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DIRETRIZES

Departamento Científico Pediatria do


Desenvolvimento e Comportamento

Nº 1 / Setembro / 2018

O papel do pediatra diante da


criança com Dificuldade Escolar
Presidente: Liubiana Arantes de Araújo

Secretário: Lívio Chaves

Conselho Científico Adriana Auzier Loureiro, Ana Márcia Guimarães, Alves, Ana Maria Costa da Silva
Lopes, João Coloriano Rego Barros, Márcio Leyser, Ricardo Halpern

Colaboradores  enato Mikio Moriya, Cássio Frederico Veloso (psicólogo),


R
relatores: Daniela Eloi dos Reis (neuropsicóloga), Paulo França Santos (pedagogo),
Marilene Conceição Félix Silva (bibliotecária)

Índice
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................2
TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM – HISTÓRICO ...............................................................................................3
Fatores de risco ........................................................................................................................................................5
Pré-natais ..................................................................................................................................................................5
Perinatais ...................................................................................................................................................................8
Pós-natais ..................................................................................................................................................................8
Dificuldades escolares: problemas relacionados ao aprendizado..................................................................9
Fatores relacionados com a escola..................................................................................................................... 10
Fatores relacionados à família............................................................................................................................ 10
Fatores relacionados à criança............................................................................................................................ 10
Critérios Diagnósticos de Transtornos Mentais (DSM IV / DSM V)............................................................... 13
Prevalência dos transtornos específicos da aprendizagem.......................................................................... 15
Prevalência dos TA................................................................................................................................................. 15
Neurofisiologia do ato de aprender: informação, cognição e motivação................................................... 15
Dificuldade escolar: problemas de origem pedagógica, sem qualquer envolvimento orgânico.............. 17
Os aportes da avaliação das dificuldades de aprendizagem .......................................................................... 17
Avaliação Neuropsicológica................................................................................................................................. 19
Instrumentos de Triagem para a Avaliação do Neurodesenvolvimento .................................................... 19
Bateria Neuropsicológica Infantil ...................................................................................................................... 20
Testes de Inteligência e de Raciocínio Lógico ................................................................................................ 20
Testes de Percepção Visual e Coordenação Viso Motora .............................................................................. 22
Testes de Memória ................................................................................................................................................ 22
Testes de Atenção ................................................................................................................................................. 22
Funções Executivas .............................................................................................................................................. 23
Domínio de Habilidades Sociais, Aspectos Emocionais, do Comportamento e da Personalidade........... 24
Sondagem das habilidades acadêmicas............................................................................................................ 25
Manejo..................................................................................................................................................................... 26
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................................... 28
O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

A avaliação das dificuldades de aprendiza-


Introdução
gem deve ser realizada levando em consideração,
não apenas as alterações ou as faltas no desen-
As dificuldades escolares têm sido cada vez volvimento cognitivo, mas também os contextos
mais prevalentes. O enfoque dado neste docu- onde as pessoas estão inseridas e os processos
mento é a partir do desenvolvimento humano e por elas vivenciados. Assim pode-se evitar por
os pressupostos teóricos da psicologia sociocul- exemplo, incorrer em equívoco de medicalização
tural, da pedagogia e da pediatria, , (re)compilan- indevida na educação, mesmo em se tratando
do trabalhos de investigação, empírica e teóri- de pessoas com deficiências. Do mesmo modo,
ca, desenvolvidos, em estudos e projetos. Neste o cuidado com os demais alunos é importante
contexto a prática pedagógica é entendida como para se compreender que as mudanças ocorrem
aquela capaz de compreender o desenvolvimen- nas interações sociais, uma vez que a educação
to humano, enquanto um processo de transforma- escolar sozinha não é capaz de resolver os pro-
ção que surge nas e a partir das interações sociais. blemas, nem garantir resultados.

Desse modo, para que aconteça a aprendiza- Ao mudar atitudes ou posicionamentos, os


gem, as estratégias específicas precisam ser in- professores, médicos, psicólogos e demais pro-
tencionalmente estruturadas com este objetivo fissionais, podem evitar raciocínios de exclusão,
e assim, possam gerar transformação pessoal e flexibilizando as opiniões e teorias. Por sua vez,
coletiva. Nesse sentido, é necessário que a esco- conseguirão caminhar rumo à superação dos
la atual abandone a visão focada apenas no co- preconceitos, uma vez que ao considerar o pro-
nhecimento individual, optando pela construção cesso educativo, este deve favorecer o desenvol-
coletiva de conhecimento. Nessa concepção, a vimento e a aprendizagem de todas as pessoas,
Educação se ancora na pedagogia dialógica, que contemplando a diversidade.
possibilita a tomada de consciência sobre a im- A construção de uma escola para a diversida-
portância de interpretar e reinventar a realidade. de está assentada nos contextos de aprendiza-
gem nos quais as diferenças estão relacionadas
Para se discutir as dificuldades de aprendiza-
ao desenvolvimento enquanto processo socio-
gem é fundamental que a atuação do educador,
cultural. Nela são consideradas todas as caracte-
esteja pautada pela busca incessante de conhe-
rísticas individuais e sociais, a prática pedagógi-
cimentos atualizados sobre como o ser humano
ca é tanto avaliativa, como de intervenção. Por
aprende e se desenvolve e, além da exigência da
isso, não se limita a produzir laudos e relatórios
aprendizagem contínua dos educandos. Desse
visando apenas a classificação de dificuldades de
modo, unindo teoria e prática tanto na formação
aprendizagem, com consequente estigmatização
do professor como na busca de meios efetivos
dos educandos. Esta ampliação de percepção é
para resolução dos problemas enfrentados por
fundamental para todos que avaliam as crianças
seus alunos e pela escola.
e adolescentes.
No atual contexto da educação, não basta
Esta concepção exige que os centros de en-
falar apenas das dificuldades de aprendizagem,
sino, de saúde e pesquisa compreendam que os
sem atentar para a urgente necessidade da cons-
seres humanos podem ter ritmos diferentes de
trução de uma escola inclusiva de todos e com
aprendizagem, portanto requererem atuações
todos. Por isso, cabe ao educador se posicionar
coletivas e individuais que estimulem suas po-
frente a histórica construção da exclusão, que foi
tencialidades, atendam suas necessidades e ao
cunhada em longos anos de equívocos teóricos
mesmo tempo considerem os contextos socio-
e metodológicos, que fizeram da educação e da
culturais.
ciência o benefício de uns em detrimento de ou-
tros. O resultado foi o estabelecimento de pre- As dificuldades escolares diferem dos trans-
conceitos nas academias, nos centros de saúde e tornos de aprendizagem, pois esses são transtor-
nas nossas relações sociais e políticas. nos do neurodesenvolvimento, de origem bioló-

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gica, que representa a base das dificuldades, em 5) Expressão escrita,


nível cognitivo, que estão associadas às expres-
6) Cálculos matemáticos e
sões comportamentais do transtorno. A origem
biológica inclui uma interação de fatores genéti- 7) Raciocínio matemático.
cos, epigenéticos e ambientais, os quais afetam Esses tipos separados de TA ocorrem de ma-
a habilidade cerebral de perceber ou processar neira concomitante entre si e com déficits em
informação verbal ou não verbal de forma efi- habilidades sociais, transtornos emocionais e
ciente e precisa. transtornos da atenção. Desse modo, um estu-
A realidade das dificuldades escolares e dante com TAs pode ter um problema em mais
Transtornos de Aprendizagem (TA) no Brasil ca- de uma área – uma condição chamada de “co-
recem de dados mais robustos, uma vez que não -morbidade”.
há testes padronizados quanto à idade, nível de O campo dos TAs desenvolveu-se em respos-
escolaridade, grupo cultural ou grupo linguísti- ta a duas grandes necessidades. Primeiramente,
co que sirvam para as diferentes regiões do país, a emergência do campo estava ligada a uma ne-
fato que inviabiliza o diagnóstico de TA. cessidade de entender diferenças individuais em
aprendizagem e em desempenho entre crianças
e adultos que apresentam déficits específicos
na linguagem falada ou escrita, enquanto man-
Transtorno de Aprendizagem – têm um funcionamento geral em níveis adapta-
Histórico tivos. Padrões inesperados de potencialidade e
de fraquezas específicas na aprendizagem foram
observados e estudados por médicos e psicólo-
Desde a designação dos transtornos de
gos, conferindo, assim, a orientação biomédica
aprendizagem (TA) como um transtorno na legis-
e psicológica que sempre caracterizou o campo
lação federal norte-americana em 1968, os indi-
dos TAs. Em segundo lugar, o movimento dos
víduos com TAs representam aproximadamente
TAs desenvolveu-se como um campo aplicado
metade de todos os estudantes que recebem
de educação especial, movido por forças sociais
educação especial em âmbito nacional. Ainda as-
e políticas, e pela necessidade de proporcionar
sim, dentre os transtornos identificados tradicio-
serviços para jovens cujas características de
nalmente na infância e na adolescência, os TAs
aprendizagem não estavam sendo tratadas ade-
são os menos compreendidos e os mais questio-
quadamente pelo sistema educacional.
nados. Apesar da ideia defendida por certos in-
divíduos, de que os TAs constituem uma entida- Desde o século passado, quando começou a
de unitária, essa observação não tem o amparo identificar crianças com dificuldade inexplicá-
das pesquisas atuais. Pelo contrário, evidências vel de ler, percebeu-se que este era um grupo
científicas convergentes demonstram que os TAs bastante heterogêneo, em que, às vezes, podem
representam uma categoria geral composta por aparecer mais do que uma dificuldade acadê-
transtornos de domínios acadêmicos específi- mica, além das comorbidades. Porém, sempre
cos. De fato, o caráter heterogêneo do transtorno se deve ter como “ponto de partida” que os TAs
foi citado em normas federais norte-americanas excluem de sua definição causas como: defici-
de 1977, que organizavam os diferentes tipos de ência mental, distúrbio emocional, diferenças
TAs em sete áreas: culturais e falhas no desenvolvimento, focando
apenas a noção de discrepância entre a ativi-
1) Compreensão da escuta (linguagem receptiva),
dade acadêmica e sua aparente capacidade de
2) Expressão oral (linguagem expressiva), aprender.
3) Habilidades básicas de leitura (decodificação
O histórico do conceito de TA sofreu várias
e reconhecimento de palavras),
alterações. Ciasca (2005) em uma revisão pro-
4) Compreensão da leitura, pôs um histórico destas mudanças, que se ini-

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O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

ciou com James Hinshelwood, em 1895 além de mas na aprendizagem acadêmica. Lançou assim,
outros autores que contribuíram para o melhor uma proposta educativa, não médica, deixando
entendimento do termo TA. Até nossos dias, este o problema possível de ser dividido e discutido
desenvolvimento vem ocorrendo em várias áre- com, além dos especialistas, pais, professores,
as de abordagem, tais como a neurológica, psi- governo e a sociedade em geral.
quiátrica, neuropsicologia, genética, linguística,
entre outras. Nesta década de 1960, as duas linhas de
apoio público e político para as diferenças in-
A fundação oficial do campo de estudo das dividuais uniram-se em uma iniciativa comum
dificuldades de aprendizagem ocorreu em 1963, para definir os transtornos comportamentais
quando Samuel Kirk popularizou o termo Dificul- inesperados e o desempenho baixo dependente
dades de Aprendizagem (learning disability) em de fatores intrínsecos à criança. A primeira ini-
uma comunicação apresentada na “Conference ciativa importante envolveu o desenvolvimento
on Exploration into Problems of the Perceptually de uma definição de disfunção cerebral mínima
Handicapped Child” nos Estados Unidos. Este dis- (DCM) em 1962, pelo National Institute of Neu-
curso foi o grande impulsionador da criação da rological Disorders and Stroke (NINDS): a expres-
“Association for Children with Learning Disabili- são “síndrome da disfunção cerebral mínima”
ties” (ACLD), que mais tarde em 1989, mudou o referia-se a crianças de inteligência próxima
nome para “Learning Disabilities Association of à média, média ou acima da média com certos
America” (LDA). transtornos de aprendizagem ou comportamen-
tais, variando de leves a graves, que são associa-
Em 1963, o novo campo avançava para a
dos a desvios do funcionamento do SNC. Esses
designação legislativa formal de TA como um
desvios podiam se manifestar em combinações
transtorno específico, merecedor de proteção
variadas de comprometimento na percepção, na
dos direitos civis e de serviços especiais. Esse
conceituação, na linguagem, na memória e no
movimento baseava-se principalmente nos ar-
controle da atenção, dos impulsos ou das fun-
gumentos de Kirk e de outros, de que as crianças
ções motoras.
com TAs:
1) Tinham características de aprendizagem dife- Enfatizava que o DCM era uma categoria he-
rentes de crianças diagnosticadas com retar- terogênea, abrangendo transtornos comporta-
do mental ou com perturbações emocionais; mentais e de aprendizagem. Conforme observa-
do antes, a definição estipulou que a disfunção
2) Manifestavam características de aprendiza-
cerebral poderia ser identificada apenas com
gem que resultavam de fatores intrínsecos
base em sinais comportamentais. Todavia, a de-
(isto é, neurobiológicos) em vez de fatores
finição de DCM era controversa. Os educadores
ambientais;
levantaram objeções ao conceito, apesar do fato
3) Apresentavam dificuldades de aprendizagem de que a definição se baseava em meio século
que eram “inesperadas”, devido às capacida- de observações clínicas e de pesquisas em neu-
des das crianças em outras áreas e rologia clínica, além de ter amparo científico
4) Exigiam intervenções educacionais especiali- de métodos psicofisiológicos emergentes para
zadas. estudar o funcionamento cerebral. Para a comu-
nidade educacional, a DCM estava intimamente
Kirk observou que as dificuldades apresen- conectada com o modelo médico e determina-
tadas pelas crianças eram inexplicáveis e, além va que psicólogos e médicos teriam que traba-
de não se encaixarem na educação especial, lhar nas escolas para fazer o diagnóstico. Outros
tampouco estavam relacionadas com o nível consideravam o conceito nebuloso e demasiado
de inteligência, ambiente familiar ou instrução amplo.
oferecida, pois eram perfeitamente adequados;
usou o termo dificuldades de aprendizagem Quando a terceira edição do Manual diagnós-
(Learning Disabilities) para referir-se a proble- tico e estatístico de transtornos mentais (DSM-

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-III) foi publicada pela Associação Americana de


Fatores de risco
Psiquiatria (1980), o conceito de DCM foi aban-
donado e as características da aprendizagem e
comportamentais foram definidas separadamen- Quando se trata de uma criança com dificul-
te como “transtornos específicos do desenvolvi- dade escolar, o pediatra deve investigar a pos-
mento” e “transtorno de déficit de atenção”. Essa sível causa para tal déficit, visto que os motivos
divisão resolveu o problema da classificação da são diversos e, portanto, diversas são as inter-
co-morbidade dos transtornos de aprendizagem venções. O problema para o prejuízo escolar
e de atenção que aborrecia aqueles que se in- pode ter acontecido em período de tempo longo,
teressavam pelas DCMs. Embora muitas crianças que vai da gestação ao período pós-natal, por-
com TAs também satisfaçam os critérios para tanto dividimos didaticamente estes fatores de
transtornos de déficit de atenção/hiperatividade risco em pré-natais, perinatais, pós-natais, bio-
(TDAH), esses transtornos são distintos e ambos lógicos, comportamentais e sociais. Com o intui-
exigem intervenção. A herança, os correlatos to de agir preventivamente, bem como atuar te-
neurobiológicos e as necessidades relacionadas rapeuticamente, estão descritos cada um desses
com a intervenção são diferentes, de modo que momentos de risco ao longo da vida das crianças
a sua unificação como uma síndrome única não até sua trajetória acadêmica.
facilitou a pesquisa ou a prática.

