAMEZ/UFMS, E-mail: fernando.borges@ufms.br

Resumo: Os anti-helmínticos, como a ivermectina são ou representam a principal forma de controle da


verminose gastrointestinal. Em decorrência da massiva e desordenada utilização desta ferramenta,
instalou-se a resistência a antiparasitários. Uma alternativa para o controle de parasitos, na atualidade com
o aparecimento da resistência, é o uso de drogas moduladoras da glicoproteína-P, uma vez que uma das
principais alterações bioquímicas que os parasitos resistentes a esta avermectina apresenta é o aumento da
atividade desta proteína de membrana. Assim o trabalho objetivou avaliar o potencial modulador da
quercetina nas seguintes concentrações 2.10-4; 10-4; 2.10-5; 10-5; 2.10-6; 10-6; 2.10-7M quando associada à
Ivermectina 1,4.10-5M no controle de Haemonchus contortus. Para a realização do experimento utilizou o
teste de inibição da migração larval que tem como característica avaliar a resistência anti-helmíntica. O
resultado mostrou que a associação de quercetina mais ivermectina foi superior a ivermectina quando
avaliada isoladamente, pois a quercetina pode ser utilizada como agente modulador em Haemonchus
contortus. Neste teste observou a diminuição da concentração efetiva média da ivermectina que em teste
prévios era de 6,1.10-6M, neste trabalho a concentração efetiva media foi de 2,8.10 -8M, assim quando
aumentou a concentração da quercetina, gerou um aumento da eficácia da ivermectina. Portanto foi
possível determinar que a quercetina tenha ação moduladora sobre Haemonchus contortus. O efeito do
modulador mostrou ser dose – dependente e a quercetina não tem ação nematodicida.

Palavras - chave: Nematoda, Modulador, teste in vitro, Reversão química

INFLUENCE OF CONCENTRATION QUERCETIN WHEN ASSOCIATED WITH


IVERMECTIN IN AN ISOLATED Haemonchus contortus RESISTANT IVERMECTIN

Abstract: The anthelmintics such as ivermectin are or represent the main form of control of
gastrointestinal worms. Due to the massive and uncontrolled use of this tool, installed the resistance to
antiparasitic. An alternative for the control of parasites, nowadays with the emergence of resistance, is the
use of drugs that modulate P-glycoprotein, since a major biochemical changes that resistant parasites this
avermectin features is the increased activity of this protein membrane. Thus the study aimed to evaluate
the potential modulator of quercetin in the following concentrations 2.10-4; 10-4; 2.10-5; 10-5; 2.10-6;
10-6; 2.10-7M when associated with Ivermectin 1,4.10-5M in control of Haemonchus contortus. For the
experiment used the inhibition test of larval migration that is characterized evaluate the anthelmintic
resistance. The result showed that the association ivermectin quercetin was more than ivermectin when
assessed alone as quercetin can be used as a modulatory agent in Haemonchus contortus. In this test the
observed decrease in average effective concentration of ivermectin than in previous test was 6,1.10-6M
this work the effective average concentration was 2,8.10-8M, so when he increased the concentration of
quercetin, generated an increase in efficiency ivermectin. Therefore it determined that quercetin has
modulatory action on Haemonchus contortus. The effect of the modulator was shown to be dose -
dependent quercetin and does not have nematicidal action.

Keywords: Nematoda, modulator, in vitro test, chemical reversal

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Introdução
Os anti-helmínticos, como a ivermectina são ou representam a principal forma de controle da
verminose gastrointestinal. Em decorrência da massiva e desordenada utilização desta ferramenta,
instalou-se a resistência a antiparasitários. A resistência ocorre quando parasitas passam a suportar doses
ou concentrações de um fármaco que os afetariam (SANGSTER, 1999). Existem alguns fatores
responsáveis pela resistência são eles fatores internos e externos, os fatores internos estão diretamente
relacionados ao parasita, já os fatores externos não estão ligados aos parasitas (VÁSQUES et al., 2007). E
uma alternativa para o controle de parasitos, na atualidade, com o aparecimento da resistência, é o uso de
drogas moduladoras da glicoproteína-P, uma vez que uma das principais alterações bioquímicas que os
parasitos resistentes a esta avermectina apresenta é o aumento da atividade desta proteína de membrana
(HECKLER et al., 2012).
A atuação da ivermectina está ligada a produzir paralisia dos parasitos ao aumentar a
permeabilidade da membrana celular para íons cloro. Assim, o trabalho objetivou compreender o
potencial modulador da quercetina quando associadas à Ivermectina, no controle de Haemonchus
contortus, visto que já é sabido da ação da quercetina mais ivermectina em Haemonchus placei
(HECKLER et al., 2012).

Material e Métodos
O local de realização do teste foi o Laboratório de Doenças Parasitarias da FAMEZ/UFMS,
localizada em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. O teste de inibição da migração larval tem
como característica avaliar a resistência anti-helmíntica por estimulação ou inibição das larvas, baseando
se na migração feita pelas larvas de terceiro estagio, após incubação com as soluções de interesse a ser
testadas. A partir da análise de larvas sobreviventes no teste de inibição de migração larval foi verificada
a influencia das diferentes concentrações de quercetina sobre ivermectina. O teste descrito neste estudo,
foi conduzida seguindo métodos, com algumas alterações por Heckler et al., (2012).
Foi utilizado um isolado de H. contortus sabidamente resistente a ivermectina, devido à realização
do teste de inibição (TRCOF – 0% de eficácia) de amostra de fezes que foram submetidas a contagem de
ovos por grama de fezes (OPG) de animais tratados com ivermectina da FAMEZ.
A concentração usada de ivermectina foi 1,4.10 -5M que é o valor máximo da concentração efetiva
(EC50) de um teste anteriormente realizado, no qual o intervalo da EC50 foi 2,7.10 -6M ate 1,3.10-5M.
A solução estoque de quercetina 10-2M foi diluída em Dimetilsulfóxido (DMSO) e depois
preparado à solução 2.10-3 em DMSO a 2% e então as concentrações a serem estudadas foram diluídas
em água destilada, diluição em série, de forma que a concentração de DMSO da maior concentração não
ultrapassou 1%.
A partir desta solução foram feitas as concentrações de quercetina usadas no teste que são as
seguintes: 2.10-4; 10-4; 2.10-5; 10-5; 2.10-6; 10-6; 2.10-7M . O controle foi feito com DMSO a 1%.
As larvas utilizadas neste experimento foram desembainhadas, em solução de hipoclorito de sódio
(0,08%) por 5 minutos, período este suficiente para que mais de 90% das larvas estivessem sem bainha,
centrifugadas (1500/3 minutos) e lavadas com água destilada por três vezes para remoção de resíduos de
hipoclorito. Em seguida, foram realizadas três contagens de larvas de terceiro estagio (L3) e o volume de
água destilada foi ajustado para que houvesse 400 L3 em cada 500µl.
Feitas as seguintes diluições 2.10-4; 10-4; 2.10-5; 10-5; 2.10-6; 10-6; 2.10-7M, de quercetina, estas
foram aplicadas nos poço (utilizados 36 poços) das placas de cultivo celular para o teste, e cujos poços foi
adicionados 500µl de s larvas desembainhadas, 250µl de ivermectina para todas as concentrações de
quercetina. E, além disso, foram feitos cinco controles sendo água, DMSO1%, ivermectina 1,4.10 -5,
quercetina 2.10-4 e quercetina. As larvas ficaram em contato com a droga por um período de 6 horas na
incubadora à temperatura de 27ºC.
Após esse período, em cada poço foi adicionado 1 ml de ágar à temperatura de 45ºC. Então
formulou uma solução contendo larvas, ágar e droga, foi imediatamente transferida para uma placa de
migração, constituída de duas telas sobrepostas com diferentes aberturas (uma de 1ml e a outra de 25µl) e
um circulo de plástico, com 25 ml de água destilada que foi previamente congelada. Enfim voltou a
armazenar as soluções presentes nas placas de migração, na incubadora e deixar por 18 horas.
As larvas que sobreviveram ao contato prévio com a droga migraram pelo ágar, passaram pelas
telas e permaneceram na porção aquosa da placa de migração. Posteriormente a este período colocou o
sobrenadante de cada placa nos tubos de vidro e armazenou na geladeira por 24 horas para as larvas

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sedimentarem e depois deixando um volume de 10 ml em cada tubo, da qual retirou três volumes de
100µl, para quantificação das larvas, em lupa, sempre de forma homogênea, com o auxílio do vórtex para
realização da contagem.
Foram realizadas análises estatísticas com os resultados empregando o programa GraphPad, na
qual os valores das concentrações de quercetina foram transformados para base de Log (x) e as médias de
contagens de larvas que migraram foram realizado a normalização dos valores, porque não tem
distribuição normal. Pois a partir dos resultados foram construídas curvas de regressão não linear da
relação dose - resposta destes dados transformados e normalizados. Utilizando-se estes valores, foi
calculada a concentração efetiva média (CE50) requerida para paralisar 50% das larvas por meio da
seguinte equação: Y=100(1+10^((Log EC50 – X), em que: X= logaritmo da concentração e Y= número
de larvas. Para avaliar a qualidade da curva, foi calculado o coeficiente de determinação (R²).

Resultados e Discussões
Os resultados apresentados aqui mostram que o modulador, associado à ivermectina, apresentou
redução na inclinação da curva, quando comparado com a curva padrão de ivermectina isolada, ou houve
relação direta entre a inclinação da curva e o número de larvas migrantes no teste, pois à medida que
aumentar a concentração da quercetina, aumenta também a eficácia (Figura 1). O resultado do teste in
vitro gerou uma curva mostrando que o fármaco modulador avaliados, combinado à ivermectina,
apresenta percentuais de eficácia superiores à ivermectina isolada, pois a concentração efetiva media
(EC50) que no teste anterior era 6.10-5M, neste teste obteve se EC50 de 2,8.10-8M, ou seja, a EC50 menor
que a estipulada no teste anterior. O intervalo da EC50 obtido neste teste foi 1,6.10-9M até 4,9.10-7M.
Os controles quando em contato com o diluente DMSO (2%), isoladamente, utilizados nas
diluições das soluções, foram avaliados e apresentaram ausência de efeitos nematodicidas. Foi observado
que a curva da relação dose - resposta obteve coeficiente de determinação R² = 0,6.
Estes resultados estão de acordo com os resultados obtidos por Heckler et al., (2012) que avalia a
associação farmacológica da ivermectina com quercetina, gerando um aumento de eficácia, quando
comparada com a ivermectina isolada. Constata-se que as interações farmacológicas produzidas por
moduladores, podem gerar alternativas para o controle de verminose (Ballent et al., 2005), através da
potencialização da eficácia.
Neste estudo, foi observada a capacidade in vitro de potencialização da eficácia de ivermectina,
contra H. contortus resistente, quando associada aos fármacos moduladores de glicoproteína-P avaliados
no teste de inibição da migração larval.

100
IVM

EC50 de IVM + QUERCET INA.


Larvas migrantes

50

0
-10 -8 -6 -4 -2
Tratame nto Log(X)

-50

Figura 1. Curvas da relação dose/resposta de ivermectina (IVM) isoladamente e associada à quercetina


nas concentrações 2.10-4; 10-4; 2.10-5; 10-5; 2.10-6; 10-6; 2.10-7M.

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Conclusões
Com esse estudo foi possível determinar que a quercetina tenha ação moduladora sobre H.
contortus e, além disso, possui efeito dose dependente, ou seja, quando se aumenta a concentração de
quercetina associado à ivermectina diminui a contagem de larvas migrantes. Todas as concentrações da
quercetina associados à ivermectina apresentaram maiores percentuais de eficácia quando comparado
com a ivermectina sem o modulador. Também foi possível determinar que a quercetina não tenha ação
nematodicida. A realização da técnica in vitro utilizada neste experimento viabilizou a utilização e
experimentação de diferentes concentrações de quercetina.

Literatura Citada
BALLENT, M. et al. Implicancias fisio-farmacológicas de La glicoproteína-P em animales domésticos.
Analecta Veterinária. v.25, p.36-47, 2005.
HECKLER, Rafael Pereira. Reversão fenotípica da resistência de Haemonchusplacei à ivermectina:
avaliação in vitro de oito fármacos moduladores da glicoproteína-p. Dissertação (Mestrado em
Ciência Animal) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande. 2012.
SANGSTER, N.C. Anthemintic resistance: past, present and future. International Journal for
parasitology. v.29, p.115-124, 1999.
VÁSQUEZ, P.T.; et al. Resistencia antihelmínticaenlosnemátodosgastrointestinalesdel bovino.
Revista de Medicina Veterinária.v.13, p.59-76, 2007.

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REVISÕES

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PRODUÇÃO DE METANO POR BOVINOS DE CORTE E ALTERNATIVAS


PARA SUA MITIGAÇÃO

Gabriella Jorgetti de Moraes¹, Luís Carlos Vinhas Ítavo4, Marcus Vinicius Garcia Niwa1,
Eduardo Souza Leal2, Bruna Silva Marestone1, Marcelo Vedovatto3, Marlova Cristina
Mioto da Costa3, Hilda Silva Araújo3

¹Discentes de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina


Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS
²Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária da
Universidade Católica Dom Bosco – UCDB.
3
Discentes de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS
4
Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. E-mail: luis.itavo@ufms.br

Resumo: Os cenários de mudanças climáticas drásticas têm despertado a atenção da população mundial.
Algumas explicações plausíveis para essas alterações climáticas podem ser pelas mudanças nas
concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera. Os gases de maior relevância são dióxido de
carbono, metano e óxido nitroso. Há três fontes principais de produção de metano: naturais, ligados à
geração de energia e dejetos e ligados às atividades agropecuárias. Assim, objetivou-se com essa revisão
abordar os aspectos de produção de metano ruminal em bovinos de corte, bem como avaliar os aspectos
relacionados às alternativas de mitigação do mesmo. Como alternativas nutricionais de mitigação
podemos citar o uso de aditivos como ionóforos, uso de lipídeos, manejo adequado do pasto, dentre
outros. O metano produzido por bovinos de corte representa uma perda energética, tendo como
consequência menor eficiência produtiva. Assim sendo, entender todas as etapas de produção ruminal do
metano e encontrar alternativas eficientes de mitigação é fundamental para aumentar a eficiência
produtiva de ruminantes, bem como diminuir os impactos ambientais.

Palavras-Chave: efeito estufa, fermentação ruminal, metanogênese, ruminantes, sustentabilidade

METHANE PRODUCTION FOR BEEF CATTLE AND ALTERNATIVES FOR THEIR


MITIGATION

Abstract: The scenarios of drastic climate changes have attracted the attention of the world population.
Some plausible explanations for these climate changes may be the changes in greenhouse gas
concentrations in the atmosphere. Most relevant gases are carbon dioxide, methane and nitrous oxide.
There are three main sources of methane production: natural, related to power generation and waste and
linked to agricultural activities. Thus, the aim of this review to address the ruminal methane production
aspects of beef cattle and to evaluate aspects related to the same mitigation alternatives. As nutritional
mitigation, alternatives are the use of additives such as ionophores, use of lipids, proper pasture
management, among others. Methane produced by beef cattle is an energy loss, resulting in lower
production efficiency. Therefore, understand all the ruminal methane production steps and find efficient
mitigation alternatives is essential to increase the productive efficiency of ruminants, and reduce
environmental impacts.

Keywords: global warming, methanogenesis, ruminants, ruminal fermentation, sustainability

INTRODUÇÃO

Alterações climáticas ocorridas nas últimas décadas têm preocupado a população mundial,
principalmente devido a possíveis futuras mudanças ainda mais acentuadas. Dados publicados pelo quinto
relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças climáticas (IPCC, 2013) confirmam que desde

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1950, tem-se observado o aquecimento da atmosfera e dos oceanos, diminuições nas quantidades de neve
e gelo, aumento do nível do mar e aumento das concentrações de gases de efeito estufa (GEEs).
O Brasil por apresentar rebanho de 217 milhões de bovinos (FAO, 2013), tem reconhecida
importância na produção de proteína animal para população. Entretanto, discute-se sobre os impactos
ambientais que esta atividade pode exercer sobre as mudanças climáticas. A pecuária brasileira tem sido
criticada pelos baixos índices zootécnicos devido seu principal sistema de produção ser a base de
pastagens de baixa qualidade e na grande maioria degradadas. Com a menor eficiência na produção
animal, a energia proveniente do alimento é perdida em parte na forma de metano (Pereira, 2013).
Os gases de efeito estufa de maiores relevâncias são o dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso
(N2O) e metano (CH4) (Duxbury,1995; Smith et al., 2003), e que podem reter a radiação infravermelha
difundida pela superfície terrestre (Burke & Lashof, 1990). Embora o gás que possua correlação direta
com o efeito estufa seja o CO2, uma molécula de metano possui potencial para retenção de radiação
infravermelha equivalente a 25 vezes o estimado para CO2 (Moss, 2000).
As principais fontes de emissão de metano no planeta terra são as provenientes de oceanos e lagos
(fontes naturais), emissões ligadas à geração de energia e dejetos (queima de gás, carvão, aterros
sanitários), e as relacionadas às atividades de agropecuária (arrozais e rebanhos) (Olesen et al., 2006). As
estimativas das emissões globais geradas são de 80 milhões de toneladas de CH4 por ano devido a fontes
antrópicas (USEPA, 2000). Segundo os dados do IPCC (2007) o metano é responsável por 14,3% do total
de gases de efeito estufa e do total da emissão de metano apenas 22% é oriunda dos ruminantes (esterco e
fermentação entérica).
No Brasil, em 1995, a estimativa das emissões estava em cerca de 9,2 milhões Tg (1 Tg = 1012 g)
de CH4 gerados pela pecuária, analisando os efetivos de ruminantes (bovinos, bubalinos, ovinos,
caprinos), não ruminantes (equinos, asininos, muares e suínos) e seus dejetos onde 96% desse total foi
atribuído à fermentação gástrica, onde o gado de corte foi indicado por 81,6% (MCT, 2015).
Como ferramentas para mitigação do metano podemos citar a quantidade de forragem fornecida na
dieta e seu método de preservação, estágio de crescimento da planta forrageira, tamanho de partícula e
grau de moagem, a quantidade de grãos na dieta, a adição de lipídeos e aditivos, como os ionóforos, são
importantes componentes que afetam e estão envolvidos na produção de CH 4 no rúmen (Johnson &
Johnson, 1995).
Devido à pressão ambiental, faz-se necessário um sistema de produção eficiente e sustentável, que
reduza a emissão de metano ligada a atividade pecuária, fator que deve orientar ainda mais pesquisas com
produção de ruminantes (Machmüller, 2006). Sendo assim, objetivou-se, nesta revisão, abordar os
aspectos relacionados a produção de CH4 ruminal de bovinos de corte, bem como avaliar os aspectos
relacionados as alternativas de mitigação do mesmo.

DESENVOLVIMENTO

Produção de metano entérico e perdas energéticas


O metano entérico é proveniente da atividade das Archaea metanogênicas (McAllister et al.,
1996). Dentre as diversas espécies metanogênicas isoladas no rúmen, apenas duas são encontradas em
populações maiores que 1 x 106 mL-1, sendo elas Methanobrevibacter ruminatium e Methanosacina sp.
(McAllister et al., 1996).
As Archaea são encontradas no rúmen intimamente associadas com protozoários ciliados e em
justaposição com bactérias, não sendo essa uma posição obrigatória (Finlay et al., 1994). As bactérias
metanogênicas possuem uma relação simbiótica com protozoários para aumentar o seu acesso ao
hidrogênio (Finlay & Fenchel, 1989), favorecendo assim ambiente ruminal adequado para o
desenvolvimento desses microrganismos (Van Soest, 1994), porém essa adesão parece ser reversível
(Tokura et al., 1997).
A fermentação dos componentes da dieta por microrganismos ruminais resulta, dentre os mais
diversos componentes, na formação de ácidos graxos voláteis de cadeia curta (principalmente acético
(C2), propiônico (C3) e butírico (C4)), que são utilizados por ruminantes como fonte de energia. Gases
como o CO2 e CH4, também são produzidos a partir da fermentação ruminal, e são eliminados por meio
da eructação principalmente (Martin et al., 2009).
Em animais ruminantes, a fermentação envolve o processo oxidativo, gerador de cofatores
reduzidos (NADH, NADPH e FADH). Para que não haja paralisação no processo fermentativo, esses

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cofatores são reoxidados (NAD+, NADP+ e FAD+) através da desidrogenação, liberando hidrogênio no
rúmen (Machado et al., 2011).
A metanogênese, por ser um mecanismo aceptor de elétrons, retira consecutivamente o hidrogênio
(H2) do meio, logo, a formação de CH4 é de fundamental importância para o ótimo desenvolvimento do
ecossistema ruminal (Figura 1), uma vez que não permite o acúmulo de H 2 no rúmen, que poderia causar
a inibição da atividade desidrogenase, envolvida na re-oxidação dos cofatores reduzidos (Machado et al.,
2011).
A fonte de energia utilizada pelas Archaea metanogênicas para a gênese do metano é o H2
produzido pela fermentação microbiana e o ciclo de formação do metano a partir do CO 2 envolve a
captação de quatro moléculas de H2 (Knapp et al., 2011): CO2 + 4 H2  CH4 + 2 H2O.
As Archaea bactérias possuem competência para utilizar o H2 gerado na redução de moléculas de
acetato, metilamina e metanol para a produção de metano (Moss, 1993; Wolin et al., 1997).

Figura 1. Esquema da produção de metano por ruminantes. Microrganismos ruminais, incluindo bactérias,
protozoários, e fungos, fermentam carboidratos para obter energia e gerar quantidades significativas de
equivalentes redutores (FADH2, NADH, e outros) no processo e AGV e H2 como produtos finais. O
metano proveniente tanto de bactérias de vida livre quanto endossimbiontes (dentro protozoários),
convertem H2 para CH4. Uma pequena quantidade de equivalentes redutores é utilizada na síntese de
lipídeos e na biohidrogenação de ácidos graxos. Síntese de aminoácidos pode resultar na produção ou a
utilização de equivalentes redutores, mas o valor líquido é pequeno. A síntese de proteínas utiliza
equivalentes redutores. As concentrações elevadas de H2 inibem a fermentação de carboidratos,
fornecendo um mecanismo de feedback negativo. Adaptado de Knapp et al. (2014).

Durante a fermentação ruminal, os produtos formados (AGVs) não são equivalentes em termos de
liberação de H2, assim sendo, a quantidade de H2 liberado no rúmen depende das concentrações e
proporções relativas de acetato, propionato e butirato produzidos (Owens & Goetsch, 1988; Eun et al.,
2004; Martin et al., 2009).
A produção de acetato e butirato, principalmente durante a fermentação de carboidratos fibrosos,
resultam em liberação líquida de H2 e favorece a metanogênese. Já a formação de propionato é uma via
competitiva do uso de H2 no rúmen, diminuindo a disponibilidade de substrato para a metanogênese.
Assim, a produção de metano, depende do balanço de H2 no rúmen, sendo influenciada pelas taxas de
produção de acetato e propionato (Hegarty, 2001), como descrito por Hungate (1966); Czerkawski,
(1986) e Moss et al., (2000):

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Glicose  2 piruvato + 4H+ (Metabolismo de Carboidratos);

Glicose  2 Acetato + 2CO2 + 8H+;

Glicose  1 Butirato + 2CO2 + 4H+;

Glicose + 4H+  2 Propionato + 2H2O;

CO2 + 8H+  CH4 + 2H2O.

Segundo Moss et al. (2000), o propionato exerce um efeito negativo sobre a metanogênese, uma
vez que competem pelo mesmo substrato. A proporção dos ácidos graxos voláteis (AGV) no rúmen
depende da dieta, sendo que rações ricas em grãos contribuem para maior formação de ácido propiônico,
ao passo que rações com alta proporção de alimentos volumosos contribuem a produção de ácido acético
(Owens & Goestch, 1988).
O metano apresenta significativa perda de energia pelo sistema de produção, por apresentar teor
energético de 55,22 MJ/kg (Brouwer, 1965). Johnson & Johnson (1995) realizando estudos com
mensurações em câmaras calorimétricas (calorimetria indireta) demonstraram grande variação na
produção de metano, onde 2 a 12% da energia bruta (EB) ingerida era perdida na forma de CH 4, de
acordo com os pesquisadores essa variação se deve a duas principais causas: quantidade de carboidratos
fermentados no rúmen, e proporções relativas de propionato e acetato produzidos.
No rúmen é produzido de 87 a 92% de todo CH 4 emitido por bovinos (Torrent & Johnson., 1994).
O restante 8 a 13% é produzido no ceco e intestino grosso. Em partes, essa produção do intestino, será
absorvida e expirada pelo animal, transformando em cerca de 98% de CH 4 emitido na forma de eructos e
expiração (Murray et al., 1976), e de 2 a 3% por flatulência (Murray et al., 1976; Muñoz et al., 2012).

Alternativas para a mitigação do metano


As estratégias nutricionais de mitigação de metano entérico, apresentam como ferramenta
importante a manipulação do H2 no rúmen (Joblin, 1999). Segundo Martin et al. (2009), tanto as vias
metabólicas envolvidas na formação e utilização do H2 quanto a população Archaea metanogênicas são
elementos que devem ser considerados ao desenvolver estratégias para controlar a emissão do CH 4.
Dentre os objetivos para reduzir a emissão de CH4 por bovinos de corte, podemos destacar a
redução da produção de H2 sem prejudicar a digestão dos alimentos, estimular a utilização do H2 por meio
de vias metabólicas com produtos finais benéficos, inibição das Archaea metanogênicas em quantidade
ou atividade, e em conjunto estimular vias que utilizem H2 para evitar os efeitos negativos do aumento da
pressão parcial de H2 no rúmen (Machado et al., 2011).
Pode-se citar dentre variáveis fundamentais que influenciam a produção de CH4 em bovinos, os
fatores nutricionais que estão ligados à quantidade e tipo de carboidratos na dieta, nível de ingestão de
alimento, presença de ionóforos ou lipídios (McAllister et al., 1996).
Bovinos produzidos em sistemas de pastejo, em ambiente tropical, apresentam a produção de
metano entérico afetada pela constituição morfológica e composição química das plantas forrageiras
desse ambiente (Berchielli et al., 2012). Segundo Pedreira et al. (2009), a relação entre parede celular,
conteúdo celular e a constituição da parede celular das plantas forrageiras são os principais fatores
envolvidos na produção de metano.
Neste sentido, observa-se diferença no comportamento de gramíneas de clima tropical (C 4) em
relação as gramíneas de clima temperado (C3). Uma vez que as características das gramíneas C4 por
possuírem maiores proporções de fibra que as plantas de metabolismo C3 favorecem a fermentação
acética, com maior produção de metano (g/dia) (Nelson & Moser, 1994).
Canesin (2009) verificou que em bovinos Nelore, mantidos em pastagem de Brachiaria brizantha
cv. Marandu, submetidos a diferentes frequências de suplementação, obtiveram uma produção de metano
de 7,4g/h e 176,8g/dia no mês de setembro, e no mês de novembro 13,0g/h e 311,0g/dia e observou
também que a perda de energia na forma de metano (CH 4 % EBi) foi de 8,5% e 12,3% nos meses de
setembro e novembro, respectivamente.
A estrutura do dossel forrageiro também influencia na produção de CH 4, pois o consumo de
laminas foliares contribuem para menor ingestão de fibras quando comparados com o pastejo que ocorre

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com apreensão de bainhas. As bainhas possuem maior teor de celulose e hemicelulose e as estruturas mais
baixas do dossel permitem a produção de uma maior proporção de acetato e substratos que podem ser
utilizados pelas bactérias metanogênicas (Codognoto et al., 2014).
Como alternativa de mitigação à pasto, pode-se destacar a consorciação de gramíneas com
leguminosas, visto que a produção de metano é menor quando a fermentação ruminal tem como substrato
pastagens de leguminosas (Johnson & Johnson, 1995). Além do que, as leguminosas promovem ganhos
de pesos significativos em animais quando em consorcio, o que reduz a idade de abate, e contribui para a
mitigação da emissão do CH4 (Pereira, 2001; Valentim & Andrade, 2004).
Segundo Benchaar et al. (2001), a substituição do feno de capim Timóteo (Phleum pratense) por
alfafa reduziu a emissão do CH4 em 21% (expresso como porcentagem de energia digestível).
McCaughey et al. (1999) observaram em bovinos de corte sob pastejo, que a produção de metano reduziu
10% por unidade de produto, quando a dieta totalmente constituída por gramínea foi substituída por outra
contendo relação de 70% de alfafa e 30% de gramínea. Tal efeito de mitigação pode ser explicado pelo
fato da leguminosa possuir menor teor de fibra, maior ingestão de matéria seca com consequente aumento
da taxa de passagem no rúmen (O’mara et al., 2004).
A manipulação da fermentação ruminal também pode ser feita com a inclusão de aditivos na dieta,
como os ionóforos. Os ionóforos são antimicrobianos utilizados no controle da acidose ruminal, pois
deprimem ou inibem microrganismos gram-positivos que são produtores primários de ácido lático
(Nagajara et al., 1997) aumentam a formação de ácido propiônico e diminuem a emissão de metano.
Os ionóforos são poliésteres carboxílicos, de baixo peso molecular, resultante da fermentação de
várias espécies de actinomicetos (principalmente Streptomyces sp.) (Nagajara et al., 1997). São
conhecidos mais de 120 tipos de ionóforos, porém o mais utilizado na produção de ruminantes é a
monensina (Rangel et al., 2008). Como mecanismo de ação a monensina apresenta o antiporte de
sódio/potássio, decrescendo a concentração de potássio celular e o influxo de prótons, resultando no
abaixamento do pH intracelular. Uma vez que o pH intracelular fica baixo, a monensina cataliza um fluxo
de prótons em mudança com o sódio (Russel, 1987; Chen & Russel, 1989).
Quando a monensina se liga a membrana celular, rapidamente ocorre a saída de potássio (K +) e a
entrada de H+ na célula devido o gradiente de concentração de K+. O H+ no interior da célula vai
ocasionar a queda do pH. A célula responde a queda do pH exportando H + para o exterior e permitindo a
entrada de sódio (Na+) para o interior da célula, cátion de maior afinidade com a monensina (Russel,
1987). O H+, por meio de bombas Na+/K+ ATPase, é exportado para fora da célula (Bagg, 1997), neste
processo, gastasse a maior parte da energia produzida pela célula na tentativa de manter o pH e o balanço
iônico celular, de maneira que a célula se torna incapaz de manter seu metabolismo energético no
decorrer do tempo, diminuindo sua capacidade de crescimento e reprodução. Atrelado a este mecanismo,
é possível afirmar que os ionóforos reduzem indiretamente a produção de metano no rúmen, por inibirem
o crescimento de bactérias gram-positivas, que tem como produto final de sua fermentação o hidrogênio e
o formato, intermediários na formação do metano no ambiente ruminal (Rangel et al., 2008).
De acordo com Tedeschi et al. (2003), os ionóforos podem diminuir a produção de CH 4 em 25%
sem afetar o desempenho animal. Segundo McGinn et al. (2004), doses de monensina mais altas (24 a
35ppm) reduziram a produção de metano em 4 a 10 g/dia, também reduziu a MS ingerida, 3 a 8 g/kg em
bovinos de corte.
Ainda sobre alternativas de mitigação do metano com foco em nutrição, pode-se utilizar da adição
de lipídeos na dieta. Na alimentação de ruminantes, que normalmente está associada ao consumo de
forragem, os teores de lipídeos são baixos (aproximadamente 3% na MS) (Codognoto et al., 2014). Em
forrageiras e grãos de oleaginosas, os ácidos graxos são em maior parte insaturados (70%), sendo os mais
representativos o linoleico (18:2) e o linolênico (18:3). Os ácidos graxos insaturados apresentam
propriedades de se adsorverem a superfícies livres, o que possibilita que se incorporem a membrana das
bactérias. Ao se incorporarem a membrana das bactérias, esses ácidos graxos alteram a fluidez e
permeabilidade da membrana (Kozloski, 2011). Por causarem esses desarranjos celulares principalmente
em bactérias gram-positivas, a atividade das bactérias metanogênicas é reduzida. A população microbiana
ruminal também é alterada, favorecendo a formação de propionato, que aumenta a captação de H 2 no
ambiente ruminal (Machmüller et al., 2003; Maia et al., 2007).
Além da mudança na população microbiana, devido ao efeito tóxico que os ácidos graxos
insaturados têm sobre as bactérias, esses microrganismos desenvolveram um mecanismo para reduzir a
insaturação dos ácidos graxos. Esse processo, chamado de biohidrogenação, ocorre resumidamente com a

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adição de hidrogênios nessas duplas ligações, transformando os ácidos graxos insaturados em saturados
(Palmquist & Mattos, 2011).
Entretanto, apesar da biohidrogenação resultar na captura de H 2, esse processo teria baixa
influência sobre a metanogênese. A biohidrogenação de 1 mol de ácido linoleico, previne a formação de
apenas 0,75 mol de CH4, e a utilização de hidrogênio metabólico representa cerca de 1% (Czerkawski,
1986; Martin et al., 2009).
A eficiência na redução da emissão de metano com a utilização de lipídios na dieta depende de
vários fatores. Entre esses fatores, podemos citar o nível de suplementação, a fonte de lipídeo utilizada, a
forma de fornecimento e o tipo de deita. É recomendado que a adição de lipídeos total não ultrapasse 6 a
7% da MS da dieta, valores acima desse valor teriam efeito de deprimir o consumo e a digestibilidade da
fibra (Machado et al., 2011).
Em estudos realizados com bovinos e ovinos, estima-se que a redução de emissão de metano é de
5,6% para cada 1% de adição de lipídeo (Beauchemin et al., 2008). Variações desse valor são encontradas
quando se leva em consideração a fonte de lipídeo utilizada. Estudos utilizando óleo de coco
apresentaram redução de 63,8% de metano com adição de 7% de lipídeos (Machmüller & Kreuzer, 1999),
e com a utilização de ácido mirístico a redução foi de 58,3% adicionando 5% de lipídeos (Machmüller et
al., 2003).
A utilização de lipídeos como estratégia de redução na emissão de metano deve levar em conta os
efeitos sobre o metabolismo e desempenho animal, de forma a escolher a fonte e o nível de adição
adequado, principalmente em sistemas de produção em pastagem (Machado et al., 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A emissão de metano por bovinos de corte é uma consequência dos processos fermentativos
gastrointestinais, e tem efeito direto sobre o ambiente devido sua contribuição no aquecimento global,
além de representar uma perda de energia na produção animal.
Alternativas que diminuam as emissões de metano, melhorando as condições dos sistemas
produtivos poderiam melhorar o uso de recursos alimentares e diminuir os impactos ambientais. Assim
sendo, concluímos que dietas alternativas e manipulação da microbiota do rúmen são etapas com grande
potencial para ainda serem explorados, para obter melhores parâmetros fermentativos, com menores
perdas de energia e consequentemente menor emissão de metano na atmosfera.
O levantamento do potencial de emissão de metano pelos diferentes sistemas agropecuários, bem
como a avaliação de estratégias de redução da emissão do metano devem estimular mais pesquisas na
área para garantir eficiência produtiva ao sistema.

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IMPUTAÇÃO DE GENÓTIPOS E SUA UTILIZAÇÃO NO MELHORAMENTO


GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE

Gustavo Garcia Santiago¹, Fabiane Siqueira², Bruna Silva Marestone³, Fábio José
Carvalho Faria4

¹Doutorando em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal


do Mato Grosso do Sul. Email: gustavo_garciasantiago@hotmail.com
²Pesquisadora da Embrapa Gado de Corte. Email: fabiane.siqueira@embrapa.br
³Mestranda em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal
do Mato Grosso do Sul. Email: brunamarestone@gmail.com
4
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal do Mato Grosso do
Sul. Email: fabio.faria@ufms.br

Resumo: O desenvolvimento de painéis de genotipagem para centenas de milhares de marcadores


moleculares do tipo SNPs (Single Nucleotide Polymorphism) ao longo de todo genoma, proporcionaram
um grande avanço nos programas de melhoramento ao viabilizar a inclusão de informações provenientes
da molécula de DNA na predição de valores genéticos. A metodologia de imputação de genótipos
proporciona redução nos custos de genotipagem por indivíduo ao predizer genótipos de marcadores não
genotipados em uma amostra de indivíduos com base em haplótipos que estão segregando na população
ou em indivíduos aparentados. No entanto, os algoritmos para estimação dos haplótipos sempre estão
sujeitos a erros. Neste contexto, a acurácia da imputação deve ser alta o suficiente para minimizar falsas
construções de haplótipos, com a finalidade de que os genótipos preditos forneçam confiabilidade
semelhante à obtida se as amostras fossem genotipadas por meio de um painel de maior densidade de
SNPs. A acurácia da imputação pode ser afetada por diversos fatores, entre eles, à distância física e
consequentemente o desequilíbrio de ligação entre marcadores, parentesco entre os indivíduos, a
diferença no número de marcadores entre o painel de menor e o de maior densidade, frequências alélicas
e o método utilizado.

Palavras-chave: Single Nucleotide Polymorphism, genoma, marcadores moleculares, haplótipos,


desequilíbrio de ligação

GENOTYPE IMPUTATION IN GENETIC IMPROVEMENT OF BEEF CATTLE

Abstract: The development of genotyping panels to thousands of single nucleotide polymorphism


throughout the whole genome have provided a great advance in breeding programs to feasible the
inclusion of information from the DNA molecule in prediction of genetic values. The genotype
imputation gives a reduction in genotyping costs per individual by predicting genotype markers that do
not genotyped in a sample of individuals based on haplotypes that are segregating in population or closely
related individuals. However, the algorithms for estimation of haplotypes are always subject to errors. In
that context, imputation accuracy should be sufficiently high to minimize false haplotypes construction
with the purpose to the predicted genotypes supply reliability similar to that obtained if samples were
genotyped using a panel of higher density of SNPs. The imputation accuracy can be affected by several
factors, including, the physical distance and thus the linkage disequilibrium between markers, kinship
between individuals, the difference on number of markers between lower and the higher density panel,
allele frequencies and the method used.

Keywords: Single Nucleotide Polymorphism, genome, molecular markers, haplotype, linkage


disequilibrium

INTRODUÇÃO

O melhoramento genético clássico baseia-se em modelos matemáticos que combinam informações


fenotípicas e genealógicas para predizer o valor genético de cada indivíduo para diferentes características.

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Dessa forma, a genética quantitativa tem proporcionado relevante ganho genético para a maioria das
características de interesse econômico em diversas espécies.
A conclusão do Projeto Genoma Bovino (The Bovine HapMap Consortium, 2009; The Bovine
Genome Sequencing and Analysis Consortium, 2009) e o desenvolvimento de painéis de genotipagem
para centenas de milhares de marcadores moleculares do tipo SNPs (Single Nucleotide Polymorphism) ao
longo de todo genoma (Matukumalli et al., 2009), proporcionaram um grande avanço nos programas de
melhoramento ao viabilizar a inclusão de informações provenientes da molécula de DNA na predição de
valores genéticos.
Meuwissen et al. (2001) propuseram um novo método de seleção chamado de Genome Wide
Selection (GWS), que pode ser definido como a seleção simultânea por dezenas (ou centenas) de milhares
de marcadores moleculares distribuídos densamente por todo genoma, de forma que todos os genes que
controlam a expressão de uma característica quantitativa estejam em desequilíbrio de ligação (LD) com
pelo menos um marcador.
O sucesso da GWS depende da capacidade de estimar com precisão os efeitos de milhares
marcadores simultaneamente. Portanto, é necessária a utilização de um grande tamanho amostral e que os
indivíduos apresentem informações de genótipos e fenótipos (Meuwissen et al., 2001; Ziegler et al., 2008;
Cantor et al., 2010).
Da mesma forma, milhares de marcadores moleculares podem ser utilizados nos Genome Wide
Association Studies (GWAS) que visam à identificação de SNPs que estão em desequilíbrio de ligação
com regiões cromossômicas (QTLs) que controlam a manifestação fenotípica de características sob
controle poligênico (Balding, 2006).
Devido à utilização de um grande tamanho amostral e o alto custo da obtenção de genótipos em
larga escala, é de grande relevância o estudo de ferramentas alternativas que sejam economicamente mais
eficientes. A metodologia de imputação de genótipos permite predizer genótipos de marcadores não
genotipados em uma amostra de indivíduos com base em haplótipos que estão segregando na população
ou em indivíduos aparentados (Li et al., 2009).
No entanto, os algoritmos para estimação dos haplótipos sempre estão sujeitos a erros. Neste
contexto, a acurácia da imputação deve ser alta o suficiente para minimizar falsas construções de
haplótipos, com a finalidade de que os genótipos preditos forneçam confiabilidade semelhante à obtida se
as amostras fossem genotipadas por meio de um painel de maior densidade de SNPs (Mulder et al., 2012).

DESENVOLVIMENTO

Marcadores Moleculares
Marcador molecular pode ser definido como polimorfismos (diferentes formas) que um
determinado loco na molécula de DNA pode apresentar. Os polimorfismos também podem ser chamados
de alelos. Essas variações moleculares podem ser dos seguintes tipos: sequências repetitivas (micro e
minissatélites), inserções e deleções (Indels), inversões, translocações e a substituição de uma única base
(SNP) (Feuk et al., 2006). Os SNPs são o tipo mais frequente de polimorfismo que ocorre ao longo do
genoma, porém para ser considerado um marcador molecular, o alelo menos frequente deve segregar em
frequência igual ou maior a 1% na população. Os polimorfismos que segregam em menos de 1% da
população são considerados variantes raras (Brokes, 1999).
O tipo de SNP mais ocorrente envolve bases nitrogenadas de mesma conformação estrutural, ou
seja, as transições (purina/purina ou pirimidina/pirimidina), também podem ocorrer alterações entre bases
nitrogenadas de diferentes conformações estruturais, que são denominadas como transversões
(purina/pirimidina ou pirimidina/purina) (Ramalho et al., 1997).
Ramalho et al. (1997), descrevem que as variações do tipo SNP provocam a alteração de apenas
um códon e podem ocorrer tanto em regiões codificadoras, como não codificadoras do genoma. Quando
ocorrem em regiões codificadoras, os SNPs podem se comportar de três formas:
a) Mutação silenciosa: quando a substituição de bases não altera a sequência de aminoácidos na
cadeia polipeptídica, devido à redundância do código genético. Porém podem modificar a estrutura e
estabilidade do mRNA e consequentemente, afetar a expressão gênica.
b) Mutação de sentido errado: quando a substituição de bases resulta na troca de um aminoácido
na cadeia polipeptídica, podendo acarretar modificações estruturais e funcionais da proteína expressada.
c) Mutação sem sentido: quando a substituição de bases promove o surgimento de um dos códons
de terminação da síntese do mRNA, impedindo a síntese completa da cadeia polipeptídica.

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Quando ocorrem em regiões não codificadoras, os SNPs podem promover: splicing alternativo,
mudanças no padrão de expressão de genes (como no caso de alterações em sequências de promotores),
alterações em códons de poliadenilação na molécula de RNA mensageiro e alteração nos códons de
iniciação de tradução (Guimarães & Costa, 2002).
Recentemente, o Projeto Genoma Bovino, concluído em 2009, onde foi realizado o
sequenciamento e mapeamento do primeiro genoma de referência bovino (The Bovine HapMap
Consortium, 2009; The Bovine Genome Sequencing and Analysis Consortium, 2009), possibilitou o
desenvolvimento de plataformas de genotipagem para centenas de milhares de marcadores moleculares
do tipo SNPs ao longo de todo genoma (Matukumalli et al., 2009). Essa tecnologia apresenta grande
potencial de aplicação nos programas de melhoramento ao viabilizar a inclusão de informações
provenientes da molécula de DNA na predição de valores genéticos e na identificação de QTLs, visando
melhorar a compreensão do controle genético de características economicamente importantes
(Matukumalli et al., 2009).

Desequilíbrio de ligação
De acordo com Hey (2004), com exceção de pontos onde ocorre elevada taxa de recombinação, o
genoma é herdado em blocos de haplótipos, que são formados pelo desequilíbrio de ligação. A utilização
de marcadores moleculares na seleção e no melhoramento genético é alicerçada pelo LD entre os
marcadores e QTLs (Meuwissen, 2001).
O LD refere-se à associação não aleatória entre alelos de diferentes locos e preconiza que quanto
menor for à taxa de recombinação entre os locos, maior a probabilidade de que os alelos sejam herdados
em conjunto. Esta associação ocorre, principalmente, pela proximidade física entre os diferentes locos e
pode ser influenciado por diversos processos evolutivos e acontecimentos históricos da população (Ardlie
et al., 2002; Khatkar et al., 2008).

Controle de qualidade dos SNPs


A qualidade dos dados é um dos fatores decisivos para a confiabilidade dos resultados e das
conclusões. Portanto, a escolha dos parâmetros de controle de qualidade (QC) é baseada em atributos que
objetivam refletir a utilidade e a integridade do genótipo de um dado SNP. Assim sendo, a seguir são
apresentados alguns procedimentos de QC que geralmente são utilizados.
1. Gen Train e Genotype Calling Score
Na tecnologia Illumina®, a designação do genótipo dos SNPs é determinada pela intensidade de
fluorescência emitida pela reação físico-química que ocorre no sítio de hibridização específico de cada
SNP. Para tanto, um software chamado GenomeStudio®, contém uma série de algoritmos que
normalizam as intensidades observadas nos dois canais de cores emitidas (verde e vermelho), além das
interferências de background e as possíveis sobreposições entre os canais. Dependendo das formas e das
distâncias entre os aglomerados, é atribuída uma pontuação estatística (Gen Train Score), que será
utilizada na formação de três possíveis grupos que representam os genótipos hipotéticos AA, AB e BB
(Ritchie et al., 2011).
Na determinação dos genótipos é estabelecida uma pontuação Genotype Calling Score que
consiste na determinação do valor de confiança de cada genótipo. Essa pontuação dependerá da distância
do SNP do centro do grupo no qual ele foi designado. Este parâmetro pode ser usado como padrão de
qualidade filtrando genótipos atribuídos com baixa confiabilidade. Os valores de GC variam entre 0 e 1,
sendo que quanto mais próximo a 1, maior é a confiança ao genótipo atribuído (Ritchie et al., 2011).
2. Call Rate
Os marcadores que apresentarem valores abaixo do limiar estabelecido para GC score são
determinados como perdidos. O Call Rate do SNP é definido como a razão entre o número de genótipos
com GC Score superior ao limiar estabelecido e o número total de amostras genotipadas para determinado
marcador (Turner et al., 2011) e é um indicador da qualidade da genotipagem. Este filtro também é
aplicado ao nível das amostras e reflete a proporção de marcadores que falharam para cada indivíduo.
3. Equilíbrio de Hardy-Weinberg
O equilíbrio de Hardy-Weinberg preconiza que os genótipos de um loco bi alélico AA, AB e BB
ocorram com frequências relativas de p², 2pq e q² respectivamente, onde p refere-se a frequência do alelo
A e q = 1 - p (Hardy, 1908; Weinberg, 1908). Desvios das proporções de Hardy-Weinberg podem ser
indicativos de possíveis erros de genotipagem, estratificação da população, endogamia e marcas de

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seleção (Salanti et al., 2005; Turner et al., 2011) o que tem levado este parâmetro a ser bastante utilizado
no controle de qualidade dos SNPs.
4. Menor frequência alélica
A “Minor Allele Frequency” (MAF) refere-se à frequência à qual o alelo menos comum ocorre
numa dada população. Geralmente, alelos com frequência inferior a 2% na população são excluídos das
análises posteriores, pela dificuldade de predizer estes alelos na imputação. Este parâmetro é utilizado
para diferenciar polimorfismos comuns de variantes raras e erros de genotipagem (Turner et al., 2011).

Imputação de genótipos
Imputação de genótipos é a predição de genótipos de marcadores genotipados em uma amostra de
indivíduos com base em haplótipos que estão segregando na população ou em indivíduos aparentados (Li
et al., 2009). Entre as utilidades desta metodologia destacam-se, redução dos custos da genotipagem por
indivíduo, preencher a matriz de genótipos proporcionando incremento na acurácia nas predições de
valores genéticos genômicos em GWS (Habier et al., 2009; Hayes et al., 2012), da mesma forma podem
ser utilizados genótipos imputados no mapeamento de QTLs por meio dos GWAS, combinar informações
de animais genotipados com painéis de diferentes densidades (Santana et al., 2014ab), melhorar a
qualidade (Call rate) de amostras genotipadas com painéis de uma única densidade que apresentam
marcadores que falharam (Yu & Schaid, 2007).
Os softwares de imputação podem ser divididos em três categorias principais:
1) Softwares de base populacional: utilizam informação do LD da população para reconstruir
haplótipos e inferir sobre os genótipos faltantes, por exemplo fastPHASE (Scheet & Stephens, 2006),
Mach (Li et al., 2010); Beagle (Browning & Browning, 2007); IMPUTE2 (Howie et al., 2009).
2) Softwares de base familiar: utilizam informação do pedigree para predizer a fase de ligação dos
alelos e inferir sobre os genótipos faltantes, por exemplo o software AlphaImpute (Hickey et al., 2011).
Este método exige que ambos os pais sejam genotipados com chip de alta densidade de marcadores.
3) Softwares de base familiar + populacional: utilizam informações combinadas do pedigree e
desequilíbrio de ligação para inferir sobre os genótipos faltantes, por exemplo findhap (VanRaden et al.,
2011) e FImpute (Sargolzaei, 2011).

Delineamento
O delineamento do estudo de imputação exerce grande influência na acurácia e consequentemente
na utilidade dos genótipos imputados. A acurácia da imputação pode ser afetada por diversos fatores,
entre eles, à distância física e consequentemente o desequilíbrio de ligação entre marcadores, parentesco
entre os indivíduos, a diferença no número de marcadores entre o painel de menor e o de maior
densidade, frequências alélicas e o método utilizado (Khatkar et al., 2012; Carvalheiro et al., 2014;
Boison et al., 2015).
No processo de predição dos genótipos, basicamente são utilizados dois conjuntos de dados
denominados população de referência e população de validação. Na população de referência, os animais
são genotipados em painéis de alta densidade e as informações desse conjunto de dados serão utilizadas
para estimar a fase de ligação e construir os haplótipos de referência. De acordo com a literatura (Hickey
et al., 2012; Carvalheiro et al., 2014) a acurácia da imputação tende a ser maior quando o parentesco é
levado em consideração ao se realizar uma criteriosa escolha dos indivíduos que irão compor este
conjunto de dados. Isso se deve ao fato de indivíduos aparentados compartilharem longos haplótipos que
são idênticos por descendência, ou seja, são provenientes de um ancestral comum (Palin et al., 2011).
A população de validação é formada por animais genotipados em baixa densidade e neste conjunto
de dados os genótipos ausentes serão preditos por meio da imputação. Tem sido observado que quanto
maior for à diferença na densidade de marcadores entre a população de referência e a população de
imputação, menor é a acurácia obtida (Carvalheiro et al., 2014; Larmer et al., 2014; Boison et al., 2015).
Em busca de obter maiores acurácias, diversos autores optam pela imputação em dois passos, onde
primeiramente é realizada a imputação a partir de genótipos em baixa para média densidade e
posteriormente para alta densidade (Carvalheiro et al., 2014; Boison et al., 2015).
Para avaliar a acurácia da imputação, parte dos animais genotipados em alta densidade tem seus
genótipos mascarados para baixa densidade e incorporados à população de validação. Após a imputação
os genótipos imputados são comparados com os originais.

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Medidas de acurácia da imputação


A acurácia da imputação pode ser mensurada ao nível das amostras e dos SNPs. Ao nível de
amostras, Boison et al (2015) descrevem duas formas distintas de se calcular a acurácia. Sendo a primeira,
um menos a média da diferença entre genótipos observados e imputados de determinada amostra:

Onde corresponde ao número total de marcadores; corresponde ao genótipo observado (0, 1,


2) para o SNP no indivíduo ; corresponde ao genótipo imputado para o SNP no indivíduo .
A segunda forma utiliza a correlação de Pearson entre genótipos observados e imputados de
determinada amostra:

Onde , , , e são definidos assim como em ; e correspondem ao valor


médio dos genótipos observados e imputados, respectivamente.
A correlação ao quadrado entre o número de cópias do alelo menos frequente observado e o
número de cópias do mesmo alelo imputado em determinado loco descreve uma medida de acurácia ao
nível dos alelos. Esta medida pode ser calculada também quando os verdadeiros genótipos não são
observados a partir das probabilidades a posteriori dos genótipos imputados, de acordo com Browning &
Browning (2007).
Os mesmos autores descrevem outra medida chamada de erro padronizado de frequências alélicas,
onde é a frequência alélica em uma amostra de indivíduos, de uma população em equilíbrio de
Hardy-Weinberg. O erro padrão estimado da frequência alélica na população é . Se é a
frequência alélica obtida a partir dos genótipos imputados, o erro padronizado de frequências alélicas
pode ser obtido por:

Esta medida indica em unidades de desvio padrão, o quanto a frequência alélica estimada a partir
dos genótipos imputados se distancia da frequência alélica obtida a partir dos genótipos verdadeiros.

Perspectivas
O recente desenvolvimento de tecnologias de sequenciamento de próxima geração (NGS) tornou
concebível a utilização de dados de sequenciamento completo do genoma em avaliações genéticas. Este
fato despertou a atenção da comunidade cientifica que já vem desenvolvendo métodos de predição de
valores genéticos utilizando dados de NGS (Meuwissen & Goddard, 2010; Ober et al., 2012; Pérez-
Enciso et al., 2015). Meuwissen & Goddard (2010) demonstraram que as predições genômicas utilizando
dados simulados de sequenciamento proporcionam acurácia superior em cerca de 5-10% quando
comparadas com predições utilizando dados de SNPs em alta densidade. Embora o custo da técnica de
NGS venha reduzindo dramaticamente ao longo do tempo, a obtenção de genomas sequenciados para
milhares de indivíduos, como é necessários para estimar com precisão os pequenos efeitos prováveis dos
genes, é financeiramente dispendiosa. Uma estratégia alternativa é explorar o fato de que as populações
em seleção geralmente derivam de um reduzido número de ancestrais. Neste contexto a imputação
apresenta promissora aplicação, desde que os ancestrais-chave tenham o genoma sequenciado e utilizado
como referência, os descendentes podem ser genotipados por painéis de SNPs, a fim de inferir sobre sua
sequência completa do genoma (Binsbergen, et al., 2014; Druet et al., 2014).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pesquisas recentes demonstram que a imputação de genótipos apresenta grande importância por
proporcionar redução nos custos de genotipagem por indivíduo e o aumento da acurácia nos estudos que
utilizam marcadores moleculares. O desenvolvimento de tecnologias de sequenciamento de próxima
geração proporcionam perspectivas ainda mais promissoras para utilização da imputação.

LITERATURA CITADA

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PONTOS CRÍTICOS PARA A VIABILIDADE DO USO DA FIV NO


EXTRATO COMERCIAL DA CADEIA BOVINA DA CARNE

Luiz Gustavo Cavalca1, Roberto Augusto de Almeida Torres Junior3, Luiz Otavio Campos
da Silva3, Bruna Silva Marestone1, Daniel França Mendonça Silva1, Livia Ajul Miyasato2
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS
2
Graduanda em Medicina Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS
3
Pesquisador do Centro Nacional de pesquisa em Gado de Corte – CNPGC / EMBRAPA
e-mail: roberto.torres@embrapa.br

Resumo: A partir dos valores genéticos do rebanho nacional, fez-se um estudo quanto a utilização de
uma ou mais biotecnologias da reprodução, com o intuito de produzir animais, mais precoces e com uma
conversão alimentar melhor, aumentando assim a rentabilidade na fase de cria e disponibilizando ao
mercado um bezerro de qualidade melhor. Assim simulando a utilização destas biotecnologias da
reprodução juntas, poderemos dizer se é viável economicamente sua utilização no rebanho comercial.

Palavras-chave: biotecnologias da reprodução, ganho genético, fase de cria, viabilidade econômica

Critical to the viability of the use of IVF in the commercial extract of bovine meat chain

Abstract: Starting form a study of genetic values of the national cattle, regarding their use of one or more
reproduction biotechnologies, in order to produce premature animals with a better food convertion, this
increasing the yield during the growing stage and providing to the market a better calf quality. This
simulating the use of these biotechnologies of reproduction together, it’s possible to say if it is
economically affordable to use in the commercial cattle.

Keywords: Reproduction biotechnology, genetic gain, creates phase, economic feasibility

INTRODUÇÃO

Com aproximadamente 211 milhões de bovinos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE, 2013), o Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo. Cerca de 80% do rebanho
está localizado na região tropical e é composto por animais de raças zebuínas (Bos indicus), que são
animais de comprovada rusticidade e adaptação ao ambiente predominante no Brasil. Dentre estas raças,
podemos destacar o Nelore, com 90% desta parcela.
Apesar do esforço de melhoria do sistema de produção como um todo, especificamente do mérito
genético dos animais, a pecuária brasileira ainda é marcada pelos baixos índices de produtividade. Ao
analisarmos o sistema de produção de bovinos de corte, a lucratividade está diretamente ligada à
eficiência reprodutiva. O rebanho brasileiro em 2009 (FAO) era composto por 199.752.016 animais e
tem, aproximadamente, 57 milhões de fêmeas bovinas de raças de corte em idade reprodutiva com 40
milhões de bezerros nascidos (ANUALPEC, 2008). Portanto, caracteriza-se um intervalo entre partos de,
aproximadamente, 17,15 meses ou a produção de 0,7 bezerros/vaca/ano. Por outro lado, a competição por
área com a agricultura, que emprega altíssimos níveis de intensificação, apresenta índices de
produtividade elevados em nível mundial e proporciona uma elevada remuneração por área, somada à
dificuldade de abertura de novas áreas devido à pressão contra o desmatamento, tem forçado a pecuária a
buscar o caminho da intensificação.
A realidade atual é a criação do nelore como raça pura, predominantemente a pasto, com
suplementação mineral, entretanto, o uso de suplementação protéico/energética estratégica, de consumo
reduzido, vem aumentando a cada dia, suprindo a carência de nutrientes nos pastos durante o período
“seco” do ano. Além disso, uso de concentrados sob a forma de concentrados de alto consumo para o
acabamento de animais em pasto e do confinamento como forma de acabamento, além da disponibilidade
de pastagens de altíssima qualidade provenientes da integração lavoura-pecuária, também tem crescido.

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Em função disso e de os zebuinos (Bos taurus indicus) apresentarem menores ganhos de peso, quando
comparado com animais taurinos (Bos taurus taurus) nesses sistemas intensificados e carne com menor
maciez e menor apelo no mercado internacional, têm se observado uma tendência firme de aumento do
uso de cruzamento, o que tem sido viabilizado pela técnica da inseminação artificial em tempo fixo
(IATF) e pode ser constatado pela comercialização de sêmen das raças taurinas, com destaque para a raça
Angus (ASBIA, 2014). Vale ressaltar que nas espécies onde a intensificação é maior, como em suínos e
aves, quase 100% da produção comercial é feita com animais cruzados em função do impacto que a
adoção dessa tecnologia tem na produtividade e lucratividade da cadeia.
Outra tecnologia com potencial para aumentar substancialmente a produtividade e revolucionar a
pecuária de corte é a sexagem de sêmen. É notável a vantagem do macho no sistema de produção de
corte, o que pode ser visualizado no maior peso ao desmame, no maior preço por quilo ao desmame, na
maior taxa de ganho de peso na recria e na engorda, na maior eficiência alimentar, no maior peso de
carcaça produzida e no maior preço pago pelo frigorífico. Isto contribui não somente para a lucratividade
do pecuarista, mas para a eficiência das plantas frigoríficas e para o apelo ambiental da cadeia, já que o
custo ambiental da cria é diluído por um maior volume de carne ao abate. Infelizmente, a adoção da
tecnologia do sêmen sexado tem esbarrado na menor eficiência na inseminação convencional, nos baixos
índices de fertilidade quando utilizado em protocolos de inseminação em tempo fixo e no custo
relativamente alto da dose de sêmen (Baruselli et al, 2007) mostra que o índice de prenhes com sêmen
sexado na IATF, atinge 50 a 60% dos índice conseguido com a dose de sêmen convencional.
Por outro lado, o sêmen sexado tem mostrado bons resultados na produção in vitro de embriões,
onde o uso eficiente do sêmen viabiliza a diluição do custo mais alto da dose, inclusive permitindo uso de
touros ainda melhores. Além disso, a técnica da produção in vitro de embriões (PIVE) seguida pela
transferência dos embriões em tempo fixo (TETF) em receptoras sincronizadas permite uma série de
vantagens adicionais como a dissociação da composição racial e do valor genético do bezerro ao do
rebanho de vacas.
O presente trabalho tem por objetivo fazer um levantamento dos diferentes aspectos relacionados à
melhoria de eficiência, com redução de custos ou melhoria da qualidade do produto na adoção da
fertilização in vitro (FIV), do sêmen sexado, inseminação artificial em tempo fixo (IATF), transferência
de embrião em tempo fixo (TETF) e cruzamento industrial que possam respaldar uma estratégia de uso da
FIV no extrato comercial que contribuía para a melhoria da produtividade e lucratividade da cadeia
produtiva da carne.

DESENVOLVIMENTO

O Brasil é o líder mundial na produção de prenhes pela técnica da PIVE/TE ou simplesmente, FIV,
como é mais conhecida. Isto se deve a uma série de fatores que serão discutidos abaixo, mas o que
importa é que a tecnologia já está no campo, a um custo cada vez mais baixo, o que permite vislumbrar
sua adoção no extrato comercial. Enquanto a IATF vem viabilizando a ampliação do uso da inseminação
artificial, fazendo com que o Brasil tenha quase dobrado a adoção dessa técnica, ela tem apresentado um
custo próximo a R$ 90,00 por prenhez, assumindo 50% de prenhes, R$15,00 por protocolo, R$15,00 por
dose de sêmen e R$15,00 pelo trabalho do veterinário por vaca inseminada, a TETF em larga escala tem
tido custo próximo dos R$ 400,00 por prenhes.
Começando pela doadora e chegando à prenhes, pode-se subdividir o processo em vários passos cuja
discussão facilita o entendimento e a organização do processo. Nesse sentido podemos começar pela
composição racial da doadora, passando pelo mérito genético da doadora, pelo método de colheita dos
oócitos, pela distância do laboratório ao local onde estão as doadoras, pela necessidade de controle de
paternidade, pelo uso do sêmen sexado, pela composição racial do touro, pelo mérito genético do touro,
pela composição racial, estágio reprodutivo, estado sanitário e condição corporal das receptoras, pela
distância do laboratório ao local onde se encontram as receptoras.

Composição racial e valor genético das doadoras


Um dos aspectos ligados ao sucesso da FIV no Brasil está relacionado à alta eficiência de
produção embriões com as raças zebuínas, comparado às raças taurinas. Até porque as pesquisas foram
direcionadas para o ajuste da tecnologia na produção de embriões de zebuínos.
Enquanto o uso de doadoras nelore permite a produção de um F1, a utilização de doadoras F1,
permite a produção de animais com média de 75% de gens de origem taurina, que podem ser direcionados

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para atender mercados mais exigentes, bem como responder melhor aos ambientes de produção mais
intensificados.
A fêmea F1 mais disponível atualmente é a fêmea F1 Angus x Nelore, entretanto caso houvesse
interesse em utilizar o Angus como raça terminal e recriar animais em pastagens, doadoras capazes de
oferecer um pouco mais de adaptação como as F1 de raças taurinas adaptadas ( Caracu x Nelore, Senepol
x Nelore) ou cruzadas com maior percentual de zebu (Brangus x Nelore, Braford x Nelore, etc).
Já quanto ao mérito genético das doadoras, é importante lembrar que a defasagem genética do
rebanho comercial em relação ao rebanho puro é grande, portanto, ovários de frigorífico representam
matrizes de baixo potencial genético. Por outro lado, o baixo rendimento de embriões por coleta e a
pequena margem para remuneração do dono da genética podem inviabilizar o uso de animais puros como
doadoras.
Neste sentido, estratégias paliativas, são a utilização de doadoras, provenientes de rebanhos com
uso agressivo de material genético superior, escolha de ovários proveniente de animais jovens (novilhas,
primíparas ou vacas jovens falhadas).
Alternativamente, novilhas F1 podem ser produzidas com IATF utilizando sêmen de touros de alto
valor genético para serem utilizadas como doadoras de ovócitos, seja in vivo ou post mortem.

Colheita de oócitos
A colheita de oócitos é considerada a base do programa de produção de embriões in vitro (Pieterse
et al., 1988), podendo ser realizada tanto post mortem, por meio de ovários de abatedouros, quanto in
vivo, por meio de punção ovariana com auxílio de ultrassom (OPU).
Quando a coleta é realizada in vivo, a equipe de coleta consiste de um veterinário com treinamento
especializado em punção ovariana e um laboratorista com treinamento em manipulação e seleção de
ovócitos. Além disso, é necessário o uso do ultrassom acoplado a uma sonda vaginal, bomba de vácuo,
sistema de agulhas e canulas, bem como o uso de microscópio estereoscópico, placa de petri, pipetas,
meios de cultura e ou maturação, criotubos e estufa para transporte, usados pelo veterinário e pelo
laboratorista, para levar esses oócitos na melhor condição possível ao laboratório. Avaliando o transporte
de oócitos bovinos em criotubos com meio de maturação TCM, associado ao tampão Hepes, a 38,5ºC,
sem controle da atmosfera gasosa, acondicionados em incubadora portátil (Minitub), Silva et al.
(2011) não encontraram diferença nas taxas de blastocistos quando o transporte foi simulado por até nove
horas em relação ao grupo controle, mostrando viabilidade desta técnica por este período. Em um estudo
semelhante, entretanto, com tubo de poliestireno em banho-maria, a 39ºC, Leivas et al. (2004) não
encontraram diferença no número e na qualidade de blastocistos, quando os oócitos foram
transportados por até 12 horas, contudo, uma redução significativa ocorreu quando este transporte se
prolongou por 18 horas.
Neste caso, incide o custo do transporte da equipe de coleta e dos embriões no custo de produção
dos embriões. Sendo assim, teremos impacto da distância e do volume de embriões sobre o custo do
deslocamento para aspiração no preço final por prenhes.
Uma grande vantagem da aspiração in vivo é que as doadoras podem ser aspiradas mais de uma
vez. Aspirações podem ser feitas a cada 14 dias, mas isso pode levar no curto prazo ao esgotamento da
doadora, caso elas tenham um valor superior e se queira realizar as aspirações sem comprometer sua vida
reprodutiva futura, estas podem ser repetidas a cada 23 dias.
Pelo fato de não se abater a matriz, pode-se também pensar em investir no mérito genético das
doadoras. Assim, podemos considerar o uso de vacas PO como doadoras, ou matrizes de alto mérito
genético produzidas com a finalidade específica de serem doadoras de ovócitos. Neste último caso,
podemos lançar mão de uma geração de multiplicação para amplificar o investimento no mérito genético
das doadoras.
Atualmente, a OPU encontra-se relativamente estabilizada quanto ao uso de equipamentos e
aparato técnico, com poucas expectativas de mudanças tecnológicas que proporcionem redução
expressiva de custo exceto aquela possível com o aumento da escala de produção.
Quando realizada post mortem, através de ovários bovinos provenientes de abatedouros, é efetuada
a punção folicular com agulha acoplada a uma seringa ou bomba de vácuo (Gonçalves et al., 2002), neste
caso, um técnico de laboratório bem treinado é capaz de realizar as punções com grande agilidade, com
um rendimento de por ovário, bem próximo das médias in vivo, a diferença se da na quantidade de
ovários manipulados e os custos de deslocamento da equipe.
Neste caso temos apenas o custo do transporte dos ovários do frigorífico até o laboratório, após

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coletados os ovários são acondicionados em solução salina 0,9%, com antibiótico, 0,2 mg/ml de
gentamicina, pré-aquecida a 360 C.
Apesar de bastante utilizada com propósitos científicos e viabilizar o nascimento de um número
expressivo de descendentes de doadoras que vieram a óbito, quando realizada na forma comercial, este
procedimento esta reconquistando o interesse dos laboratórios produtores de embriões de FIV, a fim de
viabilizar economicamente a produção em larga escala de embriões sexados de macho para o rebanho
comercial, já que suprime quase que completamente uma parcela significativa do custo da PIVE que é o
da OPU.

Maturação de oócitos
Durante a maturação, primeira etapa laboratorial da produção in vitro, os oócitos colhidos passam
por uma série de transformações do núcleo e do citoplasma, maturação nuclear e citoplasmática tornando-
os aptos a serem fertilizados (Gordon, 2003). Com poucas exceções, a maturação de oócitos bovinos in
vitro é realizada a 39°C por 22 a 24h em atmosfera de 5% de CO2 em ar e umidade saturada (Gonçalves
et al., 2002). Somente após a conclusão dos processos de maturação nuclear e citoplasmática é que o
oócito torna-se competente para a fertilização e o desenvolvimento embrionário inicial (Varago et al.,
2008).

Fertilização in vitro
A fertilização é caracterizada pela fusão do espermatozoide com o oócito, após ocorre a exocitose
dos grânulos corticais e a retomada da meiose com extrusão do segundo corpúsculo polar e formação do
pronúcleo feminino. O núcleo espermático se descondensa transformando-se no pronúcleo masculino
(Hafez e Hafez, 2004). O sistema de fertilização in vitro tenta mimetizar as condições in vivo. Porém,
resultados variados são obtidos com espermatozoides oriundos de touros ou partidas diferentes. Uma
média de 40% ou mais dos oócitos maturados e fecundados in vitro podem se desenvolver até o estádio
de blastocisto (Bavister, 2002).
Cada gameta (célula haplóide) possui apenas um cromossomo sexual, o feminino (oócito) é
portador do cromossomo sexual X e o masculino (espermatozoide) possui o cromossomo sexual X ou Y.
Dessa forma, o sexo genético é determinado pelo cromossomo sexual presente no espermatozoide (X ou
Y), no momento da fertilização (Hafez e Hafez, 2004). De forma natural na reprodução dos mamíferos, a
proporção entre macho e fêmea esperada é em torno de 50% (Xu et al., 2009). Entretanto, alguns tipos de
meio de cultivo celular, tem como desvantagem aumento na proporção de machos e distúrbios na
expressão genética, disturbios na gestação e alterações fenotipicas nos neonatos (Bavister, 1995;
Guitiérrez Adan et al., 2001; Waldrop et al., 2004).
A busca por métodos capazes de selecionar o sexo dos animais sempre foi um desafio e objeto de
estudos ao longo dos anos (Arruda et al., 2012; Wheeler et al., 2006). Depois de diversas técnicas
experimentadas, atualmente, a sexagem de espermatozoides através da citometria de fluxo é largamente
aceita com grande avanço entre as tecnologias da reprodução (Blondin et al., 2009). Baseada na diferença
entre o conteúdo do DNA do espermatozoide X e Y(aproximadamente 4% em bovinos), esta técnica, que
foi desenvolvida em 1989 por Larry A. Johnson, é considerada o principal método validado para seleção
do sexo antes do nascimento, sendo que na espécie bovina avançou suficientemente para permitir o uso de
forma comercial (Blondin et al., 2009; Seidel et al., 1999). A precisão da sexagem está em torno de 85-
95%.
Existem controvérsias quanto aos resultados da PIVE com sêmen sexado, enquanto alguns estudos
mostram taxas de clivagem e produção de blastocistos semelhantes às encontradas com sêmen
convencional (Blondin et al., 2009; Carvalho et al., 2010; Lu & Seidel, 2004), outros mostram resultados
inferiores com o sêmen sexado (Merton et al., 1997; Palma et al., 2008; Stinstroff et al., 2012). No
entanto, a técnica ainda está em desenvolvimento e é inegável o grande avanço proporcionado pelo seu
uso na indústria de embriões bovinos in vitro. Na IATF os resultados com o sêmen sexado ainda se
apresentam bastante modestos, já na produção de embriões in vitro, mesmo que inconstante os resultados
são satisfatórios.

Ganho de Produtividade dos Machos vs Fêmeas


Alves (2000) constatou maior capacidade para ganho de peso e conversão alimentar em machos
em comparação as fêmeas. Junqueira (1998) também verificou diferença significativa em favor dos
machos quanto ao ganho de peso diário. Chardulo (2000) relatou diferença favorável aos machos, no

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ganho de peso diário dos bezerros submetidos ao confinamento após a desmama até a terminação.
(Hendrick et al., 1969) mostraram que garrotes são 5% mais eficientes que as novilhas na conversão
alimentar. (Junqueira et al,. 1998) apontou melhor rendimento econômico dos machos em relação as
fêmeas. Aliado a maior ganho de peso e melhor conversão alimentar, melhor rendimento de carcaça,
ainda temos que somar uma maior valor comercial dos machos, ou seja a carcaça do macho vale mais.
(Filho et.al., 2003) avaliou o desempenho de diversos grupos genéticos de bovinos de corte e concluiu
que os cruzamentos aumentam o ganho de peso e a eficiência alimentar.

Cultivo embrionário
O cultivo embrionário in vitro, corresponde ao desenvolvimento do oócito fertilizado até o estádio
de blastocisto. O cultivo embrionário in vitro varia de sete a nove dias a 39°C, atmosfera controlada (5%
de O2, 5% de CO2 e 90% de N2) e umidade saturada. A taxa de blastocisto geralmente é avaliada no 7°
dia após a fecundação, quando são transferidos, sendo que os blastocistos podem permanecer na estufa até
o 9°dia para avaliar a taxa de eclosão in vitro (Goncalves et al., 2008).

Transporte de oócitos
No Brasil, em função da grande extensão territorial, as condições de transporte de oócitos até os
laboratórios de PIVE são consideradas como fator limitante na produção comercial de embriões bovinos,
em muitos casos, o tempo transcorrido nestes transportes pode interferir diretamente na viabilidade dos
oócitos e nas posteriores etapas da produção in vitro (Leivas et al.,2004; Tessmann et al., 2004). Entre os
principais métodos de transporte adotados pelos laboratórios estão: o uso de criotubos ou tubos de ensaio
em estufas portáteis em que o pH do meio é controlado pelo sistema bicarbonato/CO2 (Kaiser et al.,
1999), o uso de meios que contenham tampão orgânico (Hepes), que não necessita de controle da
atmosfera (Leivas et al., 2004; Silva et al., 2011).

Transporte e implantação de embriões


Da mesma forma num programa de produção de embriões de FIV em larga escala existem algumas
limitações. Uma delas é a distância entre os laboratórios de produção in vitro e as propriedades rurais
onde são criadas as receptoras. Muitas vezes as fazendas com grandes rebanhos bovinos em que os
animais são utilizados como receptoras estão localizadas em áreas novas de produção, como ao norte e
nordeste do Brasil, enquanto que os grandes centros de produção in vitro estão a milhares de quilômetros
de distância nas regiões sul e sudeste (Marinho et al., 2012). Uma alternativa para longas distâncias é o
transporte de embriões no próprio meio de cultivo, onde de acordo com a distância, os embriões são
transportados em diferentes estádios de desenvolvimento de forma que o fim do transporte coincida com
o fim do cultivo, ou seja, o dia sete do CIV(dia 0 = dia da FIV). Assim as últimas etapas de
desenvolvimento ocorrem durante o transporte, sendo este realizado em incubadoras portáteis simulando
as condições do laboratório (39º e 5% de CO2 em ar) (Pontes et al., 2010). Existem inúmeras pesquisas
para conseguir produzir com índices comerciais embriões de FIV, criopreservados ou vitrificados, mas
ainda os resultados estão aquém do comercialmente viável.

Receptoras
A variabilidade nos resultados das transferências de embriões produzidos in vitro ainda é um dos
entraves para a sua expansão, e a maioria dos problemas são relacionados com as receptoras (Marinho et
al., 2012). Entre os fatores que afetam as taxas de gestação, a sincronia entre o trato reprodutivo da
receptora e o embrião no momento da transferência é de grande relevância (Andrade et al., 2012).
Maiores conhecimentos da função ovariana, por meio da ultrassonografia, permitiram a elaboração de
protocolos eficientes em controlar o status luteínico e folicular em receptoras de embrião, possibilitando
uma eficiente sincronização e permitindo a transferência de embriões em tempo fixo (TETF) (Baruselli
et al., 2004; Bó et al., 2004). Entre os protocolos existentes no mercado, destacam-se os tratamentos
com dispositivos de progesterona/progestágenos e estrógenos, os quais têm apresentado altas taxas de
aproveitamento de receptoras (85-90%) e de gestação das fêmeas transferidas (40-50%), resultando
em altas taxas de prenhes do lote de receptoras (35 a 45%) além de eliminar a necessidade de detecção
de estro, viabilizando programas de transferência de embriões em tempo fixo em larga escala (Bó et al.,
2004; Rodrigues et al., 2010), com manejo muito semelhante ao que é adotado nos procedimentos de
IATF.

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É imprescindível observar, até mesmo com maior cuidado, todos aspectos relacionados ao sucesso
dos protocolos de IATF (condição corporal, manejo, medicamentos), no lote de receptoras, visto que o
custo do procedimento é mais caro o que aumenta as perdas no caso de insucesso.
Um ponto relevante é a questão da disponibilidade de matrizes, que deve levar ao uso como
receptoras predominantemente de matrizes Nelore e F1 Angus x Nelore, sendo assim, deve-se observar o
sistema de produção a que serão submetidos os produtos, dando preferências às matrizes F1 quando os
animais forem confinados ao desmame e às matrizes Nelore quando eles forem ser recriados a pasto.
Havendo possibilidade, novilhas, apesar da excelente fertilidade em função de não estarem
sustentando uma lactação, devem ser preteridas como receptoras, pela menor capacidade de criar o
produto macho cruzado da TETF, sendo direcionadas para a reposição do plantel de vacas Nelore.
Novilhas cruzadas já não teríamos problema, entretanto precisamos tomar cuidados com possíveis
problemas de parto.

Composição racial e qualidade genética do reprodutor


Em um sistema de cruzamento, além da parte de heterose, temos a parte aditiva das raças
empregadas. Normalmente, quando se produz apenas machos destinados ao abate, chamamos este
cruzamento de terminal, selecionando raças de maior porte, excelente qualidade de carcaça e alto
potencial de crescimento e alta qualidade de carne. Tradicionalmente, este espaço era reservado para as
raças continentais, entretanto, ele vem sendo tomado pela raça Angus, em função da grande
disponibilidade de touros, da excelente qualidade de carne, do alto ganho genético proporcionado pelos
programas de melhoramento atuantes e dos programas de remuneração por qualidade de carne. Estudos
da Embrapa Pecuária Sudeste mostram que, quando os animais são confinados ao desmame, o Angus
proporcionou excelentes taxas de ganho mesmo quando acasalado com matrizes Angus x Nelore. No caso
dos animais serem recriados a pasto, sugere-se o produto do Angus sobre doadoras Nelore ou sobre
doadoras com um maior nível de adaptação, seja uma F1 taurino adaptado x nelore (Caracu x Nelore,
Senepol x Nelore, etc.) ou uma fêmea com maior percentual de zebu (Brangus x Nelore, Braford x
Nelore, Canchim x Nelore, etc.)
O uso de touros melhoradores, ou seja, aqueles que melhoram o patrim nio genético dos rebanhos
é uma prática da maior importância na produção com eficiência e competitividade. As Deps (diferenças
esperadas de progênie) são as ferramentas adequadas para identificação desses animais e representam a
superioridade da progênie devida aos efeitos dos genes passados pelo reprodutor. Quanto maior for a Dep
do touro utilizado maior será a produção da progênie, entretanto em um cenário ideal de mercado, quanto
melhor o produto, mais o vendedor pode cobrar por ele, ou seja maior será o custo da dose de sêmen. Em
função disso, podemos estratificar os reprodutores em três níveis: 1) touros direcionados ao uso em monta
natural; 2) touros direcionados ao uso via inseminação em rebanhos comerciais e 3) touros direcionados
ao uso via inseminação quase que exclusivamente em rebanhos de elite. Acreditamos que esse último
extrato representa aqueles touros cujo uso da FIV viabiliza seu uso no extrato comercial, permitindo um
ganho adicional no valor do animal produzido.

Avaliação comparativa da TETF vs Monta Natural e IATF


Como a técnica de FIV já apresentado resultados que justificam sua utilização, e com um custo
fixado a 160 reais por prenhes, a partir de oócitos aspirados in vitro, aliada a utilização de sêmen sexado
de macho, juntamente utilização de animais melhoradores, com DEP positivas, e ainda com a
possibilidade da utilização de cruzamento industrial, faremos um estudo dos custos atuais quanto aos
valores de produção e incremento de receita, para de posse desses valores recomendar ou não a utilização
destas biotecnologias associadas.
A partir dados obtidos no Sumário Geneplus-Embrapa 2015, para a DEP do efeito direto no peso a
desmama, foi feito a média dos animais nos respectivos grupos, considerando touro TOP até 5% como
sendo animais recomendados para IA em rebanho PO e FIV, animais Top de 6 a 16% como sendo touros
recomendados para IA ou IATF em rebanho comercial, e animais classificados como TOP17 a 50% dos
ativos, como sendo touros para repasse em monta natural, ou seja touros ofertados em leilão de
reprodutores comercialmente. Sabendo que o valor genético (VG) do touro de FIV acrescido ao VG da
vaca PO, dividido por dois , resulta no VG do Touro comercial de monta, com isso podemos calcular o
valor genético médio das vacas PO(rebanho multiplicador), conforme tabela 2.

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VG touro FIV + VG vaca PO = VGTouro comercial


2

Com estas informações podemos saber da evolução genética, ou qual esta sendo o ganho genético
a cada geração, e de posso dessa informação calculamos a regressão para saber o valor genético do
rebanho nacional no extrato comercial, vaca comum, ou seja a vaca sem controle mãe de nossos bezerros
de corte.

Tabela 2 : Classificação dos animais em grupos e sua sigla


Animal sigla TOP % VG
Touro para IA e FIV em rabanho PO TFIV Até 5% 19,34
Touro para IA ou IATF em rebanho comercial TIA 6 a 16% 16,28
Touro de Monta Natural TMN 17 a 50% 6,64
Vaca PO (mãe de touros – extrato multiplicador) VPO -6,06
Vaca Comum (mãe de bezerros – extrato comercial) VC -21,3

Agora com todos esses VG levantados, faremos todos os acasalamentos possíveis e de interesse
comercial, conforme tabela 3.

Tabela 3: quadro de acasalamentos de interesse, com produtos oriundos e sigla


Acasalamentos Vaca Comercial Vaca PO
Touro de Monta
Bezerro comercial (BC) -
Natural
Touro uso na IATF Bezerro de IATF (BIATF) -
Touro uso na FIV Bezerro de FIV (BFIV) Bezerro de FIV em PO (BFPO)

Agora para cada bezerro fruto dos acasalamentos sugeridos, calculamos sua respectiva Dep a
desmama. como mostra a tabela 4.

Tabela 4: Dep dos bezerros dos acasalamentos de interesse com sua respectivas siglas.
Produtos Dep
BC -7,33
BIATF -2,51
BFIV -0,98
BFPO 6,64

Considerando o peso médio a desmama do bezerro nelore como sendo 192,3 Kg para os machos e
177,3 para as fêmeas e para cruzados Nelore X Angus sendo 232,3 para os machos e 212,3 para as
fêmeas, bem como o valor atual de mercado a R$ 7,00 para machos e R$5,70 e R$6,00 para as fêmeas
nelore e cruzadas respectivamente, tendo como fonte as médias da Leiloeira Correia da Costa, mostrado
na tabela 5.

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Tabela 5: Peso e valores dos bezerros produzidos de acordo com o grupo genético (NE – Nelore e NA –
Angus x Nelore), sexo e nível de tecnologia adotado
MACHO NE MACHO AN FÊMEA NE FÊMEA NA
DEP Peso Valor Peso Valor Peso Valor Peso Valor
(Kg) (R$) (Kg) (R$) (Kg) (R$) (Kg) (R$)
BCOM -7,33 185,0 1295,00 225,0 1575,00 170,0 969,00 205,0 1230,00
BIATF -2,51 189,8 1328,70 229,8 1608,70 174,8 996,50 209,8 1258,90
BFIV_OF -0,98 191,4 1339,50 231,4 1619,50 176,4 100,52 211,4 1268,10
BFIV_PO 6,64 199,0 1392,80 239,0 1672,80 184,0 1048,60 219,0 1313,80
Fonte: Correia da Costa Leiloes Rurais – peso médio e preço/ Kg macho R$7,00, fêmea nelore R$ 5,70 e
fêmea ½ sg R$ 6,00

Considerando o custo paterno e a técnica utilizada para se fazer um bezerro, teremos os seguintes
custos:
- Bezerro comum: valor do touro para a monta natural, considerado R$6000,00, que tem um valor de
revenda de 50%, portanto teremos 50% de depreciação a ser pago na sua vida útil de 5 anos , somando ao
juros do capital empatado e a manutenção anual deste reprodutor, dividido pelo numero de filhos, isto
confere um custo de R$80,00 para cada filho nascido.
- Bezerro de IATF: custo do protocolo, custo da dose de sêmen e custo do veterinário, considerando 50%
de prenhes na IATF, somam juntos um custo de R$ 90,00 para cada animal nascido.
- Bezerro de FIV: por ser proveniente de aspiração in vitro, não tem o custo da aspiração e o laboratório
oferece essa prenhes a custo fixo de R$ 160,00, acrescidos ao custo do protocolo, já considerando 85% de
sincronização e 40% de prenhes, teremos um custo de R$ 200,00 para cada animal nascido.
- Bezerro de FIVPO: sendo proveniente de uma vaca PO, necessita da OPU, gerando um incremento no
custo, aqui não conseguimos levantar o custo da genética, mas faremos a conta inversa para ver se ha
margem para pagar essa genética. Portanto o custo desta prenhes é de R$ 240,00.
Analisando agora todos os dados levantados, teremos:
- Bezerro comum: investimento de R$80,00 e valor médio dos filhos (50% macho e fêmea) R$ 1132,00
- Bezerro de IATF: Investimento de R$ 90,00 e valor médio dos filhos (50% macho e fêmea) R$ 1162,00,
para os nelore e R$ 1433,00 para os Cruzados (1/2 sg Angus)
- Bezerro de FIV: Investimento de R$200,00 e um valor médio dos filhos (90% de machos 10% fêmeas)
R$ 1306,07 para os nelore e R$ 1584,36
- Bezerro de FIV PO: Investimento de R$240,00 e um valor médio dos filhos (90% de machos 10%
fêmeas) R$ 1358,38 para os nelore e R$ 1636,90 para os cruzados.

Tabela 6: Investimento com a técnica para fazer uma prenhes e valor do bezerro a desmama
INVESTIMENTO VALOR MEDIO VALOR MEDIO 1/2Sg AN X
R$ NE R$ NE R$
BC 80,00 1132,00
BIATF 90,00 1162,00 1433,00
BFIV 200,00 1306,07 1584,36
BFPO 240,00 1358,38 1636,90

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nestes valores podemos concluir que é viável economicamente o uso da TETF na
produção de bezerros de corte, a partir da aspiração post mortem, o mesmo não podemos falar se a
aspiração for feita em vaca PO, com o uso da OPU, pois o incremento na rentabilidade só paga o custo da
técnica, faltando assim valor para pagar a qualidade genética.
Então pensando numa propriedade de cria, sabemos que os animais mais jovens possuem o melhor
VG e que a reconcepção de primíparas é mais baixa, consequentemente teremos sempre primíparas vazias

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ao final da estação de monta, que por estar parida, fica na propriedade até a desmama e depois ainda
necessita engordar antes de ir para o abate, juntando isso aos nossos dados, podemos sugerir que o abate
destes animais seja no início da próxima estação de monta, e que esses animais tenham seus ovários
destinados a aspiração in vitro, assim o produtor terá a chance de produzir bezerros de melhor qualidade e
aumentar a rentabilidade na sua propriedade.

LITERATURA CITADA

ALVES, R.G.O.; SILVA, L. O. C.; FILHO, K. E.; FIGUEIREDO, G. R. Disseminação do Melhoramento


Genético em Bovinos de Corte. R. Bras. Zootec., v28, p1219-1225, 1999.
ALENCAR, M. M. Perspectivas para o Melhoramento Genético de Bovinos de Corte no Brasil.
www.cigeneticabovina.com.br/pe/b8b5bd08e77ef555016929acbc2… · Arquivo PDF
BARUSELLI, P. S.; SOUZA, A. H.; MARTINS, C. M. et al.Sêmen Sexado: Inseminação Artificial e
Transferência de Embriões. Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.31, n.3 p.374-381. 2007.
COUTINHO FILHO, J.L.V.; PERES, R.M.; JUSTO, C.L. Produção de Carne de Bovinos
Contemporâneos, Machos e Fêmeas Terminados em Confinamento. R. Bras. Zootec., v35, p2043-2049,
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FILHO, K. E.; FIGUEIREDO, G. R.; SILVA, L. O. C. et al. Desempenho de Diferentes Grupos
Genéticos de Bovinos de Corte em Confinamento. R. Bras. Zootec., v32, p1114-1122, 2003.
GALUPPO, A. G.; Breve Histórico sobre a técnica de fertilização in vitro para uso em reprodução
animal. Instituto Biológico – Centro de Pesquisa e desenvolvimento de sanidade animal, No. 24 ,
25/10/2005.
LOIOLA, M. V. G. Validação de um Programa de Produção In Vitro de Embriões Bovinos com
Transporte de Oócitos e de Embriões por Longas Distancias. Salvador: Escola de Medicina Veterinária,
Programa de Pós Graduação em Ciência Animal nos Trópicos. Dissertação de Mestrado. Universidade
federal da Bahia 2013.
LOBO, R. B.; SALA, V. E. Impacto Econômico no uso de Touros Melhoradores na Estação de Monta.
ROSA, N. F.; SILVA, L. O. C.; TORRES JR, R. A. A.; et al. Vale a Pena Investir em Touros
Geneticamente Superiores?
SIQUEIRA, L.G.B.; FONSECA, J.F.; CAMARGO, L.S.A.; VIANA, J.H.M. Factores que Afectan a La
Fecundación In Vitro en Bovinos. Spermova 2012.
UNTURA, R. AG Revista do Criador. Edição 158.

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PREVENÇÃO E CONTROLE DA LEISHMANIOSE VISCERAL

Lais Fiorese Cavalcante¹, Juliana Arena Galhardo²

¹Graduanda em Medicina Veterinária da UFMS/FAMEZ. Email: lais_fiorese@hotmail.com


²Professora de Doenças infecciosas da UFMS/FAMEZ

Resumo: A leishmaniose é uma zoonose de importância para a saúde pública, sendo crescente sua
urbanização e reemergência nas diversas regiões brasileiras. É uma enfermidade de alta letalidade,
transmitida por flebotomíneo mais comumente conhecido como mosquito palha, em que apenas a fêmea é
hematófaga. O cão é o principal reservatório em ambiente urbano, e o Ministério da Saúde preconiza a
eliminação destes, quando positivos. A profilaxia feita através de coleiras, produtos pour-on, inseticidadas
residuais e vacinas aparecem como uma alternativa para o controle do vetor. Em uma revisão de
literatura, foi realizada a abordagem da doença e suas principais formas de controle e prevenção.

Palavras –chave: calazar, medidas preventivas, reservatório

PREVENTION AND CONTROL LEISHMANIASIS VISCERAL

Abstract: Leishmaniasis is a zoonosis of high importance to public health, is increasing its urbanization
and re-emergence in several Brazilian regions. It is a highly lethal disease, transmitted by sandfly more
commonly known straw mosquitoes, where only the female is hematophagous. The dog is the main urban
reservoir environment, and the health ministry advocates the elimination of these, when positive. The
immunoprophylactic made through collars ,pour-on product, residual insecticides and vaccines appear as
an alternative to vector control . In a literature review , the approach was carried out for the disease and
its main forms of control and prevention.

Keywords: calazar, preventive measures, reservoir

INTRODUÇÃO

A leishmaniose canina é uma doença de grande importância para a saúde pública por se tratar de
uma zoonose. A forma visceral, também conhecida por Calazar acomete tanto a população canina quanto
a humana, sendo que quando o homem está inserido no ciclo de transmissão do parasito, esta passa a ser
considerada uma antropozoonose (Couro, 2009).
No Brasil, devido às alterações ecológicas, a doença não se restringe mais a região rural, e passou
a ser considerada urbanizada sendo visualizada em diversos centros como: Fortaleza – CE, São Luiz –
MA, Santarém – PA, Recife – PE, Salvador– BA, Rio de Janeiro – RJ, Belo Horizonte – MG, Montes
Claros – MG, Campo Grande – MS, Araçatuba – SP, Palmas – TO, Distrito Federal, entre outros (Couro,
2009).
O local propício para a ocorrência da LV é um ambiente de pobreza, promiscuidade, escassez de
saneamento básico, prevalente em áreas rurais e periferias dos centros urbanos. Contudo essas
características estão mudando, o que pode ser observado nos estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste
(Silva & Lopes, 2009).
Os vetores implicados na transmissão das leishmanioses são os insetos flebotomíneos, conhecidos
popularmente como mosquito palha, birigui e tatuquiras, transmitindo parasita através da picada dos
mosquitos fêmeas (Schimming & Pinto e Silva, 2012).

