Você está na página 1de 30

2022

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO/COORDENAÇÃO


EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA

DEFICIÊNCIA
INTELECTUAL:
APRENDIZAGEM E
DESENVOLVIMENTO

FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL – MÓDULO 04

CLAUDINE S. ALVES
PAULA BORGES MIRANDA NABUT

1
SUMÁRIO

1. Conhecendo a Deficiência Intelectual - DI 03

2. Habilidades intelectuais 14

3. Aprendizagem e Desenvolvimento 23

Referências 30

2
04 Deficiência Intelectual – aprendizagem e
desenvolvimento

Claudine S. Alves1
Paula Borges Miranda Nabut2

1 Conhecendo a Deficiência Intelectual - DI

Áreas cerebrais
responsáveis pela
consolidação do
conhecimento.

1
Fisioterapeuta. Pós-graduada em Fisioterapia Neurológica. Especialização em Educação Especial e Inclusiva,
Centro de Orientação e Pesquisa em Educação Especial – CEOPEE.

2
Terapeuta Ocupacional. Pós-graduação em Educação Especial e Inclusão. Pós-graduação em Neurociência.
Centro de Orientação e Pesquisa em Educação Especial – CEOPEE.

3
A Construção Histórica do Conceito de Deficiência Intelectual

As expressões referentes à deficiência intelectual ao longo do tempo foram se modificando,


débil mental, imbecil, idiota, oligofrênico, retardado, entre outras foram utilizadas. O que se
evidencia em todas elas é o rótulo do intelectualmente diferente, que é empregado por
educadores e profissionais da educação.
A concepção de deficiência intelectual como patologia, gerada pela teoria positivista, resistiu
ao tempo e até meados do século XX era praticamente a única formalmente aceita, tanto
pela comunidade científica, quanto pelos profissionais atuantes na área. Segundo esta
concepção, a normalidade é estabelecida por uma média e vincula-se à saúde e a
anormalidade, à doença. (BUENO,2004,p.58)
Skrtic (1996) existem dois modelos teóricos diferenciados de normalidade/anormalidade, o
modelo patológico, originado na medicina, e o modelo estatístico, fruto da psicologia.
Ao final do século XIX (início XX), Alfred Binet (1857 -1911) fundamentado em teorias
essencialmente empiristas, desenvolveu um teste para aferir o nível de inteligência,
denominado teste do Quociente Intelectual (QI).
Tais formulações de Binet foram posteriormente superadas pela Teoria das Inteligências
Múltiplas de Howard Gardner.
Por volta de 1960-1970, verifica-se um salto qualitativo da neurociência (área relativa aos
estudos do cérebro), somado aos avanços da ciência cognitiva (estudo da mente), com as
teorias cognitivas em pauta, a ideia que emerge é a de que a própria pessoa é responsável
pela construção do seu conhecimento através de suas interações com o meio.
A AAMR (Associação Americana de Deficiência Mental) considera também que a
conceitualização da deficiência intelectual não pode se basear somente pelos resultados
dos testes de inteligência, expressos por meio do Quociente de inteligência (QI).
Para essa associação, para caracterização da deficiência intelectual deve-se levar em
consideração, além do QI, as dificuldades de comportamentos adaptativos dos sujeitos,
além de só considerar um indivíduo deficiente mental se ela ocorrer durante o período de
desenvolvimento, isto é, antes dos 18 anos.
A Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde realizaram um
evento (no qual o Brasil participou) em Montreal, Canadá, em outubro de 2004, evento que
aprovou o documento DECLARAÇÃO DE MONTREAL SOBRE DEFICIÊNCIA
INTELECTUAL.
A expressão deficiência intelectual foi oficialmente utilizada já em 1995, quando a
Organização das Nações Unidas, realizou em Nova York o simpósio chamado
INTELLECTUAL DISABILITY: PROGRAMS, POLICIES, AND PLANNING FOR THE
FUTURE ( Deficiência Intelectual: Programas, Políticas e Planejamento para o futuro).

Definição

Incapacidade caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e no


comportamento adaptativo, e está expressa nas habilidades práticas, sociais e conceituais,
originando-se antes dos dezoito anos de idade. (AAMR,2006).

IDIOTIA RETARDO DEFICIÊNCIA


OLIGOFRENIA MENTAL INTELECTUAL
DEMENTIA
SEC. XVI ATÉ 2013 APÓS 2013

4
 CID-10 (Classificação Estatística Internacional de doenças e Problemas relacionados
à saúde) define como: RETARDO MENTAL
 DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) nomeia como:
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
 CID - 11 Utilizará o termo DESORDEM DO DESENVOLVIMENTO - 1 de Janeiro de
2022

Ampliando o conhecimento
DSM - V
Publicação da Academia Americana de Psiquiatria
(AAP).
Passa por atualizações periódicas desde final dos anos
1960.
Indicado para médicos, não médicos e profissionais de
saúde.
Atualizado em 2014

Durante muito tempo, a definição, avaliação e classificação de deficiência intelectual eram


ligadas à aferição, por meio de testes padronizados ( psicométricos ) do coeficiente de
inteligência(QI ) - índice que calcula a inteligência pela relação entre a idade mental do
sujeito e sua idade cronológica.

5
DSM- 2013 AAMR 2002

LEVE 55-69 LEVE 51-75

MODERADO 40-54

SEVERO 25-39 SEVERO < 50

PROFUNDO < 24

De acordo com o DSM V:


- Sintomas e aparecimento devem ocorrer durante o período de desenvolvimento;
- Perfil crônico e persiste na vida adulta;
Co-ocorre junto a outros transtornos de neurodesenvolvimento e psiquiátricos : atenção!!!!
- Mudança de nome: RM>>>>DI
(alinhar com OMS, AAIDD e Departamento de Educação dos EUA).