DSM-IV (American Psychiatric Association, Pré-natais


1994) e também a Classificação Internacional de
Doenças, 10ª revisão (CID-10; World Health Or- No período pré-natal, estão as causas gené-
ganization, 1992) definiram, classificaram e co- ticas e ambientais como causadoras de futuros
dificaram os transtornos de aprendizagem e de- atrasos acadêmicos. As causas genéticas são
terminados transtornos do desenvolvimento de responsáveis por grande fatia de atraso do de-
habilidades acadêmicas em domínios de trans- senvolvimento cognitivo, que pode ser leve e
tornos específicos. Esta definição extremamen- tornar-se evidente apenas no período escolar.
te complexa foi reformulada, sendo substituída Elas são divididas em cromossômicas, com alte-
e revisada pelo DSM-IV, segundo o qual “Trans- rações numéricas nos cromossomos ou grandes
tornos de Aprendizagem são diagnosticados deleções, visíveis ao cariótipo com bandas, e em
quando os resultados do indivíduo em testes pa- gênicas, que necessitam de técnicas especiais
dronizados e individualmente administrados de para serem detectadas por se tratarem de mi-
leitura, matemática ou expressão escrita estão crodeleções ou transladações ou até alterações
substancialmente abaixo do esperado para sua epigenéticas na sequência do DNA.
idade, escolarização e nível de inteligência...”
1. Causas genéticas
Atualmente, no DSM-5, uma das mudanças
1.1. Cromossômicas:
importantes em relação à sua edição anterior, é
o agrupamento do TA e o transtorno de déficit de As causas cromossômicas são as mais fre-
atenção e hiperatividade (TDAH) no grupo dos quentes entre as genéticas, destacando-se:
transtornos do neurodesenvolvimento. Essa al- • Síndrome de Down: a causa genética
teração pode promover mais pesquisas sobre o mais comum de déficit cognitivo, 95%
impacto deletério da comorbidade de desaten- dos casos ocorrem por trissomia livre do
ção no resultado acadêmico e resposta das inter- cromossomo 21 e apresentam os estig-
venções terapêuticas em indivíduos com TA. Em mas faciais típicos da síndrome. Além do
outras palavras, tal mudança abre caminho para déficit de aprendizado de leve a modera-
um entendimento de que os déficits do TDAH po- do, os pacientes com Síndrome de Down
dem se estender para “além do comportamen- apresentam quadro de desatenção e têm
to”, assim como, as dificuldades pedagógicas po- déficit na memória de curto prazo, o que
dem ir “além dos livros”. intensifica a dificuldade de aprendizado.

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O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

• Síndrome do X Frágil: amplamente sub- cursa com dificuldades escolares em 50%


diagnosticada, é a causa herdada mais dos casos. Exclusivo das meninas, já que
comum de déficit intelectual, muitas ve- as pacientes têm cromatina sexual X úni-
zes tendo sua descoberta por ocasião ca, com cariótipo 45 X0, e têm inteligên-
da dificuldade escolar. Além do quadro cia normal. As pacientes com síndrome de
de autismo, comumente encontrado em Turner têm o característico pescoço alado,
crianças com mutação do gene FMR1 no além de baixa estatura, hipogonadismo e
braço longo do cromossomo X (Xq27), as problemas cardíacos, auditivos e renais,
crianças com X Frágil, geralmente meni- daí a responsabilidade do pediatra em se
nos, possuem alterações na memória de atentar aos sinais e não esperar os atrasos
curto prazo, na compreensão de proces- escolares para pesquisar a síndrome.
sos sequenciais e dificuldade de atenção,
1.2. Síndromes gênicas:
que, somadas às frequentes estereotipais
• Fenilcetonúria e Hipotiroidismo: são
motoras, determinam grande prejuízo
exemplos de erros inatos do metabolismo
acadêmico. Toda criança, independente-
causados por falha na expressão gênica,
mente do sexo, com dificuldade de apren-
determinando interrupção da cadeia me-
dizagem associada aos estigmas faciais
tabólica e acúmulo de substâncias tóxicas
da síndrome do X Frágil (orelhas grandes,
em diversos tecidos. Assim como a Muco-
face alongada e macrocrania), com histó-
polissacaridose, que ainda não é contem-
ria de déficit intelectual na família mater-
plada no teste do pezinho, estas doenças
na, deve ser investigada para tal síndro-
raras devem ser aventadas sempre que
me, visto ser uma herança ligada ao X.
houver regressão de habilidades já adqui-
• Síndrome de Prader-Willi: é uma síndrome ridas e deterioração cognitiva progressiva.
que também cursa com déficit intelectual • Neurofibromatose: é uma doença genéti-
de leve a moderado e pode ser diagnos- ca, autossômica dominante. Os pacientes
ticada mesmo antes da criança apresentar apresentam déficits de aprendizagem em
déficits escolares consequentes ao prejuí- metade dos casos, apesar de apenas 5%
zo intelectual da síndrome. Durante os pri- apresentarem déficit cognitivo. O pedia-
meiros meses, o lactente apresenta-se hi- tra precisa suspeitar de neurofibroma-
potônico e, apesar de nascer Pequeno para tose em toda criança que apresente seis
a Idade Gestacional (PIG), após o primeiro ou mais manchas café com leite ou uma
ano de vida apresenta compulsão alimen- maior com 1,5cm de diâmetro, além dos
tar gerada pela disfunção hipotalâmica e neurofibromas em qualquer parte do cor-
ganho de peso ascendente, com desvios po e das efélides axilares, dentre os de-
evidentes nas curvas de crescimento. mais critérios para o diagnóstico.
• Síndrome de Klinefelter: nesta síndrome • Síndrome de Cornélia de Lange: é uma
as crianças do sexo masculino possuem síndrome que pode cursar com déficit in-
um cromossoma X a mais, com o cariótipo telectual leve em 10% dos casos, sendo
47 XXY. Apesar de muitos terem inteli- importante na investigação de dificulda-
gência normal, 50% possuem problemas des escolares. Essa síndrome exemplifica
escolares e quase sempre precedidos por a necessidade de o pediatra observar se o
transtornos de linguagem, além de fre- seu paciente com queixas escolares pos-
quentemente exibirem comportamento sui algum estigma facial sindrômico, prin-
de intolerância às frustrações, impulsivi- cipalmente quando estes estigmas estão
dade, agressividade e comportamentos associados a outras más formações.
antissociais. • Síndrome de Sturge-Weber: as crianças
• Síndrome de Turner: é outra síndrome re- com esta alteração gênica apresentam
sultante de uma alteração genética que uma tríade que o pediatra deve estar fa-

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miliarizado para que a reconheça: déficit causas ambientais de extrema importância,


cognitivo - que pode se apresentar como muitas com início na gravidez.
uma dificuldade escolar, mancha vinho
do porto em hemiface em região maxilar 2.1. Desnutrição materna
e glaucoma. A carência de algumas substâncias durante
a gestação podem causar disfunção cere-
2. Causas ambientais: bral ou até mesmo defeitos estruturais ce-
Ainda dentro dos fatores pré-natais para risco rebrais, como alguns relacionados na tabela
de dificuldades de aprendizagem, há algumas abaixo:

Circuito ou processo cerebral


Nutriente Necessidade cerebral para o nutriente
afetado pela deficiência
Proteína e Energia Proliferação e Diferenciação celular Global
Sinaptogênese, Síntese de Fator de
Córtex, Hipocampo, Substância
Crescimento, Mielina, Síntese de
Ferro Branca, Estriado Frontal e
Monoaminas, Metabolismo Energético
Hipocampo Frontal
Neuronal e Glial
Síntese de DNA, Liberação de SN Autônomo, Hipocampo e
Zinco
Neurotransmissores Cerebelo
Síntese de Neurotransmissores,
Cobre Metabolismo Energético Neuronal e Glial, Cerebelo
Atividade Anti-Oxidante
LC-PUFAs Sinaptogênese e Mielina Córtex e Retina
Síntese de Neurotransmissores e Mielina, Global, Hipocampo e Substância
Colina
Metilação do DNA Branca

A deficiência de iodo na gestação pode 2.3.3. Idade parental aumentada, tanto ma-
acarretar o cretinismo, com déficit cognitivo terna, com maior risco de síndrome
e transtorno de aprendizagem. de Down, quanto paterna, como te-
2.2. Abuso de substâncias, especialmente o mos visto no Transtorno do Espectro
álcool, que pode caracterizar a Síndrome Al- Autista e em algumas síndromes cro-
coólica Fetal (SAF), que se manifesta da forma mossômicas.
clássica com retardo mental, estigmas faciais 2.3.4. Estado mental materno. Este item é
e dismorfismos cerebrais. Pode também cons- um dos mais importantes na anam-
tituir o Espectro Alcoólico Fetal, que engloba nese de uma criança com dificulda-
um amplo fenótipo comportamental, desde de escolar, pois já é incontestável os
hiperatividade até dificuldades escolares. efeitos deletérios do estresse tóxico
2.3. Exposição a poluentes, como produtos quí- infantil para o desenvolvimento da
micos da estética, poluentes agrícolas e criança, levando a perda de sinap-
poluentes ambientais geográficos (minas e ses e estruturas cerebrais. Inúmeras
linhas de trem). pesquisas mostram o quanto o dis-
2.3.1. Exposição a agentes Teratogênicos, túrbio psicológico materno pré- e
como drogas anticonvulsivantes, tali- pós-natal está associado ao menor
domida e outras substâncias. funcionamento cognitivo no pré-es-
2.3.2. Infecções congênitas, em especial as colar e também evidenciam o papel
STORCHHZ: sífilis, toxoplasmose, ru- protetor do engajamento parental
béola, citomegalovírus, herpes, HIV e positivo.
Zika. 2.3.5. Fertilização in vitro

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O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

Perinatais O Ministério da Saúde, em 2010 elaborou a


“Linha de Cuidados para a Atenção Integral à
Os fatores de risco do período perinatal estão
Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias
intimamente envolvidos com o estado de saúde
em Situação de Violência” e o Departamento de
materno, doenças prévias ou desencadeadas na
Pediatria do Desenvolvimento e Comportamen-
gravidez, como:
to da SBP também discorreu sobre esse tema no
• Diabetes documento “O papel do pediatra na prevenção
• Alterações tireoidianas do estresse tóxico na infância”, destacando o
quanto todos os fatores abordados acima au-
• Doença materna renal, cardíaca e/ou reumato-
mentam a prevalência de baixo desempenho e
lógica
evasão escolar.
• Disfunção placentária
Muitas famílias desconhecem estar prati-
• Asfixia neonatal
cando violência com seus filhos, segundo o Es-
Da concepção ao parto, o feto passa por um tatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei
longo período de vulnerabilidade, época em que no 8.069/90 “nenhuma criança ou adolescente
qualquer descuido pode acarretar agravos com será vítima de qualquer forma de negligência,
repercussões graves e permanentes sobre o seu discriminação, exploração, violência, cruelda-
desenvolvimento. A asfixia neonatal correspon- de e opressão, punindo na forma da lei qualquer
de a quase metade das causas de atraso no de- atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
senvolvimento infantil, cursando com dificulda- fundamentais.” Contudo, há muitas crianças e
des escolares no período escolar: adolescentes que sofrem alguma forma de vio-
lência que acarreta atrasos no seu desenvolvi-
• Parto com distócias
mento e se expressam por dificuldades escolares.
• Intoxicações anestésicas Os pediatras precisam estar atentos aos sinais
• Prematuridade e suas complicações que sugerem que a criança ou o adolescente está
enfrentando uma situação de violência. Há um
• Uso tóxico de oxigênio
documento recente da SBP acerca deste fato.
• Baixo peso ao nascer
Cabe aos profissionais que cuidam de crian-
• Anemias fetais
ças intervir de forma precisa na prevenção e/ou
• Hipoglicemia interrupção do fator de risco. Entende-se como
• Icterícia fatores de risco ao desenvolvimento infantil to-
das as modalidades de violência doméstica, a
• Infecções neonatais
saber: a violência física, sexual, a negligência e a
• Meningoencefalites violência psicológica, sendo que a última inclui a
exposição à violência conjugal.
Pós-natais • Depressão parental,
• Conflitos familiares,
Este tópico aborda o ambiente em que a
criança vive como fator de risco para o seu de- • Perda do vínculo pai-filho,
senvolvimento, apresentado como “variáveis • Abuso,
ambientais”, “eventos estressantes da vida”, “ca-
• Negligência infantil,
racterísticas pessoais”, condições ou situações
associadas a “alta probabilidade de ocorrência, • Violência psicológica (ameaças, humilhações,
negativa ou indesejável”, evidenciando como privação emocional, rejeição, depreciação,
estas experiências podem comprometer, dentre discriminação, desrespeito, cobrança exagera-
vários aspectos individuais, também o desempe- da, punições desproporcionais),
nho cognitivo e suas futuras competências aca- • Famílias baseadas em distribuição desigual de
dêmicas e profissionais. autoridade e poder,

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• Famílias nas quais não há hierarquia entre os não foram totalmente esclarecidos, mas a com-
membros, preensão ampla dos mecanismos fisiopatológi-
• Famílias com nível de tensão permanente, cos associados aos fatores ambientais descritos
acima, contribuem para a detecção precoce e in-
• Pais com dificuldades de diálogo e descontro-
tervenção em tempo ótimo para as crianças com
le da agressividade,
transtornos de aprendizagem, o que resultará
• Famílias nas quais há ausência ou pouca mani- em melhor prognóstico de tratamento e melhor
festação positiva de afeto entre pai/mãe/filho, adaptação curricular, inserção social e sucesso
• Famílias que se encontram em situação de cri- pessoal dos pacientes com este transtorno.
se ou perdas (separação conturbada do casal,
desemprego, morte, etc),
• Alienação parental,
Dificuldades escolares: problemas
• Violência física, e
relacionados ao aprendizado
• Violência sexual.

