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Resumos Psicopatologia 2

Aula 1: Considerações gerais


Psicogerontologia Clínica: Ramo científico que estuda as perturbações mais comuns na
idade adulta e idosa. Apoia-se na Psicologia do desenvolvimento (que define e estuda o
desenvolvimento normativo).
Psicogeriatria: (aspetos que caracterizam a especialidade) Idade do doente, diferente
expressão clínica das doenças mentais, nosologia peculiar, patologia múltipla e
comorbilidade somática, dependência acumulada, existência de uma grande diversidade de
prestadores de cuidados formais e informais, toma de farmacologia variada (combinação
variadas, efeitos secundários dos vários medicamentos, etc), entre outros.
- A maior parte dos pedidos de avaliação estão relacionados com suspeita de PNC.
- A maior parte das avaliações têm que contemplar a comorbilidade e o diagnóstico
diferencial com problemas físicos (ataque de pânico vs problemas respiratórios).
- Necessidade de múltiplas sessões de avaliação (o familiar ou o cuidador informal, qual
deles o doente? qual deles precisa de ajuda?)

Aspetos clínicos: necessidade de conhecimento das perturbações mentais mais frequentes no


idoso, competências pessoais e profissionais, considerar a trajetórias de desenvolvimento do
indivíduo (características familiares, pessoais, efeitos geracionais, transições de vida, etc),
considerar os fatores sócio-culturais (género, cultura de pertença, nível educativo, etc)
- Aspetos a considerar:
- Recursos e resiliência do indivíduo (adaptação positiva a condições adversas do
envelhecimento através de recursos pessoais, sociais e biológicos, como a reserva cognitiva;
manutenção/restabelecimento de níveis de funcionamento psicossocial prévios);
- Regulação desenvolvimental (modelo de seleção, otimização e compensação (SOC),
seletividade sócio emocional, quando a regulação não se dá pode levar a desequilíbrios
emocionais);
- Caminhos para a psicopatologia/presença de problemas de saúde mental nas idades
mais avançadas: Processos patológicos crónicos que persistem de períodos desenvolvimentais
prévios; Reações psicológicas disfuncionais às alterações decorrentes do envelhecimento;
Problemas de saúde mental decorrentes do envelhecimento patológico do cérebro.
- A intervenção com idosos incide mais na avaliação e intervenção na patologia, do
que na promoção do desenvolvimento saudável ou na intervenção comunitária.

Dificuldades no trabalho com idosos:


- Grupos etários com características muito específicas (os 75 anos são muito diferentes dos 85
anos).
- Necessidade de adaptar a intervenção, nomeadamente, a linguagem utilizada.
- Problemas muitas vezes subliminares (indivíduos subsindrômicos mas que necessitam de
ajuda e, portanto, devem beneficiar de intervenção): limitações do próprio DSM e da
Avaliação Psicológica, as ferramentas clínicas não estão adaptadas às peculiaridades desta
população → discussão sobre a criação de um capítulo específico para os idosos (como
acontece com as crianças) e necessidade de criar instrumentos indicados para esta população.
Conclusões do Relatório DGS 2018:
- A saúde mental é o estado de bem-estar no qual o indivíduo tem consciência das suas
capacidades, pode lidar com o stress habitual do dia-a-dia, trabalhar de forma produtiva e
frutífera, e é capaz de contribuir para a comunidade em que se insere (OMS).
- Somos o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população adulta.
Em 2016, 1/5 dos portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica e quase metade já teve uma
destas perturbações durante a vida.
- Portugal é um dos países mais velhos do mundo (1 milhão de habitantes tem mais de 75
anos, numa população de 11 milhões). Cada vez existem mais idosos e menos crianças
- A esperança média de vida em Portugal é 81.3 anos (maior que a média Europeia). No
entanto, a esperança média de vida saudável é uma das piores da Europa → Vivemos mais
anos mas em “pior” estado.
- Mulheres: vivem mais anos mas têm mais probabilidade de receber um diagnóstico de
doenças crónicas → Os homens estão possivelmente subdiagnosticados (questões culturais,
de género, como a socialização com os espaços de saúde e também questões biológicas).
- O Alzheimer e outras demências são a 3º grande causa de morbilidade para mulher com
mais de 75 anos (5º nos homens com a mesma idade).
- Muito preocupante: Perturbações Depressivas em idade avançada.
- O diagnóstico de Depressão, Ansiedade e Demência tem sido cada vez mais comum
(aumento progressivo da prevalência destas doenças ao longo dos anos).
- Nos idosos, a depressão expressa-se de forma peculiar, sendo muitas vezes referida como
“depressão sem tristeza". Os sintomas principais são queixas somáticas, irritabilidade,
apatia/perda de prazer (não tanto o humor deprimido).
- Os diagnósticos tendem a acompanhar as pessoas ao longo do desenvolvimento.
- A saúde mental apresenta 5 patologias no top ten das entidades nosológicas responsáveis
pela maior incapacidade para a atividade produtiva e psicossocial: depressão major,
problemas ligados ao álcool, perturbações esquizofrênicas, doenças bipolares e demências.

Perturbações mentais nos idosos


- Os doentes idosos estão sujeitos ao mesmo espectro de perturbações mentais que os adultos
mais novos. Aspeto importante a considerar nos mais idosos: comunidade vs
institucionalizados.
- Alguns estados são mais notáveis na terceira idade devido à maior prevalência e à alta
morbidade.

Distress Psicológico: Depressão + Ansiedade (agrupamento de sinais e sintomas das duas


maiores perturbações) → Indicador de sofrimento psicológico muito utilizado para fins de
rastreio.
- Reação às exigências internas e externas que se caracteriza por um conjunto heterogêneo de
sintomas psicológicos como baixa auto-estima, tristeza, desesperança, desamparo, etc.
- Fenómeno subjetivo tendencialmente negligenciado na população idosa pelo seu carácter
frequentemente sub-clínico.
- Problemas na sua consideração/deteção: Preocupações de sobre-diagnóstico com reforço
não adaptativo; Falácia normativa; Associação a outras condições médicas; Reportório
discursivo do idoso na exposição das queixas; Limitações dos instrumentos de avaliação
disponíveis; Dificuldade em reconhecer os sintomas subclínicos de ansiedade e depressão
como efetivamente incapacitantes e com repercussões várias no quotidiano do idoso.
- Consequências do distress: redução da qualidade e satisfação com a vida, aumento do
comprometimento da atividade física e social, autoavaliações negativas, maior duração e
severidade da doença física, risco de cronicidade sintomática, risco de real evolução para
quadros clínicos severos.
- Um estudo na comunidade encontrou valores de 30% de distresse psicológico (assustador).
- Instrumento: GHQ-12 (General Health Questionnaire): concebido para detetar a severidade
de distúrbios psiquiátricos menores, avalia o nível auto-percebido de saúde (avaliação de
bem-estar geral).
- Fatores de risco: idade, género feminino, menor literacia/nível educacional, ser reformado
ou trabalhar como doméstico, ser divorciado ou viúvo.
- Duas hipóteses explicativas para as diferenças de género: maior prevalência de distress nas
mulheres está associada a traços de personalidade, género ou aspetos biológicos; ou, as
desigualdades de género, nas sociedades ocidentais e patriarcais, expõem as melhores mais
frequentemente a fatores de risco sociais e culturais.

Aula 2: Perturbações do humor (DSM-IV-TR) → Perturbações Depressivas + Perturbações


Bipolares e Perturbações Relacionadas (DSM-5)

Perturbações do Humor: mania, hipomania, eutimia (funcionamento normal), depressão,


depressão severa
- Episódios de alterações do humor: Depressivo major (período de humor depressivo, triste,
sem esperança, desencorajador, em baixo); Maníaco (período de humor anormal e
persistentemente elevado, expansivo ou irritável); Hipomaníaco (período menos longo de
humor anormal e elevado, expansivo ou irritável); Misto (período de humor com
características depressivas e de mania).

Sintomatologia Depressiva
Sintomas major (emocionais)
- estado depressivo (angústia, tristeza, irritabilidade)
- anedonia (perda absoluta de sentimento em relação a atos que habitualmente dão
prazer)
Sintomas secundários
- Cognitivos: baixa autoestima, preocupação excessiva, concentração e/ou memória
reduzidas, dificuldade em tomar decisões, pensamentos sobre a morte
- Físicos: alterações psicomotoras (agitação, inibição), energia diminuída e fadiga,
alterações do sono e do apetite (o que pode levar ao aumento ou perda de peso)

- Depressão como emoção (reação a uma situação específica e passageira), sintoma


(desregulação emocional como sintoma de outra doença física ou mental) e perturbação
(estado prolongado e com alterações significativas).
Nota: Atenção aos sintomas cognitivos devido à sobreposição com as demências (muito
importante ao nível do diagnóstico diferencial no caso de idosos).
Perturbações do humor (DSM-IV-TR): características essenciais
- Presença de humor anormal caracterizado por depressão, mania ou por ambos os sintomas
de modo alternado.
- Eixo estruturante: episódios de alteração do humor (intensidade, duração, défices
provocados, sintomas que o acompanham).

Perturbações Bipolares e Relacionadas (DSM-5)


- Perturbação Bipolar I
- Perturbação Bipolar II
- Perturbação Ciclotímica
- .... induzida por substâncias/medicamento, … e perturbações relacionadas devidas a
outra condição média, … e perturbações relacionadas com outra especificação, … e
perturbações relacionadas não especificadas

Especificadores: c/angústia ansiosa, c/características mistas, c/ciclos rápidos,


c/características melancólicas, c/características atípicas, c/características psicóticas,
c/catatonia, c/início no periparto, c/padrão sazonal.

Perturbação bipolar: padrão de episódios depressivos e maníacos.


- Tipo I (“mais grave”): Atualmente (ou mais recentemente) um episódio maníaco, existência
prévia de pelo menos um episódio depressivo major, maníaco ou misto
- Tipo II: Presença (ou história) de um ou mais do que um episódio depressivo major,
presença (ou história) de pelo menos um episódio hipomaníaco, inexistência prévia de
episódio maníaco ou misto.
- Perturbação Ciclotímica (diagnóstico que abrange casos "subclínicos"): Presença, pelo
menos, durante 2 anos (1 para crianças), de numerosos períodos com sintomas hipomaníacos
e numerosos sintomas depressivos, que não preenchem os critérios de perturbação depressiva
major; A pessoa não esteve assintomática durante esse período por mais de 2 meses seguidos;
Nunca estiveram presentes, nos 2 primeiros anos, critérios para episódio depressivo major,
maníaco ou misto
- É a terceira doença do humor mais comum, à seguir à depressão major e à doença
distímica
- Tipicamente, os sintomas começam durante a adolescência ou numa primeira fase da
vida adulta e continuam a ocorrer periodicamente ao longo da vida
- Alguns casos de PB não tratada apresentam episódios de depressão repetidos e apenas
um episódio ocasional de hipomania (PB tipo II), no outro extremo, a mania pode ser
o problema principal e a depressão pode ocorrer ocasionalmente.
- Consequência: divorcio, desemprego, alcoolismo, morte, abuso de drogas, etc
- Prevalência semelhante em homens e mulheres

Sinais e sintomas da mania/hipomania:


- Sentimentos excessivamente “elevados” ou eufóricos
- Energia aumentada, atividade, agitação, pensamentos rápidos e verborreia
- Autoestima exageradamente aumentada
- Irritabilidade extrema e dificuldade de atenção
- Necessidade reduzida de sono
- Crença não realista nas suas capacidades e poderes
- Período consistente de comportamento habitualmente diferente do habitual
- Aumento da líbido
- Abuso de drogas (cocaína, álcool, medicação para dormir)
- Comportamento provocante, inoportuno ou agressivo
- Negação de que existe um problema

Perturbações Depressivas (DSM-5)


- Perturbação de desregulação do humor disruptivo (crianças até aos 12 anos que se
apresentam com irritabilidade persistente e episódios frequentes de descontrolo
extremo de comportamento)
- Perturbação depressiva major
- Perturbação depressiva persistente (distimia)
- Perturbação disfórica pré-menstrual
&
- Perturbação depressiva induzida por substância ou medicação; Perturbação depressiva
devido a outra condição médica; Perturbação depressiva com outra especificação;
Perturbação depressiva não-especificada

Características essenciais:
- Presença de tristeza, vazio ou humor irritável, acompanhada de alterações somáticas e
cognitivas que afetam de forma significativa a capacidade de funcionamento do
indivíduo.
- Factores diferenciadores entre as várias perturbações: Duração; Timing; Etiologia
presumida.

Perturbação Depressiva Major


Critérios de diagnóstico
A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estão presentes durante um período de 2
semanas consecutivas e representam uma alteração do funcionamento prévio. Pelo
menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de prazer ou do interesse.
1. Humor deprimido durante a maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato
subjetivo (eg.sente-se triste, vazio ou sem esperança) ou pela observação de outros (eg.
parece choroso). Nota: em crianças e adolescentes o humor pode ser irritável.
2. Diminuição clara do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividade durante a
maior parte do dia, quase todos os dias
3. Perda de peso, sem estar a fazer dieta ou aumento significativo de peso ou diminuição ou
aumento do apetite quase todos os dias
4. Insónia ou hipersonia quase todos os dias
5. Agitação ou lentificação psicomotora quase todos os dias (observável pelos outros e não
mero relato subjetivo de se sentir agitado ou lentificado);
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;
7. Sentimentos de desvalorização ou de culpa excessiva ou inapropriada (que pode ser
delirante) quase todos os dias (não simples autocensura ou sentimentos de culpa por estar
doente)
8. Diminuição da capacidade de pensar ou concentração, ou indecisão quase todos os dias
9. Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida ou plano
específico ou tentativa de suicido
B. Os sintomas causam mal-estar clinicamente significativo ou défice social, ocupacional
ou em qualquer outra área importante do funcionamento.
C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou outra
condição médica (eg. hipotiroidismo).
D. A ocorrência do episódio depressivo major não é melhor explicado por perturbação
esquizoafetiva, esquizofrenia, esquizofreniforme, delirante ou perturbações do
espectro da esquizofrenia com outra especificação ou não especificada ou por outras
perturbações psicóticas.
E. Nunca existiu um episódio maníaco ou hipomaníaco (nota: esta exclusão não se aplica
se todos os episódios de tipo maníaco ou hipomaníaco são induzidos por substâncias
ou atribuíveis aos efeitos fisiológicos de outra condição médica)

Nota: As respostas a uma perda significativa (eg. perda de um ente querido, ruína financeira,
desastre natural, diagnóstico de uma doença médica grave, etc) podem incluir sentimentos de
tristeza intensa, ruminações acerca da perda, insónia, diminuição do apetite e perda de peso
referidos no critério A, os quais se podem assemelhar a um episódio depressivo. Embora
esses sintomas possam ser compreensíveis ou considerados adequados face à perda, para
além da resposta normal a uma perda significativa, deve ser cuidadosamente considerada a
presença de um episódio depressivo major. Esta decisão requer o exercício de um julgamento
clínico baseado na história do indivíduo e nas normas culturais de expressão de mal-estar no
contexto da perda.