DESENVOLVIMENTO
O Vetor
Os vetores da leishmaniose visceral são insetos denominados flebotomíneos, conhecidos
popularmente como mosquito palha, tatuquiras, birigui, entre outros (Ministério da Saúde, 2006).
No Brasil, duas espécies, até o momento, estão relacionadas com a transmissão da doença:
Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi. A primeira espécie é considerada a principal espécie

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transmissora da L. (L.) chagasi no Brasil e, recentemente, L. cruzi foi incriminado como vetor no Estado
de Mato Grosso do Sul. (Ministério da Saúde, 2006)
Os flebótomos são dípteros de pequenas dimensões, com pernas e partes bucais compridas, em que
o comprimento do corpo varia normalmente de 1 a 3 mm. Têm asas características, já que são aveludadas
e quando recolhidas formam um “V”, sua coloração é amarelada e possuem uma densa pilosidade que
cobre todo o seu corpo. Em geral, não apresentam grandes habilidades de voo, voam em pequenos saltos
e por isso encontram-se normalmente junto dos locais onde se alimentam. Esses vetores possuem
atividade noturna ou crepuscular e são encontrados em ambientes úmidos, como sótãos, jardins, minas e
refúgios (Marques, 2008).
Tanto os machos como as fêmeas se alimentam de açúcares, mas apenas as fêmeas se alimentam
de sangue para o desenvolvimento dos ovos, sendo denominadas hematófagas. O período de maior
transmissão da LV, ocorra durante e logo após a estação chuvosa, quando há um aumento da densidade
populacional de espécie do inseto, como relatado por Silva et al (2007).

O Cão como Reservatório


Segundo o Ministério da Saúde, o cão (Canis lúpus familiaris) é a principal fonte de infecção na
área urbana e a prevalência em cães excede a do homem.
No ambiente silvestre, os reservatórios são as raposas (Dusicyon vetulus e Cerdocyon thous), que
foram encontradas infectadas nas regiões Nordeste, Sudeste e Amazônica e os marsupiais (Didelphis
albiventri) no Brasil e na Colômbia.
A importância dos cães tem sido justificada pela sua susceptibilidade à infecção, e pela questão
social, devido a sua estreita relação com o homem.

Eliminação canina
O Manual de Controle de Leishmaniose Visceral determina que cães sororeagentes nos exames de
ELISA e/ou Reação de Imunofluorescencia Indireta (RIFI) com título igual ou superior 1:40, sintomáticos
ou não, devem ser eliminados (Ministério da Saúde, 2006).
Para a realização da eutanásia, deve-se ter como base a Resolução n 1000 de 11 de maio de 2012,
do Conselho Federal de Medicina Veterinária, que dispõe sobre os procedimentos e métodos de eutanásia
em animais. Os procedimentos, quando mal empregados, estão sujeitos à legislação federal de crimes
ambientais (Barão, 2010; CFMV, 2015).
Essa estratégia tem apresentado resultados controversos e não é aceita por grande parte da
sociedade. Alguns trabalhos demonstram a ineficácia da eliminação de cães , quando feita de forma
isolada, no controle da LV. Segundo Costa & Vieira (2001), essa técnica apresenta o menor suporte
técnico-científico entre as estratégias do programa de controle.
Não há experiências anteriores que demonstram vantagens exclusivas da eliminação de cães, todos
os relatos de programas de controle de LV que obtiveram sucesso, descrevem também o controle de
vetores com inseticidas (Costa & Vieira, 2001).

Estratégias de controle
O início do programa de controle da leishmaniose no Brasil remonta à década de 50, sendo os
estados do Ceará e Minas Gerais os principais alvos das atividades planejadas. Estas tinham como
objetivo quebrar os elos epidemiológicos da cadeia de transmissão da doença. No ano de 1975 foi
proposto o uso do DDT (diclorodifeniltricoloetan) na profilaxia da doença, como método de controle
químico do vetor. Durante a década de 60 essas ações foram suspensas e apenas em 1982 o programa foi
retomado, quando houve um aumento de casos de leishmaniose no Brasil. Em 1988 com a Constituição
Federal e a lei Federal de 8.080, a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM) junto
com as Secretarias Estaduais de Saúde, tornaram-se responsáveis para repassar os conhecimentos
técnicos, assim sendo viabilizada a descentralização do controle (Gontijo,2004; Gonçalves, 2013).
Entretanto, diante da falta de evidências de que as medidas até então empregadas conduziam a um
impacto positivo na redução da incidência da doença humana no país, o Ministério da Saúde/FUNASA
convocou em 2000 um comitê de especialistas para, juntamente com Gerência do Programa, reavaliar as
estratégias de controle empregadas e redirecionar as ações de controle visando a racionalização da
atuação (Gonçalves, 2013).
Segundo Gonçalves (2013), um aprimoramento vem sendo realizado com base em evidências
encontradas na literatura científica e de ordem operacional, dentre elas estão a falta de padronização dos

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métodos de diagnóstico da infecção humana e canina, a discordância entre os estudos que avaliam o
impacto da eliminação de cães soropositivos na prevalência da infecção humana, a demonstração de que
outros reservatórios podem ser fonte de infecção da L. chagasi, como os canídeos silvestres e os
marsupiais, e a escassez de estudos sobre o impacto das ações de controle dirigidas contra os vetores.
Um programa de controle foi proposto para ser aplicado nas áreas consideradas de risco,
aglomerados urbanos ou rurais, onde critérios epidemiológicos, ambientais e sociais serviram de base
para a delimitação da área a ser trabalhada, tendo como indicador a ocorrência de casos humanos. O
controle integrado deu ênfase à atenção ao homem, com capacitação de pessoal técnico e profissionais de
saúde para diagnóstico e tratamento, lembrando que as demais medidas de controle devem estar sempre
integradas para que possam ser efetivas (Melo,2004).
A vigilância epidemiológica é um dos componentes do Programa de Controle da Leishmaniose
Visceral (PCLV) que visa reduzir as taxas de letalidade e o grau de morbidade através do diagnóstico e
tratamento precoce dos casos humanos, bem como da diminuição dos riscos de transmissão mediante
controle da população de reservatórios e vetores. O novo enfoque do PCLV incorpora áreas sem
ocorrência de casos humanos ou caninos da doença nas ações de vigilância e controle, objetivando evitar
ou minimizar a expansão da doença (Melo, 2004).
As grandes mudanças no sistema brasileiro de saúde ocorridas nas últimas décadas, relacionadas
com a descentralização e unificação das ações na área da saúde , trouxeram novas expectativas em relação
ao controle da doença. O entendimento das interações entre mudanças do meio ambiente urbano e os
flebotomíneos vetores constituem um pré-requisito para o desenvolvimento de ações apropriadas de
prevenção e estratégias de controle (Melo, 2004).
No Brasil, estas ações foram sempre descontínuas por diversas razões, tais como problemas
orçamentários e escassez de recursos humanos adequadamente treinados. Estas medidas não atingiram os
efeitos esperados, ocorrendo reinfestações dos ambientes e ressurgimento de casos humanos e caninos de
leishmaniose visceral (Gontijo, 2004).
Também foram tentadas experiências baseadas no controle do vetor e centradas no reservatório
canino, como os experimentos recentes com coleiras impregnadas com deltametrina, que têm mostrado
resultados promissores na proteção dos animais, com consequências na transmissão. O impacto do
controle canino através da remoção e sacrifício dos cães positivos tem sido discutido por se mostrar de
eficácia duvidosa (Gontijo, 2004).
A prevenção da doença nos cães através da imunoprofilaxia aparece como uma das poucas
alternativas para o controle (Gontijo, 2004).

Medidas Preventivas
O controle do vetor L. longipalpis parece ser o ponto principal nas propostas de prevenção da LV.
O grande avanço na luta contra o vetor baseia-se nos resultados referentes ao uso do colar impregnado de
deltametrina a 4% que é uma medida de proteção individual a ser adotada em cães de áreas endêmicas,
evitando que os flebótomos se aproximem dos cães e, caso se aproximem, não sobrevivam (Brasil, 2014).
Estudos envolvendo a utilização de colares impregnados com deltametrina a 4% demonstraram
efeitos letal e repelente em flebotomíneos, tornando-se, atualmente, a mais importante ferramenta de
controle vetorial centrada nos cães (Bossler, 2012).
Outras medidas preventivas são adotadas pelo Ministério da Saúde, tais como medidas de proteção
individual para os seres humanos(uso de mosquiteiro, telagem de portas e janelas); colocação de telas de
malha fina nos canis de residências, clínicas e hospitais veterinários, “pet shops” ou qualquer outra
instalação que abrigue cães. Dessa forma se evita a entrada de flebotomíneos e diminui o contato com os
cães e pessoas (Barão, 2010).
Outras medidas importantes são manter sempre limpas as áreas próximas às residências e os
abrigos de animais domésticos; realizar podas periódicas nas árvores para que não se criem os ambientes
sombreados; além de não acumular lixo orgânico, objetivando evitar a presença mamíferos comensais
próximos às residências, como marsupiais e roedores, que são prováveis fontes de infecção para os
flebotomíneos (Barão, 2010).
Doação de animais: cães Em áreas com transmissão de LV humana ou canina, é recomendado que
seja realizado previamente o exame sorológico canino antes de proceder a doação de cães (Brasil, 2014).
De acordo com o Ministério da saúde, o controle químico por meio da utilização de inseticidas de
ação residual é a medida de controle vetorial recomendada no âmbito da proteção coletiva e é dirigida
apenas para o inseto adulto. Há delimitação da área para controle químico e o tratamento com o

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inseticida. A programação de um novo ciclo de aplicação do inseticida deverá ser de acordo com a curva
de sazonalidade do vetor. A borrifação deve ser feita as paredes internas e externas do domicílio,
incluindo o teto, quando a altura deste for de até 3 metros, nos abrigos de animais ou anexos. Os produtos
mais empregados atualmente no controle a esses vetores são a cipermetrina, na formulação pó molhável
(PM) e a deltametrina.
No Brasil existe uma única vacina contra LVC registrada no Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento, e têm sido utilizada pelos médicos veterinários.O uso é indicado a partir de quatro meses
de idade em cães saudáveis. Hertape Calier Saúde Animal (Leish-Tec®), é composta pela proteína
recombinante A2-HIS, Saponina, Timerosal e solução salina tamponada. É cada vez maior o papel
atribuído às atividades de educação em saúde no que tange ao controle da doença em áreas endêmicas.
Orientações dirigidas às atividades de educação em saúde devem estar inseridas em todos os
serviços que desenvolvem as ações de controle da leishmaniose visceral, requerendo o envolvimento
efetivo das equipes multiprofissionais e multi-institucionais com vistas ao trabalho articulado nas
diferentes unidades de prestação de serviços (Silva & Lopes, 2009),

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A leishmaniose visceral constitui um problema de saúde publica, e está em franca expansão no


meio urbano, o que representa um desafio para os profissionais de saúde, pela sua alta incidência e
letalidade.
A vigilância epidemiológica tem como objetivos reduzir as taxas de letalidade e grau de
morbidade através do diagnóstico e controle da população de reservatórios e do agente transmissor.
As medidas profiláticas aparecem como a melhor alternativa, principalmente em regiões
endêmicas. Inseticidas de ação residual, juntamente com medidas centradas ao cão, e no ambiente em que
ele vive, como uso de coleiras impregnadas com deltrametrina ainda aparecem como melhor alternativa
no combate a novos focos da doença .
Qualquer que seja o programa de controle, a implantação de ações educativas e comunitárias é
imprescindível.

LITERATURA CITADA

BAIÃO, A. M. Leishmaniose visceral canina, 2010. Trabalho de Conclusão do Curso de


Especialização. Instituto Brasileiro de Pós-Graduação Qualittas. FLORIANÓPOLIS, Santa Catarina. 29p.
BOSSLER, J.D. Leishmaniose Visceral Canina, 2012. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2012.
BRASIL, Ministerio da Saúde. Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral.1
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CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINARIA. (CFMV). Resolução 1000 de 11 de maio de
2012. Disponivel em: http://portal.cfmv.gov.br/portal/lei/index/id/326.Acesso em: 26 de agosto de 2015.
COURO, C.J, LeIshmaniose visceral: situação atual e controle. Trabalho de Conclusao de Curso de
Graduação apresentado à faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade "Julio de
Mesquita Filho". Botucatu, 2009.
COSTA, C.H.; VIEIRA, J.B. Changes in the control program of visceral leishmaniasis in Brazil. Rev.
Soc. Bras. Med. Trop. 34, p. 223-228, 2001.
GONTIJO, C. M. F.; MELO, M. N. Leishmaniose visceral no Brasil: quadro atual, desafios e
perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia., São Paulo, v. 7, n. 3, p.338-349, 2004.
HERTAPE CALIER- SAÚDE ANIMAL S/A. Cães e gatos Disponível em
<http://201.48.40.172:8880/site_hertape/produtos/detalhes.php?produto=NjQ%3D&cat=6&sub=4&site=
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MARQUES, M. I. L. M. Leishmaniose canina, 2008. Dissertação de Mestrado integrado em medicina
veterinária. .UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA,Lisboa, 2008.
MELO, M.N. Leishmaniose Visceral no Brasil: Desafios e Perspectivas. Rev. Bras. Parasitol.Vet., Ouro
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de vigilância e controle da Leishmaniose visceral. Ministério da
Saúde, Brasília, p.59, 2006.

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SCHIMMING, B.C.; PINTO E SILVA, J.R.C. LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA – Revisão de


literatura .Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, v.10, n, 19, Julho, 2012.
SILVA, E.A; ANDREOTTI, R; HONER, R.M. Comportamento de Lutzomyia longipalpis, vetor
principal da leishmaniose visceral americana, em Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul. Revista
da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Campo Grande, Julho-Agosto, 2007.
SILVA, L.O; LOPES, N.V. Revisão bibliográfica da Leishmaniose Visceral Canina. Faculdades
integradas da terra de Brasília. Recanto das Emas. DF, Janeiro, 2009.
GONÇALVES, S.T. Controle do reservatório canino para leishmaniose visceral, na regional
noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais, 2006-2011. 2013. Trabalho de conclusão de curso.
Dissertação programa de pós graduação em Ciência Animal. Universidade Federal de Minas Gerais,
BeloHorizonte. P.92.

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ADITIVOS FITOTERÁPICOS NA ALIMENTAÇÃO DE NÃO-RUMINANTES

Natália Ramos Batista1, Kelly Cristina Nunes Carvalho1, Karina Márcia Ribeiro de
Souza3, Charles Kiefer3
1
Doutorandas do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:nath.ramos@hotmail.com
3
Professores adjuntos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Resumo: Por muitos anos os antibióticos foram utilizados como a principal fonte de promotores de
crescimento na alimentação de não ruminantes, porém devido aos problemas de toxidade, resistência
bacteriana e rejeição pelos consumidores diversos estudos estão sendo voltados para produtos alternativos
com propriedades similares e alto potencial para substituição total ou parcial dessas substâncias. Assim,
os óleos, extratos vegetais e seus componentes purificados estão sendo amplamente estudados por
possuírem potencial ação antimicrobiana, antioxidante e anti-inflamatória possibilitando melhorias no
desempenho e reposte imune animal.

Palavras-chave: anti-inflamatório, antioxidante, antimicrobiano, extratos vegetais, nutracêutico, óleos


essenciais

PHYTOTHERAPIC ADDITIVES IN POWER OF NON-RUMINANT

Abstract: For many years antibiotics have been used as the main source of growth promoters in feed for
non-ruminants, but due to problems of toxicity, bacterial resistance and rejection by consumers several
studies are being focused on alternative products with similar properties and high potential for
replacement all or part of these substances. Thus, oils, plant extracts and their purified components have
been widely studied because they have potential antimicrobial, antioxidant and anti-inflammatory
enabling performance improvements and reposte immune animals.

Keywords: anti-inflammatory, antioxidant, anti-microbial, essential oils, nutraceutical, plant extracts

INTRODUÇÃO

A proibição da utilização de antibacterianos na produção animal pela União Européia em 2006,


despertou o interesse por pesquisas voltadas a utilização de agentes não menos efetivos com a finalidade
de atender as exigências internacionais de exportação e as legislações vigentes (Santana et al., 2011).
Os aditivos fitoterápicos por apresentarem em sua composição química, diversos compostos ativos
e o possível sinergismo que podem ocorrer entre eles, confere aos óleos e extratos vegetais vantagem
sobre os produtos sintéticos tradicionais utilizados isoladamente.
Por serem oriundos de plantas, tem-se a premissa vez que os compostos naturais são livres de
resíduos químicos e reconhecidos pelos consumidores como seguros e comumente usados na indústria
alimentícia (Santos et al., 2009).
Na alimentação animal, estes aditivos são capazes de otimizar o desempenho por meio do melhor
consumo de ração, aumento das secreções digestivas, atividades antioxidativas, antimicrobiana, anti-
inflamatória, anticarcinogênica, hepatoprotetora e antimutagênica (Jang et al., 2008).
Neste sentido, realizou-se esta revisão com o objetivo de abordar aspectos relacionados aos
aditivos fitoterápicos e seus efeitos na produção de não ruminantes.

DESENVOLVIMENTO

O que são aditivos fitoterápicos


Aditivos fitogênicos também denominados fitobióticos ou nutracêuticos são produtos originados
das plantas, compreendendo uma ampla variedade de ervas, especiarias, e produtos derivados como os
óleos essenciais, óleo-resinas e extratos (Windisch et al., 2008).

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O registro do uso de fitoterápicos datam do período 2838-2698 a.C. quando o imperador chinês
Shen Nung catalogou 365 ervas medicinais e venenos que eram usados sob inspiração taoista de Pan Ku,
considerado deus da criação.
Desde a antiguidade civilizações da China, Índia, Egito e Grécia já utilizavam as plantas com
finalidade medicinal e, as primeiras descrições sobre a flora e a fauna brasileiras foram destacadas pela
carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal. Diversos estudos também foram desenvolvidos por
Hipócrates, Aristóteles, Galeno e Paracelsus que a partir de teorias e práticas de alquimia compreenderam
o funcionamento do organismo humano e o efeito de emplastos e extratos de plantas no tratamento de
enfermidades (Alves, 2013).

Óleos Essenciais e Extratos Vegetais


Os óleos essenciais também conhecidos como óleos voláteis ou etéreos, podem ser definidos como
substâncias voláteis, lipofílicas, geralmente odoríferas e líquidas (Kohlert et al., 2000), diferindo-se dos
extratos vegetais principalmente pelo método de extração utilizado.
Apesar de serem considerados como extratos vegetais, os óleos essenciais são obtidos apenas pelo
método de extração a vapor (Lucchesi et al., 2007). Já os extratos vegetais, podem ser obtidos de qualquer
parte da planta e, geralmente, são desidratados e submetidos ao processo de moagem.
Os princípios ativos de ambos são destacados por melhorar a digestão dos alimentos e como
estimuladores da produção de secreções gástricas e enzimas digestivas, além de ações antimicrobiana,
antibacteriana, antifúngica, imunomodulatória, antioxidante (Jang et al., 2008).
Produzidos pelo metabolismo secundário das plantas com a finalidade de defesa contra fatores
ambientais, predatórios e patógenos, a localização dos princípios ativos varia conforme a espécie da
planta e sua composição química em função da sua localização no vegetal (Kohlert et al., 2000). Assim, a
localização dos óleos essenciais varia conforme a espécie da planta, embora todos os órgãos vegetativos
possam acumular esse tipo de substância (Gobbo-Neto & Lopes, 2007).
Quando utilizados na alimentação animal, os princípios ativos dos extratos vegetais, assim como
dos óleos essenciais são absorvidos no intestino e rapidamente metabolizados no organismo, alguns
podem ser eliminados pela respiração como dióxido de carbono. Devido à rápida metabolização e a curta
meia vida dos compostos ativos o risco de acúmulo nos tecidos é mínimo (Gobbo-Neto & Lopes, 2007;
Jang et al., 2008).

Principais mecanismos de mecanismo de ação

Antimicrobiano
O princípio ativo dos óleos essenciais atuam na camada fosfolipídica da célula bacteriana por meio
da coagulação e desnaturação proteica, alterando a permeabilidade seletiva da membrana plasmática
devido ao caráter lipofílico que os óleos essenciais apresentam, impedindo o transporte de elétrons,
translocação de proteínas, etapas da fosforilação e reações dependentes de enzimas (Dorman & Deans,
2000).

Antioxidante
A presença de compostos fenólicos na composição química de extratos e óleos essenciais
conferem aos mesmos poder antioxidante capaz de prevenir a oxidação tanto na fase de iniciação como de
propagação, em função da sua propriedade redutora e estrutura química que promovem facilidade na
doação de hidrogênio de sua estrutura aromática para um radical livre, sendo assim, capazes de
neutralizar ou sequestrar radicais livres e a quelação de metais de transição.
Os antioxidantes podem ser classificados conforme seu mecanismo de ação, sendo que a maioria
dos compostos fenólicos considerados como antioxidantes primários com ação na fase de iniciação
impedindo a formação de radicais livres ou a interação dessas formas reativas com a célula, por meio da
doação de hidrogênio para as moléculas reativas (Ramalho & Jorge, 2006).
Já os antioxidantes secundários agem na complexação de íons metálicos, principalmente ferro e
cobre que são catalisadores da oxidação lipídica, sequestro de oxigênio, tornando-os indisponíveis para
propagação da oxidação e decomposição de hidroperóxidos, desta forma não agem diretamente nos
radicais livres, mas reduzem a velocidade de oxidação (Ramalho & Jorge, 2006).
Além disso, a ação antioxidante dos compostos naturais pode atuar diretamente na proteção do
sistema imunológico, uma vez que as diversas células que fazem parte da proteção do organismo estão

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compostas por ácidos graxos poliinsaturados e lipoproteínas que apresentam alta susceptibilidade a
lipoperoxidação e comprometimento da funcionalidade da célula (Djordjević, 2004).

Substâncias utilizadas como fitoterápicos na alimentação de não-ruminantes


Diversas ervas e especiarias seus princípios ativos despertam o interesse dos pesquisadores pelos
benefícios sobre o desempenho animal (Tabela 1), entre eles destacam-se diversas espécies de ervas e
especiarias comumente utilizadas na alimentação humano na forma de temperos.

Tabela 1. Princípio ativo e atividade de alguns produtos fitogênicos


Forma vegetal Parte Princípio ativo mais Propriedades
utilizada importante
Espécies Aromáticas
Aipo Fruto, folha Ptalide Estimulante da digestão e do apetite
Anis Fruto Anetol Estimulante digestivo
Canela Casca Cinamaldeído Estimulante digestivo e do apetite,
antisséptico, antioxidante
Cardamon Semente Eucalyptol Estimulante digestivo e do apetite
Coentro Folha, Linalol Estimulante digestivo
semente
Cravo da Flor Eugenol Estimulante digestivo e do apetite,
índia Antisséptico
Cominho Semente Cuminaldeído Estimulante digestivo
Feno grego Semente Trigoneline Estimulante do apetite
Noz moscada Semente Sabinene Estimulante digestivo, antidiarreico
Salsa Folha Apiol Estimulante digestivo e do apetite,
Antisséptico
Espécies Pungentes
Gengibre Rizoma Zingerol Estimulante gástrico
Mostarda Semente Alil isothiocianato Estimulante do apetite e da digestão
Orégano Folha Carvacol e timol Antibacterianos
Pimenta da Fruto Capsaicina Antidiarreico, anti-inflamatório,
guiné estimulante, tônico
Pimenta do Fruto Piperina Estimulante digestivo
reino
Rabanete Raiz Alil isothiocianato Estimulante do apetite
Espécies aromáticas e especiarias
Alho Bulbo Alicina Estimulante da digestão, anti-séptico
Alecrim Folha Ácido carnósico e Estimulante da digestão, antisséptico,
rosmarínico Antioxidante
Tomilho Planta toda Timol Estimulante da digestão antisséptico,
Antioxidante
Sálvia Folha Cineol Estimulante da digestão antisséptico,
Antiflatulento
Louro Folha Cineol Estimulante do apetite e da digestão
antisséptico, antioxidante
Açafrão Rizoma Curcumina Anti-inflamatório, antioxidante,
antimicrobiana
Fonte: Adaptado de Santos et al. (2009).

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Entre os extratos vegetais, a própolis está entre os aditivos fitogênicos que estão sendo
amplamente estudados na alimentação de não-ruminantes.
Elaborada de forma natural pelas abelhas e em grande parte, provenientes da espécie Apis melífera
(espécie amplamente estudada), a própolis é compostas por resinas vegetais (50%), cera de abelha (30%),
óleos essenciais (10%), pólen (5%) e detritos de madeira e terra (5%). No entanto, a composição pode
variar conforme as características fitogeográficas ao redor da colmeia (Kumazawa et al., 2004).
Entre os princípios químicos da própolis encontram-se ácidos e ésteres alifáticos, ácidos e ésteres
aromáticos, açúcares, álcoois, aldeídos, ácidos graxo, aminoácidos, esteróides, cetonas, charconas e di-
hidrocharconas, flavonóides (flavonas, flavonóis e flavononas), terpenóides, proteínas, vitaminas B1, B2,
B6, C, E, bem como diversos minerais (Williams et al., 2004).
Destaca-se a presença de flavonoides que compreendem um amplo grupo de substâncias naturais
não sintetizadas pelos animais que favorecem a absorção e ação de vitaminas, capazes de atuar nos
processos de cicatrização, antioxidantes, além de apresentarem atividade antimicrobiana e moduladora do
sistema imune (Williams et al., 2004).
Em alguns países, a própolis vêm sendo utilizada para o tratamento de vias aéreas em humanos,
sendo que estudos já demonstram o efeito positivo na inibição do vírus da gripe em aves e na replicação
do vírus HIV-1 em linfócitos CD4, in vitro (Kujumgiev et al., 1999), além de possuir propriedades
antibrobianas contra Staphylococcus aureus, Bacillus subtilis, Salmonella typhimurium, S. enteritides
(Santos et al., 2003), sendo efetiva contra bactérias gram-positivas

Aditivos fitoterápicos como promotores de crescimento


Ao avaliar a eficiência do extrato de própolis (0,10, 0,20 e 0,30%) como substituto aos antibióticos
convencionais (0,030% de Bacitracina Metileno Dissalicilato e 0,005% de clorotetraciclina +
Olaquindox) sobre o desempenho de frangos de corte de um a 42 dias de idade, Franco et al. (2007)
observaram que o maior desempenho e rendimento de peito foi obtido nos tratamentos sem adição de
promotor de crescimento e em dietas contendo 0,10% de extrato etanólico de própolis, sem efeito dos
tratamentos sobre o consumo de ração, conversão alimentar e rendimento de pernas (Tabela 2).
Os autores citados à cima enfatizam que apesar das expectativas de que os aditivos fitoterápicos
possam proporcionar efeito superior aos antimicrobianos tradicionais, é necessário que o objetivo
primário dos estudos que envolvem aditivos alternativos seja de substituição dos antibióticos, ou seja,
resultados já são positivos quando o desempenho é similar a dos antibióticos.

Tabela 2. Desempenho de frangos de corte machos de um a 42 dias de idade, alimentados com dietas
contendo promotores de crescimento e diferentes níveis de extrato etanólico de própolis
Dietas Consumo de Peso da GMD CA Rendimento
ração ave (g) (g/d) (% do peso vivo)
Peito Pernas
Sem promotor 4,745 2,723ª 64,84ª 1,77 22,57a 21,94
0,10% EEP* 4,690 2,696ª 64,20ª 1,77 22,51a 21,59
0,20% EEP 4,608 2,641ab 62,89ab 1,78 22,41a 22,37
0,30% EPP 4,643 2,631ab 62,65ab 1,80 21,47ab 21,84
BMD** 4,631 2,667ab 63,49ab 1,77 22,57a 21,91
Olaquindox + 4,560 2,569b 61,16b 1,81 20,88b 22,02
Clorotetraciclina
Média 4,646 2,655 63,2 1,78 22,01 21,94
CV (%) 2,50 2,49 2,49 2,729 3,56 2,88
P 0,0808 0,0022 0,0021 0,5558 0,0025 0,5131
(a>b) - Teste de Tukey (P<0,05); * EEP = extrato etanólico de própolis;**BMD = Bacitracina Metileno
Dissalicilato. Fonte: Adaptado de Franco et al. (2007).

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Em poedeiras, ao utilizar extratos de tomilho, orégano, alecrim e açafrão em comparação ao uso de


Vitamina E sobre o desempenho, Radwan et al. (2008) observaram que a adição de ervas como
antioxidantes naturais durante o período de postura pode otimizar o desempenho, especialmente com a
utilização de em 1,0% tomilho, alecrim, orégano ou 0,5% açafrão, melhorando a produção, peso dos
ovos e conversão alimentar (Tabela 3), sendo esta melhoria possivelmente atribuída à presença de
compostos ativos com ação antioxidante, antimicrobiana e antifúngica nesses extratos.

Tabela 3. Desempenho de poedeiras alimentadas com aditivos fitogênicos


Tratamentos Postura (%) PO (g) CR (g/ave/dia) CA
N- controle 52,00c 49,08c 95,41 3,74a
Controle 53,85bc 49,71b 96,69 3,61bc
100 mg vit. E 54,04bc 49,79ab 97,84 3,64b
200 mg vit. E 54,22bc 49,89ab 97,17 3,59bc
0,5% Tomilho 54,85ab 49,76ab 96,9 3,55cd
1,0% Tomilho 57,59a 49,96ab 99,97 3,47de
0,5% Orégano 54,29bc 49,74b 98,10 3,63b
1,0% Orégano 57,11a 49,93ab 97,12 3,41e
0,5% Alecrim 55,18ab 49,77ab 99,09 3,61bc
1,0% Alecrim 56,33ab 50,08a 97,95 3,47de
0,5% Açafrão 57,18a 49,91ab 98,57 3,45e
1,0% Açafrão 56,63ab 50,07a 97,64 3,44e
SEM ±0,342 ±0,048 ±0,405 ±0,017
P value 0,002 0,0001 NS 0,0001
Letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Duncan (P<0,05). PO, peso do ovo; CR, consumo
de ração; CA, conversão alimentar(kg/massa de ovo). Fonte: Adaptado de Radwan et al. (2008).

No entanto, Florou-Paneri et al. (2006) ao avaliarem o efeito antioxidante do extrato de alecrim (5


e 10 g/kg) em comparação à vitamina E (200 mg/kg) na alimentação de poedeiras, não observaram efeito
sobre o desempenho e qualidade dos ovos das aves. Por outro lado, os autores observaram que os
princípios ativos presentes no alecrim podem ser transferidos ao ovo via alimentação da ave, conferindo
ação antioxidante ao ovo durante os períodos de armazenamento, reduzindo a concentração de
malonaldeído na gema dos ovos (Figura 1).

Figura 1. Oxidação lipídica da gema líquida de ovos armazenados em distintos períodos de


armazenamento, provenientes de poedeiras alimentadas com extrato de alecrim e vitamina E. Fonte:
Florou-Paneri et al. (2006).

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O malonaldeído é considerado um dos principais produtos da decomposição de hidroperóxidos de


ácidos graxos poli-insaturados durante a oxidação lipídica e sua concentração é utilizada para estimar a
oxidação dos alimentos e sistemas biológicos por meio do teste de TBARS (substâncias reativas no ácido
2-tiobarbitúrico). Em elevadas concentrações este composto pode prejudicar o sabor e aroma do alimento
inviabilizando o consumo (Osawa et al., 2005).
Para peixes, Campagnolo et al. (2013) ao fornecer diferentes níveis (0; 0,005; 0,010; 0,015 e
0,020%) de um aditivo comercial micro encapsulado contendo óleo essencial de orégano, canela, alecrim
e extrato de pimenta na alimentação de alevinos de tilápia, não encontraram efeito sobre o desempenho
dos animais (Tabela 4).
A ausência de resultados nesse estudo foi justificada pela baixa densidade de alojamento a qual os
alevinos foram submetidos e os baixos níveis de inclusão do aditivo, sendo necessário mais pesquisas
para testar níveis superiores, períodos experimentais mais longos e avaliar parâmetros imunológicos
associados.

Tabela 4. Desempenho zootécnico de alevinos revertidos de tilápia Oreochromis niloticus alimentados


com diferentes níveis do aditivo comercial micro encapsulado
Parâmetros Níveis de óleos essenciais (%)
0 0,005 0,010 0,015 0,020
Sobrevivência (%) 91,0 93,5 95,0 94,5 96,0
Ganho de peso (g) 10,9 10,9 10,5 11,0 11,4
Taxa de crescimento (g/dia) 0,16 0,16 0,15 0,16 0,17
Conversão alimentar aparente 1,9 1,9 1,9 1,9 1,8
Fonte: Adaptado de Campagnolo et al. (2013).

Em leitões, ao contrastar um antimicrobiano (50 ppm de bacitracina de zinco e 50 ppm de


olaquindox), probiótico (1.300 ppm de probiótico à base de Bacillus subtilis e Bacillus licheniformis -
4,16 x 109 de esporos viáveis por kg de ração), prebiótico (3.000 ppm de mananoligossacarídeo) e
extratos vegetais contendo alho, cravo, canela, pimenta, tomilho, cinamaldeído e eugenol (500 ppm)
sobre a incidência de diarreia, Utiyama et al. (2006) não observou efeitos dos tratamentos nos períodos
avaliados (Tabela 5).
Os autores relataram a ausência de efeito dos tratamentos pela utilização de dietas de alta
qualidade nutricional nas fases iniciais, contendo óxido de zinco que atua como preventivo de diarreias e
4 e 2% de plasma sangüíneo spray dried nas fases pré-inicial e inicial, respectivamente, o qual possui
imunoglobulinas que auxiliam no equilíbrio da microbiota do animal recém-desmamado, resultando em
melhoras na saúde e consequentemente no desempenho do leitão.

Tabela 5. Médias de frequência de diarreia (MFD,%) e média transformada (MT) para os períodos de 1 a
14, 15 a 35 e 1 a 35 dias de experimentação
Tratamento 1-14 dias 15-35 dias 1-35 dias
MFD (%) MT MFD (%) MT MFD (%) MT
Controle 30,95 0,55 12,30 0,30 19,76 0,43
Antimicrobiano 29,17 0,53 8,93 0,24 17,02 0,39
Probiótico 31,25 0,57 12,90 0,32 20,24 0,45
Prebiótico 20,83 0,44 12,70 0,28 15,95 0,38
Extrato vegetal 27,38 0,51 14,09 0,31 19,40 0,42
Média 27,92 0,52 12,18 0,29 18,48 0,41
P value - 0,6653 - 0,9264 - 0,8860
CV (%) - 42,33 - 80,91 - 45,62
Fonte: Adaptado de Utiyama et al. (2006).

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No estudo, Utiyama et al. (2006) relataram que leitões de um a 14 dias apresentaram maior ganho
de peso em função da adição de prebiótico seguido do extrato vegetal, sendo que ambos não diferiram dos
demais tratamentos. Já no período de 15-35 e 1-35 dias o maior ganho se deve ao antimicrobiano
adicionado a ração, seguido do extrato vegetal, sendo este último semelhante aos demais tratamentos. O
maior consumo de ração evidenciado pelos autores no período de 1-35 dias foi obtido pela adição de
antimicrobianos na dieta, porém sem efeitos sobre a conversão alimentar (Tabela 6).
O efeito negativo da adição do extrato vegetal sobre o consumo de ração e consequentemente
ganho de peso dos animais está relacionado com a patabilidade desse aditivo, como evidenciado pelos
autores. Por possuírem compostos pungentes os animais reduziram a ingestão de ração.
Por outro lado, ao suplementar leitões desmamados aos 21 dias durante um período de 70 dias com
um blend de óleos essenciais de uma marca comercial em comparação à antibióticos, Suzuki et al. (2008)
não observaram efeito dos tratamentos sobre o desempenho dos animais, porém relataram que o uso da
mistura de óleos essenciais representa uma economia substancial, relativamente aos antibióticos
atualmente em uso na granja (Tabela 7).
Em frangos, a inclusão de aditivos em rações corresponde a aproximadamente 0,6 a 1,2% do custo
da ração para os antibióticos, 2,6% para os probióticos/prebióticos e 1,3% para aditivos fitogênicos
(Menten, 2002).

Tabela 6. Ganho de peso diário (GPD), consumo diário de ração (CDR) e conversão alimentar (CA) de
leitões suplementados com diferentes aditivos na dieta
GPD 1-14 dias GPD 15-35 GPD 1-35 dias CDR 1-35 dias CA 1-35
Tratamentos
(kg/dia) dias (kg/dia) (kg/dia) (kg/dia) dias
Controle 0,163ab 0,512b 0,373b 0,602abc 1,61
Antimicrobiano 0,195ab 0,625a 0,453a 0,693a 1,53
Probiótico 0,142ab 0,498b 0,356b 0,549c 1,59
Prebiótico 0,205ª 0,568ab 0,423ab 0,652ab 1,54
1
Ext. vegetal 0,131b 0,503b 0,354b 0,549bc 1,56
Média 0,167 0,541 0,392 0,609 1,57
P value 0,0188 0,0007 0,0009 0,0005 0,2947
2
CV (%) 36,75 14,47 16,35 14,54 6,97
Letras diferentes na coluna diferem significativamente pelo teste Tukey (P<0,05); 1Extrato vegetal; 2Coeficiente de variação. Fonte:
Adaptado de Utiyama et al. (2006).

Tabela 7. Custos comparativos dos produtos utilizados nas rações de leitões submetidos aos tratamentos
com óleos essenciais e com promotores de crescimento convencionais
Ração Activo® Valor Promotores de Quantidade Valor Valor
(g) (R$/ton) crescimento (g) (R$) (R$/ton)
Pré- 200 10,0 Lincomicina 44,0 8,50 19,75
Inicial 1 Colistina 100,0 11,25
Pré- 200 10,0 Lincomicina 35,2 6,80 47,05
inicial 2 Amoxacilina 100,0 29,0
Colistina 100,0 11,25
Inicial 150 7,5 Doxiciclina 200,0 32,0 61,00
Amoxacilina 100,0 29,00
Adaptado de Suzuki et al. (2008).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os aditivos fitoterápicos estão tendo cada vez mais destaque por eliminar o uso de produtos
químicos, apresentando-se como uma alternativa de substituição aos antibióticos na produção animal,
podendo reduzir os impactos ambientais pela menor excreção de resíduos.
No entanto, ainda não existe padronização sobre o nível de óleos essenciais para utilização em
substituição a antibióticos e antioxidantes sintéticos, bem como os mecanismos pelos quais esses óleos
melhoram o desempenho das aves, necessitado de pesquisas para elucidar estes fatos.

LITERATURA CITADA

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ESTRAGÉGIA DE JEJUM E SEUS EFEITOS METABÓLICOS LIGADOS AO


ESTRESSE COM REFLEXO NA REPRODUÇÃO BOVINA

Daniel França Mendonça da Silva1, 2, Luiz Gustavo Cavalca1, Fernando Henrique Garcia
Furtado2, Caroline Eberhard Buss2, Francisco Manuel Junior2, Fernanda Hvala de
Figueiredo2, Willian Vaniel Alves dos Reis2, Gabrielle Ricardes da Silva2, Eder Cristian
Queiroz Serrou da Silva2, Tainara Candida Ferreira2, Tailisa de Souza Silva2, Thycianne
Rodrigues de Aguilar2, Zelina dos Santos Freire2, Deiler Sampaio Costa3, Fábio José
Carvalho Faria4

¹Mestrando em Ciência Animal, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.


2
Núcleo de Produção e Reprodução Animal – FAMEZ/ UFMS. Correspondência:
danielfmsilva@yahoo.com.br
3
Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. Correspondência: deiler.costa@outlook.com
4
Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS.

Resumo: Todas as substancias envolvidas e suas inter-relações relacionados no estresse e que refletem na
reprodução bovina, ainda não foram totalmente elucidadas pela ciência moderna. Porém, no pouco que já
se arrisca a dizer, percebe-se que os métodos de manejo dos processos de criação animal quando
executados de forma precária alteram toda a homeostase metabólica dos animais. Este feito, em resumo, é
denominado estresse e pode ser de origem diversa (ambiental, nutricional e emocional). As
consequências dessas agressões externas no indivíduo é a mudança em todas as secreções hormonais do
eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal. Entre estas secreções, temos o hormônio do crescimento, a leptina,
o GnRh, o LH, o FSH, a insulina, o cortisol e o IGF-1. A alteração do equilíbrio destas substâncias
hormonais no organismo determina consequências graves na fisiologia reprodutiva, abrindo portas para
baixo desempenho animal e baixo retorno financeiro, prejudicando todas as atividades na pecuária bovina
brasileira, principalmente as de reprodução e cria.

Palavras-chave: estresse, cortisol, glicose, igf-1, insulina, jejum

FASTING STRATEGY AND ITS METABOLIC EFFECTS LINKED TO STRESS REFLECTED


IN CATTLE REPRODUCTION

Abstract: All the substances involved and their interrelationships related to stress and reflecting on
bovine reproduction have not been fully elucidated by modern science. However, the little that is already
skittish to say, it is clear that the management methods of the breeding process when running precariously
change all the metabolic homeostasis of animals. This done, in short, is called stress and can be of
different origin (environmental, nutritional and emotional). The consequences of external aggression in
the individual is the change in all the hormonal secretions of the hypothalamus-pituitary-gonadal axis.
Among these secretions have growth hormone, leptin, GnRH, LH, FSH, insulin, cortisol and IGF-1.
Changing the balance of these hormonal substances in the body, determines serious consequences in
reproductive physiology, opening doors down animal performance and low financial returns, damaging
all activities in brazilian livestock, especially reproduction and creates.

Keywords: cortisol, fast, glucose, igf-1, insulin, stress

INTRODUÇÃO

Desde os tempos remotos da civilização existe o contato entre animais e humanos e sempre o
segundo tentando impor nos primeiros seus hábitos e costumes, na tentativa de facilitar seu trabalho e
trazer mais conforto a vida doméstica. Com isso, verifica–se que o estresse imposto aos animais é tão
antigo quanto a própria raça humana. Mas a humanidade só veio dar conta da importância dos estudos do

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comportamento dos animais (Etologia) e do impacto que ele acarreta na produção e na reprodução há
pouco tempo atrás.
E só em 1973, que o pesquisador Selye finalmente conceituou e definiu a palavra “estresse”.
Seu enunciado diz que estresse é a resposta não específica do organismo para qualquer exigência sobre
este, em que o indivíduo reage com uma resposta homeostática estereotipada. Já (Boivin et al., 1992)
mencionou sobre a reatividade que cada animal tem sobre determinado estímulo e que cada um demonstra
com uma intensidade.
Atualmente, nas revisões bibliográficas, nota-se que existe certo foco dos cientistas neste assunto
que envolve estresse, manejo, dieta e reações metabólicas que interfiram na reprodução. Entretanto,
verifica-se não existir uma pesquisa mais especificamente direcionada a este caso, com intuito de
esclarecê-la.
Deste modo, quando o assunto remete ao estresse e seus efeitos no metabolismo, muitas incógnitas
invadem a mente e muitas ainda surgirão durante este caminho. De qualquer forma, isso é exatamente o
estimulo para a busca das respostas.
Prova disso, são as evidencias que direcionam as pesquisas com o intuito de mostrar que o efeito
de maiores índices na prenhez não advém das mudanças metabólicas oriundas das alterações ou das
restrições alimentares. No item em questão, suspeita-se que este efeito provém do método de manejo
(jejum), que por sua vez promove a redução das reações negativas dos hormônios envolvidos no estresse,
através da diminuição de sua secreção no organismo, afetando portanto, positivamente a fertilidade dos
animais.
Assim sendo, o objetivo é desvendar as incidências de alguns fatores relacionados ao estresse,
aliadas a algumas técnicas de restrição alimentar, por exemplo, o jejum de 12 a 15 horas, e suas prováveis
consequências no temperamento dos animais e na fertilidade das fêmeas bovinas.

DESENVOLVIMENTO

Consequências Hormonais do Estresse na Fertilidade


Partindo de uma simples observação pessoal de alguns anos, onde animais que seriam inseminados
ou que receberiam embriões foram mantidos em jejum alimentar por aproximadamente 12 a 15 horas.
Percebeu-se que estes indivíduos, obtiveram melhores resultados, nos diagnósticos de prenhezes, que
animais que não sofreram restrição alimentar nesse período.
Diante disso, com o intuito de entender esses processos complexos do organismo animal estando
este totalmente integrado em seus sistemas fisiológicos, e ao mesmo tempo sumarizar o conteúdo, pois a
busca de uma enzima acaba por puxar outra em uma busca sem fim, focaremos nossa atenção nas
substâncias que envolvem a glicemia, e sua interação com o estresse e a reprodução. Em suma, cita-se: a
insulina, o IGF-1, o cortisol (como medidor do estresse), o GH e os hormônios propriamente da
reprodução entre eles os esteroides sexuais, o GnRH, o FSH e o LH.
Fazendo um breve relato da fisiologia dos hormônios da reprodução, temos como inicio o aviso do
corpo ao cérebro que sua nutrição está adequada e que este pode desencadear o processo reprodutivo. Este
sinal é feito via leptina e insulina que ao dizer que as condições corporais estão propícias para o cérebro
este inicia o processo de liberação de GnRh. Este hormônio é o precursor das gonadotrofinas, ou seja, ele
estimula a produção de LH e FSH. O FSH por sua vez, atua de maneira coordenada no crescimento e na
diferenciação gonadal na esteroidogênese e na gametogênese. Já o LH, tem como principal função, em
folículos não ovulatórios, estimular a atividade da enzima esteroidogênica, nas células da teca, além de
promover a ovulação e estimular a luteinização das células da granulosa e células da teca em folículos
pré-ovulatórios (Richards et al., 2002). Além desses Hormônios, cita-se o GH. Os efeitos do hormônio do
crescimento dividem-se em diretos e indiretos. Os efeitos indiretos estão relacionados à atuação do IGF-1,
uma vez que o GH estimula no ovário a expressão gênica deste fator e, por conseguinte, mediarão os
efeitos do GH (Liu et al., 1998). E como efeito direto o GH atua no desenvolvimento dos folículos
bovinos. Além disso, o GH atua na secreção e na ação do LH e FSH via IGF-1 (Chandrashekar et al.,
1998).
Voltando ao animal, como um indivíduo a parte do meio, podemos dizer que alguns fatores
externos também interferem no seu metabolismo, ou melhor, na sua endocrinologia que neste caso
referimos a do estresse. Esses fatores externos estão reunidos em três grandes grupos: o da nutrição, o do
ambiente e o do emocional. Um destes componentes ou o conjunto deles desregula o organismo animal

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de seu estado fisiológico normal ou sua homeostase, gerando consequências entre outras de subfertilidade
(Figura 1).

Fig 1. Relação entre ambiente, nutrição e estado emocional com as alterações nos processos de produção
das gônadas femininas. Equipe Beef Point. [2003]. Nutrição e Reprodução em Bovinos. Disponível em:
<http://www.beefpoint.com.br/radares-tecnicos/reproducao/nutricao-e-reproducao-em-bovinos-7172/ >
Acesso em: 22/09/2015.

Em um primeiro momento, o raciocínio tenderia a focar nas causas da falta de alimento como
explicação da melhora nos índices por alterações na inter-relação das substancias envolvidas na glicemia
(Figura 2). Porém não é o que ocorre, pois nos ruminantes o jejum neste sentido tem pouco efeito, pois o
rúmen serve como reservatório de nutrientes ao animal por mais tempo que em outra espécie não
ruminante. Deste modo, o rúmen devido a sua microbiota viva, continua produzindo nutrientes e ácidos
graxos voláteis para o bovino, mesmo não ingerindo alimentos, que nesse período de 12-15 horas mantém
seus níveis plasmáticos de insulina, IGF-1 e glicose nos padrões fisiológicos normais. Portanto, não
interferindo na homeostase que estes hormônios citados têm na fisiologia da reprodução (Figura 2).
Acredita-se, que o mecanismo envolvido relaciona-se ao efeito calmante que essas horas fechadas
no curral promovem nos animais. Este efeito é facilmente notado vendo se animais mais calmos e serenos
no dia posterior ao jejum. Esta estratégia de manejo até originou um termo muito popular entre os
pecuaristas: “Dá um chá de curral neste gado que ele acalma”. Ou seja, um método já consagrado e
prático de redução de estresse.

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E neste sentido amplo que objetiva-se chegar, ou seja, que não é a alteração dos hormônios
reprodutivos que leva a maiores índices de prenhezes, mas sim a diminuição do cortisol no sangue. Essa
diminuição causada pela maior tranquilidade do gado permite que os outros hormônios atuem mais
eficazmente e sinergicamente potencializando sobremaneira seus resultados e efeitos conforme a figura 2.
São fatos conhecidos na demonstração do estro pelos animais as consequências da elevação do
cortisol. Sob algum efeito estressante, seja ele de origem nutricional, ambiental ou devido ao
temperamento percebe-se além do atraso no início do estro também a diminuição de sua intensidade.
Tudo isso, se explica pelo efeito que o cortisol tem sobre o eixo hipotálamo-hipofisário, suprimindo a
secreção de GnRH e modificando consequentemente o pico de LH para que possa ocorrer a ovulação.
Consequentemente, toda a dinâmica folicular fica prejudicada interferindo ao longo do prazo nos índices
zootécnicos como, por exemplo, o intervalo entre partos.
De acordo com (Dickson., 1996), o estresse aumenta os níveis de cortisol livre no sangue, cujas
concentrações plasmáticas variam amplamente, porém o estímulo da hipófise e da adrenal está associado
ao aumento dos níveis de cortisol e também glicose.
Ainda neste sentido, situações de extremo estresse fazem com que as glândulas liberem adrenalina,
noradrenalina e catecolaminas que torna todo o organismo animal pronto para o ataque ou fuga, ou seja,
ele se projeta em um estado de vigília intenso. Onde pode apresentar taquicardia, redistribuição
sanguínea, de vísceras a músculos esqueléticos e cérebro, imobilização, tremor agressões e fuga. Todas
essas mudanças metabólicas exigem altas doses de glicose no sangue promovidas pelos hormônios
liberados. A título de curiosidade, (Moura S.V., 2011) devido a estas mudanças na corrente sanguínea do
animal, considera e justifica a aferição da glicose também como um método eficiente de mensurar o
estresse provocado nos animais.
Assim, novamente se analisarmos de apenas um ângulo a figura 2, poderíamos pensar como um
benefício a reprodução devido a alta disponibilidade de glicose aos órgãos devido essa hiperglicemia
provocada pelo estresse. Contudo, é exatamente o contrario, o aumento da glicose, insulina e IGF1 no
sangue quando acompanhados de aumento nos níveis de cortisol percebe se que ocorre um aumento na
resistência a esses hormônios, ou seja, eles ficam circulantes mais pouco atuantes em seus processos
normais onde deviam atuar. Deste modo, pensando de uma forma simples é como se mesmo eles estando
presentes no sangue não estivessem disponíveis para o corpo usar. Desta forma, é como se na verdade
estivesse em deficiência alterando toda fisiologia da reprodução para deficiência, ou seja, subfertilidade.
Portanto, quando removemos o fator estresse todo o organismo responde intensamente para
eficiência reprodutiva melhorando todos os índices produtivos pela normalização das substancias
envolvidas nesse amplo e complexo processo de regulação do estresse, metabolismo e reprodução.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O comportamento é uma das propriedades mais importantes da vida animal, seu papel é
fundamental nas adaptações biológicas do organismo. No caso das atitudes humanas serem agressivas, há
uma tendência de aumentar o nível de pavor dos animais pelos humanos (Pajor et al., 2000). Assim, é
importante ressaltar que alterações do estado fisiológico ou comportamental do animal poderão
comprometer o seu bem-estar e prejudicar toda a cadeia produtiva e reprodutiva na propriedade rural.
Por conseguinte, devemos priorizar métodos de manejo que busquem diminuir o impacto dos
sistemas humanos no comportamento animal para que, deste modo, consigamos obter maior conversão de
atitudes em resultados sustentáveis e positivos na agropecuária nacional.

LITERATURA CITADA

CATUNDA, A.G.V. et al; F.R.G. LIMA, F.R.G. et al; LIMA, I.C.S. et al. O papel da leptina na
reprodução dos ruminantes. Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo Horizonte, v.38, n.1, p.3-9, jan./mar. 2014.
LEROY, J.L.M.R. et al; S. VALCKX, S. et al; STURMEY, R. et al. Maternal metabolic health and
oocyte quality: the role of the intrafollicular environment. Anim. Reprod., v.9, n.4, p.777-788, Out./Dez.
2012.
MOURA, S. V.de. Reatividade animal e indicadores fisiológicos de estresse: avaliação das suas relações
com a qualidade final da carne bovina em distintos períodos de jejum pré-abate. Pelotas, 2011. -56f..-

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Dissertação (Mestrado) – Área de conhecimento Produção animal. Programa de Pós-Graduação em


Zootecnia. Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel. Universidade Federal de Pelotas.
PONSART, C. et al; GAMARRA, G. et al; LACAZE, S. et al. Nutritional status of donor cows: insulin
related strategies to enhance embryo development. Anim. Reprod., v.11, n.3, p.195-198, Jul./Set. 2014
SANTOS, R.M.; VASCONCELOS, J.L.M. Glicose sanguínea em ruminantes: um metabólico crítico para
a reprodução de vacas em lactação. Informe Técnico Milk Point – Adaptado da palestra de Dr. Matthew
C. Lucy (Universidade do Missouri, EUA), no XV Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de
Bovinos, realizado em Uberlândia de 17 a 18 de março de 2011. Disponível em:
<http://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/ reprodução>. Acesso em: 25 abr. 2011.
SOUSA, R. R. de. Efeito do fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), meio de base, da
insulina e FSH sobre o desenvolvimento in vitro de folículos pré-antrais bovinos isolados. Tese
(doutorado) – Universidade Estadual do Ceará, Faculdade de Veterinária, Programa de Pós-Graduação
em Ciências Veterinárias, Curso de Doutorado em Ciências Veterinárias, Fortaleza, 2013.

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ATIVIDADE DA PROTEÍNA FOSFOLIPASE C ZETA NA FERTILIZAÇÃO


DO OÓCITO

Fernando Henrique Garcia Furtado1, Daniel França Mendonça Silva2, Caroline Eberhard
Buss2, Francisco Manuel Junior2, Fernanda Hvala de Figueiredo2, Gabrielle Ricardes da
Silva2, Deiler Sampaio Costa3, Fábio José Carvalho Faria3
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. E- mail:
Fernando_henrique_brs@hotmail.com
2Núcleo de Produção e Reprodução Animal – FAMEZ/ UFMS
3Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS

Resumo: No momento da fertilização do oócito pelo espermatozoide, ocorre liberação e consequente


oscilações de cálcio do interior daquele. Essas oscilações são essenciais para desencadear vários eventos
da ativação oocitária. O mecanismo pelo qual ocorre essa liberação de cálcio ainda não está claro, porém
a hipótese do fator espermático está sendo a mais bem aceita, e de que a fosfolipase C zeta, uma proteína
especifica do espermatozoide de aproximadamente 75 KDa, parece ser o fator espermático, uma vez que
animais com deficiência dessa proteína tiveram problemas em desencadear as oscilações de cálcio no
interior do oócito. Esta revisão tem por objetivo abordar os aspectos relacionados a PLCzeta, elucidando
sua localização e função no momento da fertilização e consequente ativação do oócito pelo
espermatozoide.

Palavras chaves- ativação oocitária, fator espermático, liberação de cálcio

ACTIVITY OF THE PHOSPHOLIPASE C ZETA PROTEIN IN THE OOCYTE


FERTILIZATION

Abstract: At the time of oocyte fertilization by sperm, occurs a intracellular calcium increase, and
consequent oscillations. This oscillation are essential for the completion of all the events of egg
activation. The precise mechanism by which esperm initiates the calcium release has not yet beem clear.
However, the spermatic factor hypothesis has been most accepted, where the phospholipase C zeta, a
sperm-specific protein of approximately 75 Kda appears to be the spermatic fator, as the animals with
deficiency of this protein had trouble starting the calcium release in the oocyte. This review aims at
addressing aspects related to PLCzeta, elucidating its location and function at fertilization and consequent
activation of the egg by sperm.

Keywords- calcium release, oocyte activation, spermatic factor

INTRODUÇÃO

Os oócitos, no momento em que ocorre a ovulação, estão quiescentes em metáfase II decorrente da


atividade contínua de duas principais proteínas quinases: o fator promotor da maturação, que consiste em
uma quinase ciclina dependente (CDK) e uma ciclina B1(Ducibella & Fissore, 2008); e uma proteína
quinase ativada por mitógeno (MAPK) (Verlhac et al., 1994; Verlhac et al., 1996). O processo que leva o
oócito a ficar nesse estágio chama-se maturação. Faz parte desse processo o recrutamento e tradução de
mRNA maternos que codificam fatores de vias envolvidas na progressão do ciclo celular e aumento de
cálcio, além de organização de organelas e elementos chaves, sensíveis ao cálcio (Fujiwara et al., 1993;
Mehlmann et al., 1995, 1996; Shiraishi et al., 1995; Machaca, 2004). Ao final desses eventos o oócito
estará preparado para responder adequadamente a entrada do espermatozoide.
O primeiro evento citoplasmático observado num oócito de mamífero ativado é o aumento
intracelular da concentração de cálcio (Stricker, 1999; Runft et al., 2004). Esse aumento ocorre poucos
minutos após a fusão do espermatozoide/oócito na fertilização in vitro, enquanto que na injeção

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espermática intracitoplasmática esse aumento de cálcio ocorre imediatamente durante a injeção do


espermatozoide, decorrente do cálcio artificial presente no meio circundante da injeção (Tesarik et al.,
1994). Esse disparo da concentração de cálcio é seguido por um padrão típico de oscilações da mesma, as
quais são cruciais para uma fertilização normal e subsequente desenvolvimento embrionário (Ducibella et
al., 2002).
Em mamíferos ocorrem repetidas ondas de cálcio por várias horas (Miyazaki et al., 1993; Fissore
et al., 1992). Em camundongos, as oscilações duram até a formação do pró-núcleo (Kline & Kline, 1992;
Deguchi et al., 2000), já em bovinos essas oscilações duram até o primeiro ciclo celular (Fissore et al.,
1992). Em ratos, o pró-núcleo foi formado entre 4 e 8 horas após a inseminação, sendo formado primeiro
o masculino e, logo após, o feminino. Já a primeira clivagem ocorreu entre 18 e 22 após a inseminação
(Howlett & Bolton, 1985). Em humanos, a primeira divisão celular terminou com 27-43 horas após a
inseminação (Trounson et al., 1982), porém foi observado que 1% de oócitos fertilizados estavam no
segundo ciclo celular 20 horas após a inseminação (Balakier et al., 1993).
O modelo pelo qual ocorre a ativação oocitária ainda não está muito bem elucidado, sendo que
existem três hipóteses de maior relevância: 1) hipótese da bomba de cálcio, na qual o espermatozoide ao
se ligar no oócito agiria como um canal, bombeando cálcio do meio extracelular para dentro do oócito até
a sobrecarga desse, dando início assim as ondas de cálcio (Jaffe et al., 1983); 2) hipótese do
ligante/receptor, onde um receptor da membrana do oócito seria ativado no momento da ligação
espermatozoide/oócito, dando início a um sinal que desencadearia as oscilações de cálcio (Kline et al.,
1988). As integrinas, localizadas na membrana do oócito, foram apontadas como receptores sinalizadores
para ativação oocitária, já que a utilização de peptídeos conhecidamente reconhecidos por esses
receptores causou oscilações de cálcio em oócitos de bovinos (Campbell et al., 2000). O receptor ativo na
membrana pode estar ligado a uma proteína G ou pode ser do tipo tirosinoquinase, resultando na ativação
da isoforma PLCβ (Rhee, 2001) e PLCy (Runft et al., 2004), respectivamente; 3) hipótese do fator
espermático, na qual o espermatozoide conteria um ou mais fatores de ativação oocitária que se difundiria
para dentro do oócito após a fusão dos gametas (Swann et al., 1990).
A teoria do fator espermático é a que vem sendo estudada como o mais provável mecanismo de
ativação oocitária. A habilidade do citosol espermático de liberar cálcio foi perdida após o tratamento
com calor ou protease, indicando que o fator espermático seria uma proteína (Swann, 1990; Wu et al.,
1997). Espermatozoides tratados com detergente Triton X-100 e desprovidos de membrana plasmática,
vesículas acrossomais e conteúdo citoplasmático foram utilizados com sucesso na injeção espermática
intracitoplasmática (Kuretake et al., 1996), porém após tratamento em conjunto com tripsina, que remove
também a matriz perinuclear, não ocorreu ativação oocitária (Kimura et al., 1998), indicando que o fator
espermático pode ter uma fração solúvel no citosol e outra insolúvel na matriz perinuclear.
Em 2005, Jones et al., propuseram um modelo de ativação do oócito através da Fosfolipase C zeta
(PLCz), uma proteína de aproximadamente 75KDa, presente apenas no espermatozoide (Saunders et
al.,2002; Kouchi et al., 2004; Knott et al., 2005). Inibidores de fosfolipase C fizeram com que não
ocorressem as oscilações de cálcio durante a fertilização do oócito pelo espermatozoide em camundongos
(Dupont et al., 1996).
O objetivo da presente revisão foi abordar aspectos relacionados a proteína PLCzeta no que diz
respeito a sua localização e função na ativação do oócito pelo espermatozoide durante a fertilização.

DESENVOLVIMENTO

Liberação de cálcio no interior do oócito


O aumento da concentração intracelular de cálcio no oócito é necessário para desencadear uma
série de eventos decorrentes da ativação oocitária, tais como: progressão da meiose II através da
degradação da ciclina B1 (Hyslop et al., 2004), exocitose dos grânulos corticais (Ducibella et al., 2002),
formação do pró-núcleo, recrutamento de mRNA materno e início das divisões mitóticas (Schultz &
Kopf, 1995). Em mamíferos, cada pico na concentração de cálcio resulta em uma concomitante ativação
de uma proteína quinase dependente da calmodulina tipo II (Markoulaki et al., 2003), e isso é tido como o
fator responsável pelo aumento constante da taxa de degradação da ciclina por meio da atividade do
complexo promotor da anáfase (APC) (Dupont, 1998; Marangos & Carroll, 2004). O APC, uma
ubiquitina ligase E3, marca as proteínas do ciclo celular, como a ciclina B1, para posterior degradação
proteossómica (Yu et al., 1996, Marangos & Carroll, 2004). Com a perda da ciclin B1, uma subunidade
reguladora do fator de promoção da mitose (MPF) (Gautier et al., 1990), e fator limitante para

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manutenção da metáfase, ocorre a saída do oócito desse estágio e consequente finalização da meiose
(Hyslop et al., 2004).
O aumento inicial do cálcio se inicia no local de penetração do espermatozoide e se expande pelo
oócito em forma de onda (Deguchi et al., 2000). Esse cálcio fica, em grande parte, armazenado no
reticulo endoplasmático (Stricker, 1999), sendo que os receptores inositol 1,4,5-trifosfato (IP3) parecem
ser os principais responsáveis por gerar as ondas de cálcio. Nessa via, o lipídio de membrana
fosfatidilinositol 4,5-bifosfato (PIP2) é hidrolisado por uma PLC, resultando na produção do IP3 e do 1,2-
diacilglicerol (DAG) (Parrington et al., 1998). O IP3 é responsável pela liberação de cálcio após se ligar
ao seu receptor do tipo 1 (IP3-R1) no reticulo endoplasmático do oócito (Myiazaki et al., 1993). Já a
DAG parece estar envolvida na regulação do influxo de cálcio (Halet et al., 2004). Após a fertilização do
oócito de bovino, o IP3-R1 é degradado progressivamente, ficando intacto 50% dos receptores que
haviam no oócito em metáfase II (He et al., 1997). Os oócitos de bovinos apresentam aproximadamente o
dobro de receptores IP3-R1 ativados quando comparado ao de camundongo, além disso, os oócitos de
bovinos foram capazes de ter oscilações de cálcio em resposta ao espermatozoide ou mRNA de PLCzeta,
mesmo quando o seu número de receptores IP3-R1 estavam em apenas 20-30% do valor inicial (Malcuite
et al., 2005). Injeções com anticorpo funcionalmente ativo contra IP3-R1, ou injeções de heparina, um
competitivo inibidor do Ip3-R1, inibiram as oscilações de cálcio provocas pelo espermatozoide ou extrato
espermático em oócitos de ratos e camundongos (Miyazaki et al., 1992; Wu et al., 1997). Em 1993,
Miyazaki et al., inibiram completamente as ondas de cálcio no interior dos oócitos de hamster através da
utilização de injeções de anticorpos contra os receptores IP3. Pelo modelo conhecido como “liberação de
cálcio induzida pelo IP3”, a sensibilidade ao IP3 é regulada pelo nível de cálcio livre no citoplasma,
levando a abertura e fechamento dos canais, controlando assim as oscilações no oócito (Schuster et al.,
2002).
O receptor de rianodina (RyR), um canal de cálcio responsável pela maioria das elevações de
cálcio nas células musculares, está presente no oócito de mamíferos, tendo evidências de picos de cálcio
provocados pela adição de agonistas desses receptores nos oócitos (Swann, 1992). Porém a importância
fisiológica das oscilações de cálcio mediadas pelo RyR é questionável, uma vez que eles não levaram a
ativação completa do oócito (Fissore et al., 1995; Wu et al., 1997), e sua inibição não atrapalhou a
ativação oocitária decorrente da fertilização (Ayabe et al., 1995).
As oscilações de cálcio em camundongo e touro tiveram uma maior concentração no período de
60-120 minutos após injeção intracitoplasmática ou fertilização in vitro, assim como re-injeções com o
mesmo espermatozoide em novos oócitos foram incapazes de iniciar as oscilações (Knott et al., 2003).
A injeção espermática intracitoplasmática em oócitos de camundongos utilizando espermatozoide
fresco da mesma espécie geraram uma série de oscilações de cálcio durante o período de 2 horas avaliado.
Em contraste, após tratamento com calor, o número de picos de cálcio durante o mesmo período foi
significativamente reduzido. Mantendo o espermatozoide a 56º C por 2,5 minutos, ainda foi possível
observar picos de cálcio, sendo esses, reduzidos gradativamente com o passar do tempo, desaparecendo
completamente após 30 minutos de tratamento com calor. Já utilizando-se sêmen congelado, os picos
foram ligeiramente menor do que os observados com esperma fresco (Sanusi et al., 2015).

Proteina fosfolipase C zeta como fator espermático


A teoria de que as oscilações de cálcio geradas no interior do oócito ocorrem através de um fator
espermático, vem sendo aceita como a mais provável devido aos fatos de que: oscilações de cálcio
ocorrem na injeção intracitoplasmática mesmo sem ocorrer a ligação das membranas entre os gametas
(Kimura & Yanagimachi, 1995), as oscilações em oócitos de camundongos se inicia poucos minutos após
a fusão dos gametas (Lawrence et al., 1997) e que as oscilações foram prevenidas em oócitos de
camundongos que apenas se ligavam ao espermatozoide, sem que ocorresse a fusão (Kaji et al., 2000).
A capacidade de induzir a liberação de cálcio no oócito pelo espermatozoide foi abolida após
tratamento com calor ou protease, indicando que a substância presente no citosol espermático, e capaz de
induzir a liberação de cálcio, seria uma proteína (Swann, 1990; Wu et al., 1997). Além disso, após as
observações de que uma PLC induziu oscilações de cálcio no oócito, gerando IP3 (Jones et al., 1998), foi
sugerido que uma isoforma da PLC seria o fator espermático indutor das ondas de cálcio durante a
fertilização. Dessa forma, vários estudos foram desenvolvidos com as diferentes isoformas de PLC
conhecidas: PLCβ1 (Fukami et al., 2001), PLCy1 (Mehlmann et al., 1998), PLCy2 (Mehlmann et al.,
1998) PLCδ1 (Lee et al., 1999), PLCδ4 (Fukami et al., 2001). Porém as isoformas PLCβ1, y1, y2 e δ1
falharam em desencadear a liberação de cálcio (Jones et al., 2000), ou as induziram apenas quando

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presentes em altas concentrações no oócito (Mehlmann et al., 2001). Já camundongos com deficiência da
isoforma PLCδ4 falharam na fertilização mas não na indução das oscilações de cálcio (Fukami et al.,
2001)
Em 2002, Saunders et al., conseguiu determinar, através de testículos de humanos e de
camundongos, um DNA complementar que transcreve uma proteína especifica do espermatozoide,
nomeada de PLCzeta. No mesmo trabalho, foram induzidas uma série de ondas prolongadas de cálcio em
oócitos de camundongos através de injeções de RNA que codificavam totalmente a PLCzeta. Essas ondas
tiveram amplitude e frequência dose-dependente, com consequente ativação oocitária. Injeções da
proteína PLCzeta recombinante gerou ondas de cálcio em camundongos (Kouchi et al., 2004). Além
disso, a imunoprecipitação da PLCzeta por meio de anticorpos, levou a uma inabilidade do citosol
espermático em induzir ondas de cálcio em oócitos de camundongo e liberação de cálcio em
homogenados de oócitos de ouriço-do-mar (Saunders et al., 2002). Yoda et al., (2004), estimando a
quantidade de PLCzeta, obteve um valor de 10-40 fg/oócito, o qual está dentro limite da concentração
capaz de desencadear oscilações no oócito (20-50fg/oócito) (Saunders et al., 2002).
Camundongos com espermatozoides apresentando apenas metade da quantidade normal de
PLCzeta tiveram um termino prematuro das oscilações de cálcio, além de diminuição do tamanho das
ninhadas quando comparados a animais controles, com a quantidade normal da proteína espermática
(Knott et al., 2005).
Estudos em humanos demostraram que falhas no procedimento de injeção espermática
intracitoplasmática (ICSI) decorrentes de ausência de ativação oocitária estão ligados a inabilidade do
espermatozoide em iniciar as oscilações de cálcio, provavelmente pela redução na quantidade, ou formas
anormais da PLCzeta, deficiência essa associada a pacientes com altas quantidades de espermatozoides
com anormalidades morfológicas (Yoon et al., 2008; Heytens et al., 2009).
Muitos agentes ativadores, como ionóforos de cálcio, ións de estrôncio, pulsos elétricos e PLCzeta
recombinate são eficientes para melhorar a fertilização e taxas de gravidez por provocar artificialmente
picos de cálcio no citoplasma do oócito (Eldar-Geva et al., 2003; Heindryckx et al., 2005). Os ionóforos
de cálcio, geralmente usados em clínicas de reprodução para homens com problemas de fertilização,
provocam apenas um grande aumento de cálcio no oócito, o que não representa o que ocorre na
fertilização (Rinaudo et al., 1997). Meio de estrôncio (Sr2+) pode ser usado para causar repetidas
oscilações de cálcio em oócitos de ratos (Rogers et al., 2004). Porém, a PLCzeta continua sendo o único
agente fisiológico mostrado repetidamente como causador de prolongadas oscilações de cálcio em oócitos
de todos os mamíferos estudados, incluindo humanos (Ito et al., 2011; Nomikos et al., 2013a, b; Kashir et
al., 2014). Sanusi e colaboradores, em 2015, comparou a ativação oocitária e desenvolvimento
embrionário, utilizando ionóforos de cálcio, PLCzeta recombinante e meio de Sr2+, injetando
espermatozoide tratado pelo calor. O ionóforo de cálcio causou apenas um grande aumento de cálcio,
sendo que apenas 13,3% dos oócitos injetados formaram blastocisto. Utilizando o meio de Sr2+, foram
observado uma série de ondas de cálcio (média de 7,91 ondas durante 2 horas, n=15) após a injeção
espermática intracitoplasmática. Já com a utilização de PLCzeta recombinate, as oscilações foram muito
parecidas com as observadas na ICSI utilizando-se espermatozoide controle. Além disso, 34-36% dos
oócitos injetados com espermatozoides tratados pelo calor e associados com Sr2+ ou PLCzeta
recombinate, formaram blastocisto, sendo significativamente maior do que o observado com ionóforos de
cálcio.
A utilização de PLCzeta recombinante, mesmo em oócitos e espermatozoides controles, não
interferiu na ativação oocitária nem no desenvolvimento embrionário normal, demostrando que essa
técnica pode ser utilizada na ICSI com objetivo de melhorar a taxas de sucesso, que são de
aproximadamente 55% (Sanusi et al., 2015).

Localização e caracterização PLC zeta


A proteína PLCzeta tem aproximadamente 75 KDa, sendo a menor isoforma conhecida de PLC
(Saunders et al., 2002), e através de imunolocalização em espermatozoides, foi encontrada na região pós-
acrossomal em camundongos e na região equatorial em bovinos, sendo esses locais de grande importância
para sua função, já que tem rápido acesso ao citoplasma do oócito no momento da fertilização (Yoon &
Fissore, 2007).
Yoda et al., (2004), observando oscilações de cálcio em 17 oócitos de camundongos, verificou que
a duração das oscilações foi de 90-140 minutos em 6 oócitos, de 210-340 em 8 e maior que 7 horas em 3.
Nesse mesmo trabalho, a PLCzeta foi detectada no pro-núcleo masculino e feminino. Esse achado é muito

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importante no que diz respeito a PLCzeta como fator espermático indutor das oscilações de cálcio, já que
esse fator foi encontrado no pró-núcleo de oócitos ativados, e que esses oócitos tiveram a habilidade de
causar oscilações de cálcio quando injetados em outros oócitos quiescente em metáfase II (Knott et al.,
2003; Kono et al., 1995). Esse acumulo do fator espermático no pró-núcleo foi proposta como a causa da
parada das oscilações de cálcio (Kono et al., 1996; Marangos et al., 2003), que ocorre quando o pró-
núcleo é formado em oócitos fertilizados de camundongos (Deguchi et al., 2000; Jones et al., 1995). A
concentração de PLCzeta aumentou no interior do oócito de camundongos de forma homogenia até 180
minutos após injeção de mRNA codificante da PLCzeta. A formação do pro-núcleo ocorreu entre 300-
360 minutos após a injeção do mRNA e entre 240-300 minutos após o início das oscilações de cálcio.
Após os 180 minutos, a quantidade de PLCzeta na região do pro-núcleo teve um grande aumento, sendo
que a quantidade no citoplasma do oócito permaneceu estável ou até diminuiu em alguns casos.
Consequentemente a concentração de PLCzeta no pro-núcleo aumentou com o tempo, ao contrário do que
ocorreu no citoplasma (Yoda et al., 2004). Investigando a localização da PLCzeta de humanos e ratos no
oócito em ativação, não foi observado a habilidade dessa proteína em se translocar para o pro-núcleo
nessas espécies (Ito et al., 2008). Utilizando uma sequência que codifica a PLCzeta junto com uma
proteína fluorescente (PLCzeta-VENUS), e adicionando um anticorpo fluorescente contra PLCzeta
bovina, foi observado que essa não se acumulou no pro-núcleo de zigoto de bovinos nem de murinos. Em
contraste, quando foi utilizada a PLCzeta de murino, foi observado que essa se acumulou no pro-núcleo
tanto de murinos, quanto de bovinos (Cooney et al., 2010).
O modelo de ativação do oócito a partir da PLCzeta foi proposto por Jones e colaboradores, em
2005. Segundo esse modelo, a PLCzeta geraria ondas de cálcio que iriam ativar a proteína quinase II
dependente da calmodulina, acionando assim o complexo promotor da anáfase, o qual levaria a
degradação da securina e da ciclina B1, permitindo a descondensação e segregação das cromátides irmãs
para a finalização da meiose II.
A habilidade da PLCzeta em desencadear as oscilações de cálcio não se mostrou espécie-
específica. Micro injeções com extrato espermático humano foram capazes de induzir oscilações de cálcio
tanto em oócitos humanos quanto em oócitos de camundongos (Homa & Swann, 1994). As oscilações
induzidas no oócito de camundongo pela PLCzeta humana foram mais intensas e de maior frequência do
que as causadas pela PLCzeta de camundongo e de macaco (Cox et al., 2002). Comparando as sequências
de aminoácidos entre a PLCzeta de humanos, macacos e ratos, foi demonstrado que a de humanos e
macacos são 90% idênticas, a de humanos e ratos 70% e de macacos e ratos 71% idênticas (Cox et al.,
2002). A injeção de citosol espermático suíno em oócitos de camundongos provocou uma oscilação de
cálcio com frequência maior do que a observada nessa espécie na fertilização natural (Kurokawa et al.,
2004). Micro injeções de mRNA de PLCzeta bonina foram mais efetivas do que as de PLCzeta de
murinos em desencadear as oscilações de cálcio em oócitos bovinos, do mesmo modo que a frequência
das oscilações em oócitos de murinos foram maiores quando micro injetado mRNA de PLCzeta de
murino comparado a micro injeções de mRNA de PLCzeta de bovinos, indicando que tanto os oócitos de
bovinos quanto os de murinos tem preferência pela sua PLCzeta homóloga (Cooney et al., 2010).
Como algumas espécies apresentam oscilações de maior frequência quando utilizado extrato
espermatico, ou mRNA de PLCzeta de outras espécies, estudos tem sido feito para se determinar a
quantidade relativa de PLCzeta no espermatozoide. Cooney et al., (2010), avaliando a quantidade de
PLCzeta em um único espermatozoide de bovino, obteve o valor de 105-165 fg/oocito, sendo esse valor
3-5 vezes maior do que o obtido no espermatozoide de murino (Saunder et al., 2002; Fujimoto et al.,
2004)
Estudos futuros devem ser feitos para determinar o porquê da diferença na quantidade,
solubilidade e potência relativa da PLCzeta nas diferentes espécies.

CONSIDERAÇOES FINAIS

A liberação e consequentes oscilações de cálcio do oócito são de fundamental importância para


ativação do mesmo e subsequente desenvolvimento embrionário. O mecanismo pelo qual ocorre esse
aumento de cálcio ainda não está bem claro.
Diante dos dados expostos, a proteína espermática fosfolipase C zeta parece ser o fator
espermático responsável pela indução das oscilações de cálcio no oócito durante a fertilização, utilizando
a via do fosfoinositol. Porém estudos devem ser feitos para se determinar o mecanismo exato pelo qual

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ocorrem essas oscilações, além de determinar o porquê das diferenças na quantidade, solubilidade e
potência relativa da PLCzeta dentre as diferentes espécies.

LITERATURA CITADA

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XILANASE NA ALIMENTAÇÃO DE FRANGOS DE CORTE E POEDEIRAS


COMERCIAIS

Natália Ramos Batista1, Karina Márcia Ribeiro de Souza2, Charles Kiefer2, Luanna Lopes
Paiva3, Henrique Barbosa de Freitas3, Thiago Rodrigues da Silva3, Patrícia Rodrigues
Berno3, Arnaldo Vitorino Ofiço3
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: nath.ramos@hotmail.com
2
Professores adjuntos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
3
Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

RESUMO: O segmento de enzimas para ração animal tem apresentado crescimento acelerado devido ao
interesse dos produtores avícolas em aumentar o valor nutricional das rações e seus benefícios sobre
desempenho animal. Os ingredientes comumente utilizados nas dietas avícolas, o milho e farelo de soja,
apesar de apresentarem alta digestibilidade possuem frações de polissacarídeos não amiláceos que
reduzem a digestibilidade e absorção de nutrientes pela ave. As xilanases são enzimas amplamente
encontradas na natureza e produzidas por bactérias, fungos, protozoa, algas, entre outros capazes de
reduzir os efeitos antinutricionais dos PNA’s e possibilitar a difusão de nutrientes e energia do lúmen
intestinal para a corrente sanguínea, reduzindo o gasto energético do animal e consequentemente
melhorando o desempenho e produção.

PALAVRAS-CHAVE: Aspergillus, carboidrase, desempenho animal, enzima exógena, polissacarídeo


não-amiláceo, xilana

XYLANASE IN BROILER AND COMMERCIAL LAYERS FEEDING

ABSTRACT: The segment of enzymes for animal feed has shown accelerated growth due to the interest
of the poultry producers to increase the nutritional feed value and its benefits on animal performance. The
ingredients commonly used in poultry diets, corn and soybean meal, despite having high digestibility
have polysaccharide fractions that reduce non-starch digestibility and nutrient uptake by bird. The
xylanase enzymes are was found in nature and produced by bacteria, fungi, protozoa, algae, among others
capable of reducing the antinutritional effects of PNA's and to allow diffusion of nutrients and energy in
the intestinal lumen into the blood stream, reducing the energy expenditure Animal and thus improving
performance and production.

KEYWORDS: animal performance, Aspergillus, carbohydrase, exogenous enzyme, nonstarch


polysaccharide, xylan

INTRODUÇÃO

Na tentativa do alto aproveitamento dos nutrientes dietéticos para a expressão do máximo


potencial genético das aves, os programas nutricionais estão utilizando de adventos biotecnológicos como
enzimas exógenas pelos possíveis efeitos sobre a melhora na digestibilidade e no epitélio intestinal
(Choct, 2001).
Os ingredientes basais como milho e farelo de soja que compõe a maior parte das rações avícolas
contém nutrientes não passível de digestão pelas aves, como polissacarídeos não amiláceos (PNAs)
solúveis (10 a 25 g/kg MS) (Józefiak et al., 2004), os quais diminuem a taxa de difusão de substratos e
enzimas digestivas pelo aumento da viscosidade intestinal (Conte et al., 2003). Assim, produtos
enzimáticos (xilanases, glucanases, fitases dentre outras) isolados ou em associações estão sendo
incorporados as rações.

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Pesquisas tem demonstrado que carboidrases possuem alta eficiência na diminuição dos efeitos
antinutricionais, como por exemplo, as xilanases na degradação das fibras durante o trânsito intestinal,
contribuindo para a eficiência produtiva devido à melhoria na digestão e energia dos nutrientes. No
entanto, a produção endógena de enzima xilanase pelas aves é praticamente nula, enquanto que seus
substratos, arabinoxilanos são abundantes nas rações (Yu et al., 2007).
A partir da fermentação por bactérias e fungos é possível a produção de uma grande quantidade de
enzimas com a finalidade de degradação de várias formas de carboidratos, açúcares, proteínas, fósforo e
celulose proporcionando melhor absorção no trato digestivo (Carapito et al., 2009).
A produção de xilanases pode ser realizada a partir de resíduos agroindustriais principalmente por
espécies de fungos dos gêneros Aspergillus e Trichoderma. A produção por cepas fúngicas se mostra
mais vantajosa pela facilidade e extração da enzima do ponto de vista industrial, já que os fungos
sintetizam enzimas extracelulares que são lançadas em um substrato externo e, portanto, elimina-se a
etapa de rompimento celular (Li et al., 2005; Carapito et al., 2009).
O segmento de enzimas para ração animal tem apresentado um crescimento acelerado devido ao
interesse dos produtores avícolas em aumentar o valor nutricional das rações e seus benefícios sobre
desempenho animal. Desta forma, objetivou-se com esta revisão abordar aspectos relacionados à adição
de enzimas xilanases na ração e seus efeitos sobre o desempenho de frangos de corte e na produção de
poedeiras comerciais.

DESENVOLVIMENTO

Polissacarídeos Não Amiláceos (PNA’s)


Os polissacarídeos não amiláceos (PNA’s) ou fibras dietéticas são componentes da parede celular
dos alimentos de origem vegetal e são caracterizados por macromoléculas de polímeros de açúcares
simples (monossacarídeos), podendo ser arabinoxilanos, dextrina, celulose, inulina, lignina, ceras,
quitinas, pectinas, betaglucanos e outros carboidratos com ligações betaglicosídicas, compreendendo mais
de 90% da parede celular das plantas (Sakomura et al., 2014).
Devido ao tipo de ligações entre as unidades de açúcares, os PNA’s apresentam resistência à
hidrólise no trato digestivo com baixo aproveitamento desses carboidratos pela ave, que por sua vez não
possui capacidade enzimática para digerir essas estruturas (Brito et al., 2008). Os efeitos negativos são
mais evidenciados durante as três primeiras semanas de idade da ave, uma vez que a atividade enzimática
e o desenvolvimento fisiológico não estão totalmente desenvolvidos, ocasionando em significativa
redução da digestibilidade da energia (Oliveira et al., 2008).
De acordo com a solubilidade, os PNA’s podem ser classificados como insolúveis (celuloses,
ligninas e algumas hemiceluloses) e solúveis (pectinas, gomas e hemiceluloses – arabinoxilanos, β-
glucanos, D-xilanos, D-mananos, xiloglucanos, etc.) (Choct & Kocher, 2000) sendo este último grupo o
mais crítico quando refere-se à nutrição de aves e seus efeitos fisiológicos e morfológicos sobre o sistema
digestório das aves.
Por sua vez, Choct e Kocher (2000) classificaram os PNA’s em três grandes grupos, composto
pela celulose (insolúvel em água, álcali ou ácidos diluídos) e dois grupos parcialmente solúveis em água:
Polímeros não celulolíticos (Arabinoxilanos, β-glucanos de ligações mistas, mananos, galactanos e
xiloglucanos) e polissacarídeos pécticos (ácido poligalactôrunicos, arabinanos, galactanos e
arabinogalactamos).
Os constituintes pertencentes aos PNA’s solúveis possuem capacidade de interação com o
glicocálix da borda em escova intestinal, ocasionando aumento da espessura da camada de água na
mucosa. Desta forma, o aumento da viscosidade da digesta atua como barreira física para a ação de
enzimas digestivas, prejudicando a digestão e absorção de aminoácidos, minerais, carboidratos e outros
nutrientes (Conte et al., 2003; Sakomura et al., 2014).
Entre os animais não ruminantes, as aves são as mais prejudicadas pelas frações solúveis de β-
glucanos e arabinoxilanos e seus efeitos na digesta. A maior viscosidade no trato intestinal acarreta em
maior excreção com alto teor de umidade, aumentando a incidência de cama úmida e produção elevada de
amônia, além do maior custo de produção pelas perdas de nutrientes (Schoulten et al., 2003).
Assim como PNAs solúveis, os insolúveis podem aumentar a viscosidade da digesta quando
ingeridos em alta quantidade, no entanto, em menor intensidade. Devido ao estímulo da fibra insolúvel na
mucosa intestinal a taxa de passagem é aumentada, porém com redução do tempo de ação enzimática

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sobre a digesta e menor digestibilidade dos nutrientes, além da redução energética do alimento e aumento
no consumo como método de compensação da baixa densidade da dieta (Hetland et al., 2004) .
A fração de PNAs insolúveis é composta pelas celuloses, ligninas, xilanos e algumas
hemiceluloses com capacidade de fortes ligações com outros polissacarídeos e outros nutrientes, como
exemplo, a liginina e as proteinas. Por outro lado, níveis moderados de PNAs na dieta proporcionam
maior digestão do amido, pela modelação na taxa de passagem, tornando-a mais lenta (Hetland et al.,
2004). O amido é considerado o principal carboidrato para o fornecimento de energia metabolizável
aparente nos grãos de cereais e presente em maior quantidade no endosperma dos grãos de milho (88%)
(Wiseman, 2006).
A maior parte das rações formuladas para frangos de corte no Brasil são baseadas em produtos de
origem vegetal, principalmente o milho e farelo de soja. Existe grande variação nos teores de PNAs totais
desses ingredientes conforme o cultivar, fatores genéticos e ambientais (Afta, 2012) variando de 8,10 a
9,70% e 10,3 a 30,30% no milho e farelo de soja, respectivamente (Malathi & Devegowda, 2001; Ruiz et
al., 2008; Tavernari et al., 2008).
Os arabinoxilanos são encontrados em maior quantidade (5,35%) nos grãos de milho, além de
0,10% de β-glucanos, 3,12% de celulose e 1% de pectina, sendo que no farelo de soja predominam
polímeros complexos, com 4,21% de arabinoxilanos, 5,15% de celulose e 6,16% de pectina (Malathi &
Devegowda, 2001).
No entanto, apesar do milho e farelo de soja apresentarem boa digestibilidade, os efeitos
antinutricionais ocasionados pelos PNAs podem ser amenizados e com o uso de enzimas exógenas como
xilanase, arabinoxilanase, β-glucanase e celulase, melhorando o desempenho animal (Onderci et al.,
2006; Carvalho et al., 2009; Selle et al., 2010).

Enzimas exógenas: modo de ação


Caracterizadas por proteinas altamente especializadas, as enzimas apresentam alta eficiência
catalítica e elevado grau de especificidade por seus substratos. Aceleram reações químicas no organismo,
sem serem, elas próprias alteradas neste processo (Souza, 2005) e reguladas conforme sua atividade
modulando o fluxo da via metabólica.
Assim como outros catalisadores, as enzimas diminuem a energia de ativação da reação e
aumentam a velocidade da reação de um fator de 106 a 1012. Além da atividade catalítica, as enzimas
podem ser caracterizadas por propriedades físicas e químicas como solubilidade, número de cadeias
polipeptídicas, coeficiente de sedimentação, massa molecular, composição de aminoácidos e estrutura
secundária, ternária e, eventualmente quaternária (Braddock & Fuente, 1996).
As enzimas exógenas possuem por finalidade promover a quebra dos componentes fibrosos,
reduzir fatores anti-nutricionais, melhorar a biodisponibilidade dos nutrientes que não são aproveitados
pelas enzimas endógenas, apresentando assim, efeitos positivos sobre a digestibilidade e desempenho
animal, uma vez que apresentam sítio ativo que permite sua atuação em determinada ligação química, sob
condições favoráveis de temperatura, pH e umidade (Campestrini et al., 2005).
Durante a digestão, as enzimas se unem às moléculas de alimentos de alto peso molecular e
formam complexo enzima-substrato, e aceleram o catabolismo de moléculas grandes (amido, proteína,
gordura, etc) em moléculas menores (glicose, aminoácidos, ácidos graxos, etc), as quais podem ser
absorvidas através da membrana intestinal para serem utilizadas pelas aves e desempenhar diversas
funções, incluindo crescimento ou produção (Braddock & Fuente, 1996).
A incorporação de enzimas nas formulações pode ser feita de duas maneiras. A primeira é a
aplicação “on top”, que consiste na suplementação da enzima, como qualquer outro aditivo, sobre uma
formulação padrão, com o objetivo de melhorar o ganho de peso ou a conversão alimentar das aves. A
segunda opção seria alterar a formulação da ração, por meio da redução nos nutrientes e adicionar as
enzimas exógenas para restaurar o valor nutricional da dieta padrão. Sendo a segunda opção a mais
utilizada nas granjas avícolas (Meneghetti, 2013).
Como as aves não apresentam capacidade endógena para digerir fibras, a utilização de enzimas
exógenas torna-se considerável, pois estas hidrolisam os PNAs que podem ser potencialmente utilizados
pelo animal, aumentando, por exemplo, o aproveitamento da energia presente nos alimentos, como o
farelo de soja (Brito et al., 2008).
As enzimas carboidrases são constituídas por duas distintas classes com atividades diferentes, as
amilases e aquelas coletivamente classificadas como enzimas que degradam polissacarídeos não
amiláceos, entre elas estão celulases, xilanases, glucanases, pectinases (Lima et al., 2007).

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Xilanase
A xilana é o segundo polissacarídeo, altamente ramificado encontrado em maior quantidade na
natureza por ser um dos principais constituintes das hemiceluloses em muitas espécies vegetais,
localizada na parede celular secundárias das plantas, entre a molécula de lignina e as fibras da celulose, é
formada por resíduos de β-xilopiranose ligadas por pontes glicosídicas β-1,4 (Li et al., 2005; Lee et al.,
2009) (Figura 1).

Figura 1. Estrutura química das xilanas

As xilanases (endo-β-1,4-xilanases) são enzimas que despolimerizam ligações β (1 4)


glicosídicas da xilana (Figura 2), sendo amplamente encontrada na natureza e produzidas por bactérias,
fungos, protozoa, algas, entre outros (Tabela 1). Estas enzimas têm sido amplamente empregadas para a
produção de hidrolisados de resíduos agroindustriais, processamento de alimentos, aumento da
digestibilidade da ração animal, entre os outros usos (Sandrim et al., 2005; Lee et al., 2009).

Figura 2. Estrutura da xilana mostrando diferentes grupos constituintes com locais de clivagem pelas
xilanases microbianas (Sunna & Antranikian, 2000)

Entre as principais características da xilanase destaca-se a ampla tolerância ao pH, estando esta no
intervalo de 3,5 a 6,5, o que lhe permite atuar em uma porção extensa do trato gastrointestinal, desde o
início da digestão até o íleo (Costa et al., 2004).
Na produção de xilanase, destacam-se os fungos filamentosos dos gêneros Aspergillus e
Trichoderma os quais são considerados os maiores produtores (Ustinov et al., 2008; Lee et al., 2009,
Carapito et al., 2009). Entre as bactérias destacam-se as espécies de Lactobacillus e Bacillus subitilis
(Juturu & Wu, 2011) e em leveduras as Saccharomyces cerevisiae e Pichia pastoris (Ahmed et al., 2009).