As pesquisas mostram, entre gêmeos homo- A aprendizagem depende de outras vari-


zigóticos, mesmo se criados em ambientes dife- áveis, que devem ser analisadas pelo pediatra
rentes, se um apresentar dislexia, o outro terá diante de uma criança com queixa de dificulda-
70% de chance de evoluir da mesma maneira. des escolares, para melhor abordagem e encami-
Entre a irmandade, a herança da dislexia encon- nhamento para intervenção adequada.
tra a taxa de 40% a 60%, ou seja, se um dos pais
sofrer de transtornos específicos de aprendiza- Tendo em vista a complexidade de apren-
gem, o filho tem oito vezes mais chance de apre- dizagem em suas múltiplas habilidades e fun-
sentar o mesmo problema, mostrando transmis- ções cognitivas, e as definições referentes aos
são complexa, poligênica e heterogênica. problemas de leitura, cálculo e escrita, faz-se
necessário um diagnóstico diferencial mais ela-
Foram encontrados seis genes envolvidos na borado e cuidadoso, com o objetivo de desmis-
dislexia, sendo DYX1C1 no locus DYX1 do cromos- tificar alguns rótulos, que em geral têm caráter
somo 15q21, DCDC2 e KIAA0319 no locus DYX2 pejorativo e negativo, e consequentemente
do cromossomo 6p21 e ROBO1 no locus DYX5 modulam a autoimagem das crianças frente aos
no cromossomo 3p12-q12, C2Orf3 e MRPL19 no familiares e colegas, gerando situações muitas
locus DYX3 no cromossomo 2p16-p15. vezes vexatórias e com forte comprometimento
Na embriogênese do SNC, sobretudo na fase emocional.
de migração neuronal, do terceiro ao quinto mês Uma criança com dificuldades de qualquer
de gestação, três áreas cerebrais, situadas no he- ordem para aprender corre o risco de ser diag-
misfério cerebral esquerdo, são fundamentais nosticada de forma equivocada em casa e na
para o desenvolvimento da leitura: escola. Neste contexto, o pediatra tem papel
• Área parietotemporal inferior importante junto à criança, família e mesmo na
• Área occipitotemporal escola. Descartar qualquer situação clínica que
possa interferir no desempenho escolar do alu-
• Giro fusiforme
no, avaliar a criança em todos os seus ambientes
Estudos de neuroimagem como MRI, fMRI, e situações emocionais, auxiliar as famílias em
PET e SPECT, mostraram a subativação destas relação à criação de algumas estratégias para re-
áreas do hemisfério cerebral esquerdo, enquan- forçar e criar uma agenda positiva, motivando-a
to há ativação do hemisfério direito, quando a progredir mesmo nas áreas em que apresenta
comparado a cérebros de leitores não disléxi- dificuldades e orientar o encaminhamento inter-
cos. A compreensão clara dos processos anáto- disciplinar e especializado, de acordo com cada
mofuncionais e físiofuncionais da dislexia ainda situação avaliada.

9
O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

Um cérebro estruturalmente normal, com coolismo e uso de drogas, pais desempregados,


condições neuroquímicas e funcionais normais comportamento antissocial, negligência, violên-
e com padrão genético adequado não significa cia doméstica, separação dos pais, litígios, exces-
a total garantia de um bom aprendizado. Daí a so de tela e mídias e consequente ausência de
importância de se diferenciar o diagnóstico dos rotina adequada de estudo, alimentação inade-
transtornos específicos da aprendizagem, que quada, ausência de lazer, cobrança excessiva, uma
são resultados de alterações do sistema nervoso pobre higiene do sono e horário tardio de iniciar
central (SNC), de causa primária, das dificulda- o sono são geradores de desatenção, fadiga, pre-
des para a aprendizagem, que compreende um juízo de memorização e de um estresse tóxico de
grupo heterogêneo de problemas capazes de al- origem no ambiente familiar e contribuem assim
terar as possibilidades da criança em aprender, fortemente para a possibilidade de um fracasso
independente das suas condições neurológicas escolar e consequentemente psíquico.
para fazê-lo. De forma didática serão divididos o
diagnóstico diferencial em fatores relacionados
com a escola, com a família e com a criança.
Fatores relacionados à criança

Fatores relacionados com a escola Em relação à criança, deve-se avaliar os com-


prometimentos físicos em geral, os problemas
psicológicos e os transtornos psiquiátricos, a de-
Um ambiente limpo, seguro, arejado, com ficiência intelectual e as patologias neurológicas
boa iluminação e com limite razoável de crian- no geral.
ças por sala tem papel fundamental no desem-
penho escolar e o contrário disto pode, com cer- Entre os problemas físicos globais, é funda-
teza, trazer prejuízos de leitura, escrita e cálculo. mental investigar as alterações sensoriais, sejam
Da mesma forma material didático disponível e elas auditiva ou visual. A criança que não escu-
adequado para a faixa etária, método e planeja- ta bem frequentemente parece estar desatenta,
mento pedagógico de acordo com a realidade de inquieta e com dificuldade de compreensão. A
cada criança, sem cobrança excessiva e geradora avaliação oftalmológica regular e de rotina deve
de estresse, a interação escola-família, professo- sempre fazer parte do exame escolar e princi-
res qualificados, motivados, dedicados e com re- palmente nos casos de suspeita de dificuldade
muneração adequada são grandes responsáveis acadêmica. Estrabismo, miopia, hipermetropia e
pelo desempenho e aprendizado de seus alunos. astigmatismo podem ser causas para um diagnós-
tico diferencial do transtorno da aprendizagem.

Doenças crônicas podem alterar o rendimen-


Fatores relacionados à família to acadêmico da criança e muitas vezes simular
situações semelhantes a um transtorno da apren-
dizagem, seja de forma direta, por estar debilita-
Fatores ambientais têm grande interferência da pela doença ou pelo tratamento e seus possí-
no binômio ensino-aprendizagem, porém não é
veis efeitos adversos. Hipotireoidismo, infecções
apenas na escola que o ambiente deve ser favo-
de vias aéreas superiores de repetição, desnutri-
rável ao aprendizado. A escolaridade dos pais, o
ção, anemias, doenças reumáticas, asma e outras
hábito de leitura, o estímulo, a rotina, a motivação
alterações pulmonares, nefropatias, cardiopatias,
e as condições socioeconômicas são relevantes
hepatopatias e doenças gastrointestinais crôni-
para o bom sucesso no aprendizado. Porém, em
cas são exemplos a serem investigados.
algumas situações familiares as dificuldades de
aprendizagem devem sempre ser pensadas e ava- Timidez excessiva, insegurança, baixa auto-
liadas como um possível diagnóstico diferencial estima, necessidade de afirmação e a falta de
dos transtornos da aprendizagem, dentre elas: al- motivação são exemplos de questões psicoló-

10
Departamento Científico Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento • Sociedade Brasileira de Pediatria

gicas a serem avaliadas no insucesso escolar, As epilepsias também devem ser investiga-
quer seja como diagnóstico diferencial direto ou das nos casos de dificuldade acadêmica, crises
como consequência do mesmo. Abuso e violên- de ausência, algumas crises focais ou sensiti-
cia são questões que devem ser levantadas, prin- vo-sensoriais podem passar despercebidas e
cipalmente quando há declínio no aprendizado, seu diagnóstico e tratamento corretos podem
previamente adequado, associado a mudanças reverter o prejuízo apresentado. Em casos de
de comportamento da criança. epilepsias graves, a deterioração mental pode
acontecer com o tempo, ou mesmo apresentar
Por outro lado, questões de ordem psiqui-
dificuldades de atenção e processamento de
átrica podem trazer dificuldades diretamente
informação devido a necessidade de vários fár-
ligadas ao insucesso da aprendizagem e serem
macos ou altas doses de medicações.
importante diagnóstico diferencial e em alguns
casos como comorbidades, como exemplo o Deve fazer parte da anamnese a investigação
TDAH (cuja desatenção, desorganização, difi- detalhada dos aspectos a seguir:
culdade de planejamento, falta de controle dos
impulsos e de execução acompanha o indivíduo Variáveis orgânicas:
em todos os ambientes, enquanto que na crian- a) Anemia e/ou deficiências nutricionais secun-
ça com transtorno específico da aprendizagem, dárias a erro alimentar
a desatenção é referente à frustração, falta de b) Déficit sensorial (auditivo ou visual)
interesse ou motivação e capacidade limitada).
c) Epilepsia (investigar também tipo ausência)
No transtorno do espectro autista, a dificuldade
d) Desnutrição ou obesidade
está muitas vezes associada a comportamentos
e ilhas de interesses muito restritos, à dificulda- e) Hipotieoridismo
de de reciprocidade social, à adaptação escolar, f) Infecções de repetição
à dificuldade de interação social e em até dois g) Doenças crônicas
terços dos casos a uma deficiência intelectual. h) Apneia do sono
Na deficiência intelectual, a dificuldade na
Variáveis relacionadas à escola ou ao método
aprendizagem é geral, pegando tanto os domí-
de ensino:
nios acadêmicos, quanto os sociais e de auto-
cuidado, com atraso global no neurodesenvol- a) Adequação dos métodos de ensino
vimento. Nos transtornos do humor, o interesse b) Competência do professor
prejudicado nas relações sociais, motivacionais c) Interação entre aluno e professor
e de autocontrole determinam alterações aca-
d) Qualidade das instalações escolares
dêmicas, já nos transtornos da ansiedade, pelas
e) Socialização da criança
fobias, pensamentos intrusivos, falsas crenças
e sofrimento antecipatório, a angústia gerada e f) Presença de bullying
as preocupações são fontes importantes de in-
sucesso escolar. Nos transtornos psicóticos exis- Variáveis afetivo-emocionais
te um declínio rápido nos domínios funcionais a) Depressão
e cognitivos destes pacientes, ocasionando os b) Ansiedade generalizada e/ou social
prejuízos escolares. c) Mutismo seletivo
As situações neurológicas mais frequentes, d) Transtorno do espectro autista
mas não causas primárias do transtorno de apren- e) TOD (Transtorno Opositor Desafiante)
dizagem, são a paralisia cerebral e as epilepsias. f) Transtornos de conduta
As crianças com paralisia cerebral, além do com-
prometimento motor, muitas vezes grave, têm em O pediatra deve estar atento também aos
até dois terços dos casos um déficit intelectual sinais precoces de doenças psiquiátricas com
associado, o que implica em prejuízo escolar. início na infância, pois as dificuldades escola-

11
O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

res podem ser os primeiros sintomas de várias i) Investigação do método de ensino, proposta
condições relacionadas ao estado mental, como pedagógica e infraestrutura escolar
o humor, a atenção, presença de sofrimento psí- j) Avaliação do material escolar pela criança
quico, de transtornos do comportamento, trans- (produções, cadernos, provas, objetos esco-
tornos do sono, dificuldades na socialização, que lares e mochila)
causarão falência da aprendizagem.
l) Avaliação de outras deficiências (visual e au-
ditiva) e inserção em diferentes línguas
Variáveis socioeconômicas ou culturais:
m) Avaliação do discurso do aluno em relação ao
a) Situação de pobreza ensino-aprendizado.
b) Ausência de estímulo à leitura e à aprendiza-
Das variáveis neurodesenvolvimentais, os
gem
transtornos específicos da aprendizagem da lei-
c) Negligência parental tura e escrita têm origem neurobiológica, multi-
d) Sono em horário ou tempo inadequado fatorial, envolvendo fatores genéticos e ambien-
e) Alto nível de cobrança tais.
f) Excesso de tempo de tela
g) Conteúdo inadequado de tela Figura: Fluxograma para diagnóstico e tratamento do
Transtorno de Aprendizagem

Variáveis do neurodesenvolvimento:
a) Déficit intelectual Crianças com
b) Transtornos de linguagem dificuldades
escolares
c) TDAH (transtorno de déficit de atenção e hi-
peratividade)
d) Transtorno específico da aprendizagem da Investigação
leitura, da escrita e /ou da matemática. Organização da
completa dos
rotina da criança
fatores de risco
Variáveis relacionadas à história educacional
prévia:
Estimulação
a) Histórico e idade da inserção escolar Intervenção em
pedagógica
b) Frequência, motivação e consequência de grupos menores
na escola
mudanças escolares
c) Adequação de rotina: horário e local apro-
priadamente destinados aos estudos A criança A criança alcança
apresenta
d) Colaboração educacional e modalidade da a expectativa
difuculdades
relação dos pais e/ou responsáveis (ativa, pedagógica
persistentes
passiva, afetiva, colaborativa, dependente)
e) Adequação das atividades pedagógicas em
relação à idade Provável
Dificuldade
TRANSTORNO DE
f) Relacionamento com seus pares escolar resolvida
APRENDIZAGEM
g) Relacionamento com educadores de referên-
cia (professor regente, professores especiais
e auxiliar educacional – professor de apoio) Indicação de
Monitoramento
h) Características da turma em que se está inse- intervenção
e estímulo
rido (identificar desafios comuns e potencia- especializada
lidades)