Ampliando o conhecimento
CID 10
- Abreviação da Classificação Internacional de Doenças, Décima
Revisão)
- Classificação publicada e revisada pela OMS
-Fornece uma estrutura de base etiológica
- Todas as doenças estão catalogadas por alfanúmeros (ex: F70)
- Sistema para designar códigos estatísticos para condições de
saúde
-Retardo Mental : capítulo 6 (Transtornos Mentais e
Comportamentais)

6
Deficiência intelectual no CID 10:
 F70. Deficiência Intelectual Leve: Amplitude aproximada do QI entre 50 e 69 (em
adultos, idade mental de 9 a menos de 12 anos). Provavelmente devem ocorrer
dificuldades de aprendizado na escola. Muitos adultos serão capazes de trabalhar e
de manter relacionamento social satisfatório e de contribuir para a sociedade.
 F71. Deficiência Intelectual Moderada: Amplitude aproximada do QI entre 35 e 49
(em adultos, idade mental de 6 a menos de 9 anos). Provavelmente devem ocorrer
atrasos acentuados do desenvolvimento na infância, mas a maioria dos pacientes
aprende a desempenhar com algum grau de independência quanto aos cuidados
pessoais e adquirir habilidades adequadas de comunicação e acadêmicas. Os
adultos necessitarão de assistência em grau variado para viver e trabalhar na
comunidade.

 F72. Deficiência Intelectual Grave: Amplitude aproximada de QI entre 20 e 40 (em


adultos, idade mental de 3 a menos de 6 anos). Provavelmente deve ocorrer a
necessidade de assistência contínua.

 F73. Deficiência Intelectual Profunda: QI abaixo de 20 (em adultos, idade mental


abaixo de 3 anos). Devem ocorrer limitações graves quanto aos cuidados pessoais,
continência, comunicação e mobilidade.

Ampliando o conhecimento

CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE - CIF


descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas às
condições de saúde, identificando o que uma pessoa “pode ou não
pode fazer na sua vida diária”, tendo em vista as funções dos
órgãos ou sistemas e estruturas do corpo, assim como as limitações
de atividades e da participação social no meio ambiente onde a
pessoa vive.

7
De acordo com o CIF:

INCAPACIDADE

DISFUNÇÃO LIMITAÇÃO DAS RESTRIÇÃO NA FATORES


(ORGÂNICA ATIVIDADES PARTICIPAÇÃO AMBIENTAIS
E/OU DA SOCIAL (FACILITADORES
ESTRUTURAÇÃ OU
O DO CORPO) BARREIRAS)

A CID-10 e a CIF são complementares, e os utilizadores são estimulados a usar em


conjunto esses dois membros da família de classificações internacionais da OMS.
A CID-10 proporciona um “diagnóstico” de doenças, perturbações ou outras condições de
saúde, que é complementado pelas informações adicionais fornecidas pela CIF sobre
funcionalidade.

Diagnóstico

 Não é feito através de exames específicos ex: Ressonância , Tomografia etc...


 Diagnóstico e intervenção precoce
 Multi e Transdisciplinar
 Por Observação- ( neuro - psicólogos- Fono, Fisio, T.O psicopedagogos etc.)
 Observação clínica:
 funcionalidade no ambiente ( social, acadêmico, conceitos e praticidade)
 Histórico familiar,(80 A 90 )
 Gestação e Parto
 Desenvolvimento Neuropsicomotor
 Sinais Sindrômicos
 TESTES DE AVALIAÇÃO ESTRUTURADA
 Testes psicométricos realizados por psicólogos, neuropsicólogos

8
Causas e Fatores de risco

De acordo com a Associação Americana de Retardo Mental (LUCKASSON,1992):

Pré-natais Que incidem desde a concepção até o início do trabalho de parto:


 Desnutrição materna,
 má assistência gestacional, doenças infecciosas,
 consumo de álcool e drogas pela mãe
 poluição ambiental
 fatores genéticos decorrentes de alterações cromossômicas numéricas
ou estruturais(Síndrome de Down, Síndrome de Martin Bell, entre
outras) e alterações gênicas (erros inatos do metabolismo:
fenilcetonúria, Síndrome de Willians, esclerose tuberosa, entre outras)

Perinatais Que incidem desde o início do trabalho de parto até o trigésimo dia de vida do
bebê.
 Anóxia
 Traumas de parto
 prematuridade e baixo peso
 icterícia grave em recém-nascidos e
 Kernicterus (incompatibilidade de RH/ABO)

Pós natais Que incidem do trigésimo dia de vida ao final da adolescência.


● Desnutrição
● desidratação grave
● carência de estímulo global
● infecções (meningoencefalites,sarampo, etc)
● intoxicações exógenas
● acidentes (trânsito,afogamento,choques, quedas, etc..)
● infecções e outros

Causas da DI

 GENÉTICA: 40-60% Inespecífico


 SINDRÔMICAS: Associada a alguma: Síndrome Down, X-Frágil e
Willians- Beurer

 NÃO SINDRÔMICAS: Causa provocada por aspectos neurológicos,


biológicos, ambientais, comportamentais sem relação com síndrome ou alteração
cromossômica: alcoolismo, prematuridade, pobreza extrema.

Quando Suspeitar de Causa Genética na DI:

➢ História familiar
➢ Crianças com alterações físicas (manchas, deformações,
➢ microcefalia, olhos-orelhas-pele, etc)
➢ Atraso global de desenvolvimento desde tenra idade
➢ Autismo
➢ Epilepsias de difícil controle

9
➢ Distúrbio de Linguagem e de Comunicação
➢ Atraso no Desenvolvimento neuropsicomotor
➢ Atraso na fala
➢ Dependência excessiva
➢ Pobreza de recursos
➢ Assimbolia (perda da capacidade de apreciar pelo tato a forma e a natureza de um
objeto)
➢ Hipotonia
➢ Dificuldade de abstrair, imaginar, aprender algo, imaginar e reproduzir, generalização
(Quintela e cols., 2017)

Ampliando o conhecimento
Síndromes Genéticas mais comuns
● Down ● X-Frágil
● Willians-Beurer ● Cornélia de Lange
● Angelman ● Prader-Willi
● Turner ● Neuroectodermoses
● Patau ● Rett
● Distrofias musculares Smith-Magenis
● Velocardiofacial ● Rubinstein-Taybi
● CHARGE ● Mucopolissacaridoses
E aproximadamente mais 900 descritas…
(AAMR, 2002)

Síndrome de Down

A Síndrome de Down é uma condição genética, definida por um cromossomo 21 extra nas
células do corpo, conhecido também por trissomia do 21.
Dentro das células, existem os cromossomos que carregam informações sobre o indivíduo,
sendo que cada um tem 46 cromossomos, já aqueles com Síndrome de Down possuem 47.
Na fecundação resultante de 23 óvulos e 23 espermatozoides, há origem de feto com 46
cromossomos. Na condição, ocorre um erro na divisão celular que resulta na presença

10
adicional de um terceiro cromossomo do par 21 nas células, muitas vezes isso ocorre na
formação do óvulo ou espermatozoide que contém um cromossomo 21 a mais.

