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O que é transtorno mental?

Saulo Vito Ciasca


{ objetivos da aula }

Aspectos históricos da psiquiatria

Conceito de normalidade em psicopatologia

Influência da cultura nos transtornos mentais

Religiosidade, espiritualidade e transtornos mentais

Diagnóstico e classificação em psiquiatria

O que é transtorno mental


/disparador

Cenas 1 e 2
/é transtorno mental?

Não é transtorno mental


Sem sintomas depressivos

Homossexualidade

UM episódio de autolesão
/é transtorno mental?

Também não é transtorno mental


Não há sofrimento

Não há disfunção
/história

Loucura
Brincadeira dos deuses

Castigo divino

Possessão do demônio
Bruxaria

Domínio da parte animal

Exorcismo
Perseguição
Intolerância
Fogueira
Condenação
Prisão
Crueldade
/história

Philippe Pinel (1745-1826)


Método clínico

Observação

Descrição detalhada das observações médicas

Asilos e manicômios
Exclusão, repressão, tratamentos agressivos e falta de
perspectiva de recuperação e alta

Junto com o doente, ficavam os criminosos, pessoas


com deficiência intelectual, pessoas em situação de rua
e deserdados da sorte
/história
/história
/história

Tratamentos de “choque”
Cardiazólico

Insulínico

Elétrico
Térmico

Cirúrgico (lobotomia)
/história
/história
/história
/história
/história
/história
/história
/história

“A loucura (folie) é uma doença do


cérebro que impede o homem de pensar
e agir como os outros homens fazem.
Se ele não pode cuidar de sua
propriedade,
ele é posto sob tutela; se sua conduta
é inaceitável, ele é isolado; se for
perigoso,
ele é confinado; tornando-se furioso,
ele é amarrado.”

Pinel e Esquirol (1745-1826)


/história

Primeira fase biológica


Anatomia e fisiologia cerebral

Mapeamento das funções cognitivas

Segunda fase biológica

Genética

Imagem cerebral

Psicofarmacologia
/nise da silveira
/disparador

O que é
normal?
/disparador
/disparador
/disparador
/normalidade

Conceito de normalidade em psiquiatria

Psiquiatria legal/forense: determinação de


anormalidades psicopatológicas pode ter implicações
legais, criminais e éticas

Psiquiatria cultural e etnopsiquiatria: análise do


contexto sociocultural

Planejamento em saúde mental e políticas de saúde

Orientação e capacitação profissional: capacidade e


adequação para exercer certa profissão, manipular
máquinas, usar armas, dirigir – Prática clínica
/normalidade

Critérios de normalidade

Normalidade como ausência de doença

Normalidade ideal: dentro da norma

Normalidade estatística: norma e frequência


/normalidade

Critérios de normalidade

Normalidade como bem-estar

Saúde como completo bem-estar físico, mental e social (OMS)

Normalidade funcional
Fenômeno é considerado patológico se for disfuncional, provoca
sofrimento para o próprio indivíduo ou para seu grupo social
/normalidade

Critérios de normalidade

Normalidade como processo

Aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial

Desestruturações e reestruturações ao longo do tempo, de


crises, de mudanças próprias a períodos etários

Normalidade subjetiva
Percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação à sua
saúde
/normalidade

Critérios de normalidade

Normalidade operacional

Define-se a priori o que é normal ou patológico e trabalha-se


operacionalmente esses conceitos

Normalidade como liberdade


Perda da liberdade existencial

Saúde mental: possibilidade de transitar


sobre o próprio mundo e destino
/disparador

Cenas 3 e 4
/é transtorno mental?

Não é transtorno mental


Sem sintomas de mania ou hipomania

Não há disfunção

Não há sofrimento
/é transtorno mental?

É transtorno mental
Há sofrimento

Há disfunção
/cultura
Influência da cultura nos transtornos
mentais
Cultura: produto do desenvolvimento dos grupos
humanos
Padrões compartilhados de valores, crenças e sentimentos

Distintas formas de entender o mundo

É difícil estabelecer comparações entre as culturas

Sinais e sintomas
Reconhecimento das alterações físicas e mentais

Organização dos fenômenos observados

Caracterização de diagnósticos
/emurata
/cultura

Dor

Importância para autopreservação


Padrões reativos para evitar estímulo nocivo

Experiência de dor

Significados sociais e culturais próprios

Sintoma
Significado social e historicamente construído
Cultura e saúde mental: maneira como indivíduos
experimental e comunicam seu sofrimento emocional

Para itens mentais específicos, a resposta do paciente é afetada


pela sua cultura de origem, nível educacional, grau de alfabetização,
PROFICI
/dor

China: comunicam sofrimento por vias


somáticas
Mais diagnósticos de neurastenia

EUA: mais sintomas psicológicos

Mais diagnósticos de depressão


/cultura

A resposta do paciente é afetada por


Cultura de origem

Nível educacional

Grau de alfabetização

Proficiência linguística

Nível de aculturação

Conceitos culturais de sofrimento

Síndromes culturais

Idioma cultural do sofrimento

Explicações culturais ou causas percebidas


/!!!

MOMENTO
PARA TUDO!
Momento para tudo!