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Tabela 1. Microrganismos utilizados para a obtenção de enzimas xilanases


Microrganismos Condições de Referência
cultivo
Acidobacterium capsulatum pH 5,0; 65ºC Inagaki et al. (1998)
Bacillus circulans WL-12 pH 5,5-7,0 Joshi et al. (2008)
Bacillus polymyxa CECT 153 pH 6,5; 50ºC Morales et al. (1995)
Bacillus sp. strain K-1 pH 5,5; 60ºC Ratannaka- nokchai et al. (1999)
Cellulomonas sp. N.C.I.M. 2353 pH 6,5; 55ºC Chaudhary & Deobagkar
(1997)
Staphylococcus sp. SG-13 pH 7,5-9,2; 50ºC Gupta et al. (2000)
Aspergillus niger ANL-301 pH 5,5; 45ºC Okafor et al. (2010)
Aspergillus sojae pH 5,0-5,5; 60ºC Kimura et al. (1995)
Aspergillus sydowii MG 49 pH 5,5; 60ºC Ghosh & Nanda (1994)
Penicillium purpurogenum pH 7,3-7,5; 60,5ºC Belancic et al. (1995)
Thermomyces lanuginosus DSM 5826 pH 7,0; 60,7ºC Cesar & Mrsa (1996)
Trichoderma harzianum pH 5,0; 50ºC Ahmed et al (2007)
Aureobasidium pullulans Y- 2311-1 pH 4,4; 54ºC Li et al. (1993)
Trichosporon cutaneum SL409 pH 6,5; 50ºC Liu et al. (1998)
Streptomyces sp B-12-2 pH 6,7; 55-60ºC Elegir et al. (1995)
Streptomyces viridisporus T7A pH 7,0-8,0; 65-70ºC Magnuson & Crawford (1997)
Streptomyces sp. QG-11-3 pH 8,6; 60ºC Beg et al. (2000)
Adaptado de Goswami & Pathak (2013)

Em estudos in vitro, Mathlouthi et al. (2002) observaram menor viscosidade dos grãos de trigo,
centeio, milho e soja com o uso de uma combinação de xilanase e glucanase, com melhores índices de
conversão alimentar em poedeiras que receberam dietas suplementadas com essas enzimas em função da
redução da viscosidade da digesta.
A adição de xilanases proporciona melhora na morfometria intestinal, com aumento das
vilosidades, redução da profundidade de cripta e boa relação vilo:cripta no intestino das aves. A difusão
de nutrientes e energia do lúmen intestinal para a corrente sanguínea em função da adição de xilanases
possibilita o menor gasto energético para a renovação de tecidos, sendo a energia destinada para o
crescimento muscular (Souza et al., 2014).
Além da melhora na digestibilidade dos nutrientes pela redução da viscosidade do bolo alimentar
no trato digestório da ave, as xilanases possuem a capacidade de reduzir a infecção por patógenos
entéricos (Guo et al., 2014), diminuindo a necessidade de migração de células imunes para o intestino,
otimizando assim o desempenho.
Resultados positivos foram entrados por Oba et al. (2013) ao suplementarem poedeiras comerciais
na forma on top com um complexo multienzimático (xilanase, celulase, pectinase, protease, amilase,
betaglucanase e fitase), indicando redução linear da viscosidade conforme o nível de inclusão (0, 50, 100,
150 e 200 ppm). Porém, a quantidade de nutrientes fornecida pela dieta a qual foi baseada em milho e
farelo de soja atendeu as exigências requeridas para a produção, desta forma, não foram contatados
efeitos sobre o desempenho e qualidade dos ovos.
No entanto, Ferreira et al. (2015) ao suplementar poedeiras leves com carboidrases (Alfa-
galactosidase: 35 U g-1 ; Galactomananase: 110 U g-1; Beta-glucanase: 1.100 U g-1 ; Xilanase: 1.500 U g -
1
) em dietas formuladas com a matriz incompleta de fitase (30 g t -1 de fitase) observaram significativa
melhora apenas para conversão alimentar por massa de ovos com a utilização do complexo enzimático.
Resultados semelhantes foram encontrados por Novak et al. (2008) e Silva et al. (2012).
A inclusão de enzimas exógenas na dieta de poedeiras reduz a síntese de enzimas endógenas e em
consequência disso o organismo apresenta maior disposição de aminoácidos para a síntese proteica. As
carboidrases em especial, aumentam a digestibilidade dos nutrientes e recuperam o valor energético que
seria perdido pela inclusão de um ingrediente com alto teor de PNA’s.

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Essa hipótese ratifica a afirmação de Araújo et al. (2008) que observaram maior peso dos ovos
com a suplementação de enzimas b-galactosidase, galactomananase, xilanase e a-glucanase em dietas
formuladas a base de trigo para poedeiras comerciais.
No entanto, diversos estudos não evidenciaram o efeito de complexos enzimáticos contendo
xilanases e outras carboidrases associadas ou não à fitase e sem ou com a valorização de nutrientes, sobre
o desempenho e a qualidade dos ovos de poedeiras (Jalal et al., 2007; Araújo et al., 2008; Silversides et
al., 2006).
Deve-se levar em consideração que o mecanismo de ação das enzimas atua como chave –
fechadura, assim a ação das xilanases e mesmo das demais carboidrases (fechadura) é em parte,
dependente da concentração de substrato (chave) presente na dieta, ou seja, polissacarídeos não
amiláceos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A suplementação de xilanases pode proporcionar a redução de custos para a produção de ovos em


poedeiras bem como para o alto rendimento de carne em frangos de corte, por melhora significativamente
a digestibilidade dos alimentos, permitindo alterações nas formulações das rações e maximização do uso
de ingredientes energéticos e proteicos nas dietas. No entanto, se faz necessário a correta avaliação
nutricional dos ingredientes a serem utilizados conjuntamente com a viabilidade econômica dessa
tecnologia.

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ENERGIA METABOLIZÁVEL PARA FRANGO DE CORTE

Thiago Rodrigues Da Silva1 ,Karina Márcia Ribeiro de Souza2 ,Charles Kiefer2,


Deiler Sampaio Costa2
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. Email:
thiagoth_rodrigues@hotmail.com
2
Professores Doutores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. E-mail: karina.souza@ufms.br ;
charles.kiefer@ufms.com.br; deiler.costa@outlook.com

Resumo: A presente revisão de literatura tem por objetivo levantar informações sobre as exigências de
energia metabolizável para frangos de corte. Considerando a atual situação da avicultura mundial que
coloca o Brasil entre os maiores produtores de carne de frango, se faz necessário a redução dos custos
com a produção e melhoras na qualidade do produto final. A preocupação com as dietas dos frangos
buscando atender estes parâmetros esta associada ao estudo das exigências nutricionais das aves. A
energia metabolizável, embora não seja um nutriente é de extrema importância, pois interfere na ingestão
de alimentos e na qualidade da carne de frango, onde o nível de energia influencia na composição da
carcaça, sendo o excesso depositado na forma de gordura abdominal.

Palavras-chave: avicultura, consumo de ração, lipídios, metabolismo energético, nutrição de não


ruminantes

METABOLIZABLE ENERGY FOR BROILERS

Abstract: This literature review aims to gather information on the metabolizable energy requirements for
broilers. Considering the current situation of the global poultry industry that puts Brazil among the largest
producers of poultry, it is necessary to reduce the cost of production and improvements in the quality of
the final product. Concern about the diets of chickens trying to meet these parameters is associated to the
study of nutritional requirements of the birds. The metabolizable energy, although it is not a nutrient is
extremely important because it interferes with the intake of food and the quality of chicken meat, where
the energy level influences carcass composition and the surplus deposited as abdominal fat.

Keywords: aviculture, energy metabolism, feed intake, lipids, nutrition of ruminants

INTRODUÇÃO

Na atividade avícola a alimentação representa a maior parte dos custos variáveis e os teores de
proteína bruta e energia metabolizável influenciam decisivamente no desempenho das aves, sendo de
extrema importância a estimativa de suas exigências para que se formulem dietas de mínimo custo ou de
máximo retorno (Oliveira et al., 2002).
A crescente evolução dos programas de alimentação para aves de produção tem como finalidade
melhorar a associação entre a nutrição e a fisiologia da ave moderna. Neste contexto, tem sido necessário
o conhecimento da disponibilidade tanto dos nutrientes como da energia das rações para o atendimento
dessa associação. A determinação dos valores de energia metabolizável dos ingredientes pode contribuir
para a adequação calórica das rações (Kato, 2005).
A energia é um dos fatores nutricionais mais importantes na formulação de rações para aves e
suínos, não sendo, na verdade, um nutriente, mas sim a propriedade dos nutrientes transformarem-se em
energia (Albino & Silva, 1996).
Acompanhado da evolução da nutrição de frangos de corte esta a crescente preocupação de
consumidores quanto aos produtos destinados à alimentação humana, principalmente as proteínas
animais. Fazendo com que estes consumidores se atentem a qualidade nutricional e sensorial da carne de
frango. Este fato faz com que nutricionistas busquem meios para garantir que esta carne seja mais
saudável. Uma alternativa é a manipulação do nível energético das rações, já que a energia é um fator

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limitante para o consumo, pois assim que a exigência energética é sanada, o animal para de ingerir
alimento.
A determinação das exigências de energia e das eficiências de aproveitamento da energia para
frangos é importante principalmente quanto à eficiência em deposição de proteína e gordura, que sofrem
modificações em decorrência da alimentação do próprio crescimento da ave (Emmans, 1987).
Portanto esta revisão tem o objetivo de levantar informações sobre a exigência de energia
metabolizável de frangos de corte.

DESENVOLVIMENTO

Energia
Quando as moléculas orgânicas são oxidadas, a presença da energia produzida como calor é usada
nos processos metabólicos dos animais. A energia liberada da oxidação dos alimentos, assim como a
oriunda do metabolismo energético como calor produzido, é expressa em caloria ou joule. Uma caloria é
definida como a quantidade de calor necessária para aquecer um grama de água de 14ºC a 15ºC, um joule
equivale a 0,239 kcal, ou seja, uma caloria é igual a 4,18 joules (Sakomura & Rostagno, 2007).
De acordo com Borges et al (2003) os valores que traduzem a utilização da energia pelos animais
são aqueles expressos em energia digestível (ED) que significa a energia bruta (EB) do alimento menos a
EB das fezes; energia metabolizável (EM) que é igual à EB do alimento menos a EB das fezes, a EB da
urina e os gases da digestão; energia líquida (EL) (EM menos o incremento calórico) e energia produtiva
(EP) (EL menos energia de manutenção). Como as aves excretam as fezes e a urina juntas, não é usual a
utilização da energia digestível nas formulações de rações, sendo a energia metabolizável a mais utilizada
para essa espécie. A energia metabolizável é dividida em energia metabolizável aparente e energia
metabolizável verdadeira (Santos, 2011). Devido a excreção de urina e fezes juntas, é estimada a chamada
energia metabolizável aparente, que consiste na diferença entre a energia consumida e energia da excreta,
sem levar em consideração que parte da energia da excreta é proveniente de material endógeno (Song et
al.,2003). Quando desta fração é subtraída a energia proveniente da descamação de células intestinais,
hormônios, enzimas e outros produtos que não propriamente oriundos da dieta, é possível obter-se a
energia metabolizável verdadeira (Leeson & Summers, 2001).
O conhecimento sobre o crescimento e metabolismo energético das aves, envolvendo fatores que
os afetam, bem como o aproveitamento dos demais nutrientes da dieta, busca facilitar a manipulação das
rações com o objetivo de melhorar as características de carcaça, elevando a deposição de proteína e
reduzindo o acúmulo de gordura (Sakomura et al., 2004).
Na nutrição de aves, o nível energético da ração merece destaque, já que os frangos regulam o
consumo de ração para atender prioritariamente as suas exigências energéticas. Além disso, os resultados
de desempenho e qualidade da carcaça são influenciados pelos níveis de energia da ração (Massi, 2007).
Encontrar o nível ótimo de energia necessário para melhorar o desempenho e alcançar o retorno
econômico é um grande desafio, já que as respostas, sobre qualidade de carcaça, variam neste contexto
sendo de grande importância os estudos visando definir os efeitos dos níveis de energia e do estresse
calórico para frangos de corte, principalmente em regiões de grandes variações climáticas (Barbosa et al.,
2008).
A energia metabolizável é uma propriedade nutricional estratégica em sistemas de criações em que
se utiliza alimentação à vontade, pois o consumo alimentar é regulado principalmente pela densidade
calórica da ração podendo determinar a eficiência produtiva e econômica da atividade (Moura et al.,
2008).
Uma dieta desbalanceada acarreta em aumento do custo de produção e compromete o desempenho
dos animais, portanto, é fundamental o conhecimento da composição química e da energia metabolizável
dos ingredientes para permitir o correto balanceamento dos nutrientes das rações e atender as exigências
nutricionais dos animais (Brum et al., 2000). A medida que o nível de energia metabolizável da ração
aumenta os custos da mesma também sobem, o que deve ser considerado, assim como o equilíbrio dos
demais nutrientes (Stringhini, 1999). Assim se faz necessário a determinação das exigências energéticas,
das eficiências de aproveitamento da energia e de deposição de proteína e gordura (Scott et al., 1982).

Uso de energia pelas aves


A energia é necessária para crescimento dos tecidos ou produção de ovos, ou ainda, para permitir
atividades físicas vitais e a manutenção da temperatura normal da ave. É derivada dos carboidratos,

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lipídios e proteínas da ração. A energia consumida pelo animal via ração pode ser utilizada de três
diferentes formas: suprir necessidades energéticas para as atividades, ser convertida em calor, ou
armazenada como tecido corporal. O excesso de energia normalmente é armazenado como gordura, pois,
não pode ser simplesmente excretado pelo animal (Leeson & Summers, 2001).
A energia presente nos alimentos está envolvida em todos os processos produtivos das aves. Além
de influenciar no consumo de ração por consequência interferindo no desempenho dos frangos e no custo
das rações (Faria & Santos, 2005).
A precisão na determinação dos valores de energia metabolizável é importante para a ótima
performance das aves, uma vez que pode refletir em acréscimos no ganho de peso e na conversão
alimentar (Dale & Fuller, 1982). É ainda necessária para a produção de calor e mantença do metabolismo
basal do animal (Grimbergen, 1974). Do total de energia metabolizável ingerida, aproximadamente 65% é
perdida como calor e apenas 35% está disponível para produção (Chwalibog, 1985).
A exigência energética para o ganho de peso aumenta com o decorrer da idade, de modo que os
valores são maiores para as fêmeas que para os machos na fase inicial de frangos de corte industrial (1 a
21 dias) e final (43 a 56 dias). Indicando maior exigência das fêmeas para deposição de um grama de peso
corporal, justificando a adoção de um programa de alimentação diferente, evidenciando que as diferenças
nessas características de crescimento de fêmeas na fase final promovem alterações nas exigências
energéticas para ganho de peso (Longo et al., 2006). Esta tendência na separação de lotes sexados, tem
como objetivo o fornecimento de rações adequadas para cada sexo, já que é de conhecimento a existência
de diferenças entre as exigências nutricionais de machos e fêmeas (Gehle et., 1974).
Além de atender às exigências para mantença, a energia ingerida também é destinada à síntese de
compostos orgânicos, isto é, para o crescimento corporal, produção ou deposição de gordura. A exigência
de energia metabolizável para aves é fracionada ainda em mantença e produção (Grimbergen, 1974). A
energia para produção é dividida entre o crescimento e a produção de ovos, e energia para mantença,
como processos de catabolismo e gastos de energia para produção, como processos de síntese. O
catabolismo envolve gastos inevitáveis e primários, atendidos a partir da energia dos alimentos ou da
oxidação de reservas corporais, trabalho de mantença, trabalho muscular e termorregulação (De Groote,
1974). Parte da EM ingerida fica retida no corpo e parte é perdida como calor (incremento calórico), a
proporção retida representa a eficiência de conversão da EM da dieta em energia líquida (Blaxter, 1989).
Quando o animal é alimentado, a primeira demanda da energia oriunda do alimento é destinada a
suprir as exigências de mantença, impedindo o catabolismo de seus tecidos. Em situações em que exista
privação alimentar, para a obtenção de energia para a realização de suas funções vitais, o animal obtém
energia através do catabolismo de suas reservas corporais, primeiramente utiliza o glicogênio, seguido da
gordura e a proteína (McDonald et al., 2002).

Fatores que interferem na exigência de energia


Existem diversos fatores que influenciam as exigências de energia para mantença, dentre os
principais estão, a temperatura ambiente e a atividade exercida pelo animal (Rabello, 2001).

Temperatura
Considerando que as aves possuem maior dificuldade em dissipar calor do que para reter, as
condições térmicas podem ser prejudiciais à produção avícola. Em temperaturas próximas de 28 oC, a
energia para produção torna-se drasticamente reduzida, e a 33oC torna-se negativa, sendo necessária a
utilização de reservas corporais (Leeson & Summers, 1991).
Os requerimentos de energia para mantença decrescem com o aumento da temperatura. As aves
precisam ingerir menos para satisfazer suas necessidades energéticas. Contudo, esta relação é verdadeira
somente dentro da zona termoneutra, pois em temperaturas mais baixas há um aumento no consumo de
alimento e em altas temperaturas ocorre uma redução. Acima de 30 °C, o consumo decresce rapidamente
e as exigências energéticas aumentam, devido à necessidade das aves em eliminar calor. Portanto, este
menor consumo de alimento e o gasto de energia para manutenção da homeostase térmica levam a uma
redução no desempenho das aves criadas em altas temperaturas (Furlan et al., 2002).
Considerando que as aves reduzem voluntariamente o consumo de alimento, à medida que a
temperatura ambiente se eleva acima da faixa de conforto térmico, uma ração formulada para condições
de termoneutralidade não seria adequada para atender as exigências energéticas das aves em ambiente de
estresse de calor (Oliveira et al., 2000).

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A temperatura ambiente influencia no ganho de peso considerando aves mantidas sob estresse de
calor em relação às mantidas em conforto térmico (Oliveira Neto et al., 2000).

Linhagem e sistema de criação


Aves de crescimento lento podem responder de forma diferente aos níveis energéticos e às
relações entre energia e proteína. É necessário investigar qual é o nível de energia mais adequado e a
melhor relação para proporcionar o máximo desempenho e melhores características e composição
química da carcaça (Mendonça et al., 2007).
Frangos do tipo caipira permanecem mais tempo pastando que as aves de crescimento rápido,
devido ao sistema de produção diferenciado. O pastejo pode ser um dos fatores que, além da genética,
contribuiu para o desenvolvimento mais tardio dos frangos de crescimento lento, uma vez que parte da
energia consumida é utilizada com o hábito de pastejo (Fanático et al., 2005).

Idade
Com o aumento da idade das aves ocorre a melhora no aproveitamento dos nutrientes dos
alimentos (Batal & Parson, 2002). Pintos nas primeiras semanas de vida ainda não estão completamente
desenvolvidos fisiologicamente. Dessa forma, apresentam menor capacidade de produção de enzimas e
secreções gástricas e pior digestibilidade dos nutrientes em relação às aves mais velhas (Soares et al.,
2005).
A atividade das enzimas amilase, tripsina e lípase aumentam com o avanço da idade das aves e a
fase de maior aumento de atividade é entre a 1 a e 2a semanas de idade. No entanto, a maioria das tabelas
de composição química e energética dos alimentos apresenta apenas valor de EM para cada alimento e
esse valor é utilizado para a formulação de dietas para aves em todas as idades. Dessa forma, como as
aves tendem a apresentar melhor aproveitamento da energia dos alimentos com o avanço da idade, o
conteúdo energético das rações pode ficar superestimado para aves em fase inicial ou subestimado para a
fase final (Sakomura et al., 2004).
Como os lipídios são a principal fonte de energia nas rações, existe a preocupação de que aves em
fase inicial não apresente uma ótima digestibilidade quando existir fontes energéticas provindas de
gordura. Esta capacidade digestiva é melhorada com o avançar da idade, à medida que o aparato
enzimático apresenta-se mais amadurecido. Da mesma forma, a absorção dos produtos da digestão
lipídica pode ser influenciada pela saturação das moléculas de gordura. Gorduras insaturadas são mais
bem aproveitadas pelos pintos do que as saturadas entre 2 e 15 dias de idade (Carew et al., 1972).
Para se atingir plenamente as exigências dos frangos de corte modernos, é necessário adequar as
dietas para cada fase de criação específica, respeitando as diferenças fisiológicas e comportamentais de
acordo com a idade das aves (Andrade, 2014).

Granulométrica e Processamento da ração


O processamento de determinados ingredientes ou subprodutos pode influenciar os valores de
digestibilidade e metabolização dos nutrientes. A superfície de exposição dos ingredientes à ação
enzimática, associada à alteração do tempo de passagem desse ingrediente pelo trato digestório da ave,
pode alterar a digestibilidade e, consequentemente, a disponibilidade de nutrientes. Martins (1995)
observou variação nos valores de EM devido aos diferentes tipos de processamento da soja.
Já a peletização atua como um poupador de energia, uma vez que a ave utiliza a ração peletizada
com maior eficiência em comparação com a ração farelada (Penz Júnior, 1998).

Exigência de energia metabolizável


As exigências energéticas variam de acordo com a idade e categoria do animal. Frangos de
desempenho lento possuem exigências de EM inferior aos de frangos de corte comercial, devido ao
metabolismo mais desacelerado dos frangos de linhagens de desempenho lento (Mendonça et al., 2007).
A variável mais afetada pela manipulação do nível de energia é o consumo de ração e consumo de
nutrientes, Rostagno (1975) observou que ao aumentar os níveis energéticos da dieta de frangos de corte,
causa queda no consumo de ração. No entanto, as aves ingerem mais energia à medida que os níveis de
EM aumentam.
Bertechini et al (1991) obtiveram efeito linear para a variável gordura abdominal, com a elevação
do nível de energia das dietas entre 2800kcal e 3200kcal.

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Leeson et al (1996), constataram efeito do nível de energia da ração, que variou de 2700kcal a
3200 kcal de EM/kg, sobre o ganho de peso de frangos de corte até os 25 dias de idade, mantidos em
ambiente de conforto térmico, onde os níveis mais altos resultaram em melhor ganho de peso e melhor
conversão alimentar.
Bernal et al (1996) avaliando frangos de corte machos e fêmeas de 1 a 20 dias, com níveis
energéticos entre 2980kcal e 3230kcal onde não encontraram diferenças significativas para a variável
consumo de ração, porem os machos ingeriram mais ração que as fêmeas.
Quanto à qualidade da carcaça, diferentes níveis de EM, através da manipulação de fontes
lipídicas, proporcionam carcaças com maior acumulo de gordura, quando comparadas a dietas sem
suplementação com gorduras ou óleos (Gaiotto, 2004).
Com a utilização de modelos de predição, é possível determinar as exigências energéticas
considerando as diferenças entre linhagens, o estágio de produção, regiões e épocas do ano, permitindo a
elaboração mais precisa de tabelas de exigências de energia para aves (Sakomura et al., 1993).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O atendimento da energia metabolizável é de fundamental importância principalmente para as


formulações de dietas para melhorar o desempenho das aves, devido à energia regular o consumo e
influenciar na composição das carcaças. A exigência de energia metabolizável ainda se mostra
dependente de fatores variáveis como a linhagem do frango, ingredientes das rações, temperatura e idade
do animal. Devido a existência de diferentes linhagens de frangos de corte no mercado, a disponibilidade
de matéria prima para as dietas variarem de acordo com a região, assim como o clima; pode obter-se
diferentes exigências de EM, porem os níveis mais utilizados estão entre 2900Kcal e 3250Kcal para
dietas contendo ingredientes tradicionais, como o milho e farelo de soja

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FATORES DE CRESCIMENTO FGFb E EGF NA REPRODUÇÃO

Hilda Silva Araujo1, Barbara Martins Brixner2, Maria Inês Lenz Souza3, Andrea Roberto
Duarte Lopes Souza4, Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo3, Luis Carlos Vinhas Ítavo3,
Gabriella Jorgetti de Moraes5, Victor Luan da Silva de Abreu2
1
Doutoranda em Ciência Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS/FAMEZ. Bolsista Capes. E-mail: hil.araujo@bol.com.br
2
Acadêmicos em Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul – UFMS/FAMEZ. E-mail: barbarabrixner@hotmail.com
3
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul – UFMS/FAMEZ.
4
Pesquisadora – Bolsista do Programa de Desenvolvimento Regional – DCR/CNPq/FUNDECT/MS -
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS/FAMEZ.
5
Mestranda em Ciência Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – UFMS/FAMEZ.

Resumo: A foliculogênese é o processo contínuo de formação, crescimento e maturação folicular. O


processo de crescimento e a maturação folicular são controlados por uma perfeita interação entre fatores
endócrinos, autócrinos e parácrinos. Os fatores de crescimento, como EGF (fator de crescimento
epidermal) e FGFb (fator de crescimento fribroblástico básico) podem atuar de diferentes formas sobre
todas as fases da foliculogênese. O FGF exerce influência sobre o desenvolvimento dos folículos
ovarianos. O EGF promove a proliferação das células da granulosa dos folículos. As técnicas para
utilização dos fatores de crescimento poderá contribuir para compreensão dos eventos que levam à
maturação folicular para obtenção de máxima competência oocitária e produção de oócitos viáveis.

Palavras-chave: folículo, foliculogênese, maturação, oócito

GROWTH FACTORS FGFb AND EGF IN THE REPRODUCTION

Abstract: The folliculogenesis is the continuous process of formation, growth and follicular maturation.
The process of growth and follicular maturation are controlled by an interaction between endocrine
factors, autocrine and paracrine. The growth factors such as EGF (epidermal growth factor) and FGFb
(basic fibroblastic growth factor) can act in different ways on all stages of folliculogenesis. The FGF
influences the development of ovarian follicles. The EGF promotes proliferation of granulosa cells the
follicles. The techniques for use of growth factors may contribute to understanding the events that lead to
follicular maturation helping to obtain maximum oocyte viable and productive.

Keywords: follicle, folliculogenesis, maturation, oocyte

INTRODUÇÃO

A foliculogênese é definida como o processo contínuo de formação, crescimento e maturação


folicular, se inicia com a gênese do folículo primordial e culmina o desenvolvimento até o estágio de
folículo pré-ovulatório (Van den Hurk & Zhao, 2005). De acordo com o estágio de desenvolvimento, os
folículos ovarianos podem ser divididos em: a) folículos pré-antrais ou não cavitários, que abrangem os
folículos primordiais, de transição, primários e secundários e b) folículos antrais ou cavitários,
compreendendo os folículos terciários, de De Graaf ou pré-ovulatórios (Silva et al., 2004).
O processo de foliculogênese é controlado por fatores endócrinos, representados pelas
gonadotrofinas, inibinas, prolactina, esteroides e por complexos fatores locais, como as prostaglandinas, a
ocitocina, o hormônio do crescimento e os fatores de crescimento (Machado, 2007).
O processo de crescimento e a maturação folicular são controlados por uma perfeita interação
entre fatores endócrinos, autócrinos e parácrinos. Diversos estudos têm comprovado que os fatores de
crescimento, como EGF (fator de crescimento epidermal), FGFb (fator de crescimento fribroblástico
básico), IGF (fator de crescimento semelhante a insulina), TGF-ß (fator de transformação do crescimento

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ß) e KL (kit ligante) são fundamentais para o processo e podem atuar de diferentes formas sobre todas as
fases da foliculogênese (Van den Hurk & Zhao, 2005). Estes fatores de crescimento, que são produzidos
pelo oócito, células da granulosa e células da teca frequentemente atuam modulando os efeitos de FSH e
LH. Desta forma, a foliculogênese pode ser desregulada quando um determinado fator está ausente
(Eppig, 2001).
Nesse sentido, objetivou-se realizar uma revisão abordando os fatores de crescimento FGFb e EGF
que atuam na foliculogênese dos animais domésticos.

DESENVOLVIMENTO

Fatores de Crescimento
Os fatores de crescimento (FC) são proteínas ou peptídeos que podem apresentar ações autócrinas
e interagir diretamente com o mesmo tipo celular no qual foram produzidos, ou parácrinas, interagindo
com outros tipos celulares no folículo, para modular a resposta celular às gonadotrofinas. Estes fatores
apresentam, ainda, ações juxtácrinas, como a ativação de receptores em células adjacentes por fatores
ligados à membrana e intrácrinas, através da estimulação da célula na qual o fator é produzido, o que
permite o controle das células da teca e da granulosa (Armstrong & Webb, 1997).
Atualmente, estão identificados mais de 130 fatores de crescimento muitos deles associados ao
sistema imunológico, recebendo a nomenclatura de citocinas. Os fatores de crescimento estimulam, em
maior ou menor grau, a organização do tecido conjuntivo, angiogênese, deposição de matriz extracelular,
quimiotaxia de células osteoprogenitoras e formação do tecido de granulação (Del-Carlo et al., 2008).
Atuam diretamente no remodelamento da matriz extracelular (Vignola et al., 1998).
Usualmente, os fatores de crescimento são estocados sob a forma inativada no ambiente
extracelular, isolados ou ligados a moléculas especificas (Logan & Hill, 1992). Desempenham papel
regulatório e modulatório sobre as funções ovariana e uterina, resultando em efeitos tróficos sobre o
endométrio e o embrião, bem como sobre o crescimento e regeneração tissulares (Jennische et al., 1992).
Em mamíferos, os fatores de crescimento estão envolvidos na estimulação das células foliculares e,
também, na maturação do oócito (Lorenzo et al., 2002).

Tabela 1 – Principais hormônios e fatores de crescimento envolvidos nos diferentes estágios do


desenvolvimento folicular em camundongos.
Estágio do desenvolvimento Efeito positivo Efeito
folicular negativo
Ativação folicular GDF-9, Insulina, KL, LIF, FGFb AMH
Crescimento de folículos GDF-9 Nenhum
primários
Primário → Secundário FSH, EGF, TGF-β, Ativina, GDF-9, Estradiol
Secundário → Terciário FSH, GDF-9, IGF-1, KGF, LH, GH, EGF, FSH, Ativina
TGF-β, Ativina
Adaptado de Figueiredo et al. (2007).

Dentre estes fatores, Greenwald & Roy (1994), destacaram o EGF, o fator de crescimento de
transformação-α (TGF- α), os fatores semelhantes à insulina I e II (IGF-I e IGF-II) e o FGFb.

Desenvolvimento Folicular
Recentes estudos têm demonstrado que durante o início do desenvolvimento de folículos
primordiais os fatores de crescimento, como, por exemplo, o IGF-1, o (EGF, o fator de crescimento
fibroblástico 2 (FGF-2), a proteína morfogenética óssea 4 (BMP-4) e o fator de crescimento e
diferenciação 9 (GDF-9) são extremamente importantes para a manutenção da viabilidade dos mesmos
(Reynaud & Driancourt, 2000; Markstrom et al., 2002; Nilsson & Skinner, 2003).
Além disso, vários FC agem no ovário, no período da transição de folículo primordial para
primário. Dentre eles, destacam-se o KL (Parrott & Skinner, 1999), o FGFb (Nilsson et al., 2001), o fator
inibidor de leucemia (LIF; Nilsson et al., 2002) e a proteína morfogenética do osso 15 (BMP-15; Otsuka
et al., 2000).

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Os fatores locais que agem na transição de folículos primários para secundários são: GDF-9 em
camundongas (Dong et al., 1996), BMP-15 em ovelhas (Galloway et al., 2000), FGFb em vacas (Vernon
& Spicer, 1994), Fator de Crescimento Transformante β (TGF-β) em camundongas (Liu et al., 1999) e
EGF em vacas (Wandji et al., 1996).

Maturação nuclear
O processo de maturação nuclear do oócito compreende o término da primeira redução meiótica,
incluindo as fases de progressão do estádio de diplóteno da primeira prófase meiótica até metáfase II
(MII). In vivo, esse processo tem início com o pico pré-ovulatório de LH (Edwards, 1965; Tsafriri &
Kraicer, 1972; Sun & Moor, 1991) e, in vitro, com a retirada do oócito do ambiente folicular (Edwards,
1965; Donahue, 1968; Thibault, 1977). Para completar esse processo de maturação nuclear de oócitos
bovinos, é requerido um período entre 18 a 24 horas tanto in vivo quanto in vitro (Sirard et al., 1989).
Vários estudos têm demonstrado a importância de FC produzidos pelo ovário na maturação
nuclear de folículos nas diferentes espécies de mamíferos. O oócito possui receptores para PDGF (fator
de crescimento derivado de plaquetas) e o retinol desempenha papel importante no desenvolvimento
embrionário precoce (Montagner et al., 1999; Montagner, 1999).
Outro fator presente no soro é o EGF que estimula a maturação de oócitos em humanos,
camundongos, bovinos e suínos. EGF e IGF-I, entre outros fatores contidos no soro, afetam
significativamente a maturação in vitro de oócitos bovinos, incrementando os índices de fecundação
(Lorenzo et al., 1993) e desenvolvimento embrionário in vitro (Palma et al., 1997).

FGFb
O grupo de fatores de crescimento fibroblásticos (FGF) é composto por, pelo menos, 20 membros
estruturalmente relacionados (Powers et al., 2000). O FGF exerce influência sobre o desenvolvimento dos
folículos ovarianos, sendo o FGF-2 o mais investigado. O FGF-2 é importante na regulação de várias
funções ovarianas, tais como, mitose, esteroidogênese (Vernon & Spicer, 1994) e diferenciação das
células da granulosa (Anderson & Lee, 1993).
Van Wezel et al. (1995), citado por Silva et al. (2011) quando avaliaram ovários de fêmeas
bovinas localizaram o FGF-2 nos ovócitos de folículos primordiais e primários, em células da granulosa e
da teca de folículos pré-antrais em crescimento e nos folículos antrais. Já os receptores para FGF-2 estão,
principalmente, localizados na camada das células da granulosa (Wandji et al., 1992).
Em bovinos, após seis dias de cultivo in vitro, o FGF-2 (50 ng/mL) promoveu o aumento da
reprodução das células da granulosa e do diâmetro folicular (Wandji et al., 1996). Já em caprinos, Matos
et al. (2006) relataram que a utilização de 50 ng/mL, durante cinco dias de cultivo promove a manutenção
da viabilidade folicular e um aumento significativo dos folículos em desenvolvimento, do diâmetro
ovocitário e folicular.
O FGFb e o KGF (fator de crescimento de queratinócitos) agem nas células da granulosa
estimulando a expressão de KL, o qual, por sua vez, passa a atuar sinergicamente com estes dois fatores
na ativação folicular (Nilsson & Skinner, 2004; Kezele et al., 2005). As células da teca são recrutadas a
partir do estroma ovariano sob o estímulo de fatores de crescimento parácrinos, tais como o KL e o FGFb,
os quais são sintetizados pelas células da granulosa e pelo oócito, respectivamente, e apresentam atuação
mútua neste processo (Knight & Glister, 2006).

EGF
A proteína EGF tem sido observada no ovócito e células da granulosa de folículos nos estádios
iniciais e avançados de desenvolvimento (Singh et al., 1995; Silva et al., 2006), enquanto o receptor EGF
(EGF-R) está localizado na membrana celular das células da granulosa, da teca e intersticiais e, no
ovócito, em todos os estádios de desenvolvimento folicular (Carpenter, 1999).
Estudos mostraram que o EGF promove a proliferação das células da granulosa de folículos pré-
antrais, em fêmeas suínas contribui para a transição de folículos do estádio primário para secundário
(Morbeck et al., 1993), causa o aumento do diâmetro de folículos pré-antrais de bovinos (Gutierrez et al.,
2000) e promove a ativação de folículos primordiais e a manutenção da viabilidade por até seis dias de
cultivo em fêmeas ovinas (Andrade et al., 2005).
O gene ligado ao EGF (Mendez et al., 1999) também vem sendo estudado, já que apresenta
importante papel na fisiologia da reprodução. No útero da porca, o EGF é produzido a partir da concepção

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e estimula o crescimento e a proliferação do epitélio da pele, no feto, e o crescimento e amadurecimento


do epitélio pulmonar, no neonato (Hadley, 1996, citado por Linville et al., 2001).
Resultados das possíveis influências de seis genes candidatos (ESR, RBP4, FSH, PRLR, EGF e
PTGS2) nas características reprodutivas, em populações selecionadas por várias gerações para taxa de
ovulação, sobrevivência embrionária e tamanho da leitegada, foram publicados por Linville et al. (2001).
O gene do receptor do fator de crescimento epidermal (EGFR), localizado em 7p12, codifica um
receptor transmembrana que se liga ao EGF, TGF-α e outras proteínas regulatórias. A família EFGR
inclui: EFGR, HER-2/neu (c-erbB), HER-3 (c-erbB-3) e HER-4 (c-erbB-4) (Ford & Grandis, 2003).
Kumar & Purohit (2004) observaram que IGF-I e EGF aumentaram a expansão do cumulus
oofurus em bubalinos, entretanto a associação destes fatores de crescimento promoveu uma melhor
resposta, sugerindo que ambos os fatores também aumentaram as taxas de maturação nuclear e de
fertilização dos oócitos.
Rota & Cabianca (2004) compararam os meios TCM 199 e SOF enriquecidos com soro fetal
bovino a 10%, FSH (0,1 UI/mL), LH (10 UI/mL) e estradiol (4 μg/mL). O meio base (TCM 199) foi
suplementado com EGF (50 ng/mL) ou com ITS (insulina 10 μg/mL, transferrina 5,5 μg/mL e selênio 5
μg/mL) para pesquisar a competência meiótica de oócitos maturados por um período de 72 horas,
colhidos de cadelas em anestro. As autoras encontraram alta proporção de oócitos degenerados (37,6%)
após o período de cultivo. Quando comparados o meio base e o SOF, as taxas maturação nuclear não
identificável foram 33,2% e 31,1%, respectivamente. A incorporação do EGF ao sistema de cultivo
demonstrou ser ineficiente para promover a maturação até a fase de MII e o efeito positivo atribuído ao
ITS foi explicado por suas propriedades antioxidantes, que protegem as células do prolongado período de
cultivo.
O EGF (0, 10 e 20 ng/mL) foi comparado ao b-mercaptoetanol (0, 25, 50 e 100 μM) adicionados
ao meio TCM 199 por Kim et al. (2004) que também pesquisaram o efeito da fase do ciclo ovariano
(anestro, folicular e luteal) sobre a qualidade dos oócitos caninos maturados in vitro. Os autores
observaram que a suplementação com 20 ng/ml de EGF ao meio TCM 199 apresentou aumento
significativo sobre a taxa de competência meiótica. Os autores atribuíram este resultado favorável ao
efeito da fase folicular sobre os oócitos selecionados para o experimento.
Bolamba et al. (2006) avaliaram o efeito do EGF associado ao FSH (0,5 μg/mL), LH (5 μg/mL) e
estradiol (1 μg/mL) no meio F-12/DME, com soro fetal bovino a 20% sobre a maturação de oócitos e a
expansão das células do cumulus de folículos pré-antrais e antrais, obtidos através de digestão enzimática
de ovários. Os autores concluíram que, isoladamente, o EGF não apresentou efeito benéfico sobre a
maturação dos oócitos e quando ao meio foi acrescido LH e FSH, observaram aumento na expansão das
células do cumulus e da granulosa.
Cui et al. (2006) avaliaram os efeitos da fase do ciclo ovariano sobre a qualidade dos oócitos, do
EGF em presença ou ausência de BSA (albumina sérica bovina) e da maturação in vitro de oócitos fêmeas
caninas em meio NCSU e concluíram que a fase do ciclo estral influencia a retomada da meiose daquelas
células cultivadas in vitro, na concentração de 100 ng/mL de EGF em presença de BSA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo de técnicas para utilização dos fatores de crescimento poderá contribuir para
compreensão dos eventos que levam à maturação folicular para obtenção de máxima competência
oocitária e produção de oócitos viáveis, que poderão ser utilizados para fertilização em diferentes
biotécnicas de reprodução animal.

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MODELOS MATEMÁTICOS PARA PREDIÇÃO DA PRODUÇÃO DE


METANO EM RUMINANTES

Hilda Silva Araujo1, Giovanna Araújo Raysaro2, Henrique Jorge Fernandes3, Camila
Celeste Brandão Ferreira Ítavo4, Luis Carlos Vinhas Ítavo4, Rodrigo Gonçalves Mateus5,
Andrea Roberto Duarte Lopes Souza6, Marcus Vinicius Garcia Niwa7
1
Doutoranda em Ciência Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS/FAMEZ. Bolsista Capes. E-mail: hil.araujo@bol.com.br
2
Acadêmica em Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul – UFMS/FAMEZ. E-mail: raysaro.gi@gmail.com
3
Professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Curso de Zootecnia, Unidade de
Aquidauana – UEMS.
4
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul – UFMS/FAMEZ.
5
Professor da Universidade Católica Dom Bosco.
6
Pesquisadora – Bolsista do Programa de Desenvolvimento Regional – DCR/CNPq/FUNDECT/MS -
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS/FAMEZ.
7
Mestrando em Ciência Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – UFMS/FAMEZ.

Resumo: A pecuária tem sido responsabilizada pela emissão dos gases de efeito estufa, sendo necessário
que ocorra um avanço na mitigação e adaptação do sistema produtivo de forma global. As estratégias de
mitigação e adaptação na produção de bovinos de corte requer estimação cada vez mais confiável desse
balanço de potencial poluente. Dessa forma, os modelos matemáticos auxiliam na geração de estimativas
e na avaliação de estratégias de mitigação e adaptação do sistema produtivo. Os modelos normalmente
buscam prever a taxa de passagem e a digestão das partículas, avaliando os rendimentos de hidrogênio,
ácido graxos de cadeia curta, proteína microbiana e metano. Têm uma ampla gama de variáveis que
influencia na excreção de metano, sendo recomendada a utilização dos modelos dinâmicos mecanísticos.

Palavras-chave: bovinocultura, gases de efeito estufa, modelagem, pecuária

MATHEMATICAL MODELS TO PREDICT METHANE PRODUCTION IN RUMINANTS

Abstract: Livestock has been responsible for emission of greenhouse gases, so is necessary that happen
advances in mitigation and adaptation of the system production in the world. The strategies for mitigation
and adaptation in the production of beef cattle require increasingly safe estimation of this polluting
potential. The mathematical models help in generating estimates and evaluate of mitigation and
adaptation strategies of the system production. The models typically predict the pass rate and digestion of
the particles, evaluating the hydrogen yields, short-chain fatty acids, microbial protein and methane.
There are a range of variables that influence in methane excretion, so is recommended the use of dynamic
models mechanistic.

Keywords: beef cattle, greenhouse gases, modeling, livestock

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos tem aumentando a preocupação das autoridades acerca dos impactos do
aquecimento global causado principalmente pelos gases do efeito estufa (GEE) e em função disso, tem
gerado ações com o intuito de mitigar ou minimizar os impactos negativos. O setor agropecuário está nos
holofotes e tem sido destacado como principal responsável pela emissão desses gases, sendo
imprescindível que ocorra um avanço na mitigação e adaptação do sistema produtivo de forma global.

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Segundo Wagner-Riddle et al. (2008), o avanço na definição de estratégias de mitigação e adaptação na


produção de bovinos de corte requer estimação cada vez mais confiável do balanço de GEE em níveis de
agregação que vão desde a unidade rural até a escala planetária.
Dessa forma, os modelos matemáticos são indispensáveis na geração de estimativas do balanço de
GEE e na avaliação de estratégias de mitigação e adaptação do sistema produtivo. Esses modelos devem
ser capazes de responder alguns pontos, dentre eles (Barioni et al., 2011):

I. Ausência de tecnologia que permita a medição direta dos fluxos de GEE no nível de agregação
desejado (sistema produtivo, região ou país);

II. Necessidade de avaliação de grande número de cenários alternativos, sendo inviável a aplicação
experimental a campo;

III. Horizonte temporal de interesse pode inviabilizar as medições diretas, uma vez que mudanças
climáticas e o balanço de GEE ocorrem em períodos longos (décadas);

IV. Interesse em otimizar o sistema produtivo considerando aspectos econômicos, sociais e


ambientais.

Nesse sentido, objetivou-se realizar uma revisão abordando os principais modelos matemáticos
utilizados na predição da produção de metano em ruminantes.

DESENVOLVIMENTO

Metano
O metano é um coproduto da fermentação entérica dos ruminantes, sua formação é utilizada como
rota dissipadora do acúmulo de hidrogênio (H2), que é oriundo dos processos que convertem os
componentes dietéticos a ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), proteína microbiana e vitaminas, através
da atividade microbiológica no rúmen (Valadares Filho & Pina, 2006).
Os AGCC (ácido acético, propiônico e butírico) são predominantes no rúmen e são produzidos
principalmente na fermentação de carboidratos provenientes dos vegetais (celulose, hemicelulose,
pectina, amido e açúcar).
Os carboidratos são convertidos a piruvato e seguem as rotas metabólicas para formação de
AGCC. As reações envolvidas na formação de acetato e butirato se dão a partir da acetil CoA. A
formação do propionato possui duas vias de reação, na primeira há formação de oxaloacetato e succinato,
e a segunda envolve a formação de acrilato (Pedreira & Primavesi, 2006).

Modelos matemáticos
Os modelos matemáticos podem ser classificados como modelos “lineares” ou “não lineares” de
acordo ao tipo de equações que eles constituem. Também podem ser classificados como “empíricos” ou
“mecanicistas”, segundo o grau de explicação dos fen menos que eles descrevem ou estimam; “estáticos”
ou “dinâmicos”, de acordo com seu comportamento em relação ao tempo; “estocásticos” ou
“determinísticos”, de acordo com o tratamento probabilístico das suas variáveis e parâmetros (Sainz &
Baldwin, 2002).
O uso de modelos matemáticos permite a integração dos aspectos social, econômico, vegetal e
animal, podendo ser utilizada como uma ferramenta para otimizar o desempenho dos sistemas. Um
modelo matemático é constituído de uma ou mais equações com a finalidade de representar o
comportamento de sistemas ou fenômenos naturais.
Os modelos matemáticos incorporaram apenas aspectos essenciais do sistema em função de um
objetivo definido. O desenvolvimento de modelos e a capacidade preditiva são limitados pela
disponibilidade de dados para sua parametrização, validação ou aplicação (Barioni et al., 2011).
Segundo Cangiano et al. (2002), o desenvolvimento de modelos de simulação e sua
implementação tem sido a maneira mais adequada de se obter uma ferramenta útil para o estudo das
relações entre os fatores associados a um campo específico do sistema.
Segundo Barioni et al. (2011), os modelos matemáticos permitem avaliar o comportamento de um
sistema auxiliando na compreensão das respostas a estímulos externos, projeções futuras, riscos e

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situações atípicas, na tomada de decisão, por meio de análises de sensibilidade, avaliação de cenários e
otimização.
Os modelos matemáticos podem ser desenvolvidos por meio de duas abordagens básicas (Barioni
et al., 2011):

1.Modelos empíricos: a observação direta das variáveis de interesse associadas ao comportamento


do sistema. A análise estatística a partir dessas observações podem evidenciar as relações entre
elas de forma que a partir da determinação dos valores preditos pode-se obter a variável resposta.

2.Modelos mecanicistas ou baseados em processos: nessa abordagem os processos internos


interagem de modo a gerar o comportamento do sistema para que possam ser explicados, ou seja,
o sistema é decomposto em seus principais componentes e fluxos internos a partir do
conhecimento sobre seu funcionamento, sendo que os fluxos e interações entre os processos são
modelados individualmente, e os resultados desses modelos são produzidos a partir da simulação
dos processos e da interação entre eles.

A modelagem dos fluxos de GEE é reconhecida pelo IPCC (2006) para a elaboração dos
inventários nacionais de emissões, que propõe um sistema com três níveis de complexidade dos modelos
(conhecidos como nível ou “tier” 1, 2 e 3).
Os modelos normalmente buscam prever a taxa de passagem e a digestão das partículas em cada
componente dos pré-estômagos, em diferentes níveis de ingestão, avaliando os rendimentos de
hidrogênio, AGCC, proteína microbiana e CH4. Essas abordagens têm gerado valores de perdas de
energia que são consistentes com as medições diretas utilizando as técnicas de câmara respiratória e gás
traçador hexafluoreto de enxofre (IPCC, 2006).

Tier 1
É um método simplista onde somente os dados da população animal são necessários para estimar
as emissões, pois são utilizados fatores de emissão padrão apresentados para cada um dos subgrupos da
população recomendada. Para cálculo desse fator são utilizados os dados de peso corporal médio, o
método de alimentação, a produção, a percentagem (%) de animais, a digestibilidade da dieta, e a perda
de energia via metano. Esse método é utilizado quando não há dados do rebanho de um determinado
local, sendo usado para a realização de um inventário inicial, pois seu uso continuo significa que nenhum
subsídio foi implementado para mudar a produtividade dos animais (IPCC, 2006).

Tier 2
É utilizado quando os fatores de emissão são estimados para cada categoria animal, sendo
baseados na estimativa do consumo de energia bruta e na perda de energia via metano. A perda de energia
via metano pode ser obtida através de pesquisas específicas de cada país ou pela utilização de valores
tabelados. A incerteza gerada por esse método dependerá da exatidão da caracterização do rebanho e
também da precisão da definição dos coeficientes que compõem a abordagem de energia correspondente
a circunstância nacional (IPCC, 2006).

Tier 3
Consiste em propor uma maneira alternativa de estimar a produção de metano, de modo que a
metodologia deve ser embasada e comprovada cientificamente. O foco principal desse método é incluir
estratégias de mitigação do metano entérico que possam ser extrapoladas para condições a campo (IPCC,
2006).

Escolha de modelos matemáticos


Segundo Benchaar et al. (1998) o avanço atual da nutrição de ruminantes é devido em grande parte
aos estudos feitos sobre modelos biodinâmicos do ambiente ruminal.
Os modelos mais simples são menos adequados para avaliar os efeitos de novas medidas (não
testadas nos estudos subjacentes aos dados originais), de novos fatores (ainda não incluídos na lista de
variáveis explicativas incluídas no modelo), ou de interações entre diversas variáveis já incluídas no
modelo (Tamminga et al., 2007).

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Johnson & Johnson (1995) concluíram que simples equações empíricas com base nas
características de alimentação não podem fazer uma previsão precisa da produção de metano sob diversas
condições.
A quantificação do perfil de produção de AGCC é um elemento essencial de qualquer modelo
mecanístico que tenha com objetivo quantificar a produção de metano (Tamminga et al., 2007), pois a
produção de AGCC é quem determina a produção de metano. Esse fato constitui o principal problema dos
modelos empíricos, que não incluem variações no perfil de AGCC como resultado da variação de fatores
importantes, como por exemplo, o pH ruminal.
Não se pode decidir com antecedência que a adoção de uma abordagem mecanicista para prever a
produção de metano é melhor do que uma abordagem empírica (Van Laar & Straalen, 2004). No entanto,
um modelo empírico só pode ser aplicado dentro do intervalo de dados utilizados em seu
desenvolvimento, como consequência, se tornam inadequados para avaliar novos alimentos ou estratégias
de alimentação que não foram inseridos no seu banco de dados.
Dentre os modelos dinâmicos mecanísticos dois são os mais estudados e citados, o modelo de
Baldwin et al. (1987) e o de Dijkstra et al. (1992).

Modelo proposto por Baldwin et al. (1987)


O modelo foi desenvolvido para predizer a taxa e os parâmetros de absorção de nutrientes em
vacas leiteiras. O modelo foi construído assumindo uma alimentação contínua, usando a cinética de
Michaelis-Mentens ou a de ação de massa.
O modelo foi recentemente refinado para simular o efeito da cinética de fluidos e do pH sobre os
requisitos de manutenção microbiana, as proporções de AGCC, e as taxas de degradação de celulose e
hemicelulose (Benchaar et al., 1998). Nesse modelo, a produção de metano ruminal é predita com base no
equilíbrio de hidrogênio, ou seja, uma parte do hidrogênio resultante da fermentação de carboidratos e
proteínas é utilizada para a síntese de células microbianas e bio-hidrogenação dos ácidos graxos
insaturados da dieta e, o restante fica disponível para a redução do dióxido de carbono a metano.
Na versão atualizada do modelo de Baldwin et al. (1987), as etapas do cálculo da produção de
metano ruminal são as seguintes:

Cálculo da quantidade de hidrogênio resultante da fermentação de carboidratos:


HyHex (mol/d) = (AcHex x 2) - (PrHex x 1) + (BuHex x 2) - (VlHex x 1)

Onde:
AcHex, PrHex, BuHex, VlHex são os montantes de acetato, propionato, butirato e valerato, em mol/d,
produzidos a partir de fermentação de carboidratos, respectivamente.

Cálculo da quantidade de hidrogênio resultante da fermentação de aminoácidos:


HyAA (mol/d) = (AcAA x 2) - (PrAA x 1) + (BuAA x 2) + (VlAA x 1)

Onde:
AcAA, PrAA, BuAA e VlAA são os montantes de acetato, propionato, butirato e valerato, em mol/d,
produzidos a partir de fermentação de aminoácidos, respectivamente.

Cálculo da quantidade de hidrogênio utilizado para a biossíntese de componentes da célula


microbiana:
HyMiGr (mol/d) = (MiGr1 X -0,42) + (MiGr2 x 2,71)

Onde:
MiGr1 e MiGr2 são os montantes de microrganismos, em kg/d, crescendo com e sem aminoácidos pré-
moldados, respectivamente.

Cálculo da quantidade de hidrogênio usado para bio-hidrogenação de ácidos graxos insaturados:


HFA (mol/d) = 1,8 x lipídiosing x HySaFA

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Onde:
Lipídiosing é a quantidade de lipídios ingerida (mol / d), o coeficiente de 1,8 é mols de ácidos graxos de
cadeia longa/mol de lipídio.
HySaFA representa moles de hidrogênio utilizado para saturação de 1 mol de ácidos graxos insaturados.

Cálculo do balanço de hidrogênio no rúmen:


Hyrumen (mol/dia) = HyHex + HyAA - HyMiGr - HFA

Cálculo da produção de metano ruminal:


CH4rumen (mol/d) = Hyrumen / 4

Onde:
4 é o número de moles de hidrogênio utilizado para a produção de 1 mol de CH 4.

Cálculo da produção de metano:


CH4rumen (Mcal/d) = CH4rumen (mol/d) x 0,211

Modelo proposto por Dijkstra et al. (1992)


A abordagem do modelo de Dijkstra et al. (1992) é dinâmica e mecanicista, visando simular a
digestão, absorção e saídas de nutrientes do rúmen. O modelo consiste em 17 variáveis e as equações de
fluxo são descritas pela cinética de Michaelis-Mentens ou de ação de massa.
Este modelo inclui várias melhorias em alguns aspectos específicos do metabolismo do rúmen, em
particular a representação da atividade metabólica microbiana, e absorção de AGCC e amônia pH-
dependente. O modelo não prevê a produção de metano ruminal, os conceitos e as equações utilizadas
para prever o metano são oriundos da versão atualizada do modelo de Baldwin et al. (1987):

Cálculo da quantidade de hidrogênio resultante da fermentação de carboidratos e aminoácidos pela


via lipídica:
PHyferm (mol H2/d) = (PAC x 2) + (PBU x 2)

Onde:
PAC e PBU são as quantidades (mol/d) de acetato e butirato produzidos durante a fermentação.

Cálculo da quantidade de hidrogênio utilizado para a biossíntese de componentes da célula


microbiana:
PHyMg (mol H2/d) = Mgaa x 0,58

Onde:
Mgaa é a quantidade de matéria microbiana (kg/d) produzida a partir do crescimento em aminoácidos.

Cálculo da quantidade de hidrogênio resultante da produção de carboidratos e aminoácidos pela


via glicogênica:
UHyferm (mol H2/d) = PPr + PVl

Onde:
PPr e PVL são os montantes (mol/d) de propionato e valerato, produzidos durante a fermentação.

Cálculo da quantidade de hidrogênio utilizado para a biossíntese de componentes da célula


microbiana:
UHyMg (mol H2/d) = MgNPN x 0,41

Onde:
MgNPN é a quantidade de matéria microbiana (kg/d), produzida a partir do crescimento em NPN.

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Cálculo da quantidade de hidrogênio usado para bio-hidrogenação de ácidos graxos insaturados:


UHyLi (mol H2/d) = PLi x Liferm x 1,805 x 2,0

Onde:
PLi é a ingestão de lipídios (mol/d).
Liferm é a proporção de alimentos sujeitos a lipólise ruminal.

Cálculo do balanço de hidrogênio no rúmen:


Hy (mol H2/d) = PHyferm + PHyMg − UHyferm − UHyMg − UHyLi

Calculo da produção de metano ruminal:


PCH4 (mol/d) = Hy / 4,0

Onde:
4,0 é a quantidade de mols de H2 necessários para a produção de 1 mol de metano resultante da redução
de CO2.

Calculo a produção de metano:


PCH4 (MJ/d) = PCH4 (mol/d) x 0,883

Precisão dos modelos


Tamminga et al. (2007) concluíram que o modelo de Dijkstra et al. (1992) é superior aos outros
modelos dinâmicos mecanísticos, sendo este considerado um instrumento útil para predizer e estudar a
eficácia das medidas nutricionais para mitigar a produção de metano.
Benchaar et al. (1998) não observaram diferenças nas estimativas da produção de metano pelos
dois modelos dinâmicos mecanísticos em comparação a mensurações in vivo, mas constataram maior erro
na predição do modelo de Baldwin et al. (1987), que superestimou a produção de metano em 0,93 Mcal
de CH4/dia, enquanto que o modelo de Dijkstra et al. (1992) subestimou em 0,30 Mcal/dia a produção de
metano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De uma maneira geral, a produção de metano entérico é função das características intrínsecas do
animal, bem como, do alimento consumido por ele. Com isso se têm uma ampla gama de variáveis que
influenciam na excreção de metano, fato que impede a utilização de modelos matemáticos empíricos para
fazer estimativas em um cenário de campo. Sendo assim, recomenda-se a utilização dos modelos
dinâmicos mecanísticos apresentados. No entanto, para sua utilização deve-se dispor de dados do animal,
do consumo de matéria seca, da composição da dieta, da solubilidade da proteína e amido, da taxa de
passagem ruminal, do volume do rúmen e do pH ruminal.

LITERATURA CITADA

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ÓLEOS ESSENCIAIS COMO ADITIVO NA DIETA DE RUMINANTES

Jaqueline Rodrigues Ferreira1, Anderson Luiz de Lucca Bento2, Raizza Fátima Abadia
Tulux Rocha3
1
Aluna do curso de Zootecnia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul. Email: jaq.fr@hotmail.com
2
Mestrando em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. Email: andersondelucca@hotmail.com
3
Mestranda em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. Email: raizza_ra@hotmail.com

Resumo: Os microrganismos atuam sobre os substratos oriundos da dieta, gerando como produtos de seu
metabolismo os ácidos graxos de cadeia curta, que fornecem energia dietética aos ruminantes e proteína
microbiana. Entretanto durante a fermentação ruminal ocorrem perdas substanciais de energia na forma
de metano e de nutrientes. O uso de componentes naturais, têm sido estudado para se obter melhores
resultados na manipulação ruminal. Os extratos de plantas contêm uma grande diversidade de compostos
com diferentes funções e mecanismos de ação. A determinação do modo de ação e função de cada extrato
vegetal, depende do composto predominante e sua concentração. Os óleos essenciais não são moléculas
simples, são a mistura de vários compostos. Eles atuam na estrutura da parede celular bacteriana,
desnaturando e coagulando as proteínas, ou seja, alterando a permeabilidade da membrana citoplasmática.
Considerando o uso de aditivos na fermentação ruminal, esta revisão tem como objetivo discutir o uso de
óleos essenciais como aditivo na dieta de ruminantes e seu potencial benéfico para melhorar o perfil de
fermentação ruminal em condições de criação.

Palavras-chave: terpenóides, monoterpenos, antibióticos, antioxidante, antimicrobianos

ESSENTIAL OILS AS ADDITIVES IN RUMINANT DIETS

Abstract: Microorganisms act on substrates derived from the diet, generating as products of metabolism
short-chain fatty acids, which provide energy to the ruminant dietary and microbial protein. However
during rumen fermentation occur substantial losses of energy in the form of methane and nutrients. The
use of natural components have been studied to achieve best results in the rumen manipulation. Plant
extracts contain a wide range of compounds with different functions and mechanisms of action. The
determination of the mode of action and function of each plant extract, depends on the prevailing
compound and its concentration. Essential oils are not simple molecules, are a mixture of various
compounds. They act on the bacterial cell wall structure, denaturing and coagulating the proteins, or
changing the permeability of the cytoplasmic membrane. Considering the use of additives on rumen
fermentation, this review aims to discuss the use of essential oils as an additive in the diet of ruminants
and their potential benefit to raise the profile of ruminal fermentation under farming conditions.

Keywords: terpenoids, monoterpenes, antibiotic, antioxidant, antimicrobial

INTRODUÇÃO

A manipulação da fermentação ruminal tem como principais objetivos aumentar a formação de


ácido propiônico, diminuir a formação de metano e reduzir a proteólise e desaminação da proteína
dietética no rúmen. Alguns aditivos podem alcançar parte desses efeitos, aumentando a eficiência
produtiva (NICODEMO, 2001)
Entre os principais aditivos utilizados na alimentação de ruminantes atualmente estão os
antibióticos ionóforos e não ionóforos, leveduras, probióticos, prebióticos, ácidos orgânicos, enzimas e
extratos vegetais (NETO, 2011). Muitos aditivos têm sido pesquisados para atuar na manipulação dos
parâmetros ruminais com objetivo de intensificar a atividade microbiana e aumentar a eficiência digestiva
dos ruminantes (FRANÇA & RIGO, 2011).

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Os Vegetais, microrganismos e animais, em escala pequena, apresentam mecanismos metabólicos


capazes de produzir, transformar e acumular inúmeras substâncias diferenciadas (SANTOS, 2004). Eles
possuem elevada capacidade biossintética, tanto em relação ao número de substâncias produzidas quanto
à sua diversidade numa mesma espécie. Principais grupos encontrados com atividade biológica são os
alcaloides, flavonoides, cumarinas, taninos, quinonas e óleos essenciais (POSER & MENTZ, 2004)
Os óleos essenciais têm sido frequentemente associados a alterações da microbiota ruminal, no
sentido de selecionar bactérias gram-negativas e reduzir as populações de bactérias gram-positivas, com
algumas consequências como a menor produção de amônia no rúmen (devido à redução da proteólise e da
desaminação de aminoácidos) aumentando o escape ruminal de proteína e aminoácido, redução da
metanogênese e alteração da proporção dos ácidos graxos voláteis produzidos, podendo acarretar em
melhora no desempenho animal (Marino et al., 2001). Considerando o uso de substâncias na manipulação
ruminal, esta revisão tem como objetivo discutir o uso de óleos essências como aditivo na dieta de
ruminantes e seu potencial benefício para melhorar o perfil de fermentação ruminal em condições de
criação.

DESENVOLVIMENTO
Óleos essenciais
Os óleos essenciais são concentrados hidrofóbicos que contém compostos aromáticos voláteis das
plantas, sendo conhecidos também como óleos voláteis ou etéreos. Esses óleos não são compostos
simples, e sim uma rica mistura de diversos compostos como terpenos, alcoóis, acetonas, fenóis, ácidos,
aldeídos e ésteres, sendo a composição desses componentes amplamente variável em função da fonte do
óleo essencial (Giannenas et al., 2013).
Tais substâncias são extraídas de várias partes das plantas, como flores, brotos, sementes, folhas,
ramos verdes, casca, madeira, frutas e raízes, com a utilização de solventes orgânicos, como etanol,
metanol e tolueno, ou por destilação com vapor d’água e têm sido utilizadas por vários séculos de forma
tradicional ao redor do mundo devido ao seu sabor e aroma agradáveis, assim como propriedades
conservantes (Miguel, 2010).
Nos vegetais esses metabólitos são responsáveis pelas diferenciações de cor e odor característicos
de cada espécies, atuando como mensageiro químico entre a planta e o ambiente, para atrair insetos
polinizadores e animais dispersores de sementes (Taiz & Zieger, 2004), atuando também na proteção
contra o ataque de fungos, bactérias, herbívoros e insetos, podendo apresentar atividade antimicrobiana
contra uma grande variedade de bactérias e fungos (Gershenzon & Croteau, 1991).
Os óleos essenciais são formados por diversos componentes químicos, com sua constituição básica
a base de carbono, hidrogênio e oxigênio. Os constituintes aromáticos são formados a partir de cadeias de
hidrocarbonetos (átomos de carbono e hidrogênio) e o precursor básico de diversos óleos essenciais é uma
molécula de cinco carbonos chamada isopreno. Assim, cada um dos componentes dos óleos essenciais
citados anteriormente (terpenos, alcoóis, acetonas, fenóis, ácidos, aldeídos e ésteres) pode ser quebrado
em diversas moléculas menores, como os terpenos em mono, di e sesquiterpenos, podendo ocorrer
naturalmente algumas centenas de monoterpenos diferentes, que são conhecidos por proporcionar os
principais odores característicos dos óleos essenciais (Bergamaschi, 2015).
Terpenóides (terpenos contendo O2 como elemento adicional) formam um grupo variado de
substâncias cuja estrutura básica deriva do isopreno (C5H8). São classificados de acordo com o número de
isprenos em seu esqueleto (Calsamiglia et al, 2007).
Os monoterpenos são compostos de 10 carbonos (C10), insolúveis em água e destiláveis em vapor.
São formados pela condensação de dois resíduos de isopreno de diferentes formas e exibem inúmeras
formas de fechamento do anel, vários níveis de insaturação e a substituição de diferentes grupos
funcionais. Ao todo, são conhecidos 450 monoterpenos, que são classificados como derivados de 15 tipos
básicos mais comuns e outros 15 grupos básicos menos comuns de monoterpenos (Devon & Scott, 1972).
E os sesquiterpenos são compostos de 15 carbonos (C15) que podem apresentar cadeias abertas, assim
como componentes aromáticos, sendo conhecidos atualmente mais de 1200 sesquiterpenos (Daniel,
2008).
Os fenilpropenos são compostos por unidades básicas de fenilpropil (C 6C3), que são formados por
um anel aromático de 6 carbonos com uma cadeia de 3 carbonos ligada a ele, sendo estes derivados dos
esqueletos de carbono dos aminoácidos aromáticos fenilalanina e tirosina. Esses compostos são derivados
do metabolismo primário, principalmente do processo de fotossíntese, da via glicolítica e do ciclo de
Krebs. (Benchaar et al, 2008).

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Além da diferença na composição dos óleos em diferentes plantas das quais pode ser extraído,
pode haver uma elevada variação na sua composição em função do local da planta de onde é extraído ou
mesmo em óleos extraídos do mesmo local em plantas submetidas a diferentes condições de cultivo. A
composição química dos óleos essenciais é determinada por fatores genéticos, contudo, os metabólitos
secundários representam uma interface química entre as plantas e o ambiente no qual se encontram, os
compostos secundários são substâncias ausentes de função relacionada aos processos primários dos
vegetais (Morais, 2009).
A composição química dos óleos essenciais varia de acordo com clima, estação do ano, condições
geográficas, propriedades genéticas, período de colheita e da técnica de destilação, ou seja dependendo de
todos esses fatores, pode-se ter o mesmo óleo, mas com composição química diferenciada, pelo fato de
ser facilmente afetada por essas condições. A avaliação do uso de óleos essenciais na fermentação
ruminal ganhou mais atenção apenas recentemente, com a proibição do uso de grandes variedades de
antibióticos como aditivos alimentares na União Europeia em 1999 e sua proibição completa em 2006,
pelo fato de existir a possibilidade de geração de resistência aos antibióticos em microrganismos
patogênicos (Windisch et al, 2008).

Mecanismos de ação dos óleos essenciais


Os óleos essenciais não são moléculas simples, são a mistura de vários compostos. Os extratos de
plantas contêm uma grande diversidade de compostos com diferentes funções e mecanismos de ação
(Burt et al., 2004). A determinação do modo de ação e função de cada extrato vegetal, depende do
composto predominante e sua concentração. Eles atuam na estrutura da parede celular bacteriana,
desnaturando e coagulando as proteínas, ou seja, alterando a permeabilidade da membrana citoplasmática
(Benchaar et al., 2008).
A atividade antioxidante dos óleos essenciais está relacionada, principalmente, com a presença de
compostos fenólicos. No entanto, compostos como os flavonóides e terpenóides também apresentam
atividade antioxidante. Essas substâncias podem interceptar e neutralizar radicais livres, impedindo a
propagação do processo oxidativo (Hui, 1996). Além de ter efeitos antimicrobianos e atividade
antioxidante, alguns autores afirmam que os óleos essenciais também atuam melhorando a digestão,
através do estímulo da atividade enzimática (Mellor, 2000; Patra, 2011). Alguns pesquisadores acreditam
que, para obtenção de melhores resultados, devem ser administradas combinações de óleos essenciais de
diferentes plantas e reforçados pelos princípios ativos mais relevantes (Kamel, 2000 citado por Rivaroli,
2014).
A alteração dos gradientes de íons resulta na deterioração dos processos essenciais da célula como
transporte de elétrons, translocação de proteínas, etapas da fosforilação e outras reações dependentes de
enzimas, causando a perda do controle quimiosmótico da célula afetada, e em seguida, a morte bacteriana
(Dorman & Deans, 2000). Algumas classes de compostos ocasionam tal efeito, como por exemplo, a
classe dos compostos fenólicos (fenóis simples – cetocol, ácidos fenólicos – ácido anacárdico, cinâmico,
caféico e rícininoleico, quinonas – hipericina, flavonóis – totarol, taninos – Elagitanina, Cumarinas –
Warfarin), terpenóides (Capsaicina, Thimol Mentol, Carvacrol, Cânfora, Eugenol) e fenóis (Chao et al.,
2000).
A algumas classes dos terpenóides e fenóis proporcionam aos óleos essenciais propriedades
tóxicas para as bactérias Gram negativas e Gram positivas. As bactérias gram negativas têm duas
camadas lipoproteicas; a membrana externa contém lipossacarídeos caracterizando uma membrana
hidrofílica de qualidade acarretando em uma barreira à permeabilidade de substâncias hidrofóbicas, tais
como os óleos essenciais. Isto pode explicar a resistência frequente de bactérias gram negativas para
efeito antimicrobiano de alguns óleos essenciais (Chao et al., 2000).
Dos metabólitos que são encontrados, os compostos fenólicos (compostos com um grupo hidroxila
(-OH) ligado a um anel fenil) são os que apresentam maior atividade antimicrobiana. Isso ocorre porque o
grupo hidroxila, além de estar envolvido no transporte de íons pela membrana plasmática bacteriana,
provavelmente também atua na inativação de enzimas microbianas (Burt, 2004).
Os monoterpenos Timol e Carvacrol são os principais componentes ativos do óleo de orégano e
apresentam um grupo hidroxila fenólico em sua composição, e dependendo da concentração e do
microrganismo presente, podem levar a lise da célula microbiana ou ao menos a limitação no seu
crescimento (Ultee et al., 1999).
Ambos os componentes mostraram ser capazes de provocar distúrbios na integridade da membrana
plasmática bacteriana, elevando sua permeabilidade e provocando o extravasamento de prótons e

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potássio, levando a perda do potencial de membrana da célula. Ultee et al. (2002) observaram que o
Carvacrol levou a dissipação total do gradiente de pH da célula microbiana de Bacillus cereus.
Fenilpropenos, que também são compostos fenólicos, parecem exercer efeitos semelhantes ao dos
monoterpenos sobre a célula microbiana, contudo, Burt (2004), relatou um efeito inibitório desses
componentes sobre a produção de enzimas microbianas e sobre a atividade enzimática através de sua
ligação a estas.
Cristani (2007) sugeriu que os monoterpenos não fenólicos seriam capazes de se difundir através
da membrana celular até chegar ao citoplasma dos microrganismos, atuando como facilitadores da
entrada dos monoterpenos fenólicos na célula microbiana, indicando que eles possam atuar como
potenciadores dos efeitos antimicrobianos dos monoterpenos fenólicos.
Alguns compostos presentes em óleos essenciais podem atuar não só contra bactérias Gram-
positivas, mas também contra as Gram-negativas. Foi sugerido que óleos essenciais que demonstram
efeito sobre bactérias Gram-negativas possuem metabólitos secundários ativos de tamanho bastante
reduzidos, como o carvacrol e o timol (monoterpenóides), permitindo sua passagem através das porinas
na membrana externa dessas bactérias e possibilitando assim, o acesso a membrana citoplasmática
bacteriana, onde exercerão seus efeitos (Dorman & Deans, 2000).
A baixa seletividade de algumas substâncias presentes nos óleos essenciais por determinadas
populações de bactérias no rúmen, torna mais difícil modular a fermentação ruminal de forma favorável
com a utilização desses produtos (Calsamiglia et al., 2007).

Efeitos dos óleos essenciais no metabolismo proteico e sobre a produção de ácidos graxos voláteis
Nos ruminantes, os óleos essenciais têm sido descritos mais frequentemente pela alteração da
microbiota ruminal, no sentido de selecionar bactérias Gram-negativas e reduzir as populações de
bactérias Gram-positivas, com algumas consequências como a menor produção de amônia no rúmen
(devido à redução da proteólise e da desaminação de aminoácidos) aumentando o escape ruminal de
proteína e aminoácidos para o intestino, redução da metanogênese e alteração da proporção dos ácidos
graxos voláteis produzidos (Marino et al., 2001).
Uma das principais vantagens associadas ao uso dos óleos essenciais está relacionada à redução na
degradação de proteína, promovendo maior escape de N ruminal. Para tanto, levanta-se a hipótese que
eles atuem na redução da taxa de deaminação ruminal e no decréscimo da adesão e colonização das
bactérias proteolíticas aos seus substratos.
Castillejos et al. (2006) observaram variações no efeito de diferentes níveis de dosagens (5, 50,
500 e 5000 mg/L) de óleos essenciais de diferentes fontes em culturas in vitro durante 24 horas de
incubação. Enquanto o aldeido vanilla (extraído da baunilha) não foi capaz de influenciar a concentração
de amônia nas dosagens de 5, 50 e 500 mg/L, o monoterpeno limoneno (extraído de frutas cítricas) foi
capaz de reduzir a concentração de amônia ao nível de 500 mg/L. Quando utilizado o fenólico eugenol
(extraído da canela) observou-se redução nos níveis de amônia com a utilização de 5, 50 e 500 mg/L, já o
fenólico guaiacol foi capaz de reduzir a concentração de amônia em todos os níveis estudados,
demonstrando haver diferenças entre as estruturas químicas dos compostos utilizados, que afetam o
metabolismo do N de forma diferente.
McIntosh et al. (2003) estudando o efeito de uma mistura comercial de óleos essenciais (Timol,
Eugenol, Vanilina e Limoneno) sobre a microbiota ruminal e o metabolismo proteico do rúmen,
verificaram que as espécies Prevotella ruminicola, Clostridium sticklandii e Peptostreptococcus
anaerobius foram as mais sensíveis à presença dos óleos essenciais e tiveram seu crescimento inibido a
concentrações menores que 100 mg/L, sendo as duas últimas espécies descritas como hiperprodutoras de
amônia, que são prejudiciais à eficiência de retenção de nitrogênio no rúmen. Outras espécies como P.
ruminicola e P. bryantii adaptaram-se e foram capazes de crescer mesmo sob elevadas concentrações de
óleos essenciais, sendo que Streptococcus bovis foi a espécie que demonstrou maior resistência. Esses
autores observaram também uma redução significativa (p<0.05) na taxa de produção de amônia a partir
de aminoácidos livres, provenientes de um hidrolisado ácido de caseína (HAC), quando este foi incubado
in vitro durante 48 horas com o líquido ruminal de vacas recebendo dietas a base de silagem e
suplementadas com 1 g/dia com uma mistura comercial contendo óleos essenciais (BEO; Crina®
ruminants; Akzo Surface Chemistry Ltd. Herfordshire, UK). A taxa de desaminação foi reduzida em 9%
quando comparada ao grupo Controle, sendo essa redução semelhante ao observado no tratamento que
continha o ionóforo monensina.

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Castillejos et al. (2005) observou um incremento na concentração de AGVs com a técnica de


fermentação contínua durante 8 dias com duas dietas (90% concentrado + 10% forragem e 40% de
concentrado + 60 de forragem) ao fornecer 1,5 mg/L de uma mistura de óleos essenciais, sem contudo,
influenciar as proporções individuais de cada AGV.
Cardozo et al. (2006) em períodos de incubação de 24 horas das doses de 0,3; 3 e 30 mg/L de
diferentes óleos essenciais e seus componentes, observou que em pH 7.0 que os óleos de alho e de
pimenta, o anetol e o cinamaldeído proporcionaram reduções nas concentrações de AGVs, enquanto os
óleos de yucca, anis, orégano e o eugenol não apresentaram efeito sobre a concentração de AGVs.
Segundo Cardozo et al. (2006), os efeitos variados dos diferentes óleos essenciais e seus
componentes em diferentes condições de pH pode ser resultado de diferentes sensibilidades de
populações específicas de microrganismos a esses compostos. As diferenças podem estar ainda associadas
à predominância das formas dissociada (hidrofílica) ou não dissociada (hidrofóbica) das moléculas ativas
dos óleos. Isso ocorre porque apenas a forma não dissociada (hidrofóbica) das moléculas é capaz de
interagir com a bicamada lipídica da membrana celular bacteriana. Com a redução do pH, a proporção de
moléculas na forma não dissociada tende a aumentar, interagindo mais facilmente com a membrana das
células, exercendo assim seu efeito antimicrobiano. Aparentemente, as bactérias parecem ser mais
susceptíveis aos efeito dos óleos essenciais em condições de baixo pH.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os óleos essenciais possuem propriedades e composições químicas com efeitos benéficos sobre a
fermentação, tais propriedades tem elevada eficiência em inibir alguns tipos de microrganismos
específicos como algumas das bactérias produtoras de amônia e metano, podendo reverter favoravelmente
o perfil da fermentação ruminal. A variedade de plantas existentes em cada região é elevada o que
proporciona diversidade nos óleos essências.
O uso desses óleos como aditivo natural revela-se promitente substituto dos antibióticos
promotores de crescimento na produção de ruminantes. Observa-se que hoje há um crescente aumento no
uso dos óleos essenciais nas pesquisas, mas ainda existe a necessidade elevada de estudos in vivo para se
obter dosagens mais eficientes.

LITERATURA CITADA

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BIOHIDROGENAÇÃO RUMINAL E FORMAÇÃO DO ÁCIDO LINOLEICO


CONJUGADO

Marcus Vinicius Garcia Niwa1, Luís Carlos Vinhas Ítavo4, Gabriella Jorgetti de Moraes1,
Eduardo de Souza Leal2, Bruna Silva Marestone1, Marcelo Vedovatto3, Marlova Cristina
Mioto da Costa3, Hilda Silva Araújo3
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – FAMEZ/UFMS.
2
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária da
Universidade Católica Dom Bosco – UCDB.
3
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – FAMEZ/UFMS.
4
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – FAMEZ/UFMS. E-mail:
luis.itavo@ufms.br

Resumo: Os hábitos alimentares da população estão mudando. Os consumidores estão procurando


alimentos mais saudáveis e de melhor qualidade. A carne bovina é caracterizada por apresentar maior
concentração de ácidos graxos saturados, sendo associada ao desenvolvimento de doenças
cardiovasculares, obesidade, hipertensão e outras doenças. O processo de biohidrogenação ruminal, que
converte os ácidos graxos insaturados em saturados no rúmen, exerce influência no perfil de ácidos
graxos dos produtos de animais ruminantes, seja carne ou leite. O melhor entendimento e a manipulação
deste processo, pode levar a adoção de estratégias nutricionais que melhore o perfil de ácidos graxos dos
produtos. Durante o processo de biohidrogenação, intermediários são formados, e entre eles o ácidos
linoleico conjugado (CLA) tem recebido grande destaque, pois pode exercer diversos benefícios para a
saúde humana. Este trabalho teve por objetivo abordar os principais aspectos e fatores que interferem na
biohidrogenação ruminal, a formação de intermediários durante esse processo, principalmente o ácido
linoleico conjugado, seus possíveis efeitos benéficos para saúde humana, e métodos para sua
quantificação.

Palavras-chave: ácido rumênico, ácido vacênico, ácidos graxos insaturados, cromatografia, lipídios

RUMINAL BIOHYDROGENATION AND FORMATION OF CONJUGATED LINOLEIC ACID

Abstract: The eating habits of the population are changing. Consumers are demanding healthier foods
and of better quality. Beef is characterized by containing higher saturated fatty acids, associated with the
development of cardiovascular disease, obesity, hypertension and other diseases.The process of ruminal
biohydrogenation, which converts the unsaturated fatty acids to saturated, influences the fatty acid profile
of ruminant animal products. A better understanding and the manipulation of this process can lead to
adoption of nutritional strategies to improve the fatty acid profile of products. During the process of
ruminal biohydrogenation, intermediates are formed, and including the conjugated linoleic acid (CLA)
has received great prominence, because can have several benefits for human health. This article provides
a brief overview on the main aspects and factors affecting the ruminal biohydrogenation, the formation of
intermediates during the process, especially conjugated linoleic acid, its possible beneficial effects for
human health, and methods for their quantification.

Keywords: chromatography, lipids, rumênico acid, unsaturated fatty acids, vaccenic acid

INTRODUÇÃO

Com a crescente mudança nos hábitos alimentares dos consumidores, que passaram a escolher
produtos que apresentam características mais saudáveis além de atender às necessidades nutricionais
básicas, as pesquisas tem buscado a produção de carne bovina de maior qualidade, no sentido de melhorar
o perfil de ácidos graxos (Fernandes et al., 2014).

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A gordura da carne bovina possui maior concentração de ácidos graxos saturados, e menor
concentração de ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados em relação à gordura da carne de não-
ruminantes (Lopes et al., 2012). A maior ingestão de alimentos calóricos, com maior teor de ácidos
graxos, principalmente de ácidos graxos saturados, tem sido associado ao aumento do colesterol e de
triglicerídeos, consequentemente, ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, aterosclerose,
obesidade, hipertensão e outras doenças (Fernandes et al., 2011; Xavier et al., 2013).
Alguns fatores podem alterar o perfil de ácidos graxos da carne, sendo o aumento de ácidos graxos
poli-insaturados na dieta um desses fatores (Raes et al., 2004; Pires et al., 2008). Porém, os ácidos graxos
insaturados provenientes da dieta podem sofrer alterações, pois estes estão sujeitos ao processo de
biohidrogenação realizado pelas bactérias ruminais, sendo transformados em ácidos graxos saturados
(Fievez et al., 2007).
Em algumas situações, a biohidrogenação dos ácidos graxos poli-insaturados provenientes da dieta
é incompleta, formando no rúmen intermediários desse processo, que podem ser absorvidos pelo animal
(Preuss et al., 2013). Entre os intermediários formados, o ácido linoleico conjugado (CLA) tem recebido
maior importância pelas descobertas de alguns efeitos benéficos para a saúde, tal como seu efeito
anticarcinogênico (Pereira et al., 2011).
A presente revisão teve por objetivo, diante da relevância do tema, abordar os principais aspectos
relacionados a biohidrogenação, os fatores que interferem nesse processo, bem como a formação de
intermediários como o CLA, seus benefícios e métodos para sua quantificação.

DESENVOLVIMENTO

Biohidrogenação Ruminal
Nas plantas forrageiras e óleos vegetais presentes nos grãos de oleaginosas, os ácidos graxos são
em maior parte insaturados (geralmente mais de 70%), sendo o linoleico (18:2) e o linolênico (18:3) os
mais representativos. No rúmen esses lipídios são hidrolisados por lipases associadas à membrana celular
bacteriana, liberando glicerol, galactose e ácidos graxos de cadeia longa (saturados e insaturados). Os
ácidos graxos insaturados tem propriedades de se adsorverem a superfícies livres, podendo penetrar e
serem incorporados aos lipídios de membrana das bactérias, alterando sua fluidez e permeabilidade
(Kozloski, 2011). Por tanto, teorias propõem que, o processo de transformação dos ácidos graxos
insaturados em saturados no rúmen, também chamado de biohidrogenação, ocorre para que sejam
minimizados os efeitos tóxicos sobre a membrana celular bacteriana.
A biohidrogenação completa dos ácidos linoleico e linolênico resultam na formação do ácido
esteárico (18:0) (Khanal & Dhiman, 2004). Este processo envolve reações de isomerização e redução,
mediadas por diferentes classes de bactérias e enzimas (Crumb, 2011). O ácido linoleico (cis-9, cis-12,
18:2) é biohidrogenado em três passos, sendo o primeiro passo a isomerização dessa molécula, por uma
cis-trans isomerase, em ácido rumênico (cis-9, trans-11, 18:2). Nas duas etapas seguintes, ocorrem
reduções, via redutases, resultando na formação do ácido vacênico (trans-11, 18:1) e ácido esteárico
(18:0) respectivamente (Figura 1). A biohidrogenação do ácido linolênico (cis-9, cis-12, cis-15, 18:3)
segue processo semelhante, ocorrendo isomerização na ligação cis-12, formando cis-9, trans-11, cis-15
(18:3), seguida por reduções das ligações duplas em cis-9 e cis-15, obtendo-se o ácido vacênico, e
finalmente, a redução da ligação trans-11 formando o ácido esteárico (Figura 1) (Gouvêa et al., 2012).

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Figura 1. Processo de biohidrogenação do ácido linoleico e do ácido linolênico à ácido esteárico. Fonte:
Kozloski (2011)

Algumas bactérias foram identificadas como principais no processo de biohidrogenação, por


exemplo, Butyrivibrio fibrisolvens, Ruminococcus albus, Ruminococcus flavifaciens e outras bactérias
celulolíticas, classificadas como bactérias do grupo A, responsáveis pela biohidrogenação de ácidos
graxos insaturados 18:3 e 18:2 em trans-11, 18:1 (Paillard et al., 2007), e a Butyrivibrio proteoclasticus,
classificada no grupo B, que biohidrogenizam moléculas trans-11, 18:1 em 18:0 (Wallace et al., 2006).
Porém, fatores podem influenciar a biohidrogenação ruminal, bem como a quantidade de ácidos
graxos insaturados que escapam do rúmen sem sofrerem biohidrogenação completa, sendo depositados no
tecido adiposo ou na gordura do leite (Gattás & Brumano, 2005). O aumento de concentrado na dieta
promove maior taxa de passagem e diminuição da população de bactérias celulolíticas. Essa população de
bactérias apresenta sensibilidade em pH mais baixo, levando a diminuição da lipólise e biohidrogenação
ruminal, pois essa população de bactérias está diretamente relacionada a esses processos. E a maior taxa
de passagem de partículas pode não permitir o tempo necessário de permanência no rúmen para que os
ácidos graxos insaturados sejam totalmente convertidos em saturados (Oliveira et al., 2008; Gudla et al.,
2012). A utilização de ácidos graxos na forma de sais de cálcio, chamados de gordura protegida, também
irá alterar a quantidade de ácidos graxos insaturados que escaparão do rúmen sem sofrer biohidrogenação,
pois o grupo carboxila do ácido graxo deve estar livre para que ocorra esse processo (Kozloski, 2011).
Lipídios provenientes de grãos moídos também podem estar protegidos pela matriz dos grãos (Dhiman et
al., 2000).
O melhor entendimento sobre a biohidrogenação ruminal é de grande importância. Aumentar a
quantidade de ácidos graxos insaturados e poli-insaturados que chegam ao duodeno para serem
absorvidos e depositados na carne ou no leite, proporcionariam produtos de melhor qualidade, devido aos
possíveis efeitos benéficos para a saúde humana que essas moléculas exercem. Os benefícios dos ácidos
graxos poli-insaturados para a saúde humana serão discutidos em um próximo tópico.

Ácido Linoleico Conjugado (CLA)


Ácidos linoleicos conjugados são isómeros geométricos e posicionais de ácido linoleico, com
duplas ligações conjugadas insaturadas (Gudla et al., 2012). O ácido linoleico é convertido em vários
isômeros de CLA através da atividade de diferentes bactérias ruminais e enzimas. Os isômeros
apresentam insaturações na forma cis e/ou trans, em diferentes posições da cadeia carbônica, sendo os
isômeros mais ativos o cis-9, trans-11 e o trans-10, cis-12 (Park et al., 2002; Mir et al., 2004).
O CLA pode ser formado através de dois processos biosintéticos, que ocorrem principalmente em
animais ruminantes. O primeiro processo é através da biohidrogenação incompleta do ácido linoleico no

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rúmen. E o segundo processo é a conversão endógena do ácido vacênico em CLA nos tecidos (adiposo ou
mamário) (Bauman et al., 1999; Khanal & Dhiman, 2004).
No primeiro processo, o ácido linoleico proveniente principalmente de grãos e óleos de sementes,
passa pelo primeiro passo da biohidrogenação, sendo isomerizado à CLA ou também chamado de ácido
rumênico. A taxa do processo de biohidrogenação é mediada pela atividade das bactérias do grupo A e B.
As bactérias do grupo A estão em maior número no rúmen, e a redução do ácido vacênico à ácido
esteárico pelas bactérias do grupo B ocorre lentamente, proporcionando que ocorra acumulo do ácido
rumênico (cis-9, trans-11, 18:2) e de ácido vacênico (trans-11, 18:1), os quais podem ser absorvidos
(Figura 2) (Bauman et al., 2003, Moon et al., 2008).
A segunda via de formação do CLA, ocorre nos tecidos adiposo e mamário dos ruminantes, onde
uma dupla ligação é adicionada ao ácido vacênico, resultando no isômero cis-9, trans-11 do CLA (Figura
2). A adição da dupla ligação no carbono 9 é mediada pela enzima Δ9-dessaturase. Os animais são
capazes de dessaturar ligações até o carbono 9, pois dessaturases Δ12 e Δ15 são presentes apenas nos
vegetais (Gattás & Brumano, 2005; Crumb, 2011; Kozloski, 2011).

Figura 2. Visão geral do metabolismo ruminal dos lipídios, biohidrogenação, vias de formação e
deposição do CLA na carne e no leite dos ruminantes. Fonte: Kozloski (2011)

Possíveis benefícios do CLA para a saúde humana


Estudos in vitro e com animais indicam que o CLA pode ter efeitos benéficos sobre a modulação
do metabolismo dos lipídios, modulação da resposta imune e efeitos anticancerígenos.
A suplementação de CLA, principalmente o isômero trans-10, cis-12, pode proporcionar
diminuição da deposição de gordura corporal ou menor velocidade de deposição de gordura, em
decorrência do aumento da lipólise e diminuição da lipogênese (Gattás & Brumano, 2005; Larsen et al.,
2006).
Em relação a resposta imune, o CLA melhora a função das células T, aumenta a produção de
imunoglobulina A (IgA), e reduz a concentração de imunoglobulina E (IgE), tendo como benefícios
maior proliferação de linfócitos, aumento da função humoral e reduz as reações alérgicas,
respectivamente. Melhorando de maneira geral a imunidade (Field & Schley, 2004; O’Shea et al., 2004).

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O efeito anticarcinogênico dos isômeros do CLA também se mostrou eficaz na inibição da


iniciação e progressão de carcinomas de mama, cólon, pele e próstata (Field & Schley, 2004). Grande
parte dos cânceres de mama são desencadeados por influência do estrogênio e seus receptores celulares.
O estrogênio aumenta o crescimento e a multiplicação de células cancerígenas da mama. Doses
terapêuticas de CLA mostraram efeito positivo sobre a inibição do crescimento celular estimulado pelo
estrogênio, consequentemente inibindo células cancerígenas (Wang et al., 2008).
Propriedades indiretas pró-oxidantes também foram estudadas como outro mecanismo
anticancerígeno. Devery et al. (2001) após adicionarem CLA em meio de cultura de células cancerosas, o
mesmo se incorporou a membrana celular do cancro, induzindo a peroxidação de lipídios, alterando as
propriedades biofísicas e vias de sinalização celular da membrana. Desse modo, ocorrendo inibição do
crescimento e da proliferação das células cancerígenas.
As investigações dos efeitos do CLA sobre aterosclerose e diabetes mostram resultados
inconclusivos e contraditórios, mostrando a necessidade de maior investigação (McGuire & McGuire,
2000; Nakamura et al., 2008).