- DIAGNÓSTICO: Durante a gravidez, o ultrassom morfológico que avalia a translucência


nucal, medida na região da nuca do feto, ajuda a estimar a presença da síndrome, que só é
confirmada com os exames de amniocentese e biópsia do vilo corial. Após o nascimento,
um exame clínico do cariótipo (estudo dos cromossomos) pode comprovar a Síndrome de
Down.
- CARACTERÍSTICAS: Olhos amendoados, rosto arredondado, mãos menores com dedos
mais curtos, prega palmar, orelhas pequenas, dificuldades motoras, língua protusa (para
fora da boca), estatura baixa, doenças cardíacas, comprometimento intelectual.

Síndrome x Frágil

Depois da Síndrome de Down, é a causa genética mais frequente de deficiência - fica em


torno de 1 em cada 200 pessoas. Pode afetar vários membros da mesma família.
Trata-se de um gene FMR1, importante na produção de proteína FMRP. Esta proteína é
necessária no processo de transmissão neuronal.
A doença é mais comum em homens porque as mulheres, tendo dois cromossomos X,
apresentam duas cópias do gene FMR1.
A Síndrome do X Frágil é uma doença genética transmitida pelos pais e causa Deficiência
Intelectual e atraso no desenvolvimento.
É a causa mais comum de D.I em meninos, afetando 1 em cada 4.000. É menos comum em
meninas, cerca de 1 em cada 8000.
Os meninos apresentam sintomas mais graves do que as meninas.
A SÍNDROME DO X FRÁGIL É UMA CONDIÇÃO CRÔNICA E NÃO TEM CURA.

- SINTOMAS: atrasos no desenvolvimento, deficiências Intelectuais e de aprendizagem - as


crianças com SXF podem apresentar dificuldade para aprender novas habilidades,
ansiedade, sintomas semelhantes ao Autismo (dificuldades nas interações sociais, não faz
contato visual, aversão ao toque), dificuldade para entender a linguagem corporal,
hiperatividade, convulsões, depressão, dificuldade para dormir.
- Características Físicas: Orelhas grandes, mandíbula proeminente, rosto alongado, queixo
saliente, juntas flexíveis, pé chato.
- CAUSAS: É causada por um defeito no gene FMR1, localizado no cromossomo X. A
mutação no gene FMR1 impede que ele produza adequadamente uma proteína chamada
FMRP, essencial para o funcionamento do sistema nervoso. A proteína FMRP é
responsável pelo desenvolvimento das conexões entre as células nervosas e a maturação
das sinapses. Em geral, por volta dos 3, 4 anos as crianças recebem o diagnóstico, que é
feito através de um exame de sangue de DNA, chamado FMR1 que estão associadas a
Síndrome do X frágil.

Síndrome de Williams
Foi descrita pelos médicos J.C.P. Williams, em 1961; e Beuren , em 1962, por isso que em
alguns lugares a síndrome recebe o nome de Williams Beuren.
A síndrome de Williams se caracteriza como uma falha ou uma desordem no cromossomo 7
e crianças de ambos os sexos são afetadas. Ela ocorre pela ausência de 21 genes do

11
cromossomo 7. (Ele é responsável pela formação de elastina, a proteína que forma as fibras
elásticas).
- SINTOMAS: Estatura aquém para a idade, dentes espaçados, peito escavado, hipotonia,
baixo peso ao nascer, baixo timbre de voz, déficit de atenção, atraso no desenvolvimento
cognitivo, excesso de cálcio no sangue, problemas renais.
- ASSOCIAÇÕES: Hiperatividade, Déficit de atenção, Autismo, Transtorno de Linguagem,
Psicoses, Epilepsias, Síndromes Genéticas e Encefalopatias.

Comorbidades mais comuns na DI


TDAH (30-39%), TEA (28-30%), Paralisia Cerebral (19,8%), Transtorno de Ansiedade
(10%), Ingestão de substância não alimentares, Distúrbios do Sono (30%), Epilepsia.
TDAH e DI:

 Comorbidade mais frequente


 Leva principalmente a problemas sociais e acadêmicos
 Dificuldades de leitura e escrita
 Piora habilidades em memória operacional em DI Limítrofes e Leve
 Demora para se ajustar em regras e rotinas : maior risco de transtorno de conduta!
 Mais agressividade, TOD, sintomas depressivos e alterações no sono
(Ahuja e Cols.; 2013)

Epilepsia e DI:

 Tende a ser mais difícil de controlar e costumam persistir na fase adulta:


 Ocorrem bem mais em DI (cada 5 crianças com DI uma tem epilepsia)
 Medicações são essenciais e imprescindíveis e devem haver protocolos específicos
 Piora com a severidade e na fase idosa (em portadores de Down e Alzheimer)
 Padrão de eletroencefalograma e perfil de comportamento associado `a DI : pode
revelar uma síndrome.
(Robertson e cols., 2015)

 Associação frequente com Autismo e síndromes genéticas


 Deve-se investigar malformações ou sequelas de infecções e de parto
 Pode ser o primeiro sinal na DI que leva os pais ao médico: investigar as causas e
outras comorbidades.
 Alguns estudos mostram risco maior de problemas de comportamento e distúrbios
emocionais
(Kerr e cols., 2009; Robertson e cols., 2015)

Autismo e DI:

 Prevalência de Autismo no DI: 28-30% ( e mais em meninos 3:1)


 Cada 1000 pessoas, 2 tem DI + Autismo
 DI e Autismo: confusão constante na clínica e escolarização difícil

12
 Mais severa a DI maior chance de Autismo: pode chegar a 72%
 DI com TEA: mais problemas de humor, agressividade e desajustes sociais
(Bryson e cols., 2008)

AUTISMO X DI
AUTISMO DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Desinteresse e incapacidade social Tem interesse social mas problemas


cognitivos para iniciar e manter relação
social

Não imita Imita e procura imitar para poder aprender e


fazer atividades sociais

Atrasos de linguagem mais severos e Atrasos de linguagem leves e evolução


regressivos e evolução lenta e muitas vezes satisfatória
nula

Não compartilha e não inicia um processo Compartilha e inicia comunicação mas com
de comunicação pobreza de repertório

Contato visual pobre ou nulo Tem contato visual normal

Presença de estereotipias e interesses Não tem estereotipias


restritos exagerados

https://br.freepik.com/vetores-gratis/dia-mundial-da-sindrome-de-down-desenhado-a-mao_12229458.htm#query=s%C3%ADndrome%20down&position=9&from_view=search