12
Departamento Científico Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento • Sociedade Brasileira de Pediatria

A realização do diagnóstico segundo os cri-


Critérios Diagnósticos de
térios do DSM-5 segue as características diag-
Transtornos Mentais (DSM IV / DSM V)
nósticas de um transtorno de ordem biológica
que é a base das anormalidades no nível cog-
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatísti- nitivo as quais são associadas com as manifes-
co de Transtornos Mentais - DSM-5, o Transtor- tações comportamentais. A origem biológica
no específico da aprendizagem é diagnosticado inclui uma interação de fatores genéticos, epi-
diante de déficits específicos na capacidade genéticos e ambientais que influenciam a capa-
individual para perceber ou processar informa- cidade do cérebro para perceber ou processar
ções com eficiência e precisão. Esse transtorno informações verbais ou não verbais com exati-
do neurodesenvolvimento manifesta-se, inicial- dão e eficiência.
mente, durante os anos de escolaridade formal,
O DSM-5 define critérios de características
caracterizando-se por dificuldades persistentes
diagnósticas:
e prejudiciais nas habilidades básicas, acadêmi-
cas de leitura, escrita e/ou matemática. O de- Critério A: características essenciais são as
sempenho individual nas habilidades acadêmi- dificuldades persistentes para aprender habi-
cas afetadas está bastante abaixo da média para lidades acadêmicas fundamentais, com início
a idade, ou níveis de desempenho aceitáveis são durante os anos de escolarização formal. Essas
atingidos somente com esforço extraordinário. perturbações não constituem, simplesmente,
uma consequência de falta de oportunidade de
O transtorno específico da aprendizagem
aprendizagem ou educação escolar inadequa-
pode ocorrer em pessoas identificadas como
da. Pode-se observar dificuldade específica de
apresentando altas habilidades intelectuais e
aprender e correlacionar letras a sons do pró-
manifestar-se apenas quando as demandas de
prio idioma – a ler palavras impressas (frequen-
aprendizagem ou testes de avaliação impõem
temente chamado de dislexia) e dificuldades
dificuldades que não podem ser vencidas pela
para cálculos matemáticos e raciocínio mate-
inteligência inata ou por estratégias compensa-
mático1.
tórias. No geral, pode acarretar prejuízos dura-
douros em atividades que dependam das habi- Em suma, dificuldades na aprendizagem e
lidades, inclusive no desempenho profissional. no uso de habilidades acadêmicas, conforme
indicado pela presença de ao menos um dos
A realização do diagnóstico exige a pesquisa
sintomas a seguir que tenha persistido por pelo
de características associadas, tais como: atrasos
menos 6 meses, apesar da provisão de interven-
na atenção, na linguagem ou nas habilidades
ções dirigidas a essas dificuldades:
motoras, capazes de persistir e de ser comórbi-
dos com transtorno específico da aprendizagem. 1. Leitura de palavras de forma imprecisa ou
É preciso diferenciar situações de baixo desem- lenta e com esforço.
penho em testes psicológicos de processamento
2. Dificuldade para compreender o sentido do
cognitivo de indivíduos com outros transtornos
que é lido.
de desenvolvimento, tais como: transtorno do
espectro autista, transtorno de comunicação e 3. Dificuldade em escrever ortograficamente.
transtorno de desenvolvimento da coordenação. 4. Dificuldade com a expressão escrita.

Não existem marcadores biológicos conheci- 5. Dificuldade para dominar o senso numérico,
dos de transtorno específico da aprendizagem. fatos numéricos ou cálculo.
Os testes cognitivos, de neuroimagem ou testes
6. Dificuldades no raciocínio.
genéticos não são úteis para o diagnóstico, no
momento atual. As pesquisas de biomarcadores Critério B: uma segunda característica chave
cerebrais estão em andamento e podem ser uma é a de que o desempenho do indivíduo nas ha-
importante ferramenta diagnóstica no futuro. bilidades acadêmicas afetadas está bem abaixo

13
O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

da média para a idade. Um forte indicador clí- como a que ocorre na deficiência intelectual ou
nico de dificuldades para aprender habilidades no atraso global do desenvolvimento.
acadêmicas é o baixo desempenho acadêmico
A dificuldade de aprendizagem não pode ser
para a idade ou desempenho mediano mantido
atribuída a fatores externos gerais, como des-
apenas por níveis extraordinariamente elevados
vantagem econômica ou ambiental, absenteís-
de esforço ou apoio. Esses critérios requerem a
mo crônico ou falta de educação, conforme ge-
observação clínica associada a evidências psico-
ralmente oferecido no contexto da comunidade
métricas por testes de desempenho acadêmico,
do indivíduo.
relatórios escolares, escalas classificatórias ou
avaliações educacionais ou psicológicas pré- A dificuldade para aprender não pode ser
vias. As dificuldades de aprendizagem são per- atribuída a um transtorno neurológico, motor,
sistentes e não transitórias. deficiência visual ou auditiva, que são distinguí-
Em suma, as habilidades acadêmicas compro- veis pela presença de sinais neurológicos. E, a
metidas estão substancial e quantitativamente dificuldade de aprendizagem pode se limitar a
abaixo do esperado para a idade cronológica do uma habilidade ou domínio acadêmico.
indivíduo, causando interferência significativa O diagnóstico de transtorno específico de
no desempenho acadêmico ou profissional ou aprendizagem é clínico e baseia-se na história
nas atividades cotidianas, confirmada por meio médica, de desenvolvimento, educacional e fa-
de medidas de desempenho padronizadas admi- miliar do indivíduo, na história de dificuldade
nistradas individualmente e por avaliação clíni- de aprendizagem, incluindo sua manifestação
ca abrangente. atual e prévia; no impacto da dificuldade no fun-
cionamento acadêmico, profissional ou social e
Critério C: uma terceira característica central
em relatórios escolares prévios ou atuais. En-
é a que as dificuldades de aprendizagem este-
fim, é necessário especificar os domínios e sub-
jam prontamente aparentes nos primeiros anos
-habilidades acadêmicas prejudicadas. Quan-
escolares, na maior parte dos indivíduos. Mas,
do mais de um domínio estiver prejudicado,
podem não se manifestar completamente até
cada um deve ser codificado individualmente.
que as exigências pelas habilidades acadêmicas
Tal como:
afetadas excedam as capacidades limitadas do
indivíduo. F81.0. com prejuízo na leitura (dislexia): Avaliar a
precisão na leitura das palavras, velocida-
Critério D: as dificuldades de aprendizagem de ou fluência da leitura e compreensão.
devem ser consideradas “específicas” por qua-
F81.1. com prejuízo na expressão escrita: Ava-
tro razões. Primeiro, elas não são atribuíveis a
liar a precisão na ortografia, na gramática
deficiências intelectuais; o atraso global do de-
e a pontuação e clareza da expressão es-
senvolvimento, a deficiências auditivas ou vi-
crita.
suais; ou a problemas neurológicos ou motores.
O transtorno específico de aprendizagem afe- F81.2. com prejuízo na matemática (discalculia):
ta a aprendizagem em indivíduos que de outro Avaliar senso numérico, memorização de
modo, demonstram níveis normais de funciona- fatos aritméticos, precisão ou fluência de
mento intelectual, geralmente estimado por es- cálculo e raciocínio matemático1.
core de QI superior a cerca de 70 (+/- 5 pontos
Em relação a qualquer uma das especifica-
de margem de erro de medida). Sendo assim, a
ções é necessário definir a gravidade atual:
expressão “insucesso acadêmico inesperado”
é frequentemente citada como a característica Leve: gravidade suficientemente leve que
definidora do transtorno específico de aprendi- permite ao indivíduo ser capaz de compensar
zagem, no sentido de que as incapacidades de ou funcionar bem quando lhe são propiciados
aprendizagem específicas não são parte de uma adaptações ou serviços de apoio adequados, es-
dificuldade de aprendizagem mais genérica, pecialmente durante os anos escolares,

14
Departamento Científico Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento • Sociedade Brasileira de Pediatria

Moderada: dificuldades acentuadas em


Prevalência dos TA
aprender habilidades em um ou mais domínios
acadêmicos, ou
Grave: dificuldades graves em aprender ha- O DSM-5 aponta que a prevalência nas três
bilidades afetando vários domínios acadêmi- esferas da aprendizagem: leitura, escrita e ma-
cos. temática, considerando diferentes linguagens e
culturas é de 5 a 15%. Fortes em 2014 inves-
tigando a prevalência de TA, suas comorbida-
des e correlatos, baseados no DSM-5, em uma
Prevalência dos transtornos
amostra de 1618 crianças e adolescentes do
específicos da aprendizagem
2º ao 6º ano escolar, das quatro regiões geo-
gráficas do Brasil encontrou os seguintes resul-
O pediatra encontra muitas vezes dificul- tados:
dades para avaliar o mau desempenho escolar
7,6% para comprometimento global,
quanto à natureza dos problemas apresentados
pelas crianças. É comum estas crianças serem 5,4% para comprometimento na escrita,
diagnosticadas como tendo Transtorno de Défi- 6,0% para comprometimento na área de aritmé-
cit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), quando tica,
na verdade, muitas dessas manifestações são
7,5% para comprometimento da leitura.
indicadores de Dificuldades escolares ou Trans-
torno Específico da Aprendizagem. Estudo do Laboratório de Neuropsicologia
A criança com TDAH pode ter prejuízos na do Desenvolvimento da Universidade Federal
aprendizagem porque este transtorno altera de Minas Gerais (2014), mostra que a prevalên-
fundamentalmente a concentração, memória e cia da Dislexia na população é de 6% a 7% e
velocidade de processamento mental, relacio- mais frequente em meninos do que em meninas.
nada indiretamente ao controle das funções A Discalculia, que é um transtorno específico de
executivas de atenção e auto regulação. Já aprendizagem com prejuízo no domínio da ma-
nos TA a dificuldade está intimamente ligada temática, está presente em 3% a 6% da popula-
ao aprendizado e uso das habilidades acadê- ção (Laboratório). A variedade de terminologias
micas. e de métodos utilizados nos estudos sobre este
tema torna difícil realizar uma comparação en-
As dificuldades encontradas no TA se mos- tre as taxas nacionais com aquelas de estudos
tram incapacitantes, ressaltando sua diferen- prévios efetuados em outros países.
ciação quanto àquelas inerentes aos proces-
sos normais de aquisição de aprendizagem. O
DSM-IV caracterizava os TAs como a presença
de inabilidades específicas, como por exem- Neurofisiologia do ato
plo nas áreas de leitura, escrita e matemática de aprender: informação,
(APA MSD-4). A edição mais recente, o DSM-5, cognição e motivação
modificou os critérios diagnósticos dos TAs,
caracterizando-o como um diagnóstico único e
geral, que abarca os déficits de desempenho, O processo de aprender é extremamente
onde a leitura, expressão escrita e matemática, complexo, onde o objetivo é ampliar o repertó-
passam a ser domínios de um mesmo transtor- rio de conhecimento e/ou habilidades que serão
no, agora nomeado como TAs, situando-o nos incorporadas àquelas existentes. É fundamen-
Transtornos do Neurodesenvolvimento. Este tal que exista sinergia entre as diversas funções
novo conceito inclui duas situações: dificul- corticais para que esse novo conhecimento seja
dades na aprendizagem e uso de habilidades definitivamente incorporado e possa contribuir
acadêmicas. para a resolução de problemas nas diversas eta-

15
O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

pas de desenvolvimento da criança. A simples genética, o substrato neuronal de cada criança.


memorização, por exemplo, não caracteriza um Isso faz com que exista uma transformação na
aprendizado, pois não fornece na maioria das informação oferecida, que é processada a partir
vezes nada além de fragmentos de um novo co- das vivências individuais, mediada pela motiva-
nhecimento que, sem o uso das demais funções, ção, experiências prévias, resiliência e maleabi-
pode não ter aplicação no futuro para a solução lidade trazendo um produto final que é o apren-
de um problema concreto. O fato é que muitas dizado. O aprendizado é um processo individual
vezes aquele conteúdo aprendido muitas vezes de etiologia multifatorial e não simplesmente
se transforma em elemento complementar de uma conexão entre estímulo e resposta. Por
uma solução de problema, ao passo que a sim- meio desse processo, ele desenvolve sua flexi-
ples memorização não permite a generalização bilidade cognitiva, acumula e internaliza novos
e uso de estratégias cognitivas. conhecimentos que serão a base para outros
novos e assim por diante.
Os conceitos neurofisiológicos, relaciona-
dos à aprendizagem, têm sido desenvolvidos de Dessa forma, a cognição é o produto fi-
forma exponencial nos últimos anos, caracteri- nal do aprendizado onde as funções corticais
zando que os diversos estilos de aprender estão agindo sinergicamente, permitem a integração
intimamente ligados aos diversos subsistemas entre as propriedades das funções discrimina-
do sistema nervoso central caracterizando um tivas perceptuais, memória, uso de estratégias,
comportamento peculiar do cérebro. habilidades formais recebidas na escola, e de-
senvolvimento conceitual se transformam em
Os neurônios, altamente especializados e,
conhecimento consolidado para ser aplicado na
profundamente interconectados formam uma
funcionalidade do indivíduo.
rede complexa que através dos receptores sen-
soriais (visuais, auditivos, táteis e olfativos) Quando a criança não está com desempenho
recebem, processam, analisam e preparam as esperado na escola, causa frustração nos pais e
possibilidades de resposta para determinada na criança, afetando o funcionamento da famí-
informação. Os sinais eletromagnéticos que lia. Apesar da baixa gravidade quando compa-
trazem a informação são então transferidos rado com outras situações do desenvolvimento,
para áreas específicas do subsistema nervoso tem impacto muito grande na vida da criança e
central, refletindo uma nova informação rece- nas suas perspectivas futuras.
bida que será mantida pela memória neuronal
(engrams) e após processado nas respectivas É importante diferenciar causas de baixo
áreas são devolvidas como output ao estímulo rendimento escolar dos Problemas Específicos
oferecido. de Aprendizagem. Quase que a totalidade das
vezes crianças com dificuldades específicas
O ato de aprender é um continuum, um pro- corticais apresentam baixo rendimento escolar,
cesso dinâmico de construção que é influen- mas isso não quer dizer que todas as crianças
ciado pela forma como a informação acontece com mau desempenho tenham esse problema.
e também é modificada pelo significado que o Muitas vezes o desempenho escolar deficitário
aluno dá para aquela nova informação. O mes- está relacionado com condições sociais e cultu-
mo conteúdo pode ter extrema relevância em rais desfavoráveis e/ou com instrução escolar
um contexto de vida de uma criança e muito inadequada. O quadro abaixo ilustra de ma-
pouco em outro, trazendo, portanto, significa- neira sucinta o processo de desenvolvimento
dos diferentes. Essa influência ambiental e so- e aprendizado nos anos escolares mostrando a
cial permeia todo o processo e é mediada por possibilidade de interações entre os múltiplos
habilidades que estão relacionadas à bagagem fatores e seu produto final.