Especificadores de gravidade/curso:
- Ligeiro; Moderado; Grave, Com características psicóticas, Em remissão parcial; Em
remissão total; Não especificado
- Episódio único, Episódio recorrente

Aspetos/características importantes:
- Perturbação mental mais frequente
- Frequente comorbilidade com outros perturbações mentais
- Duas vezes mais comum nas mulheres (homens são subdiagnosticados)
- Associada a desequilíbrios nos neurotransmissores (eg. serotonina)
- Associada a viés de pensamento e processamento de informação
- Inexistência de diferenças significativas entre os sexos em idade até aos 14/15 anos.
- As mulheres apresentam maior predisposição para ruminar sobre os seus pensamentos
depressivos; os homens a distrair-se ou a expressar a sua depressão através de fúria e raiva.
- Depois da puberdade, as raparigas tendem a sofrer mais com as alterações corporais do que
os rapazes.
- Casar e ter filhos aumenta o risco de depressão nas mulheres, mas não nos homens.
- A média de idade de instalação de quadros depressivos varia entre os 24 e os 35 anos
(média = 27 anos).
- Tendência crescente de casos com início precoce: 40% dos indivíduos com diagnóstico de
depressão tem o seu primeiro episódio depressivo (EDM) antes dos 20 anos; 50% entre os
20-50 anos, 10% depois dos 50 anos
- Presença de especificadores infantis (eg. irritabilidade) e especificadores geriátricos (eg.
queixas somáticas).

Fatores de risco e de prognósticos:


- Temperamento: neuroticismo (susceptibilidade a EDM em resposta a acontecimentos
geradores de stress)
- Ambientais: experiências adversas na infância, acontecimentos geradores de stress
- Genéticos e Fisiológicos: risco 2-4x mais elevados em familiares de primeiro grau,
riscos acrescidos para as formas com início precoce e recorrente, hereditariedade
aproximada de 40%
- Modificadores de curso: uso de substância, ansiedade, personalidade borderline, etc.

Depressão Geriátrica
- A “depressão sem tristeza"; “depressão mascarada”; “depressão não-disfórica".
- A perturbação depressiva major é a forma mais grave de perturbação do humor no idoso,
com manifestação similar à do adulto jovem, contudo:
- A diminuição da autoestima e sentimentos de culpa é menos comum;
- Escassa expressão de tristeza e dificuldade em reconhecer os sintomas depressivos;
- Maior indecisão, nervosismo e irritabilidade;
- Preponderância de queixas somáticas (algias atípicas, sobretudo cefaleias e queixas
gastrointestinais); hipocondria, perda de peso, comportamento suicida
- Maior tendência ao isolamento, sentimentos de vazio, apatia, ansiedade e
desinteresse geral pela vida
- Deterioração cognitiva frequentemente associada
- Maior frequência de sintomas psicóticos
- Possíveis perturbações do comportamento
- Elevada comorbilidade médica e presença de polifarmácia
- Reduzidas queixas de tristeza & Queixas somáticas frequentes/não
explicáveis/excessivas (daí a expressão “depressão sem tristeza” ou “depressão mascarada").
- A identificação da depressão em idades mais avançadas é dificultada quando ocorre
em doentes com queixas somáticas associadas a níticas causas físicas, ainda para mais em
casos em que o doente insiste em queixas físicas.
- Grande heterogeneidade quanto às preocupações hipocondríacas com os sintomas
físicos: elevada incapacidade devida aos sintomas mas com indiferença; convicção quase
delirante de que os sintomas refletem um perigo de vida, acompanhada por níveis apropriados
de sofrimentos psíquico que levam à procura sistemática de apoio médico.
- Sinais e sintomas: anedonia, lentificação, irritabilidade, perda de interesse no
cuidado pessoal (eg. reduzida adesão a regimes médicos ou alimentares), sentimentos de
inutilidade, ansiedade e preocupação excessiva, desesperança, etc.

Etiologia
- Condições do meio socioprofissional e familiar: desvalorização social e profissional;
reforma; falta de oportunidades dentro do sistema familiar; questões econômicas; isolamento
e reduzido convívio social; morte do cônjuge e/ou familiares; prestação de cuidados;
auto-perceção de “fardo”; Empty Nest e Efeito Boomerang, etc.
- Fatores de risco psicossociais: situações de luto, doença crônica ou cirurgia, auto-perceção
de saúde negativa, incapacidade, dependência funcional, suporte social reduzido, divórcio,
acontecimentos recentes inesperados, personalidade vulnerável, ansiedade, etc.
- Fatores de risco biológico: sexo (mais frequente nas mulheres jovens, depois proporção
identica em ambos os sexos, a partir dos 80 anos mais frequente no homem), envelhecimento
cerebral, genética, lesões vasculares (sobretudo ao nivel do cortex pré-frontal).
- Fatores precipitantes: luto, separação, doença física, crise financeira, perda de casa ou
institucionalização, perda sensorial e défices cognitivos, problemas no trabalho, dependência
acentuada, ter de cuidar de um familiar dependente crónico, etc
Envelhecimento normal vs depressão (várias queixas do envelhecimentos normal podem-se
sobrepor às queixas de depressão)
- Perturbações do sono (diminuição do tempo total de sono; interrupções frequentes; tempo
passado na cama)
- Perda de apetite (menor dispêndio de energia, menor atividade, agravamento por má
dentição; diminuição de olfato e gosto)
- Menos energia/fadiga (agravada por doença crónica, como insuficiência cardíaca,etc.)
- Défice de concentração e memória (esquecimentos normais, agravamento por diminuição de
acuidade visual e auditiva)

Depressão Minor: Proposta de “categoria diagnóstica que necessita de estudo”


(DSM-IV-TR, extinta no DSM-5)
- Presença de 1 ou + episódios de sintomas depressivos com uma duração idêntica à do
episódio depressivo major, mas com menos sintomas e com uma menor eficiência global:
humor depressivo ou perda de interesse + 2 sintomas adicionais (e menos que 5); declínio
evidente em relação ao estado anterior, as alterações provocam mal-estar clinicamente
significativo ou deficiência social, laboral, etc.
- Características associadas: associação a vários estados físicos gerais (eg. AVC, cancro)

Perturbação Depressiva Persistente (distimia)


- Humor depressivo durante a maior parte do dia, mais de metade dos dias, durante pelo
menos 2 anos (1 em crianças), indicado pelo relato subjetivo ou pela observação dos outros, e
acompanhada pela presença, enquanto deprimido, de 2 (ou mais) dos seguintes sintomas:
- Apetite diminuído ou aumentado
- Insónia ou hipersónia
- Baixa energia ou fadiga
- Baixa autoestima
- Falta de concentração ou dificuldade em tomar decisões
- Sentimentos de desesperança
- Perturbação semelhante à depressão major mas menos grave e mais crónica, com
aparecimento na adolescência ou início da idade adulta, representa a fusão da perturbação
depressiva major crónica e da perturbação distímica definidas no DSM-IV-TR.

Perturbação Disfórica Pré-menstrual


Esta perturbação foi transferida das “propostas de categoria diagnóstica" no DSM-IV-TR
após confirmados:
- A presença de uma perturbação depressiva específica e que responde ao tratamento
- O seu início após algum tempo da ovulação e remissão em poucos dias de menstruação
- O impacto significativo no funcionamento geral da mulher

Critérios de diagnóstico
A. Presença, na maioria dos ciclos menstruais de pelo menos 5 sintomas (critério B + C)
na semana anterior ao início da menstruação, começando estes a melhorar poucos dias
após o início da menstruação e tornando-se mínimos ou ausentes na semana após a
menstruação
B. Presença de 1 (ou mais) dos seguintes sintomas:
- Labilidade afetiva marcada (eg. variações do humor, sentir-se repentinamente triste
ou chorosa, ou com sensibilidade aumentada perante a rejeição)
- Raiva ou irritabilidade acentuadas ou aumento dos conflitos interpessoais
- Humor deprimido, sentimentos de desesperança ou ideia de auto-desaprovação
acentuados
- Ansiedade, tensão e/ou sensação de estar excitada ou enervada
C. Um (ou mais) dos seguintes sintomas também devem estar presentes, para atingir um
total de 5 sintomas quando combinados com os sintomas do Critério B acima.
- Diminuição do interesse em atividades habituais (por exemplo, trabalho, escola,
amigos, hobbies).
- Dificuldade subjetiva de concentração.
- Letargia, fadiga fácil ou falta acentuada de energia.
- Mudança acentuada no apetite; comer demais; ou desejos específicos de comida.
- Hipersonia ou insônia.
- Uma sensação de estar exausta ou fora de controlo.
- Sintomas físicos, como sensibilidade ou inchaço nos seios, dores nas articulações ou
nos músculos, sensação de “inchaço” ou ganho de peso.
Nota: Os sintomas nos Critérios A-C devem ter sido atendidos na maioria dos ciclos
menstruais ocorridos no ano anterior.

Perturbação Depressiva secundária a um estado físico geral


- Evidência, a partir da história clínica, exame físico ou de dados laboratoriais de que a
perturbação é consequência fisiológica de um estado físico geral.
- A perturbação não é melhor explicada por outras perturbação mental.
- Situações gerais do foro médico associadas a sintomas de depressão: perturbações
endócrinas (hipertiroidismo), neoplasias (tumor cerebral), quadros neurológicos, etc.

Perturbação Depressiva induzida por substâncias


- Evidência, a partir da história clínica, exame físico ou dados laboratoriais que: os sintomas
se desenvolveram durante ou dentro do período de um mê da intoxicação ou abstinência da
substância; o uso da medicação está etiologicamente relacionado com a perturbação.
- A perturbação não é melhor explicada por outra perturbação do humor não induzida por
uma substância.
- Alguns fármacos que podem provocar sintomas de depressão: analgesicos, ansiolíticos,
hipnoticos-sedativos, antipsicóticos, etc.

Aula 3: Luto patológico vs Depressão - Perturbação de luto complicado persistente


- O luto é dos acontecimentos de vida mais comuns e traumáticos experienciados pelos mais
velhos, nomeadamente sob a forma da perda do cônjuge (maior socialização com a morte na
velhice).
- “fazer o luto” é um processo normativo e importante do ponto de vista da saúde mental (não
tentar acelerar o processo, é normal existir sofrimento nesta fase).
- Pode ser importante, nesta fase, vivenciar rituais (eg. religiosos) associados à morte.
- “processo desenvolvimental, promotor de uma reestruturação do significado e significância
do elo de ligação com o ente querido”.
- A ausência de um processo de luto normativo e saudável pode levar à instalação de quadros
psicopatológicos (luto patológico ou depressão).

3 Fases: Choque/negação (evitamento, incredulidade, negação, dissociação, etc);


Desorganização/desespero (dor emocional, culpa, remorso, depressão, isolamento, problemas
cognitivos e somáticos, queixas somáticas, problemas comportamentais, etc);
Reorganização/recuperação (reconhecimento da perda, ajustamento e adaptação à nova
realidade, redescoberta de significado, desenvolvimento de nova identidade, etc)

- Duração: depende das circunstâncias da morte, do elo de ligação à pessoa, variáveis de


personalidade, etc. A partir de que tempo é considerado luto patológico??
- Trajetórias de luto na viuvez: luto normal, luto crónico (ou patológico), resiliência,
depressão crónica, depressão-melhorada

O processo de luto
- Os casos de resiliência: padrão maioritário de estabilidade emocional, reduzidos níveis de
depressão ao longo do tempo, maior aceitação da perda, crença num mundo justo, maior
suporte social
- As adaptações satisfatórias e a dispensabilidade de intervenção psicossocial depende da
qualidade da relação, o excesso ênfase na “desvinculação” da pessoa falecida por parte de
terceiros (familiares/profissionais) e seus efeitos negativos
- “Recuperação”- conceito relativo e complexo: ambivalências emocionais (prestação
informal de cuidados, situações de sofrimento crónico do ente querido, dor + orgulho por
estar a “lidar bem”); o luto antecipado; terminar o luto; as limitações das definições de luto
(entre o normal, o patológico, e a depressão grave)
- Alguns autores defendem que o luto patológico “não existe” e os sinais e sintomas
encaixam-se nos critérios de EDM e portanto não há necessidade de criar outro diagnóstico.
- É um dos fenómenos que leva mais pessoas a procurar ajuda psicológica.
- A despedida/luto da pessoa antes da morte é um fenómeno muito comum nas demências

Viuvez
- A feminização do fenómeno da perda conjugal (mais idosas viúvas): Sobre-mortalidade
masculina, a reconstituição familiar masculina e o celibato feminino
- Duração variável do luto conjugal: possibilidade de “não resolução” em relações de longa
duração e idades muito avançadas
- Fatores que influenciam a morbilidade e mortalidade subsequente ao luto conjugal: género
(a viuvez é mais comum nas mulheres e o luto é feito de forma diferente), estado psicológico
prévio à perda, circunstância da morte (eg. antecipada, repentina, violenta), extensão da rede
de suporte disponível (eg. solidão emocional)

Luto (DSM)
DSM-IV-TR: “outras situações que podem ser foco de atenção médica”
- Reacção à morte de um ente querido, com presença de sintomas característicos de um
episódio depressivo major.
- O humor depressivo é encarado pelo sujeito em processo de luto como “normal” (embora
possa procurar ajuda profissional para alívio de sintomas associados como a insônia ou a
perda de apetite/peso).
- A duração e expressão do luto “normal” é variável culturalmente.
- Não é feito diagnóstico de perturbação depressiva major a menos que os sintomas estejam
presentes 2 meses após a perda.

DSM-5: Na distinção entre o luto e episódio depressivo major é útil considerar que:
- No luto, o sentimento predominante é o vazio e de perda (enquanto que no EDM é o humor
deprimido persistente e a incapacidade de sentir alegria ou prazer)
- É provável que a disforia no luto diminua de intensidade ao longo de dias a semanas e que
ocorra por vagas, as chamadas “pontadas de dor” (estas vagas tendem a estar associadas com
pensamentos e recordações do falecido). O humor deprimido do EDM é mais persistente e
não está vinculado a pensamentos específicos ou preocupações
- A dor no luto pode ser acompanhada por emoções positivas e humor que são
incaracterísticos da infelicidade penetrante e miserabilismo de um EDM.
- O conteúdo do pensamento associado ao luto é geralmente caracterizado por pensamentos e
memórias do falecido (mais do que ruminação autocrítica e pessimista)
- No luto, a autoestima está em geral preservada, enquanto no EDM são comuns sentimentos
de inutilidade e inferioridade
- Se a ideação auto-depreciativa está presente no luto, ela tipicamente envolve falhas sentidas
em relação ao falecido (eg. não o ter visitado frequentemente, não lhe ter dito algo…)
- Se o enlutado pensa sobre a morte ou morrer, tais pensamentos são geralmente centrados no
falecido e na possibilidade de se lhe juntar.