13
2 Habilidades intelectuais

O conceito de deficiência Intelectual mais divulgados nos meios educacionais no Brasil e


adotado nos documentos oficiais têm como base o sistema de classificação da American
Association For Mental Retardation (AAMR, 2002)- Associação Americana de Retardo
Mental. Segundo esta definição:
“Deficiência Mental é caracterizada por:
 limitações significativas no funcionamento intelectual global, acompanhadas por
 dificuldades acentuadas no comportamento adaptativo,
 manifestadas antes dos dezoito anos de idade”.

dificuldades
acentuadas no
comportamento
adaptativo
limitações
manifestadas
significativas no
antes dos dezoito
funcionamento
anos de idade
intelectual global

Deficiência
Intelectual

Na recente atualização em 2002, a AAMR conceitua deficiência mental como uma condição
envolvendo cinco dimensões (áreas) que se referem a diferentes aspectos do
desenvolvimento do indivíduo, do ambiente em que vive e dos suportes de que dispõe :
habilidades intelectuais; comportamentos adaptativo; participação; interação e papel social;
saúde; e contexto (AAMR,2006; CARVALHO & MACIEL, 2003; ALMEIDA, 2004; ALONSO,
2006; 2006a).

AS HABILIDADES INTELECTUAIS

DIMENSÃO I - As Habilidades Intelectuais são avaliadas por meio de testes de


inteligência ou outros não padronizados. Referem-se à:
❏ capacidade de raciocínio,
❏ planejamento,
❏ solução de problemas,
❏ pensamento abstrato,
❏ compreensão de ideias complexas,
❏ rapidez de aprendizagem e

14
❏ aprendizagem por meio de experiências.

DIMENSÃO II - COMPORTAMENTO ADAPTATIVO -É definido como o “conjunto de


habilidades conceituais, sociais e práticas adquiridas pela pessoa para corresponder às
demandas da vida cotidiana (CARVALHO & MACIEL,2003, p.151).

Habilidade Social - diz


Habilidades Conceituais Habilidade Prática - respeito aos
- os aspectos Independência nas comportamentos
acadêmicos, cognitivos e atividades de vida diária: considerados socialmente
de comunicação, como a Alimentar, andar sozinho, apropriados ou
leitura e escrita, conceitos usar condução pública, esperados para a faixa
de dinheiro e a ter hábitos de higiene etc. etária: Relacionar com
linguagem(receptiva e outras pessoas de forma
expressiva) adequada, expressar
desejos, defender direitos
e interesses, observar
regras e normas etc.

DIMENSÃO III - PARTICIPAÇÃO, INTERAÇÃO E OS PAPÉIS SOCIAIS


 Como ele vive no seu local de moradia (bairro, cidade, região)
 Atividades desenvolvidas por ele: trabalho, estudo, lazer, participação em
associações, etc…

DIMENSÃO IV - SAÚDE
 Suas condições orgânicas: diagnóstico clínico e etiologia, bem como os aspectos
físicos e mentais atuais.

DIMENSÃO V - CONTEXTO
 Condições inter-relacionadas nas quais as pessoas vivem o seu cotidiano.
 o ambiente social imediato ( a pessoa e sua família)
 a vizinhança, a comunidade ou as organizações que proporcionam serviços de
educação, apoio etc..
 os padrões abrangentes da cultura, da sociedade, das influências sociopolíticas.

15
DÉFICITS FUNCIONAIS

DÉFICITS EM FUNÇÕES INTELECTUAIS

JUÍZO
RACIOCÍNIO

APRENDIZAGEM
ACADÊMICA
PLANEJAMENTO

PENSAMENTO
ABSTRATO
SOLUÇÃO DE
PROBLEMAS

APRENDIZAGEM
PELA EXPERIÊNCIA

DÉFICITS EM FUNÇÕES ADAPTATIVAS

FRACASSO PARA ATINGIR PADRÕES DE


DESENVOLVIMENTO E SOCIOCULTURAIS EM RELAÇÃO À
INDEPENDÊNCIA PESSOAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL.

FUNCIONAMENTO LIMITADO EM UMA OU MAIS


ATIVIDADES DIÁRIAS : COMUNICAÇÃO, PARTICIPAÇÃO
SOCIAL E VIDA INDEPENDENTE.

16
FUNCIONAMENTO ADAPTATIVO
Comunicação É a habilidade que realça o inter-relacionamento entre as pessoas e tem
por objetivo a compreensão e expressão das informações mediante as
condutas das mesmas (falar, escrever, gesticular, expressar-se
corporalmente).

Autocuidado Habilidade relacionada à conduta pessoal, à própria preservação e a


organização da pessoa, ou seja, a higiene, a alimentação e a aparência.
A habilidade relaciona-se tanto com a imagem do homem como também
com o autoconceito.

Vida Doméstica Habilidade que se reporta à atividade da pessoa quando no lar, tais
como: cuidado com vestimentas, com os afazeres domésticos, com a
manutenção e com os bens pessoais etc...

Habilidades Referem-se à interação e intercomunicação com as e mais pessoas,


Sociais/Interpessoais reconhecendo os sentimentos e fornecendo feedback. Nesta habilidade
é realçada a importância de ter amigos e ser aceito por estes;
flexibilidade adaptativa, ao cumprimento das leis, à apresentação de
comportamento sexual e social adequado.

Uso de Recursos Referem-se a como fazer compras no supermercado e nas lojas; utilizar-
Comunitários se de transporte coletivos; ir a consultórios médicos, hospitais;
frequentar bibliotecas, parques, cinemas e outros lugares de uso
público.

Autossuficiência Saber priorizar; fazer escolhas; planejar horários; iniciar e finalizar


tarefas quando solicitadas; pedir auxílio quando necessário etc..
Habilidades Reportam-se ao aprendizado escolar, utilizando-se da capacidade
Acadêmicas intelectual na resolução e aplicação de conhecimento. Por exemplo:
escrita, leitura, conceitos básicos de cálculo, geografia, conhecimento do
meio ambiente e social.

Trabalho Obtenção e manutenção de um trabalho na comunidade. Saber cumprir


os horários predeterminados; buscar ajuda quando necessário; fazer
uso do dinheiro corretamente e locomover-se com independência tanto
para ir para o trabalho quanto para voltar.