Métodos para quantificação do CLA


Duas técnicas são citadas para a determinação de ácidos graxos em alimentos, sendo elas as
técnicas cromatográficas e a técnica de ressonância magnética nuclear de 1H e 13C. A principal técnica
empregada é a cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massa ou com detecção por ionização
de chama, devido à complexidade e semelhança estrutural dos isômeros geométricos de CLA (Roach et
al., 2002; Golay et al., 2007; Maria & Colnago, 2010; Simionato et al., 2010; Fuke et al., 2012). A
eficiência da separação dos ácidos graxos é muito dependente da temperatura de análise e do
comprimento da coluna cromatográfica (Ledoux et al., 2000)
Para a determinação dos ácidos graxos, as amostras precisam passar por pré-tratamento, para que
os analitos estejam na forma adequada para identificação e quantificação (Gouvêa et al., 2012). Os ácidos
graxos estão presentes nos alimentos em maior parte na forma de triacilglicerol, e em menor parte na
forma de ácidos graxos livres. Para quantificação por cromatografia gasosa os ácidos graxos devem estar
na forma livre. Tornando necessária a transesterificação do triacilglicerol e esterificação dos ácidos
graxos livres em ésteres metílicos de ácidos graxos (processo denominado de metilação), tornando o
ácido graxo menos polar e mais volátil, facilitando a separação cromatográfica (Fuente et al., 2006).
A metilação pode ser ocorrer de duas formas, por catálise ácida ou catálise alcalina. O metóxido de
sódio ou hidróxido de potássio em metanol são utilizados como agentes transesterificantes na metilação
por catálise alcalina, e é considerado um processo mais seguro, pois não ocorrem isomerizações, porém
não é capaz de converter ácidos graxos livres. A catálise ácida é realizada com utilização do tifluoreto de
boro, ácido clorídrico ou ácido sulfúrico como agentes transesterificantes, proporcionando extensiva
isomerização de dienos conjugados, podendo transformar isômeros cis, trans ou trans, cis, em isômeros
trans, trans (Simionato et al., 2010).
A quantificação por espectros de ressonância magnética nuclear de 1H e 13C, permite
determinação de parâmetros estruturais como grau de insaturação de óleos, peso molecular médio e perfil
de ácidos graxos insaturados. Os resultados obtidos por esta técnica apresentaram elevada correlação com
os de cromatografia gasosa, demonstrando precisão na determinação dos ácidos graxos e avaliação da
composição lipídica dos alimentos. Por gerar grande quantidade de informações em curto período de
tempo, estudos utilizando essa técnica tem aumentado (Preuss et al., 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O entendimento da biohidrogenação ruminal é de grande importância para nutrição de ruminantes,


visto que esse processo apresenta diferente comportamento em dependência de diferentes condições
ruminais geradas por fatores como: dieta, populações de bactérias ruminais, pH ruminal, entre outros.
Encontrar soluções para que o valor saudável e os benefícios dos ácidos graxos poli-insaturados não
sejam perdidos durante esse processo, obtendo produtos de origem animal de melhor qualidade para a
saúde humana, sem prejudicar o desempenho e a eficiência animal é o desafio.
As metodologias existentes para quantificação de ácidos graxos exigem controle severo, tornando
os procedimentos complexos. Sendo necessárias pesquisas para que as determinações se tornem mais
simples, rápidas, sem que degradem os ácidos linoleicos conjugados, e com menor custo.

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DOENÇAS INFECCIOSAS DO TRATO REPRODUTIVO DO TOURO

Willian Vaniel Alves dos Reis1, Deiler Costa Sampaio2, Daniel França Mendonça da Silva,
Fernando Henrique Garcia Furtado, Caroline Eberhard Buss, Francisco Manoel Junior,
Fernanda Hvala de Figueiredo, Eder Cristian Queiroz Serrou da Silva, Tailisa de Souza
Silva, Thyciane Rodrigues de Aguilar, Zelina dos Santos Freire, Gabrielle Ricardes da
Silva, Tainara Candida Ferreira, Fábio José Carvalho Faria
1
Núcleo de Produção e Reprodução Animal (NUPRA), Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia –
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Email: willian.vet.ufms@gmail.com
2
Núcleo de Produção e Reprodução Animal (NUPRA), Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia –
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Email: deiler.costa@ufms.br

Resumo: Essenciais para a eficiência reprodutiva, e quer sejam utilizados para a reprodução natural ou
mesmo como doadores de sêmen criopreservado, os touros, além de gametas masculinos, podem também
introduzir patógenos ao trato genital feminino e consequentemente, ao rebanho. Esses agentes podem
afetar diretamente a fertilidade do touro por causar doenças no trato reprodutivo, ou associado aos
espermatozoides, evitando a fecundação, fato esse que reflete diretamente na cadeia produtiva, com uma
diminuição no número de crias por ano e consequente redução da lucratividade da atividade. Com isso,
amplia-se cada vez mais o interesse pelo conhecimento e projetos de pesquisa na área de controle das
doenças infecciosas que interferem na reprodução, tais como Brucelose, Leptospirose, Campilobacteriose,
Rinotraqueíte Infecciosa Bovina, Diarréia Viral Bovina e Tricomonose. O presente trabalho é uma revisão
de literatura com o objetivo de abordar as mais importantes doenças infecciosas que podem estar
relacionadas aos distúrbios reprodutivos e desempenho do sistema reprodutor em touros.

Palavras-chave: agentes infecciosos, infertilidade, inseminação artificial, reprodução animal, sanidade


animal

INFECTIOUS DISEASES OF THE REPRODUCTIVE TRACT OF THE BULL

Abstract: Essential for the reproductive efficiency, and are used for natural breeding or even as
cryopreserved semen donors, bulls, bulls, as well as male gametes can also introduce pathogens to the
female genital tract and hence the flock. These agents can directly affect the fertility of the bull to cause
disease in the reproductive tract, or associated with sperm, preventing fertilization, a fact that reflects
directly in the production chain, with a decrease in the number of offspring a year and consequent
reduction of the activity of profitability . Thus, increasingly expands the interest in knowledge and
research projects in the area of control of infectious diseases that interfere with reproduction, such as
brucellosis, leptospirosis, campylobacteriosis, infectious bovine rhinotracheitis, bovine viral diarrhea and
trichomoniasis. This study is a review of literature with the objective to address the most important
infectious diseases that may be related to reproductive disorders and performance of the reproductive
system in bulls

Keywords: infectious agents, infertility, artificial insemination, animal breeding, animal health

INTRODUÇÃO

Atualmente, o Brasil é classificado como o maior exportador mundial de carne bovina, e sendo a
pecuária bovina uma atividade econômica fundamental para o agronegócio brasileiro, destaca-se como
um fator de suma importância e responsabilidade pela eficiência e rentabilidade dos sistemas produtivos,
a reprodução animal (Neves et al., 2010). Por ser programada com a finalidade de propiciar um certo
retorno econômico à propriedade rural, se faz necessário manter o controle da sanidade de todo o
rebanho, tomando-se como uma das prioridades as infecções, que comprometem o trato reprodutivo da
fêmea e do macho, e que podem comprometer o desempenho de um todo (Barcelos et al., 2009).

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Diversos agentes infecciosos estão presentes na reprodução animal e podem ser responsáveis por
causar uma redução nas taxas de ovulação, produção de gametas masculinos, taxas de fertilização,
sobrevida embrionária, sobrevida fetal perinatal (Givens, 2006), e qualquer desses fatores que venha a ser
reduzido, reflete diretamente na cadeia produtiva, levando a uma diminuição no número de crias por ano
e redução da lucratividade dessa atividade.
Essenciais para a eficiência reprodutiva, e quer sejam utilizados para a reprodução natural ou
mesmo como doadores de sêmen criopreservado, os touros, além de gametas masculinos, podem também
introduzir patógenos ao trato genital feminino e consequentemente, ao rebanho. Esses agentes podem
afetar diretamente a fertilidade do touro por causar doenças no trato reprodutivo, ou associado aos
espermatozoides, evitando a fecundação (Givens & Marley, 2008).
O presente trabalho é uma revisão de literatura com o objetivo de abordar as mais importantes
doenças infecciosas que podem estar relaionadas aos distúrbios reprodutivos e desempenho do sistema
reprodutor em touros.

DESENVOLVIMENTO

Brucelose
Quando se deseja designar infecções causadas por bactérias do gênero Brucella, se utiliza o termo
Brucelose (Nascimento et al., 2002). Encontra-se como o principal agente da brucelose bovina a bactéria
Brucella abortus. No entanto, podem ocorrer ainda infecções causadas por B. suis e também B. melitensis
(Veloso, 2006).
É caracterizada por ser a causa mais séria e frequente de orquite nos touros, além de usualmente
deixar testículos e epidídimo comprometidos e provocar uma reação sistêmica aguda quando localizada
nos testículos e glândulas anexas (Sereno & Pellegrin, 1992). Em fêmeas, também causa graves
transtornos, como abortos, retenção de placenta, endometrites, sendo o aborto o sinal predominante e que
acontece geralmente no terço final da primeira gestação (Barcelos et al., 2009), porém, nas próximas
gestações, o bezerro não necessariamente será abortado, e caso sobreviva, será um importante
disseminador da doença, como um “portador latente” (Veloso, 2006).
A Brucella sp. tem predileção pelo eritritol, que segundo Barcelos et al. (2009), nas fêmeas, é
localizado no útero gravídico, glândula mamária, linfonodos supramamários e medula óssea. Em se
tratando dos machos, Givens & Marley (2008) explica que as células do trato genital contém
concentrações elevadas desse eritritol, que melhora o crescimento do patógeno, causando a infecção, que
pode levar a orquite, epididimite, vesiculite seminal, diminuição da libido e infertilidade, que é sem
dúvida uma das características muito mais importantes em machos do que em fêmeas, visto que,
considerando plantéis, o touro se acasala com várias fêmeas, seja por monta natural ou inseminação
artificial (Junior et al., 2012). A participação dos touros na disseminação da brucelose é mediante o
esperma contaminado. Porém, a taxa de transmissão pelo sêmen é mais comum em técnicas de
inseminação artificial, em que o material é depositado diretamente no útero, e relativamente baixa quando
realizada a monta natural, devido a vagina apresentar barreiras que dificultam a infecção (Lage et al,
2008).
Os alimentos e água contaminados são considerados os maiores meios de infecção em ruminantes
domésticos, todavia, também pode ocorrer a disseminação por contato direto, sêmen ou ingestão de leite
contaminado (Junior et al., 2012).
O diagnóstico pode ser realizado por diferentes métodos, mas na maioria dos casos, se inicia com
o diagnóstico clínico, que proporciona a provável presença da enfermidade no rebanho e direciona para os
demais métodos, que pode ser pelo diagnóstico bacteriológico, onde se visualiza a bactéria no material
analisado, ou através do nem tão sensível diagnóstico sorológico, que é baseado na reação entre antígenos
da Brucella sp. (Lage et al., 2008).
Como mecanismos de prevenção e controle, Veloso (2006) chama atenção para a vacinação nos
animais jovens (três a oito meses) com vacina viva, recria de bezerros livres de brucelose e procedimentos
de eliminação e sacrifício dos doentes.

Leptospirose
A leptospirose é uma enfermidade causada por diversos sorovares de Leptospira interrogans,
responsável por causar doenças reprodutivas e não reprodutivas (Nascimento et al., 2002). Em bovinos, o
hardjo aparece como o sorovar de maior importância, reponsável por comprometer o desemprenho

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reprodutivo do rebanho e causar um elevado percentual de perdas econômicas, tendo como consequência
abortamentos, natimortalidade e nascimento de bezerros fracos (Silva et al., 2009). Em animais jovens,
causa icterícia, febre, anemia e sangue na urina, devido episódios hemolíticos, lesões hepáticas e renais
(Veloso, 2006).
Pelo fato de se localizar na luz dos túbulos renais dos animais, a urina dos animais infectados se
torna a principal via de eliminação do agente (Brob & Fehlberg, 1992) e a transmissão se dá pela ingestão
da bactéria em água e alimentos contaminados, tanto pela urina quanto por fetos abortados e placentas
(Veloso, 2006).
Em touros, a enfermidade é subclínica, porém, o sêmen é também uma importante via de
eliminação, tanto em monta natural ou inseminação artificial (Brob & Fehlberg, 1992). Brod & Felberg
(1992) relata que, segundo Sleight e Willians (1961), a contaminação do sêmen acontece devido ao
contato com a urina infectada. No entanto, Givens (2006) descreve que, bem como nos rins, a Leptospira
sp. também persiste nas vesículas seminais.
A prevenção e controle se dá pela realização da vacinação das vacas e novilhas em idade de
reprodução, tratamento dos animais doentes e aquisição de bovinos advindos somente de rebanhos livres
da doença (Veloso, 2006).

Campilobacteriose Genital Bovina


Responsável por causar grandes perdas econômicas, a campilobacteriose genital bovina é uma
doença infecciosa, causada pelo Campilobacter fetus subsp. Veneralis, e se caracteriza por proporcionar
altas taxas de retorno ao cio e infertilidade temporária, com ocorrência de aborto nas vacas (Givens,
2006).
Tem o trato reprodutivo como seu habitat natural, podendo ser encontrada na vagina, cérvix, útero
e oviduto das vacas, e prepúlcio, glande e porção distal da uretra em touros (Barcelos et al., 2009), sendo
que nos touros a infecção se apresenta de maneira subclínica (Nascimento et al., 2002). A transmissão é
venérea, ocorrendo do macho para a fêmea e vice-versa, por monta natural ou sêmen contaminado
(Fóscolo et al., 2007).
Freitas et al. (2006) aponta para o fato de que touros com mais de 5 anos são mais susceptíveis à
infecção, por possuírem criptas mais desenvolvidas ao redor do pênis, o que proporciona condições mais
favoráveis ao desenvolvimento do agente, no entanto, sem causar lesões. Na fêmea, ocorre uma reação
inflamatória na mucosa uterina, impossibilitando a implantação do zigoto e causando morte embrionária
(Sereno & Pellegrin, 1992). Givens (2006) descreve que, uma vez ocorrido o aborto, a fêmea tem uma
cura espontânea da infecção e sua fertilidade é re-estabelecida por volta de 4 a 8 meses. O macho, por sua
vez, caso não receba o tratamento apropriado, permanecerá permanentemente infectado, desempenhando
o papel de reservatório do agente (Nascimento et al., 2002).
A vacinação é uma das estratégias de controle da campilobacteriose (Fóscolo et al., 2007).
Entretanto, os programas de vacinação não devem incluir somente os touros, como também as novilhas e
vacas (Givens, 2006).
Como maneira de diagnóstico, muitos pesquisadores consideram o lavado prepucial e a realização
da técnica de imunofluorescência como um método de elevada eficiência (Fóscolo et al., 2007).

Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR)


Doença causada pelo Herpesvírus bovino tipo 1 (BHV-1), a Rinotraqueíte Infecciosa Bovina está
relacionada com problemas reprodutivos, doenças respiratórias e neurológicas, causando grandes perdas
econômicas na indústria pecuária (Bielanski et al., 2014).
O contágio ocorre pelas vias aéreas ou através do sêmen de touros infectados, via monta natural ou
inseminação artificial (Pellegrin, et al., 1997), sendo que na forma reprodutiva, o BHV-1 manifesta-se por
causar uma balanopostite pustular infecciosa em machos, progredindo para a formação de placas e
úlceras, enquanto que nas fêmeas há também o aparecimento de vesículas na vulva e vagina, que
progridem para a formação de pústulas e erosões (Ferreira, 2009). Segundo Ferreira (2009), pode
comprometer tanto o desenvolvimento do feto quanto do embrião, sendo mais frequentes abortos no
segundo ou terceiro trimestre de gestação. Bezerros do desmame até os dois anos de idade podem ser
acometidos pela manifestação nervosa, de caráter letal (Pellegrin et al., 1997).
Independente da porta de entrada do vírus, ele é capaz de se disseminar, causando viremia e lesões
em vários outros órgãos, o que resulta em infecção sistêmica (Nascimento et al., 2002).

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Para o diagnóstico, além de verificar o histórico clínico da propriedade, pode-se realizar testes
sorológicos ou identificação do agente, seja por detecção de antígeno, isolamento viral ou detecção do
DNA viral (Ferreira, 2009).
Nascimento et al., afirma que, para a IBR, não há tratamento, porém, em casos onde houver
infecção secundária, sugere-se o uso de antibióticos. Por não ter tratamento, uma vez infectados, os
animais ficarão como portadores vitalícios do vírus, e podem voltar a eliminar durante a vida toda (Rocha
et al., 1999).
Evitar que se introduzam animais doentes no rebanho serve como a melhor maneira de prevenir
(Nascimento et al., 2002).

Diarréia Viral Bovina (BVD)


Causada pelo vírus do gênero Pestivírus, a Diarréia Viral Bovina tem emergido como uma das
mais importantes doenças infecciosas em bovinos, e apesar do seu nome fazer referência a apenas 1
(Hum) sistema, os surtos de diarreia são leves, de poucos dias de duração e baixa mortalidade (Pellegrin
et al., 1997) e ela está envolvida em patologias de diversos outros sistemas, tais como respiratório,
imunológico, neurológico e reprodutivo (Grooms, 2004).
De acordo com Givens & Marley (2008), o vírus se multiplica na vesícula seminal, próstata e
epidídimo do touro, e a partir do contato com o sêmen contaminado, as fêmeas são contaminadas, levando
a redução das taxas de concepção ou produção de bezerros persistentemente infectados, caso a infecção
ocorra no final da gestação. Esses bezerros são uma importante fonte de propagação do vírus. Quando a
infecção ocorre após o quinto mês de gestação, há grande probabilidade de o bezerro nascer com
anomalias congênitas como opacidade de córnea, tremores, alopecia, incapacidade de locomoção
(Pellegrin et al., 1997).
Existem alguns sintomas gerais, destacados como perda completa do apetite, aumento da sede,
apatia, diminuição na produção de leite e ruminação, emagrecimento e desidratação, além patologias no
sistema nervoso, como hidranencefalia, hidrocefalia e hipoplasia cerebelar (Veloso, 2006).
Segundo Veloso (2006), os métodos diagnósticos mais usados e confiáveis são o isolamento do
vírus e a soroneutralização, bem como a vacinação é um método preventivo eficaz.

Tricomonose
Causada pelo agente Tritrichomonas foetus, a tricomonose bovina é uma doença contagiosa (Silva
et al., 2009), sexualmente transmissível, mas que é conhecida por não causar doença nos touros (Givens
& Marley, 2008). Coloniza as superfícies epiteliais escamosas estratificadas da vagina, glande do pênis e
prepúlcio (Givens, 2006), sendo que, machos com mais de três anos de idade são mais susceptíveis,
devido a maior profundidade das criptas da mucosa prepulcial (Sereno & Pellegrin, 1992).
Nas fêmeas, a infecção é temporária e pode resultar em vaginite, cervicite, endometrite, causando
redução da fertilidade, com retorno de cio, morte embrionária e abortos, enquanto que o touro passa a
vida como portador, muitas vezes com infecção subclínica, podendo casualmente desenvolver uma
infecção (Givens & Marley, 2008).
O controle da tricomonose pode ser muito eficiente se realizada cultura microbiana de esmegma
prepulcial dos touros antes de iniciar a estação de monta, excluindo do plantel os animais infectados. Para
as vacas, existe uma vacina que se demonstra eficiente (Givens, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando-se em consideração que a bovinocultura tem uma evidente importância econômica para o
Brasil, é necessário investir, de maneira eficiente, em sanidade animal, a fim de erradicar certas doenças
que causam perdas financeiras carreadas por falhas reprodutivas. Além disso, devemos nos atentar para
um maior cuidado com os touros, visto que, os mesmos são grandes difusores dessas enfermidades
através do sêmen.
É de suma importância que, antes de adotar qualquer medida de prevenção e controle, haja o
conhecimento acerca dessas doenças, para que a política seja eficaz. A partir do momento em que
tivermos todo o controle da situação sanitária animal, poderemos atender com excelência as expectativas
do consumidor local e de outros países.

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GLUTAMINA NA DIETA DE LEITÕES DESMAMADOS

Jéssica Lira da Silva¹, Charles Kiefer², Camila Mendonça Silva³, Alexandre Pereira dos
Santos³, Gabriela Puhl Rodrigues4, Stephan Alexander da Silva Alencar4, Bruna
Junqueira Rodrigues5, Maryene Beatriz Souza Molina5

¹Graduando e bolsista PET do curso de Zootecnia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia -


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Email: jeslira@live.com
²Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul
³Doutorando(a) em ciência animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul.
4
Mestrando em ciência animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul
5
Graduanda do curso de Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul

Resumo: Este trabalho tem como objetivo abordar os efeitos da glutamina como nutriente
condicionalmente essencial na alimentação de leitões jovens, seu metabolismo, suas ações na mucosa
gastrintestinal e no desempenho. Durante o desmame o leitão sofre algumas alterações trato
gastrintestinal: encurtamento das vilosidades e aumento da profundidade das criptas, que afetam
diretamente o desempenho dos animais. Na baixa disponibilidade de glutamina, geralmente, em
momentos críticos como no desmame ocorre atrofia das vilosidades intestinais e menor atividade do
sistema imunológico. A glutamina atua na manutenção da integridade intestinal. Pesquisas observaram
efeitos positivos da suplementação de glutamina no trato gastrintestinal e também observaram melhora
nas características de desempenho, em leitões desmamados. A suplementação de glutamina na dieta de
leitões desmamados possibilita o aumento da altura das vilosidades intestinais e melhora no ganho de
peso, consumo de ração e conversão alimentar. A partir dos resultados constatados nos artigos
verificados, pode-se recomendar a inclusão de 0,8 a 1% de glutamina nos primeiros 14 dias pós-desmama
para leitões.

Palavras-chave: aminoácido, desmame, desempenho, leitão, trato gastrintestinal

GLUTAMINE IN THE DIET OF WEANED PIGLETS

Abstrct: The objective of this work was to address the effects of glutamine as a conditionally essential
nutrient on feeding, metabolism, actions in the gastrointestinal mucosa and performance of piglets.
During weaning period, the piglet goes through gastrointestinal changes: villi shortening and increase of
crypt depth, which directly affects the performance of the animal. When there is a low availability of
glutamine, generally concurring on critical periods, such as weaning, there is an atrophy of intestinal villi
and lower activity of the immune system. Glutamine acts on the maintenance of intestinal integrity.
Researches observed positive effects of glutamine supplementation on the gastrointestinal tract and also
observed better performance parameters in weaning piglets. Supplementing glutamine in the diets of
weaning piglets allows an increase of the villi height and an increase on weight gain, feed intake and feed
conversion ratio. From the results observed of published papers, an inclusion of 0,8 to 1% of glutamine
during a period of 14 days post-weaning can be recommended for piglets.

Keywords: amino acid, gastrointestinal tract, performance, piglet, weaning

INTRODUÇÃO

O Brasil ocupa atualmente o quarto lugar no ranking mundial de produção de carne suína, com
aproximadamente 3.370 mil toneladas produzidas, o que representa 3% da produção total,

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aproximadamente(ABPA, 2015), logo o uso de tecnologias pode ser um meio de aumentar a produção de
carne suína do Brasil.
Dessa forma, melhorar a absorção de nutrientes (trato gastrintestinal) pode ser uma alternativa para
otimizar a produção de carne suína, pois o custo com a alimentação representa cerca de 75% no custo de
produção(ABPA, 2014). Além disso, reduzir os impactos provocados pelo desmame do leitão pode ser
outro meio de otimizar a produção.
O desmame é um período crítico em que as alterações fisiológicas sofridas pelo leitão podem
resultar em perda de peso na primeira semana pós desmame e conseqüentemente levará a implicações
econômicas na produção de suínos (Mavromichalis et al., 2001).
Garantir o bom desempenho do leitão durante o processo de desmame é um dos principais fatores
para se obter sucesso na produção de suínos (Chamone et al., 2010). A glutamina, um α- aminoácido, vêm
sendo estudada para melhorar o desempenho pós desmame dos leitões (Capalbo, 2013).
Dessa forma, esta revisão tem como objetivo abordar os efeitos da glutamina como nutriente
condicionalmente essencial na alimentação de leitões jovens, seu metabolismo, suas ações na mucosa
gastrintestinal e na melhora do desempenho.

DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento Intestinal dos Leitões


O desenvolvimento do intestino nos leitões ocorre ainda na vida fetal e após o nascimento progride
rapidamente. Além do desenvolvimento do trato gastrintestinal que ocorre na gestação existem outras
duas fases importantes para o desenvolvimento desse órgão acontecem após o nascimento do leitão: uma
na adaptação ao leite e a outra no desmame (Buddington & Malo, 1996).
No decorrer dos dias da gestação o leitão apresenta características distintas, sendo as principais:
Camada de células mesenquimais circundando o tubo epitelial no 30º dia (A); Surgem vilosidades
primitivas no 35º dia (B); Células caliciformes e enteroindócrinas no intestino proximal (nova
citodiferenciação) no 45º dia (C); Vilosidades, criptas duodenais e pequenas microvilosidades no 60º dia
(D); Células caliciformes maduras, lamina própria, submucosa, glândulas duodenais, e alongamento das
microvilosidades no 90º dia (E); Criptas, vilosidades e microvilosidades desenvolvidas e alongadas, e nos
enterócitos maduros com presença de vacúolo lisossomal e grande quantidade de mitocôndria no 110º dia
(F) (Dekaney et al., 1997).

Figura 1. Desenvolvimento do trato digestivo do feto suíno aos 30 (A), 35 (B), 45 (C), 60 (D), 90 (E) e
110 (F) dias de gestação. Fonte: Adaptado de Dekaney et al. (1997).

Após o nascimento, o trato digestivo por ser onde acontece a digestão e absorção de nutrientes se
torna o principal responsável pela nutrição do organismo (Stoll et al., 2000). Evidenciando essa
importância Zhang et al.(1997),observaram um crescimento proteico significativo da mucosa intestinal
nas primeiras seis horas após o nascimento, enquanto que Adeola & King (2006), verificaram elevação no
peso da mucosa e no comprimento do intestino nas primeiras semanas.

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A glutamina é considerada uma substância estimulante para proliferação do tecido intestinal


responsável pela manutenção da barreira intestinal e principal metabólito que nutre os enterócitos (Pluske
et al.,1997). Logo a glutamina pode ser uma alternativa para garantir o bom desenvolvimento do trato
intestinal e influenciar diretamente no desempenho do leitão.

Desmame e Alterações Intestinais


A fase em que os leitões são desmamados é considerada um momento crítico, que causa certo
estresse, podendo acarretar uma redução no consumo de ração, e consequentemente, perda de peso nas
primeiras semanas (Chamone et al., 2010).
Os leitões antes da desmama apresentam vilosidades intestinais com tamanho e estrutura
adequadas e altamente eficientes na absorção de nutrientes (Pluske et al., 1997).
Após o desmame acontecem as seguintes alterações estruturais: encurtamento das vilosidades,
indicativo de destruição de enterócitos e aumento na profundidade das criptas. Esse encurtamento das
vilosidades provoca a perda de enzimas digestivas da borda da escova (lactase e sacarase), fundamentais
para a digestão e a redução da área absortiva do trato digestivo(Chamone et al., 2010).
Os vilos são projeções da mucosa revestidas por enterócitos (células epiteliais colunares),
compondo a unidade funcional do principal local de digestão dos monogástricos que é o intestino
delgado. (Chamone et al., 2010). Assim sendo, quanto maior o tamanho da vilosidade maior será a área
de absorção de nutrientes.

Metabolismo da Glutamina
A glutamina, um α- aminoácido, formado por dois grupos nitrogenados, um grupo alfa-amino e
uma amina, está presente em maior proporção na corrente sanguínea em relação a outros aminoácidos
livres (Piva et al., 2001).
Dentre os vários tecidos/órgãos que podem sintetizar esse aminoácido estão: o encéfalo, pulmões,
músculos esqueléticos, fígado e placenta (Self et al, 2004). As enzimas glutamina sintetase e glutaminase
são diretamente relacionadas à síntese e degradação da glutamina, respectivamente (Zavarizeet al., 2010).
Essa síntese ocorre por meio da catalise, transformando glutamato e amônio em glutamina por
meio da enzima glutamina síntetase (Francisco, 2002). E a hidrólise de glutamina resulta na formação de
glutamato, ou seja, a glutamina é amida do glutamato. Dessa forma, a glutamina é considerada uma via da
incorporação de nitrogênio em biomoléculas, e a enzima glutamina sintetaseé de grande importância para
regulação do metabolismo do nitrogênio (Nelson et al., 2003).
A conversão de glutamina em glutamato acontece na reação de glutaminase ou em qualquer outra
reação de doação do grupo amídico (da glutamina) a um receptor, e a partir da desaminação do glutamato
há a produção de α-cetoglutarato. E é por meio deste substrato que entram no ciclo do ácido cítrico. A
glutamina e o glutamato desempenham atividades importantes no metabolismo do nitrogênio, atuando
como uma espécie de ponto geral de ligação dos grupos amino (Nelson et al., 2003).
Grande parte dos grupos amino dos aminoácidos, no citosol dos hepatócitos, são transferidos para
α – cetoglutarato, formando glutamato, que entra na mitocôndria e forma NH4 a partir do grupo amino. A
maioria da amônia em excesso produzido em outros tecidos é convertida em nitrogênio amídico da
glutamina entrando na mitocôndria hepática, que chega ao fígado por meio da circulação. O grupo amino
da glutamina é levado aos tecidos hepatócitos para síntese da uréia na mitocôndria, já o excesso de
amoníaco oriundo de outros tecidos será convertido no grupo n-amida da glutamina e levado ao
hepatócito (mitocôndria) (Nelson et al., 2003).
Há uma alteração no fluxo de glutamina em momentos de estresse como doenças, septicemia e o
desmame. Dessa forma, ocorre uma redução na concentração de glutamina porque acontece uma elevação
de demanda nos rins, fígado, enterócitos e células do sistema (Newsholme& Lima, 2003).

Efeitos da Glutamina sobre a Proliferação Celular e a Mucosa Intestinal


Dentre as estratégias que mantêm e melhorem a integridade gastrintestinal nesse processo de
desmame está a suplementação com glutamina na dieta buscando reduzir as perdas morfofuncionais da
mucosa intestinal, e diminuir o impacto no desempenho dos leitões desmamados (Wu et al., 2014).
O trato gastrintestinal é o órgão principal que consome glutamina, e esse α-aminoácido, exerce
funções exclusivas no organismo em estados normais. Fornece energia e auxilia a biossíntese de
nucleotídeos na divisão rápida de células, por exemplo, de eritrócitos e leucócitos (Wu et al., 2014). A
atrofia das vilosidades intestinais e redução do sistema imunológico são conseqüências da baixa

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disponibilidade de glutamina (Domeneghini et al., 2006),que ocorre em momentos críticos como no


desmame.
Além de atuar na manutenção da estrutura e função intestinal, a glutamina(Wu et al., 2014), é
fonte de nitrogênio para síntese de ácidos nucleicos indispensáveis para manutenção da integridade
intestinal, purinas e pirimidinas (Abreu et al., 2010; Molino et al., 2012).
Logo, manter a manutenção da integridade intestinal é importante, pois o desenvolvimento
funcional do trato digestivo está diretamente relacionado ao desempenho do animal e isso inclui alguns
fatores como o desenvolvimento de enterócitos (Bueno, 2006) e mucosa intestinal,que podem ser
melhorados com suplementação com glutamina.
Essa melhora em relação ao tecido gastrintestinal em leitões suplementados com glutamina foi
observada por Caldara et al.(2010). Enquanto que Lui et al. (2002), verificaram aumento da altura das
vilosidades do duodeno e jejuno dos leitões após sete dias de desmame; Tucci et al. (2011), observaram
um aumento de 44% dos vilos no duodeno e 42% no jejuno em leitões suplementados com glutamina.
O efeito positivo da glutamina no aumento das vilosidades do duodeno, jejuno e íleo foram
observados por Molino et al. (2012) que constataram aumento de 2,1; 7,3 e 8,2 na altura das vilosidades
no duodeno, jejuno e íleo, respectivamente (Tabela 1).

Tabela 1. Efeito de L-glutamina + L- glutamato (L-Gln + L-Glu) sobre a estrutura da mucosa intestinal de
leitões desmamados aos 21 dias de idade, avaliada aos 49 dias de idade
Variáveis Sem L-Gln + L- Glu Com L-Gln + L- Glu CV (%)
Duodeno
Altura dos vilos¹ 482 519 9,66
Profundidade das criptas 217 219 12,03
Relação vilo:cripta 2,3 2,35 9,21
Jejuno
Altura dos vilos¹ 442 488 12,75
Profundidade das criptas 190 198 13,62
Relação vilo:cripta 2,32 2,49 11,81
Íleo
Altura dos vilos¹ 393 419 8,49
Profundidade das criptas 171 172 14,47
Relação vilo:cripta 2,31 2,5 11,47
¹Significância a 5% probabilidade. CV= Coeficiente de variância. Fonte: Molino et al. (2012).

Efeitos da Glutamina sobre o Desempenho de Leitões


Diversas pesquisas têm demonstrado o efeito benéfico da inclusão de glutamina sobre o
desempenho de suínos (Wu et al., 1996; Abreu et al., 2010; Tucci et al., 2011) e também de aves
(Zavarize et al., 2011).A melhora no percentual do desempenho de leitões em função da suplementação
de glutamina é apresentada na Tabela 2.
Ao analisar diferentes níveis de inclusão de glutamina na dieta em leitões desmamados, em média,
aos 21 dias de idade notou-se uma melhora no consumo de ração, no ganho peso e na conversão
alimentar. O aumento no consumo de ração, observado na Tabela 2, temimportância, pois o grande
objetivo no período é garantir que os leitões consigam ingerir quantidades suficientes de ração e dessa
forma expressar todo seu potencial de ganho de peso (Berto et al., 1997). Além do aumento proporcional
no ganho de peso, o aumento no consumo garante uma melhora no sistema imune e na maturação
intestinal.

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Tabela 2. Resultados percentuais diferenciais da suplementação de glutamina em relação ao tratamento


controle em leitões na fase pós desmame.
Desmame Duração
Referências Nível (%) CR¹ (%) GP¹ (%) CA¹ (%)
(dias) (dias)
1 1,0 21 21 12,7 20 -5,7

2 1,0 21 14 -3,4 21,4 -30,3

0,8 21 14 7,9 11,2 -3,1


3
0,8 – 0,6 * 21 14 – 13 8,12 10,3 -2,1

0,8 23 11 -9,5 -7,8 -0,7


4
0,8 23 22 -2,8 -2 -0,7
1= Abreu et al. (2010); 2 = Tucci et al. (2011); 3 = Molino et al. (2012); 4= Rodrigues (2013); ¹ CR= Consumo de ração; GP =
Ganho de peso; CA= Conversão Alimentar.
* Desempenho total de dois períodos: suplementação com 0,8% de glutamina na primeira fase (21 a 35 dias) e na segunda fase 36 a
49 dias com 0,6%de glutamina.

Independentemente do nível da suplementação de glutaminautilizada, as pesquisas de Abreu et al.


(2010); Tucci et al. (2011); Molino et. al. (2012); Rodrigues (2013), foram concisas no efeito da melhora
na conversão alimentar. Por sua vez, exceto para o estudo de Rodrigues(2013), estes mesmos
pesquisadores também obtiveram respostas positivas no ganho de peso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A suplementação de glutamina na dieta de leitões desmamados possibilita o aumento da altura das


vilosidades intestinais, uma possível melhora no ganho de peso e na conversão alimentar.
A partir dos resultados constatados nos artigos verificados, pode-se recomendar a inclusão de 0,8 a
1% de glutamina nos primeiros 14 dias pós-desmama.
Há necessidade de mais estudos sobre a influência da suplementação de glutamina em leitões
desmamados no desenvolvimento do trato gastrintestinal, pois quanto mais desenvolvido, melhor será o
aproveitamento de nutrientes e desempenho. E mais estudos, também, para aprimorar o nível de
glutamina ideal para suplementação dos leitões na desmama.

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ESTOCAGEM E PRESERVAÇÃO DA CARNE

Hilda Silva Araujo1, Jéssica Sandré Leopoldino2, Alexandre Rodrigo Mendes Fernandes3,
Luis Carlos Vinhas Ítavo4, Rodrigo Gonçalves Mateus5, Andrea Roberto Duarte Lopes
Souza6, Jéssica de Oliveira Monteschio7, Audrei Juliana Fedatto8
1
Doutoranda em Ciência Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS/FAMEZ. Bolsista Capes. E-mail: hil.araujo@bol.com.br
2
Acadêmica em Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul – UFMS/FAMEZ. E-mail: jessicasandrelpo@gmail.com
3
Professor da Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Federal da Grande Dourados – FCA/UFGD
4
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul – UFMS/FAMEZ
5
Professor da Universidade Católica Dom Bosco
6
Pesquisadora – Bolsista do Programa de Desenvolvimento Regional – DCR/CNPq/FUNDECT/MS -
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS/FAMEZ
7
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Zootecnia - Universidade Estadual de Maringá– UEM
8
Acadêmica em Medicina Veterinária, Universidade Anhanguera

Resumo: A qualidade da carne é desejada e valorizada pelo consumidor e, para assegurá-la, emprega-se o
resfriamento das carcaças. Por ser um alimento perecível, a carne constitui um perigo potencial para os
consumidores à medida que pode veicular microrganismos patogênicos. É essencial a conservação da
carne e esta, pode ser feita através da combinação de vários métodos. A embalagem a vácuo é interessante
devido à barreira contra gases, em particular, a taxa de permeabilidade ao oxigênio, além da baixa
permeabilidade ao vapor d’água, barreira a aromas, alta resistência mecânica, dentre outros. Além disso,
existem processos variados de preservação da carne, assim como de suas características proteicas e
organolépticas, dentre eles, destaca-se: congelamento, maturação, processamentos térmicos, desidratação,
secagem por congelamento acelerado, cura e defumação. O uso correto dos processos de estocagem e
preservação da carne permite aumentar a “vida útil de prateleira” bem como garantir que a mesma possua
qualidade quanto às características sanitárias, microbiológicas e organolépticas.

Palavras-chave: congelamento, embalagem a vácuo, maturação, resfriamento

MEAT STORAGE AND PRESERVATION

Abstract: The meat quality is desired and valued by consumers and, to ensure its employee the cooling of
carcasses. Meat is a perishable food and can be potentially dangerous to consumers because of the
transmission of pathogenic microorganisms. It’s essential the meat preservation and it can be made
through combination of various methods. The vacuum packing is interesting because is a barrier against
gases, has low oxygen permeability rate and water vapor, is an aroma barrier, has high mechanical
strength, among others. Further, there are various methods of meat preservation, their protein and their
organoleptic characteristics, among the stands out: freezing, maturation, thermal processing, dehydration,
fast freezing and curing. The correct use of storage process and preservation of meat can increase the
shelf life and ensure their quality how the characteristics healthy, microbiological and organoleptic.

Keywords: freeze, vacuum packing, maturation, cooling

INTRODUÇÃO

A qualidade da carne é uma medida das características desejadas e valorizadas pelo consumidor. O
conceito de qualidade de carne pode ser estudado sobre diferentes aspectos, Olleta & Sañudo (2009)
agrupam em dois grandes blocos: análises instrumentais (pH, capacidade de retenção de água,
composição química, cor, textura) e análises sensoriais (odor, maciez, suculência, sabor).
Para garantir a qualidade do produto final, a carne, emprega-se o resfriamento das carcaças,
primeiramente para assegurar a segurança do alimento e para maximizar a vida útil do produto (White et

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al., 2006). Pois a carne é reconhecida como um dos alimentos mais perecíveis, além disso, consiste em
um excelente meio para a multiplicação microbiana, devido a sua alta atividade de água (Aw>0,95) e a
elevada abundância de nutrientes que estão disponíveis (Pardi et al., 2001).
Além disso, existem muitos processos bioquímicos e eventos estruturais que ocorrem nas
primeiras 24 horas após o abate, quando o músculo se converte em carne (Wheeler & Koohmaraie, 1995).
Nesse sentido, é primordial que ocorra a conservação da carne e esta, pode ser feita através da
combinação de vários métodos, todavia, devido ao elevado teor de umidade, pH próximo à neutralidade e
abundância em nutrientes, a conservação da carne torna-se mais difícil do que a conservação dos demais
alimentos (Frazier, 1993).

DESENVOLVIMENTO

Estocagem
Por ser um alimento perecível, a carne constitui um perigo potencial para os consumidores à
medida que pode veicular microrganismos patogênicos (Roça & Serrano, 1995). As bactérias gram-
negativas são as principais responsáveis pela deterioração das carnes (Gil, 2000).
Durante a estocagem aeróbia, a microbiota presente pode acelerar a descoloração pelo consumo de
oxigênio elevando a formação de metamioglobina (cor marrom) na superfície da carne (Faustman &
Johnson, 1990).
Microrganismos aeróbios causadores de deterioração na carne utilizam preferencialmente a glicose
disponível. Quando a glicose é exaurida, os organismos iniciam o catabolismo do aminoácido. Enquanto
os produtos do metabolismo da glicose são inofensivos, aqueles do catabolismo de aminoácidos, tais
como amônia, aminas e sulfetos orgânicos, resultam em odores e sabores indesejáveis, mesmo quando em
pequenas quantidades (Dainty, 1996).
Em condições anaeróbias, as bactérias ácido-láticas têm sido apresentadas como aceleradoras da
formação de metamioglobina após a abertura das embalagens. Também causar esverdeamento como
resultado da sua produção de peróxido de hidrogênio. O pigmento verde peróxido ácido de
ferrimioglobina é produzido quando a mioglobina é oxidada pelo peróxido de hidrogênio em condição
ácida. Assim como ocorre com a sulfomioglobina, o oxigênio deve estar presente para ocorrer à formação
de peróxido ácido de ferrimioglobina (Brewer, 2004).
Considerando a facilidade da carne de se deteriorar, tornou-se necessária à utilização de meios que
aumentassem sua vida de prateleira. A combinação de fatores limitantes de crescimento microbiano,
como baixa concentração de O2 e baixas temperaturas, possibilitou a prolongação por meses da vida de
prateleira da carne (McDonald & Sun, 1999).
Existem inúmeras técnicas para aumentar a vida de prateleira da carne. A embalagem a vácuo
combinada com baixas temperaturas tem se mostrado eficiente na conservação. Nestas condições
consegue-se conservar a carne por aproximadamente três meses, sendo um fator determinante para
exportação.
Embalagem a vácuo
A propriedade mais importante do material de uma embalagem a vácuo é a barreira a gases, em
particular, a taxa de permeabilidade ao oxigênio. Outras propriedades importantes são a baixa
permeabilidade ao vapor d’água (para evitar desidratação superficial, com consequente perda de peso,
descoloração e necessidade de aparas), barreira a aromas, alta resistência mecânica (para resistir às
solicitações de manuseio e transporte), boas características de soldabilidade (a fim de evitar vazamento e
consequente perda de vácuo), boa maquinabilidade, boas características de impressão e/ou transparência e
custo compatível com a aplicação, podendo ser do tipo encolhível ou não (Martins, 2006).
Quando a carne é embalada a vácuo altera-se radicalmente a atmosfera gasosa ao redor de sua
superfície. A pequena quantidade de oxigênio remanescente no interior da embalagem é consumida pela
atividade metabólica da carne e de bactérias durante armazenamento. Cria-se, assim, um microssistema
anaeróbio/microaeróbio dentro da embalagem que, auxiliado pelo efeito inibitório do CO 2 liberado na
respiração, retarda o crescimento de bactérias aeróbias deteriorantes, como as Pseudomonas (Oliveira et
al., 2006).
O efeito inibitório do CO2 manifesta-se por aumento na fase lag e no tempo de geração durante a
fase log, porém a forma como o CO2 inibe o crescimento celular não é bem conhecido. Sabe-se que o CO2
pode diminuir o pH da carne através da reação com a água e formação de ácido carbônico. A redução da
temperatura aumenta a solubilidade do CO2 no tecido muscular e na gordura da carne, assim como a

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inibição do desenvolvimento microbiano. As Pseudomonas têm seu crescimento inibido pelo CO2, sendo
que em concentrações de 20% de CO2 a taxa de crescimento é reduzida à metade quando comparada com
a que ocorre na presença de ar (Gill & Tan, 1980).
As principais bactérias ácido-láticas encontradas em carnes embaladas a vácuo são
Carnobacterium spp., Lactobacillus spp. e Leuconostoc spp. Estes organismos fermentam glicose e
alguns outros substratos presentes nas carnes e, quando esses são exauridos, o crescimento pára. Isto
ocorre normalmente quando a contagem atinge oito log/cm2, entretanto os resíduos metabólicos da
maioria das bactérias lácticas não são normalmente refutados e são identificados como sabores levemente
ácidos ou lácteos (Shaw & Harding, 1984).
A taxa de permeabilidade ao oxigênio do material de embalagem deve ser baixa, pois sua
penetração na embalagem, mesmo em pequenas quantidades, gera uma baixa pressão parcial, que
favorece a descoloração de pigmentos da carne (Oliveira et al., 2006). A permeabilidade do material pode
afetar a multiplicação microbiana, visto que, com o aumento da permeabilidade, há um acréscimo na
contagem de Pseudomonas spp e Brochothrix thermosphacta, todavia o crescimento de Lactobacillus
spp. não é afetado (Newton & Rigg, 1979; Borch et al., 1996).
A temperatura de estocagem determina a velocidade da deterioração microbiológica. Em geral,
quanto mais elevada maior será a velocidade. A temperatura de armazenamento convencionalmente
utilizada para carne embalada a vácuo é – 1,5ºC, que limita a multiplicação microbiana já que a
temperatura mínima para a multiplicação das bactérias psicrotróficas é de - 3°C (Gil, 2000).
Segundo McMullen & Stiles (1994) as baixas temperaturas de refrigeração diminuem a
multiplicação bacteriana e afetam a composição da microbiota da carne. Para a carne embalada a vácuo, a
multiplicação de Enterobacteriaceae foi reduzida drasticamente a -1,5ºC, mas estimulada a 4°C. A
composição das bactérias ácido-láticas varia com a temperatura do armazenamento; Carnobacterium spp.
dominou a microbiota da carne de porco a -1,5ºC, enquanto Lactobacillus spp. homofermentativo de 4°C
a 7°C. Usualmente, a deterioração da carne refrigerada acondicionada a vácuo, pode ser relacionada à
elevação da temperatura durante o armazenamento, podendo ou não ser observado tufamento da
embalagem.
Bueno (2005) avaliou a influência dos resfriamentos, lento e convencional, da carcaça sobre a vida
de prateleira da carne bovina embalada a vácuo e armazenada a 0ºC. Concluiu que a qualidade
microbiológica da carne bovina refrigerada mostra-se intimamente relacionada ao período de maturação e
que o número de microrganismo incrementa a medida que os dias se sucedem, especificamente em
relação às contagens de microrganismos psicrotróficos e psicrófilos. Concluiu também que, após 60 dias,
a carne refrigerada embalada a vácuo apresenta contagens elevadas que delimitam a sua vida útil.

Preservação
A carne possui um alto valor biológico, sendo indispensável na alimentação humana (Wessel,
1997). Nesse sentido, a composição química e nutricional varia conforme a espécie, manejo zootécnico,
alimentação e ambiente, além de variar em diferentes cortes da carcaça, maneira de preparo da mesma e
práticas de preservação. A composição e o valor calórico apresentam sensíveis variações entre os valores
apresentadas em carnes cruas e cozidas (Rocco, 1996).
Existem processos variados de preservação da carne, assim como de suas características proteicas
e organolépticas, dentre eles, destaca-se a refrigeração, congelamento, maturação, processamentos
térmicos, desidratação, secagem por congelamento acelerado, cura e defumação.

Refrigeração
A refrigeração é o processo mais usado para aumentar a vida útil da carne. Durante este são
empregadas temperaturas entre -1 a 5ºC. Assim a temperatura das câmaras frigoríficas deve ser de -4 a
0ºC e no ambiente a temperatura não pode passar de 3ºC (Roça, 2000).
Segundo Roça (2000), existem três métodos de resfriamento: o usual, rápido e super-rápido ou
shock. No método usual deve-se manter a temperatura da câmara fria de zero a 4ºC. No método rápido a
temperatura da câmara frigorífica fica em torno de -1 a 2ºC, apresentando umidade relativa (UR) de 85-
90% e 2 a 4m/s sendo a velocidade de circulação de ar. No método super-rápido ou shock, as carcaças
permanecem por 2 horas em “pré-câmaras” sob temperaturas de -8 a -5ºC, UR de 90%, e 2 a 4 m/s de
velocidade de circulação de ar, após, vão para câmara fria a 0ºC, UR de 90% e 0,1m/s de velocidade de
circulação de ar.

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No processo de resfriamento pode ocorrer evaporação de água, considerando que não deve ocorrer
ressecamento superficial (Lawrie, 2005). Segundo Van der Wal et al. (1995), a utilização do resfriamento
super-rápido pode provocar o “encurtamento pelo frio”, ou seja, a temperatura do músculo é reduzida em
10ºC a 15ºC, ainda no momento de pré-rigor (pH em torno e 6,0 a 6,4). Dessa forma, a temperatura
mantida em 15ºC por meio do resfriamento rápido da carne pode evitar o encurtamento pelo frio,
permitindo o acontecimento do rigor mortis (Lawrie, 2005).

Congelamento
A velocidade do processo de congelamento é um fator importante para a qualidade final do
produto. No congelamento lento há remoção de água das células e grandes cristais de gelo são formados,
podendo ocorrer danos físicos aos tecidos e paredes celulares.
Desse modo, durante o processo de congelamento, a estrutura dos tecidos pode ser rompida,
provocando exsudação e perda de líquidos ocasionando reações indesejáveis que resultam no
desenvolvimento de aroma e sabores indesejáveis, redução do valor nutricional e, principalmente,
alterações na textura e aparência dos alimentos após o descongelamento. No congelamento rápido os
cristais de gelo formados são menores e a qualidade final do produto tende a ser superior.
O congelamento não destrói completamente a microflora do produto, mas o número de células
viáveis é reduzido durante o processo e armazenagem. Imediatamente após o congelamento, a eficiência
da eliminação de microrganismos varia de acordo com a espécie, sendo que as células que continuam
viáveis logo após o congelamento vão, gradualmente, tornando-se inviáveis durante o armazenamento
(Sarantópoulos et al., 2001).
O declínio no número de microrganismos viáveis é relativamente rápido a temperaturas abaixo do
ponto de congelamento (principalmente em torno de -2 ºC), mas é menor a temperaturas inferiores, sendo
bastante lento a temperaturas inferiores a -20ºC (Sarantópoulos et al., 2001).
O congelamento é um meio para prolongar a vida útil de carnes e derivados, pois à medida que a
temperatura é reduzida as reações físicas, químicas e bioquímicas que acarretam alterações sensoriais
nestes produtos passam a ocorrer em baixa velocidade, apesar de não serem completamente paralisadas
mesmo quando o alimento é armazenado a -30 ºC. Ao mesmo tempo, parte dos microrganismos
deterioradores deixa de se multiplicar, sendo que a maioria das bactérias e fungos para de se desenvolver
a -8 ºC, e parte são destruídas (Paine & Paine, 1983).
De modo geral, os produtos cárneos congelados possuem, como parâmetro de qualidade, o grau de
desnaturação proteica que ocorre durante o armazenamento. Com a desnaturação, as proteínas perdem a
capacidade de reter água, o que irá alterar a textura da carne após o descongelamento e suas propriedades
funcionais (Ardito, 1994).
Além da desnaturação de proteínas, podem ocorrer nos produtos cárneos congelados, desidratação
da superfície, oxidação de gordura e alterações na cor (Sarantópoulos et al., 2001).
A desidratação superficial ou queima pelo frio (freezer burn) ocorrer quando o produto perde
umidade para o ambiente de estocagem através da embalagem. A queima pelo frio prejudica o aspecto da
carne, ressecando sua superfície, comprometendo sua coloração, sabor e textura, além de acarretar perda
de peso (Karel et al., 1975).
A cor da carne congelada é influenciada pelo processamento, material de embalagem, velocidade
de congelamento e condições de armazenamento como a temperatura, tempo e luz. Flutuações de
temperatura também podem comprometer a cor da superfície de aves rapidamente congeladas
(Sarantópoulos et al., 2001).

Maturação
A maturação é um processo pós-abate que ocorre na carne durante o armazenamento, com o
intuito de favorecer a maciez, sabor e aroma. Segundo Arima (2006), para que ocorra uma maturação
correta, é importante que se tenha uma acidificação adequada da carne com pH final entre 5,4 e 5,8, não
podendo ser superior a 6.
Uma maturação é ótima quando se detectam 1,5 a 2,0 de hipoxantina/g. A importância deste
composto no desenvolvimento do aroma da carne foi demonstrada ao aquecer a hipoxantina junto com
glicoproteína que contem alanina e glicose. A maturação aumenta a quantidade de proteína solúvel e isto
é atribuída a degradação das proteínas sarcoplasmáticas, pois as miofibrilas não se romperiam ate se
tornarem solúveis. Esta degradação de proteínas a peptídeos e aminoácidos e a liberação de íons sódio e

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cálcio do reticulo sarcoplasmático fazem aumentar o pH e a condutividade elétrica na carne, o que faz
aumentar a suculência da carne maturada (Arima, 2006).
Nesse sentido, a maturação aumenta a capacidade de retenção de água diminuindo assim as perdas
de peso por cozimento, que podem então estar relacionadas com o grau de gelatinização do colágeno e a
exposição do músculo a proteases degradativas, que provocam danos no tecido conectivo intramuscular e
na membrana básica envolvendo os tecidos, deste modo, limitando a habilidade do colágeno encolher
com o aquecimento e, portanto, diminuindo as perdas por cozimento (Oliveira et al., 1998).

Processamento térmico
A contaminação microbiana não está presente em carnes curadas pasteurizadas. É importante que
as carnes utilizadas em semiconservados sejam refrigeradas antes do enlatamento, tendo pouca
quantidade de bactéria, proveniente do animal ou do processo de abate. Os ingredientes como especiarias,
condimentos, sais de cura, açúcar, leite em pó devem ser estéreis (Lawrie, 2005).
Grande parte das carnes enlatadas é estéril, significando que foi inativado a maioria dos
microrganismos, juntamente com seus esporos. A carne enlatada, depois de esterilizada, é mais parecida
com a carne cozida. Em excesso, o tratamento térmico deteriora a qualidade sensorial e a aparência do
produto (Lawrie, 2005). Apresenta coloração parecida com a carne cozida também, assim temperaturas
altas modificam a mioglobina para mioemocromogênio marrom (Lemberge & Legge, 1949).

Desidratação
A desidratação é o método mais antigo de conservação e consiste em reduzir a quantidade de água
presente em um alimento, podendo ser realizado de diversas maneiras (Hayes, 1993). Ao eliminar parte
da água presente, os nutrientes hidrossolúveis concentram na água residual, evitando assim, o crescimento
de microrganismos.
A temperatura da carne permanece baixa até que metade da umidade já tenha sido retirada e, neste
mesmo ponto que um conteúdo de gordura relativamente alto começa retardar a velocidade de secagem,
embora tenha pouca influencia inicialmente. Isso resulta em grave aumento no tempo de desidratação se o
conteúdo de gordura se encontrar acima de 35% do peso seco. Quando ela ocorrer acima de 40% do peso
seco, a textura esponjosa da carne seca não pode manter por muito tempo a gordura fundida e ela acaba
por sair (Sharp, 1953; Prater & Coote, 1962).
Segundo Sharp (1953), para a estocagem prolongada, a carne desidratada pode ser comprimida
para excluir bolsas de ar ou de umidade e ser mantida em recipiente a prova de umidade e ar, de
preferência uma lata de folha de flandres. Assim a restrição de oxigênio irá manter o odor e o sabor da
carne desidratada por 12 meses ou mais.
Na ausência de oxigênio, as principais mudanças durante a estocagem são causadas pela reação de
Maillard, na qual os grupos carbonilas dos açúcares redutores reagem não-enzimaticamente com os
aminogrupos das proteínas e com os aminoácidos. Desenvolve-se coloração marrom escura e sabor de
queimado, amargo (Henrickoson et al., 1955; Sharp,1957).
A umidade da carne desidratada é baixa, não permitindo o crescimento de microrganismos, mas se
esta aumentar acima de 10%, pode ocorrer o crescimento de fungos após algumas semanas (Aspergillus e
Penicillium ssp.) (Lawrie, 2005).
De maneira geral, os alimentos que sofrem desidratação devem ser aquecidos a uma temperatura
em que o crescimento de microrganismos não possa ocorrer antes que a umidade tenha decrescido a um
nível suficiente.

Secagem por congelamento acelerado


A secagem por congelamento acelerado permite a secagem por meio de congelamento de carne
crua, em quatro horas o teor de umidade pode ser reduzido até 2% (Brynko & Smithies, 1956), todavia,
esse processamento pode causar alguma mudança na carne.
Nesse processo existe alguma perda da capacidade de retenção da água atribuível ao efeito da
temperatura da placa sobre as proteínas sarcoplasmáticas e miofibrilares, nos quais a glicose post mortem
tem sido muito rápida ou o pH final foi muito anormalmente baixo. As diferenças entre os músculos com
pH baixo ou alto são mantidos após a secagem por congelamento. Isso ocorre também em fácil
reconstituição dos músculos desidratados e organolepticamente, pela ausência de textura de aspecto
lenhoso (Penny et al., 1963 e 1964).

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O processo de secagem por congelamento acelerado remove toda água do músculo, unida ao acaso
ou condensada em capilares e muita água ligada quimicamente, desde que o conteúdo de umidade
residual no produto seco pelo congelamento, esta em torno de 2,5g de água/100g de proteína seca (Hill,
1930; Hamm, 1960).
Em comparação com a carne congelada fresca, a seca pelo congelamento acelerado possui maciez
e suculência um pouco inferiores (Penny et al., 1963). Do ponto de vista nutritivo, a secagem pelo
congelamento não altera o valor biológico das proteínas da carne (Hanson, 1961).

Cura
Segundo Roça (2000), a cura a seco constitui na aplicação dos agentes de cura na forma seca sobre
a superfície da carne, é um processo lento, em contrapartida, tem a cura por imersão em salmoura, no qual
as peças são submersas na solução formada pelos componentes de cura dissolvidos em água. A cura por
injeção de salmoura é injetada por via arterial ou intramuscular em diversos pontos, esse método é muito
utilizado na indústria para cura de bacon e presunto.
Quando a carne é colocada na salmoura de cura, os músculos mais externos são expostos às
concentrações mais altas de sal do que aquelas estabelecidas quando o equilíbrio entre a carne e salmoura
é atingido (Knigth & Parsons, 1988).
As concentrações de sal da salmoura, o tempo de contato com a carne e a estrutura da musculatura,
afetam a penetração do sal durante a cura. Com aumento da temperatura ocorre um incremento na
velocidade de penetração da salmoura, todavia, pode-se aumentar o risco de contaminação por
microrganismos (Callow, 1934; Wistreich et al., 1959; Holmes, 1960; Henrickson et al.,1969).
Uma concentração suficiente de sal inibe o crescimento microbiano, mas outras bactérias,
leveduras e fungos, são capazes de crescer dentro de uma concentração salina elevada, ate o ponto de
saturação, são denominados de halotolerantes, onde são encontradas muitas espécies de micrococos e
Bacillus e aumenta a pressão osmótica do alimento, com redução na atividade da água. O sal em baixas
concentrações faz com que a carne inche e retenha água, mas em altas concentrações, as proteínas são
precipitadas e retém menos água. Teores de 3 a 4% de sal no produto se aproximam do limite para muitos
consumidores. O sal deve ser evitado em carne fresca a ser congelada, pois atua como pró-oxidante,
formando o ranço oxidativo e a cor marrom indesejável (Roça, 2000).
O óxido nitroso é o principal produto de decomposição do nitrito, juntamente com o nitrito na
reação de cura. Em presença do nitrito e outros subprodutos de reação deste composto, os pigmentos da
carne pode sofrer alterações que dependem de fatores intrínsecos (potencial de óxido-redução, pH,
atividade enzimática) e extrínseco (aquecimento, aditivos e acidificação). Como o nitrito é um agente
oxidante da mioglobina, a reação inicial consiste na conversão da mioglobina e oximioglobina em
metamioglobina. O nitroso hemocromo é o pigmento final que devem estar presente em todas as carnes
curadas submetidas ao aquecimento. Esta reação implica na desnaturação da parte proteica da mioglobina
(Roça, 2000).

Defumação
A defumação exerce efeito bacteriostático que juntamente as baixas temperaturas de estocagem e
dos aditivos asseguram maior tempo na “vida de prateleira”. As características organolépticas peculiares
ao processo de defumação se devem à composição química da fumaça, constituída por fenóis, aldeídos,
cetonas, ácidos orgânicos, hidrocarbonetos policílicos, alcatrão entre outros (Rocco, 1996).
A fumaça, geralmente produzida pela combustão lenta de serragem derivadas de madeiras duras,
inibe o crescimento bacteriano, retarda a oxidação lipídica e confere odor e sabor a carne curada (Callow,
1934).
De acordo com Roça (2000), três razões são conhecidas para defumação da carne: a) preservação:
a carne defumada esta sujeita a menor contaminação do que a carne que não passou pelo processo de
defumação; b) aparência: a cor da carne após a defumação é bastante atrativa; c) flavor: é possível que a
carne reaja com a fumaça para formar compostos flavorizantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso correto dos processos de estocagem e preservação da carne permite aumentar a “vida útil de
prateleira” bem como garantir que a mesma possua qualidade quanto às características sanitárias,
microbiológicas e organolépticas. É primordial que seja ofertado ao consumidor um produto de qualidade

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e livre de quaisquer riscos à saúde. Nesse sentido, é fundamental que os processos de estocagem e
preservação sejam direcionados da melhor maneira possível, resultando num produto com qualidade
satisfatória.

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ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO, ANTIOXIDANTES, E SUAS


CONSEQUÊNCIAS NA QUALIDADE DO SÊMEN BOVINO

Fernando Henrique Garcia Furtado1, Caroline Eberhard Buss2, Francisco Manuel


Junior2, Fernanda Hvala de Figueiredo2, Willian Vaniel Alves dos Reis2, Eder Cristian
Queiroz Serrou da Silva2, Tainara Candida Ferreira2, Tailisa de Souza Silva2, Thycianne
Rodrigues de Aguilar2, Zelina dos Santos Freire2, Deiler Sampaio Costa3, Fábio José
Carvalho Faria3
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. E- mail:
Fernando_henrique_brs@hotmail.com
2
Núcleo de Produção e Reprodução Animal – FAMEZ/ UFMS
3
Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS

Resumo: As biotecnologias da reprodução têm cada vez mais se tornado de fundamental importância
para o desenvolvimento da pecuária. Para isso, é necessário, na maioria das vezes, a utilização de sêmen
congelado, o que faz com que a qualidade do sêmen e do seu processo de criopreservação sejam
imprescindíveis. Dessa forma, o conhecimento das espécies reativas de oxigênio, seu papel na fisiologia
espermática, danos associados ao seu excesso, e antioxidantes capazes de neutraliza-las se torna uma
ferramenta fundamental para o sucesso da utilização das biotecnologias, assim como as substâncias que
podem ser adicionadas aos meios de criopreservação, a fim de se obter uma melhor taxa de fertilidade do
sêmen. Essa revisão foi feita com o objetivo de apresentar as principais espécies reativas do oxigênio,
seus efeitos benéficos e maléficos, substancia antioxidantes produzidas pelos espermatozoides, ou
presentes no plasma seminal, assim como investigar os possíveis efeitos da adição de antioxidantes nos
meios de criopreservação do sêmen bovino.

Palavras chaves- bovinos, espermatozoide, estresse oxidativo

REACTIVE OXYGEN SPECIES, ANTIOXIDANTS, AND ITS CONSEQUENCES IN THE


QUALITY OF BULL SPERM

Abstract: The reproduction technologies have increasingly become of fundamental importance for the
development of livestock. For this, it is necessary, in most cases, the use of frozen semen, where both the
quality of semen and its cryopreservation process are essential. Thus, knowledge of reactive oxygen
species, their role in sperm physiology, damage associated with its excess, and antioxidant able to
neutralize them becomes an essential tool for the successful use of biotechnology as well as substances
that can be added to the cryopreservation media in order to obtain a better rate of fertility of the semen.
This revision was made in order to present the main reactive oxygen species, its beneficial and harmful
effects, antioxidant substance produced by sperm, or present in seminal plasma, as well as investigate the
possible effects of adding antioxidants in semen cryopreservation media bovine.

Keywords- cattle, sperm, oxidative stress

INTRODUÇÃO

As biotecnologias da reprodução, em especial a inseminação artificial (IA) e a produção in vitro


(PIV), tem cada vez mais se tornado essencial para a reprodução bovina, tendo como principais
vantagens: melhoramento do rebanho em um menor espaço de tempo, padronização do rebanho,
utilização de touros comprovados, utilização de sêmen de touros mortos, entre outras. Para a realização
dessas biotecnologias, é necessário a utilização de sêmen, na maioria das vezes, congelado. Para isso, o
sêmen deve ser de boa qualidade, e o processamento pelo qual ele irá passar deve preservar ao máximo
essa qualidade. O processo de congelamento e descongelamento diminui o número de espermatozoides

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viáveis (Watson, 1995), portanto, qualquer outro processo ou substância que possa minimizar essa perda,
fará com que se obtenha melhores resultados de fertilização.
O espermatozoide é basicamente constituído de núcleo, microtúbulos condensados, fibras e
estruturas membranosas, tendo essas estruturas respostas diferentes em relação ao choque térmico e
criopreservação (Magnago, 2000).
A membrana plasmática envolve todo o espermatozoide, tendo na sua composição ácidos graxos
predominantemente poli-insaturados e proteínas (Scott, 1973). Durante a transição da fase fluída para a
fase sólida, alguns fosfolipídios sofrem alterações que levam a um aumento da permeabilidade da
membrana, com o estabelecimento de canais que permitem a entrada de ións e pequenas moléculas,
podendo desestabilizar a membrana, causando danos irreparáveis, levando até sua inviabilidade (Watson,
1995).
A capacitação espermática é um processo necessário para que ocorra a fertilização, sendo
constituído de alterações de membrana, tornando o espermatozoide capaz de realizar a reação acrossomal
quando expostos a zona pelúcida do oócito (Bleil & Wassarman, 1983).
Apesar das espécies reativas de oxigênio (EROS) serem consideradas prejudiciais ao
espermatozoide, o ânion superóxido, em quantidades controladas, é necessário para processos de
capacitação, e o peróxido de hidrogênio tem função relacionada a indução da reação acrossomal do sêmen
bovino (O’Flaherty et al., 1999). Portanto, o processo de capacitação, o qual termina com um evento de
exocitose, chamado reação acrossomal, é por si só um processo oxidativo (De Lamirande & Ganon,
1993). Fazem parte do processo de capacitação: diminuição da relação colesterol/fosfolipídio espermático
na superfície (Thérien et al., 1998; Flesch & Gadella, 2000) o que faz com que haja um aumento da
fluidez da membrana; influxo de ións de cálcio; aumento do AMP cíclico e modificações de algumas
atividades enzimáticas, principalmente a proteína quinase C (Bailey & Buhr, 1993; O’Flaherty et al.,
1999; Bilodeau et al., 2000).
Quimicamente, as EROS, algumas vezes chamadas de radicais livres, são átomos, moléculas ou
ións que apresentam um elétron desemparelhado na sua última camada, ou seja, número ímpar de elétron,
sendo portanto reativos e instáveis, tendo que se ligar a outro elétron para alcançar a estabilidade (Souza
& Ferreira, 2007). Essas EROS podem ser formadas por fontes externas de energia (luz, calor e radiação),
metabolismo (resultantes da respiração celular), reações catalisadas por metais (ferro e cobre) ou através
de enzimas. As espécies reativas de oxigênio mais conhecidas são: superóxido, peróxido de hidrogênio e
hidroxila, os quais são capazes de causar injúrias às membranas lipídicas, proteínas trans membranas e
carboidratos, podendo dessa forma danificar o DNA (Ochsendorf, 1999).
A maior produção de EROS ocorre na mitocôndria, onde em circunstâncias normais, o oxigênio é
transformado em água, e a energia armazenada para produção de ATP. Porém, durante esse processo,
uma pequena porcentagem de oxigênio consumido pela mitocôndria é convertida em EROS, em vez de
água (Barja, 2007).
A peroxidação lipídica é uma consequência do estresse oxidativo, sendo que o grau dessa oxidação
é maior quanto mais insaturado for o lipídio (Araújo, 2001). Como a membrana espermática é rica em
ácidos graxos poli-insaturados (Baumber et al., 2000), torna-se altamente sensível a oxidação lipídica
causada pelas espécies reativas de oxigênio (Ochsendorf, 1999).
A maioria dos seres vivos possuem um sistema de proteção contra o excesso das EROS, chamado
de sistema antioxidante, sendo esse composto por um sistema enzimático e um não enzimático. Porém,
em situações de depleção das enzimas antioxidante, ou de aumento na produção de EROS, como ocorre
no processo de criopreservação do sêmen bovino, o balanço fisiológico entre oxidante/anti-oxidante é
perdido, ficando mais para o lado oxidante, resultando no estresse oxidativo e consequente lesão e
inviabilidade espermática.
O objetivo da presente revisão foi apresentar as principais substâncias oxidantes e antioxidantes
presentes no sêmen bovino, assim como fazer um apanhado dos principais aditivos antioxidantes
utilizados no diluidor para se obter uma criopreservação de melhor qualidade.

DESENVOLVIMENTO

Espécies reativas de oxigênio


A mitocôndria é o principal local de produção de EROS através da respiração celular, por meio da
fosforilação oxidativa (Barja, 2007). Portanto, um processo de fundamental importância para o

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desenvolvimento do organismo dos eucariotos, é também um dos principais responsável pela produção
das EROS.
A formação dos radicais e não radicais derivados do metabolismo do oxigênio exerce um
importante papel em vários processos metabólicos, essenciais para o adequado funcionamento do
organismo. Eles são dose dependentes e, quando em baixas concentrações, são responsáveis pelo
transporte de elétrons na cadeia respiratória, atuando como moléculas sinalizadoras (Downling &
Simmons, 2009). As EROS passam a ser prejudiciais ao organismo quando ocorre um aumento excessivo
na sua produção ou quando há diminuição de agentes oxidantes.
Em condições normais do metabolismo celular aeróbico, o oxigênio molecular sofre redução
tetravalente, com aceitação de quatro elétrons, resultando na formação de água. Durante esse processo são
formados intermediários reativos como: os radicais superóxido e hidroxila, e o não radical peróxido de
hidrogênio (Ferreira & Matsubara, 1997).
O radical superóxido é formado a partir do oxigênio molecular pela adição de um elétron. Na
membrana mitocondrial é formado através da cadeia respiratória, podendo ser formado também por
flavoenzimas, lipoxigenases e cicloxigenases. É um radical pouco reativo, não tendo a capacidade de
atravessar membranas lipídicas, tendo sua ação apenas no compartimento onde é formado (Nordberg &
Arnér, 2001).
O radical hidroxila é considerado o mais reativo em sistemas biológicos, sendo capaz de causar
mais danos do que qualquer outra ERO. Sua formação ocorre a partir do peróxido de hidrogênio, em uma
reação denominada reação de Fenton, sendo os ións metais de ferro e cobre os catalizadores dessa reação
(Ferreira & Matsubara, 1997; Nordberg & Arnér, 2001). Este radical também é responsável por iniciar a
oxidação dos ácidos graxos poli-insaturados das membranas celulares, processo esse chamado de
lipoperoxidação.
O peróxido de hidrogênio, apesar de não ser um radical livre, é um metabolito do oxigênio
extremamente deletério, pois participa na reação de Fenton como precursor da hidroxila. Além disso tem
uma vida longa e é capaz de atravessar membranas. É formado a partir da dismutação do superóxido pela
superóxido dismutase (Ferreira & Matsubara, 1997; Nordberg & Arnér, 2001).

Estresse oxidativo e o espermatozoide


Apesar das EROS exercerem um papel fisiológico no espermatozoide de fundamental importância
para a fertilização, é necessário que haja um equilíbrio entre sua geração e a atividade antioxidante.
O estresse oxidativo pode ocorrer devido a um aumento na produção de EROS, ou diminuição da
atividade enzimática antioxidante. Essa quantidade excessiva de EROS causará danos à membrana
plasmática, acrossoma, mitocôndria e DNA (Halliwell, 1999).
Uma maior produção de EROS foi associada a espermatozoides imóveis, funcionalmente e
morfologicamente anormais (Gomez et al., 1998). O principal defeito espermático associado a maior
produção de EROS foi a gota citoplasmática proximal. Espermatozoides apresentando esse defeito tem
uma maior quantidade de citoplasma, o que provavelmente leva a uma maior capacidade dessas células
em produzirem NAPH (nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato reduzido), a qual serve como doadora
de elétrons na produção de EROS (Gomez et al., 1998).
Uma outra fonte de produção de EROS no sêmen seria a presença de leucócitos no mesmo. Em
1994, Buckingham e colaboradores, observaram uma grande quantidade de EROS em amostras de sêmen
contaminadas com leucócitos, sendo que a fusão no espermatozoide ao oócito foi inibida nesses casos.
O sêmen de bovino, quando comparado ao de humano, garanhão e bode, tem um baixo grau de
peroxidação lipídica. Porém, quando compara-se o semên in natura ao sêmen congelado, é observado
uma maior oxidação dos lipídios nesse (Trinchero et l., 1990). Sabe-se que o processo de criopreservação
induz a produção de EROS (Watson, 2000), além de que o congelamento e descongelamento promovem
um decréscimo dos níveis de antioxidante, levando a um quadro de estresse oxidativo no sêmen (Bilodeu
et al., 2000).

Antioxidantes
O espermatozoide é uma célula altamente sensível ao estresse oxidativo, não só pelo fato de ter sua
membrana com um alto grau de ácidos graxos poli-insaturados, mas também devido ao fato de ter um
citoplasma extremamente pequeno e consequente redução na concentração de enzimas antioxidantes, em
comparação a outras células (Nichi et al., 2007). Para compensar essa deficiência de produção enzimática,

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o plasma seminal possui uma série de antioxidantes, tanto enzimáticos quanto não enzimáticos (Drevet,
2004).
O sistema enzimático é composto basicamente pela: superóxido dismutase, que remove o
superóxido, convertendo-o em peróxido de hidrogênio; catalase, a qual converte o peróxido de hidrogênio
em água e oxigênio; e a glutationa peroxidase, que catalisa a reação que utiliza a glutationa reduzida
como substrato na degradação do peróxido de hidrogênio (Araújo, 2001). Essas enzimas podem ser
encontradas tanto no plasma seminal, quanto no próprio espermatozoide. No plasma seminal de bovinos,
foram encontradas a superóxido dismutase, a glutationa peroxidase e baixos níveis da catalase. Já no
espermatozoide, foi encontrada principalmente a superóxido dismutase, e baixos níveis de glutationa
peroxidase. Essa ausência da catalase no espermatozoide bovino difere de outras espécies, como homem e
ovino, onde ela é encontrada (Bilodeau et al., 2000). Durante o processo de criopreservação do sêmen
bovino, as concentrações de glutationa e superóxido dismutase são reduzidas significativamente, o que
prejudica a atividade antioxidante desse sêmen, já que essas duas enzimas são as principais responsáveis
pela desintoxicação das EROS em bovinos (Bilodeau et al., 2000; Beconi et al., 1993)
Além do sistema antioxidante enzimático, o plasma seminal contém diversos antioxidantes não
enzimáticos como o ácido ascórbico (Vitamina C), α-tocoferol (Vitamina E), taurina, hipotaurina e
piruvato (Józwik et al., 1997; Phang, 2000). Dentre eles, os com mais relevância na reprodução, e que
vêm sendo alvo de vários estudos quanto a sua utilização em meios de criopreservação, são a vitamina C
e a vitamina E (Andrade et al., 2010).
A vitamina C, ou ácido ascórbico, faz parte dos antioxidantes secundários (ou sinérgico), sendo
esse grupo classificado como removedores de oxigênio e complexantes (Araújo, 2001). Ele é
hidrossolúvel, e tem uma grande importância, pois além de participar da regeneração da vitamina E, atua
destruindo os radicais livres, sendo considerado um agente redutor devido a sua capacidade em doar H +
(Fragra et al., 1991).
Vitamina E é o nome dado a um grupo de tocoferóis biologicamente ativos derivados de
componentes presentes nos vegetais, sendo a forma α-tocoferol a que apresenta a maior atividade
metabólica e biológica no organismo (Hatamoto, 2004). Ele é lipossolúvel, e está presente em membranas
biológicas (Mates, 2000). Este antioxidante age pela interceptação das EROS, quebrando a reação de
formação dos radicais livres resultando em produtos não radicais, ou seja, sem elétrons desemparelhados
na última camada eletrônica (Sies, 1993).
Sabe-se que a vitamina E protege os ácidos graxos poli-insaturados presentes na membrana contra
a peroxidação lipídica (Bradford et al., 2003), e diversos trabalhos vêm demonstrando que tanto o
tratamento sistêmico, quanto do próprio sêmen com vitamina E, tem provocado um efeito protetor contra
a peroxidação lipídica causada pelas EROS (Hatamoto et al., 2006; Barnabe et al., 2012).

Diluidores e criopreservação
Devido à grande necessidade de utilização de sêmen bovino congelado, muitos estudos têm
utilizado antioxidantes acrescidos aos meios de congelamento com o objetivo de minimizar as perdas de
espermatozoides nesse processo, desenvolvendo assim um meio que permita a preservação da motilidade
e da integridade da membrana plasmática espermática, estabilize o pH do meio, neutralize produtos
tóxicos, proteja os espermatozoides contra o choque térmico, atue como fonte de energia e ainda iniba o
crescimento bacteriano (England, 1993).
É necessário que os meios diluidores tenham um sistema tampão, capaz de neutralizar os ións de
hidrogênio produzidos pelo metabolismo dos espermatozoides, fazendo com que a solução tenha um pH
próximo a neutralidade (6,8 a 7,1), sendo esse o pH ideal para os espermatozoides. Os meios tampões
mais utilizados são o citrato e o Tris (Tris-hidroximetil aminomenato). Como fonte energética exógena
são utilizados açucares, sendo o espermatozoide capaz de metabolizar glicose, frutose e manose, sendo
muitas vezes adicionado antibiótico ao meio diluidor (penicilina e estreptomicina).
Os crioprotetores podem ser divididos em intracelulares e extracelulares (Amann & Pickett, 1987).
Os intracelulares são pequenas moléculas que atravessam a membrana plasmática, podendo atuar no meio
intracelular e extracelular, sendo que os mais conhecidos são: glicerol, etilenoglicol, acetamida e
dimetilsulfóxido. Já os extracelulares são compostos por grandes moléculas, como as proteínas do leite e
gema do ovo, açucares como lactose, rafinose, trealose e metilcelulose, não tendo a capacidade de
atravessar a membrana plasmática (Pickett & Amann, 1993).
A gema de ovo, principalmente a fosfatidilcolina (lecitina), possui ação protetora sobre
membranas celulares. Essa proteção ocorre devido a interação dos fosfolipídios da gema de ovo com os

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da membrana espermática, por meio da ocupação de sítios específicos na superfície dessas membranas.
Por isso, o seu uso é bem difundido no preparo de diluidores de várias espécies com o intuito de proteger
a membrana dos espermatozoides durante o processo de congelamento (England, 1993; Watson, 1995).
Com o intuito de diminuir o estresse oxidativo causado pelo processo de congelamento do sêmen,
alguns antioxidantes têm sido adicionados ao meio, podendo destacar principalmente a vitamina C e E.
Nichi e colaboradores, em 2009, adicionou vitamina C ao meio de criopreservação de espermatozoides
bovinos colhidos do epidídimo, e observou um efeito protetor em relação à atividade mitocondrial. Fraga
e colaboradores, em 1991, observou que uma suplementação com vitamina C promoveu efeito protetor
contra danos oxidativos do DNA espermático humano.
Existem controvérsias em relação ao efeito do tratamento com vitamina E, tanto em amostras de
sêmen quanto do próprio animal. Provavelmente, as diferenças entre os resultados benéficos e maléficos
da sua utilização se deve ao fato das diferentes concentrações do antioxidante utilizadas nos trabalhos,
pois como já foi dito, as EROS exercem um importante papel na fisiologia espermática, e um excesso de
antioxidante poderia prejudicar essa ação (De Lamirande et al., 1997).
Amostras espermáticas epididimárias de bovinos, tratadas com vitamina E nas concentrações de
0,5 e 1,5 mM, promoveram um efeito deletério da motilidade. Já em 1991, Beconi e colaboradores
sugeriram que o tratamento com vitamina E promoveu um efeito positivo na motilidade espermática de
bovinos. Além disso, diversos trabalhos têm demonstrado que o tratamento tanto de animais, quanto de
amostras espermáticas com vitamina E, exerce efeito protetor contra a peroxidação lipídica causada pelas
EROS (Hatamoto et al., 2006; Barnabe et al., 2012).
A associação entre vitamina C, E e equex, não alterou a motilidade do sêmen bovino congelado
após o descongelamento, porém a avaliação da integridade funcional e estrutural da membrana plasmática
diferiram positivamente quando comparados ao controle (Borges, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A preparação de um diluidor com substâncias que forneçam uma fonte de energia ao


espermatozoide, proteja sua membrana, e seja capaz de manter o equilíbrio entre a produção de espécies
reativas de oxigênio e a neutralização dessas por substâncias antioxidantes no processo de
criopreservação do sêmen, traria uma grande melhora aos índices de fertilidade resultantes da utilização
de biotecnologia da reprodução, como a IA e a PIV. Para isso, mais estudos devem ser feitos com o
objetivo de avaliar a utilização, principalmente, de substâncias antioxidantes aos meios de
criopreservação para se obter um diluidor com o máximo de eficácia possível, diminuindo as perdas de
espermatozoides durante seu processamento.

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MANEJO DOS SUÍNOS NO FRIGORÍFICO: DO DESEMBARQUE AO ABATE

Luciana Moura Rufino¹, Sydney Gonçalves Lopes², IzabelaCruvinel de Castro², Rodrigo


Caetano de Abreu³,Gabriela Puhl Rodrigues³, Stephan Alexander da Silva Alencar³, Kelly
Carvalho4 Charles Kiefer5

¹ Bolsista DCR FUNDECT, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de


Mato Grosso do Sul. E-mail: rufinolu@hotmail.com
² Mestrandos em Zootecnia, Escola de Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Goiás. E-mail:
sydneyzootecnista@hotmail.com; izabelazootecnia@hotmail.com
³ Mestrandos em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. E-mail: rodrigo.caetano_8@hotmail.com; gabrielapuhl@hotmail.com;
stephan.alencar@hotmail.com
4
Doutoranda em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul.
5
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. E-mail: charles.kiefer@ufms.br

Resumo: Diversos fatores como genética, nutrição, manejos na granja, embarque, transporte,
desembarque, período de descanso no abatedouro, manejo imediatamente antes do abate e o método de
atordoamento dos animais influenciam nos aspectos qualitativos do produto final, a carne.No entanto, o
principal contribuinte para a carne de má qualidade é o manejo pré-abate. Este, quando feito de maneira
incorreta, pode causar danos conhecidos como carnes PSE (pale, soft e exudative: carne pálida, mole e
exsudativa) e DFD (dark, firm e dry: carne escura, firme e seca), o que pode comprometer a vida de
prateleira e gerar prejuízos à indústria. A adoção de técnicas corretas para o manejo pré abate, além de
promover carne de qualidade, garante também o bem-estar dos animais e atende às necessidades do
consumidor que se tem mostrado bastante exigente.

Palavaras-chave: bem-estar, carne suína, exigência, qualidade, rendimento

MANAGEMENT OF PIGS IN THE REFRIGERATOR: LANDING OF SLAUGHTER

Abstract: Several factors such as genetics, nutrition, handling on the farm, loading,
transportation, unloading, resting period at the slaughterhouse, managementimmediately before
slaughter and animal stunning method, influence on the qualitative aspects of the final product, the
meat. However, the main contributor to the poor quality of meat is handling pre slaughter of
animals. This, when done incorrectly, cause damage known as PSE meat (pale, soft
andexudative) and DFD (dark meat, firm and dry), which may compromise the shelf life and
generate losses for industry. The adoption of correct techniques for pre slaughter management, and
promote quality meat, also ensures animal welfare and meets consumer demand that has shown quite
critical.

Keywords: welfare, pig meat, demand, quality, performance

INTRODUÇÃO

A qualidade da carne é o resultado da interação dos fatores de longo prazo, dentre as quais: a
genética, nutrição, práticas de criação e de manejo junto aos fatores de curto prazo, como jejum, as
condições de manejo na granja, embarque, transporte, desembarque, período de descanso no abatedouro,
manejo imediatamente antes do abate e do método de atordoamento dos animais. Dessa forma, é possível
verificar que a cadeia da qualidade da carne é longa e certamente, no percurso da “granja a mesa”, tem
influência de muitas variáveis, sendo o principal desafio das indústrias de carnes de suínos (Araújo,
2009).
Quando o manejo pré-abate não é feito corretamente pode desencadear carcaças com anomalias,
conhecidas, como carnes PSE (pale, soft andexudative: carne pálida, mole e exsudativa) e DFD (dark,

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firmanddry: carne escura, firme e seca). Essas são frequentemente rejeitadas pelos consumidores e
comerciantes, devido à cor ser pouco atrativa e pela indústria de transformação devido a problemas na
industrialização das mesmas (Araújo, 2009).
Conforme Silveira (2010), os fatores estressores que ocorrem no manejo pré-abate e o jejum
alimentar afetam negativamente a qualidade da carne suína. Para que o mercado brasileiro se adéque às
normas estabelecidas pelos mercados importadores, o manejo pré-abate é de suma importância. Visto que
as melhorias nessa etapa da cadeia produtiva dos suínos resultam no aumento do bem estar dos animais e
na qualidade da carne suína.
Mediante ao exposto, serão feitas abordagens em forma de revisão literária sobre os manejos
adequados dos animais ao desembarcarem no frigorífico até o momento do abate.

DESENVOLVIMENTO

Manejo Pré- Abate no Frigorífico de Suínos


O manejo pré-abate, certamente é uma das etapas de maior importância da produção, pois pode
comprometer o resultado de meses de trabalho, afetando atributos da carne como cor, pH, textura,
palatabilidade e vida de prateleira. Neste contexto, fatores estressantes desencadeiam uma série de
alterações bioquímicas que produzem carne PSE (pálida, mole e exsudativa) ou DFD (escura, firme e
seca) (Edington, 2012). Portanto, para garantir qualidade, de acordo com Dalla Costa et al. (2008),é
imprescindível proporcionar bem-estar ao animais para atender às exigências do consumidor interno ou
externo, os quais tem cobrado dos produtores e profissionais responsáveis pelo sistema de produção,
alimentos que causaram menor agressão ao meio ambiente e que foram produzidos com base nos
princípios de bem-estar animal.

Desembarque no frigorífico
Quando os suínos chegam ao frigorífico, os mesmos devem ser descarregados o mais rápido
possível, mas se o atraso for inevitável, o caminhão deve ter ventilação adequada (Araújo, 2009). Um
controle rígido é feito dos caminhões que chegam, com as especificações do número predito de suínos e a
capacidade da área de descanso, ajudando reduzir o tempo até o desembarque (Dalla Costa, 2006).
O tempo de desembarque depende também da disponibilidade de plataformas, principalmente
quando vários caminhões chegam simultaneamente. O número de plataformas deve ser igual ao número
de linhas de baias de espera na área de desembarque. É necessário que as plataformas sejam cobertas,
com a finalidade de reduzir problemas de manuseio, já que suínos sujeitos ao vento, chuva ou sol forte,
muitas vezes se recusam a sair do caminhão (Araújo, 2009).
A condução de suínos durante o descarregamento do caminhão, por meio de utilização excessiva
do bastão elétrico pode proporcionar perdas de qualidade da carne associadas à maior velocidade de
queda do pH e menor capacidade de retenção de água. Todavia, o uso de choques de forma
indiscriminada muitas vezes não obedece à porcentagem permitida de choques durante o desembarque
dos suínos nas baias de espera (25% nos membros), resultando no aumento de hematomas nas carcaças,
ferimentos e equimoses (Ludke et al., 2010).
Alguns cuidados no desembarque são imprescindíveis para que os suínos sejam desembarcados e
conduzidos facilmente até as baias de descanso, tais como rampa com ângulo de inclinação não superior a
13º, pisos antiderrapantes, de preferência emborrachados e em relevo. Estas recomendações são
importantes para facilitar o desembarque dos animais e reduzir os riscos de queda (Dalla Costa et al,
2008a).
O dispositivo de desembarque mais comum é a rampa combinada com o elevador, entretanto, o
uso de elevadores hidráulicos facilita o manuseio e diminui o tempo de desembarque dos suínos (Araújo,
2009).

Baias de descanso
Ao chegar às baias de descanso, chamadas de pocilgas, os suínos geralmente estão extremamente
cansados ou estressados devido ao manejo a que foram submetidos. Assim, esses animais precisam
eliminar o excesso de ácido láctico acumulado no músculo e restabelecer o seu equilíbrio homeostático
por meio de descanso adequado (Dalla Costa et al., 2008b).
As baias ajudam a garantir o fluxo contínuo no sistema de abate no frigorífico (Dalla Costa et al.,
2010). É muito variável o período de permanência dos suínos nas baias de espera no frigorífico (<1 a

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15h). O tempo ideal depende do frigorífico e das condições do manejo pré-abate, considerando-se a
disponibilidade de suínos para o abate, tempo de transporte, procedimentos de manuseio (mistura ou não
de lotes) e condições ambientais (Edington, 2012).
No Brasil, o Serviço de Inspeção Federal adota para o abate de suínos, seis horas de descanso
(Brasil, 1952). No entanto, Warriss & Brown (2003) recomendam como tempo ideal, nas baias de espera
entre duas a três horas. Os suínos submetidos a períodos de descanso menor que duas horas apresentam
valores mais baixos de pH quando comparado com longos períodos, e essa variação está relacionada com
as reservas de glicogênio e a presença de ácido láctico (Araújo, 2009).

Jejum pré-abate
O jejum inicia-se na granja e é mantido até o abate dos suínos. É caracterizado pela suspensão do
fornecimento da alimentação (ração), porém neste período os animais devem ter a sua disposição água á
vontade de boa qualidade.
A suspensão do fornecimento de ração antes de embarque é essencial, por que:
Primeiro, colabora para o bem-estar dos animais no embarque, transporte e desembarque
reduzindo a taxa de mortalidade nestas etapas finais da produção. Diminui também o número de animais
que vomitam durante o transporte; além de promover maior segurança alimentar, pois previne a liberação
e a disseminação de bactérias (principalmente Salmonela) através das fezes, com o derramamento do
conteúdo intestinal durante o processo de evisceração (Dalla Costa, 2006).
Segundo, melhora a velocidade e facilidade no processo de evisceração dos animais e redução do
volume de dejetos que chega ao frigorífico (Murray et al., 2001).
Terceiro, contribui para a padronização do peso vivo e consequentemente o rendimento de carcaça,
quando o produtor é remunerado por um sistema de pagamento por mérito de carcaça e, contribui na
uniformização da qualidade da carne das carcaças, principalmente através da manipulação da
concentração do glicogênio muscular no momento do abate (Peloso, 2002).
As recomendações do tempo de jejum dos suínos nas granjas são muito divergentes. Alguns
trabalhos têm mostrado que o intervalo entre 12 – 18 horas é o tempo ideal para retirada dos alimentos, já
que diminuem o estresse pré-abate e aumentam a qualidade da carne (Dalla Costa et al., 2010), outros
recomendam entre 10 e 24 horas (Magras et al., 2000), outros ainda recomendam de 16 a 24 horas
(Eikelenboon et al, 1991).
A qualidade de carne é influenciada pelo jejum através da redução da quantidade de carboidratos
disponíveis no post mortem na conversão de glicogênio em ácido lático. No entanto, realizado de maneira
inadequada pode afetar as reservas de glicogênio muscular, resultando em carnes com características
anômalas (Fouryet al., 2005).
Segundo Warriss (1995), a perda de peso inicia-se imediatamente após a retirada da ração e
continua numa taxa de 0,12% a 0,20% por hora (2,9 a 4,8% em 24 horas). Nas primeiras 24 horas de
jejum, pode ocorrer até 1% de perda de peso na carcaça (Murray et al., 2001).
Ao adotar a restrição alimentar antes do abate observa-se a desvantagem do aumento da
agressividade dos animais, principalmente quando esses fatores são associados a mistura de lote. Parece
que suínos alimentados descansam entre os surtos de briga, enquanto que os em jejum permanecem
brigando por mais tempo (Araújo, 2009).
Na prática tem-se notado que o tempo de jejum dos suínos está relacionado ao sistema de logística
das granjas e dos frigoríficos, o qual pode ser utilizado como ferramenta manipuladora da qualidade final
da carne suína em situações de rotina comercial (Dalla Costa al., 2008b).