Luto Traumático (complicado ou patológico)


- Ausência das “fases normativas”
- As propostas de vários autores acabam por ser muito semelhantes, variando no critério
"duração".
- Sintomas de sofrimento e de separação: pensamentos intrusivos sobre a pessoa falecida,
ânsia e procura da pessoa falecida, esperança irrealista do regresso da pessoa, solidão
excessiva desde a morte do ente querido, manutenção continuada de rituais, hostilidade em
relação a pessoas ligadas à morte, aquisição de sintomas da doença do morto
- Sofrimento traumático: sentimentos de inutilidade ou futilidade em relação ao futuro,
embotamento ou desligamento, sentimento de que a vida não tem sentido, culpa excessiva,
impulsos destrutivos (eg. rasgar fotos).
- Preditor de vários problemas de saúde física e mental
- Problema: lacunas na conceptualização e operacionalização do “luto patológico” e do "luto
bem sucedido” e também na diferenciação entre luto patológico e depressão.

Luto normal (não complicado)


- Apresentação frequente de características típicas da depressão major, mas com ausência de:
suicidalidade, psicose, perda grave de autoestima e/ou funcionalidade, lentidão psicomotora
- Embora com menor gravidade que na depressão major, presença habitual de: perturbação do
apetite e do sono, queixas somáticas múltiplas, anedonia, ansiedade, tristeza e humor
deprimido, etc.
- Concentração no objeto perdido vs auto-centração e papel do sujeito na perda (culpa e
diminuição da autoestima)
- Alguns sintomas que não são característicos de luto normal podem ser indicadores de
depressão: sentimentos de culpa acerca das ações que poderiam ou não ter sido realizadas
pelo sobrevivente no momento da morte; ideia de morte relativas ao sentimento por parte do
sujeito sobrevivente de que seria melhor estar morto ou ter morrido com o ente querido;
preocupação pré-mórbida com sentimentos de desvalorização pessoal; acentuada lentificação
psicomotora, défice funcional acentuado e prolongado, experiência alucinatória (exceto
pensar que se ouve ou vê a pessoa falecida de modo fugaz)

Avaliação do luto
Entrevista: integração fundamental de várias dimensões (contexto da perda, significados
atribuídos à perda ao longo do tempo, estratégias de coping e de regulação emocional,
consideração das especificidades das manifestações ansioso-depressivas da população idosa).
Instrumentos de AP:
- TRIG (texas revised inventory of grief): uma das escalas mais utilizadas, avalia
explicitamente sintomas de luto (distress sobre a perda, não aceitação da perda, pensamentos
sobre o ente querido falecido)
- Notas interessantes: as mulheres expressam mais pensamentos sobre a perda do que
os homens, os idosos mais velhos apresentam um esforço acrescido na aceitação da perda,
pontuações mais elevadas nos 3 fatores estão associadas a maiores dificuldades em regressar
ao nível prévio de funcionamento.
- ICG (inventory of complicated grief): identifica sujeitos com lutos patológicos, muito útil
em viúvos idosos, indivíduos acima de 25 pontos (ponto de corte) são considerados em luto
complicado (elevado risco de morbilidade psiquiátrica e física, comportamentos de saúde
negativos, reduzida qualidade de vida)

Intervenção:
- Objetivos centrais a longo prazo: aceitar a realidade da morte, sentir a dor, adaptação à nova
vida, reinvenção do eu familiar, social e emocional
- Modalidades de intervenção: Intervenção psicoterapêutica, grupos de autoajuda,
envolvimento comunitário
- Modelos teóricos de intervenção: Dual-Process Model of Bereavement (DPM): promoção
de uma adaptação à perda com base em dois processos centrais: coping orientado para a
perda e coping orientado para o eu

Perturbação de luto complicado persistente (critérios propostos pelo DSM-5 para um


possível diagnóstico numa edição futura)
Reflexões finais:
- O conhecimento do luto nos mais idosos encontra-se muito centrado na perda do cônjuge
(viuvez). Verifica-se uma escassez de estudos sobre outros tipos de perdas, consideradas
“menos normativas": filhos, familiares mais novos, perdas ocorridas em circunstâncias de
suicidio ou homicidio, perda em instituições (co-residentes, familiares institucionalizados)
- Necessidade de equacionar as especificidades e os limites da manifestação depressiva nas
perdas e apurar com maior rigor a pertinência do luto patológico enquanto diagnóstico.

Perturbação do Ajustamento no Idoso


- Desenvolvimento de sintomas emocionais e comportamentais em resposta a um ou mais
fatores de stress identificáveis, reações não adaptativas, nos 3 meses seguintes.
- Exemplos de acontecimentos que podem provocar uma resposta de stress psicológico,
emocional ou comportamental e que suponham alterações e subsequentes necessidades de
adaptação: institucionalização, mudanças frequentes e sucessivas de domicílio familiar,
estado físico geral incapacitante de carácter crónico, dificuldades emocionais ou financeiras
pós-divorcio, etc.
Critérios DSM-5:
A. O desenvolvimento de sintomas emocionais e comportamentais como reação a um ou
mais fatores de stress identificáveis, que ocorrem nos 3 meses após o aparecimento do
fator de stress.
B. Estes sintomas e comportamentos são clinicamente significativos, manifestando-se
por qualquer um dos seguintes: mal-estar acentuado que excede o que seria de esperar
em relação à exposição ao fator de stress, défice significativo nas áreas sociais e
ocupacionais.
C. A perturbação relacionada com o stress não preenche os critérios para outra
perturbação mental e não é uma exacerbação de uma perturbação mental
pré-existente.
D. Os sintomas não se enquadram numa reação de luto.
E. Uma vez terminado o factor de stress e as suas consequências, os sintomas não
persistem por um período adicional de 6 meses.

Especificadores: Aguda ou Crónica (consoante a duração), C/humor depressivo,


C/ansiedade; Mista, c/humor depressivo e ansiedade, C/perturbação do comportamento;
C/perturbação mista de emoções e comportamento; Não especificada.
Aula 4: Suícidio
Suícidio: Ato de causar intencionalmente a própria morte
- Em Portugal suicidam-se 3 pessoas por dia: ocorre sobretudo nas pessoas mais velhas, das
zonas rurais sendo que a zona do Alentejo tem o dobro da incidência de suicidio em relação
ao resto do país.
- A dispersão geográfica, o envelhecimento, as alterações sociais e culturais nem sempre
fáceis de acompanhar e, sobretudo, a solidão (nota: diferente de isolamento social), são
denominadores comuns na generalidade dos casos de sucidio.
- Questões como a precariedade no emprego, os baixos rendimentos e a falta de apoio social
podem ser outras causas que levam as pessoas a pensar suicidar-se.
- Importante: perceção subjetiva da rede de suporte social.
- No mundo, as estimativas da OMS de 2015 indicaram que 788000 pessoas morreram
devido a sucidio e que muitas mais tentaram este ato sem as consequências esperadas. Dentro
das top 20 principais causas de morte em 2015.
- É a segunda causa de morte nos jovens entre os 15 e 19 anos.
- Maior expressividade nos países mais pobres e menos desenvolvidos.
- Homens: mais suicidio consumado (3:1). Mulheres: mais tentativas de suicidio (2:1).
- As perturbações depressivas, em particular as mais graves, têm como consequência mais
dramática decorrente de desespero atroz, a ideação suicida, evoluindo eventualmente para
consumação suicida.
- Principais fatores de risco (Portugal): homens idosos, doença crónica incapacitante,
isolamento social (eg. viver sozinho), baixo estatuto sócio-económico, etc.
- Com a pandemia, a incidência da depressão e do suicidio podem vir a agravar-se.

- Ideias suicidas (ideação suicida): Pensamentos sobre autolesão, com intenção deliberada
ou alguma intenção de técnicas susceptíveis de provocarem a morte.
- Tentativa de suicidio: comportamento que o indivíduo levou a cabo com pelo menos
alguma intenção de morrer, o comportamento pode levar ou não a lesão ou consequência
médias sérias. Vários fatores que podem influenciar as consequências médicas incluem o mau
planeamento, a falta de conhecimento sobre a letalidade do método escolhido, a baixa
intencionalidade ou ambivalência, a oportunidade de intervenção de outros após o
comportamento ter sido iniciado.
- Para-suicidio: ato não fatal, através do qual o indivíduo protagoniza um comportamento
invulgar, sem intenção de outrem, causando lesões a si próprio ou ingerindo substância em
excesso além da dose prescrita, reconhecida geralmente como terapêutica, com vista a
conseguir modificações imediatas com o seu comportamento ou a partir de eventuais lesões
físicas consequentes.

Mitos e preconceitos:
- “falar sobre o sucidio é uma má ideia e pode ser interpretado como encorajamento"
- “só pessoas com problemas de saúde mental cometem suicidio”
- “a maior parte dos suicídios ocorrem de repente e sem aviso”
- “pessoas com ideias suicidas estão determinadas a morrer”
- “as pessoas que falam sobre suicidio não têm real vontade de o fazer”
- “uma vez com ideias suicidas, a pessoa vai sempre ter essa intenção”

Suicidio no Idoso
- Importante problema de saúde pública: entre as 10 principais causas de morte a nível
mundial.
- Taxas de suicidio entre a população com idade superior a 75 anos é 3x superior em relação à
população com idade inferior a 25 anos. Os homens idosos (>85 anos) são uma população
bastante vulnerável.
- No entanto, as tentativas de suicidio são significativamente mais baixas do que nas
populações mais jovens, ou seja, existe uma maior passagem ao ato na população idosa.
- Métodos utilizados (população geral): enforcamento, arma de fogo, overdose de
medicamentos, atirar-se de locais altos, sufocamento (questões culturais e meios disponíveis).
- Contexto clínico: é muito importante abordar o assunto com a máxima naturalidade e
seriedade clínica mas com muito cuidado e respeito pela pessoa, validar os seus sentimentos.

Teoria Interpessoal do Suícido

Fatores de risco: homens, raça branca, baixo nível socio-econômico, fatores


psicopatológicos (depressão, alcoolismo, esquizofrenia, perturbações da personalidade, etc),
doenças físicas, traços de personalidade (eg. forte e frustrada necessidade de ser ativo e
independente, dependência de terceiros, desesperança, perda de controlo, reduzida tolerância
à mudanças, etc) acontecimentos de vida (viuvez, divórcio, conflitos familiares, solidão,
stress financeiro, perda de animais, luto não resolvido, perda de capacidade física e mental)

Avaliação do risco de suícidio:


- No contexto de uma entrevista clínica e não centrada na resposta a um questionário de
autorrelato (cuidado na utilização de testes e inventários).
- Utilização de medidas para avaliar a natureza, intensidade e frequência dos pensamentos
suicidas.
- Recursos a instrumentos específicos: Escala de ideação suicida, Avaliação de Suicidalidade
de Yale.
- Os pontos de corte das escalas de depressão podem ser também um bom indicador, uma vez
que estão bastante relacionados.

Domínios e áreas a inquirir:


- Doença mental: perturbações depressivas ou bipolares, demência em fase inicial, abuso de
substâncias, etc.
- Comportamento suicida prévio/ideação suicida
- Doença física e limitações funcionais: cancro, perceção de saúde/doença, etc.
- Isolamento social: número de contactos, confidentes, rede de apoio social, proximidade
física/geográfica da rede de suporte, etc.
- Stressores Psicossociais: problemas financeiros, stress no cuidador, conflitos familiares, fim
de relações, mudança de residência
- Acesso a meios letais: arma de fogo, medicamentos, etc.

Recomendações: Prevenir o suicidio através da melhoria da capacitação diagnóstica e


terapêutica das perturbações depressivas, detetar precocemente e acompanhar a depressão e
demências.

Condições para estudo futuro (critérios propostos pelo DSM-5)


1. Perturbação do Comportamento Suicidário
A. Nos últimos 24 meses, o indivíduo fez uma tentativa de suicidio
B. O ato não cumpre critérios para autolesão não suicida, não evolve autolesão dirigida à
superfície do corpo levada a cabo para induzir alívio de sentimentos negativos/estado
cognitivo ou alcançar um estádio de humor positivo
C. O diagnóstico não é aplicado a ideação suicida ou atos preparatórios
D. O ato não foi iniciado durante um estado de delirium ou confusão
E. O ato não foi realizado apenas com objetivos políticos ou religiosos

Marcadores do risco de suicidio: grau de planeamento (escolha do local e hora), alta recente
de unidade de internamento, descontinuação recente de um estabilizador do humor
Triggers Ambientais: Conhecimento recente de um diagnóstico médico potencialmente
fatal, morte de alguém próximo, perda de emprego ou mudança de casa

2. Autolesão Não Suicida


A. No último ano, o indivíduo produziu, em 5 ou mais dias, lesões autoinfligidas
intencionais na sua superfície corporal, de um modo com probabilidade de induzir
hemorragia, escoriação ou dor (eg. cortar, queimar, esfaquear, bater) com a expetativa
de que a lesão leve apenas a lesão física ligeira (não existe intenção suicida)
B. O indivíduo inicia o comportamento autolesivo com 1 ou mais das seguintes
expetativas:
- Obter alívio de um sentimento ou estado cognitivo negativo
- Resolver uma dificuldade interpessoal
- Induzir um estado de sentimentos positivos
C. A autolesão intencional está associada e pelo menos um dos seguintes:
- Dificuldades interpessoais ou sentimentos ou pensamentos negativos, como a depressão,
ansiedade, tensão, raiva, mal-estar generalizado ou autocrítica, ocorrendo no período
imediatamente anterior ao ato autolesivo.
- Um período de preocupação difícil de controlar com o comportamento pretendido antes de
iniciar o ato.
- Pensamentos sobre a autolesão que ocorrem com o comportamento pretendido antes de
iniciar o ato.
D. O comportamento não é socialmente aceite e não se restringe a arrancar uma crosta de
ferida ou a roer as unhas
E. O comportamento ou as suas consequências causam mal-estar clinicamente
significativo ou interferência no funcionamento interpessoal acadêmico ou noutras
áreas importantes do funcionamento.
F. O comportamento não acontece durante episódios psicóticos, delirium, intoxicação
por substância ou abstinência. Em indivíduos com perturbação do
neurodesenvolvimento, o comportamento não faz parte do padrão de estereotipias
repetitivas. O comportamento não é mais bem explicado por outra perturbação mental
ou condição médica (eg. perturbação de escoriação, tricotilomania, etc.)

Aula 5: Perturbações da Ansiedade


DSM-5: 3 capítulos independentes em que o fator comum é ansiedade excessiva
(antigamente estavam todos juntos)
- Perturbações da ansiedade
- Perturbações obsessivo-compulsivas e pert. relacionadas
- Perturbações relacionadas com trauma e fatores de stress.