Lazer Motivação e interesse por ocupações ligadas ao entretenimento. Saber


utilizar do tempo livre, de forma individual ou na companhia de outras
pessoas, visando ao divertimento e à distração.

Saúde e Segurança Relacionados a hábitos saudáveis, com prioridade na alimentação e


prevenção de doenças; leis, normas e regras que regem uma vida mais
organizada.

17
CID-11: alterações na definição e adoção de descrições complementares

Raciocínio lógico e perceptual


Grupo de condições
● Buscar conhecimento
anormais de
● Representação simbólica
desenvolvimento ● Problemas de compreensão verbal,
caracterizado por ● Memória operacional deficitária
significantes prejuízos ● Baixa velocidade de processamento
cognitivos associados com de informações
limitações e aprendizagem ● Aprendizagem acadêmica e prática
e habilidades adaptativas. ● Limitações na capacidade de absorver
conceitos, habilidades sociais e uso dos
Prejuízos cognitivos mecanismos comuns da comunidade
presentes. ● Problemas no manejo de suas
emoções, conflitos, motivação e má
resposta `às experiências negativas
● Condição crônica para toda vida

Deficiência Intelectual Transtorno do Desenvolvimento


Intelectual (CID 11)

Déficits funcionais
Início no período do
desenvolvimento

Domínio conceitual
Intelectuais Adaptativos
Social

Prático

18
Três áreas do funcionamento adaptativo:
• Conceitual
• Social
• Prático

Domínio conceitual
Domínio social Domínio prático
(acadêmico)
• áreas importantes • habilidades de • aprendizagem e
para o desempenho percepção de autogestão em
escolar, como pensamentos, diversos contextos,
memória, sentimentos e como cuidados
linguagem, leitura, experiências dos pessoais,
escrita, raciocínio outros, empatia, autocontrole,
matemático, habilidades de organização de
aquisição de comunicação tarefas escolares e
conhecimentos interpessoal, de profissionais, entre
práticos, soluções amizades e outros.
de problemas e julgamento social
julgamento em
situações novas

A CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à


Saúde, 10ª edição) define o transtorno como Retardo Mental; no entanto, a CID-11
(Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, 11ª
edição) utilizará o termo Desordem do Desenvolvimento Intelectual. Como o DSM-5 (Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) já se encontra em vigor e nomeia como
Deficiência Intelectual, optou-se por utilizar este termo no presente trabalho.
É um dos transtornos neuropsiquiátricos mais comuns em crianças e adolescentes e sua
taxa de prevalência fica entre 1% a 3% da população jovem. No Brasil, estima-se que 1,6%
da população seja acometida.
A DI é conceituada como um transtorno com início no período do desenvolvimento que inclui
déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceitual, social e
prático. Três critérios devem ser preenchidos:
 Déficits em funções intelectuais;
 Déficits em funções adaptativas;
 Início dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período do desenvolvimento.

19
Deficiência Intelectual grau leve

Domínio conceitual: crianças em idade escolar apresentam dificuldade em aprender


habilidades acadêmicas, leitura, escrita … necessitando de apoio. Em adultos: pensamento
abstrato, função executiva e habilidades acadêmicas como leitura, controle de dinheiro
estão prejudicadas. Para crianças em idade escolar e adultos, existem dificuldades em
aprender habilidades acadêmicas que envolvam leitura, escrita, matemática, tempo ou
dinheiro, sendo necessário apoio em uma ou mais áreas para o alcance das expectativas
associadas à idade. Nos adultos, pensamento abstrato, função executiva (i.e., planejamento,
estabelecimento de estratégias, fixação de prioridades e flexibilidade cognitiva) e memória
de curto prazo, bem como uso funcional de habilidades acadêmicas (p. ex., leitura, controle
do dinheiro), estão prejudicados. Há uma abordagem um tanto concreta a problemas e
soluções em comparação com indivíduos na mesma faixa etária.
Domínio social: mostra-se imaturo nas relações e julgamento sociais, pode haver
dificuldade em perceber pistas sociais dos pares. Corre o risco de ser manipulada pelos
outros. Comparado aos indivíduos na mesma faixa etária com desenvolvimento típico, o
indivíduo mostra-se imaturo nas relações sociais. Por exemplo, pode haver dificuldade em
perceber, com precisão, pistas sociais dos pares. Comunicação, conversação e linguagem
são mais concretas e imaturas do que o esperado para a idade. Podem existir dificuldades
de regulação da emoção e do comportamento de uma forma adequada à idade; tais
dificuldades são percebidas pelos pares em situações sociais. Há compreensão limitada do
risco em situações sociais; o julgamento social é imaturo para a idade, e a pessoa corre o
risco de ser manipulada pelos outros (credulidade).
Domínio prático: Em tarefas complexas da vida diária podem necessitar de apoio. O
indivíduo pode funcionar de acordo com a idade nos cuidados pessoais. Precisa de algum
apoio nas tarefas complexas da vida diária na comparação com os pares. Na vida adulta, os
apoios costumam envolver compras de itens para a casa, transporte, organização do lar e
dos cuidados com os filhos, preparo de alimentos nutritivos, atividades bancárias e controle
do dinheiro. As habilidades recreativas assemelham-se às dos companheiros de faixa etária,
embora o juízo relativo ao bem-estar e à organização da recreação precise de apoio. Na
vida adulta, pode conseguir emprego em funções que não enfatizem habilidades
conceituais. Os indivíduos em geral necessitam de apoio para tomar decisões de cuidados
de saúde e decisões legais, bem como para aprender a desempenhar uma profissão de
forma competente. Apoio costuma ser necessário para criar uma família.

Deficiência Intelectual grau moderado

Domínio conceitual: Durante todo o desenvolvimento, as habilidades conceituais


individuais ficam bastante atrás das dos companheiros. Nos pré-escolares, a linguagem e as
habilidades pré-acadêmicas desenvolvem-se lentamente. Nas crianças em idade escolar,
ocorre lento progresso na leitura, na escrita, na matemática e na compreensão do tempo e
do dinheiro ao longo dos anos escolares, com limitações marcadas na comparação com os
colegas. Nos adultos, o desenvolvimento de habilidades acadêmicas costuma mostrar-se
em um nível elementar, havendo necessidade de apoio para todo emprego de habilidades
acadêmicas no trabalho e na vida pessoal. Assistência contínua diária é necessária para a
realização de tarefas conceituais cotidianas sendo que outras pessoas podem assumir
integralmente essas responsabilidades pelo indivíduo.