Síndromes ligadas à cultura

Anorexia nervosa
• Reino Unido, Europa, Américas do Norte e Sul,
Japão e China

Síndrome da fadiga crônica


• América do Norte, Reino Unido e Austrália

Ataques de nervos
• América Latina e Mediterrâneo

Transtorno dissociativo de identidade


• EUA

Bílis, cólera, Locura, Nervios, Susto


• Grupos Latinos
/cultura

Competência cultural

Boas práticas de cuidado em saúde para populações


minorizadas

Visão e compreensão do paciente sobre si mesmo, seus


problemas e sobre o mundo como ponto central do
diagnóstico e tratamento

Tanto o profissional quanto paciente detém saberes que


são desconhecidos para o outro e precisam ser
explicitados
/cultura

OITO PERGUNTAS DE ARTHUR KLEINMAN


O que você acha que causou o seu problema?
Por que você acha que o problema se iniciou?
O que você acha que seu problema fez com o seu corpo?
O quão grave é o seu problema e qual será sua duração?
Que tipo de tratamento você acha que deveria receber?
Quais são os resultados mais importantes que você
espera do tratamento?
Quais são os principais problemas que a sua doença
causou a você?
O que você mais teme em relação à sua doença e ao
tratamento?
/religiosidade
Religiosidade, espiritualidade e transtornos
mentais
Brasil
95% seguem uma religião

83% consideram religião muito importante

37% frequentam serviços religiosos 1x/semana

Envolvimento religioso
Bem estar psicossocial Satisfação com a vida

Felicidade Afetos positivos

Moral elevada Melhor saúde física e mental

Inversamente relacionado a
Depressão Sucídio

Uso abusivo de álcool e outras substâncias


/religiosidade

Coping religioso espiritual


5 objetivos-chave
Busca de significado

Controle

Conforto espiritual

Intimidade com Deus e com outros membros da sociedade

Transformação de vida

Pode ter efeitos adversos para a saúde


Justificar comportamentos prejudiciais

Substituir cuidados médicos tradicionais

Induzir culpa, vergonha, medo, raiva, violência e


preconceito
/religiosidade
/religiosidade

Diretrizes práticas

Limites éticos
Abordagem de R/E deve estar centrada no paciente. Não
se pode prescrever, impor ou tentar influenciar visões de
mundo, espirituais ou antiespirituais do paciente

Abordagem centrada na pessoa


Apreciar componentes físicos, mentais e espirituais

Contratransferênci
a
Reações do profissional

Abordagem aberta e não dogmática


Interesse e respeito genuínos à crenças, valores e
experiências dos pacientes.
/perguntas

O que dá sentido à sua vida?

Quais são suas fontes de conforto


e força quando você lida
com problemas?

O que o ajuda a enfrentar sua doença?


/disparador

Cenas 5 e 6
/é transtorno mental?

É transtorno mental
Mais de dois anos

Dificuldade para aceitar a morte

Há disfunção
/é transtorno mental?

É transtorno mental
Há dependência de nicotina

Não há dependência de outras substâncias


/diagnóstico
Diagnósticos e classificação em psiquiatria
Diagnóstico – critérios sindrômicos
Nosologia – inter-relações entre:

Sintomas e síndromes (aspecto transversal)


Padrões de curso e resultado (aspecto longitudinal)

DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos


Mentais (1952)

DSM 5

Remoção da abordagem multiaxial


Reduzido o limite de critérios diagnósticos para muitos
transtornos mentais Imprecisa a diferença entre normal e
patológico

Deve-se integrar melhor os dados clínicos,


neurobiológicos, genéticos e comportamentais
/diagnóstico

Taxonomia Hierárquica da Psicopatologia (HiTOP)

Espectros amplos (nível 4)

Fatores (nível 3)

Síndromes/traços (nível 2)

Sintomas/sinais (nível 1)
/material complementar
/diagnóstico

Algumas dicas

Há uma correlação entre sinal, sintoma e síndrome

Em psiquiatria, a causa orgânica sempre deve ser


descartada!

Em psiquiatria, sintomas isolados têm menor valor


diagnóstico

Diferenciar processo de desenvolvimento

Fazer Psiquiatria não é decorar critérios diagnósticos!


/transtorno mental

Definição de transtorno mental


Sofrimento/incapacidade (cognitiva, emocional ou
comportamental), perda de funcionalidade

Não deve ser uma resposta esperada a um estressor ou


perda comum – ex: Luto

Não é culturalmente sancionado: os limites entre


normalidade e patologia variam em diferentes culturas

Não corresponde a desvios sociais de comportamento:


não usar o diagnóstico psiquiátrico para fins políticos ou
controle social

Henry Ey: doença mental – patologia da liberdade,


incapacidade do indivíduo de desenvolver seu potencial
/o que é transtorno mental

Transtorno mental é
constrangimento do ser, é
fechamento, fossilização das
possibilidades existenciais.
/o que é transtorno mental

Saúde mental é a possibilidade de


dispor de “senso de realidade, senso
de humor e se um sentido poético
perante a vida”. É relativizar os
sofrimentos e limites inerentes à
condição humana e desfrutar do
resquício de liberdade e prazer que a
existência nos oferece.
/o que é transtorno mental
/O que é transtorno mental?
resumo final

Transtorno mental está ligado a perda de


funcionalidade e sofrimento mental

Distinguir o transtorno mental do sofrimento


normal ou esperado

Não se devem transformar hábitos culturais


atípicos em transtornos mentais

Conflitos sociais devem ser tema de estudo


e intervenção de outras áreas do
conhecimento
/referências

• MELEIRO, Alexandrina. Psiquiatria: Estudos fundamentais.


1ª edição. Editora Gen.

• HiTOP Clinical Network. Disponível em:


https://hitop.unt.edu/sites/hitop.unt.edu/files/HiTOP_3-22-
18_CORRECTED.pdf

• MIGUEL, Eurípedes Constantino, LAFER, Beny; ELKIS


Helio; FORLENZA Orestes Vicente. Clínica Psiquiátrica. 2ª
edição. Editora Manole.

• APA (American Psychiatric Association). (2013). Diagnostic


and statistical manual of mental disorders (5th ed.).
Washington, DC: Author.
O que é transtorno mental?
Saulo Vito Ciasca

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