Sistemas de insensibilização
Os procedimentos obrigatórios de insensibilização, no processo de abate são utilizados para evitar
a excitação, dor e sofrimento do animal. Dentre os métodos utilizados para a espécie suína estãoa
insensibilização elétrica e a gás. A insensibilização elétrica consiste na inconsciência instantânea do
animal através da aplicação de choque elétrico de duas maneiras: apenas na cabeça (eletronarcose) na
cabeça e coração (eletrocussão) (Edington, 2012). Estes sistemas, quando mal operados podem
comprometer o bem-estar e a qualidade da carne dos suínos.
Para o abate de suínos, os parâmetros utilizados são estabelecidos na Portaria 711/1995 do
Ministério da Agricultura (MAPA) que preconiza os padrões de voltagem (350 a 750V), amperagem (0,5
a 2A) e tempo de sangria, no mínimo de três minutos. Esta legislação descreve, ainda, as indicações de

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equipamentos, construção civil e toda a estrutura mínima para o abate, processamento e industrialização
desta espécie (Chevillon, 2000).
A eletronarcose é um método reversível, comumente utilizado pelos frigoríficos no Brasil. A
condução da corrente elétrica, promove a epilepsia que impede a atividade metabólica cerebral. A
epilepsia se dá pela propagação do estimulo elétrico, que provoca despolarização imediata da célula
neuronal, impedindo que haja tradução do estimulo da dor, provocado pela incisão na sangria (Bertolini
al., 2006).
Na eletrocussão a corrente elétrica é passada para o cérebro, causando inconsciência, e em seguida
para o coração, que irá provocar parada cardíaca e morte. São séries de contrações descontroladas
provocadas por impulsos elétricos que se originam de vários pontos do ventrículo que induz à hipóxia
cerebral, pelo fato do coração não conseguir bombear a quantidade adequada de sangue (Bertolini al.,
2006).
Com relação à eficiência do equipamento é necessário ter como rotina no frigorífico a manutenção
periódica, bem como aplicar auditorias de avaliação diária da insensibilidade dos suínos (verificar a
presença de reflexos palpebral e corneal, como também, fazer teste de compressão/dor) (Dalla Costa,
2006).
Quando realizada de forma inadequada, a insensibilização elétrica apresenta alta incidência de
defeitos de qualidade na carcaça, como fraturas, contusões e principalmente o surgimento de petéquias
(salpicamento) na musculatura. A incidência de ossos quebrados varia entre abatedouros, e pode ser
observada apenas quando a articulação é desossada. Em geral petéquias e hemorragias podem ser evitadas
ou significativamente reduzidas pela sangria imediata e fazendo uma jugulação grande para facilitar a
perda rápida do sangue (Chevillon, 2000).
A insensibilização elétrica é um método bastante atrativo pelo fato de ser econômico sendo
adequado para altas capacidades de abate e tem a possibilidade de ser automatizado. Para plantas
frigoríficas com velocidade alta de abate, acima de 300 animais/hora é comum o uso de limitadores
compostos de esteiras em V que imobilizam o animal para garantir melhor insensibilização (Silveira,
1997).
Já a insensibilização à gás é baseada na colocação dos animais em ambiente fechado com
concentrações de 75% de CO2 que provocará uma fase de analgesia, excitação e anestesia (Chevillon,
2000).
No sistema gasoso a narcose é proporcionada por um desiquilíbrio ácido-base e não por uma
inversão de polaridade do neurônio como no sistema elétrico, portanto neste sistema geralmente se obtêm
pequenas taxas de salpicamento da musculatura (Bertolini et al., 2006).
Geralmente menores índices de fraturas ósseas são obtidos quando se utiliza o sistema gasoso
(CO2) de insensibilização, já que induz uma contração muscular menos intensa em relação ao sistema
elétrico. No entanto, a utilização de insensibilização elétrica em altas frequências (> 1500 Hz) tem
proporcionado resultados similares ao sistema gasoso (CO 2) (Bertolini et al., 2006).

Sangria
A sangria deve ser realizada após a insensibilização em no máximo 30 segundos através da secção dos
grandes vasos ou punção diretamente no coração retirando o sangue, que pode ser recolhido para
reaproveitamento. O tempo máximo de sangria deve ser de três minutos, e para obedecer a velocidade
horária de matança, o comprimento mínimo do túnel será de seis metros para até 100 suínos por hora,
sendo acrescido um metro para cada 20 suínos por hora a mais na velocidade de abate (Brasil, 1995).
Os animais são pendurados em trilho aéreo, ou podem ser feitas em mesas ou bancadas apropriadas para a
drenagem do sangue. Em média, o volume de sangue drenado por animal é de 3 litros. Parte deste sangue
pode ser coletado de forma asséptica, caso seja direcionado para fins farmacêuticos ou ser totalmente
enviado para tanques para ser posteriormente processado visando separação de seus componentes ou seu
uso em rações animais (Brasil, 1995).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o exposto, concluiu-se que o suíno é extremamente sensívele susceptível ao


estresse no transcorrer do manejo pré-abate. Identificou-se que o manejo após o desembarque dos animais
no frigorífico,merece atençãoespecial para evitar o comprometimento da qualidade da carne e a
durabilidade dos produtos cárneos e processados.

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Os fatores de longo prazo como: genética, nutrição, práticas de criação e de manejo, bem como os
de curto prazo: jejum, as condições de manejo na granja, embarque, transporte, desembarque, período de
descanso no abatedouro e os métodos de atordoamento dos animais influenciam os resultados de
qualidade da carne suína.
Aliada à preocupação e busca por carne suína de qualidade, aumenta também a exigência dos
consumidores por alimentos que foram produzidos mediante os princípios do bem-estar. Desta forma,
técnicos responsáveis e produtores precisarão fazer mudanças em seus sistemas para atender a esse
crescentee promissor mercado.

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ANAIS DA VIII MOSTRA CIENTÍFICA FAMEZ

PRINCIPAIS ASPECTOS DO COMPORTAMENTO INGESTIVO DE OVINOS

Hilda Silva Araujo1, Gabriela Oliveira de Aquino Monteiro2, Fernando Miranda de


Vargas Junior3, Andrea Roberto Duarte Lopes Souza4, Luis Carlos Vinhas Ítavo5, Luana
Cristine dos Santos2, Rafael Vinicius Sczesny de Moraes2, Eduardo Souza Leal6
1
Doutoranda em Ciência Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS/FAMEZ. Bolsista Capes. E-mail: hil.araujo@bol.com.br
2
Acadêmicos em Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul – UFMS/FAMEZ. E-mail: gabrielaoliveiraaquino@gmail.com
3
Professor da Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Federal da Grande Dourados – FCA/UFGD.
4
Pesquisadora – Bolsista do Programa de Desenvolvimento Regional – DCR/CNPq/FUNDECT/MS -
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS/FAMEZ
5
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul – UFMS/FAMEZ
6
Doutorando em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, Universidade Católica Dom
Bosco. Bolsista Capes/prosuo

Resumo: O comportamento ingestivo auxilia na avaliação das dietas, pois possibilita ajustar o manejo
alimentar dos animais para obtenção de melhor desempenho produtivo. As atividades relacionadas à
alimentação dos ovinos compreendem períodos que alternam ingestão, ruminação e ócio. Nos animais a
pasto, o comportamento ingestivo de ovinos é influenciado pela qualidade bromatológica da forrageira,
já, nos animais confinados, esse comportamento é alterado em função da frequência e perfil da dieta de
cada arraçoamento. As determinações dos tempos de alimentação, ruminação e ócio são feitas utilizando-
se intervalos de observações de cinco minutos para a discretização das séries temporais do
comportamento ingestivo.

Palavras-chave: alimentação, consumo, ócio, mastigação, ruminação

MAIN ASPECTS OF FEEDING BEHAVIOR IN SHEEP

Abstract: The feeding behavior assists in the evaluation of diets, since it allows adjusting the feeding
management of animals to obtain the best productive performance. Activities related to the feeding of
sheep include alternate periods of eating, ruminating and idleness. In animals on pasture, feeding behavior
of sheep is influenced by chemical quality of the forage, since, in the confined animals, this behavior is
changed depending on the frequency of feeding and profile of the diet. The determinations of times of
feeding, rumination and idleness are made using intervals of five minutes observations for the
discretization of the time the feeding behavior series.

Keywords: eating, consumption, idleness, mastication, ruminating

INTRODUÇÃO

As atividades relacionadas à alimentação dos ovinos compreendem períodos que alternam


ingestão, ruminação e ócio. Os períodos de ruminação e ócio ocorrem entre as refeições e a duração e
repetição dessas atividades são variáveis entre indivíduos e parecem estar relacionadas às condições
climáticas e de manejo, ao apetite dos animais, à exigência nutricional e, principalmente, à relação
volumoso:concentrado da dieta (Silva et al., 2009).
O comportamento alimentar, que envolve as atividades citadas, tem sido estudado em relação às
características dos alimentos, à motilidade do pré-estômago, ao estado de vigília e ao ambiente climático.
As diversidades de objetivos e condições experimentais originaram formas de observações visuais. Com
várias opções de técnicas de registro de dados (semiautomáticos e automáticos).
O comportamento ingestivo é uma ferramenta de grande importância na avaliação das dietas, pois
possibilita ajustar o manejo alimentar dos animais para obtenção de melhor desempenho produtivo. Nesse

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sentido, objetivou-se realizar uma revisão dos principais aspectos relacionados ao comportamento
ingestivo dos ovinos.

DESENVOLVIMENTO

Comportamento ingestivo
O conhecimento do comportamento ingestivo possibilita o ajuste do manejo alimentar dos animais
para obtenção de melhor desempenho produtivo. De acordo com Hodgson (1990), os ruminantes
adaptam-se às diversas condições de alimentação, manejo e ambiente, modificando seus parâmetros de
comportamento ingestivo para alcançar e manter determinado nível de consumo, compatível com as
exigências nutricionais. Animais confinados gastam em torno de uma hora para consumirem alimentos
ricos em energia, ou até mais de seis horas, para ingestão de fontes com baixo teor de energia e alto em
fibra. Da mesma forma, o tempo despendido em ruminação é influenciado pela natureza da dieta e,
provavelmente, é proporcional ao teor de fibra dos volumosos.
Os parâmetros mais estudados para avaliar o comportamento ingestivo são o tempo de
alimentação, ruminação e ócio, eficiência de alimentação e ruminação, número de mastigações por bolo
alimentar, tempo gasto com mastigações por bolo ruminal e número de mastigações por dia (Bürger et al.,
2000).
Entretanto, existem diferenças entre indivíduos quanto à duração e repartição das atividades de
ingestão e ruminação, que parecem estar relacionadas com o apetite dos animais, as diferenças
anatômicas (Dulphy & Faverdin, 1987; Deswysen et al., 1989) e a distribuição temporal do consumo de
alimentos e da cinética digestiva (Corbett & Pickering, 1983).
A natureza periódica do comportamento ingestivo pode ser descrita pela sua amplitude (=
frequência angular ou nº de ciclos) e pelas diferenças de fase (Murphy et al., 1983). O número inteiro de
ciclos a cada 24 horas, também referido como componente de ritmo, é utilizado na descrição da
ritmicidade. A defasagem dos picos de máxima atividade ingestiva ou de ruminação em relação ao
momento inicial do ciclo (fixado como o horário do primeiro arraçoamento ou do início dos registros do
comportamento ingestivo) é fornecida pelos diagramas de fase (Deswysen et al., 1989).

Alimentação, ruminação e ócio


De acordo com Hodgson (1990), os ruminantes adaptam-se às diversas condições de alimentação,
manejo e ambiente, modificando seus parâmetros de comportamento ingestivo para alcançar determinado
nível de consumo, compatível com as exigências nutricionais. Schmidt et al. (2007) ao estudarem o efeito
da inclusão de aditivos na ensilagem de cana-de-açúcar em bovinos de corte encontraram valores de 3,78;
8,9; 10,98 (h/dia), respectivamente, para tempos despendidos em alimentação, ruminação e ócio.
A alimentação é um dos fatores mais limitantes para a obtenção de bons resultados na criação de
animais. Os ovinos realizam a apreensão de alimentos pelo lábio superior e utilizam de movimentos dos
dentes incisivos inferiores e língua. A mastigação é um fenômeno reflexo e tem por finalidade reduzir o
tamanho das partículas, facilitando a deglutição.
O tempo de ruminação está altamente correlacionado ao consumo de FDN (Van Soest, 1994), o
aumento no teor de FDN promove aumento no tempo de ruminação devido à maior necessidade de
processamento da fibra. Damasceno et al. (1999), verificaram que há preferência dos animais em ruminar
deitados, principalmente, nos períodos fora das horas mais quentes do dia. Sendo assim, as maiores
frequências de ruminação ocorrem entre 22 e 5 h e as maiores frequências de ócio ocorrem, normalmente,
entre 11 e 14 h, estabilizando-se das 22 às 7 h.
O ócio é caracterizado pelo período em que o animal permanece inerte, sem apresentar qualquer
atividade e pode ser definido como ócio deitado ou ócio em pé.

Pastagem
Diante da ascendente restrição nutricional, principalmente observada no período seco do ano, os
animais desenvolvem diferentes estratégias de pastejo em adaptação à nova condição do ambiente. Na
literatura são relacionadas como principais estratégias utilizadas pelos animais variações no tempo de
pastejo, na taxa de bocados, no peso do bocado e na qualidade da forragem ingerida (Pedroso et al.,
2004). Sabe-se que, ao longo do período diurno, quando normalmente ocorrem 95% do pastejo diário, são
comuns variações nas necessidades nutricionais, da quantidade e da qualidade da dieta ingerida.

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Assim, quanto maior a participação de alimentos volumosos na dieta, maior será o tempo
despendido com ruminação (Van Soest, 1994). Segundo Welch & Hooper (1988), o tempo de ruminação
é altamente correlacionado com o consumo de FDN em bovinos (r = 0,96). Albright (1993), em
experimento com vacas, relatou para três níveis de FDN na dieta (26, 30 e 34%), valores para os tempos
despendidos em ruminação e total de mastigação de 344 e 558; 403 e 651; 414 e 674 min.dia -1,
respectivamente.
Medeiros et al. (2007) avaliaram o comportamento ingestivo de ovinos em três estágios fenólicos
de azévem, vegetativo, pré-florescimento e florescimento (Tabela 1).

Tabela 1– Tempo de pastejo, consumo de matéria seca (kg e %PV) e consumo de PB por ovinos em
pastagem de azévem anual em diferentes estádios fenólicos
Tempo de Consumo de MS Consumo de Consumo de
Estádio Fenólico
pastejo (min/dia) (g/dia) MS (% de PV) PB (g/dia)
Vegetativo 321,66ª 1.078,01ª 2,7ª 264,06ª
Pré-florescimento 432,98b 917,824ª 2,29ª 219,40ª
Florescimento 425,96b 610,32b 1,52b 90,83b
Valores com letras iguais na mesma coluna não diferem pelo teste DMS a 5% de significância. Adaptado de Medeiros et al. (2007).

O estádio vegetativo (EV), a maior participação de folhas verdes provavelmente determinou


valores máximos de tempo de pastejo e consumo ao longo do dia. No estádio pré-florescimento, em
decorrência do alongamento dos entrenós, a relação folha:colmo foi reduzida em comparação ao EV.
Estas mudanças na estrutura e na qualidade da forragem ofertada determinaram mudanças
comportamentais ao longo dos horários diurnos. No estádio de florescimento, no entanto, houve certa
uniformização da pastagem com a totalidade dos perfilhos em florescimento. Essa estrutura com elevada
participação de colmo (38%) e material senescente (40%) provavelmente limitou a ação seletiva dos
animais (Medeiros et al., 2007).
Pompeu et al. (2009) avaliaram o comportamento ingestivo de ovinos em pastejo de capim
Tanzânia e observaram maior tempo de pastejo nos períodos das 5 às 8 h e das 14 às 17 h. Os demais
horários não diferiram (P>0,05) entre si. Como esses animais não receberam suplemento, mesmo nas
temperaturas elevadas de 14 as 17 h, eram obrigados a retornar ao pastejo para atender sua demanda
nutricional.

Tabela 2 - Atividades contínuas do pastejo de ovinos em Panicum maximum cv. Tanzânia


Período
5-8 h 8-11 h 11-14 h 14-17 h 17-20 h 20-23 h 23-2 h 2-5 h
Tempo de Pastejo (%)
bc bc
60 a
38 37 72a 55a 28c 41bc 0d
Tempo de Ruminação (%)
b b
31 bc
38 38 19cd 6d 29bc 33bc 59ª
Outras Atividades (%)
ab b
1 b
6 2 0b 10a 6ab 4ab 0b
Tempo de Ócio (%)
cd bcd
8 d
18 23 9d 29abc 37ab 22bcd 41ª
Valores com letras iguais na mesma coluna não diferem pelo teste DMS a 5% de significância.
Adaptado de Pompeu et al., 2009.

O tempo de ruminação ocorreu de maneira bastante variável. A consistência dos dados obtidos
durante o dia foi maior, uma vez que as maiores frequências de ruminação ocorreram entre duas e cinco
horas e reduziu significativamente nos momentos de maior frequência de alimentação. A maior
frequência de ruminação nesse período provavelmente ocorreu por este ser o momento de descanso dos

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ovinos, quando dormem ou processam o alimento ingerido durante todo o dia. Os horários de menor
ruminação ocorreram entre 14 e 17 h e entre 17 e 20 h, períodos com grande atividade de pastejo.
A partir das 20 h, a atividade de ruminação foi intensificada, a fim de processar a forragem
anteriormente ingerida. Quando o animal ingere forragem com alto teor de FDN (71,3,%) e entra em
contato com o epitélio ruminal, aciona o sistema nervoso entérico por meio de mecanorreceptores que
estimulam a regurgitação e ruminação (Herdt, 2004).
A variável “outras atividades” (brincar, caminhar e observar) foi afetada (P<0,05) pelos horários
do dia e predominou nos períodos entre 17 e 23 h. O ócio foi considerado o período em que os animais
permaneciam parados, sem realizar qualquer atividade. Young & Corbet (1972) afirmaram que, quando
as condições ambientais propiciam maior comportamento de ócio, há economia de energia, que é
utilizada em favor da produção. As maiores frequências de ócio foram observadas entre 17 e 23 h e entre
duas e cinco horas.

Confinamento
Os sistemas modernos de criação de ovinos que adotam práticas de manejo e alimentação
adequadas possibilitam melhor desempenho dos animais e, por consequência, melhor retorno econômico.
A terminação de cordeiros em confinamento é uma alternativa capaz de proporcionar o abate precoce dos
animais, fato que resulta em carcaças com características desejáveis para atendimento das exigências de
mercado, garantindo ao produtor o retorno mais rápido do capital investido (Oliveira et al., 2002). No
entanto, as maiores desvantagens do uso deste sistema se encontram nos altos custos de produção,
principalmente em alimentação, que constitui um fator determinante no aspecto financeiro.
Os ruminantes, mantidos confinados e com alimentação à vontade durante todo o dia, apresentam
um número entre três e 10 refeições durante o período diurno, com dois picos de atividade: no início e no
final deste período (Dulphy & Faverdin, 1987).
Entretanto, as frequências das atividades, seja ingestivas ou ócio, são determinadas pela
distribuição da ração, que estimula o animal a comer (Putnam et al., 1967; Chase et al., 1976). Quando o
alimento é distribuído duas vezes ao dia, as refeições que se seguem à distribuição do alimento são as
mais importantes e duram de uma a três horas cada. Os períodos de tempo gastos com a ingestão de
alimentos são intercalados com um ou mais períodos de ruminação ou descanso. O tempo gasto a ruminar
é mais elevado à noite, mas os períodos de ruminação são ritmados também pela distribuição dos
alimentos (GORDON & MC ALLISTER, 1970; JASTER & MURPHY, 1983).
O nível de FDN na dieta de cordeiros confinados não exerce influência sobre os tempos
despendidos pelos animais em ingestão, ruminação e ócio, quando este é inferior a 43% (Cardoso et al.,
2006). A eficiência de ingestão e ruminação da fração FDN aumenta com o incremento do nível de fibra
na dieta (Tabela 3).

Tabela 3 – Tempo médio despendido pelos animais em digestão, ruminação, tempo de mastigação total
(TMT), ócio e outras atividades, em minutos por dia, em função dos níveis de FDN nas dietas
Nível de FDN
Variáveis 25% 31% 37% 43%
Ingestão 217,50 213,75 213,75 177,50
Ruminação 450,00 472,50 508,75 501,25
TMT 667,50 686,25 722,50 678,75
Ócio 761,25 748,75 710,00 758,75
Outros 11,25 5,00 7,50 2,50
Adaptado de Cardoso et al. (2006).

O estímulo ao consumo de alimento é desencadeado pelo ato de fornecer o mesmo ao animal.


Ovinos confinados possuem hábito de alimentação predominantemente diurno e de ruminação noturno
(Cardoso et al., 2006).
Na Tabela 4, são apresentados número de período de ingestão, ruminação e ócio, em cordeiros
confinados submetidos às dietas com níveis de inclusão de torta de dendê na dieta.

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Tabela 4 – Número de período de ingestão, ruminação e ócio (min) de cordeiros submetidos a dietas com
níveis de torta de dendê
Níveis de torta de dendê (%MS)
0,00 6,50 13,00 19,50
Número de períodos por
dia
Ingestão (n°/dia) 17,17 14,63 15,33 15,88
Ruminação (n°/dia) 25,46 25,29 26,46 24,60
Ócio (n°/dia) 36,79 35,04 36,88 36,38
Adaptado de Macome et al. (2012).

Não foi observada diferença significativa para números de períodos de ingestão, ruminação e ócio
(n°/dia). O valor médio de 15,75 ingestões por dia foi superior aos obtidos por Burger et al. (2000) em
estudo com bezerros (14,80; 13,10 e 12,00, respectivamente). A inclusão da torta de dendê em até 19,5%
na MS não afetou o tempo de ingestão, ruminação, consumo de matéria seca, fibra em detergente neutro e
as eficiências de ingestão e ruminação de MS e FDN.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O comportamento ingestivo de ovinos é influenciado pela qualidade bromatológica da forrageira,


sobretudo devido à alta seletividade do animal. Já nos animais confinados, esse comportamento é alterado
em função da frequência e perfil da dieta de cada arraçoamento.
As determinações dos tempos de alimentação, ruminação e ócio podem ser feitas utilizando-se
intervalos de observações de até 30 minutos, sendo recomendado o intervalo de cinco minutos para a
discretização das séries temporais do comportamento ingestivo, pois intervalos superiores provocam
subestimação do número de períodos e, portanto, superestimam o tempo médio gasto por período de
atividade.

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PRINCIPAIS CAUSAS INFECCIOSAS DE ABORTAMENTO EM BOVINOS

Zelina dos Santos Freire¹, Thycianne Rodrigues de Aguilar¹, Caroline Eberhard Buss¹,
Daniel França Mendonça da Silva1, Éder Cristian Queiroz Serrou da Silva¹, Fernando
Henrique Garcia Furtado¹, Fernanda Hvala de Figueiredo¹, Francisco Manoel Júnior¹,
Gabrielle Ricardes da Silva¹, Tainara Cândida Ferreira¹, Tailisa de Souza Silva¹, Willian
Vaniel Alves dos Reis¹, Fábio José Carvalho Faria², Deiler Sampaio Costa²

¹Núcleo de Produção e Reprodução Animal NUPRA .e-mail: zelinafreire@hotmail.com


²Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal do Mato Grosso do
Sul

Resumo: Abortamento refere-se à expulsão de um feto vivo ou morto do útero entre 42 dias até
aproximadamente 280 dias de gestação, quando este é incapaz de exercer uma vida independente em um
ambiente extra-uterino. Surtos de abortamentos são frequentes e determinam baixos índices de prenhez e
nascimentos. Mesmo que o abortamento seja um problema muito comum, o diagnóstico etiológico é
difícil, visto que as causas são múltiplas e a maioria dos abortamentos ocorrerem algum tempo depois da
morte fetal, resultando apenas em fetos e envoltórios autolisados, sem qualquer indicio do agente
etiológico. Segundo a literatura mundial, cerca de 90% dos abortamentos de causas conhecidas são
determinados por agentes infecciosos, causando doenças como: Brucelose, Leptospirose,
Campilobacteriose, Tricomonose, Neosporose, Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) e Diarréia Viral
Bovina (BVD). Por gerarem perdas econômicas e prejuízos ao produtor, além disso, algumas serem
consideradas zoonoses, este trabalho tem como objetivo contribuir com o conhecimento das principais
causas infecciosas de abortamento em bovinos.

Palavras-chaves: agente etiológico, brucelose, leptospirose, morte fetal, neosporose

MAIN CAUSES OF INFECTIOUS ABORTION IN CATTLE

Abstract: Abortion refers to the expulsion of a living or dead fetus from the uterus between 42 days to
about 280 days of gestation, when it is unable to perform an independent life in an extra-uterine
environment. Outbreaks of abortions are frequent and determine lower rates of pregnancy and births.
Even though abortion is a very common problem, the etiologic diagnosis is difficult, since the causes are
multiple and most miscarriages occur some time after fetal death, resulting only in fetuses and autolysed
wraps, with no hint of the etiologic agent. According to the literature, about 90% of the known causes of
miscarriage are determined by infectious agents causing diseases such as brucellosis, leptospirosis,
campylobacteriosis, trichomoniasis, neosporosis, infectious bovine rhinotracheitis (IBR) and bovine viral
diarrhea (BVD). By generating economic losses and damage to the producer, and in addition, some
consider zoonoses, this paper aims to contribute to the knowledge of the main causes of infectious
abortion in cattle.

Keywords: etiological agent , brucellosis , leptospirosis , stillbirth , neosporosis

INTRODUÇÃO

Abortamento bovino foi definido como a expulsão do feto vivo ou morto do útero, a partir de 42
dias até, aproximadamente, 260 dias de gestação, quando esse é incapaz de exercer uma vida
independente, em um ambiente extra-uterino (Hubbert et al. 1972).
Uma das principais causas de perdas econômicas e de preocupação para o produtor de bovinos é a
ocorrência de abortamentos, pois envolve a perda de um animal, atraso nas concepções e acometimento
da fêmea. Além disso, se a causa for infecciosa , pode se disseminar para o rebanho e causar prejuízos
maiores. E embora algumas dessas doenças sejam bastante disseminadas, para muitas delas não se sabe a
real situação epidemiológica. Isso decorre pelo fato de um pequeno número de laboratórios realizarem o
diagnóstico dessas patologias, assim como há uma baixa identificação e notificação dos casos por

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veterinários e proprietário (Orlando, 2013).


Segundo Riet-Correa et. al (2001), os surtos de abortamentos são frequentes e determinam baixos
índices de prenhez e nascimento. E mesmo que seja um problema muito comum, o diagnóstico etiológico
é difícil visto que as causas são múltiplas e a maioria dos abortamentos ocorrem algum tempo depois da
morte fetal, resultando, apenas em feto e envoltórios autolisados, sem qualquer indício do agente
etiológico. Ainda segundo Riet-Correa et al (2001), no que diz respeito a literatura mundial, cerca de 90%
dos abortamentos de causas conhecidas, são determinados por agentes infecciosos, e para bovinos, a via
de infecção mais importante, é a via hematógena, com exceção para as doenças venéreas, que se instalam
no início da gestação e cuja infecção é transcervical.
Para Straufuss (1988 apud Riet-Correa et al) , o sucesso no diagnóstico depende dos
procedimentos adotados, como: idade e histórico reprodutivo, questões acerca do rebanho, como dieta,
introdução de novos animais, vacinações, índices de prenhez e história prévia de abortos ou repetição de
cio. Além disso, a determinação exata da incidência de abortos no rebanho é muito importante, pois
índices de 1%-2% são considerados normais para bovinos; de 3% representam um sinal de alerta e
maiores que 3% caracterizam um problema ambiental ou infeccioso que acomete o rebanho. Segundo
recomendações de Riet-Correa et al (1988), o feto e a placenta devem ser examinados, e como
procedimentos complementares, realizam-se avaliações sorológicas do feto e da mãe. Em casos de
doenças venéreas, o diagnóstico deve ser feito a partir do smegma e raspado prepucial dos touros em
serviço, ou ainda, do sêmen utilizado na inseminação.
Tendo em vista a importância da reprodução em bovinos e os prejuízos econômicos que causam os
abortamentos, além de algumas dessas doenças serem consideradas zoonoses, esse trabalho tem como
objetivo contribuir com o conhecimento das principais causas infecciosas de abortamento em bovinos.

DESENVOLVIMENTO

Brucelose
Essa doença decorre da infecção pela bactéria Brucella abortus. Bovinos quase sempre são
infectados pela ingestão de material contaminado, por exemplo, secreções vaginais, fetos mortos e
placentas. Os locais de predileção da bactéria são os cotilédones na fêmea e os testículos no macho (Ball
2006).
A Brucelose é uma zoonose importante, causando febre intermitente em humanos. Em bovinos, a
transmissão para o rebanho pode ser vertical, por infecção congênita do feto, embora ocorra
esporadicamente. A forma mais frequente de transmissão é a horizontal e por contaminação direta, que
pode se dar via alimentar, conjuntival ou através da pele íntegra ou lesada. A infecção pode ocorrer,
também, através de sêmen contaminado (Riet-Correa et al 2001). Abortamentos podem ocorrer em
rebanhos com alta percentagem de vacas prenhes suscetíveis e geralmente ocorre após o quinto mês de
gestação; as gestações subsequentes normalmente são levadas a termo (Quinn 2005). Este agente tem um
forte tropismo pelo útero no ultimo trimestre de gestação, acredita-se que seja devido às altas
concentrações de eritritol. Este composto favorece a sobrevivência da bactéria já que ela é capaz de
metaboliza-la como fonte de carbono e energia. (Orlando 2013)
Em um estudo sobre causas de abortamento realizado pelo setor de Patologia da Universidade
Federal do Rio Grande do sul de 2003 a 2011, em que foram analisados 490 fetos bovinos, sendo 227
considerados conclusivos, classificando sua etiologia em abortamento infeccioso, não infeccioso e outros,
as causas infecciosas compreenderam 87,66% dos casos, no qual 1,42% atribuídos à infecção por Brucela
abortus.(Antoniassi et al 2013).
O Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) prevê
que o diagnóstico da brucelose bovina e bubalina deve ser feito usando o teste do antígeno acidificado
tamponado (AAT) como triagem. Os animais com resultado positivo nesse teste podem ser classificados
como infectados ou então podem ser submetidos a um teste confirmatório, situação para a qual existem
duas opções: a combinação das provas de soro aglutinação lenta e do 2-mercaptoetanol (SAL+ME) ou
então a reação de fixação de complemento (RFC) (Paula, et al 2014).
A principal forma de entrada da brucelose em uma propriedade é a introdução de animais
infectados. O ideal é que esses animais procedam de rebanhos livres ou, então, que sejam submetidos à
rotina diagnóstica que lhes garanta a condição de não infectados. Os animais doentes deverão ser
marcados com um “P” do lado direito da cara pelo médico veterinário habilitado, e respeitando um prazo
máximo de 30 dias, os animais positivos deverão ser encaminhados ao abate em estabelecimento com

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inspeção sanitária oficial, ou destruídos na propriedade, desde que acompanhado do serviço veterinário
oficial de defesa sanitária animal (Brasil, 2006).
A vacinação é realizada em bezerras de 3 a 8 meses com a vacina B19 (Brasil, 2006). Após a
vacinação os animais deverão ser marcados do lado esquerdo da face com a letra “V” (vacinado)
acompanhada do ultimo digito do ano em que ocorreu a vacinação, utilizando para isso, o ferro candente.
(Toledo 2005).

Leptospirose
A leptospirose é uma doença bacteriana de ocorrência mundial, que pode acometer várias espécies
de mamíferos, incluindo o homem. O agente é uma espiroqueta do gênero Leptospira interrogans. Essa
espécie apresenta mais de 212 sorovares que podem ser agrupados em 23 sorogrupos (Ellis, 1994, apud
Orlando, 2013 p.37). Nos animais de produção é um importante agente associado à perdas reprodutivas
devido ao abortamento, natimortos, infertilidade, e perdas não reprodutivas devido aos casos de
septicemia e nefrites.(Groom, 2006, apud Orlando, 2013 p.37). Nos bovinos é considerada uma
importante causa de abortamento bacteriano e a infecção ocorre mais frequentemente pela Leptospira
interrogans, sorovar Pomona e sorovar hardjo.(Antoniassi et al, 2007 apud Orlando, 2013 p37).
A fonte de infecção para o rebanho pode ser um animal infectado, que contamina a água, alimentos
e pastagens, através da sua urina, fetos abortados e descargas uterinas. O sêmen é também, uma fonte de
infecção e a doença pode ser transmitida por monta natural ou inseminação artificial. A introdução de
animais novos e contaminados no rebanho pode desencadear o surto. A infecção se dá principalmente por
via oral e cutânea. (Riet-Correa, 2001).
Em um estudo realizado por Figueiredo et al (2009) em bovinos do Mato Grosso do Sul, em que
investigou-se a prevalência de anticorpos anti leptospira em fêmeas bovinas com idade igual ou superior a
24 meses, provenientes de 178 rebanhos de 22 municípios, e foram analisadas 2.573 amostras de soro
sanguíneo por meio do teste de soro aglutinação microscópica perante 10 sorovares de leptospira, os
resultados mostraram que 1801 fêmeas (98,8%) de 161 (96,5%) rebanhos apresentaram títulos iguais ou
superiores a 100 para um ou mais sorovares, sendo o sorovar Hardjo o mais provável, demonstrando
assim que a leptospirose bovina tem alta prevalência tanto em animais como em rebanhos.
Conforme Pasqualotto (2015), nas propriedades produtoras de leite, a alta incidência de fêmeas
infectadas deve-se, em parte, ao tipo de manejo que propicia a disseminação da doença pela grande
proximidade dos animais, sendo que nestes rebanhos podem existir indivíduos portadores que abrigam as
leptospiras nos túbulos renais e as eliminam na urina por longos períodos de tempo, assim contaminando
o meio ambiente e contribuindo para a manutenção da infecção nos rebanhos acometidos. Na espécie
bovina, as perdas econômicas causadas pela Leptospirose estão ligadas às falhas reprodutivas como
infertilidade, abortamento, queda da produção de carne e leite, além de custos com despesas de
assistência veterinária, vacinas e testes laboratoriais.
A transmissão direta ocorre quando sangue ou fluidos corpóreos de animais infectados passam
diretamente a um animal susceptível, por via congênita, venérea ou amamentação (Faine, 1993 apud
Massa 2012 p20). O contato direto com portadores genitais da leptospirose é uma importante rota de
transmissão entre animais, e desempenha importante papel na manutenção da leptospirose dentro de uma
mesma espécie (Faine 1993 apud Massa 2012 p20). A transmissão indireta ocorre quando o animal
adquire a leptospirose doambiente contaminado. As leptospiras entram no organismo por soluções de
continuidade na pele e possivelmente atro diagnavés da pele integra encharcada, pela conjuntiva, pelas
vias aéreas, pelo trato genital e pela placenta em qualquer fase da gestação (Faine, 1993 apud Massa 2012
p20). Os focinhos de bovinos são sujeitos a pequenos traumas pela vegetação, o que é uma porta de
entrada ideal para leptospiras em lâminas de água e pastagens contaminadas (Faine, 1993 apud Massa
2012 p20).
Nos casos de abortamentos, como a infecção ocorre uma semana antes do abortamento, o
diagnóstico deve ser realizado mediante a titulação de anticorpos em somente uma amostra de soro
sanguíneo, obtida após o abortamento (Riet-Correa 2001). Para Blood et al (1987), o abortamento sempre
ocorre alguns dias após a septicemia, por causa do tempo necessário para produzir alterações fetais, o
qual geralmente está degenerado ao nascimento e raramente as leptospiras estão presentes no feto
abortado, porém se o feto sobreviveu por tempo suficiente para produzir anticorpos, estes podem ser
detectáveis.
A vacinação desempenha papel importante no controle da Leptospirose em rebanhos bovinos
(Gerritsen 1994 apud Pereira 2012 p24). Várias vacinas comerciais estão disponíveis no mercado

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nacional compostas por cinco a dez sorovares, que atendem a soroprevalência da maioria das regiões do
país (Castro et al 2008 apud Pereira 2012 p24). Segundo Riet (2001), a vacinação e testes sorológicos
regulares para verificação de novas infecções associadas ao controle das mesmas, geralmente são eficazes
no controle de novos surtos. No entanto, deve-se realizar sistema de vigilância para detectar a introdução
de novos sorotipos.

Neosporose
A Neosporose bovina é uma doença infecciosa causada pelo Neospora caninum, parasito
intracelular obrigatório considerada uma das principais causas de abortamento na espécie bovina em
diversos países, sendo a transmissão vertical considerada a principal forma de manutenção do parasito nos
rebanhos bovinos (Amaral et al 2012). Nos bovinos, a enfermidade é caracterizada por abortamentos, que
se constituem na evidencia clinica observada nas vacas infectadas, podendo ocorrer entre o quinto e o
sexto mês de gestação, embora possam se apresentar a partir do terceiro mês até o término da gestação
(Teixeira et al 2010).
A transmissão do parasito pode ocorrer tanto pela via horizontal quanto pela vertical. A
transmissão horizontal se dá quando o bovino ingere oocistos esporulados de Neospora caninum
presentes no ambiente. Já a vertical (transplacentária) ocorre quando vacas prenhes com infecções
persistentes transmitem o agente para sua prole durante a gestação (Orlando, 2013). Os cães são
considerados os hospedeiros definitivos e eliminam oocistos nas fezes, contaminando o ambiente, e
bovinos se infectam através da ingestão de oocistos (Pescador, 2005). Estudos realizados por Corbellini et
al (2002) relataram a presença de cães em todas as propriedades com histórico de aborto associado a N.
caninum, destacando o provável papel desses animais na transmissão horizontal dos parasitos para os
bovinos.(Mota, 2008).
A maior fonte de infecção para bovinos leiteiros é a transmissão transplacentária, em vacas
naturalmente infectadas que passam a infecção para o feto durante a gestação (Pescador, 2005). Segundo
Mota et al (2008), vários trabalhos demonstraram que a transmissão transplacentária do parasito é eficaz
nos bovinos infectados naturalmente, e que outra forma de transmissão vertical comprovada
experimentalmente, pode ser o colostro ou o leite. Mota (2008) cita ainda, que trabalhos realizados por
Gondim et al (2002), reproduzindo experimentalmente o ciclo de transmissão cão-bezerro, demonstraram
que cães infectados mediante a ingestão de tecidos de bovinos com neosporose crônica eliminavam maior
quantidade de oocistos do parasito em suas fezes quando comparados com cães infectados com tecidos de
camundongo.
O diagnóstico presuntivo de Neosporose bovina é baseado em alterações histopatológicas do SNC,
que são caracterizadas por gliose e encefalite multifocal, e geralmente essas lesões são menos
proeminentes em fetos de idade mais avançada (Pescador 2005). O diagnóstico deve ser confirmado
através de imuno-histoquímica, uma vez que os cistos podem ou não ser observados nas lesões em fetos
abortados e, além disso, podem ser confundidos com cistos de Toxoplasma gondii . Ensaios
imunoenzimático pode ser utilizado para detecção de animais soropositivos no rebanho (Riet 2001).
Medidas de prevenção e controle incluem: redução do contato entre hospedeiro definitivo (cão) e
tecidos infectados como placenta e restos placentários, redução da exposição de bovinos com fezes do
hospedeiro definitivo e eliminação de vacas com histórico de abortos (Pescador, 2005).

Campilobacteriose
A doença causada nos bovinos por Campylobacter fetus subsp. venerealis e Campylobacter fetus
var. biótipo intermedius é uma doença venérea especifica, transmitida pelo coito ou pelo sêmen, e
manifesta-se por repetição de cio, abortos, morte embrionária, infertilidade e endometrite com corrimento
cervical purulento (Riet, 2001). Segundo Alves et al (2011), quando tipificados fenotípica e
molecularmente, a maioria dos isolados de C. fetus de abortamentoo, foi classificada como C. fetus subsp.
venerealis. No touro a bactéria coloniza a mucosa prepucial e na vaca a mucosa da vagina, cérvix, útero e
ovidutos, que sob condições naturais é transmitida do macho para a fêmea pelo coito ou pelo uso de
sêmen contaminado (Pellegrin, 2001).
Ao ser introduzido no lote, C. fetus subsp. venerealis, causa numerosos abortos, depois a taxa cai e
a doença fica endêmica. Há aboramentos embrionários extremamente precoces, que frequentemente
passam despercebidos (Corrêa & Corrêa, 1992). O microrganismo pode permanecer na mucosa vaginal
das vacas sem produzir a doença, induzindo lesões, apenas, quando tiverem acesso ao útero. Os
abortamentos podem ocorrer em qualquer período da gestação, embora sejam mais frequentes em torno

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de 4-6 meses (Riet, 2001).


Segundo Alves et al (2005), a observação das manifestações clinicas, do histórico do animais e da
avaliação dos dados zootécnicos da propriedade podem auxiliar no diagnóstico. A principal manifestação
clinica é a repetição de cio em intervalos aumentados e irregulares, decorrente da mortalidade
embrionária que ocorre após a implantação do embrião. O diagnóstico definitivo é feito através da
imunofluorescência ou isolamento do agente do raspado da mucosa peniana de touros portadores (Riet,
2001).
Medidas de prevenção e controle incluem: inseminação artificial com sêmen de qualidade,
descarte de touros portadores, implantação de estação de monta limitada com descarte de fêmeas vazias
ao final da estação, repouso sexual por 3 a 4 ciclos para recuperação de fêmeas, vacinação anual de
fêmeas 30 dias antes da entrada em reprodução (Alves et al 2005).

Tricomonose
A tricomonose é causada por um protozoário denominado Tritrichomonas foetus. É transmitida
pelo coito e caracteriza-se por repetição de cio, morte embrionária, piometra e abortamento (Riet, 2001).
A transmissão ocorre quando um touro infectado copula com uma fêmea suscetível ou quando um touro
suscetível copula com uma fêmea infectada, sendo a característica da infecção mais importante em touros,
é o desenvolvimento de portador assintomático (Leal, 2012).
A doença caracteriza-se principalmente por induzir metrite catarral ou purulenta, que acarreta
mortes embrionárias ou abortos, principalmente no inicio da gestação. Os aspectos epidemiológicos,
clínicos e patológicos são semelhantes à Campilobacteriose (Riet, 2001).

Rinotraqueíte infecciosa bovina


É uma doença que tem como agente etiológico o Herpesvírus bovino tipo 1, conhecida
principalmente como enfermidade do trato respiratório e reprodutivo. Existe uma variação nos sinais
clínicos associados a infecções por esse vírus, como doenças respiratórias, conjuntivite, balanopostite,
vulvovaginite e alterações reprodutivas (Renault, 2002). Tanto a forma respiratória quanto a forma
reprodutiva podem provocar morte fetal e abortamento na segunda metade da gestação, sendo uma
característica importante desses vírus a capacidade de produzir latência (Orlando, 2013).
As principais fontes de infecção do herpesvírus bovino tipo 1 são: secreção nasal, secreção genital,
fluidos fetais e sêmen congelado, onde o vírus se mantem por longos períodos. Acredita-se, no entanto ,
que a transmissão venérea seja a forma mais importante da infecção (Riet, 2001).
Em animais prenhes, quando o vírus entra em contato com a mucosa respiratória ou do trato
genital, ocorre sua multiplicação e disseminação por meio de leucócitos infectados para todo o corpo do
animal podendo chegar ao útero. Desta forma, o abortamento pode ocorrer tanto pela exposição inicial ao
vírus, pela reativação de vírus latente, quanto pela vacinação de vacas prenhes usando vírus vacinal vivo
(Orlando, 2013).
Segundo Riet et al (2001), animais infectados, mesmo com infecção inaparente, tornam-se
portadores para o resto da vida, pois o vírus pode estabelecer estado de latência nos gânglios sensoriais,
que pode ser reativados periodicamente em situações de estresse, como transporte, parto, desmame ou
confinamento. A presença de um bovino portador do vírus é uma fonte de infecção na propriedade.
De acordo com Smith (1994), no exame histopatológico, a presença de focos microscópicos de
necrose com inclusões intranucleares eosinofílicas e a ausência de inflamação nos tecidos fetais,
especialmente fígado, pulmão, timo ou glândula adrenal, sugerem o diagnóstico. Porém, a confirmação é
feita pelo isolamento viral da placenta ou pulmão fetal ou pela demonstração do antígeno viral no rim
fetal ou outro tecido, por meio do teste de anticorpos fluorescente.
As manifestações clínicas da infecção por hespesvírus podem ser controladas e prevenidas com um
bom manejo do rebanho minimizando os fatores causadores de estresse e programas de vacinação (Riet,
2001). As vacinas de vírus vivo modificado , administradas por via intramuscular são geralmente seguras,
baratas, eficazes e promovem resposta imune rapidamente, propiciando imunidade por toda a vida após a
administração de dose única. A desvantagem é que podem causar abortamento quando administradas em
vacas prenhes após o quinto mês de gestação (Smith, 1994). Já as vacinas inativadas são seguras quanto
ao uso, mas são necessárias várias doses e adição de adjuvantes vacinais para manter-se um nível
adequado de imunidade (Riet, 2001).

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Diarréia viral bovina


O vírus da diarreia viral bovina (BVDV) é um pestivírus que pode acarretar a morte embrionária
precoce, anomalias fetais ou o abortamento (Smith, 1994). É um dos principais patógenos virais dos
bovinos, e dentre as principais características do vírus, destacam-se sua diversidade e a capacidade de
estabelecer infecção persistente (Almeida, 2010). Animais persistentemente infectados são provenientes
de fêmeas que se infectaram com uma amostra de BVDV não citopático durante a gestação, entre os 40 e
120 dias, possibilitando a ocorrência de infecção transplacentária, e são importantes fontes de infecção
(Galuppo, 2012).
De acordo com Smith (1994), o vírus pode ser eliminado na maioria das secreções e excreções
corporais. Riet et al (2001) cita ainda que a transmissão ocorre através de contato direto ou indireto, por
fomites, pela placenta ao feto e pelo sêmen. Em vacas soronegativas, a exposição ao vírus por ocasião da
monta impedirá a concepção. Infecções até os 100 dias de prenhes ocasionam abortamento.
Deve-se suspeitar de BVDV sempre que houver num rebanho perdas embrionárias, abortamentos,
má formações fetais, nascimentos de animais fracos e presença de animais com doença entérica,
respiratória com componentes hemorrágicos, erosões e ulcerações no trato digestivo (Galuppo, 2012). O
diagnóstico pode ser feito por isolamento do vírus, imuno-histoquímica, ou detecção de anticorpos no feto
ou bezerro morto, desde que não tenha mamado o colostro (Riet et al 2001).
A vacinação contra BVDV é recomendada principalmente para imunização de fêmeas suscetíveis
antes da temporada de cobertura. Essa medida auxiliar é indicada para prevenir a transmissão via
transplacentária e consequente geração de animais persistentemente infectados. Por outro lado, a
vacinação de bezerros é indicada para prevenção de doenças respiratórias e digestivas severas (Almeida,
2010). O controle da infecção sem vacinação, baseia-se na detecção e eliminação de animais
persistentemente infectados e no controle de ingresso de animais e sêmen (Riet et al 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento das principais causas infecciosas de abortamento em bovinos é de extrema


importância, pois tais doenças afetam diretamente a sanidade do rebanho, causam impactos econômicos
devido ás perdas reprodutivas e geram gastos com manutenção de fêmeas com maior intervalo entre
partos. Além disso, a abordagem dos aspectos de cada doença é uma ferramenta que permite adoções de
medidas de prevenção e controle das mesmas.

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QUALIDADE DA ÁGUA NA PRODUÇÃO DE PEIXES EM VIVEIROS

Thiago Xavier Martins1, Letícia Emiliani Fantini2, Antonio Francisco de Oliveira3,


Ewerton de Resende Garcia4 Thais Garcia Pereira5 Letícia Nantes Souza6, Laice Menes
Laice7, Jayme Aparecido Povh8
1
Graduando da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: thiago.xavier.martins@hotmail.com
2
Doutoranda da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: letícia.emiliani@hotmail.com
3
Graduando da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: anton.francisco37@gmail.com
4
Graduando da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: ewerton_rg@hotmail.com
5
Graduanda da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: thaisgarciapereira@hotmail.com
6
Graduanda da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: leticianantes.7@gmail.com
7
Mestrando da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: laice86meses@gmail.com
8
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. Email: jayme.povh@ufms.com

Resumo: O manejo inadequado da água pode comprometer a produção de peixes. Diante disso,
objetivou-se com essa revisão de literatura apresentar os principais parâmetros de qualidade de água que
são avaliados em pisciculturas de viveiros escavados. É interessante que uma piscicultura comercial
intensiva realize os seguintes parâmetros da água: Temperatura, pH, amônia, nitrito, nitrato, oxigênio
dissolvido, transparência, alcalinidade e dureza. Esses parâmetros são avaliados em conjunto e de acordo
com a espécie de peixe produzida, já que há uma variação de alguns parâmetros entre as espécies, dessa
forma, analisar e interpretar os resultados é importante para manter a dinâmica e qualidade da água.
Como a produção aquícola apresenta aumento significativo a cada ano, e novos peixes estão sendo
produzidos (peixes híbridos) são necessários novos estudos relacionadas com a qualidade da água, uma
vez que, é o principal fator limitante da atividade.

Palavras- chave: amônia, oxigênio dissolvido, pH, transparência da água

WATER QUALITY IN FISH PRODUCTION IN PONDS

Abstract: The inadequate management of the water can compromise the production of fish. Before that,
aimed to with this literature review to present the main quality parameters of water are measured in fish
farms fishponds. Interestingly, intensive commercial fish farming perform the following water
parameters: temperature, pH, ammonia, nitrite, nitrate, dissolved oxygen, transparency, alkalinity and
hardness. These parameters are evaluated in combination and in accordance with the kind of fish
produced, since there is a variation of some parameters between species, thus analyze and interpret the
results it is important to maintain momentum and water quality. As aquaculture has significantly
increased each year, and young fish are being produced (hybrid fish) are needed new studies related to
water quality, since it is the main factor limiting the activity.

Keywords: ammonia, dissolved oxygen, pH, water transparency

INTRODUÇÃO

Segundo dados do IBGE (2015) a produção total da piscicultura brasileira em 2014 foi de 474,3
mil toneladas, representando aumento de 20,9% em relação ao ano anterior. A região Norte despontou na
liderança da participação das grandes regiões. Esse crescimento foi impulsionado por Rondônia, que

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aumentou produção para 75,0 mil toneladas de peixes. Mato Grosso, que liderava a produção em 2013
caiu para a segunda posição, totalizando 60,9 mil toneladas de peixes.
Na atividade de piscicultura o conhecimento e acompanhamento da qualidade da água utilizada
são essenciais para evitar problemas com a produção e também para uma melhor utilização desse recurso.
O uso indiscriminado da água associado a deterioração de sua qualidade intensifica a escassez (Kivaisi,
2001). Assim, há necessidade de maior cuidado com a utilização de água proveniente de sistemas de
criação de organismos aquáticos, não só melhorando o manejo empregado, mas também adotando
sistemas que auxiliem na melhoria da qualidade da água (Sipaúba-Tavares et al., 2002).
A água destinada as atividades produtivas são captadas de rios, lagos, represas e aquíferos
subterrâneos. Essas águas são encontradas em domínio terrestres, nos continentes e ilhas, formando a
hidrosfera, sendo que 97,5 % dessa camada é formada por água salgada e 2,5 % água doce, sendo rios e
lagos responsáveis por somente 0,3% desse último percentual (Rebolças, 2002).
Na produção de piscicultura além da quantidade da água é de extrema importância a qualidade da
água, se tornando na maioria das vezes um fator limitante da produção. A qualidade da água está
diretamente associada ao tipo de solo do viveiro, composição da água de origem, manejo do sistema de
produção, composição da dieta utilizada e densidade de organismos presentes no viveiro.
O manejo inadequado da água pode acarretar problemas na produção de peixes, os quais podem
estar associados com a diminuição no crescimento, alta taxa de mortalidade queda na reprodução, entre
outros. Diante disso, objetivou-se com essa revisão de literatura apresentar os principais parâmetros de
qualidade de água que são avaliados em pisciculturas de viveiros escavados.

DESENVOLVIMENTO

Análise de parâmetros físicos e químicos da água


A análise de parâmetros físicos e químicos da água constitui importante ferramenta para monitorar
a qualidade hídrica do sistema que está sendo utilizado na produção de peixe (Matsuzaki et al., 2004). É
de grande importância que os piscicultores tenham conhecimento para analisar e interpretar os resultados
dos parâmetros, uma vez que esses são avaliados em conjunto, pois apresentam correlação entre eles, ou
seja, um parâmetro pode interferir na ação do outro.
Dentre os parâmetros mensurados em uma piscicultura destacam-se temperatura, pH, amônia,
nitrito, oxigênio dissolvido, transparência, alcalinidade e dureza. A mensuração desses pode ser feita por
meio de amostras laboratoriais, equipamentos simples portáteis ou ainda aparelhos mais sofisticados. No
mercado atual, existem aparelhos que fazem as análises separadamente ou em conjunto, como por
exemplo, o multiparâmetro, ficando a critério do piscicultor optar pela forma mais viável. A importância
de cada equipamento, método de determinação e a frequência do monitoramento podem variar de acordo
com o tipo e a intensidade do sistema de produção que está sendo utilizado.

Temperatura
Os peixes diferente dos mamíferos e aves são animais de sangue frio, chamados animais
pecilotérmicos, os quais regulam a temperatura corporal de acordo com o ambiente. Hardy (1981) afirma
que os animais pecilotérmicos são subordinados ao seu meio ambiente, já que sua atividade e
sobrevivência estão permanentemente sujeitos a temperatura prevalecente. Quando ocorrem oscilações de
temperaturas, os peixes apresentam dificuldades para se alimentar, ficando susceptíveis a doenças (Hein
& Brianese, 2004). A variação da temperatura influencia potencialmente todos os processos fisiológicos e
comportamentais dos peixes (Hutchinson, 1975).
Os peixes de águas quentes possuem uma ampla faixa de tolerância aos fatores físico-químicos.
Por exemplo, a faixa térmica dos peixes de água temperada é de 4 a 25 ºC, muito mais ampla que a dos
peixes de águas frias (4-15 ºC) e de água de clima tropical que vai de 25 a 35 ºC (Parker & Davis, 1981).
Ali et al. (2003) afirma que no habitat natural, os peixes tentam fugir de condições adversas, com baixos
níveis de oxigênio e elevadas temperaturas, o que, em geral, nem sempre é possível em condições de
cultivo, devido uniformidade das variáveis físico-químicas da água e das limitações do espaço físico dos
viveiros.
A taxa de consumo de oxigênio dos peixes varia conforme a temperatura, sendo que cada espécie
apresenta uma temperatura máxima de consumo, em que todas as atividades metabólicas apresentam um
ótimo desempenho. Com isso torna-se necessário o conhecimento das condições ideais de cada espécie e

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do clima da região, para buscar a espécie mais adaptada e consequentemente um maior desenvolvimento
da produção.
Na piscicultura da universidade federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, os valores de temperatura
da água variam ao longo do ano, sendo os valores entre 25 e 37 ºC. Sabemos que a temperatura ideal da
água varia de acordo com a espécie de peixe escolhida para a produção. Algumas espécies são mais
resistentes, ou seja, toleram uma faixa maior de variação de temperatura na água, já outra espécies
apresentam uma faixa de conforto térmico menor. No caso dos viveiros da UFMS, houve uma redução do
consumo de ração pelos peixes (pintados híbridos) quando as temperaturas reduziram (inverno). Caso
outras espécies fossem produzidas nesse local, como a tilápia por exemplo, poderia ser que o consumo
caísse menos comparado ao dos pintados híbridos.

pH
O pH é a medida do íon hidrogênio [H+] na água. Valores entre 6,5 e 8,5 são adequados para
criação de peixes (Kubitza,1999), sendo que em pH mais alcalino pode ocorre maior transformação do
íon amônio (NH4) em amônia livre e gasosa (NH3), tóxica aos peixes (Pereira & Mercante, 2005). Vários
fatores afetam o pH da água dos viveiros, como tipo de solo, concentração de dióxido de carbono (CO 2),
condições climáticas, entre outros.
Durante o processo de fotossíntese, o fitoplâncton retira o CO 2 da água, aumentando o pH
(Imbiriba et al., 2000). A respiração do CO 2 na água contribui para abaixar o pH, ou seja, durante o dia há
uma elevação do pH devido o processo de fotossíntese e no período da noite tem uma queda nesse pH
pelo processo de respiração. As concentrações de fitoplâncton nos viveiros e as alterações climáticas
podem levar a oscilações no valor do pH.
Quando há um aumento no valor do pH, causado por uma grande concentração de fitoplâncton no
viveiro pode ser utilizado um algicida para o controle do mesmo. Nessa situação alguns produtores tem
utilizado o sulfato de cobre como uma forma de controle, devido ele ter uma vida residual mais curta
(Queiroz & Silveira 2006). Segundo Queiroz & Boeira (2006) quando a alcalinidade for menor que 20
mg/L, é preciso fazer a calagem dos viveiros. A calagem irá aumentar o pH do sedimento do fundo dos
viveiros, tornando o fósforo mais disponível e aumentando a disponibilidade de carbono para a
fotossíntese através da elevação do íon de bicarbonato na água (Boyd & Scarsbrook, 1974).

Amônia, Nitrito e Nitrato


Em viveiros de piscicultura, durante o processo de decomposição microbiana os compostos
orgânicos nitrogenados (proteína) encontrados em sobra de rações e fezes dos peixes são transformados
em amônia (NH3). Esse composto é um gás que se solubiliza na água, o que estabelece um equilíbrio
químico com íon amônio (NH4+) (Queiroz & Boeira, 2008). Esse resíduo nitrogenado pode atingir
rapidamente concentrações tóxicas em sistemas intensivos mal manejados, causando redução da
sobrevivência, do crescimento e até mesmo a morte dos animais (Urbinati & Carneiro, 2004).
A amônia quando dissolvida na água encontra-se em equilíbrio entre as formas ionizada NH4 e não
ionizada NH3, sendo este equilíbrio influenciado pelo pH, temperatura e salinidade. Alterações destes
parâmetros resultaram na variação da concentração das diversas formas de nitrogênio, que podem atingir
concentrações tóxicas para os peixes (Arana, 1997).
Queiroz & Boeira (2006) destacam, que a amônia é formadora de acidez devido a nitrificação da
amônia e do amônio em nitrato (considerado uma substância com pequeno poder tóxico aos peixes) que
ocorre devido a oxidação bacteriana, implicando em um consumo elevado de oxigênio, porque a
nitrificação é um processo aeróbico. Em geral, durante dias de sol e na parte da tarde o pH da água nos
viveiros fertilizados pode variar entre 8,0 e 9,5 o que significa que altas taxas de fertilização feitas com
uréia e com fertilizantes a base de amônia podem causar grandes mortalidades em decorrência do
aumento significativo da toxidez de amônia em função da elevação do pH.
Kubitza (1999) trabalhando com valores de amônia não ionizada em peixes tropicais, observou
que valores acima de 0,20 mg/L, levam à uma toxicidade crônica, podendo causar irritações e
inflamações das brânquias, resultando na auto-intoxicação dos peixes pela amônia excretada. Já em níveis
entre 0,70 e 2,40 mg/L são letais aos peixes, mesmo sendo expostos por curto períodos de tempo.
É importante que o produtor saiba interpretar os dados desse parâmetro que é de extrema
importância na piscicultura, uma vez que baixas concentrações, dependendo da espécie de peixe que está
sendo produzida, pode ocasionar morte. Geralmente, na piscicultura, mede-se esse parâmetro por um kit
de análise de água, na qual utiliza-se reagentes para obtenção do valor da amônia total, o que significa

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que o resultado representa diversas formas de nitrogênio contidas na água e cada kit apresenta uma tabela
para se determinar o valor da amônia que é tóxica para os peixes, na qual utiliza-se como dependência, os
parâmetros: temperatura da água e pH. Há algumas espécies de peixes que não toleram acima de 0,1 mg
L-1 de amônia tóxica.
O nitrito (NO2) é um metabólito intermediário do processo de nitrificação, durante o qual a amônia
é oxidada a nitrato (NO3) através de ação de bactérias do gênero Nitrosomonas e Nitrobacter. Condições
de baixo oxigênio dissolvido prejudicam o desempenho da bactéria do gênero Nitrobacter, favorecendo o
acúmulo de nitrito na água (Kubitza, 1998a). O nitrito em altas concentrações provoca a oxidação do
átomo de ferro da molécula da hemoglobina do sangue, convertendo-a em meta-hemoglobina, molécula
incapaz de transportar oxigênio, estabelecendo-se um quadro de hipóxia e cianose (DUBOROW et al.,
1997). Segundo Kubitza (1998b) a toxidez por nitrito pode ser aliviada com o aumento na concentração
de íons cloretos (Cl-) na água.

Oxigênio dissolvido
O oxigênio dissolvido (OD) na água provém principalmente da atmosfera e da fotossíntese. A
quantidade de oxigênio dissolvido é de suma importância para a manutenção da vida dos animais
aquáticos, com a elevação da temperatura e diminuição da pressão, ocorre redução na solubilidade desse
gás (Esteves 1998). Os baixos níveis de oxigênio dissolvido na água (hipóxia) podem ser provocados pelo
consumo do oxigênio por peixes e por outros organismos, pela decomposição da matéria orgânica e pelo
aumento da temperatura. Os peixes compensam a falta de OD aumentando a taxa de ventilação, que
consequentemente promove um aumento no consumo desse gás (Rosso et al., 2006).
O oxigênio ideal para produção de peixes em viveiros escavados é em torno de 5 mg L -1, no
entanto, algumas pisciculturas, por apresentarem pouco volume de água e consequentemente pouca
renovação apresentam dificuldades de manter essa quantidade ideal de OD, isso não significa que peixes
não podem ser produzidos, pode-se utilizar, por exemplo, formas de incorporação de oxigênio na água,
como aeradores, ou a utilização de uma densidade de estocagem menor. Peixes produzidos em viveiros
escavados que apresentam menos que 2 mg L-1 de OD podem apresentar um menor crescimento, uma vez
que, os peixes não estão nas condições ideias de produção para a espécie (zona de conforto).
Piedras et al. (2006) estudaram o desempenho de juvenis de catfish (Ictalurus punctatus) em
diferentes temperaturas, sendo todos com peso médio inicial de 26 g, submetidos às temperaturas de 20,
23 e 26 ºC, criados durante 33 dias em caixas de poliuretano com capacidade de 1.000 litros. Concluíram
que os animais apresentam melhor desempenho na temperatura de 26 ºC, com um mínimo de 6,1 mg L -1
de oxigênio dissolvido.
Na piscicultura em viveiros escavados, a água limpa entra por cima e é retirada no lado oposto por
baixo, ocorrendo uma renovação. Segundo Queiroz e Boeira (2008) em geral, recomenda-se a troca de
água do fundo dos viveiros porque contém uma quantidade maior de metabólitos tóxicos, e também
porque a concentração de oxigênio dissolvido é menor com relação à água superficial.
Na piscicultura em sistemas semi-intensivo ocorre uma flutuação normal do oxigênio da água em
dias ensolarados, onde são encontrados valores menores no período da manhã (após a respiração dos
animais) e concentrações maiores de oxigênio da água a tarde (após a fotossíntese). Quando ocorre dias
sem sol ou nublados a fotossíntese é prejudicada e o oxigênio diminui, caso ocorra dias nublados
consecutivos é necessário uma intervenção como aumento do fluxo de água ou utilização de aeradores, na
tentativa de promover incorporação de oxigênio na água.

Transparência da água
A transparência tem uma relação direta com a quantidade de matéria orgânica dissolvida na água e
a presença de fitoplâncton, ou seja, quando se tem um acúmulo de matéria orgânica, que pode ser gerado
por taxas de alimentação elevadas que resultam em sobras, há uma influência direta na densidade de
fitoplâncton e na turbidez da água. Quando ocorre aumento na turbidez da água, a transparência diminui,
reduzindo a penetração de luz na coluna d’água o que leva a uma diminuição no processo de fotossíntese,
essa queda no processo fotossintético e o acúmulo de matéria orgânica geram um aumento na demanda
bioquímica de oxigênio (Sandre et al., 2009).
Na maioria dos sistemas de produção de piscicultura é utilizado como indicador de transparência o
disco de Secchi. Para a execução desse método, o disco é imergido na água do viveiro, levando em conta
a visibilidade e a profundidade do mesmo. Quanto maior for a turbidez da água, menor será a visibilidade

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do disco. Em viveiros de produção de peixes o plâncton geralmente é o que leva a maior turbidez da água,
tornando essa ferramenta também um indicador da densidade planctônica (Queiroz & Silveira, 2006).
Os valores de transparência da água é dado em centímetros (cm) e o seu resultado, depende muito
da altura da lâmina dágua que está sendo utilizado no viveiro de produção de peixes. Nesse caso, o
produtor, ou técnico responsável deverá avaliar de forma sensata os resultados. Diversas recomendações
podem ser encontradas na literatura, o manual de criação de peixes em viveiros da CODEVASF sugere
que o ideal para criação de peixes é que o disco de Secchi possa ser visto entre 30 e 60 centímetros de
profundidade, indicando a existência de quantidade adequada de plâncton (água levemente esverdeada).
Se o disco desaparecer da visão antes da profundidade de 30 centímetros, a indicação é de baixa
transparência, devendo-se cessar a adubação/fertilização do viveiro, diminuir o arraçoamento e aumentar
o fluxo de água, afim de trocar parte da água do viveiro. Nesta condição, corre-se o risco dos peixes
morrerem por falta de oxigênio, principalmente no período noturno (CODEVASF, 2013).
Por outro lado, quando se pode enxergar o disco a profundidades maiores que 60 centímetros, a
indicação é de elevada transparência, sendo recomendado incrementar a fertilização do viveiro e reduzir o
fluxo de água ao mínimo possível até a transparência retornar ao valor adequado.

Alcalinidade e Dureza
Alcalinidade é capacidade da água em neutralizar os ácidos fortes, servindo como tamponante para
o sistema, fazendo com que o pH fique estável (Furtado, 1995). Já os íons cálcio e magnésio, quando
combinados com os carbonatos e bicarbonatos representam a dureza total da água (Lopes, 2012). Viveiros
construídos em locais com solos ácidos frequentemente apresentam água com valores baixos de pH e
concentrações reduzidas de alcalinidade total e dureza total, expressas em mg L-1. Problemas de acidez
nos viveiros de peixes não resultam diretamente dos efeitos negativos do pH baixo sobre o crescimento,
reprodução, ou sobrevivência, mas sim dos efeitos da baixa alcalinidade total e da presença de sedimentos
ácidos no fundo dos viveiros, que interferem indiretamente na produção de plâncton e bentos (Queiroz &
Boeira, 2006). A acidez do sedimento do fundo dos viveiros deve ser corrigida até atingir valores entre
7,0 e 8,0 e as concentrações da alcalinidade total e dureza total da água devem ser elevadas acima de 20
mg L-1 (Boyd & Tucker, 1998).
A alcalinidade é dada pela soma de bases tituláveis de carbonato de cálcio (CaCO 3), uma
quantidade expressiva de bases, incluindo carbonatos, bicarbonatos, hidróxidos, silicatos, fosfatos,
amônia e vários compostos orgânicos, ocorrem na água. Entretanto, os bicarbonatos, carbonatos, e
hidróxidos são considerados as bases predominantes nas águas naturais, e nos viveiros de aquicultura os
bicarbonatos e os carbonatos são encontrados em maiores concentrações do que as outras bases. Os
carbonatos alcalinos terrestres como a calcita e a dolomita são as principais fontes de bases na água
(Queiroz & Boeira, 2006).
A soma das concentrações de cálcio e de magnésio expressas como equivalente de carbonato de
cálcio (CaCO3) tradicionalmente tem sido considerada como a medida da dureza total. Como regra geral,
a dureza, tal como a alcalinidade é derivada da dissolução do calcário, o qual quando dissolve produz
quantidades iguais de alcalinidade e dureza. Na maioria das águas as concentrações da dureza total e da
alcalinidade total são aproximadamente iguais, entretanto algumas expressões significativas são
encontradas. Em águas muito ácidas, a dureza é geralmente maior do que a alcalinidade porque o
bicarbonato é neutralizado pela acidez, mas os íons que determinam a dureza permanecem (Queiroz &
Boeira, 2006). Verificamos que na piscicultura da UFMS ao longo do ano os viveiros escavados
apresentaram alcalinidade e dureza semelhantes, variando entre 60 e 80 mg L-1.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que se tenha sucesso nas atividades de aquicultura, é necessário que se entenda a
complexidade das interações existente entre os peixes e o ambiente onde ele vive, a água. Em
piscicultura, o conhecimento dos parâmetros físicos e químicos da água e a forma que eles interagem é
uma ferramenta para evitar problemas e também elevar o nível de produção. Além disso, é necessário
buscar uma espécie de peixe que se adapte bem com as condições atuais do local, levando em conta a
região e o sistema de produção adotado. Com o aumento significativo da produção aquícola a cada ano,
são necessários novos estudos relacionadas com a qualidade da água, uma vez que é o principal fator
limitante da atividade.

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FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
ANAIS DA VIII MOSTRA CIENTÍFICA FAMEZ

RENDIMENTO DE PROCESSAMENTO DE CARCAÇA DE SURUBINS


(Pseudoplatystoma spp.)

Thais Garcia Pereira1, Letícia Emiliani Fantini2, João Pedro Araújo Rozales3, Thiago
Martins Xavier4, Thaiany Vanessa Signor5, Bruna Karla Assad Bellinate6, Jayme
Aparecido Povh7, Ruy Alberto Caetano Correa Filho8
1
Graduanda da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Bolsista PET. Email: thaisgarciapereira@hotmail.com
2
Doutoranda da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: letícia.emiliani@hotmail.com
3
Graduando da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: jaorozales@gmail.com
4
Graduando da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: thiago.martins.xavier@hotmail.com
5
Graduanda da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: thaianysignor@hotmail.com
6
Graduanda da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: bru_karla@hotmail.com
7
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. Email: jayme.povh@ufms.com
8
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. Email: ruy.filho@ufms.com;

Resumo: O surubim (Pseudoplatystoma spp.) é um peixe produzido em água doce de importância para
pesca e indústria, apresenta alto potencial de rendimento de carcaça. Os surubins são comercializados em
filés, cujo rendimento é superior em relação a algumas espécies. Como o surubim apresenta grande valor
de mercado, e é utilizado para exportação dentro do estado, objetivou-se com esta revisão de literatura
sintetizar o conhecimento científico sobre rendimento do processamento dessa espécie. As metodologias
utilizadas para se saber o rendimento de carcaça de determinada espécie de peixe ainda não foram
padronizadas, no entanto, da forma que são realizadas podem indicar o potencial de produção de um
peixe. O surubim possui um bom aproveitamento integral de suas partes (cabeça, pele, vísceras e carcaças
sendo os principais resíduos do processamento do pescado), podendo ser utilizada na produção de
farinhas para uso na alimentação animal, silagens de peixe, compostagem entre outros. O rendimento de
filé, que é considerado o componente mais nobre do pescado é superior ao de algumas espécies. No
entanto, são necessários mais estudos sobre os componentes da carcaça desses animais e principalmente
quanto a padronização das metodologias de pesquisa.

Palavras- chave: Aproveitamento integral, peixe carnívoro, piscicultura, resíduos

CARCASS YIELD OF PROCESSING OF SURUBINS (Pseudoplatystoma spp.)

Abstract: The catfish (Pseudoplatystoma spp.) is a fish produced in freshwater importance to fishing and
industry, has a high carcass yield potential. The surubins are sold in fillets, whose income is higher than
in some species. As the catfish has great market value, and is used for export within the state, aimed with
this literature review summarized scientific knowledge on throughput of this species. The methodologies
used to know carcass yield of certain species of fish have not yet been standardized, however, the way
they are carried out may indicate the potential of producing a fish. The catfish has a good full use of its
parts (head, skin, viscera and carcasses and the main waste from fish processing) and can be used to
produce flour for use in animal feed, fish silage, compost among others. The fillet yield, which is
considered the noblest part of the fish is higher than in some species. However, more studies are needed
on the housing components of the animals and especially as the standardization of research
methodologies.

Keywords: Carnivorous fish, fish rearing, full utilization, residue

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INTRODUÇÃO

A produção total da piscicultura brasileira em 2014 foi de 474,3 mil toneladas, representando
aumento de 20,9% em relação ao ano anterior (IBGE, 2015). De acordo com a pesquisa anteriormente
citada, podemos verificar o seguinte: a região Norte despontou na liderança da participação das grandes
regiões, esse crescimento foi impulsionado por Rondônia, que aumentou sua produção para 75,0 mil
toneladas de peixes. Mato Grosso, que liderava a produção em 2013 caiu para a segunda posição,
totalizando 60,9 mil toneladas de peixes produzidos.
A região responsável pela maior produção de surubins foi a centro-oeste com uma produção total
de 18.403.117 kg (IBGE, 2015). A produção de surubins tem aumentado significativamente em algumas
regiões, dados mostram que os surubins (pintado, cachara, cachapira e pintachara) foi o quinto grupo de
peixe mais produzido no ano de 2014 representando um aumento de 30,04% em relação ao ano anterior
(IBGE, 2015).
O grupo dos surubins é composto por peixes do gênero Pseudoplatystoma e os seus híbridos. O
híbrido Pseudoplatystoma spp., popularmente conhecido como ponto e vírgula ou pintado, é um peixe de
água doce resultante do cruzamento entre o pintado Pseudoplatystoma corruscans e o cachara
Pseudoplatystoma reticulatum, esse foi muito produzido em pisciculturas comerciais do estado do Mato
Grosso do Sul e em outros estados do país (Fantini et al., 2014). Recentemente, outros híbridos estão
sendo produzidos, principalmente o pintado da Amazônia, produto do cruzamento entre cachara
Pseudoplatystoma reticulatum e Jundiá da Amazônia Leiaurius marmoratus, mas que também é
comercializado popularmente como pintado.
Segundo Kubitza et al. (1998) o surubim é um peixe de alto valor nutricional e de boa aceitação
pelo público consumidor, devido a qualidade de sua carne, textura firme, sabor agradável, ausência de
espinhos intramusculares, carne de cor clara e baixo teor de gordura, o que torna interessante na
preparação de diversos pratos culinários.
Os surubins são comercializados em filés, mas, além dessa forma de comercialização, existe um
grande mercado para esse peixe em práticas esportivas nos pesque e pague e pesque e solte. O filé de
surubim é comercializado por um preço acima de outras espécies nativas. Como os surubins apresentam
grande valor de mercado, e possuem um grande potencial para piscicultura objetivou-se com esta revisão
de literatura sintetizar o conhecimento científico sobre rendimento do processamento desses peixes.

DESENVOLVIMENTO

Metodologias para processamento de peixes


No Brasil, não há uma padronização das técnicas de abate e das formas de processamento do
pescado, principalmente em relação à separação do filé e da pele, a remoção ou não da cabeça
(decapitação), das nadadeiras e das vísceras (Souza et al., 2000). Os pesquisadores nesta linha de pesquisa
têm utilizado diversas metodologias na avaliação do rendimento do processamento, onde são descritos os
percentuais de participação das partes em relação ao peso total da carcaça ou do animal.
Carneiro et al. (2004) e Fantini et al. (2014) utilizam a mesma metodologia de para a realização do
rendimento do peixe eviscerado com cabeça (RPECC), rendimento de vísceras (RV) e rendimento do
peixe eviscerado sem cabeça (RPESC) (retira-se a cabeça, e nadadeiras, o que resulta num produto
utilizado para a obtenção de filés).
Burkert et al. (2008) e Fantini et al. (2014) utilizaram para obtenção do filé lateral com pele
(RFLCP) um corte do músculo dorso-lateral no sentido longitudinal, ao longo de toda a coluna vertebral
da porção cranial até o final do pedúnculo caudal, realizado do sentido do dorso em direção ao ventre do
animal. Os filés abdominais (RFACP) são seccionados da região junto à base das nadadeiras peitorais em
direção à base das costelas. Os mesmos autores analisaram ainda os filés laterais (RFLSP) e abdominais
sem pele (RFASP), sendo retirado a pele dos filés (RP). Para esses autores, o rendimento de resíduo (RR)
compreende o peso dos ossos e nadadeiras.
Theodoro (2004) ao avaliar o efeito de peso e de sexo no processamento de surubim, diferenciou o
rendimento de cabeça, na qual retira as guelras e as pesa separadamente. Fantini et al. (2013) utilizou a
mesma metodologia em seu trabalho com surubins. Theodoro (2004) separou, ainda, os resíduos em
resíduo (1): compreendendo as nadadeiras, vísceras, gônadas, guelras, gordura, inclusive a celomática;

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peso dos resíduos (2): compreendendo as nadadeiras, vísceras, gônadas, guelras, gordura, inclusive a
celomática, juntamente com a pele; peso dos ossos: compreendendo a coluna vertebral com resíduos de
carne que sobraram da filetagem, base óssea das nadadeiras anais. Verifica-se que há uma grande
diversidade de forma de avaliação do rendimento do processamento do surubim, isto dificulta a
comparação dos resultados de diferentes pesquisas. Por essas diferenças, é interessante que a metodologia
para avaliar o rendimento do processamento de peixes seja padronizada de acordo com a espécie
produzida, para um melhor entendimento dos resultados.
As principais características avaliadas no processamento dos surubins são: rendimento do peixe
eviscerado com cabeça (RPECC); rendimento do peixe eviscerado sem cabeça (RPESC); rendimento do
filé lateral com pele (RFLCP); peso do filé lateral sem pele (PFLSP); rendimento do filé abdominal com
pele (RFACP); rendimento do filé abdominal sem pele (RFASP); rendimento da cabeça (RC); rendimento
das vísceras (RV); rendimento de pele (RP); rendimento de resíduos (RR) (Fantini et al., 2014).

Rendimento do peixe eviscerado com cabeça (RPECC)


Essa forma (RPECC) é a que os peixes são, geralmente, comercializados frescos em peixarias ou
em feiras livres. O rendimento do peixe eviscerado com cabeça (RPECC) pode ser obtido a partir da
abertura ventral da cavidade abdominal, desde o orifício urogenital até os ossos da mandíbula, seguido da
retirada total das vísceras (RV). Fantini et al. (2014) estudando rendimento de carcaça de surubins em
viveiros sob diferentes densidades de estocagem verificou o rendimento do surubim inteiro eviscerado
com cabeça (RPECC) de 91,44 ± 2,20%. Para jundiá Rhamdia quelen (Carneiro et al., 2004) e bagre
africano Clarias gariepinus (Souza et al.,1999) os resultados para RPECC foram de 80,34 a 88,73% e
91,07 a 93,78%, respectivamente.

Rendimento do peixe eviscerado sem cabeça (RPESC)


O rendimento do peixe eviscerado sem cabeça compreende a carcaça, excluindo-se a cabeça, as
vísceras, e nadadeiras. Segundo Contreras-Guzmán (1994) o peixe eviscerado sem cabeça, parte útil do
pescado, também denominada corpo limpo ou tronco limpo. Fantini et al. (2014) apresenta para os
surubins Pseudoplatystoma spp. valores médios de 69,93 ± 1,61% para RPESC. Macedo-Viegas et al.
(2000) ao estudar o efeito das classes de peso sobre a composição corporal e rendimento de
processamento de matrinxã, obteve o valor médio de (76,92 %) nos rendimentos de carcaça sem cabeça
com o matrinxã. Boscolo et al. (2001) estudando desempenho e características de carcaça de machos
revertidos de tilápias do Nilo, linhagens tailandesa e comum, nas fases inicial e de crescimento, obteve o
rendimento de tronco superior nos animais da linhagem comum, sendo os valores de 49,46 e 51,39b%
para a linhagem tailandesa e comum, respectivamente.
Basso & Ferreira (2011) ao estudarem efeito do peso ao abate nos rendimentos dos
processamentos do pacu, obtiveram rendimento de tronco limpo (RTL) maior nas classes de peixes de
menor peso, classe I (135 g a 285 g) e classe II (310g a 385g), enquanto que as classes de peixes maiores,
classe III (400 g a 585 g) e classe IV (600 g a 1285 g) apresentaram RTL menor.

Rendimento de filé (RF)


O filé é a parte comestível do pescado mais aceita pelo consumidor, considerado uma parte nobre,
devido a ausência de espinhas e fácil preparo em pratos culinários. Os surubins são abatidos com peso
final que varia de acordo com o público, filés de surubins voltados para exportação apresentam peso final
menor, em torno de 900 g, o que resulta em um rendimento menor garantindo uma refeição por pessoa, já
os brasileiros preferem filés maiores, na qual os surubins são abatidos com peso entre 1,0 e 1,5 kg. Nos
surubins, os filés são aos pares, dois filés laterais e dois filés abdominais, este último, segundo Fantini et
al. (2014) conhecido como mignon, muito apreciado, ganhou espaço entre os consumidores.
Souza et al. (1999) estudando a influência do método de filetagem sobre o rendimento de carcaça
de tilápias, realizou diferentes métodos de retirar o filé; o método F1, retirando-se a pele com alicate de
ponta fina e depois o filé e o outro método, o F2, obtendo-se primeiramente o filé com pele e, em seguida,
separando-se esta do filé com a faca e o auxílio do alicate de ponta fina. Os mesmos autores citados
anteriormente obtiveram como resultado melhor o método de filetagem F1, pois proporcionou menor
resultados de pele bruta, limpa e de descarne (menor quantidade de escamas e musculatura na pele).

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Rendimento de Cabeça (RC)


A forma de corte para decapitar o peixe é importante, pois pode reduzir a perda de tecido
muscular. No geral, a cabeça é seccionada do corpo na altura da junção com a coluna vertebral, incluindo
as brânquias. Crepaldi et al. (2008) observou em seu estudo com surubins que peixes menores apresentam
cabeça proporcionalmente maior ao corpo, o maior peso relativo da cabeça pertence os peixes mais leves,
sustentando a teoria de que surubins menores apresentam maior percentual de cabeça. Burkert et al.
(2008) analisando rendimentos do processamento de filés de surubim em tanques-rede, obteve nas fêmeas
um maior rendimento da cabeça, sendo o valor médio de 17,07%.
Silva et al. (2009), estudando o processamento de tilápias-do-nilo em diferentes faixas de peso,
relatou valores médios de cabeça de 21,56 ± 1,76. Porém, diversos pesquisadores têm utilizado outras
formas de retirada de cabeça, por exemplo Souza et al. (2000): avaliou três formas para retirar a cabeça
do peixe; o corte do tipo oblíquo ao comprimento, o corte reto ou transversal, também em relação ao
comprimento do peixe, e finalmente, o corte do tipo contornado, realizado ao redor dos opérculos.
Macedo-Viegas et al. (2000) estudando efeito das classes de peso sobre a composição corporal e o
rendimento de processamento de matrinxã Brycon cephalus observou valores entre 12,36 e 14,64% para
rendimento de cabeça.

Rendimento de Pele (RP)


A pele de peixe é considerada um subproduto, e perfaz, em média, 7,5% do peso dos peixes
(Contreras-Guzmán, 1994). A pele do surubim compreende uma porcentagem relativamente pequena em
função do peso total do peixe, quando produzida em grande escala gera valores considerados
significativos (Fantini et al., 2013).
Burkert et al. (2008) analisando rendimentos do processamento de filés de surubim em tanques-
rede, obteve um rendimento de pele correspondente a 6,33% do peso total. Silva et al. (2009) estudando o
processamento de tilápias-do-nilo em diferentes faixas de peso, relataram valores médios de pele entre
5,95 ± 0,77.
A pele de peixes, por ser rica em colágeno pode ser utilizada para produção de gelatina (Fantini et
al. (2014). Segundo Bordignon et al. (2012), a extração da gelatina pode ser realizada a partir de peles
congeladas e salgadas. Esta pode ser empregada na indústria alimentar, farmacêutica e fotográfica para
aumentar a elasticidade, espessura e consistência, como no caso de iogurtes, queijos e sorvetes (Franco et
al., 2012). Pode-se ainda utilizar a pele para a indústria de calçados, bolsas entre outros; fazendo deles
matérias-prima para elaboração de produtos para uso comercial. O aproveitamento desse subproduto
agrega valor nos peixes comercializados e pode gerar renda, sendo sua utilização altamente interessante.

Rendimento de Vísceras (RV) e de Resíduos (RR)


O rendimento de vísceras e o rendimento de resíduos compreendem todo conteúdo interno e partes
não comestíveis do peixe. No Brasil, o aproveitamento dos resíduos de pescado ainda é pouco
significativo, sendo que a maioria destes resíduos é descartada, resultando em problemas ambientais. As
indústrias de beneficiamento de pescado geram grandes quantidades de resíduos, em razão,
principalmente, da falta de reconhecimento deste recurso como matéria-prima e fonte para outros
produtos (Pessatti, 2001).
As cabeças, escamas, peles, vísceras e carcaças (esqueleto com carne aderida) são os principais
resíduos do processamento de pescado. Dependendo da espécie de peixe processada e do produto final
obtido pelo frigorífico, estes resíduos podem alcançar algo entre 8 e 16% no caso de venda de pescado
eviscerado, e entre 60 e 72%, no custo da produção de filés sem pele (Kubitza, 2006).
Uma boa alternativa para a utilização desses resíduos, é transformá-los em produtos, como
silagem, que consiste na hidrolização e preservação desses resíduos através da redução do ph com ácidos
ou pela fermentação láctica. As vísceras e demais resíduos podem ser desidratados, formando um material
pastoso, gerando farinha, podendo utilizar no preparo de rações, alternativa capaz de dar destino a maioria
do volume do resíduo produzido.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O surubim apresenta bom rendimento de carcaça, sendo o rendimento de filés superior ao de


algumas espécies. Os valores de rendimento do processamento de peixes são importantes, pois são
características interessantes para a produção comercial e indústria. A maior produção de surubins está
concentrada no estado de Mato Grosso, e os produtores relatam que os novos híbridos (pintado da
Amazônia) apresentam crescimento superior aos puros e em menor período de tempo, isso pode promover
um retorno rápido do investimento. No entanto, na literatura referente à avaliação do processamento
destes peixes as informações são escassas, e não há uma padronização das metodologias. Os trabalhos
utilizados nesta revisão revelam que há diferenças na forma de processamento, logo é necessário certa
padronização e mais pesquisas sobre o assunto.

LITERATURA CITADA

BASSO, L.; FERREIRA, M.W. Efeito do peso ao abate nos rendimentos dos processamentos do pacu
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75p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2004.

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DESENVOLVIMENTO SEXUAL EM TOUROS SENEPOL

Fernanda Hvala de Figueiredo1, Daniel França Mendonça da Silva1, Caroline Eberhard


Buss1, Francisco Manuel Junior1, Fernando Henrique Garcia Furtado1, Willian Vaniel
Alves dos Reis2, Eder Cristian Queiroz Serrou da Silva2, Tainara Candida Ferreira2,
Tailisa de Souza Silva2, Thyciane Rodrigues de Aguilar2, Zelina dos Santos Freire2, Fábio
José Carvalho Faria3, Deiler Sampaio Costa3
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. E- mail:
fernandahvala@yahoo.com.br
2
Núcleo de Produção e Reprodução Animal – FAMEZ/UFMS
3
Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS

Resumo: O objetivo desta revisão foi apresentar e discutir os eventos fisiológicos de desenvolvimento
sexual relacionados com a precocidade sexual de touros Senepol. Para o acompanhamento desses estágios
de desenvolvimento sexual existem diferentes conceitos para puberdade, sendo que o mais utilizado é
quando o animal apresenta ejaculado possuindo 50x10 6 espermatozóides e 10% de motilidade progressiva
e a maturidade sexual é conceituada como quando o ejaculado apresentar 500x10 6 de espermatozóides,
50% de motilidade espermática, no máximo 10% de defeitos maiores, 20% de defeitos menores e 30% de
defeitos totais. Nessas fases reprodutivas o macho passa a produzir maiores níveis séricos de hormônios
andrógenos que possuem alta correlação com a fertilidade e motilidade espermática. Por último, existem
fatores que influenciam na idade em que o macho se torna púbere ou maduro sexualmente, como a
composição racial, desenvolvimento corporal e testicular e fatores ambientais. Portanto, os trabalhos
revisados demonstraram que ainda são poucas as pesquisas que determinaram a idade à puberdade e
maturidade sexual de touros Senepol no Brasil.

Palavras-chave: exame andrológico, maturidade sexual, puberdade, sêmen, taurino adaptado

SEXUAL DEVELOPMENT IN SENEPOL BULLS

Abstract: The objective of this review was to present and discuss the sexual development of events
related to sexual precocity Senepol bulls. For monitoring these sexual development stages there are
different concepts for puberty, and it is the most widely used when the animal presents having ejaculate
50x106 sperm and 10% of progressive motility and sexual maturity is defined as when the ejaculate
present 500x106 sperm and 50% of motility sperm, at most 10% larger defects, 20% lower defects and
30% total defects. These reproductive stages the male starts to produce higher serum levels of androgen
hormones that have high correlation with fertility and sperm motility. Finally, there are factors that
influence the age at which the male becomes pubescent or mature sexually, such as racial composition ,
body and testicular development and environmental factors. Therefore, the studies reviewed showed that
there are few studies that determined the age at puberty and sexual maturity of Senepol bulls in Brazil.

Keywords: breeding soundness evaluation, puberty, semen, sexual maturity, Taurus adapted

INTRODUÇÃO

O Agronegócio é considerado como um setor estratégico para a economia brasileira no ano de


2015, já que representa 23% do PIB nacional, sendo considerado como o único setor em crescimento
neste ano. Além disso, representa 40% das exportações brasileiras, podendo ser conceituado como o
responsável pelo superávit comercial do país (CEPEA, 2014).
No âmbito estadual, a pecuária sul-matogrossense é responsável pela maior parte do Produto
Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas dentre os setores da agropecuária pelo estado, nos últimos
três anos. No ano de 2015 a projeção é que essa atividade seja responsável por 45,01% desse índice

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econômico (FAMASUL, 2015). Indicando que a pecuária tende a ser conduzida de forma mais eficiente
para haver aumentos anuais sucessivos nesse setor.
A eficiência produtiva na bovinocultura de corte tem sua sustentabilidade econômica dependente
das principais áreas como o melhoramento genético, a nutrição e a reprodução. Quanto à reprodução, a
produção de bezerros no Brasil é quase que totalmente dependente da monta natural, uma vez que apenas
11,9% do rebanho nacional é inseminado (ASBIA, 2015). Esse manejo reprodutivo exige um volume de
cerca de 1,5 milhão de reprodutores para a estação de monta por ano (Freneau, 2011).
Para atingir melhores índices zootécnicos, aumentando a eficiência produtiva e a lucratividade do
rebanho a escolha do reprodutor a ser usado deve ser muito criteriosa, já que o touro é responsável por
cerca de 70% do melhoramento genético do rebanho (Fonseca, 2009). A partir disso, é importante a
identificação dos animais que são superiores para a maioria das características avaliadas, sendo
importante a seleção dos touros mais precoces, já que essa precocidade sexual possui alta herdabilidade.
Sendo assim a determinação da idade a puberdade e maturidade sexual são fundamentais para seleção dos
reprodutores utilizados em centrais de inseminação e em monta natural.
Então, selecionando-se esses reprodutores mais precoces, ou seja, com menor idade à puberdade e
maturidade sexual, espera-se um aumento na precocidade sexual do rebanho e isso poderá permitir uma
diminuição no período de ciclo produtivo, da permanência e amortização dos custos de manutenção de
animais na fazenda, aumentando assim, a lucratividade do rebanho (Silveira et al, 2010).
Como cerca de 80% do rebanho nacional é composto por animais de origem zebuína e seus
mestiços (Bergmann, 1993), devido a sua alta adaptação ao clima tropical, os índices zootécnicos
indicadores da precocidade sexual tendem a ser mais tardios para essa característica. Para melhorar esses
índices, animais de origem taurina podem ser usados no acasalamento com a matriz zebuína através do
cruzamento industrial. Isso possibilita o uso máximo da heterose e da complementaridade, em que esses
animais oriundos desse cruzamento possuem altas taxas de ganho de peso, altos pesos e boa conformação
frigorífica na terminação, e precocidade sexual, sendo superiores aos produtos Bos indicus (Euclides
Filho, 1997).
Nos últimos anos, aumentou a adoção do cruzamento industrial, comprovada pelo uso de animais
de genótipo taurino ser maior que de origem zebuína na inseminação artificial (ASBIA, 2015). Além
disso, a ASBIA (2014) relata que a raça Aberdeen Angus obteve o maior número de doses de sêmen
comercializadas no Brasil em 2013. Mas, essa crescente utilização de reprodutores Bos taurus, como
Aberdeen Angus, é limitada ao uso através da inseminação artificial (IA), devido à baixa adaptação
desses animais ao clima tropical.
Além disso, mesmo que haja aumento do uso da IA nos próximos anos, continuará havendo a
necessidade de um grupo de touros que realizem o repasse, para o aumento no índice de prenhez na
propriedade. E atualmente, touros da raça Nelore, classificados como tardios para a precocidade sexual,
são os mais utilizados para essa finalidade.
Então, touros considerados taurinos adaptados, como o Senepol, possuem excelente desempenho
na cobertura por monta natural podendo suprir a necessidade para propriedades que não tenham
condições de adotar a inseminação artificial, ou que utilizem a inseminação artificial e necessitem de
touros de repasse ou ainda que utilizem somente a IA. Então, o touro da raça Senepol se torna importante
para a obtenção de produtos de cruzamento industrial com alta heterose tanto através da monta natural
como da IA.
Portanto, para que seja difundida essa ferramenta é importante que sejam feitos estudos que
comprovem sua eficiência na monta natural, o desempenho produtivo de sua progênie, além da
precocidade sexual. Então, é importante a determinação da cronologia dos eventos reprodutivos através
do acompanhamento da idade à puberdade e maturidade sexual para que seja possível definir a
precocidade sexual dos indivíduos dessa raça.