16
Departamento Científico Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento • Sociedade Brasileira de Pediatria

saúde
sociocultural estab
i l i za ç
ambiente ão
familiar adaptação
social
financeiro Temperamento
Estrutura de escola
Perfil educação habilidades
Resiliência desempenho
cortical informal Formação docente
escolar
inato laços motivação
Maleabilidade
Política de educação
familiares para aprender
afeto
influência auto-estima
social ão
i l i za ç
eventos estab
críticos

Halern R., 2018 adaptado Levine MD, 1987

Dificuldade escolar: Diante dos desafios educacionais atuais é


problemas de origem imprescindível ampliar nosso entendimento so-
pedagógica, sem qualquer bre o processo avaliativo, principalmente sobre
envolvimento orgânico os conceitos até agora atribuídos aos problemas
de aprendizagem. É importante lembrar que de
acordo com a literatura, os Transtornos específi-
Os aportes da avaliação das cos do desenvolvimento das habilidades esco-
dificuldades de aprendizagem lares afetam a aquisição de habilidades desde
o início do desenvolvimento. Eles não são sim-
A solicitação por uma avaliação pedagógica
plesmente uma consequência da falta de opor-
nas escolas acontece frequentemente quando
tunidade de aprender, nem são decorrentes de
se observa que o educando apresenta algum
alterações cerebrais adquiridas.
tipo de dificuldade para aprender um ou vários
conteúdos pedagógicos. Mesmo que os profes- Além daqueles alunos com imaturidade do
sores já tenham realizado uma investigação, ou desenvolvimento e/ou disfunção neuropsi-
atividades para verificação de desempenho para cológica, se somam o número maior ainda de
determinados conteúdos, não é raro a busca por crianças com baixo rendimento escolar em de-
soluções superficiais, determinando a exigência corrência de fatores isolados ou em interação,
de relatórios ou laudos médicos. designadas como “dificuldades escolares”. Por-
tanto, aumenta ainda mais a responsabilidade
Tais documentos nem sempre trazem infor-
do pediatra em considerar as causas dessas di-
mes contundentes sobre a história escolar ou
ficuldades, para se evitar a emissão de diagnós-
mesmo clínica, capazes de apontar ou redire-
ticos equivocados sobre transtorno ou distúrbio
cionar o processo de ensino e aprendizagem.
de aprendizagem, assim como deficiência inte-
Deve-se ter cautela em rotular esses estudantes,
lectual.
por falta de olhar mais apurado e aprofundado
sobre as reais razões e motivos responsáveis O diagnóstico nunca deve fechar possibi-
pelo fracasso escolar ou seu baixo desempenho lidades, pelo contrário, deve abrir portas para
e justificativa para a medicalização de pessoas o acesso da aprendizagem, sempre focada na
com necessidades especiais de aprendizagem. construção de conhecimentos capacitando o in-

17
O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

divíduo a tomar consciência de como se posicio- um direito de todo e qualquer cidadão, sem res-
na e tem sido posicionado pelos outros, possibi- trição e independentemente das diferenças e
litando novos posicionamentos de si e do outro, limitações que apresentem, sejam elas de natu-
base para a formação de identidades. reza física, motora ou cognitiva.

Tais proposições geram implicações prá-


Implicações teóricas e metodológicas ticas a serem executadas pelos profissionais,
por meio de adaptações curriculares, com uso
Partindo do pressuposto que o desenvolvi- de linguagens, métodos e instrumentos diver-
mento acontece por meio das relações dos seres sos que permitam a educação global. Para isso
humanos e os contextos sociais, destacamos a é necessário buscar soluções criativas, a partir
importância das interações por eles estabele- da modificação de crenças e pela elaboração de
cidas. Deste modo entende-se também que a atividades que contemplem não somente as li-
superação das limitações cognitivas e de com- mitações dos estudantes, mas invistam em suas
portamento por meio de estimulações das habi- potencialidades.
lidades do indivíduo, que interferem com seus
posicionamentos no mundo, ocorrem também A formação de professores, por exemplo, não
por meio das relações sociais. garante por si só uma atuação inclusiva, porque
é necessário o investimento também numa pre-
As implicações das teorias interacionistas e paração ética e humana, capaz de transformar
culturais como a de Vigotsky evidenciam que tudo e todos. Não basta somente avaliar o ren-
deficiência ou limitações não residem apenas dimento escolar dos estudantes, para produzir
nos corpos, mas também no contexto sociocul- laudos e relatórios. É salutar desenvolver proje-
tural, que os excluem. Não se trata de negar ou tos educacionais inclusivos, ancorados em mé-
confirmar, mas admitir que desde o processo de todos focados na estimulação das competências
avaliação das dificuldades podem ser superadas docentes na perspectiva de um ser humano mais
pelas relações sociais. Por isso, a escola se apre- reflexivo no seu fazer social e profissional, com
senta como um espaço privilegiado de inclusão conhecimento e habilidade para o exercício da
social. cidadania.

É a partir do entendimento de que a inclusão, O objetivo maior é o investimento em con-


teórica, metodológica e adequadamente orienta- textos pedagógicos que ampliam as possibili-
da, colabora para a construção de justiça social e dades e flexibilizam os limites pela fluidez dos
para a superação das limitações, oportunizando posicionamentos, potencializando, desse modo,
a superação de preconceitos e a discriminação, o desenvolvimento e a aprendizagem. Para tan-
principalmente resultantes da produção de rótu- to, antes de se pensar e solicitar um relatório
los, muitas vezes corroboradas pelos laudos. No ou um laudo é preciso refletir também sobre os
entanto, se tem observado que mesmo havendo impactos de um diagnóstico superficial ou ta-
mudança de paradigmas em termos conceituais, xativo, que serve tão somente para legitimar o
não houve de fato repercussão direta na prática preconceito produtor da exclusão. Neste senti-
pedagógica. Pincipalmente porque, mesmo sen- do, a nota técnica 04/2014 do MEC/SECAD/DPEE
do obrigada a aceitar esse aluno, a escola deve sobre a não obrigatoriedade de laudos médicos
assumir efetivamente a sua educação. para matrícula e permanência na escola apon-
tam para novos caminhos referentes à inclusão
Do ponto de vista da metodologia, cabe o
da pessoa com deficiências ou dificuldades de
esforço para atender as demandas e necessida-
aprendizagem.
des dos estudantes, conforme os objetivos da
formação educacional, consolidados por meio Desse modo, a prática pedagógica estará
de dispositivos legais, que garantem os direitos sempre, intrinsecamente, voltada à inclusão,
de todos, conforme o artigo 205, da Constituição sendo a escola compreendida como uma insti-
Federal Brasileira, de que o acesso à educação é tuição responsável por viabilizar processos for-

18
Departamento Científico Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento • Sociedade Brasileira de Pediatria

mais de aprendizagem, por meio de uma tecno- dentro desse padrão de funcionamento cerebral,
logia metodológica capaz de problematizar um os testes neuropsicológicos são padronizados
contexto, possibilitar o planejamento, descrição para áreas de concentração de acordo com a ida-
e avaliação de processos pedagógicos mais ou de da criança. Contudo em todas as avaliações
menos amplos, envolvendo equipe multidisci- deve-se investigar o desenvolvimento cognitivo
plinar conforme demandas específicas de dada global, incluindo: a inteligência, a linguagem, a
comunidade escolar. atenção, a memória, o controle emocional e com-
Nota: *Inclusão, Educação e Psicologia: mediações possíveis na escola portamental e o funcionamento social.
e na universidade é um projeto de pesquisa que nasce vinculado
ao Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência)
da Faculdade UnB Planaltina (FUP), que se concretiza a partir da
Serão aqui mencionados alguns instrumentos
construção de contextos educacionais promotores de inclusão e testes psicológicos que são utilizados nas ava-
escolar e social, entendendo por inclusão o fenômeno social
que garante o pertencimento da pessoa a um determinado
liações neuropsicológicas, descrevendo-os, de
contexto, garantindo a ela possibilidades de agir com os outros maneira sucinta assim como as potencialidades
sociais de maneira autônoma e cidadã.
de cada um deles. No Brasil, o Conselho Federal
de Psicologia – CFP possui o SATEPSI, que é um sis-
tema de avaliação de testes psicológicos, desen-
Avaliação Neuropsicológica volvido pelo CFP para divulgar informações sobre
os testes psicológicos à comunidade e aos psicó-
logos. No site do SATEPSI são apresentados todos
A avaliação neuropsicológica infantil é reco- os testes psicológicos e instrumentos. Pode-se
mendada em qualquer caso onde exista suspeita
obter informações sobre os testes psicológicos
de dificuldade cognitiva ou comportamental de
com parecer favorável e desfavorável, verifican-
origem neurológica.
do a possibilidade de uso do teste na avaliação
Auxilia no diagnóstico e tratamento de do- psicológica, bem como da identificação de instru-
enças neurológicas e psiquiátricas, transtornos mentos privativos e não privativos do psicólogo.
do desenvolvimento infantil, sendo de contri-
buição relevante nos casos de transtornos de
ensino-aprendizagem, pois permite estabelecer
Instrumentos de Triagem para a
relações de funcionamento entre as funções cor-
Avaliação do Neurodesenvolvimento
ticais superiores, como a linguagem, a atenção e
a memória, e a aprendizagem simbólica (concei-
tos, escrita, leitura). Obtém-se então assim um O DENVER II - Teste de Triagem do Desenvol-
panorama qualitativo e qualitativo visando in- vimento tem o propósito de auxiliar profissionais
tervenções terapêuticas precoces e precisas no da saúde na identificação precoce de problemas
desenvolvimento e processo de aprendizagem. em áreas do desenvolvimento de bebês e crian-
Proporciona à criança, formas de lidar com as di- ças assintomáticas, a fim de serem melhor inves-
ficuldades neurológicas identificadas, bem como tigados em um futuro diagnóstico. Pode ser tam-
potencializar as funções que estão intactas. bém usado para identificar mudanças no escore
Existe uma variedade de instrumentos neu- ou padrões no decorrer do tempo, sendo primei-
ropsicológicos que analisam as funções cogniti- ro interpretados os itens individuais e depois o
vas específicas, tais como: a memória, a atenção, teste inteiro. A triagem é realizada considerando
a linguagem, o raciocínio lógico, a coordenação quatro áreas primordiais do desenvolvimento:
espacial e visual, o comportamento, o humor e a pessoal-social, motor fino adaptativo, lingua-
capacidade de síntese, concentração e planeja- gem e motor grosso. O instrumento é destinado
mento (funções executivas). a crianças desde o nascimento até os seis anos
de idade. Os itens são apresentados em forma
Na avaliação de crianças é importante salien- de gráfico com um marco dos limites para cada
tar o fato do desenvolvimento cerebral ter carac- idade. É o instrumento mais utilizado e reconhe-
terísticas próprias a cada faixa etária. Portanto, cido internacionalmente, eficaz em todo mun-

19
O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

do em várias culturas. A aplicação é individual primeiro ao sexto ano escolar do Ensino Funda-
e o tempo médio de aplicação é de 20 minutos. mental (considerando anos de estudo formal),
Recentemente, recebeu adaptação para a popu- com idades entre 6 e 12 anos e 11 meses. A apli-
lação brasileira. Os materiais e kit de aplicação cação é individual, sem limite de tempo, sendo
são disponíveis a venda, e não são restritos aos que a aplicação dura em média 50 minutos.
psicólogos.

As Escalas Bayley de Desenvolvimento do


bebê e da criança pequena, terceira edição -
Testes de Inteligência
BAYLEY III – é um instrumento administrado in-
e de Raciocínio Lógico
dividualmente, que avalia o funcionamento do
desenvolvimento de bebês e crianças pequenas,
de 1 a 42 meses de idade. Consiste em identifi- O padrão-ouro internacional para a quantifi-
car atrasos no desenvolvimento e providenciar cação das capacidades intelectuais são as escalas
informações para o planejamento de interven- Wechsler de Inteligência, subdivididas pela faixa
ções. A Bayley foi traduzida e publicada no Bra- de idade. Estas escalas consistem de perguntas e
sil, mas ainda não foi validada para a população respostas padronizadas que medem o potencial
brasileira. Fornece o quociente de desenvolvi- do indivíduo em áreas intelectuais diferentes,
mento (QD). É composta por cinco escalas padro- como o nível de informação sobre assuntos ge-
nizadas: escala cognitiva; escala motora [subdi- rais, a interação com o meio ambiente e a capaci-
vidida em motora fina e motora grossa]; escala dade de solucionar problemas cotidianos.
de linguagem (receptiva e expressiva); questio-
nário comportamental adaptativo e questionário O WISC-IV (Wechsler Intelligence Scale for
social - emocional. Os materiais e kit de aplica- Children-IV) é a Escala Wechsler de Inteligên-
ção são disponíveis a venda, e não são restritos cia para Crianças – 4ª Edição. É um instrumento
aos psicólogos. de aplicação individual que tem como objetivo
avaliar a capacidade intelectual das crianças e o
processo de resolução de problemas7. Compre-
ende a avaliação de crianças na faixa etária de 6
Bateria Neuropsicológica Infantil anos a 16 anos e 11 meses. É composto por 15
subtestes, sendo 10 principais e 5 suplementa-
res, e dispõe de quatro índices, à saber: Índice
O NEUPSILIN-Inf é um instrumento de Ava- de Compreensão Verbal, Índice de Organização
liação Neuropsicológica Breve Infantil. Trata-se
Perceptual, Índice de Memória Operacional e Ín-
de um instrumento neuropsicológico breve que
dice de Velocidade de Processamento, além do
avalia componentes de oito funções neurop-
QI Total. A aplicação é individual, com duração
sicológicas, por meio de 26 subtestes: orienta-
média de 120 minutos.
ção, atenção, percepção visual, memórias (de
trabalho, episódica, semântica), habilidades O WASI – Escala Wechsler Abreviada de In-
aritméticas, linguagem oral e escrita, habilida- teligência - é um instrumento breve e confiável
des visoconstrutivas e funções executivas. O de avaliação da inteligência, aplicável a crianças
NEUPSILIN-Inf permite identificar e caracterizar de 6 anos a idosos de 89 anos de idade. Forne-
o perfil de funcionamento de processos neurop- ce informações sobre os QIs Total, de Execução e
sicológicos visando a descrição cognitiva asso- Verbal a partir de quatro subtestes (Vocabulário,
ciada a diagnósticos em transtornos do neurode- Cubos, Semelhanças e Raciocínio Matricial), em
senvolvimento, em geral, e da aprendizagem, em um curto espaço de tempo. A escala ainda forne-
particular, quando aliado ao resultado de outros ce a possibilidade de avaliação do QI Total com
instrumentos e demais procedimentos no pro- apenas dois subtestes (Vocabulário e Raciocínio
cesso de avaliação neuropsicológica. As tabelas Matricial). A aplicação é individual, com duração
normativas são compreendidas por crianças do média de 30 minutos.