Ansiedade
- A ansiedade é uma emoção humana normal, com valor adaptativo que ajuda o indivíduo a
preparar-se e, se possível, evitar situações desagradáveis.
- Pode manifestar-se de forma patológica se excessiva, inapropriada ou mal adaptativa.
- A ansiedade com significância clínica situa-se entre uma preocupação desmesurada acerca
de aspetos mundanos, até à vivência de episódios intensos de medo (ataques de pânico) sem
razão aparente → sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos
- Antecipação apreensiva de um perigo ou desgraça, acompanhada de uma sensação de
disforia ou sintomas somáticos de tensão. O foco de perigo pode ser interno ou externo.
- Estado emocional que possui a qualidade subjetiva do medo ou de uma emoção muito
próxima. É desagradavel, negativa, dirigida ao futuro, por vezes exagerada relativamente a
ameaças e implica sintomas corporais subjetivos e manifestos.
-Ponto de vista cognitivo: a ansiedade está presente quando o sujeito perceciona um perigo ou
ameaça

Sintomas de Stress:
- Sintomas psicológicos (emocionais e cognitivos): mau humor, irritabilidade, preocupação,
frustração, humor deprimido, apreensão, ruminação, dificuldade de concentração
- Sintomas fisiológicos: sudação, palpitações, frequência urinária, tensão muscular, falta de
ar, náuseas ou indisposição, tonturas, etc.
- Sintomas sociais e comportamentais: gaguez, falar depressa, riso nervoso, aumento dos
tiques como roer as unhas ou mexer no cabelo, atitude negativa, isolamento, choro frequente,
diminuição da motivação e da iniciativa, comportamentos repetitivos, discurso tenso,
agitação, etc.

Perturbações da Ansiedade
- Experiência frequente de ansiedade, preocupação e apreensão que são mais intensas do que
a ansiedade vulgar experienciada por uma pessoa na vida diária
- Desenvolvimento frequente de evitamento, atos rituais ou pensamentos repetitivos como
forma de proteção contra a ansiedade.
- Perturbações classificáveis de acordo com: a presença ou ausência de estímulos externos,
etiologia da perturbação, natureza dos sintomas → tipos de objetos que induzem medo,
ansiedade ou comportamentos de evitamento, ideação cognitiva associada
- A duração, intensidade e evolução dos sintomas determina a presença de critérios para
perturbações específicas de ansiedade.
- Os sentimentos de apreensão, incerteza e medo podem ser desproporcionais/excessivos
em relação à situação ou acontecimento (fobias específicas), podem ser um estado no qual a
pessoa se encontra constantemente e que pode não ser facilmente atribuível a uma ameaça
específica (PAG), podem persistir de modo crónico e ser tão incapacitantes que provoquem
distress emocional constante na pessoa, sendo esta incapaz de levar um dia-a-dia normal
(incapacidade de manter emprego ou relações interpessoais duradouras).

As perturbações de ansiedade incluem condições clínicas que partilham características de


medo e ansiedade excessivos e alterações do comportamento relacionados.
- Medo: resposta emocional a uma ameaça iminente real ou percebida, focalização específica
no perigo, perigo identificado e iminente (algo circunscrito).
- Ansiedade: antecipação de uma ameaça futura, origem imprecisa, pode ocorrer sem a
presença de um objeto específico
- Ansiedade traço: é uma predisposição para responder de forma ansiosa às situações de vida,
tendência de responder pelo medo a estímulos stressantes, é considerada uma característica
da personalidade do sujeito.
- Ansiedade estado: emoção transitória caracterizada por arousal fisiológico e a perceção de
sentimentos de apreensão, de temor e de tensão.

- As perturbações da ansiedade são relativamente comuns e estima-se que cerca de 30/40% da


população ocidental desenvolverá uma nalgum ponto da sua vida.
- Traduzem-se em elevados custos pessoais e sociais: tendem a ser mais crónicas que muitos
outros problemas psicológicos e podem ser tão incapacitantes quanto uma doença física;
elevados custo em termos de tratamento (cuidados de emergência, hospitalização, medicação,
reduzida produtividade, absentismo, suicidio)
- São mais comuns nas mulheres em todas as faixas etárias, diminuição da prevalência com a
idade para ambos os sexos. Em idades mais avançadas, há uma preferência pelo diagnóstico
de depressão em vez de ansiedade (idosos podem estar subdiagnosticados).
- Muitos riscos psicossociais em contexto de trabalho online (burnout).

Perturbações da Ansiedade

● Fobia Específica
- Medo ou ansiedade marcados em relação a um objeto ou situação específicos (eg. andar de
avião, alturas, animais, injeções, sangue, etc)
- A exposição ao objeto ou situação fóbica provoca quase invariavelmente uma resposta de
medo ou ansiedade imediata.
- As situações são evitadas ou enfrentadas com medo e ansiedade intensos.
- O medo ou ansiedade são desproporcionais ao perigo real que o estímulo coloca e ao
contexto sociocultural
- O medo, ansiedade ou evitamento são persistentes, durando tipicamente + de 6 meses.
- O medo, ansiedade ou o evitamento interferem significativamente com a rotina normal da
pessoa.
- Não é melhor explicada por outra perturbação
Especificadores: animal, ambiente natural (alturas, tempestades), situacional (andar de avião,
elevadores), sangue/injeção/ferimentos, outro tipo
- Mais comum nas mulheres
- Aquisição de um conjunto de crenças de ameaça que contribuem para a manutenção da
fobia.

FE no Idoso
- Associada frequentemente a síndromes depressivas ou outras perturbações de ansiedade
comórbidos, bem como a problemas de saúde crônicos.
- Mais frequentes: fobia situacional e medo de elementos do meio ambiente
- Grande associação com a fobia social e doenças

Medo de Cair (ptofobia): Preocupação persistente acerca de cair que leva o indivíduo a
evitar atividades para as quais tem capacidades de execução, medo completamente irracional
e evitamento de situações que possam ser consideradas perigosas, é considerada uma
“condição” e não uma “perturbação”.
- Marcada presença de sintomas de ansiedade mas não configura perturbação da ansiedade.
Pode evoluir para uma perturbação de ansiedade.
- Muitas vezes a família acaba por reforçar este medo, o que pode ter consequências graves.
- A ptofobia designa a reação fóbica a manter-se em pé e a andar, relacionada ao medo de
cair; mesmo na ausência de problema neurológico ou ortopédico, a pessoa não consegue
andar sem apoiar-se. Reconhecido nos anos 80 como um problema de saúde para os idosos.
- Mais comum em mulheres (sub-relato masculino), maior risco com o avançar da idade.
Fatores importantes: Idade, défices visuais, estilo de vida sedentário, fraco apoio emocional
disponível, existência de quedas prévias, mobilidade diminuída, performance pobre em testes
de equilíbrio, tonturas/vertigens crónicas, níveis elevados de dor, viver sozinho ou ter
contactos sociais reduzidos, reduzida satisfação com a vida, auto-perceção de saúde reduzida,
utilização de instrumentos de apoio à locomoção

Evolução do conceito:
- Ansiedade significativa “pós-queda” com interferência na capacidade de manter-se de pé e
caminhar sem suporte
- Subsequente a queda vs queda inexistente
- Evitamento de situações como consequência do medo
- Do medo à perda de confiança no equilíbrio e no caminhar

Medo de cair → Restrição de atividade → Redução de capacidades físicas → Restrição de


mais atividades → Maior incapacidade física → Maior risco de queda e mais medo

Impacto psicossocial: interação social reduzida, diminuição da autoestima, perda de


autoconfiança, sentimento de desesperança, redução da qualidade de vida

● Perturbação de Pânico
- Caracteriza-se pela presença de ataques de pânico inesperados e recorrentes e pelo menos
um dos ataques foi seguido por 1 mês (ou mais) de 1 (ou ambos) dos seguintes sintomas:
- Preocupação persistente acerca de ter novos ataques ou das suas consequências (eg.
perder o controlo, ter um ataque de coração ou “enlouquecer”);
- Uma alteração significativa no comportamento relacionado com os ataques (eg.
comportamentos destinados a evitar ataque de pânico, como evitamento da prática de
exercício ou situações desconhecidas)
- Ataques não explicáveis por efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou estado físico
geral; Ataques não melhor explicados por outras perturbações mentais.

- Combinação de vários sinais e sintomas: palpitações, sudorese, tremores, falta de ar, dor no
peito, náuseas, desmaio, tontura, desrealização, medo de morrer, medo de perder o controlo
ou enlouquecer, sensações de frio ou calor, etc.
- O ataque de pânico como especificador: os ataques podem ocorrer no contexto de qualquer
perturbação de ansiedade, bem como de outras perturbações mentais e algumas condições
médicas; quando se verifica a presença de um ataque de pânico ele deve ser anotado como
“especificador” (à exceção da perturbação de pânico, onde a sua presença é exigida); podem
estar presentes sintomas culturais específicos.
- Inicio comum na adolescência ou juventude habitualmente na sequência de um período de
stress
- Tratamento: TCC, exposição, antidepressivos

PP no Idoso
- Manifestação semelhantes ao adulto, mas de aparecimentos tardio raro, com taxas de
prevalência entre 0,4-2,8%
- Sintomas mais frequentes: dificuldades em respirar, tontura, sensação de instabilidade ou
vertigem, medo de cair (especificidade da população mais velha), tremores, medo de morrer.
- Presença de sintomas agorafóbicos, evidenciados por: recusa em sair de casa por medo de
cair ou ser assaltado, por exemplo.
- Associada a perturbações depressivas
- Possível desenvolvimento de abuso de álcool ou tranquilizantes para diminuir a ansiedade

● Agorafobia
- Ansiedade ou evitamento de lugares ou situações nos quais a fuga pode ser difícil ou de que
a ajuda possa não estar disponível no caso de desenvolver sintomas de tipo ataque de pânico
ou outros sintomas incapacitantes ou embaraçosos (eg. medo de cair nos idosos, medo de
incontinência).
- O medo ou ansiedade envolve tipicamente 2 (ou mais) das situações seguintes: utilização de
transportes público, estar em espaços abertos, estar em espaços fechados, estar em pé numa
fila ou numa multidão, estar fora de casa sozinho
- As situações agorafóbicas provocam quase sempre medo ou ansiedade, são evitadas
ativamente, requerem a presença de um companheiro ou são suportadas com medo e
ansiedade intensos.
- O medo ou a ansiedade: são desproporcionais em relação ao perigo real que as situações
agorafóbicas pressupõem e ao contexto sociocultural, são persistentes (+6 meses), causam
mal-estar clinicamente significativo.
- A agorafobia é diagnosticada independentemente da presença da perturbação de pânico
(mudança em relação à versão anterior do DSM).

● Perturbação da Ansiedade Generalizada


- Ansiedade e preocupação (apreensão expectante) que ocorrem durante mais de metade dos
dias durante pelo menos 6 meses, acerca de um número de acontecimentos ou atividade (tais
como trabalho ou desempenho escolar)
- A pessoa tem dificuldade em controlar a preocupação
- A ansiedade e a preocupação estão associadas com 3 (ou mais) dos sintomas:
- Agitação, nervosismo ou tensão interior
- Fadiga fácil
- Dificuldade de concentração ou mente vazia
- Irritabilidade
- Tensão muscular
- Perturbação do sono (eg. dificuldade em adormecer, sono agitado e insatisfatório)
- A ansiedade, preocupação ou sintomas físicos provocam mal-estar clinicamente
significativo ou défices no funcionamento
- A perturbação não é provocada pelos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou um
estado físico geral
- A perturbação não é mais bem explicada por outras perturbação mental (PP, ansiedade
social, ansiedade de separação, etc)
Características:
- Mais comum nas mulheres do que nos homens
- A preocupação excessiva é tida como incontrolada; a ruminação está mais associada à
depressão.
- Elevada comorbilidade com outras perturbações da ansiedade e depressão major
- Preocupação: cadeia de pensamentos catastróficos, estratégia de coping
- Possíveis causas: viés de processamento de informação, crenças disfuncionais acerca da
preocupação, etc.

PAG no Idoso
- Geralmente de início na adultez
- O início tardia da PAG associa-se a mau funcionamento global, dor, pior sensação relativa
de saúde e mau funcionamento em termos emocionais
- Manifestação minor ou subsindrômica mais habitual
- Em comparação com indivíduos mais jovens, apresentam maior variedade de preocupações:
perda de memória, doenças médias e o medo de quedas. Preocupam-se menos com trabalho,
futuro e morte do que os jovens e adultos.
- Associada ao aumento do risco de AVC e outros eventos cardiovasculares e também ao
maior risco de conversão para declínio cognitivo ou mesmo DA
- A importância da subjetividade na vivência e na apreciação das ameaças pelo terapeuta

● Perturbação de Ansiedade Social


- Medo ou ansiedade marcados por uma ou mais situações sociais em que o sujeito está
exposto ao possível escrutínio de outros. Os exemplos incluem interações sociais (eg.
conversa, encontro com desconhecidos), ser observado (eg. comer ou beber) e em situações
de desempenho (eg. falar em público):
- O indivíduo tende a comportar-se ou mostrar sintomas de ansiedade que possam ser
avaliados negativamente (eg. que sejam humilhantes ou embaraçosos, que levem à rejeição
ou ofensa dos outros)
- As situações sociais provocam quase sempre medo ou ansiedade.
- As situações sociais são evitadas ou enfrentadas com intenso medo ou ansiedade, sendo que
estes são desproporcionais relativamente ao perigo real que a situação social pressupõe e ao
contexto sociocultural.
- O medo, a ansiedade ou o evitamento são persistentes, com uma duração típica de + 6
meses e provocam mal-estar clinicamente significativo.
- Os sintomas não são atribuíveis aos efeitos fisiológicos de substância ou outra condição
média, nem melhor explicados por outra perturbação mental.

- Anteriormente designada de "Fobia Social”


- Eliminação do especificador “generalizada” (que incluía quase todas as situações e era
difícil de operacionalizar)
- Introdução do especificador “apenas de desempenho” se o medo se restringe a falar ou a
situações de desempenho em público.
- Alta comorbilidade com Perturbação Dismórfica Corporal. Também associada aos ataques
de pânico.
- Viés de processamento de informação que se traduz em predições excessivamente negativas
de acontecimentos sociais, autocentração atencional.

Outras Pert. Ansiedade (mais diagnosticadas em crianças)


Ansiedade de Separação: medo e ansiedade associado à separação da figura de vinculação,
medo que algo de mal aconteça aqueles que ama ou ao próprio, sintomas físicos,
relutância/resistência na separação
- Características associadas a PAS: humor deprimido, retraimento social, apatia, tristeza e
dificuldade de concentração, medo de situações percepcionadas como perigosas.
- Os adultos tendem a preocupar-se excessivamente com os filhos e cônjuges, perpetuando
estilos de vinculação pouco saudáveis.
- Frequente em crianças e adolescentes, diminuindo progressivamente.
Mutismo Seletivo: incapacidade persistente e “voluntária” em falar em situações sociais
específicas, esta alteração interfere no rendimento escolar e ocupacional ou na comunicação
em contexto social.
- Características associadas: timidez, isolamento, medo do embaraço, comportamentos de
oposição como birras.
- Muito rara, mais frequente no sexo feminono, pode tonar-se uma perturbação crónica.

Perturbação da Ansiedade vs Condições Clínicas: Caracteriza-se pela presença de


sintomas de ansiedade proeminentes que são considerados uma consequência fisiológica
direta de um estado físico geral.
Perturbação da Ansiedade vs Substâncias/medicamente: Caracteriza-se pela presença de
sintomas de ansiedade proeminentes que são considerados uma consequência fisiológica
direta do abuso de drogas, medicamentos ou exposição a tóxicos.
Condições médicas e substâncias associadas às Pert. Ansiedade: doenças
cardiovasculares, doenças pulmonares, doenças neurológicas e endócrinas, fármacos
relacionados com a ansiedade (corticoides, psicoativos, etc), café e álcool, etc.