20
Domínio social: O indivíduo mostra diferenças marcadas em relação aos pares no
comportamento social e na comunicação durante o desenvolvimento. A linguagem falada
costuma ser um recurso primário para a comunicação social, embora com muito menos
complexidade que a dos companheiros. A capacidade de relacionamento é evidente nos
laços com família e amigos, e o indivíduo pode manter amizades bem-sucedidas na vida e,
por vezes, relacionamentos românticos na vida adulta. Pode, entretanto, não perceber ou
interpretar com exatidão as pistas sociais. O julgamento social e a capacidade de tomar
decisões são limitados, com cuidadores tendo que auxiliar a pessoa nas decisões.
Amizades com companheiros com desenvolvimento normal costumam ficar afetadas pelas
limitações de comunicação e sociais. Há necessidade de apoio social e de comunicação
significativo para o sucesso nos locais de trabalho.

Domínio prático: O indivíduo é capaz de dar conta das necessidades pessoais envolvendo
alimentar-se, vestir-se, eliminações e higiene como adulto, ainda que haja necessidade de
período prolongado de ensino e de tempo para que se torne independente nessas áreas,
talvez com necessidade de lembretes. Da mesma forma, participação em todas as tarefas
domésticas pode ser alcançada na vida adulta, ainda que seja necessário longo período de
aprendizagem, que um apoio continuado tenha que ocorrer para um desempenho adulto.
Emprego independente em tarefas que necessitem de habilidades conceituais e
comunicacionais limitadas pode ser conseguido, embora com necessidade de apoio
considerável de colegas, supervisores e outras pessoas para o manejo das expectativas
sociais, complexidades de trabalho e responsabilidades auxiliares, como horário,
transportes, benefícios de saúde e controle do dinheiro. Uma variedade de habilidades
recreacionais pode ser desenvolvida. Estas costumam demandar apoio e oportunidades de
aprendizagem por um longo período de tempo. Comportamento mal adaptativo está
presente em uma minoria significativa, causando problemas sociais.

Deficiência Intelectual grau grave

Domínio conceitual: Alcance limitado de habilidades conceituais. Geralmente, o indivíduo


tem pouca compreensão da linguagem escrita ou de conceitos que envolvam números,
quantidade, tempo e dinheiro. Os cuidadores proporcionam grande apoio para a solução de
problemas ao longo da vida.
Domínio social: A linguagem falada é bastante limitada em termos de vocabulário e
gramática. A fala pode ser composta de palavras ou expressões isoladas, com possível
suplementação por meios alternativos. A fala e a comunicação têm foco no aqui e agora dos
eventos diários. A linguagem é usada para comunicação social mais do que para
explicações. Os indivíduos entendem discursos e comunicação gestual simples. As relações
com familiares e pessoas conhecidas constituem fonte de prazer e ajuda.
Domínio prático: O indivíduo necessita de apoio para todas as atividades cotidianas,
inclusive refeições, vestir-se, banhar-se e eliminação. Precisa de supervisão em todos os
momentos. Não é capaz de tomar decisões responsáveis quanto a seu bem-estar e dos
demais. Na vida adulta, há necessidade de apoio e assistência contínuos nas tarefas
domésticas, recreativas e profissionais. A aquisição de habilidades em todos os domínios
envolve ensino prolongado e apoio contínuo. Comportamento mal adaptativo, inclusive
autolesão, está presente em uma minoria significativa.

21
Deficiência Intelectual grau profundo

Domínio conceitual: As habilidades conceituais costumam envolver mais o mundo físico do


que os processos simbólicos. A pessoa pode usar objetos de maneira direcionada a metas
para o autocuidado, o trabalho e a recreação. Algumas habilidades visuo espaciais, como
combinar e classificar, baseadas em características físicas, podem ser adquiridas. A
ocorrência concomitante de prejuízos motores e sensoriais, porém, pode impedir o uso
funcional dos objetos.
Domínio social: O indivíduo apresenta compreensão muito limitada da comunicação
simbólica na fala ou nos gestos. Pode entender algumas instruções ou gestos simples. Há
ampla expressão dos próprios desejos e emoções pela comunicação não verbal e não
simbólica. A pessoa aprecia os relacionamentos com membros bem conhecidos da família,
cuidadores e outras pessoas conhecidas, além de iniciar interações sociais e reagir a elas
por meio de pistas gestuais e emocionais. A ocorrência concomitante de prejuízos
sensoriais e físicos pode impedir muitas atividades sociais
Domínio prático: O indivíduo depende de outros para todos os aspectos do cuidado físico
diário, saúde e segurança, ainda que possa conseguir participar também de algumas dessas
atividades. Aqueles sem prejuízos físicos graves podem ajudar em algumas tarefas diárias
de casa, como levar os pratos para a mesa. Ações simples com objetos podem constituir a
base para a participação em algumas atividades profissionais com níveis elevados de apoio
continuado. Atividades recreativas podem envolver, por exemplo, apreciar ouvir música,
assistir a filmes, sair para passear ou participar de atividades aquáticas, tudo isso com apoio
de outras pessoas. A ocorrência concomitante de prejuízos físicos e sensoriais é barreira
frequente à participação (além da observação) em atividades domésticas, recreativas e
profissionais. Comportamento mal adaptativo está presente em uma minoria significativa.

Dica de filme
O Milagre na Cela 7
O filme foi lançado em 2019 e conta a história do
relacionamento entre uma jovem garota chamada
Ova e seu pai Memo, que tem distúrbio cognitivo.
Direção: Mehmet Ada Öztekin
Roteiro: Kubilay Tat
Ano lançamento: 2019

22
3. Aprendizagem e Desenvolvimento

Por que você acha que


o/a estudante com deficiência intelectual não aprende?

A noção de aprendizagem está, em sua origem, associada à ideia de apreensão de


conhecimentos e, neste sentido, só pode ser compreendida em função de determinada
concepção de conhecimento.
Três possibilidades de definição de Aprendizagem:

Aprendizagem é mudança de comportamento resultante do treino ou da experiência.

Aprendizagem é apreensão de configurações perceptuais através de insights.

Aprendizagem é organização de conhecimentos como estruturas, ou rede construídas a


partir das interações entre sujeito e meio de conhecimento ou práticas sociais.

O conhecimento segundo
Piaget, não está nem no
sujeito, nem no objeto
exclusivamente, mas é
construído pela interação
indissociável entre ambos.