20
Departamento Científico Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento • Sociedade Brasileira de Pediatria

O Teste não verbal de Inteligência – SON-R O Teste não Verbal de Inteligência para
2½ - 7[a], recentemente normatizado para crian- Criança – R-2 avalia o fator G de inteligência de
ças brasileira entre 2 anos e 6 meses a 7 anos. crianças com idades de 5 a 11 anos. Sua apli-
Este instrumento enfatiza habilidades visuomo- cação é individual, sem limite de tempo, sendo
toras, perceptuais e espacial e a habilidade de que a maioria das aplicações leva em média 8
raciocinar de uma maneira abstrata e concreta. minutos. O teste é composto por 30 pranchas
Essas habilidades correspondem aos fatores com figuras coloridas de objetos concretos e
relativos à ‘inteligência fluida’ e à percepção abstratos, que devem ser aplicadas de acordo
visual ampla. O construto de percepção visual com sua numeração. A criança escolhe a op-
inclui a estruturação, validação e a comparação ção que será registrada pelo aplicador na folha
das informações visuais. Além disso, a memória, apropriada. A correção é realizada pelo total de
os conhecimentos e habilidades de linguagem acertos, pela avaliação quantitativa e qualitati-
possuem uma associação indireta com o de- va, considerando os diferentes tipos de raciocí-
sempenho no teste, mas esta mensuração pelo nio exigidos para responder cada item do teste.
SON R 2½ - 7[a], não é baseada nessas habili- A aplicação é individual, com duração média de
dades. O resultado deste teste depende menos 10 minutos.
do conhecimento adquirido e mais das habilida-
O COLÚMBIA - Escala de Maturidade Men-
des em descobrir métodos e regras, e aplicá-los
tal – CMMS é um instrumento que fornece uma
a novas situações. Ou seja, não se mede a inte-
estimativa da capacidade de raciocínio geral
ligência cristalizada, que é obtida pelas expe-
de crianças entre 3 anos e 6 meses e 9 anos e
riências obtidas pela criança. Nos subtestes do
11 meses. Avalia, especialmente, capacidades
SON R 2½ - 7[a] existe uma distinção entre os
que são importantes para o sucesso na escola,
subtestes que compreendem as habilidades es-
principalmente as capacidades para discernir as
paciais, viso-motor e de execução (QEE: Mosaico
relações entre os vários tipos de símbolos. Com
e Padrões) e os subtestes que focam o raciocínio
este instrumento pode-se obter o Índice de Ma-
concreto e abstrato (QER: Categoria e Situações).
turidade Mental (IM). A aplicação é individual,
As soluções corretas para estes últimos subtes-
com duração média de 30 minutos.
tes é o resultado do raciocínio e da seleção en-
tre alternativas de múltipla escolha. As soluções O RAVEN infantil ou teste Matrizes Progressi-
corretas dos testes de execução são construídas vas Coloridas - Escala Especial é um instrumento
pela criança. A aplicação é individual, com dura- que visa avaliar as atividades mentais: edutiva e
ção média de 30 minutos. reprodutiva, que inclui o domínio, a lembrança
e a reprodução de materiais. A atividade mental
O Teste de Inteligência Geral Não Verbal –
edutiva ou amadurecida envolve a capacidade
TIG-NV tem como objetivo avaliar desempenhos
de extrair um significado de uma situação con-
característicos dos testes de inteligência não
fusa, desenvolver novas compreensões, ir além
verbais e possibilita uma análise neuropsicoló-
do que é dado para perceber o que não é ime-
gica, que permite identificar os tipos de raciocí-
diatamente óbvio, estabelecer constructos (em
nios errados e os processamentos envolvidos na
grande parte não verbais), que facilitam a ma-
sua execução, além das classificações habituais
nipulação de problemas complexos, envolvendo
do potencial intelectual. Pode ser utilizado de
variáveis mutuamente dependentes. A edução é
forma individual e coletiva, sendo esta última
o processo de extrair novos insights, deduções
para fins de seleção. Possibilita a classificação
e informações do que já é percebido e conhe-
dos desempenhos em termos de Percentil ou QI,
cido. É composto por três séries de doze itens
além da classificação da inteligência de acordo
cada. Cada item ou problema é impresso sobre
com o grau de escolaridade e idades. Possui nor-
um fundo colorido vivo para atrair a atenção das
matização para crianças brasileiras a partir de 10
crianças pequenas. A aplicação pode ser indivi-
idade. A aplicação é individual, com duração mé-
dual ou coletiva, com duração média de 30 mi-
dia de 30 minutos.
nutos.

21
O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

Testes de Percepção Visual e Testes de Memória


Coordenação Viso Motora
O Teste RAVLT é um teste que utiliza uma
O teste de Figuras Complexas de REY é des- lista de palavras simples, de alta frequência no
crito para investigar a memória visual, funções português brasileiro, com etapas de evocação
de planejamento e execução de ações, bem como imediata, evocação tardia e tarefa de reconhe-
a relação entre percepção visual e memória vi- cimento. Avalia a memória declarativa episódi-
sual. É composto por duas figuras A e B. A figura ca e fornece informações sobre as medidas de
A possui dados normativos brasileiros a partir de aprendizagem auditivo everbal, índices de in-
crianças de 5 anos e a figura B para crianças entre terferência e de retenção de informações e me-
4 a 7 anos. A aplicação é individual, com duração mória de reconhecimento. Possui tabelas nor-
média de 10 minutos. mativas para crianças brasileiras a partir de 06
O Teste de Retenção Visual de BENTON (BVRT) de idade. A aplicação é individual, sem limite de
tem como objetivo avaliar habilidades de me- tempo, sendo que a maioria das aplicações leva
mória visual, percepção visual e praxia visocons- em média 40 minutos. O teste apresenta uma
trutiva. O teste é composto por dois formatos de primeira etapa de aprendizagem seguida de um
administração, com 10 lâminas cada. Existem pa- intervalo para a etapa de evocação tardia e re-
drões de aplicação, pontuação baseada no núme- conhecimento. Nesse intervalo de aproximada-
ro de produções corretas e a frequência dos tipos mente 20 minutos podem ser feitos outros pro-
específicos de erros feitos pelos examinandos, cedimentos, incluindo testes não-verbais.
assim como normas de desempenho por idade e Vale lembrar aqui que o teste de Figuras
escolaridade. Pode ser utilizado na avaliação de Complexas de REY é composto da prova de in-
crianças a partir de 7 de idade, a aplicação é indi- vestigação da memória visual.
vidual, sem limite de tempo, sendo que a maioria
das aplicações leva em média de 10 a 20 minutos.

O teste Gestáltico visomotor de BENDER Testes de Atenção


avalia a maturação percepto-motora por meio
da análise da distorção de forma de crianças
A habilidade de atenção pode ser avaliada
com idade de 6 a 10 anos. A aplicação pode
em três níveis: concentrada, dividida e alter-
ser individual ou coletiva, sem limite de tem-
nada. Atenção Concentrada indica a capacida-
po, sendo que a maioria das aplicações leva em
de de uma pessoa em selecionar apenas uma
média de 15 minutos. Caso a aplicação seja co-
fonte de informação diante de vários estímu-
letiva, sugere-se que no máximo 30 crianças es-
los distratores em um tempo pré-determinado.
tejam na sala de aplicação. O Bender está asso-
Atenção Dividida indica a capacidade de uma
ciado a medidas de inteligência (como fator g)
pessoa para procurar dois ou mais estímulos
e também mostra relação com a aprendizagem
simultaneamente em um tempo pré-determi-
(aquisição da escrita e diferenciação de séries).
nado, sendo que os mesmos estão distribuídos
O teste é composto por 9 desenhos modelos. A
aleatoriamente entre vários distratores. Aten-
criança reproduz cada um dos desenhos apre-
ção Alternada indica a capacidade de uma pes-
sentados. A correção é realizada pelo total de
soa em focar sua atenção e selecionar ora em
pontos atribuídos aos desenhos realizados e
um estímulo, ora outro, diante de vários estí-
pela análise quantitativa e qualitativa. Quanto
mulos distratores por um determinado período
maior a pontuação do desenho, mais erros fo-
de tempo.
ram cometidos pela criança. Existem estudos
de precisão, validade e tabelas em percentis e A Bateria Psicológica para Avaliação da Aten-
quartis para o público-alvo de acordo com sua ção – BPA – tem como objetivo realizar a avalia-
idade e sexo. ção da capacidade geral de atenção, assim como

22
Departamento Científico Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento • Sociedade Brasileira de Pediatria

a avaliação individualizada de tipos de atenção habilidade de produzir ideias diferentes, a orga-


específicos, quais sejam, Atenção Concentrada, nização da informação, a capacidade de dar res-
Atenção Dividida e Atenção Alternada. Possui postas adequadas aos estímulos, de estabelecer
tabelas normativas para crianças a partir de 6 e trocar estratégias; e planejar uma ação.
anos, de ambos os sexos e com diferentes ní-
veis de escolaridade. A aplicação pode ser indi- Essas habilidades podem ser avaliadas pelos
vidual ou coletiva. Há um tempo específico para testes de Wisconsin de Classificação de Cartas
cada teste que compõe a BPA, mas no geral, o (WCST), Teste de Trilhas para Pré-escolares -
tempo total de aplicação da bateria não excede TT–P, o Teste de Cinco Dígitos (FDT) e o Teste da
os 20 minutos, sendo 2 minutos para responder Torre de Londres - ToL.
o teste de Atenção Concentrada, 4 minutos para
O WCST foi originalmente desenvolvido para
o de Atenção Dividida e 2 minutos e 30 segun-
avaliar a habilidade de raciocínio e a capacida-
dos para o de Atenção Alternada. A sequência
de de adaptação das estratégias cognitivas em
de aplicação deve seguir a ordem utilizada para
resposta a mudanças no ambiente. O instrumen-
a construção da BPA, ou seja, primeiro deve ser
to, ainda, pode ser considerado uma medida de
aplicado o Atenção Concentrada, depois o Aten-
funções executivas, tendo em vista que requer
ção Dividida e, por fim, o Atenção Alternada.
a habilidade para desenvolver e manter uma es-
O Teste de Atenção por Cancelamento - TAC tratégia adequada de resolução de problemas
desenvolvido por Montiel e Seabra (2012) con- para atingir um objetivo futuro. Semelhante a
siste em três matrizes impressas com diferentes outros instrumentos que avaliam funções execu-
tipos de estímulos. A criança deve assinalar to- tivas, o WCST avalia o planejamento estratégico,
dos os estímulos iguais ao estímulo-alvo previa- a busca organizada, a utilização do feedback do
mente determinado. As três partes devem ser ambiente para mudar as estratégias cognitivas, o
aplicadas em conjunto e sua duração é de apro- direcionamento do comportamento para alcance
ximadamente 8 minutos. As tabelas de normati- dos objetivos e a modulação de respostas im-
zação compreendem crianças entre 5 a 14 anos. pulsivas. O WCST, então, pode ser utilizado para
avaliação e identificação de prejuízos cognitivos
e condições neurológicas relacionadas à região
frontal do cérebro que apresentam déficits. Pode
Funções Executivas ser utilizado na avaliação de crianças a partir de
6 ½ de idade, a aplicação é individual, com dura-
ção média 30 minutos.
As funções executivas (FE) são consideradas
funções mentais complexas ou superiores, res- O FDT ou Teste dos Cinco Dígitos é um teste
ponsáveis pela capacidade de autorregulação e que avalia as funções executivas, em especial a
autogerenciamento, e seu desenvolvimento re- atenção sustentada. O objetivo do instrumento é
presenta um marco adaptativo importante da es- medir a velocidade de processamento cognitivo,
pécie humana. Essas habilidades são relevantes a capacidade de focar e de reorientar a atenção
diante de situações novas ou demandas ambien- e de lidar com interferências (subcomponentes
tais que exijam ajustamento, adaptação ou fle- controle inibitório e flexibilidade cognitiva).
xibilidade, como no processo de aprendizagem Pode ser utilizado na avaliação de crianças a par-
escolar. Para a avaliação das FE, necessita-se tir de 6 de idade, a aplicação é individual, com
conhecer as etapas evolutivas do funcionamen- duração média 10 minutos.
to do lobo frontal e seu processo de maturação,
que tem início nos primeiros anos de vida, com O Teste de Trilhas para Pré-escolares – TT–P
maior intensidade entre os seis e oito anos, atin- foi desenvolvido por Trevisan e Seabra (2012)
gindo seu ápice por volta dos 20 anos de idade. e consiste de duas partes. Na primeira parte é
Entre as funções executivas estão a plasticidade apresentado apenas um tipo de estímulo e na
do pensamento, a capacidade de julgamento, a segunda parte, há dois tipos de estímulos que