Perturbações de Ansiedade no Idoso


- Evolução crónica pré-senil que se mantem em idade avançadas
- Reduzido número de casos com início tardio e menos comum que nos jovens e adultos
- Maior prevalência de PAG e FE
- A importância de considerar as perturbações de ansiedade subclínicas, os sintomas de
ansiedade associados a outras perturbações mentais, condições médicas ou mesmo a fatores
psicossociais (eg. vizinhança perigosa).
- Secundarização às perturbações do humor porque menos expressivas (ou reconhecidas),
apesar da sua associação comum aos estados depressivos.
- Escassez de dados para esta população
- Algumas possíveis explicações para o aparente declínio com a idade: preferência por
diagnóstico de depressão, atribuição de queixas a causas físicas e não psicológicas, interação
entre critérios clínicos e envelhecimento (expressão subclínica dos sintomas, repertório
discursivo da atual coorte, preferência por sintomas somáticos).

Fatores de risco: sexo feminino, idade 55+, ainda no ativo, existencia de um evento
traumantico recente, separados/viuvos/divorciados/nunca casados, elevado neuroticismo e
auto-perceção de fraca eficácia, défices cognitivos, limitações funcionais, perdas visuais e
auditivas, doença grave no conjuge, aspetos relacionais e questões financeiras

Principais medos e preocupações identificados na população mais velha: cair, envelhecer,


morrer, incapacidade física, ser um fardo, ficar dependente, declínio cognitivo, problemas de
memória, ficar doente ou ter um acidente, etc.

Síndrome Ansioso no Idoso


- Manifestação imprecisa dos sintomas cognitivo-comportamentais: dificuldades em
descrever o estado emocional, referências a condições não específicas de mal-estar geral não
subsequente a ameaças claras ou a uma sensação de medo ou temor reconhecível.
- Maior evidência dos sintomas comportamentais: inquietação (sentir-se agitado),
hiperatividade motora, gritos e queixumes frequentes em idosos dependentes.
- O principal sintoma nos idosos é a somatização (sensação de opressão, nó no estômago ou
garganta, dificuldade em respirar, cefaleias, vertigens, náuseas).
- Sintomas de ansiedade são manifestações apropriadas e reações expectáveis a um
determinado acontecimento de vida tido como emocional e funcionalmente debilitante
(diagnóstico de uma doença, conflitos familiares,etc), mas que coloca em causa o grau de
controlo exercido (não preenchem critérios de diagnóstico de perturbação mas são
incapacitantes).

Preocupações com a Saúde


Hipocondria: Preocupação baseada na interpretação errada dos sintomas físicos ou funções
do corpo, medo de ter (ou idade de que se tem) uma doença grave.
- Preocupação centrada: em funções corporais, em alterações físicas menores, em sensações
físicas vagas e ambíguas. A pessoa atribui estes sinais e sintomas à suposta doença e
mostra-se bastante preocupada com o seu significado, autenticidade e etiologia.
- Persistência da preocupação independemente de avaliação e tranquilização médica
adequada.
- A crença que se tem uma doença grave não tem intensidade delirante (pert. delirante de tipo
somático) nem está circunscrita a uma preocupação com imagem corporal (perturbação
dismórfica corporal)
- Mínimo de 6 meses. Especificador: com fraco insight

O aparecimento de preocupações com a saúde na terceira idade tem mais probabilidade de


corresponder à realidade ou refletir uma perturbação depressiva, do que ser hipocondria.

Ansiedade e Depressão
- O síndrome ansioso-depressivo está associado a um prognóstico negativo, incluindo
severidade sintomática elevada, alternância entre um diagnóstico e o outro (em vez de
remissão sintomática), ideação suicida, incremento de sintomas autonômicos, exacerbação de
incapacidade na presença de condições médias e menor funcionamento global.

Aula 6: Perturbações Obsessivo-Compulsivas e Pert. Relacionadas


Obsessões: Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são
experimentadas durante algum período da perturbação, como intrusivos e inapropriados e que
provocam ansiedade ou mal-estar intenso. Estes pensamentos, impulsos ou imagens não são
apenas preocupações excessivas acerca de problemas reais da vida e a pessoa tenta suprimir
ou ignorá-los. A pessoa reconhece que os pensamentos obsessivos, impulsos ou imagens são
produtos da sua mente.
Compulsões: Comportamentos repetitivos ou atos mentais que as pessoas se sentem
compelidas a executar em resposta a uma obsessão, ou de acordo com regras que devem ser
aplicadas de modo rígido. Os comportamentos ou atos mentais têm como objetivo evitar ou
reduzir o mal-estar ou prevenir algum acontecimento ou situação temida, contudo aqueles
não estão ligados de um modo realista com o que pretendem neutralizar ou evitar ou são
claramente excessivos.

● Perturbação Obsessivo-Compulsiva
- Principais padrões de POC: contaminação, pensamentos intrusivos, simetria e dúvida
patológica.
- Obsessões e/ou compulsões recorrentes e severas e disfuncionais, que provocam distress
(consomem muito tempo e impedem as pessoas de fazer coisas importantes).
- Variação de sintomas entre crianças e adultos, uma vez que nas crianças as compulsões têm
um teor variável, enquanto nos adultos percecionam-se como estáveis ao longo do tempo.
- A sintomatologia inicia-se normalmente de forma gradual aos 19.5 anos.
- Incapacidade de diagnosticar devido à vergonha, relutância dos indivíduos e criação de
suposições por parte da família e médicos de que os sintomas podem estar relacionados com
a própria idade.
- Comorbilidades: ansiedade social, perturbação de pânico, PAG, perturbações do humor,
perturbação de personalidade obsessiva-compulsiva, abuso de álcool e perturbações do
comportamento alimentar
- Mais comum nas mulheres

Diagnóstico Diferencial
- Perturbação obsessivo-compulsiva da personalidade: não é caracterizada por pensamentos
ou comportamentos repetidos realizados em resposta a intrusões
- Perturbações de Ansiedade: Pensamentos recorrentes ou impulsos ligados às inquietações
da vida real
- Depressão: Pensamentos ajustados ao humor e ruminação não são entendidos como
compulsões
- Perturbação de Tiques: Não tem como objetivo uma resposta à obsessão.
- Pert. Dismórfica Corporal: Obsessões e compulsões relacionadas com o aspeto físico
- Tricotilomania: Comportamento compulsivo de arrancar cabelos na ausência de obsessões
- Pert. Acumulação: Foco exclusivo na dificuldade de separação de objetos de índole pessoal

● Perturbação Dismórfica Corporal


- Presença de uma preocupação relacionada com um defeito imaginário ou marcadamente
excessivo devido a uma anomalia física insignificante. Estes defeitos ou falhas não são
observáveis ou parecem ligeiros aos outros.
- Comportamento repetitivo: verificação ao espelho, autocuidado, escoriação da pele. Atos
mentais associados: comparação com os outros.
- A preocupação pode provocar sofrimento ou incapacidade no funcionamento:
comportamento de verificação e arranjo, ocultação/evitamento de espelhos, isolamento social,
camuflagem do defeito, baixa-autoestima.
- A preocupação não faz parte do quadro de outra doença mental (eg. insatisfação com a
imagem corporal na Anorexia Nervosa)
- Historicamente conhecida como Dismorfofobia
- Queixas frequentemente centradas em: rosto/cabeça (acne, rugas, cicatriz, pouco cabelo,
manchas, assimetria, pilosidade facial, forma/tamanho do nariz/olhos, etc), outras partes do
corpo (genitais, mamas, etc.).
- Especificadores: Com dismorfia muscular, grau de insight (bom ou razoável, pobre,
ausente/crenças delirantes)

● Perturbação de Acumulação (hoarding):


- Caracteriza-se pela presença de dificuldade no descarte de objetos pessoais,
independentemente do seu valor.
- Grande dificuldade em descartar ou se desfazer de posses, fazendo com que os objetos se
acumulem, desorganizando áreas de convívio e impossibilitando o seu uso. Esta acumulação
excessiva de objetos, muitas vezes inúteis e sem valor, provoca distress significativo e
disfuncionalidade.
- Se as áreas estão habitáveis tal se deve à intervenção de terceiros (como família e
autoridades). Ambiente inseguro para o próprio sujeito.
- Especificadores: com aquisição excessiva e grau de insight (razoável, pobre, ausente/com
crença delirante).
- Características em comum com personalidade narcísica e esquizóide.
Acomulação de animais (Síndrome de Noé): tem características de conduta acumuladora
mas não encaixa na perturbação de acumulação.
- Falha ao não providenciar os cuidados mínimos de higiene, espaço, alimentação e cuidados
veterinários aos animais
- Incapacidade de reconhecer os efeitos dessa falha no bem-estar dos animais, no de outras
pessoas que possam viver na casa/vizinhança ou no ambiente. Negação ou desvalorização do
problema e das suas consequências.
- Tentativas obsessivas para acumular animais perante condições progressivamente
deterioradas
- Vários perfis de doentes: o cuidador sobrecarregado, o acumulador de resgate, o
acomumulador explorador
- Tendência para se manifestar em pessoas com mais de 65 anos. Estas pessoas tendem a
encontrar os animais na rua ou através de anúncios de adoção.
- No caso de pessoas mais velhas, a imagem estereotipada que temos de os ver a alimentar
animais ou a levá-los para casa pode condicionar a deteção do problema (visto como um ato
altruísta ou necessidade de companhia).
- A acumulação é particularmente perigosa para as pessoas idosas que muitas vezes
apresentam limitações físicas e cognitivas que podem afetar a sua funcionalidade em casa e
contribuir para o sofrimento dos animais que acumulam.

- No DSM-5, é considerada uma entidade nosológica independente que apresenta


características específicas.

Síndrome de Diógenes: (é considerada uma condição e síndrome e não perturbação- não


existem ainda critérios e um diagnóstico bem estabelecido).
- “Messy house syndrome”
- Síndrome comportamental dos idosos (específico da população mais velha): autonegligência
extrema, como abandono de higiene pessoal, negligência/sujidade no ambiente doméstico,
tendência a acumular lixo.
- Associada a: isolamento, recusa de ajuda e resistência à mudança, marcada indiferença ou
reduzida responsividade, negação do problema, características de personalidade pré-mórbida,
fatores stressantes (morte de familiares, dificuldade econômicas, perda de estatuto social)
- Pode representar mecanismo de defesa ou estar relacionado ao próprio processo de
envelhecimento.
- Problema de saúde pública (os vizinhos queixam-se do cheiro e do estado da casa) e saúde
mental. Do ponto de vista financeiro, estas pessoas têm condições para viver de forma
"digna" mas “escolhem” viver desta forma.
- Não há diretrizes de intervenção uma vez que não é reconhecida como uma perturbação.
● Tricotilomania: Arrancar ou puxar pelos de várias partes do corpo (como cabelos,
pestanas, sobrancelhas, etc.), este comportamento é repetitivo, “involuntário” e causa
mal-estar significativo.
● Perturbação de Escoriação (skin-picking): ato de coçar, picar, beliscar ou qualquer
outro modo de raspar a pele, que se torna incontrolável e resulta em lesões graves da
pele, gerando distress significativo.

Perturbações Relacionadas com Trauma e Fatores de Stress:


- Perturbação Reativa de Vinculação + Perturbação de Envolvimento Social Desinibido
(diagnóstico mais comum em crianças)
- Perturbação de Ajustamento
- Perturbação Aguda de Stress
- Perturbação de Stress Pós-traumático

Egosintônico: Em sintonia com o self, a pessoa encaixa o facto no seu funcionamento e na


sua vida, menor ou nenhum distress.
Egodistônico: O distress é provocado porque a pessoa não encaixa os factos na sua vida e no
seu funcionamento, os sintomas não estão em sintonia com o self.

Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT)


- Os sujeitos foram expostos a um acontecimento no qual eles, ou outros próximos, foram
ameaçados com a morte ou ferimento grave
- Caracteriza-se pela re-experiência de um acontecimento extremamente traumático
acompanhado por sintomas de ativação aumentada e pelo evitamento dos estímulos
associados com o trauma (lembranças perturbadoras recorrentes e intrusivas, pesadelos,
mal-estar psicológico intenso com a exposição a estímulos que simbolizam ou se assemelham
ao acontecimento, re-viver a experiência, etc)
- Evitamento ou embotamento: esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas
relacionadas com o trauma, esforços para evitar atividades, lugares ou pessoas que ativem
recordações do trauma, incapacidade de recordar aspetos importante da situação, restrição
dos afetos, expetativa reduzida em relação ao futuro, sensação de desligamento ou de
estranheza
- Ativação: dificuldade em adormecer, irritabilidade e acessos de cólera, resposta de alarme
exagerada, hipervigilância, dificuldades de concentração
- Diagnóstico: sinais e sintomas duram à, pelo menos, 1 mês após o evento traumático

Perturbação Aguda de Stress


- Sinais e sintomas semelhantes aos de PSPT que ocorrem imediatamente como consequência
de um evento extremamente traumático, é uma perturbação que tem uma duração de 3 dias a
1 mês após a exposição ao trauma. Pode evoluir para PSPT.
- Sintomas dissociativos, re-experiência do trauma, evitamento, ativação

Aula 7: Perturbações Sexuais

Perturbações Sexuais e da Identidade de Género (capítulo do DSM-IV)


Disfunções Sexuais; Perturbações Parafílicas; Disforia de Género (3 capítulos distintos no
DSM-5).

Relatório Kinsey: análise descritiva do comportamento sexual humano.


- Até então, havia uma enorme escassez de dados científicos sobre o comportamento sexual.
- Foi considerado um atentado à cultura americana e muito controverso mas abriu a porta
para o estudo destas questões.
- Conclusões: quase todos os homens se mastrubam, 50% dos casados têm sexo
extramatrimonial, 37% dos homens americanos tiveram pelo menos 1 experiencias
homossexual. Mais tarde, surgiu também o mesmo relatório para as mulheres.

Comportamento Sexual
- Bastante complexo e reflete o patrimônio biológico, as experiências de desenvolvimento
sexual, as características da personalidade e a avaliação que a pessoa faz de si mesma
enquanto homem ou mulher. Este comportamento é influenciado pelas relações interpessoais
estabelecidas, pelas circunstâncias e pela cultura (expectativas sexuais, etc etc).

Fases da Resposta Sexual (homem vs mulher):


1. Desejo (fantasias e desejo de ter relações sexuais),
2. Excitação (sensação subjetiva de prazer desencadeada por estímulos psicológicos,
fisiológicos ou ambos),
3. Orgasmo (descarga explosiva de tensão neuromuscular, involuntária e repentina,
estimulação alcança um máximo de intensidade),
4. Resolução (organismo volta ao estado de repouso, sensação subjetiva de bem-estar e
relaxamento)
- As disfunções sexuais relacionam-se com problemas em cada uma destas fases.