DESENVOLVIMENTO

A raça Senepol
Em 1800, foram importados bovinos da raça N’Dama para a Ilha de Saint Croix. Esses animais
eram de origem taurina e foram eleitos porque apresentavam resistência ao calor, insetos, parasitas,
doenças e eram aptos para sobreviver em condições de baixa disponibilidade de pastagens. Condições
essas que eram observadas nessa ilha que pertence ao clima tropical (SCBA, 2015).

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A raça Senepol teve início em 1918 quando Henry C. Neltropp e seu filho Bromlay, criadores de
bovinos da raça N’Dama na Ilha de Saint Croix (Ilhas Virgens), importaram animais da raça Red Poll.
Portanto, o Senepol veio do cruzamento de bovinos N’Dama com Red Poll, com o objetivo de criar uma
raça que fosse produtiva e adaptada às condições climáticas da ilha (ABCBS, 2015).
Após 57 anos esse rebanho desenvolvido por Neltropp foi distribuído para criadores locais e em
1977 foram levados os primeiros animais Senepol para os Estados Unidos (ABCBS, 2015). No Brasil, as
primeiras importações de bovinos Senepol oriundos dos Estados Unidos e da Ilha de Saint Croix
ocorreram em 2000. Atualmente, a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos Senepol (ABCBS)
possui 346 criadores associados e um rebanho de 35.460 bovinos registrados (ABCBS, 2015).
Segundo a Senepol Cattle Breeders Association, os anos de isolamento geográfico nas Ilhas
Virgens contribuíram para uma seleção direcionada para a sobrevivência nas condições climáticas e
nutricionais desfavoráveis. Assim sendo, os animais produzidos desenvolveram características
importantes como tolerância ao calor, resistência a doenças e parasitas, facilidade de parto, eficiência
maternal e longevidade (SCBA, 2015). Além disso, são caracterizados como bovinos de tamanho
moderado, a pelagem varia do castanho claro ao vermelho escuro, pêlo curto e mocho, padronizando
assim sua produção, podendo ser criado a pasto, com alto desempenho reprodutivo e libido, excelente
desempenho na cobertura por monta natural, seus bezerros são desmamados com peso superior a bezerros
de raças zebuínas, é eficiente para uso em cruzamento industrial, possui grande precocidade sexual, baixa
idade ao abate e docilidade (ABCBS, 2015).
Portanto, todas essas características favoreceram o uso da raça em países de clima tropical, estando
atualmente presente em 15 países. Sendo o rebanho brasileiro considerado o maior do mundo (ABCBS,
2015).

DESENVOLVIMENTO REPRODUTIVO EM TOUROS


Puberdade e maturidade sexual
A puberdade é definida como o início da atividade reprodutiva do touro. Durante este período este
reprodutor ainda está em etapa preparatória para a maturidade sexual. O macho está próximo de atingir a
fase púbere quando possui um terço do seu peso adulto (Abdel Raouf, 1960), variando de acordo com sua
composição racial.
Para avaliar o início da fase púbere, Salles (1995) caracterizou os seguintes eventos: libido,
produção espermática e acentuado crescimento testicular. Semelhante a essa definição, Foote (1969)
caracteriza a puberdade como o período que os machos são capazes de produzir espermatozóides viáveis,
apresentam comportamento sexual e desenvolvimento peniano que permitam a cópula e a ejaculação.
O início da produção espermática em touros Montana foi acompanhado mensalmente no trabalho
de Miranda Neto (2001) através da mensuração de parâmetros do ejaculado, como volume, aspecto,
turbilhonamento, motilidade espermática progressiva, vigor e morfologia espermática. Nesse estudo foi
utilizado o conceito de puberdade definido por Wolf et al (1965) que consideram púbere, o animal que
produz um ejaculado com no mínimo 50x10 6 espermatozóides e 10% de motilidade progressiva.
Hardin et al (1982) caracterizaram esta fase como sendo a idade em que o touro apresenta
ejaculado com no mínimo 50x106 espermatozóides e 10% de motilidade progressiva e completo
desprendimento do freio peniano. Por sua vez, Amann (1983) define esse estágio de desenvolvimento
sexual como o período em que ocorre rápido crescimento testicular, aumento na secreção de hormônio
luteinizante (LH) e início da espermatogênese, sem definir padrões mínimos para o ejaculado. Outro
conceito bastante conhecido é o de Abdel-Raouf (1960) que define a puberdade como o estado fisiológico
em que as gônadas passam a produzir hormônios e gametas masculinos. Já na década de 80, Garcia et al
(1987), definiram puberdade como sendo o momento em que o animal apresenta o primeiro
espermatozóide móvel e com motilidade progressiva no ejaculado.
Quando maduro sexualmente, o animal se torna apto para reprodução e atinge seu platô de
desenvolvimento sexual (Guimarães, 1993). Esse estágio é atingido cerca de 16 a 20 semanas após a
puberdade (Lunstra & Echternkamp, 1982). No período entre a puberdade e a maturidade sexual ocorre
um aumento gradativo da concentração de testosterona circulante. Conseqüentemente, o animal
apresentará mudanças que podem ser observadas na avaliação andrológica como o aumento no volume
seminal, da motilidade, do vigor, da concentração espermática total, e um decréscimo nas patologias
espermáticas (Almquist & Amann, 1962; Lunstra & Echternkamp, 1982; Garcia et al., 1987).
O conceito de maturidade sexual mais utilizado é a idade em que o animal apresenta ejaculado
com no mínimo, 50% de motilidade espermática, no máximo 10% de defeitos maiores, 20% de defeitos

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menores e 30% de defeitos totais, segundo a classificação proposta por Bloom (1973) (Garcia et al, 1987;
Vale Filho, 1988).
Segundo Freneau (2011) a avaliação da morfologia espermática é importante para acompanhar o
desenvolvimento reprodutivo de touros jovens. Esse mesmo autor define a maturidade sexual como sendo
a idade em que o animal produz o ejaculado com no máximo 20% de defeitos maiores e 30% de defeitos
totais. Nessa pesquisa, Freneau classificou a morfologia espermática de acordo com Lunstra et al (1978).
Portanto, as relações entre medidas corporais, biometria testicular e aspectos físicos e
morfológicos do sêmen possibilitam predizer a fase de desenvolvimento sexual de machos bovinos
(Guimarães, 1993).

Endocrinologia
O desenvolvimento sexual do macho bovino até a maturidade sexual está diretamente relacionado
com o controle endócrino no eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, sendo que o funcionamento desses
mecanismos é dividido em três estágios: impúbere, pré-púbere e púbere, variando de acordo com a idade
cronológica, secreção e concentração das gonadotrofinas (Amann, 1983).
O estágio impúbere é caracterizado por baixas concentrações de testosterona, devido a ausência do
hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) ou à falta de receptores na hipófise anterior. A partir da
fase pré-puberal o eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal começa a funcionar de forma coordenada,
acarretando aumento na freqüência e amplitude das descargas de LH (Amann, 1983). Com o aumento na
concentração de LH, as células de Leydig são estimuladas a realizarem a síntese e secreção de
testosterona. Esse hormônio, somado com as gonadotrofinas hipofisárias, causam a diferenciação das
células de sustentação indiferenciadas em células de Sertoli (Abdel-Raouf, 1960), além de promover
aumento no diâmetro e no comprimento dos túbulos seminíferos (Rawlings et al, 2008).
Posteriormente, entre a puberdade e a maturidade sexual (fase pós-púbere) ocorre aumento linear
da concentração de andrógenos em função da idade, isso é essencial para o desenvolvimento,
comportamento sexual e manutenção das características sexuais secundárias (Senger, 2003). Ao atingir a
maturidade sexual os touros apresentam correlações positivas e significativas entre a concentração sérica
de testosterona, fertilidade e motilidade espermática
Portanto, a mensuração dos níveis séricos de testosterona se torna importante para a determinação
da fase de desenvolvimento sexual e a fertilidade do macho bovino.

Fatores que influenciam na puberdade e maturidade sexual


A idade em que os eventos de desenvolvimento sexual ocorrem pode ser influenciada por vários
fatores, dentre os quais se destacam a composição racial, o peso corporal e alguns fatores ambientais
como nutrição e clima (Moraes, 2012).

Composição Racial
Puberdade e maturidade sexual caracterizam-se por apresentarem a seqüência de eventos
fisiológicos semelhantes entre taurinos e zebuínos, porém com cronologia diferente (guimarães, 1993).
Quanto aos animais de composição genotípica zebuína, foi realizado um trabalho por Osorio &
Souza (2013), em que foi determinada que a idade média a puberdade em touros Guzerá foi de 19,6 ± 3,9
meses. Semelhante a este resultado, Brito et al (2004) encontraram idade média de 20 meses à puberdade
para um grupo de 20 touros da raça Nelore em um experimento realizado no Mato Grosso do Sul.
Em contrapartida Brito et al (2012) trabalharam com animais Bos taurus taurus e observaram
idade a puberdade de 10,31 ± 0,99 meses para um grupo de 39 touros com Angus ou Angus x Charolês.
Semelhante a isto, Almquist e Cunningham (1967) observaram idade a puberdade média de 10,26±0,23
meses para 17 machos das raças Hereford e Angus. Assim como Wolf et al (1965), que estudando a
puberdade em machos Angus e Hereford, observaram que a idade média nesse estágio de
desenvolvimento sexual foi de 10,26 e 10,5 meses, respectivamente.
Porém, mesmo que animais de genótipo taurino sejam mais precoces que animais zebuínos
(Chenoweth et. al, 1996), machos de raças taurinas não adaptadas ao clima tropical podem ser mais
tardios devido as condições ambientais desfavoráveis a que estejam submetidos. Isso foi observado por
Miranda Neto et al (2011) que observaram um intervalo de 8 meses entre a puberdade e maturidade
sexual em tourinhos da raça Simental, os autores atribuíram esse longo período ao manejo nutricional
adotado, exclusivamente a pasto, e às constantes infestações de ectoparasitas.

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Enquanto que em um trabalho realizado na Flórida comparando taurinos, zebuínos e taurinos


adaptados foram utilizados touros das raças Angus, Brahman, Hereford, Senepol, Romosinuano e Nelore
x Brahman. Esses autores classificaram machos com composição genotípica taurina (Angus e
Romosinuano) com andrológico satisfatório entre 15,1 e 18 meses, touros Hereford e Senepol com 18,1 a
22 meses e por último poucos machos Brahman e Nelore x Brahman estavam aprovados no exame
andrológico com essa idade de 18,1 a 22 meses. Com isso, os autores afirmaram que os padrões e tempo
de desenvolvimento sexual exibidos por taurinos adaptados, Senepol, obtiveram maior semelhança com
os machos de genótipo taurino do que de genótipo zebuíno (Chenoweth et. al, 1996).
Já Moraes (2012) acompanhou o desempenho de 13 tourinhos Senepol no município de
Uberlândia/MG, esse autor considerou maduro sexualmente (apto a reprodução) os machos com idade
média de 16,25±0,16 meses e púbere os animais com idade média de 13,22±0,16 meses.
Outra pesquisa relatou o desempenho de animais oriundos de cruzamento entre taurinos, zebuínos
e taurinos adaptados, Chase et al (2001) observaram que animais Tuli x Angus atingiram a puberdade e a
maturidade sexual em idade inferior (11±0,26 meses para a puberdade e 12,73±0,24 meses na maturidade
sexual) a machos Brahman x Angus (13,06±0,27 meses para a puberdade e 14,46±0,25 meses na
maturidade sexual), e touros Senepol x Angus estavam púberes com 11,86±0,24 meses e maduros
sexualmente com 13,5±0,22 meses de idade. Então, o Senepol foi classificado como intermediário entre
taurino e zebuíno para idade a puberdade e maturidade sexual pelo autor (Chase et al, 2001).
Por último, Godfrey & Dodson (2004) avaliaram o desempenho de touros Senepol submetidos à
avaliação andrológica na ilha de Saint Croix durante sete anos. Esses autores recomendam que o exame
andrológico seja conduzido a partir dos 16 meses de idade para que seja reduzida a reprovação de touros.
Sendo assim, isso possibilita sugerir que a maturidade sexual ocorreu nessa idade.
Portanto, os trabalhos revisados observaram para reprodutores Senepol e seus cruzamentos, idade
média à puberdade de 12 a 13 meses e idade em que o touro se torna apto no exame andrológico
(maturidade sexual) variando de 13,5 a 22 meses.

Desenvolvimento corporal e testicular


O desenvolvimento sexual de machos bovinos está diretamente relacionado com seu
desenvolvimento corporal e conseqüentemente com o crescimento somatotrópico e gonadal
(Schanbacher, 1979). Sendo que o crescimento testicular e o início da produção espermática estão mais
relacionados com o peso do que com a idade cronológica do animal, já que o desenvolvimento corporal
exerce muita influência sobre o desenvolvimento do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal (Wildeus E
Entwistle, 1982; Pimentel et al., 1984).
O desenvolvimento corporal pode ser expresso pela mensuração do peso corporal, já que essa
medida possui correlação altamente significativa com o tamanho, crescimento testicular e com a
qualidade espermática (Freneau, 1991). Já o desenvolvimento da biometria testicular pode ser estimado
através de mensurações periódicas de circunferência escrotal, comprimento e largura testicular. Esses
parâmetros estão diretamente relacionados com o desenvolvimento corporal e sexual do reprodutor em
crescimento (Moraes, 2012), sendo que o crescimento testicular durante essa fase de desenvolvimento
sexual (6 aos 24 meses de idade) pode alcançar 90% do tamanho adulto (Freneau, 1991). Além do
tamanho, a determinação do formato do testículo é um importante parâmetro para prever a qualidade
seminal em qualquer fase do progresso sexual, já que esse pode influenciar na termorregulação testicular
(Bailey et al, 1996; Unanian et al, 2000).
Moraes (2012) observou que a maturidade sexual foi influenciada pelo desenvolvimento ponderal
e testicular, em que tourinhos Senepol com maior ganho de peso e crescimento testicular obtiveram idade
à puberdade inferior aos demais animais do estudo. Enquanto Guimarães (1993) observou que o peso e a
idade crescem linearmente entre a puberdade e maturidade sexual, sendo que quando o touro se torna apto
para a reprodução os eventos de crescimento testicular e corporal ocorrem mais lentamente.

Fatores ambientais
Dentre os fatores ambientais que influenciam na idade à puberdade destacam-se a nutrição e o
clima em que o animal foi submetido. Guimarães et al (2011) ressaltam que em rebanhos constituídos por
animais zebuínos criados em sistema semi-intensivo ou intensivo pode-se observar idade à puberdade
semelhante a taurinos criados em regiões tropicais ou temperadas. Esses autores associam isto ao manejo
que envolve alimentação de melhor qualidade e ao uso de informações advindas de programas de
melhoramento genético usadas em cruzamentos estratégicos (Guimarães et al, 2011).

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Dentro desse contexto, Torres-Junior & Henry (2005) observaram idade à puberdade de 18,2 ±2,1
meses em touros da raça Guzerá mantidos em pastagem Brachiaria brizantha e suplementação mineral ad
libidum. Enquanto Osorio & Souza (2013) observaram aparecimento da puberdade a partir da faixa etária
de 12 e 16 meses em animais da mesma raça, mas suplementados com silagem de milho e sorgo.
Para touros da raça Nelore em regime extensivo, Freneau et al (2006) relataram14,8 ±1,8 meses de
idade para animais em puberdade seminal, esses autores consideram essa baixa idade à puberdade devido
à alta qualidade das pastagens ou à maior seleção dos touros utilizados para a produção desses animais
experimentados. Enquanto Brito et al (2004) observaram média de 20 ± 0,82 meses para um grupo de 20
touros, nesse experimento os animais foram divididos em dois grupos, precoces e tardios, onde a média
foi de 17,55 ± 0,41 e 22,44 ±0,63 meses, respectivamente. Os autores atribuíram essas médias elevadas
devido à influência do genótipo e do ambiente (clima, fotoperíodo e manejo) em que os animais foram
submetidos.
Quanto à condição climática, Lunstra & Echternkamp (1982) pesquisando a qualidade seminal de
taurinos em clima temperado, utilizaram as raças Hereford (H), Angus (A) e seus cruzamentos, Red Poll
(RP) e Pardo-Suíço (PS), esses autores relataram idade a puberdade de 9,83 ± 0,13 meses para touros A,
10,86 ± 0,3 meses para machos H, 9,43 ± 0,3 meses para reprodutores RP, 8,8 ± 0,3 meses para raça OS e
por último 9,86 ± 0,3 meses para o cruzamento AxH e 10 ± 0,26 meses para HxA. Semelhante a esse
resultado, Wolf et al (1965) observaram 10,26 e 10,5 meses de idade à puberdade para touros Angus e
Hereford, respectivamente. Entretanto, Jimenez-Severiano (2002) observou idade à puberdade de 11,1 ±
0,52 meses para machos da raça Holandesa e 10,86±0,35 meses em touros da raça Pardo-Suíço criados
em clima tropical no México.
Destaca-se ainda, que touros Angus e Hereford criados na Flórida (Chase et al., 1997) e touros das
raças Holandesa e Pardo-Suíço em experimento realizado no México tropical (Jimenez-Severiano, 2002)
foram mais velhos na puberdade do que touros da mesma raça criados em regiões temperadas (Wolf et al.,
1965; Lunstra et al., 1978).
Esses experimentos supracitados sugerem que a variabilidade de resultados entre rebanhos de
mesma composição racial se deve a diferentes tipos de manejo, individualidade dos animais, influência da
herança genética, influências climáticas como temperatura, umidade e fotoperíodo além do manejo
nutricional (Osorio E Souza, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos trabalhos revisados, pode concluir-se que o Senepol possui seus eventos de
desenvolvimento sexual em idades intermediárias entre animais taurinos e zebuínos.
Muitos são os estudos que determinaram a idade a puberdade e maturidade sexual de animais
taurinos e zebuínos, mas ainda são poucos os estudos que determinaram esses parâmetros para touros
Senepol nas condições climáticas do Brasil. Portanto, é importante a freqüente pesquisa dessas idades
para atualização desses parâmetros na raça. Já que com o aumento da pressão de seleção dos reprodutores
utilizados em centrais de inseminação e em monta natural a precocidade sexual pode sofrer constantes
reajustes.

LITERATURA CITADA

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FATORES QUE DETERMINAM A FIDELIZAÇÃO DA COMPRA POR


CONSUMIDORES DE CARNES NOS SUPERMERCADOS

Naomi Kerkhoff Gimenes1, Brenda Farias da Costa Leite2, Ricardo Carneiro Brumatti3
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul FAMEZ/UFMS. Email:
naomi_kerkhoff@hotmail.com
2
Aluna do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista PET. E-mail: brenda.farias2@hotmail.com
3
Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. E-mail.com: rbrumatti@gmail.com

Resumo: Conhecer o que o consumidor busca, contribui para a sociedade e para a ciência conseguindo
determinar os fatores que levam a fidelização e seus possíveis impactos para os agentes econômicos.
Passar a atender melhor o que o consumidor deseja, trás melhorias nos ganhos das empresas. É
importante determinar as possíveis falhas de atendimento, correção nos protocolos de atenção ao
consumidor, e a visão comparativa do consumidor em relação às diversas opções de carnes disponíveis a
população.

Palavras-Chave: Consumo, Hábitos alimentares, Marketing alimentar

FACTORS THAT DETERMINE THE LOYALTY OF PURCHASE FOR MEAT CONSUMERS


IN SUPERMARKETS

Abstract: Knowing what consumers search, contributes to society and science getting determine the
factors that lead to loyalty and its possible impact on economic agents. Skip to best suit what consumers
want, behind improvements in corporate earnings. It is important to determine the possible failure care,
correction in consumer care protocols, and comparative view of the consumer for the different meat
options available to people.

Keywords: Consumption, eating habits, food marketing

INTRODUÇÃO

O comportamento do consumidor é de grande interesse na área de marketing, conhecer padrões de


comportamento de indivíduos muito dessemelhantes como são os consumidores é desafiador, diante do
número extenso de variáveis relacionadas ao consumo (BARCELLOS, 2007).
As pesquisas de mercado contribuem para a escolha de planos de marketing e comercialização,
instruindo empresários a investir neste campo que está sendo analisado (GONÇALVES et al., 2008).
Para que o consumidor tenha lealdade e fidelização com uma organização ou marca o mesmo deve
estar muito satisfeito, se relacionando de forma perdurável e comprometida (ESPARTEL& ROSSI,
2006).
Basicamente a procura por qualidade em alimentos pelos consumidores prioriza a higiene e
condições sanitárias, processamento e conservação, o risco de contaminação por ingestão de alimentos
com substâncias químicas, outro ponto a ser considerado a respeito da qualidade, corresponde ao valor
nutritivo, em relação o quanto que esse produto vai trazer de benéficos a saúde (FELÍCIO, 2000).
No estudo realizado em Campo Grande – MS por Silveira (2014) as questões sanitárias se
mostraram mais importante, sendo que 116 pessoas entrevistadas estariam predispostas a pagar um valor
elevado a uma carne que mostrasse ser um alimento seguro, em segundo lugar fica a carne orgânica, por
último está o local onde a carne foi produzida e a raça, sendo estes os fatores que menos os consumidores
levariam em conta para pagar um valor maior.
Em se tratando de carne de pescado, no mesmo município, foi observado por Kohl (2014) que os
fatores que influenciam na compra são em primeiro a cor e aparência, em seguida a higiene do local e do
produto, preço e cheiro agradável tiveram a mesma relevância em terceiro lugar, como o produto é

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apresentado relacionado à embalagem em quarto lugar, e por fim firmeza da carne, sabor, teor de gordura
e presença de espinhas, evidenciam as preocupações da população sobre o consumo de pescado.
Em estudo realizado por este grupo de pesquisa, verificou-se que quando assunto é compra de
carne bovina o principal ponto de compra são supermercados; seguido por mercados; açougues; e casas
de carnes. Caracterizando a tendência global de centralização dos pontos de vendas (DIAS et al, 2015).
Com isso, as pesquisas devem ser cada vez mais frequentes com os consumidores, sendo fontes de
suma importância para as empresas, permitindo analisar a intenção dos mesmos conforme aos produtos a
serem oferecidos no mercado, de acordo expectativas dos consumidores por esses produtos e a qualidade
praticada (MINOZZO et al., 2008).
Assim a presente revisão tem como objetivo mostrar a importância de conhecer as preferências,
exigidas e desejos dos consumidores em relação ao consumo de carnes.

DESENVOLVIMENTO

No decorrer dos anos o Brasil tem se destacado na produção de carne bovina, suína e de frango,
sendo que sua cooperação com o comércio internacional vem aumentando, de acordo com estimativas o
Brasil deve continuar na primeira posição, como maior exportador de carne bovina e de frango (MAPA,
2014).
No ano de 2006, a carne suína foi a mais consumida mundialmente, correspondendo 39,5 % do
total de carnes, com 15,9 kg por pessoa, seguida da carne de aves, correspondendo 31,3%, com 12,6 kg,
em terceiro lugar a carne bovina expressou um consumo de 9,9 kg por último à carne de ovelhas e cabras
com 1,9 kg, o consumo no mundo chegou próximo de 262 milhões de toneladas o que condize a 40,3 kg
de carne por pessoa (ROPPA, 2009).
Em 2015, a produção mundial deverá crescer em 19% em comparação a 2006 por conta do
acréscimo da população e do consumo per capita, de 267 para 318 milhões de toneladas, o maior aumento
será da carne de aves com 23,1% e o menor da carne suína com 16,7%, em relação à quantidade a carne
bovina alcançará 77,8 milhões de toneladas, a carne de frango a 103 e a carne suína próximo a 123, no
mesmo ano a maior produção e o maior consumo per capita, permanece o de carne suína (ROPPA, 2006).
Contudo o alimento de origem animal mais produzido e consumido mundialmente são os
alimentos de origem aquática, como peixes, moluscos e crustáceos entre outros, porém de difícil
estimativa.
Espera-se que a produção nacional de carnes abasteça em 44,5% o comércio mundial, a carne de
frango terá 48,1% das exportações no mundo e a parcela da carne suína terá 14,2% (MAPA, 2014).
Com a tendência de a população aumentar a produção deve ser cada vez maior e de melhor
qualidade referentes á rendimento e composição, aparência e características tecnológicas, palatabilidade
que abrange textura, maciez, suculência, sabor e aroma a integridade do produto como qualidade
nutricional, segurança química e biológica e a qualidade ética que são as questões relacionadas ao bem
estar animal, pois os consumidores estão se tornando mais exigentes (LUCHIARI FILHO, 2006).
No estudo de um mercado é de suma importância conhecer e analisar o consumidor, as empresas
devem saber o que motiva o consumidor a comprar o produto, para que o produto vai ser usado, o quanto
comprará de cada vez, a frequência de uso, os hábitos de compra em relação ao local, e quais desejos o
produto satisfará, e também auxilia na escolha da melhor estratégia de marketing, já se sabe que o
consumo é muito provocado pela idade, nível de educação, gosto e localização do ponto de venda
(MAZZUCHETTI, 2004).
O processo de decisão do consumidor de onde comprar e de que corte de carne bovina comprar se
torna mais complexo em eventos familiares e sociais, tendo maiores expectativas sobre o produto e
fazendo assim um maior julgamento, mas nem sempre a satisfação é garantida, pois o produto em questão
apresenta enormes variações relacionadas a padronização e qualidade, mesmo quando é adquirida carne
com marcas que se presumi certificar padronização e qualidade, dessa forma é interessante oferecer um
número significativo de informações diminuindo os riscos associados à compra (BARCELLOS, 2004).
O local de compra do produto está muito associado com as características de categoria de cortes,
categoria de atendimento, regularidade de oferta e conveniência de compra, as redes de hipermercados
vem cada vez mais realizando parcerias para garantira qualidade da carne vendida, tentando fidelizar os
clientes pela padronização e uniformidade dos cortes (BARCELOS, 2002).
Na pesquisa realizada por Silveira (2014) entre os entrevistados de Campo Grande, a carne bovina
é a mais consumida, mas quando se leva em consideração à preferência, ignorando o preço das carnes, se

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tem um acréscimo no consumo de carne de peixe, pulando da quarta posição para a segunda,
evidenciando a possibilidade de aumento da demanda, porém mesmo assim a carne bovina foi a mais
escolhida.
Quando se trata de carne de peixe os consumidores não acham cômodo o seu consumo, pelo novo
tipo de vida, o preparo das refeições devem ser feitos rapidamente, deste modo é interessante o produto
ser oferecido em file e limpo em embalagem de atmosfera modificada (SANTOS & OLIVEIRA, 2012).
O tempo e dinheiro que o consumidor despende dependem do melhor atendimento das empresas,
quanto mais contentes estiverem melhor será para ambos, os estudos do comportamento do consumidor é
uma estratégia impar na relação do cliente com a empresa, mesmo assim a exploração na área de pesquisa
do comportamento é escassa (BARCELLOS, 2007).
A formação educacional dos consumidores pode mudar a postura e prioridades em relação à
compra de produtos. Um estudo realizado nos EUA fez a comparação entre estudantes de zootecnia e
administração, com o propósito de verificar o quanto a formação educacional do consumidor interfere na
decisão de compra, concluindo que os estudantes de zootecnia tinham maiores informações sobre a
qualidade da carne, corte e definições de marmoreio, já os estudantes de administração, através dos
conhecimentos adquiridos, demonstraram maior atenção a rastreabilidade e os custos (MENNECK et al.,
2008)
Em outro estudo realizado na Austrália, foi analisado a influência sobre o consumo de carne, onde
700 pessoas responderam perguntas como frequência de consumo, crençase nutrição,dificuldades
percebidas e benefícios de dietas vegetarianas, além do número de pessoas vegetarianas. Concluíram que
são preditores importantes no consumo de carne as crenças e o número significativo de pessoas
vegetarianas encontrados, sendo a maior preocupação das pessoas que seguem esse tipo de dieta a falta de
ferro e proteína, o que os levam a abandonar tal dieta voltando a consumir carne. As campanhas
promocionais realizadas na tentativa de aumentar o consumo de carne, tem efeitos diferentes entre
homens e mulheres e também em membros de diferentes faixas etárias, que devem ser considerados (LEA
& WORSLEY, 2001).
Através da coleta de dados na Bélgica, os consumidores de carnes foram separados em quatro
segmentos: simples, cautelosos, indiferentes, e preocupados,e coletados dados em relação as seguintes
características: diferenças sócio-economicas, sexo, idade e presença de crianças, sendo que os segmentos
diferem em termos deimpacto de tomada de decisões, confiança emfontes de informação, níveis de
preocupação, consciência de preço, consumo de carne, intenção de consumo, e lugar preferido da compra.
Os consumidores cautelosos e preocupados observavam mais a qualidade,rastreabilidade, rotulagem e
informações sobre a carne, já os simples se concentram principalmente no gosto como critério decisivo,
por fim os consumidores indiferentes são fortemente orientados pelo preço (VERBEKE & VACKIER,
2004).
A sociedade brasileira começa a apresentar maior procura por alimentos que fazem bem à saúde,
observando a certificação de qualidade e outras informações de procedência. Os consumidores em
questão buscam alimentos que os envolvidos na produção estejam ligados em projetos sociais e invistam
em sustentabilidade, deixando de comprar de empresas com ilegalidades mesmo sendo uma marca
conhecida e segura (FIESP, 2010).
Em um estudo realizado em Porto Alegre através entrevistas feitas com 400 consumidores para
constatar o processo decisório de compra, verificou-se que a principal motivação de consumo, é a
condição de maciez da carne, em relação ao ponto de venda, a limpeza do vendedor e do local, na pós
compra a maioria dos indivíduos não voltariam a comprar caso o produto não estivesse de acordo com
que se espera (BARCELLOS, 2002).
O mercado de alimentos tem evoluído, dessa forma é fundamental que às cadeias produtivas
idealizem um modo de mostrar ao consumidor outros traços de qualidade, essa estratégia agregará valor a
esse produto (ABICHT, 2009).
O conhecimento sobre os motivos da escolha de alimentos pelos consumidores ajuda os
comerciantes a os influenciarem ao maior consumo, essas decisões são interessantes na concepção de
políticas de alimentação e saúde, bem como estratégias de marketing, na Rússia em uma pesquisa feita
com 1.081 pessoas sobre o que os motivava a comprar, foi encontrado 3 grupos distintos, os grupos eram
similares em termos de ordem demotivações, mas diferiam em nível motivacional, fatores sensoriais e
disponibilidade, seguida por preço foram os mais relevantes no momento da compra, se diferiam também
em relação ao fatores sócio econômicos, padrões de consumo e atitudes em relação à saúde e à
alimentação saudável (HONKANEN & FREWER,2009).

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Os 4 P’s do marketing não são usados da melhor forma possível segundo os consumidores sendo
que o produto deve ser melhorado para se tornar mais apropriado ao consumidor, o preço tornou-se um
fator limitante de demanda e oferta do produto, os pontos de venda ainda não tem um formato que atraia
o consumidor e que agregue valor ao que esta sendo oferecido, e por último promoção que só são
realizadas nas grandes redes de supermercados e hipermercados (BUSO,2000).
O marketing eficiente é indispensável, e a melhor forma da sua realização é conhecendo o que o
cliente necessita, oferecendo informações suficiente para o planejamento estratégico de marketing, as
grandes empresas sabem tudo sobre o que o consumidor deseja, necessita e demanda, descobrem coisas
sobre seus clientes que nem os próprios sabem (BARCELLOS, 2002).
Garber Jr. et al. (2002) a decisão a ser tomada para escolher um produto, particularmente no setor
de alimentos, que precisa de estímulos sensitivos (visuais, táteis, etc.) ou “de memória,” são decisivos
para que os consumidores realizem a compra, como também na escolha de produtos concorrentes ou
substitutos, os consumidores são indispensáveis, dinâmicos, antagonistas e muito influenciáveis por
promoções mostradas nas embalagens, também por formato e cores.
A condição notável para o sucesso neste mercado de carne é mostrar respostas rápidas às
demandas do consumidor, ter versatilidade diante das mudanças, mostrando que nesse momento atender
as necessidades e desejos do consumidor tornou se a circunstância básica para continuidade e crescimento
(BARCELLOS & CALLEGARO, 2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante desta revisão conclui-se que para a adequação dos supermercados para atender melhor os
consumidores é necessário fazer melhorias estudando o que os mesmos procuram, usando estratégias de
marketing eficazes. Levando com isto a fidelização dos consumidores ao ponto de venda e contribuindo
para a melhora na relação indústria- comércio- consumidor.

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DESEMPENHO ZOOTÉCNICO DO PACU (Piaractus mesopotamicus),


TAMBAQUI (Colossoma macropomum) E DO HÍBRIDO TAMBACU (Colossoma
macropomum X P. mesopotamicus)

Guilherme do Nascimento Seraphim1, André Luiz do Nascimento Silva2, Jayme Aparecido


Povh3
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. E-mail:
guilherme.seraphim@hotmail.com
2
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. E-mail:
guilherme.seraphim@hotmail.com
3
Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS. E-mail: jayme.peixegen@gmail.com

Resumo: Os peixes redondos são uns dos principais representantes da produção piscícola no Brasil, e
falta de um programa de melhoramento genético desse grupo faz com que haja um aumento no uso da
técnica de hibridação para elevar a produção desses animais. O cruzamento da Fêmea do tambaqui
(Colossoma macropomum) com o macho do pacu (Piaractus mesopotamicus) resulta no híbrido tambacu
e não há estudos que demonstram se a heterose na formação desse peixe é positiva. As médias de
crescimento entre o pacu, tambaqui e tambacu são muito equiparadas quando comparadas entre si, assim
como a conversão alimentar encontrada.

Palavras Chave: Piaractus, Colossoma, hibridação

ZOOTECHNICAL PERFORMANCE OF PACU (PIARACTUS MESOPOTAMICUS),


TAMBAQUI (COLOSSOMA MACROPOMUM) AND HYBRID TAMBACU (COLOSSOMA
MACROPOMUM X P. MESOPOTAMICUS)

Abstract: The round fish are one of the main representatives of the fish production in Brazil, and lack of
a breeding program of this group means that there is an increase in the use of hybridization technique to
increase the production of these animals. The crossing of the tambaqui female (macropomum Colossoma)
with male pacu (Piaractus mesopotamicus) results in hybrid tambacu and there are no studies that
demonstrate the heterosis in the formation of this fish is positive. The average growth between pacu and
tambacu are very assimilated when compared to each othr
er, as well as feed conversion found.

Keywords: Piaractus, Colossoma, hybridization

INTRODUÇÃO

A produção de organismos aquáticos é uma atividade que possui uma das maiores taxas de
crescimento no mundo, e possui como maior produtor a China, com aproximadamente 38% do total da
produção mundial sendo que o Brasil ocupa apenas a 19º colocação com apenas 0,75% desse montante
segundo dados do ministério da pesca e aquicultura (2013).
Segundo Campanhola (2003) estado do Mato Grosso do Sul possui uma grande gama de espécies
nativas com grande potencial para a produção. Todavia, pesquisas ainda são necessárias para conhecer os
índices zootécnicos, adaptabilidade aos sistemas de criação e reprodução dessas espécies.
Dentre os peixes nativos criados no Brasil, os peixes redondos representam um dos grupos mais
produzidos, correspondendo à aproximadamente 26% do total de pescado proveniente da piscicultura
(Brasil, 2012), e seu potencial se deve à rusticidade, boas taxas de crescimento e conversão alimentar.
Entre estes peixes destacam-se o tambaqui, pacu e pirapitinga (Lopera-Barrero, 2011).

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Os animais que representam esse grupo possuem hábito alimentar onívoro com comportamento
frugívoro e na natureza alimentam-se de folhas, caules moles, flores, frutos, sementes, zooplâncton,
artrópodes, moluscos e peixes (Baldisserotto & Gomes, 2013). Por serem animais onívoros, sua exigência
de proteína é baixa, em torno de 28%, diminuindo assim o custo de produção desses animais, além disso o
treinamento alimentar desses animais é fácil, ou seja, passam a consumir facilmente o alimento inerte.
A hibridação consiste no acasalamento de indivíduos ou grupos geneticamente diferentes e pode
envolver cruzamentos dentro de uma espécie (intraespecíficos) ou cruzamento entre espécies separadas
(interespecíficos). Esta técnica vem sendo utilizada em diversas espécies de peixes, a fim de produzir
animais estéreis e que possuam melhor desempenho em relação às espécies parentais (vigor híbrido),
como um aumento na taxa de crescimento, melhor qualidade da carne, resistência a doenças e capacidade
de adaptação a variações ambientais, com o intuito de se produzir peixes mais proveitosos para a
piscicultura segundo Bartley et al. (2001). Nem sempre ocorre heterose positiva para híbridos de peixes,
sendo que neste caso deve-se favorecer a produção dos peixes puros. Considerando que alguns estados
brasileiros tem produzido híbridos, como, por exemplo, o estado de Mato Grosso do Sul, onde grande
parte da produção é de peixes híbridos (patinga, tambacu, tambatinga e cachara cruzado com jundiá da
Amazônia), a constatação de um peixe puro que supere em desempenho dos híbridos é fundamental para
direcionar o setor produtivo.
O pacu é um peixe oriundo das bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, e possui bom
desempenho zootécnico, rusticidade e qualidade da carne (Baldisserotto & Gomes, 2013). O tambaqui
(Colossoma macropomum) ocorre naturalmente nas bacias do Rio Amazonas e do Rio Orinoco, sendo o
peixe mais criado na Região Amazônica, principalmente pela fácil obtenção de juvenis, bom potencial de
crescimento, alta produtividade e rusticidade (Gomes, et al., 2003)
Contudo, poucos estudos estão sendo realizados a fim de observar se os híbridos possuem mais
características desejáveis em comparação com as espécies parentais, fato que pode influenciar na escolha
da espécie para a produção (Franceschini et al., 2013).
A presente revisão tem como objetivo determinar o desempenho zootécnico dos grupos genético
pacu, tambaqui e tambacu.

DESENVOLVIMENTO

Panorama da piscicultura
Quanto à produção aquícola mundial, a China continua sendo o maior produtor (aproximadamente
47,8 milhões de toneladas/2010), seguidas pela Indonésia e Índia; e o Brasil melhora a colocação no
ranking mundial com 479.399 toneladas no ano de 2010 passando para a 17ª posição, perdendo apenas
para o Chile (713.241 toneladas) na América do Sul (Brasil, 2013).
A produção aquícola continental aumentou significativamente em 2011, com um incremento de
38,0% demonstrando um crescimento consistente desse setor da aquicultura. O crescimento da produção
desta modalidade pode ser atrelado ao desenvolvimento do setor, que por sua vez, se deu pela ampliação
de políticas públicas que facilitaram o acesso aos programas governamentais existentes desenvolvidas
pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (Brasil, 2013).
Atualmente existem linhagens de peixes melhorados geneticamente das espécies tilápia e tambaqui
no Brasil, todavia, o primeiro organismo aquático trata-se de um peixe exótico e o segundo não
desenvolve bem nas diversas condições ambientais do Brasil. Muitos produtores trabalham com híbridos
buscando maior desenvolvimento zootécnico, contudo, faltam informações referente a produção dos
híbridos comparativamente aos parentais puros.
Na produção aquícola continental no ano de 2011 destacam-se a tilápia (espécie exótica de origem
africana) e o tambaqui (peixe nativo), respectivamente, onde ambas somadas representaram 67,0% da
produção nacional de pescado dessa modalidade (Brasil 2013). Segundo dados do IBGE 2013, a soma da
produção de todos os peixes redondos (Tambaqui, Pacu, Pirapitinga, Tambacu, Tambatinga, Patinga)
chega em aproximadamente 167.601 toneladas, montante muito próximo da produção de Tilápia no Brasil
que é cerca de 169.306 toneladas, corroborando a importância econômica que esses peixes possuem para
a produção piscícola do país.

Crescimento
O crescimento comercial do pacu está em crescimento devido ao sabor de sua carne, resistência a
patógenos, alta adaptabilidade aos métodos de cultivo, pouca exigência quanto a qualidade da água e ao

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baixo custo de manutenção (Abimorad & Carneiro, 2004). O tambacu é um peixe oriundo da reprodução
da fêmea do tambaqui com o macho do pacu, combinando características desejáveis como resistência ao
frio e rusticidade do pacu com uma maior taxa de crescimento do tambaqui (Martins et al., 2002) e além
dessas características, o tambacu possui maior resistência ao estresse e à doenças quando comparado com
as espécies parentais (Tavares-Dias et al., 2007).
Em um estudo realizado por Souza et. al., 2003 em tanques escavados de 55 m3 em Goiânia – GO,
verificou um crescimento no comprimento total de pacus de aproximadamente 20,2 centímetros e um
ganho de peso de aproximadamente 1035,4 gramas nas 52 semanas de duração do estudo onde os animais
foram alimentados com uma ração contendo 28% de proteína bruta. Com base nesses dados, pode se
estimar que o ganho diário de peso por animal foi de 2,84 gramas por dia dados muito próximos do
encontrado por Bittencourt et. al., 2010, onde foi realizado um experimento em Santa Helena – PR, com
pacus criados em tanque rede de 6 m3 com uma densidade de 40 peixes por m3 alimentados com uma
ração contendo 32% de proteína bruta e constataram que os animais ganharam 1109,4 gramas de peso
vivo e 36,95 centímetros de comprimento total e obtiveram ainda uma conversão alimentar de 2,58.
Ozório et. al., 2010 em estudo realizado com pacus de aproximadamente 26,6 gramas de peso
inicial criado em hapas, encontraram que em um período de 54 dias os animais obtiveram um ganho e
peso de 39,7 gramas e uma conversão alimentar de 1,04 ao final do experimento, resultado equiparado do
encontrado por Fernandes et. al., 2000, onde foi mensurado um ganho de 36,57 gramas e uma conversão
alimentar de 1,19.
Um estudo foi realizado para medir o desempenho de tambaquis quando alimentados duas vezes
ao dia durante um período de 30 dias na cidade de Petrolina - PE e foi encontrado por Souza et. al. 2014
que os animais obtiveram cerca de 40,99 gramas de ganho de peso médio final e 1,36 gramas diárias com
uma conversão alimentar de 1,52. Silva et. al., 2007 utilizando a mesma frequência de alimentação,
verificou ao fim do experimento que os animais ganharam cerca de 34,25 gramas de peso em um período
experimental de 45 dias no estado do Amazonas, resultando num ganho diário de aproximadamente 0,76
gramas, resultado muito semelhante do encontrado por Aride et. al., 2006, onde em um período de 50
dias, os animais ganharam cerca de 36,4 gramas de peso totalizando um ganho diário de
aproximadamente 0,73 gramas.
Em outro estudo, realizado por Gomes et. al., 2006, foram analisados tambaquis criados em
tanques rede no estado de Amazonas, e como resultado foi verificado um ganho de peso de 868,4 gramas
e uma conversão alimentar de 2,07 num período de 240 dias, onde em média, cada animal ganhou cerca
de 3,61 gramas de peso por dia, resultado muito diferente do encontrado por Merola & Cantelmo 1987,
onde os animais, criados em gaiolas, obtiveram um ganho de peso de 853 gramas em um período de 194
dias, totalizando um ganho diário de 1,32 gramas e uma conversão alimentar de 2,20.
Gonçalves et. al., 2010 verificou um ganho de peso de 56,80 gramas para juvenis do híbrido
tambacu em 65 dias de experimento considerando assim um ganho de peso diário de 0,87 gramas e
observou ainda uma conversão alimentar de 1,34 para esses animais. Resultado muito próximo do
encontrado por Silva et. al., 2000, onde os animais obtiveram um ganho de peso de 225,63 gramas e uma
conversão alimentar de 4,39 em 266 dias de experimento, verificando um ganho de peso diário de 0,84
gramas.
Melo & Pereira 1994 encontraram valores muitos superiores para tambacus em criação intensiva,
com um ganho de peso diário de aproximadamente 3,58. Pereira et. al., 2011 estudando juvenis de
tambacu, mensuraram um ganho de peso diário de aproximadamente 0,32 gramas e uma conversão
alimentar de 1,15.
Segundo Kubitza (2004), a produção de peixes redondos com a utilização de ração pode variar de
4 a 30 toneladas por hectare, e esse intervalo se deve em função da capacidade de renovação de água e da
existência de um sistema de aeração de emergência. Este mesmo autor constatou que em 1 hectare de
lâmina d’água, o pacu tem uma produção esperada de 6 a 8 toneladas, o tambaqui e o tambacu de 7 a 9
toneladas, com alimentação completa e aeração no tanque.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, pode ser concluído que pelos dados apresentados não há grande diferença entre
os parâmetros zootécnicos entre os grupos genéticos pacu tambaqui e tambacu, porém, vale ressaltar que
a produção piscícola é muito afetada por diversos fatores como as diferenças no clima, a interferência da
densidade em que estes animais foram estocados durante o período experimental, a diferença do ganho de

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peso entre as fases de crescimento, qualidade da água em que os animais estão ambientados. Pelos relatos
existentes na literatura, mais estudos necessitam ser realizados com o intuito de se ter conhecimento a
respeito dos parâmetros zootécnicos dos híbridos de peixes comumente utilizados na piscicultura em
relação ao grupo genético puro (parentais).

LITERATURA CITADA

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INFLUÊNCIA DA ANGIOTENSINA II NA REPRODUÇÃO ANIMAL

Caroline Eberhard Buss1, Daniel França Mendonça da Silva1, Eder Cristian Queiroz
Serrou da Silva1, Fernanda Hvala de Figueiredo1, Fernando Henrique Garcia Furtado1,
Francisco Manuel Junior1, Tailisa de Souza Silva1, Tainara Candida Ferreira1, Thyciane
Rodrigues de Aguilar1, Zelina dos Santos Freire1, Willian Vaniel Alves dos Reis1, Fábio
José Carvalho Faria2, Deiler Sampaio Costa2
1
Núcleo de Produção e Reprodução Animal- NUPRA. E- mail: carolebuss@hotmail.com
2
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia– Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul

Resumo: A ovulação é mediada por uma sequência de ações orquestradas pelo eixo hipotalâmico-
hipofisário- gonadal. São claras as diferenças entre as espécies com relação ao curso desses eventos,
através do hormônio luteinizante ocorre à ruptura do folículo, ejetando o oócito. Com o auxilio da ciência,
vários outros fatores foram descobertos e muitos outros ainda permanecem inexplicados. Através de
pesquisas realizadas com ratos encontraram o envolvimento da angiotensina II na reprodução, sua
influência desempenhando um papel importante na ovulação de bovinos, macacos e coelhos. Está
intimamente envolvida na foliculogênese, indução da maturação do oócito e liberação de prostaglandina,
juntamente com o hormônio luteinizante.

Palavras chaves- foliculogênese, “maturação folicular”, sistema renina angiotensina

ANGIOTENSIN II INFLUENCE IN ANIMAL BREEDING

Abstract: Ovulation is mediated by a sequence of actions orchestrated by hipofisário- hypothalamic-


gonadal axis. Are clear differences between species with respect to the course of these events, by the
luteinizing hormone occurs rupture of the follicle, the oocyte ejecting. With the aid of science, various
other factors have been discovered and many others still remain unexplained, through research found with
mice involvement of angiotensin II on playback, their influence on play an important role ovulation in
cattle, monkeys and rabbits. It is closely involved in folliculogenesis, oocyte maturation induction and
release of prostaglandin along with the luteinizing hormone.

Keywords: folliculogenesis, "follicular maturation" renin angiotensin system

INTRODUÇÃO

Em 1987 Pucell e colaboradores observaram a existência de um sistema renina angiotensina (SRA)


extra renal, e mais precisamente a afinidade de receptores para o agonista de angiotensina II (Ang II) nos
ovários de ratas imaturas, demonstrando sua relação com a reprodução. Sabe- se que o SRA que envolve
fígado, rins e pulmões, tem como função manter a homeostase hidroeletrolítica (Raposo- Costa & Reis,
2000) e a pressão sanguínea (Mitsube et al., 2003).
O SRA inicia-se com a síntese de angiotensinogênio no fígado, o qual é submetido à catabolização
pela renina (enzima renal) transforma- o em angiotensina I (AngI) (Feitosa et al, 2010).
Ao chegar nos pulmões via circulação sanguínea, a AngI é clivada em angiotensina II (Ang II)
através da ação da enzima conversora da angiotensina (ECA) (Raposo- Costa & Reis, 2000; Feitosa et al.,
2010). A Ang II é um peptídeo de peso molecular de 1.045 g/mol, responsável por regular a pressão
arterial. Não se atendo só a isso, foi revelada sua presença no ovário e influencia na reprodução de
diferentes espécies, como: em coelhas (Yoshimura et al., 1996), ratas (Mitsube et al., 2003), hamsters
(Griessner et al., 2009), vacas (Ferreira et al., 2007) e também em mulheres (Raposo- Costa & Reis,
2000), atuando de modo distinto em cada uma (Ferreira et al., 2007).
O SRA é relativamente complexo regulando varias ações no organismo, sendo necessárias
pesquisas mais aprofundadas que venham corroborar sua influência e importância tanto na foliculogênese

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(Raposo- Costa & Reis, 2000), capacitação espermática de sêmen bovino (Costa & Thundathil, 2012) e
demais ações relacionadas com a reprodução.
A presente revisão teve por objetivo abordar aspectos relacionados a Ang II na foliculogênese,
bem como apresentar resultados evidenciados anteriormente na literatura quanto a sua influência na
reprodução.

DESENVOLVIMENTO

Uma série de ações e reações são responsáveis por acarretar o desenvolvimento folicular, onde
ocorre diferenciação de células, ação de gonadotrofinas, esteróides, interleucina- I, ativina, fatores de
crescimento, dentre outros (Raposo- Costa & Reis, 2000).
O hormônio luteinizante (LH) dá início a cascata de ações na fase pré- ovulatória, que culmina
com a liberação do oócito, após a ruptura do folículo quando o mesmo atinge aproximadamente 20 mm
em bovinos (Portela et al., 2011).
Aprofundando o conhecimento nesse processo, notou- se a importância da Ang II ovariana em
enumeras espécies, observando que ela promove tanto a liberação de prostaglandina, quanto maturação
folicular e ovulação (Ferreira et al., 2007; Portela et al., 2011), sendo ela o principal peptídeo
biologicamente ativo do sistema renina angiotensina (Raposo- Costa & Reis, 2000). Porém a Ang II
não é localizada exclusivamente em ovários e túbulos renais, mas também pode ser encontrada nos
testículos, cérebro, glândulas salivares e coração, devido a presença de seus receptores, os quais
desempenham funções distintas (Feitosa et al., 2010).
O conhecimento e entendimento das reações bioquímicas na reprodução animal propicia que
tratamentos contra infertilidade e o controle sobre a ovulação tenham nova abordagem em mamíferos
(Ferreira et al., 2007).

Localização da Ang II
O SRA extra renal e principalmente o encontrado nos ovários, foi descoberto mediante pesquisas
com ratos observando a presença de receptores para Ang II no folículo ovariano e alta afinidade antes da
primeira ovulação nesses animais (Pucell et al., 1987).
Embora não tenha sido encontrado em folículos pré-ovulatórios e nas camadas da teca interna e
externa de ratas, está presente em outras estruturas ovarianas dessa espécie (Mitsube et al.,2003; Thomas
& Sernia, 1990), atuando como modulador parácrino e autócrino na maturação do oócito (Schauser et al.,
2001).
Em bovinos a presença de Ang II foi notada no folículo dominante, após o pico do hormônio
luteinizante (Ferreira et al., 2007) e no estroma ovariano principalmente nas fases de proestro e estro
(Schauser et al., 2001). Foram também encontrados locais de ação da Ang II com predomínio nas células
do folículo, tanto na teca externa, quanto na granulosa. Contudo em suínos pré e pós púberes verificou- se
a presença de receptores de Ang II nas camadas das células da granulosa de folículos antrais, com maior
afinidade na fase pós- púbere (Shuttleworth et al., 2001).
Thomas & Sernia (1990) através de pesquisas com ratos notaram a presença do precursor do SRA
distribuído ao longo das estruturas ovarianas. O angiotensinogênio foi encontrado nas células da
granulosa de folículos em maturação, bem como no epitélio germinativo em todas as fases do ciclo
ovariano (Fig. 1), em folículos atrésicos, em uma pequena porção do corpo lúteo (CL) e algumas áreas do
estroma, tanto na região cortical quanto na medular.

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Figura 1. A-D. Seções de ovário de rato em proestro mostrando coloração de angiotensinogênio em


estágios de maturação folicular distintos. A) Ausência de coloração em folículo primordial. Oócito (O),
setas nas células do folículo; B) Sem coloração neste folículo primário precoce e forte coloração no
epitélio germinal (E); C) Imunorreatividade presente em células da granulosa (setas) perto do oócito, em
folículo primário em desenvolvimento avançado; D) Coloração do angiotensinogênio presente nas células
da granulosa de folículo secundário. Células marcadas (setas) perto do oócito, ao lado do espaço
foliculares em desenvolvimento. Escala de comprimento da barra de 20 µm em A; 50 µm de B à D
(Fonte: Thomas & Sernia, 1990).

A relação da Ang II e seus receptores em coelhos foi observada por meio de injeções
intrafoliculares, onde notou- se a presença dos mesmos com predominante localização nas células da
granulosa, estroma ovariano e nas camadas de células da teca (Yoshimura et al., 1996).

Tipos de receptores
No sistema renina angiotensina ovariano são bem conhecidos os receptores envolvido nas ações da
Ang II, são classificados em tipo 1 (AT1) e tipo 2 (AT2) (Feitosa et al., 2010). Excepcionalmente os
receptores do tipo 1 autores os subdividem ainda em AT1a e AT1b, cujo são responsáveis por efeitos
vasculares e adrenais respectivamente (Raposo- Costa & Reis, 2000; Feitosa et al., 2010).
Ambos os receptores AT1 e AT2 estão relacionados a efeitos reprodutivos, podendo variar onde se
localizam, tipo de receptor envolvido e a atuação nas distintas espécies. Contudo o receptor AT1 é
responsável por mediar efeitos com relação à contração da musculatura lisa, secreção de aldosterona e por
fim, a regulação da pressão arterial (Ferreira et al., 2007).
O AT2 é o receptor que está mais intimamente ligado as ações reprodutivas na maioria das
espécies, em detrimento de se relacionar com a esteroidogênese, maturação oocitária, ovulação, esta
presente em folículos atrésicos e pode ser encontrado na estrutura luteal de vacas (Feitosa et al., 2010;
Schauser et al., 2001).
Apesar de existir semelhanças entre AT1 e AT2 como receptores para AngII, esses partilham
apenas 32- 34 % de uma identidade de aminoácidos. O AT2 apresenta um gene codificador de uma
proteína de 363 aminoácidos, que corresponde uma massa molecular de 41kDa (Gallinat et al., 2000).
Tanto o AT1 quanto o AT2 são acoplados a uma proteína G, no entanto o AT1 também é
influenciado pela fosfolipase-C, que auxilia na mobilização de cálcio resultando na contração muscular,
síntese de aldosterona, secreção de noradrenalina (Feitosa et al., 2010); já o AT2 ainda não tem seu
mecanismo de transdução bem esclarecido (Mitsube et al., 2003).
Com relação ao AT1 foram identificados através de imunocitoquímica no folículo antral de suínos,
mais especificamente nas células da granulosa. Esses são os receptores de maior número e importância
para esta espécie (Fig. 2), no entanto não há distinção dos subtipos desse receptor (Shuttleworth et al.,
2001).

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Figura 2. Coloração imunocitoquímica para receptores de AngII no suíno, tipo 1(AT1)(i), tipo 2
(AT2)(ii). (iii) grupo negativo, controle. (a) tecido de ovário pré púbere; (b) tecido de ovário pós púbere.
A: espaço antral; G: células da granulosa; T: células da teca. Escala de comprimento da barra- 100µm
(Fonte: Shuttleworth et al., 2001).

Em coelhas o AT1 está localizado no estroma ovariano e nas células da teca (Yoshimura et al.,
1996), no estroma de ratas, assim como no ovário de bovinos independente da fase do ciclo estral (Fig. 3)
(Schauser et al., 2001).

Figura 3. Autoradiogramas mostrando a distribuição 125I- [Sar1-Ile5-Ile8] – ligação de Ang II de ovário no


estro. Regiões escuras indicam alta densidade de receptores AngII. a) Ligação do receptor AT1. b)
Ligação de receptores AT2. c) Total das ligações. d) Rotulagem do fundo. F- folículo; Fd folículo
dominante. Escala barra = 1mm (Fonte: Schauser et al., 2001).

Já os receptor AT2 tem localização predominante nas células da granulosa de folículos de coelhos
(Yoshimura et al., 1996), nas células da granulosa de ratos quando se encontram no estágio de
desenvolvimento terciário, também quando começam a exibir sinais de falência de sua vitalidade e assim
entrando em atresia pela diminuição do fluxo sanguíneo (Shuttleworth et al., 2001; Mitsube et al., 2003),
também esta presente nos folículos, CL, folículos atrésicos de vacas, principalmente na camada de células
da teca externa (Feitosa et al., 2010; Schauser et al., 2001) e em folículos que apresentam atresia em
porcos (Shuttleworth et al., 2001).

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No CL bovino o AT2 esteve presente de forma evidente na cápsula e no tecido conjuntivo, com
progressivo passar da idade desse, a densidade de receptores diminui, já os CL de prenhez comprovada
não apresentaram ligação, assim como o corpo albicans (Schauser et al., 2001).

Atuação da Ang II
Pelos relatos existentes na literatura a Ang II esta intimamente envolvida no processo de
maturação do folículo ovulatório, no recomeço da meiose, na cascata ovulatória, atresia, e apoptose
(Ferreira et al., 2007; Feitosa et al., 2010), porém o mecanismo da sua ação intracelular ainda permanece
de forma obscura (Portela et al., 2011).
Para provar o envolvimento da Ang II no recomeço da meiose, Barreta et al. (2008) injetaram
saralasina (potente antagonista da Ang II) por via intrafolicular e obtiveram inibição nesse evento que é
modulado pelo surgimento do LH, de mesmo modo injetaram um inibidor específico para prostaglandia,
o qual bloqueou o recomeço da meiose do oócito bovino que é induzido pela Ang II. Estes resultados
confirmam que a Ang II é um mediador importante dentro da célula para o surgimento do LH para o
recomeço da meiose do oócito bovino.
Altas concentrações de Ang II foram encontrados em ovários que continham cistos foliculares e
consequentemente não foi verificada a presença de renina na parede do mesmo, causando um
desequilíbrio no sistema indicado que perturbações no SRA ovariano podem levar a ocorrência de cistos
(Schauser et al., 2001).
No entanto Portela et al. (2011) observaram que quando a Ang II foi adicionada em meios de
cultura in vitro com baixas doses de LH, permitiu a expressão total da cascata ovulatória.
A ação da Ang II foi avaliada in vivo através de injeções intrafoliculares com saralasina em vacas
sexualmente maduras e cíclicas. Ttodos os animais tratados obtiveram inibição do crescimento folicular e
consequentemente uma nova onda desenvolveu- se (Feitosa et al., 2010).
A saralasina intrafolicular nas concentrações de 2x10-7M ou 2x10-8M em simultâneo tratamento
com gonadotrofina coriônica humana (hCG) não promoveu seu efeito inibitório da ovulação em coelhos
(Yoshimura et al., 1992), já em bovinos atuou quando administrada 0h e 6h após o tratamento com
agonista de GnRH (Ferreira et al., 2007). No entanto quando os ovários foram desafiados com hCG mais
saralasina 2x10-6M, foi suficiente para promover a ausência da ovulação em três dos seis tratados e inibiu
significativamente a maturação dos oócitos que é induzida pelo hCG (Yoshimura et al., 1992).
Em teste realizados com ratos aplicou- se antagonistas específicos para os receptores de Ang II
AT1 (losartan) e AT2 (PD123319), quando losartan atuou isoladamente não produziu alterações no
número de ovulação, porém quando em sinergismo com o PD123319 acarretou na diminuição das
mesmas, concluindo que à interação entre os dois receptores atua de forma cooperativa (Feitosa et al.,
2010).
Feitosa et al. (2010) através de pesquisas com bovinos, obtiveram o bloqueio da ovulação com
PD123319, e losartan mais PD123319. Losartan isoladamente não foi capaz de inibir o efeito ovulatório
nessa espécie, efeito esse, semelhante ao observado por Ferreira et al. (2007). O AT2 desempenha papel
fundamental na ovulação bovina, estando a Ang II relacionada também com o recomeço da meiose do
oócito nessa espécie (Barreta et al., 2008) e em porcos esse receptor está associado a apoptose folicular e
angiogênese (Shuttleworth et al., 2001).
Em ratas a predominante distribuição do receptor AT1 pode indicar relativa importância das vias
mediadas por esse receptor no processo ovulatório, já que há ausência de expressão de AT2 em outras
partes no ovário, incluindo no folículo pré- ovulatório e ovulatório (Feitosa et al., 2010).

Renina e Enzima Conversora da Angiotensina


Todos os componentes do SRA tem sido localizados em níveis celulares no sistema ovariano
(Thomas & Sernia, 1990). Assim como no SRA a renina é sintetizada nas células justaglomerulares dos
rins. Em experimento realizado por Schauser et al (2001) observaram a presença dessa enzima no SRA do
ovário através de imunohistoquímica, encontrou- se imunorreatividade nas camadas de células da
granulosa e teca de todos os folículos antrais.
Células solitárias localizadas no estroma ovariano ficaram fortemente coradas para renina,
sugerindo que fossem macrófagos, devido sua forma e localização perto dos vasos, já os folículos que
encontravam- se em atresia continham menor concentração dessa enzima (Schauser et al., 2001).
Outra enzima importante nesse sistema é sintetizada nos pulmões, cuja sua função é de clivar a
Ang I em Ang II. A ECA pode ser localizada no SRA ovariano de bovinos no tecido ovariano, fluido

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folicular, nas células endoteliais microvasculares e nas células endoteliais dos vasos sanguíneos de maior
calibre, entretanto, não foi encontrada nas células da granulosa (Schauser et al., 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A angiotensina II presente no ovário é de suma importância na reprodução, principalmente nas


espécies domésticas (por terem fins de produção ou afetivo), tendo maior relevância para algumas por
estar intimamente ligado a maturação folicular, ovulação e formação do corpo lúteo, como em bovinos.
Devido à complexidade e muitos fatores envolvidos no sistema reprodutivo que acabam interferindo no
mesmo, essas alterações podem acarretar em alterações no SRA ovariano, resultando em modificações ao
longo do desenvolvimento folicular, requerendo maior compreensão e estudos na atuação da Ang II nas
células foliculares, com relação às vias de sinalização para o recomeço da meiose e como ela age
intracelularmente.
Inferimos com esses resultados que os avanços das pesquisas e com o melhor entendimento desse
sistema, obteremos resultados significativos nas técnicas de produção de embriões in vitro e tratamento
contra infertilidade.

LITERATURA CITADA

BARRETA, M.H.; OLIVEIRA,J.F.C.; FERREIRA, R. et al [2008]. Evidence that the effect of


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REPRODUÇÃO DE TAMBAQUI

Luana Barbosa Pires1, Rosiane Araujo Rodrigues², André Luiz do Nascimento Silva³,
Jayme Aparecido Povh4
1
Mestranda em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia-Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul. E-mail: luana.bio@hotmail.com
²Mestranda em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia-Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul. E-mail: rosiaraujo_19@hotmail.com
³Mestrando em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia-Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul. E-mail: andre_nascimento129@hotmail.com
4
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia-Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. E-mail: jayme.povh@ufms.br

Resumo: O tambaqui (Colossoma macropomum) é considerado o segundo maior peixe de escamas da


América do Sul. Espécie nativa mais produzida no Brasil, estando presente em 24 estados. Apresenta
características muito importantes para a produção, tais como: habito alimentar onívoro, bom desempenho
zootécnologico e carne de grande aceitabilidade qualidades estas que o tornam um dos peixes mais
importantes da piscicultura brasileira. Por ser uma espécie reofílica não se desova naturalmente em
piscicultura o que torna necessária a aplicação de hormônios. O extrate bruto de hipófise de carpa é o
indutor hormonal mais utilizado para reprodução.

Palavras-chave: Espécie reofílica, hipófise, nativo, reprodução, Colossoma macropomum

TAMBAQUI REPRODUCTION (Colossoma macropomum)

Abstract: The tambaqui (Colossoma macropomum) is considered the second largest fish scales in South
America. More native species produced in Brazil, being present in 24 States. Very important features for
production, such as: omnivore food habit, good performance and high meat zootécnologico acceptability
these qualities that make it one of the most important Brazilian fish farming fish. For being a species
reofílica not spawning naturally in fish farming which makes necessary the application of hormones. The
gross extrate of carp pituitary gland is the most widely used hormone inducer for playback.

Keyword: Species rheophilic, pituitary, native, reproduction, Colossoma macropomum

INTRODUÇÃO

Atualmente o tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier, 1818) é a espécie nativa mais produzida
no Brasil, estando presente em 24 estados brasileiros com 111.084,1 t, se destacando nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste do país. Apresenta características importantes para produção, tais como: hábito
alimentar onívoro, planctófago, bom desempenho zootécnico e carne de grande aceitabilidade (Lopera-
Barrero et al. 2011 & Brasil, 2013 ).
O tambaqui é uma espécie reofílica, tendo seu período reprodutivo nos meses de novembro a
fevereiro (período de piracema), a reprodução na piscicultura só é possível mediante aplicação de
hormônio, sendo que fora deste período não ocorre reprodução, seja em ambiente natural ou em
piscicultura com aplicação de hormônios (Kubitza, 2004).
O protocolo utilizado para a reprodução de peixes reofílicos é basicamente o mesmo desde a
década de 70, com pequenas variações entre espécies e localidades. O hormônio reprodutivo mais
utilizado no Brasil é o extrato de hipófise de carpa, conhecido com técnica de hipofisação, onde os
primeiros trabalhos de indução foram desenvolvidos na década de 30 paralelamente na Argentina por
Bernado Houssay e no Brasil por Rofolfo Von Ihering conhecido como o “Pai da Piscicultura Brasileira”,
quando foram obtidos resultados positivos de indução à maturação final e desova de peixes migradores, a
partir da aplicação de hormônios naturais presentes na hipófise de peixes maduros.

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DESENVOLVIMENTO

Espécie estudada - Tambaqui (Colossoma macropomum)


O tambaqui (Colossoma macropomum, Civier, 1818) apresentado na figura1, pertence à família
Characidae, ordem characiformes. Considerado o segundo maior peixe de escama da América do Sul,
com destaque nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste onde tem grande aceitação no mercado,
podendo medir 90 cm de comprimento e a pesar 30 kg (Lopera-Barrero et al., 2011).

Figura 1 - Tambaqui utilizado durante o experimento. (Arquivo pessoal, 2014)

Esta espécie pode ser encontrada nas bacias dos Rios Amazonas, Orinoco e Solimões, sendo o
peixe mais criado na Região Amazônica, com habito alimentar onívoro/frugívoro/zooplanctôfago (Claro
Jr et al., 2004), apresenta fácil obtenção de juvenis, bom potencial de crescimento, alta produtividade e
rusticidade (Gomes, et al., 2003).
O tambaqui em seu ambiente natural realiza piracema e sua reprodução ocorre no período de
chuvas, de outubro a março, com maior concentração nos meses de novembro a fevereiro (Kubitza,
2004), e como todo peixe teleósteo sua desova é regulada de acordo com os fatores externos que
determinam o melhor período como: variação na temperatura, fotoperíodo, pH entre outras variáveis
(Zanuy & Carrillo, 1987).
Na piscicultura a restrição dos fatores ambientais afeta diretamente no processo reprodutivo
suprimindo de alguma forma a ação dos hormônios responsáveis pela desova, embora o desenvolvimento
gonadal aconteça, o desenvolvimento final de maturação não ocorre devido às restrições sendo necessária
a indução através de hormônios exógenos comumente aplicados como no caso extrato bruto de hipófise
de carpas (Zoar & Mylonas, 2001).

Reprodução e indução hormonal de peixes reofílicos


A reprodução é o processo biológico mais importante dos organismos, pois dela depende a
sobrevivência e perpetuação das espécies, sendo assim possibilita o controle reprodutivo dos organismos
em condições de confinamento e é um dos meios de maior importância para garantir o sucesso da
piscicultura (Romagosa, 2003).
O período de reprodução varia de acordo com cada espécie, na maior parte ocorre de novembro a
janeiro, ou seja, sua migração acontece no início do período chuvoso quando os peixes sobem rio acima.
A migração realizada pelos peixes é muito importante, pois estimula à maturação gônadal, estímulos

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ambientais desencadearão estímulos hormonais resultando quase sempre em uma desova (Baldisserotto &
Gomes, 2010).
Se as condições ambientais não forem suficientes para que os ovos se desenvolvam, o animal
permanecerá em uma fase de dormência até que alguns dos fatores ambientais ocorram e os ovos sejam
reabsorvidos (Woynarovich & Horváth, 1989).
Por se tratar de uma espécie migradora quando criados em piscicultura sua desova só é possível
através da técnica da hipofisação (Woynarovich, 1986), esta técnica faz com que fêmeas e machos
completem seu ciclo reprodutivo em condições controladas em um momento desejado (Zaniboni &
Weingartner, 2007).
A reprodução induzida é um processo muito importante, principalmente quando se trata de
espécies reofílicas, devido o desaparecimento das matas ciliares, das lagoas marginais e da construção de
grandes barragens hidrelétricas que modificam seu habitat dificultando sua reprodução natural
(Castagnolli, 1992). Além disso, essas espécies precisam migrar para se reproduzir, o que não é possível
em ambientes de cultivos, sendo que deste modo, precisam ser induzidas à reprodução através de
aplicação de hormônios estimulantes (Narahara et al., 1994).
A indução à desova é realizada na época em que coincide com o período de reprodução, sendo que
para isso, há a necessidade de se conhecer a biologia reprodutiva e comportamental da espécie com que se
pretende trabalhar (Castagnolli, 1992).
A reprodução artificial é otimizada pela indução hormonal, pois ela facilita a maturação final e a
liberação dos gametas na maior parte das espécies mantidas em ambiente de cultivo e permite uma maior
eficiência do processo em condições laboratoriais (Carneiro & Mikos, 2008). Sendo assim este processo
funciona como um complemento da quantidade de gonadotrofina produzida pelo organismo receptor,
substituindo a quantidade que deixou de ser produzida pela ausência das condições ambientais favoráveis
(Zaniboni & Weingartner, 2007).
A hipofisação tem sido utilizada com sucesso em várias espécies de peixes reofílicos, tais como:
tambaqui (C. macropomum), pacu (Piaractus mesopotamicus), matrinxã (Brycon cephalus e B.
orbignyanus), dourado (Salminus maxillosus), curimbatás (Prochilodus scrofa e P. affinis), piapara
(Leporinus elongatus), piau (Leporinus friderici), piau branco (Schizodon knerii), jundiá (Rhamdia
quelen) e lambaris (Astyanax sp) (Baldisserotto, 2009).
Em geral têm-se utilizado as dosagens de 0,5 e 5,0 mg/kg de peso vivo, sendo a primeira dose para
estimular a migração da vesícula germinal e 12 horas depois aplica-se a segunda dose para induzir a
quebra da vesícula germinal, ovulação e desova. Os machos geralmente recebem uma única dose (2,5
mg/kg de peso vivo) no momento da segunda aplicação das fêmeas fazendo com que ocorra o aumento do
volume seminal (Woynarovich & Horváth, 1983; Moreira et al., 2001).
Segundo Zaniboni e Weingartner (2007), esta técnica continua sendo uma das alternativas mais
utilizadas para induzir a reprodução de peixes migradores em todo mundo, sendo conhecida como
“hipofisação”. Os autores ainda salientam que até o início de 1990, foram obtidos resultados positivos de
indução hormonal a maturação final e desova de vários peixes migradores brasileiros, através da
hipofisação ou aplicação de hormônios sintéticos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A piscicultura vem crescendo a cada dia, tornando-se essencial o refinamento de técnicas de


reprodução artificial de peixes para que o produtor tenha animais em qualidade e quantidade para que
consiga suprir a demanda do mercado consumidor. Sendo assim, se torna indispensável o aprimoramento
das técnicas de reprodução de peixes garantindo maior produtividade com indivíduos de qualidade e com
boa aceitação no mercado.

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LITERATURA CITADA

BALDISSEROTTO, B. Fisiologia aplicada à piscicultura: Fisiologia aplicada à piscicultura. Santa


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BALDISSEROTTO, B.; GOMES, L.C. Espécies nativas para piscicultura no Brasil. 2.ed. Santa Maria,
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CARNEIRO, P.C.F.; MIKOS, J.D. Gonadotrofina coriônica humana e hormônio liberador de
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CASTAGNOLLI, N. Criação de peixes de água doce. Jaboticabal: FUNEP, 1992. 189p
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EFEITOS DO TRATAMENTO COM DIFLUBENZURON EM PEIXES DE


PRODUÇÃO

André Luiz do Nascimento Silva1, Robson Andrade Rodrigues², Guilherme do Nascimento


Seraphim³, Vivian Akemi Nakamura4, Carla Damaris da Silva Lacerda5, Carlos Eurico
dos Santos Fernandes6
1
Mestrando em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Email: andre_nascimento129@hotmail.com
2
Doutorando em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Email: robson.andrade.rodrigues17@hotmail.com
3
Mestrando em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Email: guilherme.seraphim@hotmail.com
4
Graduando em Biologia Bacharelado do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Email: vivinaka6@gmail.com
5
Graduando em Biologia Bacharelado do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Email: carla.d.lacerda@gmail.com
6
Professor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Email: carlos.fernandes@ufms.br

Resumo: O Brasil é o detentor de uma das maiores reservas de água doce do mundo onde são cultivadas
diversas espécies nativas. Devido a esse crescimento, a piscicultura tornou-se uma importante atividade
econômica no país. Com o desenvolvimento de cultivos em sistemas intensivos, fez-se necessária
administrar pesticidas para combater infestações parasitárias. No Brasil, não existem regulamentações
para uso de inseticidas no tratamento de peixes cultivados. Por esta razão, é comum o uso de pesticidas
agrícolas nas pisciculturas em geral, entretanto, estes não fornecem especificações técnicas para uso na
aquicultura. Há necessidade de pesquisas em peixes de água doce sobre a toxicidade de vários inseticidas
disponíveis no mercado, especialmente do diflubenzuron. O objetivo dessa revisão é abordar alguns
aspectos sobre biomarcadores e toxicidade visando possíveis efeitos adversos, além de técnicas e
tratamentos sustentáveis que garantam a produtividade dos sistemas sem causar impactos ao meio
ambiente.

Palavras - chave: Agentes tóxicos, pesticidas, sistemas intensivos

EFFECTS OF TREATMENT WITH DIFLUBENZURON IN PRODUCTION FISH

Abstract: The Brazil holde one of the largest reserves of freshwater in the world. Several native species
are reared, in farms as a important economic activity to the country. Pesticide administration is a common
practice into intensive systems against to parasitic infestation. Diflubenzuron (DFB; 1-(4-chlorophenyl)-
3-(2.6-difluorobenzoyl) urea (diflubenzuron)) is a chlorinated diphenyl compound used as an insecticide.
It is derived from urea and classified as an insect growth regulator, preventing the formation of chitin, the
main constituent of exoskeletons of arthropods. In Brazil, there are no specific regulation to manegment
and application of insecticides in fish farms. In general, there not knowledge rules and technics
specifications for use in aquaculture. Therefore, necessary new investigations on the toxicity of some
insecticides, especially the DFB in freshwater fish. The possible adverse effects may generate
modifications in the aquatic environment and affect the productivity of systems..

Keywords: Toxic agents, pesticides, intensive systems

INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta características desejáveis para a produção piscícola, devido a vasta extensão de
áreas inundadas, clima predominantemente tropical e pela diversidade de espécies nativas em suas bacias,
além de ser um notório produtor de grãos e exportador mundial de carnes.

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Mesmo com tantas vantagens, a piscicultura no Brasil não é destaque, sendo que em 2010 a
produção brasileira de peixes representou apenas 0,75% da produção mundial. Segundo dados do
Ministério da Pesca e Aquicultura, a produção de peixes cultivados entre 2010 e 2011 teve um aumentou
significativo de 38%, apresentando a maior taxa de crescimento entre os produtos de origem animal
(Brasil, 2013).
Devido a esse crescimento expressivo na produção, a piscicultura também vem apresentando
problemas com parasitoses, que podem causar desde lesões na carcaça e alterações no metabolismo, até
aumento dos índices de mortalidade. Nas últimas décadas, têm aumentado consideravelmente os estudos
relacionados à parasitos de peixes comerciais (Luque, 2004).
A aplicação de produtos químicos é a primeira estratégia para o combate de parasitos, e o pesticida
Dimilin® (diflubenzuron – DFB) é utilizado frequentemente nas pisciculturas devido sua eficácia no
controle de crustáceos ectoparasitos como a Lernaea cyprinacea e Dolops carvalhoi (Maduenho; Mendes
& Martinez, 2007). O uso indiscrimado do pesticida agrícola pelas pisciculturas surge como um potencial
risco de contaminação ambiental para os organismos aquáticos, podendo causar intoxicação em espécies
próximas à estação (Souza et al., 2011; Guimarães, Assis & Boeger, 2007).
A contaminação da água por pesticidas agrícolas é uma ameaça potencial para a produção e
contaminação do meio ambiente. No entanto, contaminação com pesticidas em concentrações não letais
pode passar despercebida exceto quando ocorre perda de produtividade (Kreutz et al., 2008).
No Brasil, não existem regulamentações para uso de inseticidas no tratamento de peixes
cultivados. Por esta razão, é comum o uso de pesticidas agrícolas nas pisciculturas em geral, entretanto,
estes não fornecem especificações técnicas do fabricante para uso na aquicultura. Neste contexto, é
comum a utilização do diflubenzuron em banhos de 24 horas em única aplicação, sendo que sua eficácia é
obtida por meio de duas aplicações num período de 28 dias de tratamento. Essas substâncias usadas
indiscriminadamente no tratamento de doenças de peixes tornam-se um risco para o ambiente e
consequentemente para o homem (Mabília; Souza & Oberst, 2008).

DESENVOLVIMENTO

Agentes tóxicos
O diflubenzuron (DFB; 1-(4-chlorophenyl)-3-(2,6-difluorobenzoyl) ureia (diflubenzuron)) é um
composto difenil clorado usado como inseticida. É derivado da ureia e classificado como regulador de
crescimento dos insetos impedindo a formação da quitina, principal constituinte do exoesqueleto dos
artrópodes. Esse grupo, conhecido pela sigla RC (reguladores de crescimento), surgiu na década de 1970,
para uso na agricultura por ser mais específico e menos tóxico para mamíferos (Mulla & Darwazeth,
1979).
Durante as atividades diárias de uma piscicultura são produzidos diversos efluentes por processos
naturais, enriquecimento de nutrientes, ração não consumidas, além de periodicamente lançar resíduos de
produtos químicos, os quais são utilizados na desinfecção, controle de parasitos e predadores, tratamentos
de doenças, hormônios para induzir a reprodução e a reversão sexual, anestésicos para transporte, dentre
outros (Eler & Millani, 2007). Quanto ao tratamento de certas parasitoses, é necessário o emprego de
produtos altamente tóxicos, que podem causar efeitos adversos nos hospedeiros. Uma alternativa seria a
remoção manual do parasito, porém esse tipo de tratamento se revela menos eficaz e mais agressivo em
comparação ao tratamento químico (Stone et al. 2000; Roberts et al., 2004).
O uso indiscrimado de pesticidas agrícolas pelas pisciculturas apresenta alto potencial de
contaminação ambiental e para os organismos aquáticos, podendo causar intoxicações em espécies
próximas à estação (Souza et al., 2011; Guimarães, Assis & Boeger, 2007). A resposta sobre os efeitos
causados pelos agentes tóxicos está relacionada à sua concentração e ao tempo de exposição. Por meio de
testes toxicológicos é possível indicar a capacidade do peixe de manter suas funções normais ou
saudáveis durante ou após exposições a tratamentos químicos (Lappivara & Oikari, 1999).
Os efeitos desses produtos sobre a fisiologia dos peixes, o meio ambiente e a saúde da população
ainda não estão totalmente esclarecidos (Mabília & Souza, 2006).

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Biomarcadores
Os peixes são importantes bioindicadores de ambientes de estresse ou mudanças antropogênicas
que podem afetar as populações aquáticas, especialmente por serem susceptíveis aos efeitos de diversas
mudanças ambientais (Lemos et al., 2007).
Biomarcadores são definidos como mensurações e respostas biológicas, individuais ou
populacionais, aos produtos químicos ou poluentes ambientais. As respostas dos biomarcadores podem
ser no nível molecular, celular ou orgânico. Os biomarcadores são importantes em estudos toxicológicos
por apresentarem medições dos efeitos relacionados com a presença ou a níveis específicos de poluentes
nos organismos, fornecendo um meio de interpretar o grau de contaminação em termos biológicos
(Walker et al, 1996).
Os biomarcadores podem ser usados para avaliar a exposição e a quantidade absorvida; avaliar os
efeitos das substancias químicas, bem como a suscetibilidade individual (Tabela 1). A utilização destes
biomarcadores pode ter como finalidade elucidar a relação causa-efeito e dose-efeito, o uso na avaliação
de risco fornece uma ligação crítica entre a exposição à substancia química, dose interna e prejuízo à
saúde (Amorim, 2003).

Tabela 1. Classificação e definição das três classes de biomarcadores


Tipos de biomarcadores Definições
Exposição Estima a dose interna ou biodisponibilidade de um xenobiótico particular
em um organismo exposto. Representado por uma resposta ao estresse
gerado pela exposição a algum poluente.
Efeitos Caracterizado por um estresse que pode ser reversível logo que o estressor
cessa sua atuação. Não são específicos e não fornecem informações sobre
a natureza de seus estressores.
Suscetibilidade Indicadores que causam variações de respostas ao longo do tempo e entre
exposição e efeito.
Adaptado de Nascimento et al. (2006).

É de grande importância integrar os biomarcadores na avaliação dos potenciais perigos e riscos


devido ao uso de poluentes tóxicos ambientais. A resposta pode ser considerada efeito biológico ou
bioquímico após certo período de exposição ao produto, o que os tornam uteis na indicação dos efeitos
causados pela exposição (Vujayavel & Balasubramanian, 2006).
Estudos sobre variáveis bioquímicas como atividades das enzimas antioxidantes; dados
hematológicos, hematócrito, hemoglobina e contagem de eritrócitos; variáveis fisiológicas e alterações
histológicas em órgãos não alvos, como o fígado, brânquias e rim, podem indicar alterações de ação
tóxica aguda ou crônica. Associação desses métodos de análises pode auxiliar na compreensão mais
profunda sobre os efeitos de determinados compostos químicos, surgindo como ferramentas importantes
para testes de toxicidade e contaminação nos peixes (Lins et al. (2010); Maduenho & Martinez, 2008).

Toxicidade em peixes
Utilizando concentrações de 78 ng/L de DFB na água, o composto aplicado no tratamento não
apresenta efeito sobre o crescimento e as condições hígidas da espécie Gambusia affinis, estimulando as
atividades de enzimas antioxidantes nas fêmeas (Zaidi & Soltani, 2013). Essas concentrações são
normalmente encontradas como resíduos no meio ambiente. Após a coleta de amostras de água de 3
pisciculturas tratadas com 295 ng/L de DFB, Langford et al. (2014) registraram concentrações
suficientemente altas para representar um risco para os organismos aquáticos não alvos. Em outro estudo,
o peixe (Prochilodus lineatus) exposto a concentração de 25 mg. L-1 de DFB demonstrou uma série de
alterações histológicas no fígado, como aumento no volume celular e nuclear, degeneração citoplasmática
e nuclear, e estagnação da bile (Maduenho & Martinez, 2008), de acordo com os resultados, fica claro que
o DFB pode causar transtornos na saúde dos peixes e ao ambiente aquático.
Filés de tilápias-do-nilo (Oreochromis niloticus) apresentam acúmulo de DFB, principio ativo do
Dimilin, quando submetidas à dose de 1,0 g. m-3 do inseticida, excedendo os limites máximos
recomendados para alimentos segundo o Codex Alimentarius (Santos & Vieira, 2007). Luvizotto-Santos
et al. (2009) confirmaram a presença de DFB em filés de tilapias sujeitas a administração de 1 g/m³ de

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DFB, a partir da extração de 0,5 gramas do filé e pela técnica de Cromatografia Líquida de Alta
Eficiência (High Performance Liquide Chromatography, HPLC). O acúmulo desse composto na carcaça
dos peixes pode gerar riscos à saúde humana. Kreutz et al. (2008), utilizando concentrações acima de
1000 mg. L-1, observou mortalidade em todos os alevinos de jundiá (Rhamdia quelen) expostos por um
período de 96 horas. Pelli et al. (2008) ao realizar teste de toxicidade aguda e crônica, com concentrações
até 0,5 mg. L-1, verificaram sobrevivência de 100% dos exemplares testados, porém não realizando
análises histológicas ou hematológicas para verificar possíveis efeitos colaterais ou subletais devido à
exposição ao composto.
É difícil estimar com precisão o impacto do DFB sobre os organismos aquáticos justamente por
existir uma variabilidade de fatores que atuam na determinação da sua meia vida considerando as
particularidades de cada meio ambiente (Mabília & Souza, 2006).
Por não haver estudos suficientes e dados de monitoramento da toxicidade desses tratamentos
químicos, faz-se necessário a criação de normas de qualidade ambientais, devido a ampla utilização
desses compostos e a escassez de conhecimento sobre seus efeitos (Langford et al., 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Testes toxicológicos são importantes, pois permitem avaliar e estimar o potencial


lesivo e o risco ambiental de diferentes substâncias químicas usadas nas pisciculturas
comerciais. Sob este aspecto, é necessário incrementar e consolidar o conhecimento
científico sobre os tratamentos químicos e os possíveis impactos causados no meio
ambiente e nos organismos aquáticos não alvo.

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ZINCO NA NUTRIÇÃO DE NÃO - RUMINANTES

Kelly Cristina Nunes Carvalho1, Natália Ramos Batista1, Charles Kiefer3


1
Doutoranda em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. E-mail: kellynha_nunes@yahoo.com.br
1
Doutoranda em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. E-mail: nath.ramos@hotmail.com
3
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. E-mail: charles.kiefer@ufms.br

Resumo: A diarréia é uma enfermidade comum que acomete principalmente animais pós desmame, os
quais são submetidos a diferentes tipos de estresses. Desencadeada pela ineficiência do processo digestivo
dos leitões jovens, bem como pelo alto desafio sanitário enfrentado pelos animais pós-desmame, a
diarreia pós-desmame torna-se um desafio aos produtores de suínos. A utilização de zinco, na forma de
óxido de zinco, parece ser uma prática aceitável dentro da suinocultura por ser um tratamento eficiente e
alternativo ao uso de antibióticos. Assim, neste trabalho, objetivou- se abordar aspectos relacionados ao
zinco e principalmente ao oxido de zinco como promotor de crescimento para monogástricos.

Palavras-chave: diarreia, óxido de zinco, promotor de crescimento

ZINC NUTRITION OF NON-RUMINANT

Abstract: The diarrhea is common disease that undertake animal after weaning, which are submitted to
different kinds of stress. Caused by ineffectiveness of digestive process of young piglets, as well as high
sanitary challenge that the animals are submitted, the after weaning diarrhea is a challenged to swine
producers. The use zinc, as zinc oxide, is a viable practice in the swine production, because it is an
efficient treatment, and an alternative to antibiotics. Thus, this study aimed to address issues related to
zinc and mainly zinc oxide as a growth promoter for monogastric.

KeyWords: diarrhea, growth promoter, zinc oxide

INTRODUÇÃO

Na suinocultura moderna, o desmame (18 a 21 dias de idade) pode ser considerado o ponto mais
crítico da criação devido alguns fatores que ocorrem durante esse período, tais como: a retirada do leitão
do contato com a mãe, substituição do leite materno por alimentos sólidos, brigas na creche, desafio
sanitário e de manejo e temperatura inadequada (Thompson, 2006). Esses fatores associados ao desmame,
levam a redução da secreção de algumas enzimas o que consequentemente afeta a capacidade digestiva e
absortiva dos nutrientes pelo intestino delgado além de alterações importantes na sua morfologia, que por
consequência pode levar esse alimento mal digerido a ser utilizado como substratos para crescimento de
microrganismos, ocasionando a diarreia pós desmame (Sobestiansky, et al., 1999).
Desta forma a adição de óxido de zinco na dieta de leitões vem sendo bem difundida na
suinocultura, com o intuito de melhorar o desempenho e diminuir a incidência de diarreia no período pós-
desmame. Sua ação antimicrobiana atua principalmente sobre a Escherichia coli, o que impede desde sua
adesão ao epitélio ou até mesmo sua proliferação. Além disso, estudos constataram aumento no consumo
de ração, melhora no ganho de peso e na eficiência alimentar durante as quatro primeiras semanas pós-
desmame com a suplementação de 3.000 ppm de zinco como óxido de zinco (Arantes et al., 2005).
Neste sentido, realizou-se esta revisão com o objetivo de abordar aspectos relacionados ao zinco e
principalmente ao oxido de zinco como promotor de crescimento para monogástricos.

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DESENVOVIMENTO

Zinco
O zinco é um microelemento essencial, que está envolvido na atividade de mais de 300 enzimas
(McCall et al., 2000) as quais se encontram associadas aos processos biológicos dos animais.
Apresenta várias funções catalíticas, estruturais e reguladoras, apesar das baixas concentrações na
maioria dos órgãos. As metaloenzimas dependentes de zinco encontram-se distribuídas em todos os
tecidos do organismo exercendo funções importantes, entre as quais se destacam a síntese e degradação
de carboidratos, lipídios e proteínas. Também é importante no funcionamento adequado do sistema
imunológico, da transcrição e da tradução de polinucleotídeos (Salgueiro, 2000).
O zinco participa de funções importantes no organismo animal, principalmente na formação
esquelética. Nos ossos o zinco exerce funções importantes no crescimento e desenvolvimento, atuando na
diferenciação de condrócitos, osteoblastos e fibroblastos (Brandão Neto, 1995). O Zinco exerce várias
funções enzimáticas, sendo um constituinte da anidrase carbônica. Influencia nos processos de transcrição
e replicação celular, sendo vital para síntese de DNA e na expressão gênica.

Absorção e excreção de zinco


Em pintainhos, a absorção de zinco ocorre tanto no proventrículo como no intestino delgado. Em
suínos a absorção de zinco ocorre principalmente no intestino delgado, sendo transportada para o interior
da membrana celular através de carreadores (Underwood & Suttle, 1999).
Alguns componentes da dieta podem reduzir a absorção de zinco, incluindo fitatos, gorduras
saturadas, fibra, cálcio, fósforo, sódio, potássio, cobre, cádmio e cromo. A utilização de enzimas que
desdobram o fitato em dietas à base de milho e farelo de soja pode reduzir significativamente a
necessidade de suplementação de zinco (Roberson & Edwards, 1994).
O zinco que não é absorvido pelo animal é excretado nas fezes. A maior parte do zinco fecal é
proveniente da dieta que não foi absorvido e, em menor quantidade, zinco de origem endógena que foi
secretado dentro do intestino delgado. Do zinco fecal endógeno, aproximadamente um quarto é
proveniente do suco pancreático e o restante deriva das secreções gastrointestinais, biliares e do ceco
(Underwood & Suttle, 1999).
O grande entrave para utilização do zinco na nutrição animal, principalmente em grandes
quantidades, é o seu enorme potencial poluidor, quando presente em grandes quantidades no solo, sendo
que os suínos excretam grande parte do Zn ingerido através das fezes o que demonstram que a utilização
de água residuária da suinocultura para fertirrigação de solo, leva ao acúmulo de grandes concentrações
de zinco e cobre no solo, podendo elevar a poluição ambiental, principalmente devido à baixa retenção do
óxido de zinco proporcionado por sua reduzida disponibilidade. Estudos demonstram que altas
concentrações no solo, é potencialmente tóxico (Li et al., 2002). A toxidez do Zn em plantas acarreta na
diminuição tanto da produção de matéria seca da parte aérea, quanto da biomassa radicular; necrose da
radícula ao entrar em contato com o solo; morte da plântula e inibição do crescimento vegetal (Li et al.,
2011).