23
O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

devem ser assinalados pela criança em ordem O M-CHAT (Modified Checklist for Autism in
alternada. Em ambas as etapas o tempo gasto Toddlers) é um questionário de triagem para a
de execução é cronometrado. A primeira parte é investigação diagnóstica de autismo, com 23
dada a criança uma folha instrutiva com figuras perguntas com respostas “sim” ou “não” a serem
de cinco cachorrinhos que devem ser ligados por respondidas pelos pais. Pode ser aplicado entre
ordem de tamanho, iniciando com o “bebê” até 16 e 48 meses em todas as crianças com ou sem
o “papai”. Na segunda parte, figuras de ossos de sinais de atraso do desenvolvimento. O resulta-
tamanhos respectivos aos dos cachorros são in- do indica a presença ou ausência de sinais que
troduzidos, e a criança deve combinar os cachor- podem necessitar de investigação mais apurada
rinhos com seus ossos apropriados, na ordem de para o transtorno do espectro autista. Possui do-
tamanho, ligando-os alternadamente. Com este mínio público e é validado para o uso no Brasil.
instrumento é possível avaliarmos a flexibilida-
de cognitiva, bem como a percepção, atenção e O CBCL (Inventário de Comportamento para
rastreamento visual, velocidade e rastreamento Crianças e Adolescentes) é um inventário de
visomotor, atenção sustentada e velocidade de competências sociais e de problemas do com-
processamento. Pode ser utilizado na avaliação portamento em crianças e adolescentes. Pode
de crianças de 4 a 6 anos de idade, a aplicação é ser utilizado na avaliação de crianças e jovens
individual, com duração média 10 minutos. entre 18 meses e 18 anos. É composto por 112
itens que abordam a rotina e o comportamento.
O Teste da Torre de Londres – ToL avalia a ca- Os resultados podem ser descritos em escalas
pacidade de planejamento em níveis progressi- de internalização e externalização ou em escalas
vos de dificuldade, desde bastante simples aos de síndromes: ansiedade/depressão, isolamen-
mais diversificados. É composto por uma base to/retraimento, queixas somáticas, problemas
com três hastes verticais e três esferas coloridas, sociais, problemas de pensamento, problemas
de vermelho, verde e azul. A tarefa proposta é de atenção, violação de regras e comportamen-
a transposição das esferas, uma por vez, a partir to agressivo. A adaptação no Brasil foi feita por
de uma posição inicial fixa, de modo a alcançar Bordin et al. (1995).
diferentes disposições finais, especificadas pelo
examinador. O procedimento completo consiste Outro questionário muito utilizado para au-
de 12 itens, variando de dois a cinco movimen- xiliar na avaliação de crianças com sintomas de
tos para resolução de cada item. Na execução TDHA é o SNAP IV. Este instrumento foi constru-
adequada do ToL, é fundamental inicialmente ído a partir dos sintomas do DSM-IV da Associa-
planejar, ou seja, pensar e representar mental- ção Americana de Psiquiátrica. A tradução atu-
mente cada passo necessário para a resolução do almente utilizada é validada pelo GEDA – Grupo
problema e, por fim, executar o movimento. As de Estudos do Déficit de Atenção da UFRJ e pelo
tabelas de normatização compreendem crianças Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescên-
entre 11 a 14 anos. cia da UFRGS. Importante destacar que este ins-
trumento é apenas um ponto de partida para o
levantamento de alguns possíveis sintomas pri-
mários do TDHA. É um instrumento que deve ser
Domínio de Habilidades Sociais, preenchido pelos pais e professores da criança.
Aspectos Emocionais, do O questionário investiga sintomas de desaten-
Comportamento e da Personalidade ção, hiperatividade e impulsividade relativos
apenas o primeiro dos critérios (critério A do
DSM-IV) para se fazer o diagnóstico.
Há uma variedade de instrumentos e inven-
tários para investigação da dinâmica da perso- As Pirâmides Coloridas de PFISTER - Versão
nalidade e dos aspectos emocionais e compor- Para Crianças e Adolescentes, é instrumento
tamentais das crianças. Selecionamos alguns valioso para a compreensão da dinâmica emo-
instrumentos. cional, da sua personalidade, habilidades cog-

24
Departamento Científico Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento • Sociedade Brasileira de Pediatria

nitivas e tendências de comportamento no meses. A aplicação é individual e dura em média


enfrentamento de problemas. É um teste ge- 45 minutos.
ralmente muito bem recebido pelas crianças
que se interessam e se divertem no manuseio O Teste de Apercepção Infantil – Animais –
de uma grande quantidade de quadrículos colo- CAT – A da mesma forma que o anterior, mas des-
ridos. A proposta é montar pirâmides com car- ta vez utilizando figuras de animais, são apresen-
tõezinhos coloridos. As tabelas de normatização tados 10 cartões. A cada figura, a criança precisa
compreendem crianças entre 06 a 14 anos. A contar uma história com começo, meio e fim. O
aplicação é individual e dura em média de 15 e objetivo é investigar a dinâmica da personalida-
20 minutos. de da criança em sua singularidade, de modo a
compreender o mundo vivencial da criança, sua
A técnica projetiva de desenhos: Casa-árvo- estrutura afetiva, a dinâmica de suas reações
re-pessoa: H-T-P consiste em convidar a crian- diante dos problemas que enfrenta e a manei-
ça a fazer o desenho a mão livre de uma casa, ra como os enfrenta. Os critérios utilizados na
de uma árvore e de uma pessoa. Seguido de um avaliação são o nível de ansiedade, as defesas, a
desenho adicional de uma pessoa de sexo opos- autoimagem, suas necessidade e conflitos, a con-
to à que foi primeiramente desenhada. Em uma cepção do ambiente em que vive, além do modo
segunda etapa é feito um inquérito bem estru- como estabelece suas relações interpessoais. As
turado, que envolve fazer perguntas relativas às tabelas de normatização compreendem crianças
associações sobre aspectos de cada desenho. Os entre 5 e 10 anos. A aplicação é individual e dura
desenhos são avaliados baseados no conteúdo; em média 45 minutos.
características tais como tamanho, localização; a
presença ou a ausência de determinadas partes
e as respostas que a criança forneceu durante o
inquérito. O objetivo é avaliar as principais ca- Sondagem das
racterísticas da personalidade da criança. Pode habilidades acadêmicas
ser utilizado em crianças com idade a partir dos
8 anos. A aplicação é individual, sem limite de
tempo, sendo que leva em média de 30 a 90 mi- São muitos os instrumentos disponíveis para
nutos. avaliação das habilidades acadêmicas de crian-
ças. Foram selecionados alguns instrumentos.
O Teste de Apercepção Infantil – Figuras
Humanas – CAT - H é uma técnica projetiva te- O teste de desempenho escolar – TDE é um
mática composta por 10 cartões que devem ser instrumento que busca oferecer de forma obje-
apresentados à criança. A cada figura, a criança tiva a avaliação das capacidades fundamentais
precisa contar uma história com começo, meio para o desempenho escolar, mais especificada-
e fim. Procura-se conhecer a estrutura afetiva mente da escrita, aritmética e leitura. Foi desen-
da criança, a dinâmica de suas reações diante volvido para avaliação de alunos do 1° ano ao
de seus desejos e dos problemas que enfrenta, 9° ano. É composto por três subtestes: escrita,
assim como o modo como procura resolver es- aritmética e leitura. Cada um deles apresenta
sas questões. Apresenta um conjunto de nove uma escala com itens em ordem crescente de di-
dimensões identificadas como aspectos do su- ficuldades, que são apresentados, independen-
jeito a partir das quais podem ser levantadas temente de seu ano escolar. Para cada subteste
hipóteses sobre a dinâmica da personalidade há um escore bruto e um escore total para a pro-
infantil. Investiga-se profundamente o nível de va como um todo. Estes valores são convertidos
ansiedade, as defesas, a autoimagem, suas ne- por intermédio de uma tabela de classificação. A
cessidade e conflitos, a concepção do seu am- aplicação é individual, sem limite de tempo, pos-
biente, bem como o modo a forma das suas rela- sui uma duração média de 30 minutos. Os mate-
ções interpessoais. As tabelas de normatização riais e kit de aplicação, são disponíveis a venda,
compreendem crianças entre 07 e 12 anos e 11 e não são restritos aos psicólogos.

25
O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

O PROLEC é formado por provas de avalia- aprendizagem da matemática, ou discalculia. Os


ção dos processos de leitura. É um instrumento materiais e kit de aplicação são disponíveis para
que pretende avaliar os diferentes processos venda, e não são restritos aos psicólogos.
que interferem na leitura, ocasionando as difi-
culdades na aprendizagem. É composto por di-
ferentes tarefas, sendo um guia para orientação
na avaliação das dificuldades de leitura e no
Abordagem
diagnóstico dos transtornos de aprendizagem.
Vai avaliar processos semânticos, léxicos, sintá- O papel do pediatra na condução dos trans-
ticos e de identificação de letras. Além disso, é tornos de aprendizagem é fundamental, tanto
possível obter informações sobre as estratégias como identificador inicial e coordenador, quan-
que cada criança utiliza na leitura de um texto, to como defensor do processo. Inicialmente, o
bem como os mecanismos que estão funcionan- pediatra é o responsável pela avaliação das vias
do adequadamente para que se realize uma boa visuais e auditivas da criança, gerando o encami-
leitura. É possível também avaliar a compreen- nhamento específico aos especialistas das áreas
são de orações e textos curtos. A aplicação é in- de oftalmologia e otorrinolaringologia, respec-
dividual para crianças do 2° ao 5° ano do ensino tivamente, que então serão os encarregados da
fundamental ou em crianças maiores que apre- prescrição de óculos, bem como de aparelhos
sentem dificuldades de leitura. Os materiais e kit auditivos ou implantes cocleares.
de aplicação são disponíveis a venda, e não são
restritos aos psicólogos. Afastadas as causas sensoriais acima como
determinantes etiológicas das dificuldades no
A consciência fonológica é a capacidade de aprendizado, o pediatra deve começar a ques-
refletir sobre os sons da fala e manipulá-los, tionar-se sobre os transtornos de aprendizagem
englobando a consciência de sílabas, rimas, ali- primários, seus diagnósticos diferencias e co-
terações, unidades intrassilábicas e fonemas. morbidades, para que possa encaminhar devida-
Este teste representa uma habilidade cognitiva mente a criança para avaliações piscopedagógi-
fundamental a ser investigada na avaliação de cas mais amplas e aprofundadas e, finalmente,
crianças com dificuldades de aprendizagem. A estabelecer a definição do manejo da forma mais
utilização do CONFIAS possibilita a investigação individualizada possível, de acordo com o tipo
destas capacidades fonológicas, fundamentais à de dificuldade para o aprender da criança.
alfabetização das crianças. É aplicável a crianças
não alfabetizadas e/ou em processo de alfabe- A base da condução dos transtornos específi-
tização e em crianças em tratamento de dificul- cos de aprendizagem, entre outros tipos de difi-
dades/transtornos de aprendizagem e fala. É culdades, é a adaptação curricular. A Lei Brasileira
composto por tarefas de síntese, segmentação, de Inclusão (Lei nº 13146/2015) determina que
identificação, produção, exclusão e transposição o aluno com transtorno de aprendizagem tem o
silábica e fonêmica. Pode ser utilizado em crian- direito à elaboração de um currículo adaptado.
ças a partir de quatro anos de idade. Os materiais
Os artigos 27 e 28 do capítulo IV da lei tra-
e kit de aplicação são disponíveis para venda, e
tam do direito à educação. A matéria define que
não são restritos aos psicólogos.
é incumbido ao poder público assegurar, criar,
O Coruja PROMAT é um roteiro elaborado desenvolver, implementar, incentivar, acompa-
para a sondagem do desenvolvimento das habi- nhar e avaliar. O artigo segue ainda ressaltando a
lidades da matemática nos anos iniciais do ensi- necessidade de adoção de medidas individuali-
no fundamental. Seu objetivo é verificar se essas zadas e coletivas em ambientes que maximizem
habilidades foram adquiridas, em caso de defa- o desenvolvimento acadêmico e social dos estu-
sagem, indicar a(s) área(s) de concentração das dantes com deficiência, favorecendo o acesso, a
dificuldades encontradas. Permite que se levan- permanência, a participação e a aprendizagem
tem indicadores para o transtorno específico da em instituições de ensino.

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Departamento Científico Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento • Sociedade Brasileira de Pediatria

Com relação às instituições privadas, o arti- comportamento, é importante tratar a comorbi-


go traz, também, os dispostos no incisos e caput dade que esteja associada ao comportamento
que tratam da proibição à cobrança de valores (ex: TDAH e ansiedade). Os tratamentos psico-
adicionais de qualquer natureza em suas mensa- farmacológicos destas enfermidades devem ser
lidades, anuidades a matriculas no cumprimento avaliados individualmente por especialista ex-
dessas determinações. periente na área.

A construção do chamado Plano de Ensino Cabe ao pediatra, também, orientar a crian-


Individualizado (PEI) e seu conteúdo programáti- ça maior de 8 anos e a família a respeito do seu
co deve ser de autoria do professor em conjunto problema. A orientação psicoeducacional é pi-
com a equipe pedagógica da escola. Entretanto, lar crucial do tratamento. É através da mesma
os pais devem participar das discussões. que se pode ajudar as crianças e seus familia-
res a entenderem as dificuldades, colaborando
A primeira etapa da constituição do PEI é de-
para o processo de enfrentamento e varrendo
terminar as virtudes e as dificuldades da criança.
os preconceitos, tais como, de que a criança é
Destacamos 10 pontos fundamentais que devem
lenta ou não está dando tudo de si, ou, ainda,
ser levados em consideração quando da elabora-
que sempre a repetição de série pode ajudar a
ção do PEI:
criança a alcançar os seus pares futuramente.
1. Comunicação
2. Locomoção e habilidades motoras Muitas vezes, os familiares trazem dúvidas
ao pediatra sobre tratamentos complementares
3. Comportamento
e alternativos (TCA) que, geralmente, são recru-
4. Autocuidado descidos de falsas crenças e conceitos errôneos.
5. Habilidades sociais Estudos preliminares apontaram alguns benefí-
cios dos TCA para transtornos de aprendizagem,
6. Processamento visual e auditivo
como, por exemplo, os ácidos graxos poli-insa-
7. Modalidade de aprendizagem turados (eicosapentaenoico e docosahexaenoi-
8. Aprendizagem acadêmica: leitura, aritmética co), Gingko Biloba, neurofeedback, quiropraxia
e conhecimentos gerais. e musicoterapia, mas há necessidade ainda de
9. Rotina diária avaliar os níveis de evidência científica e o ris-
co-benefício para esclarecimento da família em
10. Habilidade para brincar
cada caso.
Na segunda etapa, cabe o planejamento e
Conclui-se que a avaliação individualizada e
a definição de um cronograma dentro do qual
responsável de cada criança dentro do seu con-
constará o conteúdo programático chave do PEI.
texto de vida em conjunto com família, escola e
Cabe ressaltar a necessidade de revisão sistê-
equipe interdisciplinar é fundamental para au-
mico-sistemática e periódica do PEI, pois a cada
xiliar a criança no processo de ensino e apren-
etapa do ensino e da vida da criança, novos de-
dizagem de forma precoce e efetiva. O pediatra
safios acadêmicos e pessoais vão aparecendo à
sem dúvida é o profissional mais importante
medida que outros vão sendo conquistados e
que deve acompanhar de perto toda a equipe
superados.
multiprofissional que estará em conjunto com
Nos casos em que os transtornos de apren- ele no tratamento de cada criança de forma in-
dizagem são acompanhados de transtornos de dividualizada.