Desenvolvimento
Existem pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificados por Vygotsky:

 Real (zona de desenvolvimento real) já adquirido ou formado, que determina o que a


criança já é capaz de fazer por si própria;
 Potencial (zona de desenvolvimento potencial), ou seja, a capacidade de aprender
com outra pessoa.

23
Estágios de Desenvolvimento segundo Piaget:

 Sensório-motor – de (0 a 2 anos): refere -se ao exercício dos aparelhos reflexos e


as reações secundárias, como: sucção/preensão, audição/busca visual
 Pré-operatório – de (2 a 7 anos): surge a linguagem, é marcado pelo
egocentrismo e surgimento do jogo simbólico.
 Operações Concretas - (7 a 11 anos): a criança começa a descentrar sua
percepção e é capaz de iniciar articulação de ponto de vista, consegue cooperar com
os outros e ter autonomia.
 Operações formais - (11 e 12 anos em diante): desenvolvimento do pensamento
formal, abstrato, sem necessidade de referências concretas

Inteligência
É originada do latim (inter e elegere) e significa: “capacidade de escolha”.
Recentemente, alguns estudiosos sugeriram que a Inteligência possui dois fatores que se
entrelaçam:

 a capacidade de, a partir de uma base de conhecimento, uma pessoa decidir qual
informação é relevante;
 o comportamento que se define a partir de fatores externos, cognitivos e contextuais
 Para Piaget, o desenvolvimento intelectual tem início a partir de reflexos inatos dos
bebês, muito rudimentares.
Binet e Simon, 1905, testes de inteligência – Psicometria -aferir o quociente da inteligência
(QI).
Gardner - Inteligências Múltiplas:

 Linguística
 Lógico-matemática
 Musical
 Corporal- cinestésica
 Espacial
 Interpessoal
 Intrapessoal
 Naturalista
 Espiritual
 Existencial

De acordo com SANTOS, 2012:

 A DI corresponde a um desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual;


 Caracterizada, essencialmente, por um comprometimento das faculdades que
determinam o nível global de inteligência;
 Funções cognitivas superiores: capacidade de aprender e compreender;
 SNC: capacidades de linguagem, aquisição da informação, percepção, memória,
raciocínio, pensamento
De acordo com SANTOS, 2012:

24
 DI corresponde a um desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual;
 Caracterizada, essencialmente, por um comprometimento das faculdades que
determinam o nível global de inteligência;
 Funções cognitivas superiores: capacidade de aprender e compreender;
 SNC: capacidades de linguagem, aquisição da informação, percepção, memória,
raciocínio, pensamento

Funções executivas
São responsáveis pela capacidade de regulação emocional e pelo desempenho das funções
cognitivas. Se estruturam no decorrer da vida, obedecendo a uma sequência que vai da
menor para a maior complexidade: da dependência inicial para a autonomia.
Não nascemos com essa capacidade, nem se estrutura automaticamente;
Funções executivas e aprendizagem:
“[...] um conjunto de funções responsáveis por iniciar e desenvolver uma atividade com
objetivo final determinado” (ROTTA, 2016)

•sustentação, foco, fixação, seleção de dados


Atenção relevantes dos irrelevantes, evitar distratores

•neurossensorial (estímulos intrínsecos e


Percepção extrínsecos), integrativa, analítica e sintética

Memória de •localização, recuperação, manipulação, julgamento


trabalho e utilização da informação relevante

•iniciação, persistência, esforço, inibição,


Controle regulação e auto-avaliação de tarefas

•improvisação, raciocínio indutivo e dedutivo,


Ideação precisão e conclusão de tarefas

•autocrítica, alteração de condutas, mudança de


Flexibilização estratégias, detecção de erros e obstáculos, busca
intencional de soluções

•auto-organização, sistematização,
Metacognição automonitorização, revisão e supervisão

•aplicação de diferentes resoluções de


Decisão problemas, gestão do tempo evitando atrasos
e custos desnecessários

Execução •finalização e concomitante verificação

25
Planejamento e •priorizar, ordenar, hierarquizar tarefas visando a
antecipação atingir fins, objetivos e resultados

Como funciona a sua memória?

Memória
De acordo com SOUSA & SALGADO (2015), a memória é considerada um sistema
complexo e múltiplo combinado por arranjos de codificações ou subsistemas que permitem
a armazenagem e a recuperação de informações no cérebro.
Refere-se à função do SNC que permite a retenção de informações e percepções para
posterior uso.
Memorização: consolidação de um conhecimento ou comportamento, que podem ser
recuperados quando necessários.
ESTÁGIOS, de acordo com IZQUIERDO, (2011)

Codificação ou Armazenamento Recuperação ou


percepção ou retenção evocação
• consiste em • implica na • corresponde à
receber as manutenção das utilização do que
informações por informações, isto foi armazenado,
meio dos órgão é, registos que ou seja, é o
sensoriais e criar são produzidos a processo de
padrões de partir da lembrar aquilo
assimilação das modificação das que foi registrado
mesmas redes neurais

A memória pode ser classificada como:


• ESTÍMULO: Visuais, táteis, gustativas, olfativas e auditivas.
• TEMPO DE ARMAZENAMENTO DA INFORMAÇÃO: Memória de trabalho e
Memória à curto e longo prazo
• TIPO DE APRENDIZAGEM: Implícita e explícita

26
• MEMÓRIA DE TRABALHO: Mantém e armazena as informações temporariamente.
Favorece uma interface entre percepção, memória e ação. Responsável pela
continuidade dos nossos atos cotidianos. Utilizada para solucionar situações
problema (tarefas complexas e de raciocínio).
• MEMÓRIA EXPLÍCITA OU DECLARATIVA: Armazenam fatos. Sua aquisição está
associada à plena intervenção da consciência. Através dela podemos relatar
situações cotidianas (conversas do dia anterior, acontecimentos históricos...).
• MEMÓRIA IMPLÍCITA OU NÃO DECLARATIVA: Armazenamento de habilidades
motoras e condicionadas que exigem a participação consciente para que sejam
emitidas (ex: andar de bicicleta).
• MEMÓRIA à CURTO PRAZO: Estende-se dos primeiros segundos ou minutos
seguintes ao aprendizado até 3 a 6 horas, o que representa o tempo de efetivação
para a memória à longo prazo. Tempo suficiente para que o indivíduo possa dar
continuidade a alguma tarefa (“cópia momentânea”).
• MEMÓRIA à LONGO PRAZO: Armazena grande quantidade de informações.
Permanece por muitas horas, dias ou até anos (memória remota).