Deficiência e toxidez de zinco


A deficiência de zinco em aves não é severa. Contudo, quando ela é moderada, há redução nas
taxas de crescimento, de eficiência alimentar e retardamento no crescimento. Pode proporcionar ainda
hipogonadismo nos machos com falha na espermatogênese, decréscimo na taxa de eclosão dos ovos e
empenamento deficiente. Em pintinhos há lesões na pele com dermatite nos pés, pernas e ao redor do
bico. A pele dos pintos mostra hiperqueratose e suave afinamento da epiderme (Underwood & Suttle,
1999).
Sua deficiência afeta a produção e secreção de testosterona, insulina e corticóides, que estão
intimamente ligados ao sistema imune. Para suínos; um sinal característico da deficiência de Zn é a
paraqueratose, onde ocorre uma queratinização excessiva da epiderme, com formação de escaras, fissuras,
exsudato e alopecia, acompanhada de uma queda no consumo de ração e consequente redução do
crescimento. Enfim, em todas as espécies a privação é caracterizada pela inapetência, retardo ou cessação
do crescimento, lesões do tegumento e cabelo, lã ou penas, e diminuição da eficiência alimentar. Na
Tabela 1 estão presentes as exigências de zinco para suínos e aves em diferentes categorias.

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Tabela 1. Exigência de zinco para suínos e aves em diferentes categorias


Categoria animal Exigência de Zinco (mg kg-1)
Suínos
Pré- Inicial 123
Inicial 110
Crescimento I- (30 a 50 kg) 88
Crescimento II- (50 a 70 kg) 77
Terminação I- (70 a 100 kg) 66
Terminação II- (100 a 120 kg) 55
Reprodutores 110
Aves
Frangos de corte: Pré-inicial (1 a 7 dias) 81,3
Frangos de corte: Inicial (8 a 21 dias) 71,5
Frangos de corte: Crescimento I- (22 a 33 dias) 65,0
Frangos de corte: Crescimento II- (34 a 42 dias) 48,8
Frangos de corte: Final (43 a 49 dias) 42,3
Aves de reposição (inicial) 71,5
Aves de reposição (cria) 65,0
Postura 72,0
Reprodutores 78,0
Fonte: Rostagno (2011).

Para muitas espécies, níveis acima de 1000 ppm de zinco na dieta são tóxicos. No entanto, os
suínos toleram níveis por volta de 2500-3000 ppm de zinco na dieta por algumas semanas, sem sintomas
de toxidez, que são: redução no consumo, no ganho de peso e na eficiência alimentar. Altos níveis de
zinco na dieta podem resultar em taxas de crescimento reduzida em pintinhos, lesões da moela e do
pâncreas em galinhas poedeiras, e elevada mortalidade em pintos (Fernandes, 2012)
Essa tolerância em níveis mais altos de zinco depende da fonte suplementar de zinco, que
geralmente é o óxido de zinco que tem uma baixa disponibilidade de zinco (Tabela 2). Lima et Al., 1996,
avaliando diferentes marcas de óxido de zinco (3 comerciais e 1 óxido de zinco puro para análise),
concluiu que o óxido de zinco puro, para análise, é mais eficiente no controle da diarréia, e que nos
quatro tratamentos; todas as fontes de óxido de zinco melhoraram o desempenho dos leitões.

Tabela 2. Porcentagem de Zn e biodisponibilidade relativa em diferentes fontes


Elemento Fonte Concentração (%) Biodisponibilidade
Zinco Carbonato de Zn 52 Alta
Zinco Cloreto de Zn 48 Intermediaria
Zinco Sulfato de Zn 22-36 Alta
Zinco Óxido de Zn 46-73 Baixa
Fonte: Mc Dowell (1997).

Óxido de zinco como promotor de crescimento


Atualmente, o uso de altas doses de óxido de zinco (2000 a 3000ppm) na dieta de leitões
comprova a eficácia desta fonte mineral inorgânica na melhora do desempenho de animais. O efeito
positivo no desempenho dos animais pode ser reflexo de uma redução na mortalidade pós-desmame e
diminuição na incidência de diarréia devido a Escherichia coli (Rutz & Lima, 2001).
O uso de 2880mg Zn/kg de ração diminuiu a incidência de diarréia, bem como acelerou a
recuperação dos leitões desafiados com Escherichia coli K88 e F18, inferindo que o óxido de zinco pode
funcionar como um agente antimicrobiano específico. Após o desmame precoce, as mudanças mais
óbvias que ocorrem no trato gastrintestinal dos leitões são a atrofia das vilosidades e hiperplasia das
criptas (Pluske et al., 1997).

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Esta modificação na arquitetura das vilosidades intestinais pode ocasionar diarréia, pois, a
diminuição das vilosidades intestinais e aumento na profundidade das criptas geram um quadro de menos
células absortivas e mais células secretórias, o que leva a uma diminuição do processo de absorção e um
aumento da secreção. Assim, a ração no intestino delgado será pouco absorvida, transformando-se em
substrato para as bactérias patogênicas como a Escherichia coli. Por outro lado, o estímulo de consumo
de ração pós-desmame pode ser um ponto chave na resposta do animal, pois a integridade das vilosidades
intestinais está relacionada com o consumo de ração pós-desmame (Pluske et al., 1996). Utilizando doses
crescentes de zinco na dieta de leitões, Williams et al. (2005) observaram melhora marcante no ganho de
peso dos animais, sugerindo que esta melhora foi primariamente resultado da maior ingestão de ração dos
animais (Tabela 3).
Resultados semelhantes foram encontrados por Hill (2001) (Tabela 4). Desta maneira, a melhora
do desempenho, ocasionada pela inclusão de óxido de zinco na ração, pode estar relacionada com o
aumento da ingestão de alimento, uma vez que este aumento de ração pode minimizar a atrofia das
vilosidades intestinais, inferindo em menor incidência de diarréia.

Tabela 3. Efeito do óxido de zinco como promotor de crescimento, na dieta de leitões, sobre o ganho
diário de peso (GDP), consumo diário de ração (CDR), e eficiência alimentar (EA) de leitões
desmamados aos 18 dias de idade
Óxido de Zinco ppm
0 1000 2000
Fase 1 (0 a 7 dias)
Ganho diário de peso (g) 108 118 150
Consumo diário de ração (g) 234 224 256
Eficiência alimentar (g/kg) 462 523 572
Efeito linear (p<0,01); Efeito linear (p<0,06).
Fonte: Williams et al. (2005).

Tabela 4. Efeito do óxido de zinco como promotor de crescimento, na dieta de leitões, sobre o ganho
diário de peso (GDP), consumo diário de ração (CDR) e eficiência alimentar (EA) de leitões desmamados
aos 21 dias de idade.
Óxido de Zinco ppm
0 500 1000 2000 3000
Fase 1 (0 a 7 dias)
Ganho diário de peso (g) 165 164 179 195 190
Consumo diário de ração (g) 247 237 255 267 254
Eficiência alimentar (g/kg) 668 692 702 730 776
Efeito linear (p<0,01).
Fonte: Hill (2001).

Ao avaliar o efeito de altos níveis de zinco suplementar no desempenho e na mortalidade de


leitões, Bertol & Brito (1998) relataram que a suplementação da dieta com níveis de ate 3000 ppm de
Zinco na forma de óxido de zinco pós-desmame, melhora o desempenho, reduz a incidência de diarreia e
a mortalidade por doença do edema em leitões (Tabelas 5, 6 e 7).

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Tabela 5. Suplementação com zinco no desempenho de leitões após a desmama.


Variáveis Níveis de Zinco (ppm) p2
0 3000
Numero de repetições 10 30
Peso médio inicial (kg) 7,89±0,70 7,91±0,65 0,93
Ganho de peso médio diário(g) 244±103 320±48 0,03
Consumo de ração médio diário (g) 463±97 584±102 0,02
Conversão alimentar 2,12±0,70 1,83±0,20 0,16
Peso médio aos 21 dias (kg) 12,97±2,57 14,58±1,51 0,04
1
N: Número de repetições por tratamento; PMI: peso médio inicial; 2 Nível de significância pelo teste F
Fonte: Adaptado de Bertol & Brito (1998).

Tabela 6. Suplementação com zinco sobre o número de leitões que apresentaram diarreia no período
experimental.
Níveis de zinco N° total de N° de animais sem N° de animais com
(ppm) animais diarreia2 diarreia
0 47 1a 46a
3000 139 55b 84b
1
Valores com letras diferentes na mesma coluna diferem (p<0,001) pelo teste x2, 2Escore 0+1, 3Escore 2+3 por pelo menos 1 dia
Fonte: Bertol & Brito (1998).

Tabela 7. Efeito da suplementação com zinco sobre a mortalidade de leitões de 0 a 21 dias.


Níveis de zinco (ppm) N° total de animais N° de animais mortos
0-21 dias
0 47 12
3000 46 0
1
Níveis de zinco na dieta de 0 a 21 dias
Adaptado de Carvalho (2015).

No experimento realizado por Smith et al (1997) onde foi avaliado os efeitos da inter-relação entre
oxido de zinco e sulfato de cobre no desempenho produtivo de leitões desmamados precocemente.
(Tabela 8). Estes autores concluíram que utilizar 3000 ppm de oxido de zinco melhoram o desempenho de
leitões desmamados aos 12 dias de idade, mas as respostas aditivas para o nível de sulfato de cobre
(250ppm) não foram observadas.

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Tabela 8. Influência do ZnO e CuSO4 sobre o desempenho de leitões


Zn +Cu
Zn 3000 Cu 250
Variável Controle 3000e 250 CV
ppm ppm
ppm
0 a 14 dias
Ganho de peso médio diário (g) 241 263 236 268
Consumo de ração médio diário
281 286 263 291 10,5
(g)
Eficiência alimentar (g/kg) 0,82 0,93 0,88 0,93 10,7
14 a 28 dias
Ganho de peso médio diário (g) 295 418 372 377 12,2
Consumo de ração médio diário
552 627 549 586 8,3
(g)
Eficiência alimentar (g/kg) 0,54 0,66 0,68 0,64 14,8
0 a 28 dias
Ganho de peso médio diário (g) 268 341 304 322 10,9
Consumo de ração médio diário
390 459 404 436 10,2
(g)
Eficiência alimentar (g/kg) 0,65 0,74 0,74 0,74 6,9
a
Foram utilizados dois cento e quarenta leitões desmamados (inicialmente de 4,45 kg) com 9, 10 ou 11 porcos por baia e seis baias
por tratamento; b Zn efeito (P <0,01); c, d, e Zn Cu × interação (P <.01, .08, .05 e, respectivamente).
Fonte: Smith et al. (1997).

Han & Thacker (2010) realizaram um experimento avaliando o efeito de antibióticos, óxido de
zinco e um produto terra rara mineral levedura no desempenho, digestibilidade de nutrientes e parâmetros
de soro em leitões desmamados (Tabela 9). Os pesquisadores concluíram que o desempenho de suínos
alimentados com terras raras minerais levedura foi basicamente igual à dos suínos alimentados dietas
suplementadas com antibióticos ou ZnO indicando que terras raras mineral de levedura pode ser utilizado
com sucesso como um promotor de crescimento em dietas fornecidas a leitões de creche. Os efeitos da
terra rara mineral de levedura pareceu ser mediada através melhorias na digestibilidade dos nutrientes.

Tabela 9. Efeitos de antibióticos, óxido de zinco (ZnO), ou terra rara mineral de levedura sobre o
desempenho de leitões desmamados
1500 ppm 2500 ppm Terra rara mineral
Controle Antibiótico P
Zn O ZnO levedura
Ganho de peso
302 b 353a 352a 369a 359a 0,02
(g/d)
Consumo de
467 518 530 558 501 0,10
ração (g/d)
Conversão
1,55 1,47 1,50 1,52 1,41 0,22
alimentar
1
seis repetições por tratamento com cinco leitões por baia para os dados de desempenho; 2significa na mesma linha com o mesmo ou
nenhum sobrescrito não diferiu (P> 0,05).
Fonte: Han & Thacker (2010).

Kin & Paterson (2004) avaliaram os efeitos da suplementação ZnSO 4 ou ZnO de frangos de corte
sobre o desempenho e perda de nitrogênio na forma de ácido úrico e nitrogênio total a partir de estrume
(Tabela 10). Este estudo indicou que os tratamentos de Zn reduziu significativamente a perda de
nitrogênio na excreta das aves, ZnO poderia ser uma melhor fonte de Zn para evitar perdas de nitrogênio
para a atmosfera, sem qualquer efeito prejudicial sobre desempenho de crescimento.

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Tabela 10. Ganho de peso, consumo de ração, e eficiência alimentar de pintos alimentados com diferentes
níveis de ZnSO4 ou ZnO de d 6 a 18
Ganho de peso Consumo de ração Eficiência alimentar
Tratamento
(g/gaiola) (g/gaiola) (g ganho/g ração)
Controle 511abc 779a 0,66ab
CuSO4- 20 497bc 788a 0,63b
ZnSO4- 500 504abc 766ab 0,66ab
ZnSO4-1000 481c 733bc 0,66ab
ZnSO4-1500 436d 696c 0,63b
ZnO- 500 524ab 804a 0,65ab
ZnO-1000 538a 784a 0,69a
ZnO-1500 511abc 775ab 0,66ab
a-d
Significa dentro de uma coluna com diferentes expoentes diferem significativamente (P <0,05)
Fonte: Kin & Paterson (2004).

Mecanismo de ação do zinco com a Escherichia coli


O Zinco tem um efeito inibidor sobre a Escherichia coli, que é relacionada com a diarréia pós-
desmame. O modo de atuação do Zn na redução da incidência de diarréia e da mortalidade por doença-
do-edema ainda não é bem esclarecido. Especula-se que altos níveis de Zn inibem o crescimento de
microorganismos patogênicos no intestino dos leitões. O efeito inibitório do Zn sobre o crescimento in
vitro da Escherichia coli foi demonstrado por Brito et al. (1993), ao verificarem que diferentes amostras
de Escherichia coli isoladas de animais com diarréia, apresentaram resistência variável aos diferentes
níveis de Zn. No entanto, esses mecanismos de resistência também não são conhecidos. Inicialmente, foi
sugerido que os íons Zn bloqueiam o sistema oxidase da cadeia respiratória da Escherichia coli.
Estes pesquisadores observaram não haver inibição competitiva ao crescimento da E. coli in vitro
quando se associou ZnO, CuSO4 e FeSO4, o que descarta a teoria anterior. Morés et al. (1998),
trabalhando com diferentes marcas comerciais de ZnO na dieta de leitões, observou que a constante
excreção da Escherichia coli, associada com alta concentração de Zn nas fezes e baixa ocorrência de
diarréia, indica que esse mineral não inibe a multiplicação da bactéria no intestino e sugere a existência de
outros mecanismos de ação do Zn na prevenção da diarréia.
Sawai et al (1998) sugeriram que o peróxido de hidrogênio é o fator principal no mecanismo
antibacteriano do pó de óxido de zinco. Visto que, a membrana da célula da bactéria é relativamente
permeável ao peróxido de hidrogênio; e sendo detectado que o peróxido de hidrogênio, gerado pelo pó de
óxido de zinco, penetra na membrana da célula de Escherichia coli, produzindo algum tipo de injúria e
inibindo assim o crescimento das células e/

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de zinco na nutrição de monogástricos é essencial devido as suas diferentes funções


no organismo.
O oxido de zinco é um excelente promotor de crescimento para monogástrico, e em suínos sua
eficiência no combate a incidência de diarreia por Escherichia. coli é comprovada.

LITERATURA CITADA

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MANEJO REPRODUTIVO E LARVICULTURA DE Pseudopladystoma spp

André Luiz do Nascimento Silva1, Guilherme do Nascimento Seraphim², Robson Andrade


Rodrigues³, Jayme Aparecido Povh4
1
Mestrando em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Email: andre_nascimento129@hotmail.com
2
Mestrando em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Email: guilherme.seraphim@hotmail.com
3
Doutorando em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Email: robson.andrade.rodrigues17@hotmail.com
4
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. Email: jayme.povh@ufms.br

Resumo: A produção comercial do surubum-pintado no Brasil tem apresentado grande crescimento nos
últimos anos, esse crescimento evidencia a necessidade de aprimoramentos na reprodução e larvicultura
desta espécie visando viabilizar cada vez mais a exploração da mesma, tendo em vista o alto custo de
produção destes alevinos. Este trabalho tem como objetivo abordar o manejo para obtenção de alevinos
de Pintado (Pseudoplatystoma corruscans) e seus híbridos condicionados a consumir rações comerciais.
Eficiência na etapa reprodutiva e larvicultura permitem alcançar boas taxas de sobrevivência e eficiência
produtiva da criação. A espécie não atinge a maturação final e desova naturalmente em cativeiro,
necessitando assim, o uso de métodos de indução hormonal. Um dos fatores limitantes na fase de
larvicultura e alevinocultura é a taxa de sobrevivência das formas jovens. O aumento da demanda do
mercado por alevinos adaptados a consumir alimentos secos e a busca por técnicas de indução e
condicionamento alimentar impulsionou a efetivação desde trabalho.

Palavras - chave: Surubim, indução hormonal, alimentação.

REPRODUTIVE MANAGEMENT AND LARVICULTURE OF Pseudoplatystoma spp

Abstract: The commercial production of spotted sorubim in Brazil has shown great growth in recent
years, this growth highlights the need for improvements in reproduction and larviculture of this species in
order to facilitate the exploitation of the same, considering the high cost of production of these
fingerlings. This work aims to approach the management to obtaining fry of spotted sorubim
(Pseudoplatystoma corruscans) and their hybrids conditioned to consume commercial feed. Efficiency in
the reproductive stage and larviculture allow you to achieve good survival rates and production efficiency
of creation. The species does not reach the final maturation and spawning naturally in captivity, requiring
the use of hormonal induction methods. One of the limiting factors in the larviculture and fingerlings
culture is the survival rate of juveniles. The increased market demand by fingerlings adapted to consume
dry foods and the search for induction techniques and conditioning feed boosted the execution from work.

Keywords: Sorubim, hormonal induction, feeding

INTRODUÇÃO

A piscicultura brasileira é um dos setores que mais crescem no país, essa expansão esta bastante
atrelada a diversas características naturais presentes, como uma ampla extensão do litoral, milhões de
hectares de água represada, clima predominantemente tropical, concentração de água doce continental e
diversas bacias contendo enormes variedades de espécies nativas com potencial produtivo (Oliveira,
2009).
Segundo os dados disponibilizados pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, em 2012, o consumo
per capita no Brasil no ano de 2011 foi de 9,75 Kg por habitante/ano. Mesmo com esse potencial de
crescimento o Brasil ainda não conseguiu destaque na produção mundial de pescado, em 2010 a produção
brasileira de peixes representou apenas 0,75% da produção mundial de pescado, sendo que em 2011 o

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Brasil ocupou a 19º posição no ranking de produção total de pescado. Porém esse cenário pode sofrer
mudanças, já que a produção de peixes cultivados entre 2010 e 2011 teve um aumento significativo de
38%, apresentando a maior taxa de crescimento entre os produtos de origem animal (Brasil, 2013).
O surubim é uma das espécies carnívora que apresenta alto valor econômico e características
zootécnicas desejáveis dentre os peixes sul-americanos de água doce e vem despertando o interesse dos
consumidores e dos aquicultores (Miranda & Ribeiro, 1997).
Para permitir a comercialização de pescado no Brasil, é necessário técnicas para viabilizar e
disponibilizar formas jovens para os criadores. Uma técnica convencional muito utilizada é a indução
hormonal, bastante conhecida como “hipofisação”. Segundo Zaniboni-Filho & Weingartner (2007), essa
técnica continua sendo uma das alternativas mais utilizadas para induzir a reprodução de peixes
migradores em todo mundo. Como na piscicultura os peixes não migram, e muitas vezes as condições
ambientais não são favoráveis a reprodução, é necessário o emprego da indução para que ocorra
maturação final dos gametas nessas espécies.
Existem vários entraves na criação de peixes carnívoros, uma das principais dificuldades que um
criador tem que lidar é a necessidade de se realizar um condicionamento alimentar, por não aceitarem
voluntariamente rações secas. Esses animais se alimentam de insetos e peixes menores quando estão no
ambiente natural, diferente dos onívoros, consumir alimentos mais fibrosos (ingredientes de origem
vegetal presentes nas rações comerciais) não é habitual nessas espécies carnívoras, além do alimento não
atrair visualmente através da movimentação. Esse tipo de treino alimentar é realizado no período de
alevinagem visando adaptar o animal a substituir o alimento natural pela ração comercial.
O habito carnívoro e noturno podem ser consideradas um dos motivos para o alto custo de
produção de surubins. A necessidade de alimentá-los no período noturno pode encarecer a produção na
fase inicial, e para minimizar essa limitação da espécie na fase de alevinocultura são realizados dois tipos
de treinamentos, inicialmente os alevinos são treinados a consumir alimentos artificiais e posteriormente,
são adaptados a se alimentarem durante o dia.
Objetivou-se nesta revisão destacar os processos e aspectos importantes aplicados na produção de
juvenis de pintado (Pseudoplatystoma corruscans) adaptados ao consumo de rações comerciais.

DESENVOLVIMENTO

Pintado
O Pintado (Pseudoplatystoma corruscans) é um peixe muito consumido e muito apreciado na
culinária brasileira. No Brasil, essa espécie pode ser encontrada naturalmente nos rios da Bacia da Prata
(que se estende pelo Rio Grande, Paraná e Tietê), Rios Araguaia e a Bacia do Rio São Francisco.
Comumente utilizado no consumo de carne e pesca esportiva, seu rendimento de carcaça pode chegar à
50% e apresenta uma carne de excelente sabor e de fácil processamento.
Entre os peixes carnívoros comercializados, os animais do gênero Pseudoplatystoma são muito
utilizados pelos criadores (Figura 1). Porém algumas espécies apresentam alta taxa de canibalismo na fase
inicial quando manejados de forma
indevida.

Figura 1. Surubim (Pseudoplatystoma sp.). Fonte: www.pescamadora.com.br

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Os surubins apresentam boas características zootécnicas para sua exploração na aquicultura


brasileira. Todavia, necessita de treinamento alimentar para garantir a viabilidade e sucesso na criação da
espécie, através desse manejo, é possível diminuir os custos com insumos.
Outra característica importante dos animais do gênero Pseudoplatystoma spp. é a necessidade da
migração para reprodução. Por serem reofílicos, não são capazes de se reproduzir naturalmente em
viveiros. Atingem maturidade sexual em três anos com a época de reprodução de novembro até fevereiro.
Nessas espécies é possível realizar a reprodução em viveiros através de indução hormonal, esse
procedimento permite que ocorra a maturação final e desova sem a necessidade da migração natural.

Indução hormonal
A reprodução em peixes sofre influência de fatores bióticos e abióticos, ocorrendo ao longo de seu
desenvolvimento. Alguns fatores abióticos como temperatura e fotoperíodo já vem sendo estudados com
o objetivo de aumentar a eficiência reprodutiva dos peixes e o sucesso na criação.
Segundo Zaniboni-Filho & Weingartner (2007), por meio de estudos endocrinológicos, relatam
que pesquisadores conseguiram encontrar uma alternativa para a reprodução de peixes reofílicos em
cativeiros, descobriram que é possível acelerar a gametogênese dos peixes por meio de doses adequadas
de hormônios.
A hipofisação é uma técnica que tem dado bons resultados na maturação e extrusão das células
reprodutoras de peixes adultos (Lopes et al., 2006). Consiste na aplicação de extrato bruto da hipófise de
um peixe doador (geralmente de carpas) em um peixe receptor, sendo mais utilizada a aplicação de duas
doses nas fêmeas e uma nos machos, utilizando esta técnica, permite que os piscicultores obtenham 70%
dos ovos produzidos em condições controladas cheguem à fase de alevinos, uma diferença expressiva
comparada à reprodução em ambiente natural, atingindo uma taxa inferior a 1% (Woynarovich &
Horváth, 1983).
Segundo Abrunhosa (2011), as aplicações nas fêmeas são separadas em duas, sendo que na
primeira dose aplica-se 10% (0,55 mg/Kg), e na segunda 90% do conteúdo preparado (4,95 mg/Kg). Nos
machos a dose hormonal é menor, aplica-se 2,5 mg/Kg, aproximadamente metade da dose trabalhada para
as fêmeas. Como a dose é única nos machos, sua aplicação é sincronizada com a segunda dose das
fêmeas, após 12 horas da primeira aplicação de hormônios nas fêmeas.
Segundo Fantini & Campos (2011), os hormônios geralmente utilizados para os indução
reprodutiva dos peixes reofílicos de interesse comercial são o extrato hipofisário da carpa comum, o HCG
(gonadotrofina coriônica humana) e análogos de hormônios liberadores de gonadotrofinas (GnRH), sendo
os últimos muitas vezes associados a bloqueadores de receptores da dopamina, como é o exemplo do
hormônio comercial Ovopel®. Segundo Abrunhosa (2011), a dopamina é um neuro-hormônio inibidor da
reprodução, utilizar substâncias que bloqueiam a produção desse hormônio promove a iniciação de
estímulos da reprodução.
Utilizar apenas a indução hormonal não garante uma eficiência reprodutiva. A nutrição das
matrizes também é um manejo importante, pois a fêmea é responsável pelo acumulo de vitelo nos
ovócitos.
A próxima etapa da reprodução de pintados e seus híbridos em cativeiros é a extrusão de gametas
(Figura 2). Após o tempo para liberação (estabelecida a partir das horas-grau da espécie) os animais são
retirados dos tanques para a liberação e coleta de óvulos e sêmen. Os óvulos são recolhidos em um
recipiente limpo e seco, para evitar a hidratação dos ovócitos e consequente fechamento da micrópila
(região por onde o espermatozoide entra), reduzindo sensivelmente a taxa de fertilização. Para a
hidratação o volume de água dever ser 10 vezes maior que o volume do ovócito (Streit-Junior et al.,
2012).

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Figura 2. Extrusão de gametas do macho e fêmea de Surubim. Fonte: Cristiana Maciel.

A fertilização é feita in vitro, importante garantir que os ovócitos não entrem em contato com água antes
da homogeneização dos óvulos com o sêmen recolhidos. Os ovócitos extrusados são depositados em um
recipiente colocando-se o sêmen sobre os mesmos e misturando suavemente, todo processo é efetuado
sem a adição de água. Após a homogeneização da massa de ovócitos e sêmen, adiciona-se a água, o que
promove a ativação dos espermatozoides e consequente fertilização dos óvulos (Crepaldi et al., 2006).

Larvicultura
Um dos maiores problemas enfrentados na criação de peixes piscívoros ocorre na fase de
larvicultura. Isso pode ser explicado pela dificuldade de alcançar taxas de sobrevivência satisfatórias. A
escolha da nutrição e um sistema adequado são essenciais para garantir boas taxas de sobrevivência e de
desenvolvimento das larvas. Esse é um dos períodos mais críticos da produção, pois apresenta elevadas
taxas de mortalidade, provocando um aumentou na busca por novas técnicas de manejos.
Segundo Luz (2007), a alimentação nessa fase atua na resistência das formas jovens ao estresse e
pode afetar a indústria da aquicultura (Tabela 1). O mesmo autor comparou em seu experimento o uso de
alimento artificial em peixes neotropicais, entre eles o pintado (Pseuplatystoma corruscans), e observou
melhores taxas de resistência ao estresse e crescimento nos animais com alimento vivo (Artemia sp ou
peixe forrageiro) presente na dieta.
Na larvicultura de água doce, um dos inconvenientes é o fato de os náuplios de artemia
apresentarem tempo de vida limitado nesse ambiente (Jomori et al., 2013). O tempo de vida das artemias
é limitado, pois são animais marinhos e apresentam melhor desempenho em águas salinas.
Em um experimento que buscava avaliar o efeito de água levemente salinizada sobre a larvicultura
intensiva de peixes carnívoros, Jomori et al. (2013) verificaram que a quantidade de alimento fornecido
interage com a concentração salina da água, resultando no aumento do aproveito da artemia. Existem
pesquisas com outros microcrustáceos para alimentação de peixes carnívoros, porém conforme estudado
por Carneiro et al. (2004) a inclusão de branchoneta (Dendocephalus brasiliensis) na dieta de alevinos de
tucunaré (peixe carnívoro) não é atrativo e não favorece o condicionamento alimentar para o consumo de
ração seca.
No período de larvicultura, o criador pode perder cerca de 80% do lote pelo canibalismo, nessa
situação a separação por tamanho pode ser feita a cada 10 dias.

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Tabela 1. Médias das taxas de sobrevivência, canibalismo e mortalidade de larvas piscívoras, sob
diferentes dietas e fotoperíodos.
Alimento Sobrevivência (%) Canibalismo (%) Mortalidade (%)
Larva forrageira 93 3,3 3,3
Artemia sp. 91 3,3 5,6
Ração 87 7,8 4,4
Farinha de peixe 84 10 5,6
Fotoperíodos
0:24 66,7 13,3 20
14:10 92,3 3,3 3,3
24:0 91,1 6,7 2,2
Adaptado (Schutz et al. 2008.)

Com base no consumo de presas e no crescimento, uma estratégia adequada para a alimentação
inicial do pintado é a manutenção dos animais em um ambiente privado de luz, pelo menos durante o
período larval. No ambiente escuro, a maior ingestão de presas e a dispersão dos animais resultam em
crescimento mais homogêneo e possivelmente tenham reflexos na redução do canibalismo (Cestarolli,
2005).

Alevinocultura
Os alevinos de pintado não aceitam rações secas, pois são animais carnívoros e por sua natureza
busca uma dieta a base de proteína animal. Nesse cenário, onde os alevinos não consomem rações
espontaneamente, os criadores se deparam com a necessidade de realizar um condicionamento alimentar,
buscando adaptação dos mesmos a um novo manejo nutricional. Para realizar esses treinos são utilizados
variedades de alimentos úmidos, porém esse tipo de dieta deve ter cuidado com o período a ser manejado,
pois há uma dificuldade no armazenamento e como geralmente são de alto valor, a perda desse alimento
por deterioração causa o aumento do custo de produção.
A técnica de condicionamento é baseada na transição alimentar realizada na produção. Com a
constante preocupação em diminuir os custos de produção e a nova exigência do mercado em
comercializar alevinos treinados a aceitar alimentos artificiais, essa técnica surge como uma excelente
alternativa para tornar essas atividades aquícolas mais viáveis.
Existe duas maneiras de se aplicar essa transição alimentar nas criações, sendo a Transição
Gradativa das Rações (TGR) e a Transição Gradativa dos Ingredientes da Ração (TGIR). O TGR consiste
na substituição gradativa do alimento natural ou da ração úmida pela ração comercial (artificial). No
geral, as rações úmidas são relativamente mais caras, adaptá-los a rações secas com menor quantidade de
proteína animal garante menores gastos com insumos. No TGIR utiliza na dieta rações comerciais
contendo em parte de sua composição alimentos naturais (Proteína animal), os níveis de proteína animal
vão decrescendo gradualmente nas rações.
Utilizando a transição gradual de ingredientes nas rações, a textura e o sabor das rações são
alterados progressivamente e os ingredientes misturados impedem a seletividade. Na comercialização de
formas jovens os preços de venda para alevinos de peixes carnívoros variam, podendo ser comercializada
por R$ 2,50 até R$ 10,00. Apesar das dificuldades na aquisição de juvenis condicionados, a criação de
espécies carnívoras, como o pintado, é uma boa opção para os produtores (Oliveira, 2003).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção de peixes carnívoros não pode ser encarada como um processo comum na criação
aquícola, o peixe não atinge a maturação final e desova naturalmente em cativeiro, necessitando assim, o
uso de métodos de indução hormonal. A técnica mais difundida é a hipofisação, porém o custo elevado do
extrato de hipófise de carpa comercial promove a busca por diferentes hormônios e novas alternativas de
indução, como extrato de hipófise de outras espécies. Densidade de estocagem, manejo nutricional e
operacional adequados são importantes para garantir taxas aceitáveis de mortalidades e canibalismo nas
fases de larvicultura e alevinocultura. Mesmo utilizando híbridos, o condicionamento alimentar continua
sendo uma etapa fundamental, apesar do tempo em que os animais permanecem no laboratório poder
encarecer a atividade. As estratégias alimentares variam conforme a piscicultura.

LITERATURA CITADA

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LOPES, J. P.; SOUZA, J. G.; ROCHA, M. C. F. Nova metodologia de hipofisectomia em curimatã
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EXIGÊNCIA DE FÓSFORO PARA FRANGOS DE CORTE

Henrique Barbosa de Freitas¹, Karina Márcia Ribeiro de Souza³, Charles Kiefer³, Natália
Ramos Batista², Thiago Rodrigues da Silva¹, Luanna Lopes Paiva¹, Patricia Rodrigues
Berno¹, Arnaldo Vitorino Ofico¹

¹Mestrando em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal


de Mato Grosso do Sul. Email: henrique_barbosa_7@yahoo.com.br
²Doutorando em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. Email: henrique_barbosa_7@yahoo.com.br
³Professor(a) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Email: karina.souza@ufms.br

Resumo: Realizou-se a presente revisão com o objetivo de abordar sobre a necessidade de fósforo para
frangos de corte e os fatores que influenciam na exigência deste mineral para as aves, a fim de manter um
desempenho satisfatório sem causar prejuízos ambientais. O desenvolvimento de novas tecnologias na
cadeia avícola têm gerado índices satisfatórios de produtividade no setor como um todo. Vários pontos
são importantes para o sucesso da avicultura, dentre eles a nutrição é considerada um dos fatores
determinantes no sucesso da criação de frangos de corte. Os minerais exercem várias funções biológicas
no organismo animal, por serem considerados nutrientes fundamentais e participarem de diversas funções
do metabolismo animal. Além de ser constituinte fundamental do osso, o fósforo participa do
metabolismo energético, de carboidratos, de aminoácidos e de gorduras. No entanto, dentre todos os
minerais a suplementação de fósforo por fontes inorgânica nas dietas dos frangos de corte é o que mais
onera seu custo final, portanto deve-se atentar da quantidade adequada da fonte a ser utilizada, a fim de
atender as exigências de fósforo das aves, contribuindo assim para um desempenho satisfatório do lote, e
consequentemente, diminuir os custos de produção da criação. Além da questão produtiva, é necessário
ser levado em consideração também o poder poluente do fósforo, pois quando em altas concentrações nas
excretas pode causar diversos problemas ambientais.

Palavras-chave: característica óssea, desempenho, mineral

PHOSPHOROUS REQUIREMENT FOR BROILERS

Abstract: This review was made with the aim to approach the necessity of phosphorus for broilers and
the factors that influence the demand for this mineral for birds in order to maintain a satisfactory
performance without causing environmental damage. The development of new technologies in poultry
production have generated satisfactory levels of productivity in all sector. Several points are taken into
consideration for the success of the poultry industry, such as nutrition which is considered one of the
decisive factors in the successful creation of broilers. Mineral exert various biological functions in the
animal body, because they are considered essential nutrients and participate in various functions of animal
metabolism. In addition to being essential constituent of the bone, phosphorus participate in energy
metabolism, carbohydrate, amino acid and fat. However, within the minerals supplementation of
inorganic phosphorus sources in the diets of broilers is more onerous than the final cost, therefore, the
proper amount and the source that is being used should be taking in consideration in order to meet the
requirements of phosphorus for birds and to contribute to a satisfactory performance of the batch and
consequently reduce the production costs. Beyond the production concern, also it is necessary to be taken
into consideration the pollution of phosphorus, because when in high concentrations in feces can cause
many environmental problems.

Key- words: bone characteristics, performance, mineral

INTRODUÇÃO

O setor avícola evoluiu consideravelmente nos últimos anos e a partir da década de 70 conquistou
significativa participação na produção de proteína de origem animal, tornando-se assim um setor de

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grande importância sócio-econômica para o país. A avicultura brasileira destaca-se entre as três maiores
do mundo, devido à alta tecnificação e produtividade, como resultados dos avanços na área de manejo,
melhoramento genético, nutrição e sanidade (Oliveira et al., 2006). Dessa maneira, observou-se que a
produção brasileira de carne de frango em 2012 totalizou 12,645 milhões de toneladas, no qual 31% do
total produzido foram destinados ao mercado externo (UBABEF, 2013), mostrando assim a importância
do setor na economia mundial.
O desenvolvimento de novas tecnologias em cada elo da cadeia avícola tem gerado índices
satisfatórios de produtividade no setor como um todo. Vários pontos são levados em consideração para o
sucesso da avicultura, dentre eles a nutrição é considerada um dos fatores determinantes no sucesso da
criação de frangos de corte, principalmente no aspecto quanto ao atendimento das exigências nutricionais
das aves, podendo dessa maneira contribuir para a redução de custos no processo de produção.
Porém em frangos de corte criados intensivamente um dos componentes que mais onera o custo é
a ração, onde esse valor pode chegar até 70% do total, sendo as fontes de proteína e energia com valores
mais elevados, seguidos da suplementação de fósforo, representando de 2 a 3% do valor total (Schoulten
et al., 2003).
Os minerais exercem funções biológicas importantes no organismo animal, por serem
considerados nutrientes fundamentais e participarem de diversas funções do metabolismo animal,
compondo estrutura de biomoléculas, interferindo no crescimento e na manutenção dos tecidos,
participando como co-fatores enzimáticos, ativando ações hormonais, regulando a pressão osmótica e o
equilíbrio acido-básico, tornando assim, nutrientes de grande influência na produção avícola, acarretando
acréscimos ou decréscimos na produtividade do sistema (Sakomura et al., 2014).
Dentre os minerais o fósforo é um dos macrominerais considerado essencial para as aves, podendo
ser encontrado em todas as células do corpo, estando envolvido em vários processos metabólicos. Além
de ser constituinte fundamental do osso, o fósforo participa do metabolismo energético, de carboidratos,
de aminoácidos e de gorduras, da química normal do sangue e do metabolismo do esqueleto (Andriguetto
& Perly, 2005). Este mineral também está relacionado com a produção e qualidade dos ovos e dentre os
minerais utilizados nas formulações de rações para aves é o que mais onera o seu custo final, por isso
deve-se atentar da quantidade adequada da fonte a ser utilizada, a fim de atender as exigências de fósforo
das aves, contribuindo para um desempenho satisfatório dos frangos de corte.
Atualmente o fósforo vem sendo objetivo de diversas pesquisas, devido não somente ao aspecto
econômico, mas também a sua importância ambiental. As aves são altamente tolerantes às variações de
fósforo nas dietas, possuindo condições de excretá-lo em elevada quantidade no meio ambiente, o que
gera preocupação quanto à questão ambiental como um todo, sendo que quando em excesso nas excretas,
poderá causar problemas como a contaminação do solo e até alguns casos dos lençóis freáticos (Oliveira
& Almeida, 2004).
Portanto, realizou-se esta revisão com o objetivo de abordar sobre a necessidade de fósforo para
frangos de corte e os fatores que influenciam na exigência deste mineral para as aves, a fim de manter um
desempenho satisfatório sem causar prejuízos ambientais.

DESENVOLVIMENTO

Fósforo em dietas de frangos de corte


O fósforo é um importante mineral estrutural e está presente nos componentes fosfatados das
membranas celulares, estrutura óssea, DNA, RNA, ATP, além de participar de importantes processos
fisiológicos e enzimáticos (Santos et al., 2011). Além disso, é o segundo componente mineral mais
abundante no corpo, o qual 80% do seu total está presente no sistema esquelético, sendo o restante
distribuído entre fluídos e outros tecidos (Waldroup, 1996).
É considerado um componente essencial em vários mecanismos nas aves, sendo eles: formação da
estrutura óssea, formação do tecido muscular e dos ovos, componentes de ácidos nucleicos, no qual é
fundamental no controle do metabolismo celular, auxilia na manutenção osmótica e no balanço ácido-
básico, necessário para formação dos fosfolipídeos, está envolvido na transferência de energia como
componente da molécula de trifosfato de adenosina (ATP), é ativador de muitos sistemas enzimáticos
(Underwood, 1981), auxilia no transporte de gorduras, síntese de aminoácidos e proteínas, e ainda,
participa no controle do apetite e na eficiência alimentar (Runho et al., 2001).

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O fósforo é depositado na matriz orgânica do osso sob a forma de hidroxiapatita, estando


envolvido na formação de colágeno e mineralização óssea, aumentando a resistência tênsil do osso e
acelerando a cicatrização de fraturas (Hemme et al., 2005).
As aves podem ingerir fósforo de várias maneiras, sendo elas na forma inorgânica como mono, di
ou trifosfato, ou na forma orgânica como fitatos, fosfolipídeos ou fosfoproteínas, no qual sua absorção
ocorre no intestino delgado sob a forma de ortofosfato, sendo que a taxa de absorção depende de vários
fatores reguladores como o pH intestinal, nível de fósforo na dieta, relação cálcio:fósforo, vitamina D e
outros minerais (Hays & Swenson, 1988).
O não atendimento da exigência de fósforo pode resultar, durante o período de produção,
diminuição do desempenho zootécnico das aves, elevação nos índices de mortalidade, queda na produção
de ovos, piora na eficiência de utilização dos alimentos e mineralização óssea inadequada (NRC, 1994),
levando ao desenvolvimento anormal dos ossos e apresentando anomalias como o raquitismo, a
osteoporose, osteomalácia e osteodistrofia, discondroplasia da tíbia ou mesmo desmineralização óssea
(Qian et al., 1996).
Por outro lado, se os níveis de fósforos forem supridos pela dieta em todas as fases de criação, o
crescimento das aves será satisfatório, dessa forma, o nível de fósforo disponível nas dietas será suficiente
para garantir, além do ótimo desempenho, boa formação e resistência óssea (Laurentiz et al., 2009).

Metabolismo do fósforo
O fósforo deve estar solubilizado para ser absorvido pelo corpo das aves, sendo que animais mais
velhos absorvem melhor o fósforo do que animais mais novos (Underwood & Suttle, 1999). O fosfato
inorgânico encontra-se na circulação como monohidrogeniofosfato, que é monovalente. Os mecanismos
envolvidos no processo de absorção de fósforo são poucos conhecidos, no entanto, a absorção parece
ocorrer ao longo de todo o intestino delgado, sendo o duodeno o principal local de absorção,
provavelmente devido ao pH, capaz de aumentar a solubilidade, consequentemente, levando a absorção
do fósforo (Macari et al., 2002).
A absorção de fósforo parece envolver um transporte ativo com gasto de energia, sendo este
processo estimulado pela presença de vitamina D, no qual se torna dependente do sódio (transporte ativo
secundário). Há interferência da 1,25-dihidroxicolecalciferol e do hormônio paratireoideano (PTH) sobre
a absorção de fósforo, sendo que a vitamina D está intimamente relacionada com o paratormônio, que
participa na regulação do nível sanguíneo do cálcio e do metabolismo de fosfatos. O aumento da absorção
e retenção de fósforo, causados pela vitamina D é considerado um processo secundário, ou seja, ocorre
devido à maior absorção de cálcio (McDowell, 1992).
Na corrente sanguínea, o fósforo é rapidamente destinado para a formação dos ossos e dentes de
animais em crescimento, no qual os níveis plasmáticos são mantidos através da mineralização e
desmineralização óssea e quando em excesso são eliminados através dos rins. Todo esse mecanismo é
regulado pela ação do hormônio PTH, calcitocina e estrógenos que atuam nos rins, ossos e intestino
(Murray et al., 1990).
Outro fator a ser levado em consideração para a absorção de fósforo pelas aves é a relação cálcio e
fósforo da dieta, no qual parece ter bastante influência sobre a absorção desse mineral. Outro fator de
grande importância quanto à absorção do fósforo é a sua disponibilidade no lúmen intestinal, sendo que a
presença de íons (Fe, Mg, Al e Ca), proporcionam a formação de sais solúveis, reduzindo assim sua
disponibilidade (Macari et al., 2002).

Fontes de fósforo para frangos de corte


Na natureza o fósforo aparece amplamente distribuído, sendo encontrado em todos os alimentos de
origem vegetal, onde no grão apresenta o maior percentual ligado ao ácido fítico que não é digerido pelos
animais não ruminantes e, portanto não é aproveitado. O fósforo ligado ao ácido fítico é denominado de
fósforo fítico, um composto não hidrolisado pelas enzimas digestivas dos animais não ruminantes
(Fernandes et al., 1996).
A alimentação das aves está baseada principalmente na mistura de ingredientes vegetais, porém,
com quantidades reduzidas de fósforo disponível, o que torna necessário a adição de ingredientes que
forneçam quantidades suficientes para o crescimento ideal e mineralização óssea adequada. A principal
fonte suplementar de fósforo nas dietas das aves é uma fonte inorgânica, o fosfato bicálcico. Porém,
devido ao elevado custo da suplementação de fósforo, se faz necessário definir os níveis ideais na
alimentação dos frangos de corte, a fim de atender as necessidades desse mineral para as aves.

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Porém, na alimentação das aves utilizam-se também ingredientes de origem animal, como por
exemplo, farinha de ossos, farinha de carne e ossos, farinha de peixe entre outros, no qual, apresenta
maior disponibilidade de fósforo, tornando assim uma fonte com maior disponibilidade de fósforo para as
aves, sendo uma alternativa viável de utilização nas rações (Fernandes et al., 1999).
O fosfato monocálcico é considerado a fonte mineral de maior disponibilidade de fósforo
comercializada para a suplementação de dietas vegetais, porém representa um alto custo na formulação se
comparada às demais fontes (Sullivan et al., 1992). Já o fosfato bicálcico comercial é um produto
industrial resultante da neutralização do ácido sulfúrico e água, produzindo o ácido fosfórico que
neutralizado com o calcário ou cal hidratada origina o fosfato bicálcico comercial (Cardoso, 1991).
Porém, os produtos comerciais possuem proporções variadas de fosfato monocálcico e bicálcico, no qual
se faz dependente do processamento utilizado, sendo que a qualidade do fosfato bicálcico por exemplo,
depende do controle no processamento industrial empregado para sua obtenção e também das matérias
primas utilizadas no processamento (Gill, 1997).
As concentrações de nutrientes podem variar de uma fonte para outra, no qual análises químicas
realizadas em diferentes fosfatos bicálcicos demonstraram que existe grande variabilidade entre as fontes
utilizadas, sendo que os produtos estudados apresentaram valores de cálcio entre 16,5 a 25,7% e de
fósforo 17,4 a 21,2%, variando de acordo com a fonte avaliada (Lima et al., 1997).

Exigência de fósforo para frangos de corte


Alguns fatores podem influenciar a exigência de fósforo das aves, entre eles podem ser citados a
fonte de fósforo, o nível de cálcio da dieta, a utilização de fitase e de vitamina D3, o balanço eletrolítico,
como também o sexo, a idade, a linhagem genética e temperatura ambiente interferem na exigência desse
mineral (Summers, 1997).
Além de afetar a exigência de fósforo pelas aves, a eficiência de absorção de fósforo pelo intestino
depende também do nível de fósforo da dieta, da fonte de fósforo, da idade do animal e da quantidade de
outros minerais como cálcio, ferro, alumínio, manganês, potássio e magnésio, sendo estes fatores
diretamente ligados à absorção de fósforo pelos frangos. Deve-se levar em consideração também que
níveis mais altos ou mais baixos de cálcio influenciam negativamente a absorção de fósforo (Schoulten et
al., 2002).
Basicamente na atualidade, as formulações de rações se baseiam em níveis recomendados de todos
os nutrientes por fontes já conhecidas, como por exemplo, as tabelas brasileiras para aves e suínos, o
NRC e artigos científicos, sendo que para cada categoria de aves a necessidade de fósforo disponível
recomendado se encontram já estabelecido para cada fase de criação.
As exigências de fósforo disponível para frangos de corte são de 0,45 e 0,35% para aves de 1 a 21
e 22 a 42 dias de idade, respectivamente, com rações contendo 3.200 kcal de EM/kg (NRC, 1994). Já os
níveis de fósforo disponível recomendado por Rostagno et al. (2011), diferem em valores dos
recomendado pelo NRC, sendo eles de 0,470; 0,401; 0,354 e 0,309% de 1 a7; 8 a 21; 22 a 33; 34 a 42
dias de idade, respectivamente, com energia variando de 2.960 a 3.200 kcal de EM/kg, para frangos de
corte machos de desempenho superior, já para frangos de corte fêmeas de desempenho superior as
exigências de fósforo disponível são 0,470; 0,396; 0,332 e 0,274% de 1 a7; 8 a 21; 22 a 33; 34 a 42 dias
de idade, respectivamente, com energia variando de 2.960 a 3.200 kcal de EM/kg.
Nas fases de crescimento e final (22 a 42 dias), para o melhor desenvolvimento dos frangos de
corte, a fim de possibilitar um adequado ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar e cinzas
no osso, a exigência de fósforo disponível das aves é de 0,340% (Gomes et al., 1994), afirmando os
valores recomendados pela literatura.
Para a obtenção de valores satisfatórios de deposição de cinzas na tíbia e de ganho de peso de
frangos de corte na fase final de criação (32 a 42 dias) a exigência de fósforo disponível é de 0,200%, o
que demonstra uma diminuição da necessidade desse mineral nessa etapa quando comparado a dados já
apresentados anteriormente (Dhandu & Angel, 2003).
As exigências de fósforo disponível para maximizar o ganho de peso, conversão alimentar e
variáveis ósseas, não são as mesmas entre si, sendo que para cada parâmetro analisado existe uma
quantidade de fósforo disponível adequada para o melhor desenvolvimento da característica analisada. Na
fase inicial de criação (1 a 21 dias) de frangos de corte da linhagem Hubbard as exigências de fósforo
disponível que proporcionam melhores índices de ganho de peso, conversão alimentar e fósforo na tíbia
são de 0,311; 0,378 e 0,392%, respectivamente, confirmando as diferenças encontradas entre as variáveis
(Brugalli et al., 1999).

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Nas fases de crescimento e final (21 a 42 dias) de frangos de corte machos, quando há ausência da
enzima fitase na dieta os melhores valores de ganho de peso, conversão alimentar e teor de cinzas na tíbia
são observados quando a exigência de fósforo disponível é 0,186; 0,163 e 0,330%, respectivamente (Yan
et al., 2001).
Na fase inicial de criação de frangos de corte macho e fêmea (1 a 21 dias), tanto a deficiência
quanto o excesso de fósforo disponível são prejudiciais para o desenvolvimento das aves. A exigência de
fósforo de frangos de corte macho e fêmea que proporciona resultados satisfatórios de ganho de peso,
consumo de ração e conversão alimentar é de 0,450% (Tabela 1) (Runho et al., 2001).

Tabela 1 - Efeito dos níveis de fósforo disponível na dieta sobre o desempenho de frangos de corte
machos (M) e fêmeas (F), no período de 1 a 21 dias de idade
Ganho de peso Consumo de ração Conversão
P disponível (%) Sexo
(g) (g) alimentar
0,150 M 240 509 2,14
0,250 M 502 875 1,74
0,350 M 636 1094 1,72
0,450 M 689 1165 1,69
0,550 M 686 1154 1,68
0,650 M 672 1151 1,71
Média 571 991 1,78
0,150 F 271 546 2,02
0,250 F 483 879 1,82
0,350 F 570 1029 1,80
0,450 F 613 1024 1,67
0,550 F 615 1057 1,72
0,650 F 615 1064 1,73
Média 528 933 1,79
CV (%) 5,15 5,38 7,15
Fonte: Runho et al. (2001)

Prejuízos causados pelo excesso de fósforo nas excretas


Sabe-se que atualmente várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas para determinar a
disponibilidade de fósforo, no qual são importantes não somente para avaliar o grau de aproveitamento
dos ingredientes pelas aves, a fim de promover o melhor desempenho, mas também são imprescindíveis
quanto à questão que envolve o meio ambiente, pois é considerável o impacto ecológico representado
pela eliminação fecal de grandes quantidades não aproveitado pelos animais (Kebreab et al., 2005).
Os teores de fósforo encontrados nas excretas de frangos não são constantes nos diferentes
sistemas, sendo que podem variar desde 1,6 a 4,1%, fato este, devido a dependência do sistema de criação
das aves, como o tipo de instalação, dieta, aditivos empregados, tipo de cama e estocagem das excretas
(Ihnat & Fernandes, 1996; Leme et al., 2000)
Como nas excretas de frangos há uma grande quantidade de fósforo e também de outros nutrientes,
um destino dado aos dejetos avícolas é seu uso como fertilizantes, porém, ao se adicionar fósforo ao solo
deve-se estar atento ao equilíbrio entre as fases sólidas e solúveis, baseado na taxa de fósforo no solo e na
presença de outros minerais como ferro, aluminossilicatos, carbonatos e matéria orgânica (Govindasamy
& Cochran, 1995), tornando assim a retenção de fósforo no solo um dos temas de relevância na nutrição
de plantas e eficiência de fertilização de lavouras.
De maneira geral os solos do Brasil são pobres em fósforo, no qual pode-se supor que a excreção
deste nutriente não seja prejudicial ao ambiente, no entanto, um problema que ocorre onde há frequente
aplicação dos dejetos das aves como adubo, a concentração no solo pode ultrapassar seu nível máximo de

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fósforo necessário ao desenvolvimento das plantas, e quando aplicado em excesso no solo, pode causar
também aumentos excessivos na concentração de cobre, zinco e outros elementos potencialmente tóxicos,
além de ter a capacidade de adsorção de fósforo pelas partículas do solo saturada, no qual passa a ser
lixiviado, alcançando o lençol freático (Rodrigues et al., 2007).
O fósforo é considerado componente de extrema relevância com relação a seu potencial de
eutrofização dos corpos de águas superficiais, sendo que, considera-se níveis de fósforo não superiores a
0,05mg de P/litro para cursos de água e 0,10mg de P/litro para lagos e reservatórios (Seiffert, 2000).
Algumas estratégias podem ser adotadas a fim de minimizar a excreção de fósforos no ambiente,
sendo a primeira delas a melhora na eficiência alimentar, adotando conceitos como fontes de fósforo
disponíveis, formulações próximas ao requerimento da ave, utilizando ingredientes de origem animal e
melhorando a disponibilidade nutricional dos alimentos suplementando as dietas com fitase, no qual
tornará a dieta com níveis mais adequados de fósforo, consequentemente, resultando em uma menor
excreção desse mineral no meio ambiente (Nahm, 2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Faz-se necessário atender as exigências de fósforo para os frangos de corte, pois esse mineral esta
envolvido em vários processos no metabolismo das aves, e quando presente em quantidades superiores ou
inferiores ao exigido pode acarretar problemas tanto no desempenho quanto no desenvolvimento ósseo,
no qual a definição correta do nível a ser utilizado nas formulações se torna imprescindível para o sucesso
da criação.
Portanto, além de definir os níveis de fósforo para atender as exigências, a fim de proporcionar o
melhor desempenho, devem-se levar em consideração a concentração desse mineral nas excretas das aves,
pois quando em altas quantidades pode vir a causar diversos problemas ambientais, como por exemplo, a
eutrofização das águas dos rios.

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ENZIMA CONVERSORA DA ANGIOTENSINA E SEU USO POTENCIAL NA


AVALIAÇÃO REPRODUTIVA DO MACHO

Caroline Eberhard Buss1, Fernando Henrique Garcia Furtado1, Francisco Manuel


Junior1, Fernanda Hvala de Figueiredo1, Fábio José Carvalho Faria2, Deiler Sampaio
Costa2
1
Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – FAMEZ/ UFMS. E- mail:
carolebuss@hotmail.com
2
Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – FAMEZ / UFMS

Resumo: Há uma diversidade de proteínas moduladoras dos eventos de capacitação, exocitose (reação
acrossomal) e fertilização presentes no epidídimo, plasma seminal e na própria célula espermática. Apesar
dos avanços da reprodução animal em todo o mundo, há a necessidade do aprofundamento das pesquisas
com o intuito de desenvolver métodos de avaliação reprodutiva mais eficazes. Essas pesquisas poderão
gerar marcadores moleculares relacionados ao potencial reprodutivo do macho e, consequentemente, irão
aperfeiçoar a produção e reprodução bovina. Uma das proteínas envolvidas nesses potenciais eventos é a
enzima conversora da angiotensina, localizada na superfície periacrosomal dos espermatozoides. Dessa
forma, o objetivo desta revisão é descrever os efeitos da enzima conversora de angiotensina relacionados
aos eventos reprodutivos.

Palavras chaves: acrossoma, capacitação espermática, proteômica seminal

ANGIOTENSIN CONVERTING ENZYME AND ITS POTENTIAL USE IN BULL


REPRODUCTIVE EVALUATION

Abstract: There are a variety of modulating proteins from capacitation events, exocytosis (acrosome
reaction) and fertilization presents in the epididymis, seminal plasma and in sperm cell itself. Although
animal reproductive advances around the world, it is necessary further research in order to develop more
effective reproductive evaluation methods. Those researches can generate molecular markers related to
male reproductive potential and will thereafter enhance the production and breeding of cattle. One of the
proteins involved in these potentials events is the angiotensin converting enzyme located in the
periacrosomal sperm surface. Thus, the aim of this review is to describe the effects of the angiotensin
converting enzyme related to reproductive events.

Keywords: acrosome, sperm capacitation, seminal proteomics

INTRODUÇÃO

O envolvimento do sistema renina angiotensina (SRA) e mais precisamente a isoforma testicular


da enzima conversora da angiotensina (tACE) foi descoberta por Cushman e Cheung (1971). Esta enzima
por sua vez encontra-se relacionada com os processos ligados a fertilização.
A tACE está presente em inúmeras espécies, e a atividade da ECA foi determinada no plasma
seminal, ejaculado e espermatozoides do epidídimo de garanhões maduros, bem como nos testículos antes
e depois da puberdade (Ball te al., 2003).
Ratos knockout (inativos para a produção desta enzima) demonstraram diminuição do número da
prole e dificuldade de transporte dos gametas no trato reprodutivo da fêmea (Hagaman et al., 1998). Tal
fato evidenciou a relação existente entre a ECA e os processos reprodutivos. O presente trabalho tem por
objetivo descrever as funções da ECA e seus efeitos reprodutivos.

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DESENVOLVIMENTO

Segundo Brito et al. em 2002 apenas 5% do rebanho bovino brasileiro era inseminado, contudo foi
divulgado pela Associação Brasileira de Inseminação Animal (ASBIA) em 2014 que essa biotécnica
obteve um salto atingindo 11,9%. O Brasil em 2014 alcançou aproximadamente 212 milhões de cabeças
de gado, estando atrás no ranking mundial apenas da Índia (IBGE, 2015).
Com o uso desta técnica, milhares de vacas distribuídas pelo Brasil e mesmo em outros países são
fecundadas com sêmen de um mesmo animal. Sendo assim, as características produtivas e reprodutivas
dos touros merecem devida atenção antes de serem usados em ampla escala, ainda mais com o advento da
inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e fertilização in vitro (FIV) (Pezzini et al., 2006).
Teoricamente o macho requer maiores cuidados por ele servir a muitas fêmeas, deve ser levado em
conta que há diferenças significativas com relação à reprodução entre as espécies e entre os próprios
indivíduos. Um exemplo disso são animais dispostos às mesmas condições de manejo e criação, onde são
observadas diferenças no desempenho, como acorre nas raças brasileiras ou nas que aqui foram
naturalizadas (Martinez et al., 2000; Pezzini et al., 2006).
Levando em conta a importância dessa observação, e a influência que o ambiente exerce sobre o
desempenho dos reprodutores, Pezzini et al. (2006) mimetizaram o estresse térmico através da insulação
com bolsa térmica por 48h em touros da raça Curraleiro (Bos taurus ibericus) e Holandesa (Bos taurus
taurus) em Brasília, Distrito Federal de outubro à dezembro de 2004.
Estes animais após o nono e quinto dia apresentaram respectivamente redução na motilidade
espermática e o aumento da incidência de alterações morfológicas nos espermatozóides, sendo as doenças
mais encontradas pós insulação: gota citoplasmática proximal, cauda fortemente dobrada ou enrolada,
cabeça isolada normal e cauda dobrada ou enrolada (Pezzini et al., 2006).
Também querendo avaliar parâmetros espermáticos, Teixeira et al. (2011) avaliaram os efeitos das
estações do ano na qualidade seminal de touros da raça Curraleiro situados no centro- oeste brasileiro.
Foram então intensificas as coletas em períodos em que os ejaculados encontravam- se qualitativamente
melhores para o congelamento.
Esses autores observaram variações ao longo do ano apesar desta raça ser adaptada a temperaturas
elevadas e pouca oferta de pastagem. A menor biometria testicular (BT) foi observada em abril, sendo
este mês o período de transição entre a época chuvosa para a estação de seca (Teixeira et al. 2011).
Em janeiro foram encontradas maiores BT e melhor vigor espermático, embora ser a época de
maior calor (dezembro- março) não foi suficientemente capaz de afetar a BT, demonstrando adaptação
destes ao ambiente. Após o descongelamento houve redução qualitativa do sêmen, que foi observada
através dos parâmetros morfológicos. A qualidade do sêmen fresco nessa raça não refletiu
necessariamente na qualidade do pós descongelamento, e o tamanho testicular também não relacionou- se
com a qualidade seminal (Teixeira et al., 2011).
Levando em conta alterações e perfis espermáticos que as diversas raças apresentam e as variações
de um indivíduo para o outro, um touro só é considerado apto à reprodução quando ele corresponde a
alguns requisitos: demonstra interesse sexual, apresentar membros saudáveis capazes de realizar a monta,
no espermograma (analisados no mínimo 200 espermatozóides) atingir no mínimo 70% de
espermatozóides normais com no máximo 20% de defeitos maiores ou máximo 30% de defeitos menores
e os defeitos individuais não podem ultrapassar de 5% para defeitos maiores e 10% em defeitos menores
(Arruda et al., 2015).
Diferenças de fertilidade observadas entre os indivíduos nem sempre puderam ser explicadas pelos
testes adotados na rotina da avaliação do sêmen (Moura et al., 2011).
Atento a essas interferências, estudos relacionados à proteômica seminal vêm buscando identificar
quais os tipos de proteínas estão relacionadas aos animais inférteis, impúberes, quais as proteínas ligadas
diretamente com a fecundação, em que época do ano elas estão presentes em maior concentração
tornando favorável para a criopreservação de sêmen, dentre muitos outros fatores que influenciam na
concentração e na qualidade seminal.
Para que ocorra a fertilização várias alterações sobrevêm ao gameta masculino devendo ele ser
capaz de atravessar o trato reprodutivo feminino, com o intuito de alcançar o oócito. Isso só é conseguido
por contrações da motilidade dos espermatozóides influenciados por proteínas (Moura et al., 2007).

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Identificar cada proteína e sua função denota entender o seu efeito biológico. Há evidências
significativas da associação delas com o potencial de fertilidade, essas podem ser localizadas no plasma
seminal, cuja função é ser o transportador dos espermatozóides até o ovócito (Barros et al., 2013).
Atentos a isso Moura et al. (2007) através de coletas via glândulas sexuais acessórias conseguiram
identificar proteínas como: albumina, proteínas de ligação seminal- BSP (binder of sperm protein),
espermadesina e nucleobindinas. Touros de alta fertilidade apresentaram grande quantidade de BSP,
clusterina, albumina, fosfolipase A2 e osteopontina, quando essas foram misturadas a espermatozóides de
touros subférteis, propiciaram aumento da capacidade desses na penetração dos oócitos.
Também enzimas especializadas fazem-se presentes na superfície da cabeça do espermatozóide,
onde são ativadas logo ao se encontrarem com o gameta feminino, mais precisamente com a zona
pelúcida dando origem a reações acrossomais (Barros et al., 2013).
Ao longo das pesquisas descobriu-se a presença da enzima conversora da angiotensina (ACE),
uma importante enzima relacionada aos processos reprodutivos no macho (Ball et al., 2003) e na fêmea
também (Ferreira et al., 2007).
A ACE compõe o sistema renina angiotensina, o qual tem início com a síntese de
angiotensinogênio no fígado. Ao ser submetido à catabolização pela renina (enzima renal), transforma- o
em angiotensina I (AngI) (Feitosa et al, 2010).
Quando chega aos pulmões via circulação sanguínea, a Ang I é clivada em angiotensina II (Ang II)
através da ação da enzima conversora da angiotensina (Feitosa et al., 2010; Raposo- Costa & Reis, 2000).
A ACE apresenta dois substratos conhecidos, AngI citada anteriormente e a bradicinina. A
bradicinina está envolvida no aumento da motilidade espermática e a calicreína que é a enzima envolvida
na sua formação foi encontrada no plasma seminal (Brentjens et al., 1985).
Conforme Schauser et al. (2001) a ACE foi localizada no SRA ovariano de bovinos, fluido
folicular, nas células endoteliais microvasculares e nas células endoteliais dos vasos sanguíneos de maior
calibre.
Quando observada no macho, esta enzima está presente numa concentração 13 vezes maior na
célula espermática de garanhões do que quando comparada com a encontrada no plasma seminal.
Em contrapartida nas aves, a ACE é localizada em maiores concentrações no plasma seminal
(Mohan et al., 1992) e em galos sua atividade é menor do que a observada em touros e búfalos
respectivamente (Tab. 1) .

Tabela 1. Valores normais (média EP) da enzima conversora da angiotensina (ACE) atividade (m
unidades /mg de proteína) no esperma e plasma seminal de duas raças de aves e duas raças de bovinos
Atividade da ACE
Espermatozóide Plasma seminal Espermatozóide/ plasma seminal
Frangos de corte 5,07± 0,27 11,63± 0,043 0,43
Perus 4,62± 0,53 11,30 ±0,86 0,41
Bovinos 17,42 ± 1,79 2,65 ± 0,18 6,57
Búfalos 30,71 ± 2,66 4,56 ± 0,38 6,73
Adaptado de: Mohan et al. (1992)

Costa & Thundathil (2012) também encontraram maior proporção da ACE no espermatozóide de
touros da raça Holandesa por meio da imunodetecção pelo SDS- PAGE e immunoblotting utilizando
anticorpo monoclonal anti- ACE, reconhecendo uma única banda de proteína com 100kDa.
Essa enzima possui duas isoenzimas, a forma somática (sACE) e testicular (tACE), com 170 kDa e
90 kDa respectivamente ancoradas na superfície da membrana celular (ectoproteínas) (Corvol, 2005).
A sACE é amplamente distribuída nos tecidos, incluindo nas células endoteliais dos vasos, células
epiteliais dos túbulos próximas do rim, na borda do intestino, epitélio do epidídimo, na superfície das
células epiteliais pulmonares, células da glia e em alguns fluídos corporais (Corvol, 2005).
Já a forma testicular é encontrada somente na superfície celular (com a maior porção exposta ao
meio) das espermátides e espermatozóides maduros (Shibahara et al., 2001).
Shibahara et al. (2001) observaram negativa correlação entre a tACE e motilidade espermática em
eqüinos, o uso do antagonista captopril em incubação in vitro de esperma desta espécie resultou na
potencialização da capacidade de sofrer exocitose acrossomal em resposta à progesterona.

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No entanto ratos com deficiência de ambas isoenzimas demonstraram anormalidades na


fertilidade, apresentavam motilidade normal, porém seus espermatozóides eram incapazes de transportar-
se no trato feminino, não havendo fertilização do oócito (Krege et al., 1995).
Hagaman et al. (1998) obtiveram resultados semelhantes, quando compararam o transporte dos
espermatozóides via trato reprodutivo feminino. Os espermatozóides de animais que continham ambas as
isoformas da ACE, 1 hora após encontravam- se no oviduto na porção do istmo, onde permanecem até o
momento da fertilização. Os que não apresentavam ambas isoformas, nesse mesmo tempo encontravam-
se na junção útero tubária e mesmo aqueles que atingiram a ampola seria menos provável que ocorra a
fertilização pela sua capacidade reduzida de ligação com a zona pelúcida.
Conforme Hagaman et al. (1998) a angiotensina não é substrato essencial para a fertilidade do
macho e da fêmea, animais selvagens que demonstravam ausência desse peptídeo, mas a presença da
tACE eram capazes de realizar os eventos da fertilização.
Em ratos e coelhos imaturos foram observados quantidades insignificantes da ACE (Jaiswal et al.,
1984), sendo a expressão da tACE dependente da presença de elevados níveis de testosterona (Costa &
Thundathil, 2012).
Jaiswal et al. (1984) estimularam coelhos sexualmente que derivaram aumentos nos níveis de ACE
testiculares, confirmando que são necessários andrógenos para influenciar seus níveis no testículo e
epidídimo.
Esta enzima esta localizada ao longo de todo o acrossoma dos espermatozóides de touros, com
exceção da região do segmento equatorial (Fig 1) (Costa & Thundathil, 2012), em espermatozóides no
lúmen dos túbulos seminíferos de coelhos sexualmente maduros e nas células de Leydig de animais
imaturos e maduros desta mesma espécie (Brentjens et al., 1985).
Sua atividade foi obtida através da hippuryl- L -histidyl- L -leucina (Hip-His-Leu) como substrato,
utilizado- se captopril que atua ligando o átomo de zinco inibindo a ligação da enzima com seu substrato,
porém o papel exato da ACE ainda permanece obscuro (Costa & Thundathil, 2012).

Figura 1. A imunolocalização da enzima conversora de angiotensina (ACE) em espermatozóides bovinos


da raça holandesa. A imunocitoquimica utilizou- se um anticorpo monoclonal de rato anti-ACE e o
anticorpo secundário de cabra conjugado Cy3 anti-IgG de rato. (A) ACE localizada ao longo de todo o
acrossoma com a excepção de o segmento equatorial. (B) Grupo controle incubados com o anticorpo
secundário somente, não provocou sinal de fluorescência. (C) O grupo controle no mesmo campo do
painel B foi contra-coradas com Hoechst 33258 para facilitar a localização de esperma sem um sinal
fluorescente (Fonte: Costa & Thundathil, 2012).

Sua atividade esta relacionada com a fecundação, aos acontecimentos na capacitação, acrossoma
exocitose, e ela também relaciona- se aos parâmetros de quantidade e qualidade do ejaculado, como a
concentração e motilidade (Heder et al., 1989).
Brentjens et al. (1985) compararam sua atividade em espermatozóides encontrados no epidídimo,
espermatozóides livres no fluido tubular do epidídimo, lavado do tecido epididimário e homogeneizado
pulmonar, obtiveram respectivamente 0,19, 0,11, 0,04, e 0,10 U / mg proteína.

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Com estas informações manejos de criopreservação de sêmen podem ser conduzidos para as
épocas em que os animais encontram- se com melhor potencial reprodutivo, consequentemente resultando
em melhores taxas de gestação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É de suma importância o avanço das pesquisas com o intuito de desvendar quais as proteínas
envolvidas, sua função e se há alguma relação com épocas do ano e concentração.
Envolvido a isso, a detecção de animais portadores desta e outras enzimas auxiliará na seleção de
reprodutores aptos, que até então apresentavam espermograma favorável, mas não demonstram
desempenho satisfatório quando utilizados nas biotecnologias da reprodução, também desenvolver
marcadores reprodutivos e de puberdade.
Se possível também, extrapolar para a medicina humana, ajudado milhares de casais pelo mundo
que encontram dificuldade na concepção de filhos e na síntese de contraceptivos.

LITERATURA CITADA

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CONSUMO ALIMENTAR RESIDUAL COMO MEDIDA DE EFICIÊNCIA


ALIMENTAR NA SELEÇÃO DE BOVINOS DE CORTE

Bruna Silva Marestone1, Roberto Augusto de Almeida Torres Junior3, Luiz Otávio
Campos da Silva3, Gustavo Garcia Santiago2, Gabriella Jorgetti de Moraes1, Marcus
Vinicius Garcia Niwa1, Luiz Gustavo Cavalca1
1
Discentes de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - FAMEZ / UFMS
2
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - FAMEZ / UFMS
3
Pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Corte - CNPGC / EMBRAPA. E-mail:
roberto.torres@embrapa.br

Resumo: A bovinocultura é um dos destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial, sendo o país
líder na exportação de carne. Diante da importância econômica do setor e na capacidade produtiva do
país, melhorias nos sistemas de criação são bem vindas para beneficiar o produtor, a indústria e o
consumidor. O melhoramento genético vem trabalhando ao longo dos anos com a melhoria de diversas
características, entre elas, o Consumo Alimentar Residual (CAR) tem como objetivo identificar os
animais que apresentam menor consumo alimentar (CAR negativo), sem qualquer efeito negativo no
ganho de peso ou peso adulto. Diversos trabalhos demonstram que essa característica apresenta
variabilidade genética entre os animais e possuí herdabilidade moderada, sendo assim, considerada uma
característica possível de ser incluída nos programas de seleção. Porém, o custo para a obtenção dos
dados de eficiência alimentar individual é alto, o que dificulta a utilização da técnica e estudo dos
impactos da seleção para baixo CAR no meio ambiente, nos parâmetros de qualidade de carne, na
reprodução e outros critérios já estabelecidos em programas de melhoramento.

Palavras-chave: desempenho, herdabilidade, melhoramento

RESIDUAL FEED INTAKE AS A MEASURE OF FEED EFFICIENCY IN BEEF CATTLE


SELECTION

Abstract: The cattle is one of the Brazilian agribusiness featured on the world stage, being the leading
country in exporting meat. Faced with the economic importance of the sector and the productive capacity
of the country, improvements in production systems are welcome to benefit the producer, industry and
consumers. Genetic improvement has been working over the years with the improvement of several
characteristics, among them the Residual Feed Intake (RFI) aims to identify animals that have lower feed
intake (RFI negative) without any negative effect on weight gain or adult weight. Several studies show
that this trait has a genetic variability among animals and possess moderate heritability, and thus
considered a possible feature to be included in selection programs. However, the cost to obtain the feed
efficiency individual data is high, making it difficult to use the technique and studying impacts the
selection down RFI on the environment, in meat quality parameters, reproduction and other criteria
established in breeding programs.

Keywords: genetic improvement, heritability, performance test

INTRODUÇÃO

O agronegócio representa 23% do PIB brasileiro (Cepea, 2014). De acordo com os dados do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Brasil, 2015), a bovinocultura é um dos destaques
do agronegócio brasileiro no cenário mundial, sendo o país líder na exportação de carne, desde 2004,
além de possuir o segundo maior rebanho efetivo do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças.
Diante da importância econômica do setor e da capacidade produtiva do país, melhorias nos
sistemas de criação são bem vindas para beneficiar o produtor, a indústria e o consumidor. Na produção

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animal, o custo com a alimentação representa uma grande parcela dos custos totais, principalmente em
sistemas intensivos. Portanto, para a manutenção da sustentabilidade econômica, ambiental e social de um
sistema de produção, é necessário controle, desde os gastos financeiros até o desempenho dos animais.
No tocante ao desempenho, o melhoramento genético voltado à pecuária de corte, vem trabalhando
ao longo dos anos com a melhoria de diversas características, tais como características reprodutivas,
ganho de peso pré e pós-desmama, qualidade de carcaça e de carne, buscando um elo entre as
características e que resultem em animais selecionados para precocidade e com grau ideal de acabamento
de carcaça, obtendo como retorno, boa remuneração por parte dos frigoríficos e uniformidade do produto.
Porém, a eficiência alimentar não está incluída nos índices de seleção dos programas de
melhoramento nacional. Segundo Almeida (2004), mais de 40 índices de eficiência alimentar já foram
propostos, sendo os mais conhecidos, os parâmetros eficiência alimentar bruta e conversão alimentar.
Entretanto, a maioria das medidas de eficiência alimentar são relacionadas entre si e a medidas de peso
(Arthur et al., 2001b). Koch et al. (1963) ressaltaram que a herdabilidade da eficiência alimentar e a sua
relação genética com outras características mensuráveis devem ser analisadas cuidadosamente antes da
recomendação relativa à alimentação possa ser feita. O que pode acarretar na seleção de animais de
tamanho corporal maior e com maiores exigências nutricionais. Ou seja, o oposto que Santana et al.
(2014) define como eficiência animal, que é a geração de produtos de origem animal com a menor
quantidade de recursos possíveis.
Nos últimos anos, diversas pesquisas vêm avaliando o Consumo Alimentar Residual (CAR), no
qual, tem como objetivo identificar os animais com menor consumo, sem que ocorra interferência no
ganho de peso ou peso adulto. Diante dessa particularidade, acredita-se que esse critério possa ser incluso
nos programas de seleção, contudo, há necessidade de verificar os impactos que a seleção para o CAR
deve gerar. Assim, a presente revisão teve por objetivo abordar o conceito de CAR, as vantagens e
limitações da sua utilização para a seleção de bovinos de corte.

DESENVOLVIMENTO

Herdabilidade da característica CAR


Segundo Pereira (2008) o conhecimento da herdabilidade é de fundamental importância para a
definição dos métodos de melhoramento genético adequado. A herdabilidade corresponde à proporção da
variação total que é de natureza genética, podendo variar de 0,0 a 1,0 e sendo classificada como baixa (0 a
0,1), média (0,1 a 0,3) e alta (acima de 0,3).
O CAR tem despertado o interesse para ser utilizado como critério de seleção em função de sua
moderada herdabilidade, de 0,28 a 0,47 (Koch et al., 1963; Arthur et al., 2001a; Lancaster et al., 2009a).
Claro et al. (2012) realizaram uma meta‑ análise com 22 trabalhos científicos provenientes de oito países
publicados entre 1963 e 2011, com total de 52.637 animais de idades diversas, pertencendo a 19 raças ou
grupamentos genéticos e obtiveram herdabilidade 0,298 ± 0,27, valor próximo ao encontrado por Koch et
al. (1963).
Outros trabalhados também estimaram a herdabilidade para CAR (Tabela 1).

Tabela 1. Estimativas de herdabilidade para consumo alimentar residual em bovinos.


Autor N Raça Herdabilidade (h²)
Mercadante et al. (2014) 681 Nelore 0,27 ± 0,09
Lancaster et al. (2009a) 468 Brangus 0,47 ± 0,13
Robinson & Oddy (2004) 464 * 0,21 ± 0,12
Arthur et al. (2001a) 1180 Angus 0,38 ± 0,03
Arthur et al. (2001b) 1302 Charolês 0,43 ± 0,06
* Vários grupos genéticos.

Outra característica importante e utilizada no melhoramento genético é a variação fenotípica.


Conforme explicado por Pereira (2008), a medida de variância fenotípica baseia-se na comparação entre
as médias das populações, sendo o desvio padrão (raiz quadrada da variância) o termo mais conveniente
para explicar as variações individuais, expresso nos mesmos termos das medidas originais.
Alguns trabalhos relataram desvio-padrão alto para CAR em animais de diferentes grupos
genéticos, dentre eles pode-se citar: 0,74 kg/dia (Arthur et al., 2001b), 0,66 kg/dia (Basarab et al., 2003),

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1,05 kg/dia (Almeida et al., 2004), 0,78 kg/dia (Lancaster et al., 2009b) e 0,313 kg/dia (Lucila Sobrinho et
al., 2011).
Com isso, a variabilidade existente entre o consumo dos animais, juntamente com a herdabilidade
favorável, proporcionam ao CAR uma característica de potencial utilização para os programas de
melhoramento genético.

CAR como medida de eficiência alimentar


Dentre as medidas propostas para avaliação da eficiência alimentar, pode-se citar a conversão
alimentar, eficiência alimentar bruta e o CAR. A conversão alimentar (kg de consumo/kg de ganho)
possui grandes limitações, principalmente por ser correlacionada com ganho de peso e peso à idade adulta
(Arthur et al., 2001a; Arthur & Herd, 2008; Chizzotti et al., 2011). Igualmente, a eficiência alimentar
bruta também apresenta as mesmas limitações de uso, uma vez que sua mensuração é dada pela relação
inversa da conversão alimentar (kg de ganho/kg de consumo).
O CAR ou consumo alimentar líquido (Lanna & Almeida, 2004; Gomes, 2009) foi proposto por
Koch et al. (1963), é um medida alternativa de eficiência alimentar e obtido pela diferença entre o
consumo alimentar observado (CAOBS, kg/dia) e o consumo estimado (CAEST , kg/dia), em função do peso
médio metabólico (PMM, kg0,75) e do ganho médio diário (GMD, kg/dia), mensurados em intervalo de
tempo pré-determinado. Dessa maneira, a equação utilizada para o cálculo do CAR é: CAR = CA OBS -
CAEST (ƒ{PMM;GMD}).
Os animais mais eficientes para o CAR possuem valores negativos para essa medida e necessitam
menos nutrientes para sua mantença e taxa de crescimento, resultando em menor ingestão de alimentos
quando comparados aos seus semelhantes (Basarab et al., 2003). Dessa maneira, a seleção para baixo
CAR pode reduzir o consumo alimentar, sem comprometer o desempenho (Herd et al., 2003; Arthur &
Herd, 2008; Lucila Sobrinho et al., 2011; Lima et al., 2013), uma vez que, é independente do peso e da
taxa de crescimento dos animais (Arthur et al., 2001a).
Lanna & Almeida (2004), avaliaram um banco de dados de animais da raça Nelore terminados em
confinamento e obtiveram desvio padrão para CAR de 1,05 kg/dia, com valores mínimo e máximo de -
1,36 e +1,58 kg/dia, respectivamente. O que significa que animais mais eficientes apresentaram consumo
de matéria seca (CMS) de 1,36 kg a menos e o menos CMS de 1,58 a mais por dia do que o previsto com
base nos seus pesos e ganhos de peso. Para ilustrar melhor a diferença entre CMS estimado do observado,
os autores representaram graficamente (Figura 1) os valores obtidos de CAR e destacaram dois animais
que possuíam peso vivo médio (~485 kg) e ganhos diários similares (~1,617 kg/dia). O animal menos
eficiente apresentou CAR = +2,0 kg e o mais eficiente apresentou CAR = -1,6 kg.

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Figura 1. Relação entre consumo observado e consumo estimado de novilhos Nelore em confinamento,
destacando dois animais de Consumo Alimentar Residual (CAR) extremos. Fonte: Lanna & Almeida
(2004)

No trabalho de Fernandes et al. (2014) ao avaliarem 110 tourinhos da raça Purunã, estimaram o
consumo dos animais em aproximadamente 7,64 kg/dia e encontraram uma diferença de 2,16 kg/dia entre
os animais mais eficientes (CAR = -1,21 kg/dia) e o menos eficientes (CAR = + 0,950 kg/dia). Diferenças
de consumo maiores foram encontradas em outros trabalhos, como descrito por Basarab et al. (2003)
(3,77 kg MS/dia, com CAR eficiente = -1,95 kg/dia e CAR ineficiente = +1,82 kg/dia) e Nkrumah et al.
(2004) (4,86 kg MS/dia, com CAR eficiente = -2,25 kg/dia e CAR ineficiente = +2,61 kg MS/dia).
Oliveira (2014) também verificou variação no CAR em animais a pasto, com -1,20 a 1,59 kg MS/dia
(CAR eficiente e ineficiente, respectivamente) representando uma diferença de 2,79 kg MS/dia.
Lanna & Almeida (2004) realizaram uma projeção do impacto econômico com o uso da seleção
para a eficiência de produção com base no CAR, em no período de cinco anos, utilizando 20% a
tecnologia no rebanho nacional, haveria uma redução com cerca de 394 milhões de reais por ano.
Gibb & McAllister (1999) apud Santana et al. (2014); Chizzotti et al. (2011) estimaram que
melhorando em 5% a conversão alimentar, o impacto econômico seria quatro vezes maior se comparado a
um aumento em 5% no ganho de peso vivo.
Herd & Arthur (2009) citaram cinco fatores que podem contribuir para a diferença de eficiência
alimentar dos animais, são elas: consumo de alimentos, digestão dos alimentos (e os custos energéticos
associados a este evento), metabolismo (anabolismo e catabolismo, associado com variações na
composição corporal), nível de atividade e termorregulação. Richardson & Herd (2004) estimaram que
73% da variação observada para o CAR podem ser devido a processos metabólicos, como: turnover
proteico, metabolismo dos tecidos e stress (37%), digestibilidade (10%), incremento calórico da digestão
(9%), atividade física (9%), composição corporal (5%) e padrões de alimentação (2%).

Avaliação para obtenção do CAR


Várias metodologias são sugeridas para a realização dos cálculos para CAR, o intervalo entre as
pesagens e a maneira com que os animais serão pesados (em jejum ou não) são diferentes em diversos
trabalhos. Arthur & Herd (2008) citaram em sua revisão, o Manual de Teste para Eficiência Alimentar
Líquida em Bovinos de Corte, desenvolvido na Austrália em 1999 e tem a finalidade de padronizar os

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testes e garantir que os dados de testes realizados em diferentes épocas do ano e em diferentes locais
possam ser aceitos para programas de melhoramento genético e comparados entre si.
O manual estabelece que a avaliação do CAR contenha 21 dias de adaptação dos animais e 70 dias
de duração, sendo que, as pesagens ocorram sem jejum, podendo ser semanais ou quinzenais. Essa
recomendação é aceita e praticada em diversos trabalhos (Robinson e Oddy, 2004; Nkrumah et al., 2004;
Lancaster et al., 2009a), porém, alguns trabalhos brasileiros, utilizam processos diferentes. Bonin et al.
(2008) realizaram as pesagens dos animais após jejum de 18 horas, e repetidas em intervalos de 28 dias.
Já Gomes (2009), realizou pesagens a cada 21 dias com jejum alimentar e hídrico somente antes das
pesagens inicial e final.
Claro (2011), alerta que erros tanto na mensuração do consumo alimentar como na obtenção do
peso corporal contribuem para a variação da característica, uma vez que o CAR é o resíduo da equação:
consumo alimentar = intercepto + βp* (peso)0,75 + βg*ganho de peso + erro. Erros ou diversificação na
coleta dos dados utilizados para estimar o parâmetro CAR podem acarretar em viés nos resultados,
mascarando o real potencial do animal. Uma das alternativas proposta pela a autora seria a realização do
jejum para igualar o conteúdo do trato gastrointestinal, porém essa prática pode interferir no nível de
consumo dos animais, podendo levar aproximadamente uma semana para que seja normalizado.
O CAR é uma característica individual, com isso, os registros principais de quantidade de alimento
fornecido e sobras, pesos inicial e final, ganho médio de peso diário e data de inicio e fim do teste, devem
ser medidos para cada animal avaliado. De acordo com Sainz et al. (2006), os animais podem ser
dispostos em baias individuais ou em grupo, no caso da segunda opção, somente é possível verificar o
consumo individual mediante o uso de equipamentos especializados, tais como Calan Gates e Grow-Safe,
por exemplo.
Do ponto de vista de seleção, a forma de obtenção do peso, do consumo individual e a introdução
de características de composição corporal podem ter impacto na classificação dos animais para CAR, uma
vez que a cada novo cálculo com diferentes formas de obtenção do ganho de peso e do consumo
estimado, a ordem de classificação dos animais pode ser alterada (Claro, 2011).

Limitações
Dentre os principais entraves na adoção da avaliação do CAR em bovinos está o custo com
implantação da técnica. Seja para confinar os animais em baias individuais, no qual, envolverão maior
custo com a mão de obra para a realização das pesagens da quantidade alimento fornecido e das sobras
para cada animal diariamente, ou o alto custo para a implantação de sistemas automatizados.
Arthur & Herd (2008) citaram quatro barreiras para a adoção da técnica: 1) Alto custo associado à
identificação dos animais que serão superiores para CAR (CAR negativo); 2) ausência de valorização da
indústria da carne com a importância dos custos com a alimentação na rentabilidade da propriedade; 3)
maior dificuldade em mensurar o consumo individual de animais a pasto; 4) limitações práticas,
preocupações sanitárias e o aumento nos custos indiretos associados aos testes para eficiência alimentar.
Lanna & Almeida (2004) relataram que além do custo pra a determinação do CAR ser alto, quando
comparado a medidas de circunferência escrotal, por exemplo, outras limitações seriam as mudanças na
composição de carcaça, no qual a seleção para baixo CAR altera características da qualidade de carne,
tais como espessura de gordura, marmoreio, além de apresentarem menores teores de gordura na cavidade
abdominal.
Entretanto, Chizzotti et al. (2011) em sua revisão, relataram que raças taurinas apontam para uma
correlação positiva entre gordura corporal e CAR, indicando que animais mais eficientes apresentariam
menor deposição de gordura e maior deposição de proteína.
Gomes (2009) trabalhando com animais Nelore de baixo e alto CAR e analisando características
de carcaça e composição corporal, concluiu que na faixa de peso entre 340 a 450 kg houve uma aparente
relação entre animais de baixo CAR e deposição de gordura subcutânea em novilhos alimentados em
confinamento. Entretanto, para pesos superiores, as características de carcaça e composição química
corporal foram semelhantes, porém os bovinos mais eficientes apresentam menor massa de tecido adiposo
sobre o trato gastrointestinal, apontando para diferenças no padrão de deposição corporal de gordura.
Nkrumah et al. (2004) e Basarab et al. (2003) relataram correlações positivas entre CAR e
deposição de gordura na carcaça variando de 0,14 a 0,30, e correlações negativas entre CAR e deposição
de músculo variando de -0,21 a -0,14, ou seja, animais ineficientes possuem maior deposição de gordura
na carcaça e animais eficientes maior deposição de músculo na carcaça.

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Diante da divergência entre os resultados obtidos para a qualidade de carne, sugere-se que para
haver seleção por CAR, deve-se avaliar as características de carcaça juntamente. Para que não ocorra
detrimento nos parâmetros de qualidade de carcaça obtidos até o momento.

Benefícios para o meio ambiente


Basarab et al. (2003) explicaram que há importância em reduzir o uso de recursos naturais e da
emissão de gases de efeito estufa por unidade de carne produzida. Por meio da seleção de animais mais
eficientes é possível reduzir a utilização de áreas de pasto e de poluentes, como esterco e metano, para
produzir a mesma quantidade de carne.
O melhoramento da eficiência da produção, explorando a variação genética no CAR e eventual
correlação com características relacionadas à emissão de gases de efeito estufa é de grande importância
econômica para a produção de bovinos de corte (Mercadante et al., 2015), uma vez que, a fermentação
entérica dos animais produz metano.
Okine et al. (2003), relataram que a produção de metano pelos bovinos é prejudicial, pois
representa perca energética, além disso, a produção animal contribui cerca de 16 a 20% na emissão desse
gás na atmosfera. Nkrumah et al. (2006), identificaram uma redução de 28% na produção de metano
entre animais de baixo e alto CAR, reforçando a hipótese de a seleção para CAR pode reduzir o impacto
ambiental da pecuária de corte.
Oliveira (2014) ao analisar a produção de metano e excreção fecal em bovinos da raça Nelore em
confinamento, verificaram que os animais de alto CAR tiveram excreção fecal (EF) 10,5% maior em
relação aos animais baixo CAR. A explicação dada para essa diferença pode ser devida a relação entre EF
com o CMS e a digestibilidade, pois quanto maior o CMS maior será a EF, por outro lado, quanto maior a
digestibilidade, menor será a EF. Essa redução foi próxima ao encontrado por Okine et al. (2003), que
verificaram redução de 9,4% na produção de esterco, entre animais menos eficientes (26,5 kg/dia) e mais
eficientes (24 kg/dia).
Entretanto, trabalhos mais recentes (Mercadante et al., 2015; Oliveira, 2014) não encontram
diferenças significativas de produção de metano entres as classes de baixo CAR e alto CAR. Com isso,
sugere-se que estudos voltados aos impactos ambientais sejam realizados para mensurar o real beneficio
ambiental e social que a seleção para bovinos eficientes possam gerar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que o CAR apresenta grande potencial para ser utilizado na seleção de bovinos de
corte para eficiência alimentar. Animais mais eficientes (baixo CAR) apresentam baixo consumo e alto
potencial produtivo, contribuindo na redução dos custos e aumentando a rentabilidade no sistema de
produção. Além disso, possíveis melhorias para o meio ambiente podem ocorrer através da diminuição de
poluentes liberados pelos bovinos.
Contudo, formas mais econômicas para a avaliação dos animais para CAR devem ser
desenvolvidos, aumentando assim a disseminação da técnica e gerando mais dados para estudos.
Recomenda-se também, a estimação dos componentes de (co)variância e parâmetros genéticos, para
verificar a correlação genética e fenotípica com outras características. Uma vez que, a escolha do método
de seleção e o progresso genético dependem do conhecimento dos parâmetros genéticos (herdabilidade e
correlações genéticas) das populações e a correlação genética negativa entre os fenótipos pode fazer com
que se perca grande parte do ganho genético obtido em determinada característica ao selecionar para
outra.

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A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO ECONÔMICA DOS SISTEMAS


PRODUTIVOS DE PINTADO COM E SEM USO DE AERADORES

Rosiane Araujo Rodrigues1, Maryene Beatriz Souza Molina2, Jayme Aparecido Povh3,
Ricardo Carneiro Brumatti4
1
Mestranda em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. E-mail: rosiaraujo_19@hotmail.com
2
Aluna do Curso de Zootecnia da FAMEZ/UFMS. Bolsista do PET. E-mail: beatriz.maryene@gmail.com
3
Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia -Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul. E-mail: jayme.povh@ufms.br
4
Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul. E-mail: rbrumatti@gmail.com

Resumo: Os aeradores elétricos são utilizados para aumentar a produção de diversas espécies de peixes, e
entre elas está o pintado híbrido, produzido em diversas regiões. Para que um maior número de
produtores decida utilizar esta técnica, é necessário conhecimento referente aos custos de produção. Não
se dispõe de dados na literatura que demonstre qual seria o incremento nos custos de produção
ocasionados pela incorporação dos aeradores nas pisciculturas. Com a obtenção destes dados, será
possível nortear os produtores quanto à utilização dos aeradores de forma eficiente, proporcionando
desenvolvimento produtivo para a região e maior lucratividade para toda a cadeia envolvida.