Atividade Sexual: Saúde sexual e finalidades


- Integração harmoniosa dos aspetos somático, emocional, intelectual e social do ser sexuado,
de forma a enriquecer a personalidade, a comunicação e o amor.
- Finalidade da atividade sexual: função procriativa, função recreativa e de prazer (libido),
resultado e catalisador de relação afetiva, "instrumental" (obter vantagens e satisfazer desejos
diferentes do prazer ou procriação).
- Componentes: fisiológicos, afetivos e cognitivos

Semiologia Psicopatológica: vida instintiva


- As alterações podem ocorrer de forma primária nas perturbações da sexualidade (eg. da
resposta sexual), ser secundárias a doenças psiquiátricas ou orgânicas ou ser secundárias à
toma de medicação.
- As principais alterações incluem: aumento da libido ou hipersexualidade, perda da libido ou
hiposexualidade.

Sexualidade "Anormal" (comportamentos desviantes): uma atividade sexual ou um


problema sexual pode ser considerado referenciável para tratamento se for frequente, crónico,
provocar distress significativo e afetar o funcionamento do sujeito e as suas relações
interpessoais

Homosexualidade: pensamentos eróticos dirigidos a uma pessoa do mesmo sexo, bem como
a qualquer comportamento sexual associado
- Já foi considerada uma perturbação mental em edições anteriores do DSM.
- Atualmente, é considerada um estilo de vida alternativo que ocorre com alguma
regularidade como variante da sexualidade humana e não uma perturbação.

● Perturbações Parafílicas
- Parafilia vs Perturbação Parafílica (último capítulo do DSM-5 devido à dificuldade em
entender até que ponto um determinado comportamento pode ser considerado patológico ou
anormal).
- Perturbação parafílica: é uma parafilia que presentemente provoca mal-estar ou défices no
indivíduo, ou uma parafilia cuja satisfação provoca e/ou provocou danos pessoais (ou risco de
dano) a terceiro. Uma parafilia é uma condição necessária mas não suficiente para se ter uma
perturbação parafílica. Interesses eróticos atípicos mas que não resultam em distress ou
problemas de funcionamento (eg. fétiche que é satisfeito dentro de uma relação saudável)

Pert. Parafílicas (amor + ao lado):


- Caracterizam-se pela presença de desejos e impulsos sexuais e fantasias sexualmente
excitantes, intensas e repetidas, sobrevivendo durante um período de pelo menos 6 meses
envolvendo: objetos não humanos, sofrimento ou humilhação do próprio ou de
companheiros, crianças ou outras pessoas sem o seu consentimento
- Para que haja um diagnóstico, a pessoa tem de agir sob a pressão desses impulsos ou ser
fortemente perturbado por eles, interferindo na sua vida social, profissional ou outras
importantes.
- Podem ser classificadas em duas categorias: em função do objecto sexual (marcada pela
preferência por um objeto particular que não outro adulto para atingir a excitação sexual,
como crianças, animais ou objetos), em relação à própria prática sexual (pode consistir em
observar outras pessoas a despir-se ou a ter relações sexuais sem que estas saibam que estão a
ser vistas ou expor os orgaões sexuais).
- Constituem práticas que, por serem sancionadas negativamente pela sociedade, são
classificadas como patogênicas pelo critério de convencionalismo social e apresentam uma
elevada variabilidade em termos de severidade.
- Prevalência: informação escassa ou indisponível.
- A grande maioria das parafilias diagnosticáveis no DSM são atividades masculinas.
- Etiologia: hipersexualidade enquanto fator de risco, teoria psicanalítica, abuso infantil ou
negligencia, distorções cognitvas ou crenças/atitudes disfuncionais, etc.
- Especificadores de curso: “em ambiente controlado” e “em remissão”

● Perturbação de Voyeurismo (espiar os outros a ter atividades sexuais)


● Perturbação de Exibicionismo (mostrar os genitais a outras pessoas)
● Perturbação de Frotteurismo (roçar ou encostar em alguém sem o seu consentimento,
eg. num autocarro cheio)
● Perturbação de Masoquismo Sexual (ter prazer com sofrimento e humilhação)
● Perturbação de Sadismo Sexual (ter prazer em infligir sofrimento e humilhação)
● Perturbação de Pedofilia (atração por crianças)
● Perturbação de Fetichismo (usar objetos para se excitar ou ter um foco altamente
específico em partes do corpo não genitais, como os pés)
● Perturbação de Travestismo (fetichismo travestido, ter prazer em vestir-se do outro
género)
● Disfunção parafílica com outra especificação ou não especificada

Pedofilia
A) Fantasias sexualmente excitantes/impulsos sexuais/comportamentos que envolvam
atividade sexual com crianças ou crianças pré-púberes (com idade igual ou menor de 13
anos).
B) O indivíduo age em conformidade com os seus impulsos ou os impulsos/fantasias
provocam sofrimento, intenso mal-estar ou dificuldades interpessoais no indivíduo.
C) O indivíduo tem pelo menos 16 anos. O indivíduo tem uma diferença mínima de 5 anos
das vítimas.
Especificadores: Tipo exclusivo, Limitado ao incesto, Aração por rapazes, raparigas ou
ambos.
Disfunções Sexuais
● Ejaculação Retardada
● Disfunção Eréctil
● Perturbação do Orgasmo Feminino
● Perturbação do Interesse/Excitação Sexual Feminino
● Perturbação de dor Genitopélvica/Penetração (dispareunia e vaginismo)
● Perturbação do Desejo Sexual Hipoativo Masculino
● Ejaculação Prematura (precoce)
● Disfunção Sexual Induzida por Substância/Medicamento, outra especificação ou não
especificada.

- Função diminuída numa ou mais da fases do ciclo da resposta sexual:


- Fase do desejo e da excitação: pert. do desejo sexual hipoativo masculino, disfunção
erétil, pert. da excitação sexual feminina
- Orgamo: pert. do orgasmo feminino, ejaculação prematura, ejaculação retardada
- Características associadas: fatores do parceiro, da relação e da vulnerabilidade individual,
fatores culturais, religiosos ou médicos.
- Duração mínima de 6 meses para o diagnóstico (exceto disfunção sexual induzida por
substância/medicamento)
- Subtipos: ao longo da vida vs adquirida, generalizado vs situacional

As perturbações de dor sexual caracterizam-se pela presença de dor e desconforto associados


à atividade sexual.
- Dispareunia (coito doloroso): dores genitais persistentes, antes, durante ou após a atividade
sexual que pode ocorrer em ambos os sexos (+ frequente na mulher). Muito associado a
vaginismo ou falta de lubrificação vaginal. É a disfunção que tem maior probabilidade de ter
algum fator orgânico subjacente (embora possa resultar de fatores psicológicos ou ambos)
- Vaginismo: espasmos involuntários recorrentes ou persistentes da musculatura perineal,
interfere com a atividade sexual, pode considerar-se uma resposta condicionada reflexa.

Envelhecimentos e Perturbações Sexuais: Alterações fisiológicas (mudanças normais, não


perturbação) vs disfunção sexual
Etiologia:
- Condições médicas e psiquiátricas → depressão e a perda de prazer sexual, diabetes,
doenças neurológicas (alzheimer, parkinson, esclerose múltipla).
- Medicação → tratamento da diabetes e da hipertensão pode levar à disfunção erétil, redução
do desejo e da excitação devido a antidepressivos

Mudanças na Resposta Sexual (devido à idade):


- O desejo pode ser menor devido a razões psicossociais ou hormonais, pode ser necessário
maior estimulação para atingir a excitação e as alterações são menos acentuadas (eg. menor
lubrificação da vagina), maior tempo de resolução, etc.
- Nenhuma dificuldade fisiológica impede o prazer sexual pleno, o prazer subjetivo da
resposta orgásmica não diminui necessariamente.
- A resposta sexual é afetada por fatores afetivos e cognitivos: fantasias, avaliação da relação,
grau de intimidade, paixão sexual.
- Existe uma grande variabilidade individual.

Glossário
Sexo biológico: sistema de classificação tendo como base caracteristicas genéticas de um
individuo. Os indivíduos podem ser classificados, geralmente, como sendo do sexo masculino
ou feminino ou intersexo.
Identidade de Género: identidade pessoal, subjetiva e autonomamente determinada que cada
individuo tem relativamente ao seu género, pode ou não estar de acordo com o género
associado ao sexo biológico
Expressão de Género: maneirismos, formas de vestir, aspeto físico, gostos e atitudes, etc.
Cisgénero: Pessoa cuja identidade de género corresponde àquela que lhe foi atribuída à
nascença.
Trans: Termo abrangente que inclui qualquer pessoa que, por qualquer razão, não se
identifica com o género associado ao sexo biologico. Pode, ou não, fazer algum tipo de
transição.
Transexual: Termo médico criado para referir pessoas que desejam que o sexo biológico
corresponda à sua identidade de género, mudando assim o seu corpo através de hormonas
e/ou cirurgias.
Coming Out: passagem voluntária de um estado de ocultação, perante terceiros, da orientação
sexual e/ou identidade de género, para um estado de autenticidade.
Orientação Sexual: Refere-se à sexualidade da pessoa e por quem ela sente atração
afetivo-sexual. Não está obrigatoriamente relacionada com o género. Uma pessoa pode ser
hetero, homo, bi ou asexual.

Disforia de Género
- Marcada incongruência entre o género experienciado/expresso e o género atribuído, com
uma duração de pelo menos 6 meses, manifestada por pelo menos 2 dos seguintes:
- Marcada incongruência entre o género experienciado/expresso e as características
sexuais primárias e/ou secundárias
- Forte desejo de se libertar das suas características sexuais primárias e/ou secundárias
(em jovens adolescentes, desejo de prevenir o desenvolvimento das características sexuais
secundárias esperadas com a puberdade).
- Forte desejo de ter as características sexuais primárias e/ou secundárias do outro
género.
- Forte desejo de ser de outro género
- Forte desejo de ser tratado como se fosse de outro género
- Forte convicção de que tem os sentimentos e reações típicos de outro género.

Perturbação relacionada com a identificação e papel sexual do sujeito na sociedade que pode
ser diagnosticável em distintas fases do desenvolvimento.
- Crianças: desejo expresso/insitencia em ser do outro sexo, travestismo ou
comportamento masculino, jogos fantasiosos, intenso desejo de participaçao em jogos
e passatempo tipicos do outro sexo, forte preferencia por companheiros do outro sexo,
aversão/repulsa do orgão genital
- Adolescentes e adultos: complexificação das manifestações. Fazer-se passar pelo
outro sexo, viver e ser tratado como se fosse do outro sexo, etc.

Aula 8: Perturbações do Espectro da Esquizofrenia e Outras Pert. Psicóticas


- Esquizofrenia
- Outras Pert. Psicóticas:
- Pert. Esquizotípica (da personalidade)
- Pert. Delirante
- Pert. Psicótica Breve
- Pert. Esquizofreniforme
- Pert. Esquizoafetiva
- Pert. Psicótica induzida por substância/medicamento e devida a outras condição
médica

- Diversidade extensa de perturbações e que se caracterizam por ideias delirantes,


alucinações, discurso, pensamentos ou comportamento excessivamente desorganizado,
“perda dos limites do eu”, marcado défice no teste da realidade.
- Definem-se pela presença de anomalias em um ou mais dos cinco domínios: alucinações,
delírios, pensamento/discurso desorganizado, comportamento motor anormal ou
grosseiramente desorganizado (incluindo catatonia), sintomas negativos
- Semiologia Psicopatológica: problemas ao nível da perceção; discurso e linguagem;
pensamento; energia vital e impulsividade; motricidade; humor, emoções e afetos.
- Sintomas Negativos (coisas que estão a menos, como humor deprimido) vs Sintomas
Positivas (coisas que estão a mais, como as alucinações).
- Sintomas Negativos: diminuição da expressão emocional, avolição (falta de motivação,
incapacidade para começar e persistir numa atividade com um objetivo), alogia (diminuição
do discurso), anedonia e isolamento social, abulia, (alteração quantitativa da vontade), etc.

Semiologia Psicopatológica
Perceção
- Ilusões: existe uma perceção alterada de um objeto real presente, falsa perceção (tipos:
pareidolia, imagem eidética, ilusão de preenchimento, ilusão de afeto).
- Pseudoalucinação: existe uma falta de consciência sensorial e são sentidas como vindas do
interior ou do espaço subjetivo. O seu carácter irreal é rapidamente reconhecido (com
insight). Geralmente não persistem muito no tempo, podendo ser modificadas pela vontade.
Podem aparecer nos estádios iniciais das psicoses e depois transformam-se em alucinações
verdadeiras ou aparecem ambas simultaneamente. Podem ocorrer em situações sem doença
psiquiátrica (eg. alucinações no luto).

Alucinações (falsas perceções):


- Ocorrem sem um estímulo externo (a pessoa experiencia algo que mais ninguém
perceciona), são vívidas e claras, com toda a força e impacto das perceções normais e não
estão sob controlo voluntário, podem ocorrer em qualquer modalidade sensorial (na
esquizofrenia, destaca-se o “ouvir vozes”, ou seja, alucinações auditivas mas também existem
alucinações visuais frequentes).
- As alucinações podem ser uma parte normal de uma experiência religiosa em certos
contextos culturais.
- As alucinações visuais podem incluir cenas cinematográficas complexas (alucinações
cénicas), cenas com personagens minúsculas (alucinações liliputianas) ou gigantes
(gulliverianas) ou ainda representações de animais (zoópsias) repugnantes, perigosos,
monstruosos ou fantásticos.
- Alucinações cenestésicas ou sensibilidade profunda: pode haver a sensação do corpo estar
infetado por animais/parasitas (parasitoses alucinatórias), associando-se nestas circunstâncias,
as experiências alucinatórias ao delírio zoomórfico ou zoopático.
- Alucinações hipnagógicas (ao acordar) e hipnopômpicas (ao adormecer), habitualmente
auditivas.
- Alucinações extracampicas (o objeto alucinado está fora do campo percetivo, eg. ver
pessoas atrás de si)
- Alucinações múltiplas, sincrónicas ou combinadas: ocorrência de alucinações de várias
modalidade sensoriais em conjunto
- Autoscopia ou imagem em espelho: a pessoa vê-se a si própria e reconhece-se (união de
alucinação cenestésica e visual)
- Alucinose: presença de alucinações auditivas em doentes consumidores excessivos de
álcool, com crítica, sem alterações de consciência, sem ideias delirantes predominantes
(significado controverso na literatura psicopatológica).

Pensamento: défices nas funções intelectuais ou executivas mais elevadas, como conceção e
execução de planos pormenorizados
- Ideia Sobrevalorizada (conteúdo): ideia prevalecente e irracional que é mantida de forma
relativamente firma, embora sem intensidade delirante, trata-se de um termos útil para
descrever ideias “quase delirantes”.
- Alienação do pensamento (posse): é frequente na esquizofrenia, o doente pensa que os
seus pensamentos são controlados por uma entidade extrínseca ou que os outros participam
no seu pensamento. Influência ou imposição do pensamento, roubou ou interseção do
pensamento, difusão do pensamento.