De acordo com Salgado & Sousa (2015), a informação deve acontecer primeiramente na
memória de trabalho e posteriormente ser passada para a memória de curta duração, sendo
então, esquecida ou passada para o armazenamento na memória de longa duração. Para
que isso ocorra depende de alguns fatores, como: a importância dessa informação para a
pessoa, a repetição da informação e a sua codificação adequada na memória de longo
prazo.
A seguir, veremos o funcionamento da memória.
Atenção
Função atencional: tem um papel fundamental no desempenho das FE. Recebe influências
multifatoriais, e sua participação é condição básica para a realização dos objetivos
determinados, intervindo em todas as suas etapas.
É a capacidade de responder predominantemente os estímulos que lhe são significativos em
detrimento de outros.

Atenção focada / Atenção sustentada /


concentrada constante

faz alusão à nossa a habilidade para se centrar


habilidade para focar a em um estímulo ou atividade
atenção em um estímulo durante um período longo
de tempo (aula, palestra)

27
Atenção seletiva Atenção alternada Atenção dividida ou simultânea

a habilidade para se centrar


a habilidade para alterar a a habilidade para se centrar e
em um estímulo ou atividade
atenção focada entre dois executar duas tarefas ao mesmo
na presença de outros
estímulos, duas tarefas tempo (ex: ler, copiar do quadro e
estímulos que desviam a
diferentes (ex: atividade de compreender a explicação do
atenção (ex: leitura em local
dirigir) professor)
público)

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E APRENDIZAGEM!


COMO DESPERTAR ESSAS FUNÇÕES?

• Conhecer o aluno (interesses, habilidade, dificuldades, modelo de aprendizagem...);


• Associar a aprendizagem aos sentimentos ou situações que são agradáveis para o
aluno;
• Dar significado. O que faz sentido aumenta a capacidade de memorização e o foco
atencional;
• Reforço positivo;
• Usar palavras simples, mas não palavras infantis.
• Comando verbais claros e precisos;
• Usar exemplos concretos com frequência (diminuir a exigência da abstração);
• Confirmar se o aluno entendeu sua mensagem e discretamente peça para que ele
repita;
• Estimular a memorização de sequências simples (AVD’s, auto cuidado...);
• Jogos que estimulem a atenção simultânea e seletiva;
• Uso da tecnologia, oferecendo o acesso à informação e comunicação, bem como
poderá obter softwares específicos que estimulem a capacidade de criação e
potencializem a aprendizagem;
• Detalhar e explanar as etapas das atividades propostas, repetidamente e de forma
tranquila, para maior compreensão e aprendizagem dos alunos com deficiência
intelectual;

28
• Proporcionar situações problemas cotidianos que valorizem os aspectos
comunicativos e de cuidados pessoais são essenciais para fortalecer a autonomia;
• Estimular a linguagem e a comunicação por meio da identificação e da imitação de
sons de músicas, personagens, instrumentos, brinquedos...
• Incentivar a identificação de objetos preferidos e pessoas próximas por meio de
imagens;
• Estimular a concentração por meio de histórias infantis, fantoches, brinquedos
sonoros;
• Aplicar atividades com objetos de tamanhos, formas, cores diferentes para
desenvolver noções de tamanho e permanência;
• Desenvolver a motricidade ampla e fina.

Para Vygotsky, a condição


humana não é dada pela
natureza, mas construída ao
longo de um processo
histórico-cultural pautado nas
interações entre homens e
meio. Ou seja, o
desenvolvimento de qualquer
pessoa, tenha ela deficiência
ou não, depende das
oportunidades de
aprendizagem e das relações
que estabelece.

29
Referências
ANTUNES, Katiuscia C. Vargas. História de Vida de alunos com deficiência intelectual:
percurso escolar e a constituição do sujeito / Katiuscia C. Vargas Antunes. – 2012. 154 f.
BRUNER, J. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
__________. A cultura e a educação. Porto Alegre: Artmed, 2001
ECHEVARRIA, Aurea & MAJEROWICZ, Nídia. [Org: Márcia Renise Pletsh e Allan
Damasceno]. Educação Especial e Inclusão Escolar: reflexões sobre o fazer pedagógico.
Editora: EDVR, 2011. Disponível
em:file:///C:/Users/Windows/Desktop/Livro%20DI%20e%20APRENDIZAGEM.pdf
FONSECA, Vitor. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na
aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica. Rev. Psicopedagogia, 2014.
GLAT, Rosana & ESTEF, Suzanli. Experiências e Vivências de Escolarização de Alunos
com Deficiência Intelectual. Rev. bras. educ. espec. 27 • 2021 • Disponível
em: https://doi.org/10.1590/1980-54702021v27e0184
IZQUIERDO, I. Memória. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 133 p
PEREIRA, Amanda Morão ; ARAÚJO, Carolina Rabelo; CIASCA, Sylvia Maria;
RODRIGUES, Sônia das Dores. Avaliação da Memória em crianças e adolescentes com
capacidade intelectual limítrofe e deficiência intelectual leve. Rev. Psicopedagogia
2015; 32(99): 302-13
RIBEIRO, J.C.C. Deficiência Intelectual e teorias sobre a mente: será que tem alguém
que não aprende? Caderno RCC # 12. vol. 5. nº 1 março. 2008.
ROTTA, N. T., OHLWEILER, L. RIESGO, R. S. Transtornos da aprendizagem:
abordagem neurobiológica e Multidisciplinar [recurso eletrônico]. Organizadores – 2. ed.
– Porto Alegre: Artmed, 2016.
SANTOS, D. C.O. Potenciais dificuldades e facilidades na educação de alunos com
deficiência intelectual. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 38, n. 04, p. 935-948, out./dez. 2012.
SOUSA, Aline Batista de & SALGADO, Tania Denise Miskinis. Memória, aprenidzagem,
emoções e inteligência. Revista Liberato, Nova Hamburgo, v. 16, nº 26, p. 101 – 220,
jul/dez, 2015.
TÉDDE, Samantha. Crianças com deficiência intelectual: a aprendizagem e a inclusão /
Samantha Tédde. – Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2012. 99 f.
American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and statistical manual of mental
disorders – DSM-5. Washington, DC: APA.

30

Você também pode gostar