Palavras - chave: aeração, agronegócio, Pseudoplatystoma reticulatum, viveiros

THE IMPORTANCE OF ECONOMIC EVALUATION OF PINTADO PRODUCTION SYSTEMS


WITH AND WITHOUT AERATORS USE

Abstract: Electric aerators are used to increase production of several species of fish, and among them is
the hybrid pintado, produced in different regions. For a more producers use this technique decides, it is
necessary knowledge related to production costs. No data are available in the literature showing what
would be the increase in production costs caused by the incorporation of aerators in fish farms. After
obtaining these data you can guide farmers on the use of efficient aerators, providing productive
development for the region and increased profitability for the entire chain involved.

Keywords: aeration, agribusiness, ponds, Pseudoplatystoma reticulatum

INTRODUÇÃO

Com o aumento da produção de pescado para atender uma crescente demanda de produtos de
origem aquícola, surgiram novas tecnologias. Estas possibilitam um aumento na produção, necessitam de
uma menor quantidade de recursos materiais e naturais possíveis e torna a atividade rentável e atrativa.
Uma das técnicas possíveis de ser empregada e que vem sendo utilizada em algumas pisciculturas,
são os aeradores elétricos, colocados na superfície da água dos viveiros, com a finalidade de incorporação
de oxigênio na água (Arana, 1997). Para a utilização desta técnica, além da compra do equipamento, é
necessário ter conhecimento dos custos de produção que ocorrerão pelo uso dessa tecnologia, porém até o
momento não se dispõe destes dados na literatura.
Sabe-se que seu uso possibilita a intensificação da produção, maior sobrevivência dos animais e
manutenção dos níveis adequados de oxigênio dissolvido (Arana, 1997), e que isso, demanda energia
elétrica. Por outro lado, com o aumento da produção, geram-se receitas, e através da análise econômica
desta tecnologia, haverá a possibilidade de afirmar que além dos benefícios diretos a produção, ela
também torna a atividade lucrativa.
É difícil saber se a produção obtida será suficiente para arcar com todas as despesas geradas pelos
aeradores, e por isso, muitos produtores deixam de ser beneficiados com o uso dessa tecnologia
principalmente por esta falta de conhecimento.

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Estes dados poderão ser utilizados para realização de inferências sobre as pisciculturas de todo
território nacional e principalmente na região Centro-Oeste, devido ao seu potencial produtivo e
disponibilidade de recursos naturais, dar suporte aos produtores quanto às informações a nível financeiro
e técnico e estimular futuras avaliações econômicas sobre outras espécies que também possuem interesse
produtivo para região.
A presente revisão teve como objetivo explanar sobre o mercado de Aquicultura a nível mundial e
nacional e sua importância para a economia, a importância nutricional e financeira desta produção, as
principais características da espécie pintado híbrido que vem se destacando na região Centro-Oeste, e o
uso de aeradores nas pisciculturas que trabalham com essa espécie e suas principais funções e formas de
uso, reforçando sua importância para as pisciculturas e a necessidade de obtenção de dados econômicos
que ainda restringe seu uso.

DESENVOLVIMENTO

Mercado da Aquicultura
O peixe está entre os alimentos mais comercializados no mundo e faz parte de um mercado que
opera em um ambiente cada vez mais globalizado. O peixe que é consumido em um determinado local,
muitas vezes foi produzido em um país e processado em outro, cruzando diversas fronteiras nacionais até
chegar ao consumidor final (FAO, 2014).
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO (2014),
enquanto a população mundial cresce em média 1,6% ao ano, a produção de peixes com finalidade de
abastecer este mercado, cresce 3,2% ao ano. Em 1960, a população mundial consumia 9,9 Kg/per capita
de peixe. Em 2012 esse valor subiu para 19,2 Kg/per capita. A China foi o país que mais consumiu
colaborando com esse aumento, atingindo em 2010, 35,1 Kg/per capita. O crescimento da produção está
diretamente relacionado ao crescimento populacional, aumento da renda e urbanização. Com isso
expandiu-se a produção e os canais de distribuição tornaram-se mais eficientes.
Em 2012, o total de pescado produzido mundialmente bateu o volume de 157 milhões de
toneladas, sendo a produção mundial de peixes, crustáceos e moluscos cultivados, igual a 66 milhões de
toneladas. Deste total, o Brasil participou com 707 mil toneladas de animais produzidos, e 842 mil
toneladas capturadas (pesca extrativista), totalizando 1.550 toneladas. Isso mostra que está retirando mais
do que produzindo, e mesmo assim não atende a demanda fazendo-se necessária a intensificação da
produção. Com esta produtividade, o Brasil classificou-se em 19º colocado no ranking mundial (FAO,
2012).
Os peixes consumidos em países desenvolvidos, em sua maioria, são originários de importações,
pois estes países passam por uma fase de retração em sua produção pesqueira nacional, ligada a
concorrência com países em desenvolvimento que possuem um menor custo de produção. Já nos países
em desenvolvimento, o consumo esta relacionado aos produtos disponíveis por região e pelos períodos de
sazonalidade (FAO, 2014).
Segundo dados do Ministério da Pesca e Aquicultura – MAPA (2011), a participação por estado da
região Centro-Oeste sobre o total da produção nacional foi: Mato Grosso do Sul (17.751 t), Mato Grosso
(55.414 t), Distrito Federal (634 Kg) e Goiás (15.144 t), totalizando 88.944 t, ou seja, apenas 6,2% da
produção Nacional.
No mesmo ano, mesmo o país produzindo 787 mil toneladas de peixe de água doce, importou-se
mais 50 mil toneladas atendendo um consumo interno de 837 mil toneladas. O consumo de pescados e
frutos do mar foi de 10,60 Kg/hab/ano. Já o consumo de peixes de água doce foi de apenas 4,30
Kg/hab/ano (FAO, 2011), bem abaixo do que a Organização Mundial da Saúde – OMS (2007) recomenda
(12 kg/hab/ano), deixando clara a necessidade de expansão na produção e consumo. No Brasil, a região
Norte é a maior consumidora e grande parte deste consumo é de peixe fresco (IBGE, 2010).
O setor de atividade pesqueira também gera renda, contribuindo de forma relevante na área social
com geração de empregos, sejam estes diretos ou indiretos. Em 2012, o setor (captura e aquicultura)
empregou 58,3 milhões de pessoas em todo o mundo, assegurando assim a subsistência de 12% da
população mundial (FAO, 2014).
No ano de 2014, o PIB no Brasil foi de R$ 5,52 trilhões (valores correntes), com uma variação de
0,1% em relação a 2013 (IBGE, 2015). Com toda a atividade, movimentou-se um PIB pesqueiro de R$ 5
bilhões, empregando em média 800 mil profissionais (pescadores e aquicultores) e 3,5 milhões de
empregos diretos e indiretos (BRASIL, 2014).

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De um modo geral, os produtos obtidos pela atividade pesqueira, com destaque aos peixes,
possuem elevada qualidade nutricional quando comparado a outros alimentos de origem animal como o
leite e o ovo. São fontes de minerais e vitaminas lipossolúveis A e D, ácidos graxos poli-insaturados de
cadeia longa com cinco ou seis duplas ligações e proteínas que possuem todos os aminoácidos essenciais
ao ser humano (Ababouch, 2005).
O Ministério da Saúde, através do guia alimentar para população brasileira (2014), informou que
no Brasil, dentre o grupo dos pescados, o peixe é o alimento mais consumido, porém sua oferta ainda é
pequena e são comercializados com valores altos, dificultando o aumento do consumo por parte dos
brasileiros. Isso nos remete a importância do aumento da produção de forma a viabiliza-la tornando este
alimento mais barato e disponível durante todo o ano.

Produção de pintado híbrido


O pintado é um dos peixes de água doce que possui maior valor comercial. Pode ser
comercializado em diferentes formas: sem cabeça e eviscerado, em filés ou postas, facilitando as mais
variadas formas de preparo (Prochmann, 2003).
O pintado híbrido é uma espécie que vem se destacando em produção nos viveiros na região
Centro-Oeste. É originado do cruzamento entre fêmea de cachara (Pseudoplatystoma reticulatum) e
macho de jundiá (Leiarius marmoratus). Ele apresenta melhor crescimento e fácil manejo. Por se tratar de
um peixe onívoro, aceita quase todos os tipos de rações. Seus alevinos são mais baratos pela maior
facilidade de reprodução, e sua carne é clara, sem espinhas e de textura firme (Kubitza, 2011).
A hibridação destas espécies tem se destacado nas pisciculturas brasileiras, pois possuem
características desejáveis a produção, viáveis economicamente. Através deste cruzamento interespecífico
transferem-se as características de interesse de cada uma das espécies usadas, para os híbridos resultantes
do cruzamento (Hashimoto et al., 2011).
Essa espécie se adapta bem em viveiros e consegue bom desempenho mesmo com baixos níveis de
oxigênio dissolvido, porém, para atender a atual demanda, as pisciculturas tendem a buscar meios de
intensificar a produção em uma menor área de viveiro, sendo então empregada uma maior taxa de
renovação de água, o que nem sempre é possível devido à escassez deste recurso, ou como forma
alternativa, o uso de aeradores elétricos (Kubitza et al., 1998).
Os alevinos desta espécie são comercializados a valores entre R$ 1,35 e 2,50/unidade, com
variações ligadas ao tamanho e quantidade adquirida. Seu custo de produção varia entre R$ 4,20 e
5,00/kg. Como seus custos são elevados, a produção precisa ser o mais eficiente possível para produzir
uma maior quantidade e em menor tempo para obtenção de capital giro. (Kubitza et al., 2007).
Um modelo de agregação de preço ao pintado realizado por Prochmann (2003) demonstra que o
piscicultor adquire o alevino pelo preço de R$ 1,80/unidade e até a fase de engorda tem um custo de
produção de R$ 5,20/kg. Para o varejista este peixe é vendido a R$ 6,50/kg e chega ao consumidor a R$
11,90/kg. Isso demonstra que para o produtor conseguir maior rentabilidade, precisa intensificar a
produção e aprimorar técnicas que diminuam os custos de produção.
À medida que aumenta a densidade destes animais nos viveiros visando uma maior produção, eles
ficam sujeitos a fatores estressantes relacionados principalmente a queda da qualidade da água,
ocasionando uma queda expressiva no desempenho produtivo individual (Faria, 2010). Uma possível
solução para este problema seria o uso de aeradores.
Na fase de terminação e engorda (juvenis de 1 kg), peixes nativos como o híbrido de pintado, em
condições de criação em viveiros que possuem apenas renovação de água, recomenda-se uma densidade
de 1 a 3 juvenis/m². Mantendo esta mesma renovação de água, porém utilizando aeradores, essa
densidade pode aumentar para 3 a 6 juvenis/m² (Faria et al., 2013).

Aeradores elétricos
Com a necessidade de racionalização do uso da água e uma maior densidade de peixes nos
viveiros, ocorrem variações no nível de oxigênio dissolvido, chegando a níveis críticos durante a noite,
quando ocorre apenas respiração biológica e oxidação química, colocando a sobrevivência dos peixes em
risco, fazendo-se necessário nestes sistemas mais intensivos o uso de aeradores elétricos, que implicam
em aumento no custo de produção (Arana, 1997).
Estes aeradores têm como função manter os níveis de oxigênio dissolvido adequados à produção e
sobrevivência dos peixes (Kubitza, 1998). Os aeradores também possuem a função de eliminar o dióxido
de carbono (CO2) e a amônia ionizada (NH3) (Arana, 1997). A baixa quantidade de oxigênio dissolvido

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na água é um agente estressor, e isso pode ocasionar uma queda no consumo de alimentos, diminuição do
crescimento e mortalidade dos peixes (Oakes et al., 2011).
Seu uso é indicado para locais onde a renovação de água é baixa, em sistemas que fazem a
recirculação da água e em criações onde se deseja trabalhar com altas densidades de peixe ou apenas na
fase final da engorda, pois nesta fase a biomossa é elevada (Faria et al., 2013).
Para utilização desta tecnologia primeiramente é necessário à aquisição deste equipamento, o que
já despende um valor considerável, e para atingir o propósito esperado (aumento da produtividade e
sobrevivência dos animais) necessita-se de conhecimento dos princípios da aeração para aplicação
correta. Sua utilização esta relacionada também com outras condições como período do ano (clima) e
espécie produzida (Oakes et al., 2011).
Os aeradores mais utilizados nas pisciculturas são os aeradores de superfície (paddle-Wheel), que
agitam a água mais superficialmente e são usados em tanques mais rasos, e os aeradores turbinados
(propeller-aspirator pumps), usados em tanques mais fundos, também chamados de bomba aspiradora de
hélice (Sipaúba-Tavares et al., 1999).
Os aeradores de superfície podem ser acionados através de motor elétrico ou acoplados ao eixo do
trator, e a taxa de transferência de oxigênio esta ligada diretamente ao diâmetro do cilindro. Já os
aeradores turbinados, diminuem a pressão sobre a superfície de difusão através da aceleração da água
realizada através de um eixo ligado a um motor (Arana, 1997).
Para escolha de qual aerador será utilizado deverá ser levado em conta algumas características
como: tamanho do viveiro, profundidade, forma, disponibilidade de energia elétrica, eficiência do aerador
e o tipo de despesca realizada no viveiro (Oakes et al., 2011).
Segundo Kubitza (1998), existem três tipos de aeração que podem ser realizadas nas pisciculturas:
Aeração de emergência, suplementar ou continua. A aeração de emergência ocorre quando se realiza
monitoramento diário do nível de oxigênio durante a noite e liga apenas quando este nível estiver inferior
a 2 a 3 mg/l. Quando está próximo deste nível os aeradores são acionados por 4 a 6 horas durante a
madrugada e desligados ao amanhecer do dia.
Na aeração suplementar o acionamento dos aeradores é realizado diariamente durante a noite
independente dos níveis de oxigênio dissolvido. Já a aeração contínua como sugerido pelo seu nome,
mantém a aeração constante durante todo o período de produção ou apenas nas fases de aumento da
biomassa (Kubitza, 1998). A aeração contínua feita de forma controlada, melhora a qualidade da água e a
conversão alimentar e geralmente é mais rentável do que fazer uso da aeração de emergência (Oakes et
al., 2011).
Através de experiência nas pisciculturas, Oakes et al. (2011) sugere que é possível produzir até 2
toneladas/ha de camarão ou peixe em viveiros sem uso de aerador. Com uma aeração adequada essa
produção pode chegar a 6 toneladas/ha. O fornecimento de alimento para espécies de bagres também está
relacionado à aeração: sem aerador pode fornecer até 30 kg ração/ha com produção anual de 2 a 3
toneladas/ha. Para fornecimento de 30 a 50 kg ração/ha, deve-se usar pelo menos aeração de emergência
atingindo produção anual de 3 a 4,5 toneladas/ha. Mais que 50 kg ração/ha faz-se necessário aeração
contínua atingindo produções anuais maiores que 5 toneladas/ha.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que as pisciculturas consigam abastecer o mercado de pescado que cresceu muito nos últimos
anos, espera-se que a utilização de aeradores em diversos sistemas de produção mostre-se eficiente no que
diz respeito à economicidade, geração de renda, otimização do uso de capital e dos recursos naturais.
Será necessário incentivar o uso dessa tecnologia, aumentando a produção do pintado híbrido em
todo território nacional. Posteriormente se fará necessário desenvolver metodologias de análise e
aplicabilidade pelo setor produtivo para aferição do desempenho econômico dos diversos sistemas e com
isso fornecer dados aos produtores, sobre os diferentes sistemas de produção do pintado híbrido,
facilitando a decisão quanto ao uso de aeradores.

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LITERATURA CITADA

ABABOUCH, L. Composição de peixe. In: FAO Fisheries and Aquaculture Department. Rome: FAO;
2005. Disponível em: <http://www.fao.org/fishery/topic/12318/en> Acesso em: 12/05/2015.
ARANA, V. L. Princípios químicos de qualidade da água em aquicultura: uma revisão para peixes e
camarões. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1997. 166p.
BRASIL - Ministério da Pesca e Aquicultura (2011). Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura,
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FARIA DE, R. H. S.; MORAIS, M.; SORANNA, M. R. G. S.; et al. Manual de criação de peixes em
viveiro. Brasília: Codevasf, 2013. 136p.
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Biodiversidade: pesquisa para manejo. Anais... Brasília, DF. 2011.
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PROJETO PET EQUIPE – SISTEMA DE FORMULAÇÃO DE RAÇÃO


(PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO)

Tereza Gabriela da Costa1, Thais Fernanda Farias de Souza Arco 2, Roseane de Souza
Carlos3, Larissa Albuquerque Rosa Silva4, Jaqueline Rodrigues Ferreira5, Ricardo
Carneiro Brumatti6, Gumercindo Loriano Franco7, Ibrahim Miranda Cortada Neto 8
1
Acadêmica do curso de Zootecnia – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS. Bolsista
PET Zootecnia. E-mail: terezagabrielacosta@gmail.com
2
Acadêmica do curso de Zootecnia – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS. Bolsista
PET Zootecnia Email: thaisfernandaarco@gmail.com
3
Acadêmica do curso de Zootecnia – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS. Bolsista
PET Zootecnia . Email: rose.souza.carlos@gmail.com
4
Acadêmica do curso de Zootecnia – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS. Bolsista
PET Zootecnia . Email: larissalbuquerquerosa@gmail.com
5
Acadêmica do curso de Zootecnia – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS. Bolsista
PET Zootecnia . Email: jaq.fr@hotmail.com
6
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS. Tutor do PET Zootecnia. Email:
rbrumatti@gmail.com
7
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFMS. Email:
gumercindo.franco@ufms.br
8
Doutorando em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. Email: imcortadaneto@hotmail.com

Resumo: A produção animal está estritamente relacionada com a nutrição, a qual depende basicamente
de quatro fatores: exigências nutricionais, composição e digestibilidade dos alimentos e quantidade de
nutrientes que o animal ingere. Toda e qualquer criação animal visa maximizar a produção, garantir o
máximo desempenho animal, entretanto, sabe-se que para que o animal expresse o seu máximo potencial
genético torna-se necessário garantir o atendimento de suas exigências nutricionais. Um sistema de
formulação de ração permite o balanceamento de dietas, levando em consideração as necessidades
nutricionais dos animais e a composição dos alimentos envolvidos. O presente trabalho teve como
objetivo a elaboração e extensão de um sistema de formulação de ração a ser utilizado na área de nutrição
de ruminantes, proporcionando uma melhor utilização dos alimentos nas dietas maximizando a produção
animal e fornecendo formulações de dietas de custos mínimos.

Palavras-chave: Exigências nutricionais, Formulação de ração, Nutrição de ruminantes

PROJECT PET EQUIPE - FEED FORMULATION SYSTEM


(RESEARCH, EDUCATION AND EXTENSION)

Abstract: Animal production is closely related to nutrition, which depends primarily on four factors:
nutritional requirements, composition and digestibility of food and amount of nutrients that the animal
eats. Any animal husbandry aims to maximize production, ensure maximum animal performance,
however, it is known that for the animal to express its full genetic potential becomes necessary to ensure
meeting their nutritional requirements. A diet formulation system allows balancing diets, taking into
account the nutritional needs of animals and the composition of the foods involved. This work aimed at
the development and extension of a diet formulation system to be used in ruminant nutrition area,
providing better use of foods in the diets maximizing livestock production and providing formulations of
minimum cost diets.

Keywords: Nutritional requirements, feed formulation, Nutrition ruminants

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INTRODUÇÃO

Todos os seres vivos necessitam se alimentar de forma adequada e balanceada para sua
sobrevivência, manutenção e desenvolvimento. Este conhecimento proporciona na alimentação animal, a
necessidade de uma alimentação que forneça todos os nutrientes necessários para a aptidão dos animais e
que minimize o máximo de desperdícios (VILAÇA, 2010).
A necessidade do fornecimento de alimento adequado objetivou diversos trabalhos sobre
balanceamento de ração, dando início o trabalho pioneiro da conceituação do Equivalente Feno. Este se
refere a medida do valor nutritivo de um alimento, mediante o emprego do tratamento por água, álcalis,
álcool e ácidos, desenvolvida por Thaer em 1810 (PEZZATO, 1995).
Publicações sobre exigência nutricional de várias espécies animais e tabelas com a composição dos
alimentos tiveram início na década de 40, desenvolvidas no Estados unidos na National Research Council
(NRC) da Natimal Academy of Sciences (NAS). No Brasil, diversos trabalhos de pesquisas foram
realizados para a construção de uma tabela com composição de alimentos e exigências nutricionais com
dados de todo o país, tendo sido desenvolvida pela Universidade Federal de Viçosa com a primeira
publicação em 1983 (SAKOMURA e ROSTAGNO, 2007).
Para o desenvolvimento da criação animal tem se buscado tecnologias que maximizem a produção,
através das melhorias na nutrição, manejo, genética e reprodução. O conhecimento sobre a anatomia e a
fisiologia animal auxiliam no desenvolvimento de sistemas que proporcionem ganhos na cadeia
produtiva.
Para que a formulação de ração desenvolvida por sistemas de formulação tenha efetividade na sua
execução, são necessários alguns fundamentos e requisitos, os quais envolvem conhecimento de que todas
as espécies têm exigências nutricionais especificas, e dentro da própria espécie tem-se que levar em
consideração a categoria, idade e a função fisiológica animal (PEZZATO, 1995).
Dados da composição química dos alimentos como os conteúdos de proteína bruta, fibra bruta,
cálcio, fósforo e outros, são obtidos através de análises laboratoriais e podem ser utilizados como fonte de
dados para o balanceamento de qualquer dieta animal (SAKOMURA e ROSTAGNO, 2007)
Entre tanto o teor de energia do alimento, varia de espécie para espécie e a forma com que é
expressada, como energia digestível, metabolizável, líquida ou na forma de NDT, estes fatores irão
influenciar no processo de formulação da dieta realizada pelo nutricionista (SOUZA, 2011).
Percebemos que a composição do alimento e a exigência nutricional do animal são componentes
importantes para maximizar o consumo de alimento, tornando-se elementos chaves na formulação de
ração (RODRIGUES, 1998).
Em virtude do aumento populacional o consumo de proteína animal tem aumentado, dados do da
Estatística da Produção Pecuária no 2º semestre de 2014, constatam que 8,517 milhões de cabeças de
bovinos foram abatidos neste período, comprovando a alta demanda de carne e consequentemente
aumento da demanda por nutrientes que compõem a dieta animal (IBGE, 2014).
Na cadeia produtiva animal o custo com a alimentação apresenta valores expressivo, variando de
50 a 75% dos custos totais de produção, estes percentuais apresentam grande impacto na rentabilidade da
criação de ruminantes (SANTOS et al, 2006).
Após a escolha dos alimentos que irão compor a dieta deve-se verificar a disponibilidade destes
alimentos, tanto a oferta e quantidade, limitações de uso na alimentação em função da espécie animal,
idade ou fatores na com posição nutricional que terão influência no valor econômico da ração.
A utilização de alimentos alternativos que poderão compor uma dieta, faz necessário uma
avaliação no balanço nutricional dos nutrientes fornecidos neste alimento e o custo de produção na
fabricação em relação aos diferentes preços de mercado (BELLAVER & LUDKE, 2004).
Segundo Salman (2011) o processo de formulação da ração para a alimentação dos animais é
basicamente dividido em três etapas: estimativa das exigências nutricionais dos animais, cálculo dos
nutrientes fornecidos pelos alimentos e modelagem do problema para a obtenção de uma combinação de
alimentos (ração) que possa aperfeiçoar o desempenho animal a um custo mínimo.
Este trabalho tem como objetivo a elaboração e extensão de um sistema de formulação de ração a
ser utilizado na área de nutrição de ruminantes, proporcionando uma melhor utilização dos alimentos nas
dietas maximizando a produção animal e fornecendo formulações de dietas de custos mínimos.

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DESENVOLVIMENTO

Nutrição de ruminantes
Ao longo do tempo os homens e os ruminantes tem partilhado uma longa história de produção.
Dessa forma, os estudos da fisiologia e trato digestório dos ruminantes, tem sido crescentes e cada vez
mais relevantes. (FURLAN et. al, 2006).
Para Noller (1996, citado por MACEDO JÚNIOR et. al, 2007) A produção animal está
estritamente relacionada com a nutrição, a qual depende basicamente de quatro fatores: exigências
nutricionais, composição e digestibilidade dos alimentos e quantidade de nutrientes que o animal ingere.
O valor nutritivo dos alimentos é uma medida de sua capacidade em sustentar grupos de atividades
metabólicas inerentes ao organismo animal (BLAXTER , 1956 ).
Uma peculiaridade dos ruminantes é que ao nascer, os pré-estômagos são afuncionais e tem
tamanho reduzido. A partir da 3º semana, os bezerros começam a se alimentar de alimentos fibrosos, que
iniciam a secreção salivar e o desenvolvimento ruminoreticular (FURLAN et. al, 2006), a partir de então
o animal começa a se tornar um ruminante.
Segundo MACEDO JÚNIOR et. al (2007), a fibra vem sendo utilizada para caracterizar os
alimentos e para estabelecer limites de inclusão de ingredientes nas rações. O consumo de fibra é de
grande importância para os ruminantes, pois faz o controle físico da ingestão de alimento, fornece
substrato para a manutenção e crescimento dos microrganismos presentes no rúmen, que fazem a
fermentação e produzem os ácidos graxos voláteis (AGVs), estes entram em rotas metabólicas e agem
como fonte de energia; também tem grande importância no estímulo da ruminação, que tem como função
a diminuição das partículas fibrosas.
Segundo CAÑIZARES et. al (2009), a inclusão de carboidratos não estruturais como fonte de
energia na alimentação de ruminantes tem sido observada como forma de aumentar a produtividade dos
animais. Isso porque os carboidratos não fibrosos favorecem os microrganismos produtores do ácido
propiônico, que produzem energia, assim, aumentando a produtividade dos animais. Porém, o uso
excessivo de concentrado na dieta pode levar aumentar os níveis de ácido lático no rúmen, levando o
animal a um quadro de acidose ruminal, que se não tratada, poderá levar o animal a morte.

Aditivos
No ambiente anaeróbico do rumem, os microrganismos fermentam carboidratos e proteínas para
obtenção de nutrientes necessários para seu desenvolvimento. Muitos dos resultados finais dessa
fermentação, como ácidos graxos voláteis e proteína microbiana, são as principais fontes de nutrientes
como a energia e nitrogênio para o ruminante. Em contra partida, outros produtos da fermentação, como
calor, metano, e amônia, representam perdas de Energia e proteína do alimento para o ambiente. (Morais
e Berchielli, 2006).
Da energia consumida pelos ruminantes cerca de 2% a 12% pode ser perdida na forma de metano,
um gás produzido no rúmen durante o processo de fermentação dos carboidratos. A frequente emissão de
metano resultante da fermentação ruminal depende principalmente do tipo de animal, do consumo de
alimentos e do grau de digestibilidade da massa ingerida (Berchielli et al, 2006).
Mudanças na dieta ou nos níveis de ingestão de alimentos afetam a quantidade de metano
produzido no rúmen, e os fatores envolvidos são a ingestão de alimentos, tipo e quantidade de
carboidratos na dieta, processamento da forragem, adição de lipídios e manipulação da microflora ruminal
(Johnson, 1995).
A redução na eliminação desses produtos tem concentrado os esforços dos pesquisadores
mundialmente para que, além de aumentar a eficiência de conversão dos nutrientes consumidos em
produtos consumíveis como, carne e leite, reduzir o impacto dos sistemas de produção no meio ambiente.
O manejo do trato ruminal, por meio de substâncias introduzidas na ração ou naturalmente presentes nos
alimentos, tem proporcionado alternativas para elevar a eficiência de utilização das dietas consumidas
pelos ruminantes. (Morais e Berchielli, 2006).
Os aditivos tem como função manter as características nutricionais das rações, facilitar a dispersão
dos ingredientes, facilitar o crescimento dos animais, aumentar a ingestão de alimentose melhorar a
aceitação do produto final (carne, leite, ovos) pelo consumidor (Souza e Silva)

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Os ionóforos, principalmente monensina, estão entre os aditivos mais pesquisados e estudados em


dietas de ruminantes. Nos Estados Unidos, desde 1987, a monensina tem sido usada em dietas para gado
de corte confinado e, desde 1976, para animais em pastejo (Berchielli et al, 2006).
Hoje, são conhecidos centenas de ionóforos resultantes de fermentação de vários tipos de
actinimicetos, produzidos principalmente por bactérias do gênero Streptomyces, mas somente a
monensina, lasalocida, salinomicina e laidomicina propionato são permitidos e aprovados para uso em
dietas de ruminantes.
Para Berchielli (Citado por Reis et al, 2006 ) A ação dos ionóforos no rúmen ocorre por mudanças
na população microbiana, selecionando as bactérias Gran-negativas, produtoras de ácido succínico ou que
fermentam ácido lático e inibindo as Gran-positivas, produtoras de ácidos acético, butírico, lático e H2.
Os ionóforos em relação a suas características de ação sobre a população microbiana, podem ser
classificados em três áreas:
1. Aumento da eficiência do metabolismo da energia das bactérias ruminais e/ ou do animal,
alterando a proporção dos ácidos graxos voláteis produzidos no rúmen e diminuindo a produção de
metano;
2. Melhoria no metabolismo do N pelas bactérias ruminais e/ ou do animal, diminuindo a absorção
de amônia e aumentando a quantidade de proteína de origem alimentar que chega ao intestino delgado;
3. Diminuição das desordens resultantes da fermentação anormal no rúmen, como ácidos e
timpanismo.
A implementação do uso de aditivos microbianos contendo células vivas de microrganismos e seus
metabólitos tem aumentado em resposta á demanda para o uso de substâncias “naturais”, promotoras de
crescimento que que melhorem a eficiência da produção em ruminantes. A suplementação com
microrganismos benéficos, espera prevenir o estabelecimento de microrganismos que não são desejáveis e
reestabelecer a microfilia normal do trato digestório o que chamamos de “probiose” (Reis et al, 2006).
O uso de suplementação com ácidos graxos na dieta de ruminantes é realizada para aumentar a
densidade energética da dieta, geralmente para manipular a fermentação ruminal através da alteração na
digestão e absorção do nutrientes. O fornecimento de lipídeos para ruminantes geralmente provoca
redução na digestibilidade da fibra, queda na concentração de protozoários, aumento no conteúdo de
ácidos graxos voláteis e redução na produção de metano. (Nagajara et al, 1997)
Para fonte de ácidos graxos insaturados tem-se explorado a utilização da canola com 60% de ácido
oléico (C18:1), da soja com 50% de Linoléico (C18:2), e da linhaça com 47% do linolênico (C18:3)
(Hiristov et al, 2003).
Na atualidade muitos aditivos apresentam potencial para manipular o ambiente ruminal,
diminuindo a excreção de compostos nitrogenados e a emissão de metano que além, de representarem
ineficiência do processo de fermentativo do rúmen, constituem-se em importantes fontes de poluição
ambiental.

Níveis de exigência
Toda e qualquer criação animal visa maximizar a produção, garantir o máximo desempenho
animal, entretanto, sabe-se que para que o animal expresse o seu máximo potencial genético torna-se
necessário garantir o atendimento de suas exigências nutricionais.
A exigência nutricional diz respeito a quantidade obrigatória de nutrientes para que o animal
exerça alguma função, contudo ao se selecionar quais os alimentos a comporem a dieta deve-se
considerar a energia liquida deles, ou seja, aquela energia restante das perdas pelo incremento calórico
que envolve reações metabólicas que geram calor, exemplos tais como a manutenção da temperatura
corporal e a respiração.
Portanto a energia liquida oriunda das perdas durante o processo digestivo seguem destinos como,
primeiramente, a mantença. A energia liquida de mantença está envolvida ao funcionamento do
organismo, estando relacionada a funções como síntese de hormônios, respiração, contração muscular,
batimentos cardíacos, metabolismo endócrino, etc., sendo definida como a quantidade de energia
equivalente à quantidade de calor produzido pelo animal em estado de jejum. (Pires, 1991).
A exigência de energia para mantença é variável e depende de diferentes fatores, entre os quais se
encontram o peso, atividade, meio ambiente, genética, nível de produção, composição corporal, condições
fisiológicas e corporal, raça, sexo e aspectos nutricionais (Solis, 1978; Pires, 1991). Após garantir o
funcionamento de seu organismo, os animais direcionam o restante da energia liquida à produção, ou seja,
as exigências liquidas de energia para ganho de peso ou crescimento que são estimadas pela quantidade

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de energia depositada como matéria orgânica não gordurosa, principalmente a proteína, além da
depositada como gordura (NRC, 1996). Desta maneira a energia liquida de produção está relacionada ao
produto, que pode vir a ser uma gestação, ganho de peso, lactação, crescimento corporal. Sendo assim não
só a espécie animal é importante na escolha dos nutrientes a compor a dieta, como também a categoria a
qual será fornecida.
Bovinos destinados a produção de carne, por exemplo, exigem uma energia de mantença
correspondente à 70 % das exigências totais da energia dos animais (NRC, 1996). Já segundo Ferrell &
Jenkins o restante da energia liquida é utilizada para a síntese de tecidos, proteína e gordura, sendo assim
denominada de energia liquida de ganho. As exigências das energias liquidas de mantença e produção
tornam-se irrelevantes nos sistemas produtivos cárneos.
Um outro fator que interfere na formulação de dietas eficazes é conhecer a composição química
dos valores de energia metabolizável e da digestibilidade nutricional dos ingredientes (Paula et al., 2002),
sabe-se portanto que a disgestibilidade dos alimentos, bem como a composição bromatológica podem ser
influenciados por fatores como variedade da semente plantada, condições climáticas durante o
desenvolvimento, as práticas culturais adotadas, a colheita, processamento, armazenamento ( Rodrigues et
al., 2001; Parsaie et al., 2006).
Essa composição bromatológica é realizada através de análises laboratoriais, visando a
determinação da matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), extrato etéreo
(EE), cinzas, minerais e energia bruta (EB). É indispensável também que se realize o controle de
qualidade dos alimentos, verificando a possível existência e as concentrações de fatores antinutricionais.
Segundo Gontzea & Sutzescu (1968) esses fatores podem fazer parte de metabolismos especiais,
ou até mesmo como elementos de órgãos de defesa de reprodução. Saber se o alimento possui algum tipo
de fator antinutricional e se a percentagem existente no alimento causa danos à saúde animal influência de
forma expressiva a viabilidade de sua utilização na formulação da dieta.
Alguns alimentos que possuem lectinas em sua composição possui seu uso limitado, uma vez que
são inibidores de tripsina e tanino, essas substâncias provocam redução no desempenho de monogástricos,
pois altera a atividade proteolítica, reduzindo-a e consequentemente interfere na utilização de
aminoácidos livres (Bierolai 1973), reduzindo também a absorção de gorduras, conforme observou Sklan
et al. (1973).
Portanto, torna-se necessário que os alimentos disponíveis para a alimentação animal sejam
avaliados um a um, afim de que se estabeleça um banco de dados com a finalidade de auxiliar o
nutricionista na formulação de dietas que atendam a todas as espécies animais.
Em se tratando de ruminantes, os mesmos possuem uma vantagem alimentícia em relação aos não
ruminantes, uma vez que são capazes de transformar alimentos não essências aos não ruminantes, como
forrageiras, em produtos de valor econômico.
Contudo apenas a utilização de volumosos na alimentação de ruminantes não são capazes de
garantir a sua máxima produtividade, pois a adição de concentrado a dietas volumosas aumenta
parcialmente a eficiência de utilização de energia metabolizável para mantença e ganho (NRC, 1984).
Sendo assim tanto ruminantes quanto não ruminantes precisam de alimentos concentrados, minerais e
vitaminas em suas dietas.
Desta forma, segundo Boin (1995) o balanceamento de rações e suplementos para determinados
níveis de desempenho, assim como a estimativa do desempenho a partir de dietas balanceadas, requerem
o conhecimento das exigências nutricionais para as diferentes funções e para os diferentes níveis de
desempenho.
Portanto para que os animais exerçam suas funções, eles requerem energia que é definida como a
capacidade de realizar trabalho, sendo a energia utilizada pelos animais obtida através de processos
digestivos e metabólicos. Sua deficiência manifesta-se na falta de crescimento, perdas de reservas
corporais além de falhas reprodutivas afetando negativamente a produtividade animal (Freitas et al.,
2006).
Desta forma ao se avaliar qual a viabilidade do alimento na formulação da dieta, devem-se levar
em consideração aspectos como: composição do alimento, presença de fatores antinutricionais,
concentrações destes fatores e categoria animal, afim de que a escolha do alimento seja a melhor possível
garantindo assim o atendimento das exigências nutricionais da espécie em questão, buscando o máximo
de produtividade no rebanho.

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Sistema de formulação de ração


A formulação de ração parte do pressuposto de atender as necessidades nutricionais dos animais,
para que possam tem um bom desempenho produtivo e reprodutivo, a um mínimo custo possível
(SALMAN, 2011).
Para o balanceamento das rações devem seguir etapas como a escolha dos animais e suas
necessidades energéticas e nutricionais, os alimentos e seus componentes químicos e energéticos, realizar
o balanceamento de proteína bruta e energia, e depois de concluir os cálculos verificar se as exigências do
animal foram atendidas (JÚNIOR et al. 2005; SALMAN et al. 2011).
Para tanto o conhecimento da digestibilidade animal e a composição dos alimentos são essenciais
para a formulação de uma dieta balanceada de acordo com as necessidades nutricionais dos animais, além
de ser um cálculo que requer muito tempo, pois é necessário calcular alimento por alimento e nutriente
por nutriente (SOUZA, 2011).
Se a dieta é mal formulada pode desencadear problemas metabólicos, como carência ou excesso de
nutrientes e minerais, assim como também pode encarecer a ração aumentando os custos de produção e
diminuindo o desenvolvimento do rebanho (SOUZA, 2011; TOKARNIA et al. 2000).
Os alimentos a serem utilizados na ração devem estar em ótimas condições sanitárias, e sobre tudo
a mistura deve ser bem homogeneizada de tal forma que o animal não consiga selecionar (SALMAN;
OSMARI; SANTOS, 2011).
Existem vários métodos para formulação de rações, podem ser por softwares, planilhas de Excel,
estas são as mais rápidas para se formular, ou ainda tem a forma manual, como os sistemas de equações
simultâneas, que misturam vários alimentos, ou ainda pelo quadrado de Pearson, que permite o cálculo de
2 alimentos para formar uma mistura (SALMAN et al. 2011).
O sistema Viçosa de formulação de ração, desenvolvido por Lana (2000), contém tabelas dos
alimentos e suas composições, avaliações de suplementos e recomendações de dietas a serem usadas em
bovinos.
Lana (2002) objetivou demonstrar a eficiência do sistema de Viçosa para suplementação alimentar
de bovinos em pastejo. Pois viu a necessidade de suplementação, já que as gramíneas mudam a
composição e assim a sua digestibilidade ao longo do ano. Devido ao teor de lignina, fibra, vitaminas,
minerais ocasionando a perda de peso dos animais. E concluiu que o sistema permite um bom
balanceamento das rações, oferecendo os nutrientes de acordo com as necessidades dos animais e
considerando a composição das pastagens em cada época do ano.
O sistema de Viçosa também foi usado por Júnior et al. (2005) em seus estudos sobre validação
dos sistemas, assim como os sistemas CNPS e NRC (1996) para formulação de dietas para bovinos em
condições brasileiras. Concluiu que o NRC (1996) e o sistema de Viçosa tiveram boas predições para
ganho médio diário, porém foram ineficazes para predição do consumo de matéria seca. Já o CNCPS
apresentou resultados contrários.
Para Júnior et al. (2005) serão necessários mais estudos, pois o CNCPS e o NRC (1996) são
sistemas de outros países com clima temperado, alimentos com composição diferentes dos usados no
Brasil, além dos grupos genéticos serem de raças Britânicas, enquanto que no Brasil a predominante são
as Zebuínas.
Já o modelo elaborado pelo pesquisador José Marques da Silva, para cálculo de ração específico
para bovinos, disponibilizado pela Embrapa de corte, são usada 3 abas do Microsoft Excel 97. São
utilizados pelo sistema 48 alimentos e sua composição, com balanceamento de concentrado, proteína,
energia líquida, cálcio e fósforo, de acordo com cada categoria animal e instruções de uso para o cálculo
da ração.
Porém um dos pontos fracos do modelo da Embrapa foi o uso de apenas dois minerais, sendo que
pode causar a deficiência de outros minerais. Além de ter que copiar ingrediente por ingrediente, que o
torna muito trabalhoso (SOUZA, 2011).
Souza (2011) ao realizar seus estudos sobre sistemas para cálculos de nutrição animal desenvolveu
um protótipo para cálculo de ração por meio da análise de três modelos. Observou que quanto mais
alimentos e nutrientes envolvidos, mais tempo se dispõe para a formulação, ainda mais se o sistema não
for adequado.
Analisou os programas, para formulação de dietas para cães e gatos (PPFR-DogCat) da UNESP, o
programa UFFDA – User Frendly Feed Formulation, para facilitar a formulação de ração de forma
amigável, da universidade da Georgia. No PPFR-DogCat detectou pontos fortes como sendo o uso da

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função macro, que bloqueia as células para seguranças de incompatibilidade de Office diversos, porém
uma falha grande foi a falta de padronização das planilhas. E ao testar UFFDA observou o uso do
conceito mínimo e máximo, porém a grande desvantagem do sistema é a disponibilidade apenas no
idioma inglês.
Assim Souza (2011) ao desenvolver seu sistema para cálculo de nutrição animal, focou no bem
estar do formulador, permitindo operar via web ou por dispositivos móveis, além da tradução para outros
idiomas. O sistema também leva em consideração o limite de tolerância alimentar em relação ao mínimo
e máximo, usou a linguagem PHP que realiza a formulação comparando com as necessidades nutricionais
do animal, e se ela está sendo atendida ou não.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um sistema de formulação de ração permite o balanceamento de deitas, levando em consideração


as necessidades nutricionais dos animais e a composição dos alimentos envolvidos. Com isso torna
possível determinar como as necessidades dos animais estão sendo atendidas e proporcionar uma melhor
utilização das dietas, com menos custo e maior produção.

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USO DO SISTEMA DE ANÁLISE COMPUTADORIZADA DO EJACULADO


BOVINO

Tailisa de Souza Silva¹; Eder Cristian Queiroz Serrou da Silva¹; Deiler Sampaio Costa²;
Fabio José Carvalho Faria²; Daniel França Mendonça Silva¹; Fernando Henrique Garcia
Furtado¹; Caroline Eberhard Buss¹; Francisco Manuel Junior¹; Fernanda Hvala de
Figueiredo¹; Willian Vaniel Alves dos Reis¹; Tainara Candida Ferreira¹; Thycianne
Rodrigues Aguilar¹; Zelina dos Santos Freire¹; Gabrielle Ricardes da Silva¹

¹Nucleo de Produção e Reprodução Assistida, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia,


Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil.
2
Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul.

Resumo: Atualmente sabe-se que a análise do ejaculado é essencial para se tentar predizer a qualidade
seminal. Entretanto os protocolos usados para essas avaliações ainda não são eficientes o bastante, o que
ocasiona em muitas variações nos resultados obtidos ,principalmente devido a subjetividade da avaliação
da motilidade espermática. Para reduzir esse problema, sistemas de análise computadorizada de sêmen
(CASA) vêm sendo desenvolvidos para obtenção de acurácia e velocidade nas análises, mas seu uso ainda
é limitado devido ao alto custo dos equipamentos e a padronização das avaliações realizadas. Assim
sendo, objetivou-se com esta revisão abordar os aspectos mais relevantes sobre a análise computadorizada
do sêmen.

Palavras-chave: qualidade seminal, sistema de analise computadorizada de sêmen (CASA), acurácia

COMPUTER ASSISTED SPERM ANALYSIS (CASA): A REVIEW

Abstract: It is now known that the analysis of the ejaculate is essential to try to predict the seminal
quality. However the protocols used for these evaluations are not yet efficient enough, which leads in
many variations on the results, mainly due to the subjectivity of the evaluation of sperm motility. To
reduce this problem, computer analysis of semen systems (CASA) have been developed to achieve speed
and accuracy in analysis, but its use is still limited due to the high cost of equipment and the
standardization of the evaluations. Therefore, the aim with this review address the most relevant issues on
computerized analysis of sêmen.

Keywords: seminal quality,computer analysis of sêmen systems(CASA),accuracy

INTRODUÇÃO

A avaliação da qualidade espermática tem sido apontada por muitos autores como importante fator
na seleção de um ejaculado (Verstegen et al., 2002).Entretanto ,essas avaliações tem sido feito
rotineiramente por técnicas subjetivas ,o que pode comprometer a avaliação seminal devido as variações
entre técnicos e limitação humana. As características microscópicas avaliadas rotineiramente são: a
motilidade, vigor ,concentração e morfologia espermática. A motilidade espermática é estimada com uma
gota de sêmen entre lamina e lamínula, onde será avaliado a porcentagem de espermatozoides que estão
se movimentando ,essa medida é classificada 0 á 100%,um ejaculado viável deve ter no mínimo 30%.O
vigor ,também é analisado com uma gota de sêmen entre lamina e lamínula , só que ao invés de se avaliar
a porcentagem , será levado em consideração a velocidade que a cauda se movimenta ,classificamos esses
parâmetros de um á cinco ,sendo um vigor considerado bom no mínimo três ,abaixo disso é considerado
um espermatozoide inviável pois o vigor esta relacionado intimamente com a boa qualidade do
espermatozoide e a capacidade de fecundação no ovócito. A morfologia é expressa em esfregaços
corados, onde encontraremos as anormalidades dos espermatozoides, dentro dessas anormalidades
existem os defeitos maiores e defeitos menores. Quando analisado em grupo, os defeitos maiores não
devem ultrapassar mais que 10% e os menores 20% pois se deve ter no máximo 30% de defeitos, ou 70%

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de células normais .Quando analisado individualmente ,os maiores não devem ultrapassar 5% e os
menores 10%,esses parâmetros estão fixados quando são avaliadas um total de 200 células. Tem se
tornado de suma importância a classificação da morfologia do espermatozoide, pois ela é um importante
indicador de fertilidade, assim como realça os danos por agentes físicos ou químicos. Ambas as técnicas
são realizadas sob o uso de microscopia optica. O fato de ser analisados por pesquisadores experientes,
não anula a possibilidade de ocorrer resultados imprecisos, pois as analises são influenciadas por uma alta
variação entre observações e observadores. Esta imprecisão deriva, em parte, da natureza subjetiva dos
testes usados, da variabilidade entre técnicos e das diferenças na implantação de padrões para a avaliação
(Arruda, 2000; Arruda et al., 2004, 2005, 2006b, Celeghini, 2005).A motilidade espermática é
comumente apontada como uma das mais importantes características associadas com a habilidade
fertilizante do espermatozóide (Cox et al., 2006), porém, quando mensurada microscopicamente, não é
bem correlacionada com a fertilização in vivo ou in vitro, pois além do erro humano durante a avaliação
subjetiva desse parâmetro, existe ainda a limitação do método para avaliar detalhadamente as
características do movimento espermático (Liu et al., 1991).Para reduzir a subjetividade, nos últimos 15
anos, sistemas automáticos para análise computadorizada de sêmen (CASA) vêm sendo desenvolvidos
com o objetivo de fornecer dados acurados da motilidade de cada espermatozoide e resumo estatístico das
subpopulações (Verstegen et al., 2002).

DESENVOLVIMENTO

Computer Assisted Sperm Analysis - CASA


Segundo Amann e Katz, 2004,O CASA (Computer Assisted Sperm Analysis) é um sistema
automático (hardware e software) utilizado para visualizar, digitalizar e analisar imagens sucessivas,
fornecendo informações acuradas, precisas e significativas do movimento individual de cada célula bem
como de subpopulações de células espermáticas. O primeiro sistema CASA para comercialização
desenvolvido especificamente para avaliação da motilidade espermática foi o CellSoft® (CRYO
Resources, Montgomery, New York) comercializado por volta de 1985 para uso em laboratório de
pesquisa e laboratórios médicos (Mack et al.,1988). Em 1986, surgiu o HTM 2000® Hamilton-Thorn
Research, Beverly, Massachusetts, também desenvolvido especificamente para esse tipo de análise
(Amann e Katz, 2004). Em 1992, surgiu o HTM-IVOS Sperm Analyzer®, um sistema integrado de
computador e microscópio que permitia a aquisição de imagens digitalizadas, fornecendo classificação
automática dos movimentos espermáticos, informando porcentagem de móveis, média de velocidade e
porcentagem de progressivos (Iguer-Ouada e Verstegen, 2001). Atualmente, a HTM disponibiliza versões
como HTM-IVOS 10® e HTM-CEROS 12.1®. A versão HTM-IVOS 10® é proposta para avaliação do
sêmen humano, mas já foi validado para outras espécies como a canina. A versão HTM-CEROS 12.1®
permite ainda avaliar morfologia e morfometria espermática (Iguer- Ouada e Verstegen, 2001).
Atualmente em adição ao HTM, existe outro sistema comercial de CASA, o SMCMA ® (Stromberg-
Muka Band Feilnback, Germany; Davis e Katz, 1993), entre outros disponíveis no mercado. Independente
do fabricante, os vários instrumentos presentes no mercado apresentam um objetivo funcional
semelhante, mas diferem em termos de óptica usada e de software para a identificação do
espermatozoides e a construção da trajetória, respectivamente (Kraemer et al., 1998).
Fazer com que os resultados sejam iguais em diferentes situações e laboratórios, principalmente
em relação aos parâmetros da motilidade espermática, é o principal objetivo da tecnologia CASA(analise
computadorizada na avaliação de sêmen). Este equipamento ainda mensura o numero de células por
unidade de volume e captura dados aproximados para classificação morfometria de cada célula
examinada .O fato de a cinética espermática ser essencial para a determinação do potencial de fertilidade
dos espermatozoides faz com que a avaliação automatizada se torne muito importante.

Funcionamento da tecnologia CASA


Primeiramente deve-se preparar a concentração da amostra a ser avaliada, a mesma deve ficar
entre 20 à 50 milhões de espermatozoides. Se estiver abaixo de 20 milhões a amostra estará diluída ,se
ultrapassar 50 milhões , muito concentrada e ambas atrapalham o resultado da avaliação. A temperatura é
fator importante, deve estar sempre entre 35 e 37 °C ate 38 °C dependendo da espécie que será analisada.
Essa amostra é colocada em lamina especifica para a tecnologia do CASA .Houve divergência quando a
avaliação foi executada com lamina e lamínula convencionais. O programador devera selecionar o animal
do sêmen em questão, bovino, ovino, felino, canino, entre outros, para que o sistemas possa fornecer os

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parâmetros corretos para a avaliação, como tamanho máximo e mínimo aceitável para a cabeça do
espermatozoides, com isso partículas que estiveram abaixo ou acima desse limiar preestabelecido, que
varia de espécie para espécie, serão interpretados como parte do fundo. O tipo de diluidor usado pode
interferir na avaliação, segundo Farel et al..,1996 O efeito das soluções de diluição sobre os parâmetros de
cinética tem sido pouco estudado, mas tem sido demonstrado que a diluição e o tipo de meio diluidor
podem afetar a análise de motilidade. A frequência na aquisição de imagens é de suma importância, Davis
e Katz (1993) demonstraram que em baixa freqüência de aquisição de imagens, erros nos valores médios
de ALH, LIN, VCL e BCF eram de 0,9, 57, 33 e 33% respectivamente, mas quando a freqüência foi
aumentada para 60 Hz os erros eram reduzidos para 0,05, 11, 9,5 e 8.9%, respectivamente, assim, uma
melhora significativa na acurácia das avaliações foi encontrada quando a freqüência de aquisição foi
aumentada de 30 para 60Hz. No método de analise espermática computadorizada é utilizada a
videomicrografia, onde é utilizado o processo de analise sequencial do movimento do espermatozoide.
Sabendo-se que a frequência do batimento flagelar do espermatozoide é muito alta ,ultrapassando 70
batimentos/s ,que está acima da capacidade do sistema que é 25-60 imagens/s, a peça avaliada então é a
cabeça do espermatozoide ,por ter uma frequência entre os valores especificados acima. O processo de
videomicrografia , de acordo com Amann e Katz,2004,as imagens são capturadas por um sistema
estroboscópico acoplado a um computador, que as digitaliza ,e um software, que as agrupam, formando
um vídeo. O trajeto é obtido por meio de marcações de pontos onde a cabeça do espermatozoide está em
cada foto. As trajetórias obtidas são matematicamente processadas permitindo a definição dessas
trajetórias de forma numérica. Outra possibilidade de métodos de funcionamento relatada por
Mortimer,2000 foi que por meio do uso de microscópio com contraste de fase, as células espermáticas são
mais claramente visualizadas no meio onde elas se encontram, o que permite a detecção e o rastreamento
dessas células. O processo de detecção automática das células, denominado segmentação, é então
realizado pelo sistema comparando a intensidade da imagem adquirida com um limiar de intensidade pré-
estabelecido. Os resultados desses processamentos são refletidos em uma série de parâmetros que
definem precisamente o exato movimento de cada espermatozoide(QUINTERO-MORENO et al., 2003).
Esse processo acontece para que possa se classificar cada espermatozoide como; móvel não
progressivo(%) ,quando o espermatozoide tem movimentação mas essa movimentação tem uma
progressividade mínima, essa classificação não é desejável, pois um espermatozoide que não tem uma
progressividade significativamente boa ou acima do mínimo estipulado, suponha-se que tenha uma taxa
de fertilização no ovócito abaixo do esperado; móvel progressivo(%),é a porcentagem de célula
movendo-se progressivamente, esse fator é muito importante porque mostra no geral a capacidade do
espermatozoide se locomover, o que afeta diretamente nos valores de fecundação e imóveis(%) que será
a porcentagem de espermatozoides mortos, essa taxa não pode ser muito elevada senão os
espermatozoides são considerados inviáveis. Normalmente essa classificação se dá por cores diferentes,
para a compreensão mais rápida e eficaz do observador. Em seguida, uma série de outras características
de movimento espermático é calculada, fornecendo parâmetros de motilidade como: velocidade
curvilínea (VCL), velocidade média da trajetória (VAP), velocidade linear progressiva (VSL), amplitude
de deslocamento lateral da cabeça (ALH), frequência de batimento flagelar cruzado (BCF),
retilinearidade (STR) e linearidade (LIN). Estes valores são usados para diferenciar os padrões do
movimento espermático. Quando o CASA é usado, todos os espermatozoides em um campo de visão e
suas trajetórias são reconstruídas simultaneamente. Todas as células espermáticas de um campo são
identificadas e avaliadas antes que as imagens do próximo campo, captadas na sequência, sejam
analisadas (Donald et al.,1988). Velocidade curvilínea (VCL- µm/s): É a velocidade da trajetória real do
espermatozoide, é sempre a maior das três velocidades e serve como elemento de cálculo para a
linearidade. Nesse fator é medido o espaço percorrido a cada movimentação do espermatozoide. A
velocidade linear progressiva (VSL- µm/s): É a velocidade média em função da linha reta estabelecida
entre o primeiro e o último ponto da trajetória do espermatozoide, capturada naquele segundo em questão.
É sempre a mais baixa das três velocidades. Velocidade média da trajetória (VAP- µm/s): é a velocidade
da trajetória média do espermatozoide. Em casos onde a trajetória da cabeça espermática é muito regular
e linear com pouco movimento lateral da cabeça, a VAP é quase a mesma que a VSL, porém com
trajetórias irregulares, não lineares ou onde existe um alto grau de movimento lateral, a VAP será maior
que a VSL. Os três parâmetros citados acima influenciarão diretamente na capacidade desse
espermatozoide chegar ao ovócito. Amplitude de deslocamento lateral da cabeça (ALH - µm): é a
amplitude do deslocamento médio da cabeça do espermatozoide em sua trajetória real. A mensuração
desse parâmetro esta relacionada com a capacidade de penetração na zona pelúcida, quanto mais intenso

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for esse deslocamento, maior será a chance do espermatozoide fertilizar o ovócito, assim a ALH é um dos
parâmetros que tem efeito direto na fertilização. Frequência de batimento flagelar cruzado (BCF- Hz): Ela
foi desenvolvida visando fornecer indicações da frequência do batimento flagelar baseado na frequência
do movimento da cabeça, devido ao fato do batimento flagelar ter uma frequência muito elevada o que
dificultaria avaliação do mesmo. Esse padrão é importante para mostrar a agilidade do espermatozoide.
Retilinearidade (STR - %): É a relação percentual entre VSL e VAP. Estima o quanto o espermatozoide
se afasta da trajetória percorrida considerando-se uma linha reta. Linearidade (LIN - %): Relação
percentual entre VSL e VCL, ou seja, é a porcentagem de célula que tem index linear > 0.7, ângulo
absoluto menor que 25° e ângulo algébrico menor que 3°. Os valores de velocidade são determinados
como percurso relevante percorrido em um período de tempo e são representados em µm/s ,enquanto os
valores de LIN e STR são determinados como raios dos valores de velocidade. Quanto mais o
espermatozoide se afasta da velocidade linear em linha reta ,menor será a sua linearidade. Nenhum teste
isolado é capaz de predizer a fertilidade de uma amostra de sêmen, porem o exame de varias
características,visualizado num conjunto de fatores, pode determinar uma maior potencia na fertilidade.
Na tentativa de correlacionar os parâmetros do CASA com a taxa de fertilização, verificou-se que os
valores de VAP, VSL e VCL são significativamente maiores em amostras que produzem mais de 50% de
ovócitos fertilizados do que naquelas onde a taxa de fertilização de ovócito é menor que 50% (Verstegen
et al., 2002).Amostras com elevados valores desses parâmetros de velocidade e de LIN e BCF apresentam
melhor migração e penetração no muco cervical (Mortimer, 2000; Verstegen et al., 2002).

Vantagens e desvantagens
Grandes resultados têm sido encontrados em algumas pesquisas, o que não seria viável sem a
tecnologia CASA. O sistema tem sido útil no monitoramento da qualidade espermática, na pesquisa de
novos diluidores seminais, crioprotetores ou outros tipos de processamento. É muito importante na
quantificação da hiperativação, no estabelecimento da relação entre qualidade seminal do doador e a real
fertilidade da amostra nas avaliações gerais para o uso de machos na reprodução. O sistema conta ainda
com um banco de dados que permite o armazenamento de informações relevantes de cada paciente, muito
confiável, versátil, de fácil uso e configuração. As avaliações são executadas rapidamente, e os resultados
facilmente catalogados, permitindo alto nível de automação em laboratórios e universidades. Ainda
existem alguns problemas na utilização de sistemas automatizados, como a concentração de
espermatozoides menor que 20milhões/ML ou maior que 100milhões/ML, sendo assim, sempre que
houver diferença entre a análise manual e a computadorizada, deve-se prevalecer a manual. O alto custo
do equipamento e a necessidade de validação, o controle de qualidade e a padronização das avaliações
realizadas são algumas das dificuldades em usar essa tecnologia. A experiência do avaliador,
identificação da espécie, qualidade da câmera utilizada, temperatura de análise, tempo entre a colheita da
amostra e sua análise, equipamento usado, concentração espermática e frequência de aquisição de
imagens (Davis e Katz, 1993; Farrel et al., 1996; Mortimer, 2000), são fatores que também podem afetar
a estimativa dos parâmetros analisados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos últimos tempos a reprodução tem se contemplado com importantes avanços tecnológicos. A
fim de automatizar o processo de avaliação seminal os principais centros de pesquisa do país tem buscado
aperfeiçoar o uso do CASA com a finalidade de aumentar a eficiência reprodutiva, tanto em seres
humanos quanto em animais. Devido à complexidade das características espermáticas, essa tecnologia
vem nos proporcionando um alto nível de confiabilidade, principalmente se tratando de pesquisas
laboratoriais que exijam resultados precisos .A tecnologia CASA , associada à outros métodos de
avaliação de espermatozoide, os quais são essenciais para a classificação de um bom ejaculado, trará
maior exatidão nos resultados esperados a campo.

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LITERATURA CITADA

ARRUDA, Rubens Paes et al.Importância da qualidade do sêmen em programas de IATF e TETF.


Laboratório de Biotecnologia do Sêmen e Andrologia, Centro de Biotecnologia em Reprodução Animal,
FMVZ/USP.
Bergstein T.G; Weiss R.R; Bicudo S.D; Técnicas de análise de sêmen. Departamento de Reprodução
Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual
Paulista, Botucatu, São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v.38,
n.4, p.189-194, out./dez. 2014. Disponível em www.cbra.org.br.
MURADAS, Priscilla Ricabone; WEIS, Romildo Romualdo; KOZICKI Luiz Ernandes; Avanço na
avaliação espermática de equinos: revisão. Rev. Acad., Ciênc. Agrár. Ambient., Curitiba, v. 11, n. 3, p.
299-313, 2013
ARRUDA, Rubens Paes et al. Morfologia espermática de touros: interpretação e impacto na
fertilidade. Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo Horizonte, v.39, n.1, p.47-60, jan./mar. 2015. Disponível em
www.cbra.org.br
ARRUDA, R. P et al. Métodos de avaliação da morfologia e função espermática: momento atual e
desafios futuros. Centro de Biotecnologia em Reprodução Animal, Laboratório de Biotecnologia do
Sêmen e Andrologia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São de Paulo
(USP), Pirassununga, SP, Brasil. Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo Horizonte, v.35, n.2, p.145-151,
abr./jun. 2011. Disponível em www.cbra.org.br
MATOS, D. L. et al. Análise computarizada de espermatozóides: revisão de literatura. Programa de
Pós-graduação em Ciências Veterinárias – FAVET/UECE Universidade Estadual do Ceará, Campus do
Itaperi, CEP: 60700-000, Fortaleza-CE. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v.32,
n.4, p.225-232, out./dez. 2008. Disponível em www.cbra.org.br
GALLEGO, ANDRÉS MEJÍA. Avaliação das características da motilidade (CASA), morfologia e
funcionalidade da membrana plasmática (HOST) de espermatozoides bovinos sexados por
citometria de fluxo. Departamento de reprodução animal, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia , Universidade de São Paulo.
C.P. Freitas-Dell’Aqua. Metodologia de avaliação laboratorial do sêmen congelado bovino. Faculdade
de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, Botucatu, SP, Brasil. Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo
Horizonte, v.33, n.4, p.213-222, Oct./Dez. 2009. Disponível em www.cbra.org.br.
SOUSA, Daniel Bartoli. Variabilidade das sub-populações de espermatozóides avaliadas pela
cinética em sistema computadorizado e combinação de sondas fluorescentes como parâmetro
qualitativo do sêmen congelado de ovinos. Tese (doutorado) - Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia, Universidade Estadual Paulista. Botucatu – SP - Janeiro 2007.

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PROJETOS

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AÇÕES DESENVOLVIDAS PELO PROJETO DE EXTENSÃO LEISHNÃO DA UFMS EM 2015

Luciana Rocha Costa¹, Lais Fiorese Cavalcante², Fernanda Battistotti Barbosa², Natália Trindade
Azevedo Marques³, Gabriela Tjhio César Pestana Barros³, Vitória Machado Neres Gonçalves³, Juliana
Arena Galhardo4

¹Acadêmica de Enfermagem da UFMS. Bolsista de extensão PAEXT/2015. Email: lucianarocha_14@hotmailcom


²Acadêmica de Medicina Veterinária da UFMS. Bolsista de extensão PAEXT/2015. Email: lais_fiorese@hotmail.com,
fernandabattistotti@hotmail.com
³Residente em Zoonoses e Saúde Pública do Programa de Residência em Medicina Veterinária da UFMS. E-mail:
nati_trindade@hotmail.com, gabipestanabarros@gmail.com, vitorianeres@hotmail.com
4
Docente do Curso de Medicina Veterinária da UFMS. Coordenadora do Projeto de Extensão LeishNão 2015. Email:
jugalhardo@gmail.com

Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar as ações realizadas pelo “Projeto LeishNão:
educação sanitária como ferramenta de controle e prevenção da leishmaniose em Campo Grande-MS” no
ano de 2015. Na região Centro-Oeste do Brasil, o Mato Grosso do Sul apresenta o maior número de casos
notificados de leishmaniose visceral humana, sendo a maior parte destes ocorrendo em Campo Grande. O
propósito desta ação é continuar a educação em saúde nas áreas de maior incidência da doença em
humanos e cães do município. Nesta terceira edição do projeto foram executadas nas instituições
parceiras: atividades lúdicas, palestras, teatros e distribuição de cartilhas e folders. Espera-se que com este
projeto a população esteja esclarecida e conscientizada sobre a importância da doença, os métodos de
prevenção e que haja, gradualmente, a diminuição da incidência da doença como reflexo da prática
popular dos métodos de prevenção.

Palavras-chave: Educação em saúde, Leishmaniose visceral, Saúde pública

ACTIONS DEVELOPED BY THE EXTENSION PROJECT LEISHNÃO FROM UFMS IN 2015

Abstract: The purpose of this work is to show the actions developed by the extension project LeishNão
in 2015. In the Midwest region of Brazil, Mato Grosso do Sul has the higher number of notified cases of
human visceral leishmaniasis, most of them occurring in Campo Grande. The purpose of this action is to
continue the health education in the areas with high incidences of this illness in human and dogs in the
city. In this third edition of the project were done activities in partner institutions, using recreational
activities, lectures, dramatic performances and distribution of booklets and leaflets. It is expected with
that the population be enlightened and aware about the importance of this illness, the prevention methods,
and that gradually the incidence decrease as a reflex of the popular practice of the prevention methods.

Keywords: Health education, Visceral leishmaniasis, Public health

Justificativa
O Brasil está entre os cinco países onde residem 90% dos casos de leishmaniose visceral do
mundo, atingindo principalmente a população mais pobre. De acordo com a Organização Mundial de
Saúde, é uma das sete endemias mundiais. Sua importância no Brasil se dá pela elevada incidência e
ampla distribuição da doença, além das implicações econômicas, transformando-se em um sério problema
sanitário e econômico-social pela depleção da força de trabalho.
As estratégias de controle empregadas vêm sendo cada vez mais discutidas, devido à crescente
urbanização da doença nos últimos 20 anos. O conhecimento sobre a distribuição e conceito da doença,
através de palestras e atividades, e sua percepção pela população local é muito importante para a
realização de campanhas de controle por resultar numa mobilização da comunidade em ações sanitárias
surtindo na diminuição do número de casos.
Na região Centro-Oeste, o Estado de Mato Grosso do Sul apresenta o maior número de casos
notificados. É de grande importância que o processo de conscientização não se restrinja aos adultos, mas
que envolva também os alunos, pois estes acabam levando a informação a seus lares auxiliando na
formação de uma rede básica de atenção primária e comunitária. Desta forma, a população infantil sairá
da letargia das comunidades desassistidas e poderá exercer melhor sua cidadania.
Esta ação está vinculada ao projeto de pesquisa 'Geoepidemiologia da leishmaniose visceral em
Campo Grande-MS: uso de geotecnologias aplicadas ao planejamento estratégico para controle de

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leishmaniose visceral humana e canina no contexto do SUS', aprovado no Edital PPSUS de 2012. A
educação sanitária é fundamental para estimular a população a participar ativamente do controle de
doenças, sendo assim objetivo deste projeto consiste em aplicar um plano estratégico de educação em
saúde para o controle da leishmaniose visceral em uma área vulnerável de Campo Grande-MS.
Nesta terceira edição do projeto ampliamos ainda mais a gama de parceiros. Como parceiros
externos, contamos atualmente com cinco novas instituições de ensino, duas organizações não
governamentais e a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (ANCLIVEPA-
MS), que possibilitará o contato com médicos veterinários de todo o estado, a Universidade Católica Dom
Bosco, e VetSmart aplicativo que participaram na Semana da Leishmaniose. Como parceiros internos,
além da 'Liga Acadêmica de Doenças Infecto-parasitárias em Enfermagem' (LADIPE), firmamos também
a parceria com os projetos 'Extensão Universitária no Programa Saúde na Escola' (PSE) e 'Ações de saúde
integral para a promoção da saúde dos Agentes de Combate a Endemias', fortalecendo a equipe,
consolidando um grupo com ações correlatas e ampliando ainda mais a multidisciplinaridade.

Metodologia
O projeto foi realizado nas instituições parceiras, que se responsabilizaram por ceder o local para
as atividades e colaboraram ativamente na organização, determinando as datas e horários conforme a
disponibilidade de cada instituição.
A equipe é coordenada pela Profa. Juliana Arena Galhardo, docente da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia (FAMEZ) e conta com a participação de uma equipe multidisciplinar que inclui 4
residentes do Programa de Residência em Medicina Veterinária da UFMS , docentes de graduação
também da UFMS, 19 acadêmicos de graduação da Medicina Veterinária e Enfermagem da UFMS,
professores e coordenadores dos CEINF’s e escolas parceiras.
De forma geral, foi realizada uma abordagem de educação sanitária através de palestras, panfletos
e cartilhas para informar a população alvo da situação de risco frente à enfermidade, bem como as formas
de ocorrência da doença e medidas de prevenção e controle aplicáveis tanto para humanos quanto em
cães, inclusive sobre os riscos da manutenção de cães considerados positivos no sorodiagnóstico. Foram
distribuídas camisetas aos educadores e funcionários das escolas, como forma de chamar a atenção ao
projeto.
Aos estudantes, além desta abordagem, também foram realizadas atividades lúdicas como teatros,
fantoches, brincadeiras com pintura guache e pinta-cara, elaboração de vídeos e dinâmicas em grupo, a
fim de sensibilizar as crianças sobre a importância da prevenção da leishmaniose visceral naquela
realidade social.
Foram realizadas atividades mensais, de acordo com a disponibilidade de locais oferecidos pelas
instituições participantes. Em todas as esferas pretende-se enfatizar a relação cão – humano – vetor –
doença, a fim de criar uma consciência coletiva da importância da doença e do combate desta importante
zoonose. Todo material de divulgação bem como quaisquer customizações necessárias às apresentações
serão de responsabilidade da equipe de execução.

Resultados
Durante o ano de 2015, foram realizadas em torno de duas atividades de educação em saúde por
mês em Centros de Educação Infantil, Escolas Estaduais, Municipais e particulares e outras instituições
parceiras. Durante as visitas nas escolas o objetivo foi trabalhar com todas as turmas da escola, ampliando
também para o ensino médio quando requisitado. As escolas têm em geral de 5 a 8 turmas por período
com salas de aula de 20 alunos, cada escola trabalhando com diferentes faixas etárias. Em algumas ações
foram necessários até 3 dias para atender todas as turmas, porém com esses resultados podemos calcular
uma média de 240 famílias atingidas em cada ação em escola.
O projeto esteve presente também em eventos sociais como Ação Global e Ação Cidadania. A
Ação Global contou com a participação de 54 entidades parceiras e cerca de 700 voluntários envolvidos
no projeto e atraiu por volta de 4000 pessoas ao local do evento. Para obtenção de bons resultados foi
necessário desenvolver novas técnicas de comunicação que se adaptassem melhor ao público diferenciado
e em maior número, além de capacidade organizacional durante as atividades.
Ao mesmo tempo foram feitas abordagens nas filas de atendimento do evento, distribuição de
folders e utilização de fantoches, fantasias e de brincadeiras que facilitaram a interação e despertaram o
interesse tanto de adultos como crianças que se aproximaram para tirar fotos com os personagens. Além
disso, o teatro Leishnão foi apresentado no palco principal dos eventos expandindo o alcance da ação.

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Foi estabelecida ainda uma parceria com o Projeto Rondon, levando o Projeto Leishnão a conhecer
novas comunidades, como, por exemplo, a Associação Familiar da Comunidade Negra São João Batista
em Campo Grande e na cidade de Ladário-MS.
No decorrer das ações foram sendo aprimoradas as atividades realizadas, criados novos jogos,
como um tabuleiro gigante para crianças e jogos de perguntas que atendessem também os adolescentes.
Além disso, por meio das bolsas de extensão concedidas ao projeto por edital, foi possível a
criação de um subprojeto que proporcionou a parceria do Hospital DIA do Hospital Universitário
(HU/HUMAP), levando à realização de plantões semanais para educação em saúde dos clientes atendidos
naquele setor, que é referência estadual e municipal no tratamento da leishmaniose visceral, não deixando
de lado os plantões que já haviam sendo realizados no Hospital Veterinário da UFMS diariamente. Esses
dois projetos juntos conseguiram atingir cerca de 10 pessoas por plantão, tendo um grande sucesso em
sensibilizar principalmente pessoas atualmente em tratamento para leishmaniose para que fossem
multiplicadores de informação em suas comunidades.
Também foi realizado um importante evento intitulado Semana Nacional de Controle e Combate à
Leishmaniose que teve o apoio deste projeto e que pode expor também um pouco sobre suas ações. Como
produção intelectual proveniente do projeto, foram apresentados dois trabalhos no 4º Congresso do
Centro-Oeste sobre Doenças Infecciosas Emergentes, Reemergentes e Negligenciadas. Ainda como
resultado desse trabalho recebemos a doação de 400 coleiras repelentes que serão utilizadas em 2016 em
projeto de pesquisa associado à extensão ainda em fase de aprovação pela CEUA.

Tabela 1: Instituições e eventos nos quais o Projeto LeishNão participou no ano de 2015
CEINF Santa Barbara SEBRAE-MS
CEINF Aero Rancho II Sociedade Educacional Juliano Varela
CEINF Georgina Ramires da Silva Câmara municipal de Campo Grande-MS
CEINF Dom Antônio Barbosa Ação Global 2015
Escola Municipal Nagen Jorge Saad Ação Cidadania
Escola General Osório Semana Nacional de Controle e Combate à
Leishmaniose

Conclusões
O projeto LeishNão é um projeto de extensão que iniciou suas atividades no final de 2013, e desde
então realiza ações focadas na educação em saúde, desde seu início tem aprimorado sua metodologia e
ampliado as parcerias, obtendo ótimos resultados com isso. O aperfeiçoamento pessoal dos alunos
participantes do projeto também pôde ser observado durante as ações e além disso, que a conscientização
sobre a importância de prevenir a leishmaniose torna-se cada vez maior e, que assim, os métodos de
prevenção e controle tem se tornado gradativamente uma prática popular e habitual.

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PROJETO DE PESQUISA: USO DE DUAS TÉCNICAS PARA CRIOPRESERVAÇÃO DE


SÊMEN DE TOUROS NELORE, CARACU E SENEPOL

Zelina dos Santos Freire¹, Thycianne Rodrigues de Aguilar¹, Caroline Eberhard Buss¹, Daniel França
Mendonça Silva¹, Éder Cristian Queiroz Serrou da Silva¹, Fernando Henrique Garcia Furtado¹, Fernanda
Hvala de Figueiredo¹, Francisco Manoel Júnior¹, Gabrielle Ricardes da Silva¹, Tainara Cândida Ferreira¹,
Tailisa de Souza Silva¹, Willian Vaniel Alves dos Reis¹, Fábio José Carvalho Faria², Deiler Sampaio
Costa²

¹Núcleo de Produção e Reprodução Animal NUPRA .E-mail: zelinafreire@hotmail.com


²Professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Resumo: A criopreservação do sêmen tem como objetivo a conservação da capacidade fecundante do


espermatozoide, com esta técnica é possível aumentar consideravelmente o número de fêmeas
inseminadas por um touro. Tal técnica tem se tornado um procedimento de rotina a campo e nas centrais
de inseminação artificial distribuídas pelo Brasil, porém a maioria dos protocolos utilizados até o
momento é baseada em observações empíricas. Como resultado disso, um número considerável de
espermatozoides sofrem injúrias e/ou morrem durante este processamento. A queda da viabilidade
espermática imposta pelo processo de congelamento e descongelamento é responsável pela significativa
redução do potencial de fertilização do sêmen congelado. Por estas razões, pesquisas que possam estudar
melhor este processo precisam ser desenvolvidas, a fim de maximizar os resultados atualmente
observados. O objetivo desta pesquisa é avaliar a eficiência de duas técnicas para criopreservação do
sêmen de touros Nelore, Caracu e Senepol criados no Estado do Mato Grosso do Sul.
Palavras-chaves: congelamento, conservação, fertilização, viabilidade

RESEARCH PROJECT: TWO TECHNIQUES USES FOR SEMEN CRIOPRESERVATION OF


NELORE, CARACU AND SENEPOL BULLS

Abstract: The cryopreservation of semen is aimed at conservation of fertilizing capacity of sperm, with
this technique it is possible to considerably increase the number of females inseminated by bulls. This
technique has become a routine procedure in the field and in artificial insemination centers throughout
Brazil, but most of the protocols used to date is based on empirical observations. As a result, a
considerable number of sperm suffer injuries and / or die during this processing. The decline in sperm
viability imposed by the freezing and thawing process is responsible for the significant reduction of the
frozen semen potential fertility. For these reasons, research that can better study this process need to be
developed in order to maximize the results currently observed. The objective of this research is to
evaluate the efficiency of two techniques for cryopreservation of semen of Nelore bulls, Caracu and
Senepol created in the Mato Grosso do Sul State.

Keywords: freezing, conservation, fertilization, viability

Justificativa
Segundo Watson (2000), a criopreservação do sêmen tem objetivo de conservar a capacidade
fecundante do espermatozoide, o levando-o a um estado de quiescência, em que seu metabolismo vai
estar reduzido, havendo redução do gasto energético e da produção de catabólitos. Com esta técnica é
possível aumentar consideravelmente o número de fêmeas inseminadas por um touro.
Apesar de a criopreservação ter se tornado um procedimento de rotina a campo e nas centrais
seminação artificial distribuídas pelo Brasil, a maioria dos protocolos utilizados até o momento é baseada
em observações empíricas (Chaveiro et al., 2004), como resultado disso, um número considerável de
espermatozoides sofrem injúrias e/ou morrem durante este processamento. Mesmo as melhores técnicas
atuais de preservação, alcançam, em média, cerca de 50% de viabilidade da população espermática
(Watson, 1995), dependendo de vários fatores tais como, qualidade do ejaculado, método de
congelamento (curva de congelamento), tipo de diluidor, tipo de envasamento (minipalheta, palheta
média, ampola, pellets) e método de descongelamento (Amann e Pickett, 1987; Ohashi, 2001), visto que,
o processo de criopreservação inclui desde a coleta e diluição do sêmen, até a manutenção da capacidade
funcional da célula, por determinado período de tempo, após o descongelamento (Watson, 1995).

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Por estas razões, pesquisas que possam estudar melhor este processo precisam ser desenvolvidas, a
fim de maximizar os resultados atualmente observados. Com isso, o objetivo deste projeto de pesquisa é
avaliar a eficiência de duas técnicas para criopreservação do sêmen de touros Nelore, Caracu e Senepol
criados no Estado do Mato Grosso do Sul.
O processo de criopreservação das células espermáticas resulta em diminuição da fertilidade
quando comparada com sêmen fresco. Este prejuízo surge da combinação de dois aspectos: perda da
viabilidade espermática ou danos na capacidade funcional dos espermatozoides sobreviventes (Watson,
2000).
Deve ser ressaltado que o processo da criopreservação exerce efeitos negativos principalmente
sobre a membrana celular, particularmente vulnerável a este processo. Existem três membranas no
espermatozoide: membrana plasmática, membrana do acrossomo (indispensável para a fertilidade) e
membrana mitocondrial, com exceção da última, as outras apresentam diferenças em domínios na sua
estrutura e comportamento (Watson, 1995).
Os principais danos que os espermatozoides sofrem durante a criopreservação são causados pela
mudança de temperatura, pela formação de cristais de gelo intracelular e extracelular, desidratação
intracelular, alterações na membrana celular como consequência da desidratação e trânsito de moléculas
através da membrana durante o descongelamento(Amann & Pickett, 1987). Watson (2000) ainda cita o
estresse osmótico e tóxico causado pela exposição dos espermatozoides a altas concentrações de
crioprotetores.
Alterações na motilidade e na estrutura dos espermatozoides ocorrem simultaneamente nas
diferentes etapas de congelação e descongelação. É bem conhecido que o resfriamento rápido do sêmen
dos ungulados de 30 para 0°C induz a um estresse letal para algumas células, esse estresse é proporcional
à taxa de resfriamento, intervalo de temperatura e ao limite de temperatura. Este processo é conhecido
como choque frio, o qual afeta variavelmente as espécies (Watson, 2000). O efeito deste processo é
manifestado no espermatozoide com motilidade espermática alterada (movimento em círculos ou
retrógrado, presença de peças intermediárias dobradas) e muitos destes processos são considerados
irreversíveis. Lesões causadas pelo choque térmico podem ser reduzidas pelo resfriamento lento do sêmen
e pela adição de meios diluidores (Amann & Pickett, 1987).
Os eventos físicos que ocorrem nas células dependem da velocidade de congelamento. Quando o
processo de congelamento é muito lento, ocorre a congelamento da água extracelular com a consequente
concentração de soluto, deixando as células momentaneamente em meio hipertônico, fazendo com que
percam água rapidamente, o que induz ao aumento na concentração de soluto intracelular, promovendo a
morte celular por desidratação. Por outro lado, quando as células são congeladas rapidamente, não há
perda suficiente de água, porém, há formação de cristais de gelo intracelular, causando,
consequentemente, lesões nas estruturas celulares, fato que compromete a função celular (Mazur, 1984;
Watson, 1995).
Portanto, é necessária uma curva de congelamento que evite esses dois extremos, ou seja, não
muito lenta nem muito rápida, prevenindo, desse modo, que grande número de células sejam afetadas
durante o processo. Dependendo da curva de congelamento utilizada, será escolhida a curva de
descongelamento. Se os espermatozoides forem congelados lentamente, deverão ser descongelados
lentamente para ter tempo de se reidratar. Por outro lado, se foi utilizada uma curva de congelamento
rápida, o descongelamento deverá ser rápido, visando impedir o fenômeno da recristalização migratória,
que consiste na formação de gelo intracelular a partir de pequenos cristais de gelo que se reestruturam em
cristais maiores (migração de cristais) (Leibo & Bradley, 1999, apud Ohashi, 2001).
Objetiva-se com esta pesquisa avaliar a eficiência de duas técnicas para criopreservação do sêmen
de touros Nelore, Caracu e Senepol criados no Estado do Mato Grosso do Sul.

Metodologia
Serão utilizados 20 touros sexualmente maduros (n=10 Caracu e n=10 Senepol) criados em
fazenda nos municípios de Nova Alvorada do Sul e Caarapó, MS e 20 touros Nelore sexualmente
maduros, criados em fazenda nos municípios de Terenos e Miranda MS, ambos em sistema extensivo
com pastagem de Brachiaria, sal mineral e água à vontade.
Os touros serão contidos em tronco apropriado e em seguida será feita limpeza da região prepucial
com água e sabão neutro. O ejaculado será coletado pelo método de eletroejaculação. Após a coleta, será
feita avaliação dos aspectos físicos do ejaculado, conforme recomendação do Colégio Brasileiro de
Reprodução Animal (CBRA, 2013). Só serão utilizados ejaculados que apresentarem mínimo de 70% de

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motilidade, vigor espermático ≥ 3, defeitos menores ≤ 5,0%, defeitos maiores ≤ 10,0% e defeitos totais ≤
20,0%.
Após a avaliação, o sêmen será diluído 1:1 em diluidor a base de tris gema e separado em duas
frações. A fração I será acondicionada em caixa térmica (Botutainer ®) para resfriamento inicial, e
transportado para o Laboratório de Reprodução Assistida, onde será congelada segundo metodologia
descrita por Crespilho (2007). A fração II será envazada em temperatura ambiente e colocada na máquina
de congelamento TK 4000 que fará todo processo de resfriamento e congelamento automaticamente. Ao
final do processo o sêmen estará a -140 oC e será mergulhado em nitrogênio líquido para ser raqueado e
armazenado em botijão criogênico.
Após pelo menos 48 horas de congelamento, o sêmen será descongelado em banho-maria a 35 oC
por 30 segundos. Em seguida serão avaliados com auxílio do Sistema computadorizado de avaliação
espermática (SCA). A morfologia espermática será avaliada pelo método de Bloom (1973), em que as
alterações são classificadas em defeitos menores, maiores e totais.
O sêmen congelado será armazenado e utilizado em experimentos futuros de caracterização e
quantificação de enzimas ligadas à fertilização do oócito pelo espermatozoide.

Resultados Esperados
A expectativa é que as técnicas utilizadas para criopreservação venham trazer resultados que
permitam maximizar o processo, reduzindo as perdas de viabilidade durante o processamento de
criopreservação do espermatozoide. Além disso, ao final do projeto, objetiva-se formar um banco de
sêmen congelado de diferentes touros e raças para ser utilizado em experimentos futuros de
caracterização e quantificação de enzimas ligadas à fertilização do oócito pelo espermatozoide.

Literatura Citada
AMANN, R.P., PICKETT, B.W. Principles of cryopreservation and a review of cryopreservation of
stallion spermatozoa. Equine of Veterinary Science. v. 7- 3, p. 145-173, 1987.
CRESPILHO, A.M. Efeito do meio diluidor e da dose inseminante sobre a congelabilidade e
fertilidade do sêmen bovino utilizado em programas de inseminação artificial em tempo-fixo
(IATF). Dissertação de Mestrado. UNESP Botucatu. 2007.
MAZUR, P. Freezing of living cells: mechanisms and implications. American Journal of Physiology, v.
247 p.125-142, 1984.
OHASHI, O. M. Inseminação Artificial de Bubalinos. In: GONSALUES, P. B., FIGUEIREDO, J. R.,
FREITAS, V. J. F., Biotécnicas Aplicadas à Reprodução Animal. Livraria Varela, p. 97-110, 2001.
WATSON, P. F. The causes of reduced fertility with cryopreserved semen. Animal Reproduction
Science, v. 60-1, p. 481–492, 2000.
WATSON, P.F. Recent developments and concepts in the preservation of spermatozoa and the
assessment of their post-thawing function. Reproduction Fertility of Development, v. 7, p. 871-91,
1995.

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AÇÕES DE EXTENSÃO DESENVOLVIDAS PELO PET ZOOTECNIA UFMS NO PRIMEIRO


PERÍODO DE 2015

Maryene Beatriz Souza Molina¹, Jéssica Lira da Silva¹, Brenda Farias da Costa Leite¹, Larissa Marque
Higano¹, Larissa Rodrigues do Nascimento Rocha¹, Leandro Gomes da Silva¹, Thais Garcia Pereira¹,
Ricardo Carneiro Brumatti²

¹Petianos alunos de graduação em Zootecnia FAMEZ/UFMS e-mail: petzootecniafamez@gmail.com


²Tutor do grupo PET Zootecnia UFMS e-mail: ricardo.brumatti@ufms.br

Resumo: No PET Zootecnia (Programa de Educação Tutorial) da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul, fundado em dezembro de 2010, são executadas ações de pesquisa, ensino e extensão que formam
a base do conhecimento acadêmico. Os projetos da área de extensão são: Boas Vindas Famez,
Comemoração do Dia do Zootecnista e Feira de Trainee. Cada projeto é previamente elaborado pelos
alunos juntamente com o tutor, no início do ano letivo. Os resultados obtidos têm correspondido ao
esperado. As ações de extensão do PET Zootecnia têm colaborado para o crescimento profissional dos
alunos. Eventuais erros têm sido corrigidos com planos de ação imediatos para que as ações de extensão
possam ser úteis trazendo oportunidades e conhecimento, servindo de ponte entre o PET Zootecnia e toda
a comunidade acadêmica.

Palavras-chave: aprendizagem, atividades, petianos

EXTENSION ACTIONS DEVELOPED BY PET ZOOTECNIA UFMS IN THE FIRST PERIOD


OF 2015

Abstract: PET Zootecnia (Tutorial Education Program ) of the Federal University of Mato Grosso do
Sul, founded in December 2010 , research actions are performed , education and extension that form the
basis of academic knowledge . The extension area projects are: Welcome Famez, Celebration of the Day
of Zootechnician and Fair Trainee. Each project is previously prepared by the students with the tutor at
the beginning of the school year. The results are matched to expected. The extension actions PET
Zootecnia have contributed to the professional growth of the students. Errors have been corrected with
immediate action plans for the extension actions may be useful bringing opportunities and knowledge,
bridging the PET Zootecnia and the entire academic community.

Keywords: learning , activities, petianos

Justificativa
O PET Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), iniciado em dezembro
de 2010, é composto pelos próprios alunos do curso de zootecnia e um tutor, que realizam várias
atividades de ensino, pesquisa e extensão. O objetivo do grupo PET Zootecnia é gerar a integração do
curso com a comunidade acadêmica, dessa forma, contribuindo para o aumento da qualidade da formação
dos alunos de graduação. Ações de extensão possuem o intuito de alcançar e a comunidade acadêmica e
também externa através de atividades realizadas pelos alunos do PET Zootecnia. Também colaboram para
o aprendizado dos alunos que as organizam. O objetivo desse trabalho é discorrer sobre os projetos de
extensão realizados pelo PET Zootecnia no primeiro semestre de 2015.

Metodologia
As ações de Extensão de maneira organizada e planejada podem proporcionar momentos
proveitosos fora da sala de aula, através de formas de aprendizado não convencionais para os alunos
organizadores de tais ações (Melo et al., 2011). As atividades extensionistas realizadas no primeiro
período de 2015 foram: Boas Vindas Famez, Comemoração do Dia do Zootecnista e Feira de Trainee.
O projeto Boas Vinda Famez foi relizado com o objetivo de recepcionar os novos alunos
ingressantes no primeiro semestre do ano, dos cursos de Zootecnia e Medicina Veterinária da FAMEZ.
Para isso, uma programação voltada aos novos alunos a fim de que conhecessem o funcionamento da
universidade, as instalações da faculdade e da Fazenda Escola situada em Terenos - MS, foi realizada.
Contando com o auxílio de técnicos e professores da faculdade, os novos alunos conheceram a estrutura
voltada para seus respectivos cursos.

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A Comemoração do Dia do Zootecnista foi realizada no dia 13 de maio de 2015, Dia do


Zootecnista , no qual houve uma programação voltada para os dicentes e docentes do curso de Zootecnia
da FAMEZ. Através de uma palestra e de um momento de conversa e troca de ideias, os alunos de todos
os anos do curso tiveram a oportunidade de obter informações acerca dos desafios e perspectivas da
profissão.
A Feira de Trainee foi a primeira edição da ação que irá perdurar nos anos posteriores. Trata-se de
uma feira composta por empresas do ramo agropecuário dentro da universidade. Cada empresa convidada
compareceu através de um ou dois representantes. Na feira foram expostas informações sobre
oportunidades de ingressar em um estágio ou programa de trainee das respectivas empresas. Os alunos
tiveram fácil acesso às empresas, uma vez que estavam dispostas no corredor da universidade.

Resultados
Todos os projetos citados foram realizados pelos alunos petianos sob a coordenação do tutor,
possibilitando o crescimento profissional e desenvolvimento acadêmico de cada aluno.
O Boas Vindas Famez trouxe informações importantes sobre programas oferecidos pela
universidade aos alunos, sendo assistencialistas ou de intercâmbios. Também tornou possível a integração
dos novos alunos com os professores e também com os alunos petianos, pois o grande grupo de alunos foi
dividido em pequenos grupos. Cada pequeno grupo ficou sob a responsabilidade de um petiano para
apresentar a universidade juntamente com um professor.
Com relação à comemoração do Dia do Zootecnista, a programação realizada pelo PET, já
tradicional na faculdade, reafirmou a importância do zootecnista no ramo do agronegócio e também na
universidade. Mostrou aos alunos a importância da união entre os profissionais e o respeito a se dispensar
aos outros profissionais da cadeia produtiva. Esse evento também proporcionou aos alunos e futuros
zootecnistas, um momento de mesa redonda no qual eles tiveram a oportunidade de tirar suas dúvidas
sobre a grade curricular, sobre o curso e sua estruturação e ainda sobre a profissão e mercado.
A Feira de Trainee, em sua primeira edição, mostrou diversos motivos pelos quais deve
permanecer pelos próximos anos. Pois, despertou o interesse dos alunos sobre o mercado de trabalho e
além de aproximar o aluno de seus possíveis empregadores, tornou possível a presença das empresas de
agronegócio dentro da universidade. Através dessa acessibilidade, muitos alunos obtiveram informações
importantes sobre cada empresa e tiveram oportunidade de conhecer e manter contato com os
representantes.
Sendo assim, conclui-se que esses projetos de extensão têm colaborado para o crescimento
profissional dos alunos componentes do PET Zootecnia. Eventuais erros têm sido corrigidos com planos
de ação imediatos para que as ações de extensão possam ser úteis trazendo oportunidades e
conhecimento, servindo de ponte entre o PET Zootecnia e toda a comunidade acadêmica.

Literatura Citada
MELO, A. M. et al. Extensão Universitária como Prática Pedagógica de Interação Humano-
Computador. II WEIHC, v. 20116, 2011.

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