Delírio (problemas no conteúdo do pensamento):


- Crenças fixas que não são passíveis de mudar à luz da evidência exposta, são crenças
sustentadas com firmeza, a despeito de tudo em que quase todos os outros acreditam e apesar
do que constitua prova de evidência incontroversa e óbvia do contrário.
- A crença não é habitualmente aceite por outros membros da cultura da pessoa (não é uma
questão de religião).
- Considerados bizarros quando são claramente implausíveis e incompreensíveis entre pares
da mesma cultura e não derivam de experiências comuns da vida. Os delírios que expressam
uma falta de controlo sobre o corpo e a mente são habitualmente considerados bizarros (eg.
roubo do pensamento, inserção de pensamento)
- Delírio primário (ideias e vivências que estão associados a outros processos psicológicos e
não derivam deles, eg. esquizofrenia aguda) vs delírio secundário (derivam ou estão
vinculados a outros processos psicológicos, eg. esquizofrenia crónica, mania, depressão).
- Podem classificar-se de acordo com a sua temática (autorreferenciada, ciúme, ruína, niilista,
etc), grau de organização ou estrutura (sistematizados/não sistematizados,
simples/complexos).
- Vários tipo de delírios como de grandiosidade (comum nas perturbações bipolares em
episódios maníacos), de infestação, de ruína, passionais (de ciúme ou infidelidade),
persecutório ou paranóide (convicção de que é perseguido, vigiado), niilisticos (convicção de
que se está morto ou vazio ou de que qualquer calamidade/catástrofe vai acontecer), místico
ou religioso, somático ou hipocondríaco, de negação dos órgãos, erotomania etc.

- O pensamento desorganizado é tipicamente inferido do discurso do indivíduo. A pessoa


pode mudar de um assunto para o outro (descarrilamento), não responder aquilo que lhe é
perguntado (tangencialidade), incoerência ou "salada de palavras”, etc.
- Como a desorganização ligeira do discurso é comum e não específica, o sintoma tem de ser
grave o suficiente para afetar uma comunicação eficaz.
- Um pensamento ou discurso desorganizado menos grave pode ocorrer durante períodos
prodrômicos ou residuais da esquizofrenia

Discurso e Linguagem
- Logorreia ou verborreia: falar excessivamente com loquacidade compulsiva, com pressão
do discurso, é frequente na excitação maníaca, na agitação catatónica e no delírio agudo.
- Fluxo lentificado (bradifemia) ou fluxo acelerado (taquifemia), aprosódia (discurso sem
entoação afetiva)
- Ecolalia (repetição em eco, aparentemente sem sentido, de uma palavra ou frase recém-dita
por outras pessoa), Logoclonia (reiteração verbal da última sílaba que o próprio pronunciou)
- Discurso pobre, Pedolália (discurso infatilizada, comum nas demencias e na esquizofrenia),
Coprolalia (obscenidades ditas de forma compulsiva e explosiva, comum nas psicoses e na
síndrome de Tourette), Fuga de ideias, Anomia, etc.
- Alterações sintáticas: agramatismo e paragramatismo

Motricidade
- Comportamento motor anormal ou grosseiramente desorganizado inclui problemas em
qualquer forma de comportamento dirigido a um objetivo, levando a dificuldades na
realização de atividades da vida diária.
- O comportamento catatónico é uma diminuição marcada da reatividade ao ambiente, pode
incluir: resistência a instruções, manutenção de postura rígida imprópria ou bizarra, completa
ausência de resposta verbal ou motora (Mutismo e estupor), movimentos repetitivos
estereotipados, caretas e eco no discurso, etc.
- Hiperatividade (aumento dos movimentos expressivos, aumento dos movimentos
direcionados como agitação psicomotora e inquietude motora), Hipoatividade (redução dos
movimentos expressivos e redução dos movimentos direcionados, como
lentificação/ralentamento psicomotor, bloqueio ou obstrução, inibição).
- Estupor (melancólico, histérico, catatonico): estado de suspensão de todas as atividade
motoras como se estivessem congeladas, doente imovel, que não responde.
- Alterações da postura: cataplexia, paralisia cérea.

Esquizofrenia
A. Presença de dois ou mais dos seguintes sintomas, cada um durante um período de 1 mês.
Pelo menos, um dos sintomas deverá ser (1), (2) ou (3): 1. Delírios 2. Alucinações 3.
Discurso desorganizado 4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatónico 5.
Sintomas negativos
B. Nível de funcionamento numa ou mais áreas da vida estão marcadamente abaixo do nível
previamente atingido.
C. Sinais contínuos da perturbação persistem por, pelo menos, 6 meses. Este período tem de
incluir, pelo menos, 1 mês de sintomas que preencham o critério A (sintomas de fase ativa) e
pode incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais.
D. A Perturbação Esquizoafetiva e as Perturbações Depressiva ou Bipolar com características
psicóticas foram excluídas porque ou: 1) os episódios depressivos major ou maníacos não
ocorreram simultaneamente com sintomas de fase ativa, ou 2) caso os episódios do humor
tenham ocorrido durante os sintomas de fase ativa, estes estiveram presentes durante uma
pequena parte da duração total dos períodos de doença ativa e residual.
E. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou outra
condição médica.
F. Caso exista história de PEA ou PC com início na infância, o diagnóstico adicional de
esquizofrenia só é realizado se estiverem presentes delírios ou alucinações proeminentes por
um período mínimo de 1 mês.
- Os seguintes especificadores podem ser usados após 1 ano da duração da perturbação e
apenas se não estiverem em contradição com o curso de diagnóstico:
● Primeiro episódio, correntemente em episódio agudo
● Primeiro episódio, correntemente em remissão parcial
● Primeiro episódio, correntemente em remissão total
● Múltiplos episódios, correntemente em episódio agudo
● Múltiplos episódios, correntemente em remissão parcial
● Múltiplos episódios, correntemente em remissão total
● Não especificado
- Outros especificadores: c/catatonia, especificação de gravidade
- Fases: prodrômica (deterioração progressiva de um funcionamento normal até ao
pensamento delirante e disfuncional), ativa (síntomas obvios e característicos de
esquizofrenia), residual (fase da psicose em que o indivíduo deixa de evidenciar sinais
proeminentes de sintomatologia positiva)

- DSM-5: eliminação dos subtipos presentes no DSM-IV pela sua reduzida estabilidade
diagnóstica, reduzida confiança, validade pobre e ausência de especificidade de tratamento
- Diagnóstico muito pesado pelo seu caráter crônico.
- O suícidio é muito frequente (o risco de suicídio é de 5-6%, e cerca de 20% tentam
suicidar-se numa ou mais ocasiões).
- A esquizofrenia está associada a uma alta taxa de comorbilidade por uso de substâncias ( ex:
elevado consumo de tabaco).
- Os pacientes com esquizofrenia apresentam muitas das vezes: perturbações da ansiedade;
perturbações obsessivo-compulsivas; ganho de peso, diabetes, síndrome metabólica e
cardiovascular e doenças pulmonares, o que reduz a esperança média de vida destes doentes.
- O descuido na manutenção de comportamentos de saúde por parte dos doentes com
esquizofrenia, juntamente com a psicose, pode explicar as doenças crónicas associadas à
esquizofrenia e a comorbilidade relacionada a esta.
- Características que apoiam o diagnóstico: Emoções inapropriadas; Humor disfórico (i.e.,
depressão, ansiedade ou raiva); Padrão de sono disruptivo; Recusa alimentar;
Despersonalização e desrealização; Défices cognitivos (i.e., memória, linguagem, velocidade
de processamento); Défices na cognição social; Falta de insight; Hostilidade/agressividade;
Várias diferenças neurológicas visíveis.
- Algumas ideias delirantes/alucinações são normativas em determinadas culturas. A
avaliação do afeto deve ser contextualizada na cultura.
- As mulheres têm menos incidência desta perturbação, assim como um desenvolvimento
mais tardio.
- As características psicóticas surgem no fim da adolescência e meados dos 30 anos. Início é
abrupto e insidioso, havendo um desenvolvimento lento e gradual de sinais e sintomas
- Incidência mais elevada em crianças que cresceram em ambiente urbano e em alguns grupos
étnicos minoritários.

Fatores de Risco
- Forte contribuição de fatores genéticos na determinação do risco para a esquizofrenia,
apesar de os indivíduos não terem história familiar de psicose. Esta tendência é atribuída a
um espectro de alelos de risco, comuns e raros, com cada um a contribuir apenas com uma
pequena fração de variação populacional total.
- Complicações na gravidez e no nascimento, com hipoxia, e idade avançada dos
pais estão associadas a maior risco de esquizofrenia para o feto. Outras adversidades
no pré-natal e no perinatal, incluindo stress, infecções, desnutrição, diabetes materno
e outras condições médicas, têm ligação com a esquizofrenia

Diagnóstico Diferencial
➔ A Perturbação Esquizoafetiva requer que um episódio depressivo major ou maníaco
ocorra, em simultâneo, com os sintomas da fase ativa e que estes estejam presentes na maior
parte da duração dos períodos ativos.
➔ A Perturbação Delirante não apresenta outros sintomas característicos da Esquizofrenia
(e.g, discurso desorganizado; alucinações visuais ou auditivas).
➔ A Perturbação Esquizofreniforme e a Perturbação Psicótica Breve são de duração mais
reduzida.
➔ Indivíduos com POC e Perturbação Dismórfica Corporal podem apresentar insight pobre
ou ausente, mas distinguem-se da Esquizofrenia pelas obsessões, compulsões, etc.

Objetivos da reabilitação/tratamento:
- Permitir a reinserção e integração social do doente
- Diminuir as incapacidades resultantes da própria doença
- Diminuir o número de recaídas e internamento hospitalares
- Proporcionar uma maior autonomia socioeconômica
- Melhorar o desempenho de papéis sociais
- Melhorar a qualidade de vida do doente

Perturbação Delirante
- Presença de 1 ou mais delírios durante pelo menos 1 mês, o critério A para esquizofrenia
nunca foi preenchido. Se as alucinações estão presentes, não são proeminentes e estão
relacionadas com o tema delirante
- Além do impacto do delírio ou das suas ramificações, o funcionamento não está
marcadamente alterado e o comportamento não é obviamente estranho ou bizarro
- Se tiverem ocorrido episódios maníacos ou depressivos, estes foram breves relativamente à
duração dos períodos delirantes
- Especificar o tipo (de grandiosidade, ciúme, erotomaníaco, misto, não especificado,
persecutório), se com conteúdo bizarro, duração e gravidade

Perturbação Psicótica Breve


A. Presença de um (ou mais) dos seguintes sintomas. Pelo menos um deles deve ser (1), (2)
ou (3): 1. Delírios. 2. Alucinações. 3. Discurso desorganizado (por exemplo, descarrilamento
frequente ou incoerência). 4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico.
Nota: Não inclui sintomas que sejam uma resposta culturalmente aceite .
B. A duração de um episódio de perturbação é de pelo menos 1 dia, mas menos de 1 mês,
com eventual retorno completo ao nível pré-mórbido de funcionamento.
C. O distúrbio não é melhor explicado por transtorno depressivo major ou bipolar com
características psicóticas ou outro transtorno psicótico, como esquizofrenia ou catatonia, e
não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (por exemplo, uma droga de abuso,
medicamento) ou outra condição médica.
Especificar se:
- Com fator(es) de stress marcado(s) (psicose reativa breve): Se os sintomas ocorrerem em
resposta a eventos que, isoladamente ou em conjunto, seriam marcadamente stressantes para
quase qualquer pessoa em circunstâncias semelhantes na cultura do indivíduo.
- Sem fator(es) de stress marcado
- Com início no pós-parto: Se o início for durante a gravidez ou dentro de 4 semanas após o
parto.
Especificar se:
- Com catatonia (Este especificador é adequado quando o quadro clínico é caracterizado por
uma marcada perturbação psicomotora)
Especificar a gravidade atual: A gravidade é avaliada de forma quantitativa através dos
sintomas primários de psicose, incluindo delírios, alucinações, fala desorganizada,
comportamento psicomotor anormal e sintomas negativos. Cada um destes sintomas pode ser
classificado de acordo com a sua atual gravidade (mais grave nos últimos 7 dias) numa escala
de 5 pontos variando de 0 (não presente) a 4 (presente e grave).
● Característica essencial da perturbação: início súbito de pelo menos um dos sintomas
psicóticos positivos em 2 semanas.
● Marcada por confusão ou agitação emocional.
● Embora o distúrbio seja breve, o nível de disfunção pode ser grave e a supervisão
pode ser necessária.
● Parece haver um risco aumentado de comportamento suicida, particularmente durante
o episódio agudo.
● Pode surgir na adolescência ou no início da idade adulta, e o início pode ocorrer ao
longo da vida, com a idade média de início sendo cerca de 30 anos.
● Em algumas cerimônias religiosas, um indivíduo pode relatar ouvir vozes, mas estas
geralmente não persistem e não são percebidas como anormais pela maioria dos
membros da comunidade do indivíduo.
● Traços e perturbações da personalidade preexistentes podem predispor o indivíduo à
perturbação psicótica breve.
● Esta perturbação é duas vezes mais comum no sexo feminino do que no masculino.

Diagnóstico Diferencial:
- Se os sintomas psicóticos persistirem por 1 mês ou mais, o diagnóstico pode ser:
Perturbação esquizofreniforme; Perturbação delirante; Perturbação depressiva com
características psicóticas; Perturbação bipolar com características psicóticas ou outro espectro
de esquizofrenia especificado ou não especificado; Outra perturbação psicótica, dependendo
de outros sintomas na apresentação.
- O diagnóstico diferencial entre perturbação psicótica breve e perturbação esquizofreniforme
é difícil quando os sintomas psicóticos remitiram antes de 1 mês em resposta ao tratamento
bem-sucedido com medicamentos.
- Deve-se dar atenção especial à possibilidade de que uma perturbação recorrente (por
exemplo, perturbação bipolar, exacerbações agudas recorrentes de esquizofrenia) possa ser
responsável por quaisquer episódios psicóticos recorrentes.
- Nas perturbações da personalidade podem ser comuns períodos breves de sintomas
psicóticos em resposta a fatores de stress psicossociais. Se estes sintomas persistirem durante
pelo menos 1 dia, o diagnóstico de perturbação psicótica breve pode ser apropriado.

Perturbação Esquizofreniforme
- Os critérios de diagnóstico são basicamente iguais à esquizofrenia menos a duração dos
sintomas (mais de 1 mês mas menos de 6 meses)
- A incidência desta perturbação nos vários contextos socioculturais é semelhante à que se
observa na esquizofrenia.
- 1/3 dos indivíduos com diagnóstico inicial de perturbação esquizofreniforme (provisória)
recupera num período de 6 meses, sendo o diagnóstico final perturbação esquizofreniforme.
- 2/3 dos indivíduos receberá eventualmente o diagnóstico de esquizofrenia ou de perturbação
esquizoafetiva.