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O papel do pediatra diante da criança com Dificuldade Escolar

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30
Diretoria
Triênio 2016/2018

PRESIDENTE: Irene Kazue Miura (SP) EDITORES DA REVISTA SBP CIÊNCIA


Luciana Rodrigues Silva (BA) Carmen Lúcia Bonnet (PR) Joel Alves Lamounier (MG)
1º VICE-PRESIDENTE: Adriana Seber (SP) Altacílio Aparecido Nunes (SP)
Clóvis Francisco Constantino (SP) Paulo Cesar Koch Nogueira (SP) Paulo Cesar Pinho Pinheiro (MG)
2º VICE-PRESIDENTE: Fabianne Altruda de M. Costa Carlesse (SP) Flávio Diniz Capanema (MG)
Edson Ferreira Liberal (RJ) DIRETORIA E COORDENAÇÕES: EDITOR DO JORNAL DE PEDIATRIA (JPED)
SECRETÁRIO GERAL: DIRETORIA DE QUALIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL Renato Procianoy (RS)
Sidnei Ferreira (RJ) Maria Marluce dos Santos Vilela (SP) EDITOR REVISTA RESIDÊNCIA PEDIÁTRICA
1º SECRETÁRIO: COORDENAÇÃO DO CEXTEP: Clémax Couto Sant’Anna (RJ)
Cláudio Hoineff (RJ) Hélcio Villaça Simões (RJ) EDITOR ADJUNTO REVISTA RESIDÊNCIA PEDIÁTRICA
2º SECRETÁRIO: COORDENAÇÃO DE ÁREA DE ATUAÇÃO Marilene Augusta Rocha Crispino Santos (RJ)
Paulo de Jesus Hartmann Nader (RS) Mauro Batista de Morais (SP) Márcia Garcia Alves Galvão (RJ)
3º SECRETÁRIO: COORDENAÇÃO DE CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL CONSELHO EDITORIAL EXECUTIVO
Virgínia Resende Silva Weffort (MG) José Hugo de Lins Pessoa (SP) Gil Simões Batista (RJ)
DIRETORIA FINANCEIRA: Sidnei Ferreira (RJ)
DIRETORIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Isabel Rey Madeira (RJ)
Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ) Nelson Augusto Rosário Filho (PR) Sandra Mara Moreira Amaral (RJ)
2ª DIRETORIA FINANCEIRA: REPRESENTANTE NO GPEC (Global Pediatric Education Consortium) Bianca Carareto Alves Verardino (RJ)
Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP) Ricardo do Rego Barros (RJ) Maria de Fátima Bazhuni Pombo March (RJ)
3ª DIRETORIA FINANCEIRA: REPRESENTANTE NA ACADEMIA AMERICANA DE PEDIATRIA (AAP) Sílvio da Rocha Carvalho (RJ)
Fátima Maria Lindoso da Silva Lima (GO) Sérgio Augusto Cabral (RJ) Rafaela Baroni Aurilio (RJ)
DIRETORIA DE INTEGRAÇÃO REGIONAL: REPRESENTANTE NA AMÉRICA LATINA COORDENAÇÃO DO PRONAP
Fernando Antônio Castro Barreiro (BA) Francisco José Penna (MG) Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida (SP)
Membros: DIRETORIA DE DEFESA PROFISSIONAL, BENEFÍCIOS E PREVIDÊNCIA Fernanda Luísa Ceragioli Oliveira (SP)
Hans Walter Ferreira Greve (BA) Marun David Cury (SP) COORDENAÇÃO DO TRATADO DE PEDIATRIA
Eveline Campos Monteiro de Castro (CE) DIRETORIA-ADJUNTA DE DEFESA PROFISSIONAL Luciana Rodrigues Silva (BA)
Alberto Jorge Félix Costa (MS) Sidnei Ferreira (RJ) Fábio Ancona Lopez (SP)
Analíria Moraes Pimentel (PE) Cláudio Barsanti (SP) DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA
Corina Maria Nina Viana Batista (AM) Paulo Tadeu Falanghe (SP) Joel Alves Lamounier (MG)
Adelma Alves de Figueiredo (RR) Cláudio Orestes Britto Filho (PB) COORDENAÇÃO DE PESQUISA
COORDENADORES REGIONAIS: Mário Roberto Hirschheimer (SP) Cláudio Leone (SP)
Norte: Bruno Acatauassu Paes Barreto (PA) João Cândido de Souza Borges (CE) COORDENAÇÃO DE PESQUISA-ADJUNTA
Nordeste: Anamaria Cavalcante e Silva (CE) COORDENAÇÃO VIGILASUS Gisélia Alves Pontes da Silva (PE)
Sudeste: Luciano Amedée Péret Filho (MG) Anamaria Cavalcante e Silva (CE) COORDENAÇÃO DE GRADUAÇÃO
Sul: Darci Vieira Silva Bonetto (PR) Fábio Elíseo Fernandes Álvares Leite (SP) Rosana Fiorini Puccini (SP)
Centro-oeste: Regina Maria Santos Marques (GO) Jussara Melo de Cerqueira Maia (RN)
Edson Ferreira Liberal (RJ) COORDENAÇÃO ADJUNTA DE GRADUAÇÃO
ASSESSORES DA PRESIDÊNCIA: Célia Maria Stolze Silvany (BA) Rosana Alves (ES)
Assessoria para Assuntos Parlamentares: Kátia Galeão Brandt (PE) Suzy Santana Cavalcante (BA)
Marun David Cury (SP) Elizete Aparecida Lomazi (SP) Angélica Maria Bicudo-Zeferino (SP)
Assessoria de Relações Institucionais: Maria Albertina Santiago Rego (MG) Silvia Wanick Sarinho (PE)
Clóvis Francisco Constantino (SP) Isabel Rey Madeira (RJ) COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Assessoria de Políticas Públicas: Jocileide Sales Campos (CE) Victor Horácio da Costa Junior (PR)
Mário Roberto Hirschheimer (SP) COORDENAÇÃO DE SAÚDE SUPLEMENTAR Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE)
Rubens Feferbaum (SP) Maria Nazareth Ramos Silva (RJ) Fátima Maria Lindoso da Silva Lima (GO)
Maria Albertina Santiago Rego (MG) Corina Maria Nina Viana Batista (AM) Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP)
Sérgio Tadeu Martins Marba (SP) Álvaro Machado Neto (AL) Jefferson Pedro Piva (RS)
Assessoria de Políticas Públicas – Crianças e Joana Angélica Paiva Maciel (CE) COORDENAÇÃO DE RESIDÊNCIA E ESTÁGIOS EM PEDIATRIA
Adolescentes com Deficiência: Cecim El Achkar (SC) Paulo de Jesus Hartmann Nader (RS)
Alda Elizabeth Boehler Iglesias Azevedo (MT) Maria Helena Simões Freitas e Silva (MA) Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP)
Eduardo Jorge Custódio da Silva (RJ) COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE GESTÃO DE CONSULTÓRIO Victor Horácio da Costa Junior (PR)
Assessoria de Acompanhamento da Licença Normeide Pedreira dos Santos (BA) Clóvis Francisco Constantino (SP)
Maternidade e Paternidade: Silvio da Rocha Carvalho (RJ)
DIRETORIA DOS DEPARTAMENTOS CIENTÍFICOS E COORDENAÇÃO Tânia Denise Resener (RS)
João Coriolano Rego Barros (SP) DE DOCUMENTOS CIENTÍFICOS
Alexandre Lopes Miralha (AM) Delia Maria de Moura Lima Herrmann (AL)
Dirceu Solé (SP) Helita Regina F. Cardoso de Azevedo (BA)
Ana Luiza Velloso da Paz Matos (BA)
Assessoria para Campanhas: DIRETORIA-ADJUNTA DOS DEPARTAMENTOS CIENTÍFICOS Jefferson Pedro Piva (RS)
Conceição Aparecida de Mattos Segre (SP) Lícia Maria Oliveira Moreira (BA) Sérgio Luís Amantéa (RS)
DIRETORIA DE CURSOS, EVENTOS E PROMOÇÕES Gil Simões Batista (RJ)
GRUPOS DE TRABALHO: Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck (SP) Susana Maciel Wuillaume (RJ)
Drogas e Violência na Adolescência: Aurimery Gomes Chermont (PA)
Evelyn Eisenstein (RJ) COORDENAÇÃO DE CONGRESSOS E SIMPÓSIOS
Ricardo Queiroz Gurgel (SE) Luciano Amedée Péret Filho (MG)
Doenças Raras: Paulo César Guimarães (RJ) COORDENAÇÃO DE DOUTRINA PEDIÁTRICA
Magda Maria Sales Carneiro Sampaio (SP) Cléa Rodrigues Leone (SP) Luciana Rodrigues Silva (BA)
Atividade Física COORDENAÇÃO GERAL DOS PROGRAMAS DE ATUALIZAÇÃO Hélcio Maranhão (RN)
Coordenadores: Ricardo Queiroz Gurgel (SE) COORDENAÇÃO DAS LIGAS DOS ESTUDANTES
Ricardo do Rêgo Barros (RJ) Edson Ferreira Liberal (RJ)
Luciana Rodrigues Silva (BA) COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE REANIMAÇÃO NEONATAL
Maria Fernanda Branco de Almeida (SP) Luciano Abreu de Miranda Pinto (RJ)
Membros:
Helita Regina F. Cardoso de Azevedo (BA) Ruth Guinsburg (SP) COORDENAÇÃO DE INTERCÂMBIO EM RESIDÊNCIA NACIONAL
Patrícia Guedes de Souza (BA) COORDENAÇÃO PALS – REANIMAÇÃO PEDIÁTRICA Susana Maciel Wuillaume (RJ)
Profissionais de Educação Física: Alexandre Rodrigues Ferreira (MG) COORDENAÇÃO DE INTERCÂMBIO EM RESIDÊNCIA INTERNACIONAL
Teresa Maria Bianchini de Quadros (BA) Kátia Laureano dos Santos (PB) Herberto José Chong Neto (PR)
Alex Pinheiro Gordia (BA) COORDENAÇÃO BLS – SUPORTE BÁSICO DE VIDA DIRETOR DE PATRIMÔNIO
Isabel Guimarães (BA) Valéria Maria Bezerra Silva (PE) Cláudio Barsanti (SP)
Jorge Mota (Portugal) COORDENAÇÃO DO CURSO DE APRIMORAMENTO EM NUTROLOGIA COMISSÃO DE SINDICÂNCIA
Mauro Virgílio Gomes de Barros (PE) PEDIÁTRICA (CANP) Gilberto Pascolat (PR)
Colaborador: Virgínia Resende S. Weffort (MG) Aníbal Augusto Gaudêncio de Melo (PE)
Dirceu Solé (SP) PEDIATRIA PARA FAMÍLIAS Isabel Rey Madeira (RJ)
Metodologia Científica: Luciana Rodrigues Silva (BA) Joaquim João Caetano Menezes (SP)
Gisélia Alves Pontes da Silva (PE) Coordenadores: Valmin Ramos da Silva (ES)
Cláudio Leone (SP) Nilza Perin (SC) Paulo Tadeu Falanghe (SP)
Oftalmologia Pediátrica Normeide Pedreira dos Santos (BA) Tânia Denise Resener (RS)
Coordenador: Fábio Pessoa (GO) João Coriolano Rego Barros (SP)
Fábio Ejzenbaum (SP) Maria Sidneuma de Melo Ventura (CE)
PORTAL SBP Marisa Lopes Miranda (SP)
Membros: Flávio Diniz Capanema (MG)
Luciana Rodrigues Silva (BA) CONSELHO FISCAL
Dirceu Solé (SP) COORDENAÇÃO DO CENTRO DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA Titulares:
Galton Carvalho Vasconcelos (MG) José Maria Lopes (RJ) Núbia Mendonça (SE)
Julia Dutra Rossetto (RJ) PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO CONTINUADA À DISTÂNCIA Nélson Grisard (SC)
Luisa Moreira Hopker (PR) Altacílio Aparecido Nunes (SP) Antônio Márcio Junqueira Lisboa (DF)
Rosa Maria Graziano (SP) João Joaquim Freitas do Amaral (CE) Suplentes:
Celia Regina Nakanami (SP) DOCUMENTOS CIENTÍFICOS Adelma Alves de Figueiredo (RR)
Pediatria e Humanidade: Luciana Rodrigues Silva (BA) João de Melo Régis Filho (PE)
Álvaro Jorge Madeiro Leite (CE) Dirceu Solé (SP) Darci Vieira da Silva Bonetto (PR)
Luciana Rodrigues Silva (BA) Emanuel Sávio Cavalcanti Sarinho (PE) ACADEMIA BRASILEIRA DE PEDIATRIA
João de Melo Régis Filho (PE) Joel Alves Lamounier (MG) Presidente: Mario Santoro Júnior (SP)
Transplante em Pediatria: DIRETORIA DE PUBLICAÇÕES Vice-presidente: Luiz Eduardo Vaz Miranda (RJ)
Themis Reverbel da Silveira (RS) Fábio Ancona Lopez (SP) Secretário Geral: Jefferson Pedro Piva (RS)

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