Perturbação Esquizoafetiva
A. Um período ininterrupto de doença durante o qual há um episódio depressivo major ou
maníaco concomitante com o Critério A da esquizofrenia.
Nota: O episódio depressivo major deve incluir o Critério A1: humor deprimido.
B. Delírios ou alucinações por duas semanas ou mais na ausência de episódio depressivo
major ou maníaco durante a duração da doença ao longo da vida.
C. Os sintomas que satisfazem os critérios para um episódio de humor estão presentes na
maior parte da duração total das fases ativa e residual da doença.
D. A perturbação não pode ser atribuída aos efeitos de uma substância (p. ex., droga de
abuso, medicamento) ou a outra condição médica.
Especificadores
Determinar o subtipo: esta divisão é baseada na existência de um episódio maníaco,
hipomaníaco ou misto alguma vez.
- Tipo bipolar: Este subtipo aplica-se se um episódio maníaco fizer parte da apresentação.
Podem também ocorrer episódios depressivos.
- Tipo depressivo: Este subtipo aplica-se se somente estiverem presentes episódios
depressivos.
Especificar se:
- Com catatonia

- Esquizofrenia vs Esquizoafetiva: O diagnóstico de perturbação esquizoafetiva exige que


um episódio depressivo major ou maníaco ocorra ao mesmo tempo em que ocorrem os
sintomas da fase ativa e que os sintomas de humor estejam presentes na maior parte do tempo
da duração total dos períodos ativos.
- Risco aumentado em: Indivíduos com esquizofrenia; Parentes de primeiro grau com
esquizofrenia, perturbação bipolar ou perturbação esquizoafetivo.
- Muitas pessoas diagnosticadas com perturbação esquizoafetiva são também diagnosticadas
com outras perturbações mentais, em especial perturbações por uso de substância e
perturbações da ansiedade. Da mesma forma, a incidência de condições médicas também é
aumentada, levando a uma menor expectativa de vida.
- A perturbação esquizoafetiva afeta a cognição e as emoções.
- Os sintomas geralmente começam no início da idade adulta; sendo que o diagnóstico antes
dos 13 anos é raro.

● Perturbação Esquizotípica (da personalidade): Padrão de instabilidade no


relacionamento próximo, distorções cognitivas ou percetivas e comportamento
excêntrico
● Perturbação Psicótica Induzida (Folie à Deux)
● Perturbação psicótica induzida por substâncias/medicamentos ou devida a outra
condição médica.

Psicoses Tardias
- Esquizofrenias que tendo surgido na juventude ou na adultez conseguem chegar à velhice
(90% dos casos).
- A esquizofrenia de início tardio tem um perfil sindromático que pouco se distingue da
esquizofrenia de início precoce. A esquizofrenia de início muito tardia está muito associada a
défices sensoriais, isolamento social e alucinações visuais, estando menos associada a
alterações formais de pensamento, embotamento afetivo e a história familiar de
esquizofrenia.
- Perturbações delirantes tardias (início após os 45 anos) → são incomuns.
- Prevalência relativamente baixa na população idosa (suicidio, comorbilidades médicas, etc).
- Características: ideias delirantes de temática persecutória, proeminentes alucinações
multimodais, ausência de crítica em relação à doença (sintomas negativos são menos
comuns).

Esquizofrenia tardia
- Aproximadamente 12-15% das esquizofrenias terão início após os 40 anos
- Fase Prodrômica: duração de meses a anos, agravamento dos traços prévios de
personalidade, alterações do sono, emagrecimento, presença de ideias de autoreferência,
deterioração do funcionamento social, problemas de higiene pessoal
- Período de Estado: aparecimento de delírios e alterações do comportamento, presença rara
de sintomas negativos ou perturbações formais do pensamento, presença frequente de
sintomas afetivos
- Frequente evolução para a cronicidade, geralmente com menos défices sociais do que nos
pacientes de início precoce
- Fatores de risco: fatores genéticos, ser mulher, isolamento social, personalidade com traços
esquizóides ou paranóides, défices sensoriais (como surdez), alterações neurodegenerativas.
-Tratamento (muito semelhante ao tratamento indicado para a população mais jovem):
terapêutica farmacológica (medicação antipsicótica, antidepressivos, estabilizadores de
humor, etc)
Perturbação delirante tardia
- Baixa prevalência, apesar dos pensamentos delirantes poderem atingir 4% da comunidade.
- Fatores de risco: ser homem (40-50 anos), ser mulher (>60 anos), viver sozinho,
personalidade pré-mórbida do tipo paranóide ou esquizóide, baixo nível socioeconômico e
emigração.

Aula 9: Perturbações Neurocognitivas


- Grupo de perturbações, por excelência, associado à população mais idosa.
- Delirium, demência e outras perturbações cognitivas (DSM-IV)

Demência (DSM-IV-TR) → mt semelhante ao CID-10


- Foca-se muito nos défices mnésicos: diminuição da capacidade para aprender nova
informação ou recordar informação previamente aprendida. (grande diferença com o DSM-5)
- Agnosia (a pessoa não se lembra o que é um telefone nem para que serve); Apraxia (perda
de capacidade para realizar uma atividade que antes fazia com facilidade); Afasia
(dificuldades na comunicação); Anomia; Perturbação na capacidade de execução (dificuldade
no planeamento/organização).
DSM-5
Delirium: Perturbação da consciência
Perturbação Neurocognitiva Major ou Ligeira: Declínio cognitivo significativo num ou
mais domínios cognitivos (atenção complexa, funções executivas, aprendizagem e memória,
linguagem, capacidade perceptivomotora, cognição social), estes défices não ocorrem
exclusivamente no contexto de um delirium (diagnóstico diferencial), com vários possíveis
subtipos etiológicos.
Perturbação Neurocognitiva Não Especificada

- Perturbação Neurocognitivo Major vs Ligeira: gravidade dos sintomas e a sua interferência


nas atividades de vida diária.
- O que difere as etiologias: domínio(s) cognitivo mais afetado, desenvolvimento e curso dos
sinais e sintomas, causas presumidas do défice cognitivo
- Em estado demencial, o indivíduo deixa de se queixar dos problemas de memória, uma vez
que há uma perda de insight e consciência da sua própria condição.
- A demência é a principal causa de dependência, representando um dos maiores
desafios/prioridades de saúde pública que teremos que enfrentar devido aos seus elevados
custos e prevalência crescente.
- Etiologias mais frequentes de demência nos idosos: doença de Alzheimer e demência
vascular.
- Fatores de risco para a demência: idade, influência genética, doenças cardiovasculares
(diabetes), estilo de vida pouco saudável (sedentarismo, tabaco, etc), institucionalização,
baixa escolarização.
- Demências reversíveis (os sintomas podem ser contidos ou anulados em graus diversos com
tratamento específico) vs demências irreversíveis (preveníveis vs não preveníveis); demência
cortical vs subcortical

Défice cognitivo ligeiro: (reconhecimento que as queixas cognitivas têm importância clínica)
- Défice cognitivo sem demência: uma preocupação antiga na investigação, necessidade de
fazer um diagnóstico precoce e que não se foca apenas no domínio da memória. MCI como
entidade diagnóstica desde 2004 (trabalho visionário de Peterson).
- Critérios para MCI: queixas de memória, habitualmente corroboradas por terceiros,
comprometimento cognitivo objetivo para a idade, funções cognitivas preservadas na sua
generalidade, atividades funcionais globalmente intactas, não demenciado
- DCL: Com elevado risco, mas não evolui necessariamente para demência; Que pode
manter-se estável durante muito tempo; De difícil distinção relativamente aos que vão evoluir
para demência; Deve permanecer sob vigilância médica.

Principais diagnósticos diferenciais (papel muito importante da neuropsicologia)


- Cognição normal: O diagnóstico entre a cognição normal e a PNC ligeira, assim como entre
a PNC major e a ligeira é desafiante porque os limites são inerentemente arbitrários. A
realização de uma história clínica cuidadosa e a avaliação objetiva são fundamentais para
essa distinção. Uma avaliação longitudinal pode ser fundamental.
- Delirium (Síndrome Confusional Agudo): define um estado de confusão aguda
potencialmente reversível, sintomas de desorientação, incoerência da conversação,
inquietação, agressividade. Pode ser provocada por desidratação, infeção urinária, etc. Estado
de descompensação/desequilíbrio. Quer a PNC major como a ligeira podem ser difíceis de
distinguir de uma delirium persistente, o qual pode coexistir. A avaliação cuidadosa da
atenção e da consciência ajudam na diferenciação.
- Depressão: estas perturbações podem ser comórbidas. Os padrões específicos dos défices
cognitivos podem auxiliar. Os défices mantidos na memória e nas funções executivas são
típicos na DA, enquanto na depressão o desempenho é mais variável e inespecífico.
- Perturbação Específica da Aprendizagem e outras perturbações do neurodesenvolvimento:
muita atenção ao nível prévio de funcionamento cognitivo
- Normal Envelhecimento

Critérios de Diagnóstico do Delirium (DSM-5)


A. Perturbação na atenção (eg. diminuição da capacidade para dirigir, focar, manter ou
desviar a atenção) e na consciência (diminuição da clareza de perceção do ambiente).
B. A perturbação desenvolve-se num curto período de tempo (geralmente horas a dias),
representa uma alteração em relação a um nível anterior de atenção e consciência, e a
sua gravidade tende a flutuar durante o dia.
C. Existe uma alteração na cognição (eg. défice de memória, desorientação, linguagem)
D. As perturbações descritas nos critérios A e C não são mais bem explicadas por outra
PNC preexistente, estabelecida ou em evolução e não ocorre num contexto de um
estado de redução grave do nível de vigília, tal como o coma.
E. Existe evidência pela história clínica, exame físico ou exames laboratoriais de que a
perturbação é consequência do efeito fisiológico de outra condição média, da
intoxicação ou abstinência de substância ou exposição a uma toxina, ou é devida a
múltiplas etiologias.

Especificar se: por intoxicação de substância, por abstinência, induzido por substâncias,
devido a outra condição médica, devido a múltiplas etiologias (causas orgânicas)
Especificar se: agudo ou persistente
Especificar se: hiperativo, hipoativo, nível misto de atividade

Pseudodemência
- Perturbação psiquiátrica que simula uma quadro demencial supostamente devido a doença
funcional e que é reversível com tratamento adequado, na ausência de um processo
neurodegenerativo primário suscetível de causar demência
- A maior causa das pseudo demências de origem depressiva (com remissão após
antidepressivos) faz desvanecer as outras etiologias da pseudo demência (psicoses, neuroses)
- Sintomas comuns à demência e à pseudodemência: diminuição da memória e da
concentração, alterações do afeto e do pensamento, irritabilidade e agitação psicomotora
- Cerca de 20/50% dos doentes com demência apresentam uma perturbação depressiva
nalgum momento do processo demencial (comorbilidade mais frequente nas fases iniciais)
- Nalguns casos de depressão de início tardio, a evolução faz-se pela deterioração progressiva
das faculdade mentais, para um quadro demencial
- Importa distinguir: défice cognitivo secundário a um quadro depressivo vs depressão
sobreposta num processo demencial vs depressão como primeira manifestação de um
processo demencial já em curso

PNC devido a Doença de Alzheimer


- Importância dos sintomas comportamentais e psicológicos: agitação, agressão,
deambulação, alterações do sono e da alimentação, depressão, apatia, irritabilidade,
ansiedade, delírios, alucinações
- 3 clusters principais de SCPD: depressão, psicose, agitação

PNC devido a Doença Vascular


- Causado por um AVC (acidente vascular cerebral: presença de manifestações clínicas
neurológicas, focais ou globais de instalação súbita e que aparecem como consequência de
alterações do fluxo circulatório de uma determinada área encefálica)
- Sinais e sintomas: alterações de linguagem (afasias), disfagia, incontinência, perturbações
visuais, labilidade emocional ou perturbações cognitivas, paralisia central ou unilateral do
rosto, diminuição transitória da força muscular num membro
- Fatores de risco: idade, doenças cardiovasculares, AVC’s e AIT’s (acidente isquémico
transitório, são reversiveis mas aumentam a probabilidade de ter um AVC), sexo masculino,
inatividade física, consumo excessivo de alcool, tabagismo, dieta, etc.
- Aproximadamente 12/20% dos casos de demência são devido a doença vascular cerebral.
Frequente comorbilidade com DA (demência mista)
- DV é diagnosticada quando existe evidência da ocorrência de enfartes e uma relação
temporal com o aparecimento dos sintomas de demência. Subtipos com base no nº e
distribuição dos enfartes.
- Demência não reversível, prevenível
- Alteração progressiva da memória e outras funções cognitivas, cujos défices sejam
suficientemente graves para a execução das atividade de vida diárias e ultrapassam as
limitações físicas devidas ao ictus. Doença cerebrovascular confirmada por história clínica,
exame neurológico e estudo de imagem.
- Momento muito claro de desenvolvimentos dos défices (grande diferença com a DA).
- A demência multienfartes é o subtipo mais comum de DV (ocorrência de várias zonas de
enfarte, quando uma área cerebral lesada for muito extensa, a pessoa começa a ter sintomas
de demência).
- Aparecimento súbito dos sintomas (quando os danos atingem um nível notório) e
progressão escalonada (pioram com cada acidente vascular cerebral adicional)
- Progressão da doença: sintomas estabilizam durante algum tempo, a pessoa volta a ter um
AVC e fica pior, sintomas estabilizam, outro AVC.
- Ausência de tratamento específico, o tratamento foca-se no controlo dos fatores de risco
para evitar futuros AVC’s e na contenção dos sinais e sintomas.

PNC devida a Doença de Parkinson: uma pessoa com Doença de Parkinson pode não ter
demência. 3 sintomas principais: tremores, rigidez muscular, lentificação motora.

Doença dos Corpos de Lewy: cognição flutuante com variações pronunciadas na atenção e
alerta, alucinações visuais (liliputianas, ver pessoas como mais pequeninas) recorrentes bem
formadas e detalhadas, características espontâneas de parkinsonismo com início subsequente
ao desenvolvimento de declínio cognitivo (sinais e sintomas mais significativos), atende aos
critérios para transtorno de comportamento do sono de movimento rápido dos olhos (sono
REM), sensibilidade neuroléptica severa (sinais/sintomas sugestivos).

Demência Fronto-temporal: compreende uma série de variantes sindrômicas caracterizadas


pelo desenvolvimento progressivo de mudanças comportamentais e de personalidade e / ou
comprometimento da linguagem. A variante comportamental e três variantes de linguagem
exibem padrões distintos de atrofia cerebral e alguma neuropatologia distinta. Os critérios
devem ser atendidos para a variante comportamental (desinibição comportamental, apatia ou
inércia, perda de simpatia ou empatia, comportamento perseverativo, estereotipado ou
compulsivo/ritualístico, hiperoralidade e mudanças na dieta, declínio proeminente na
cognição social e/ou habilidades executivas) ou de linguagem (declínio nas habilidades de
linguagem, na forma de produção de fala, localização de palavras, nomeação de objetos,
gramática ou compreensão de palavras) para fazer o diagnóstico, mas muitos indivíduos
apresentam características de ambos.

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