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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL

DE QUE MODO A PSICOPEDAGOGIA PODE CONTRIBUIR PARA A


EDUCAÇÃO DE SURDOS: DESAFIOS ATUAIS

TEXTO PRODUZIDO PARA A DISCIPLINA:


Surdez, Abordagem Bilíngue e a Intervenção Psicopedagógica

Aluna
Lucimara Fernandes

São Carlos
Julho/2019
DE QUE MODO A PSICOPEDAGOGIA PODE CONTRIBUIR PARA A
EDUCAÇÃO DE SURDOS: DESAFIOS ATUAIS

Resumo
Este texto busca apresentar uma reflexão sobre como a psicopedagogia pode contribuir
para a educação de surdos. A discussão segue os pressupostos que determinam os
documentos nacionais em torno da educação Inclusiva para Surdos e Ouvintes segundo a
perspectiva da Educação Bilíngue. Para o levantamento dos dados foram realizadas
consultas, de forma eletrônica, de publicações com abordagens sobre como podem
ocorrer as contribuições do psicopedagogo para o processo de ensino- aprendizagem da
pessoa surda. Nos resultados aponta-se a partir dos estudos analisada que a atuação do
psicopedagogo tem uma importante função de socializar os conhecimentos disponíveis,
promover o desenvolvimento cognitivo e possibilitar de forma significativa o processo de
ensino-aprendizagem do aluno surdo.
Palavras chaves: Educação. Surdos. Inclusão. Psicopedagogia

Introdução

A Psicopedagogia

A Psicopedagogia refere-se a uma área do conhecimento interligada com as áreas


da educação e da saúde e possui como objeto de estudo a aprendizagem humana. Tem
como objetivo compreender as evoluções normais e patológicos do processo de
aprendizagem, levando em conta a influência da família, da escola e do contexto social.
Busca realizar seu trabalho por meio de intervenções considerando a individualidade do
sujeito e comprometida com a melhora das condições de aprendizagem. Procura colocar
no mesmo patamar de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão
implícitos (BOSSA, 2007).

Envolve os conhecimentos de diversas áreas como: da psicologia, da pedagogia,


da psicanálise, da medicina, da linguística, da semiótica, da neuropsicologia, da
psicofisiologia e da filosofia humanista-existencial (VERCELLI, 2012).

O surgimento da psicopedagogia ocorreu na Europa com os primeiros estudiosos


dos processos de aprendizagem, filósofos, médicos e educadores do século XIX, que se
preocupavam em compreender os então denominados portadores de deficiências
sensoriais, de debilidade mental e de outros problemas comprometedores da
aprendizagem. Alguns nomes que se destacaram pela contribuição ao estudo e tratamento
de problemas de aprendizagem foram os educadores Itard Pereira, Pestalozzi e Seguin, o
professor de Psicologia Edouard Claparède, o neurologista François Neville, o psiquiatra
Esquirol e a psiquiatra Maria Montessori (YAEGASHI; GABRIEL, 2012).

No Brasil, a prática psicopedagógica começou a ser estruturada na década de 70 e


em 1979 foi criado o primeiro curso de Especialização em Psicopedagogia, no Instituto
Sedes Sapientiae, na cidade São Paulo. Na década de 80, foi criada a Associação
Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) e, a partir da década de 90, os cursos de
especialização em Psicopedagogia em programas de pós-graduação Latu Sensu foram
sendo ampliados em diversos estados no Brasil.

Na escola, o psicopedagogo trabalha com o aluno, pedagogo, orientadores e


professores. Seu objetivo é desenvolver metas cognitivas integradas ao afetivo,
direcionando o aluno para a aprendizagem dos conceitos formais e de assessoria junto aos
pedagogos, orientadores e professores (SANTOS, 2011).

Ainda em relação a possibilidade de atuação psicopedagógica, é no Atendimento


Educativo Especializado (AEE) que tem como público alvo as pessoas com deficiência,
entre elas os surdos.

Leis com objetivos de garantir direitos as pessoas surdas ganham espaços e, em


dezembro de 2000, é garantida a presença do intérprete de Libras e a correção
diferenciada de provas e avaliações escritas por alunos e candidatos surdos. A Lei nº
10.436, de 24 de abril de 2002, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais Libras como
meio legal de comunicação e expressão das comunidades surdas brasileiras,
reconhecendo, por conseguinte, seu sistema linguístico de natureza visual-motora e sua
estrutura gramatical própria. Essa Lei é regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 22 de
dezembro de 2005, após três anos de sua promulgação. O Decreto faz uma série de
determinações em relação ao ensino da Libras em cursos de licenciatura, de formação de
pedagogos, fonoaudiólogos e estabelece a formação necessária ao professor e instrutor de
Libras, ao intérprete de Libras, bem como define os prazos para que as determinações
entrem em vigor no país.
Entendo a definição de Deficiência Auditiva/Surdez

Segundo a definição de Deficiência Auditiva, descrita na lei nº 5.296/04, é “a


perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, comprovada por
audiograma nas frequências de 500 hertz, e 2.000 hertz”.

A Surdez por alguma alteração nas estruturas da orelha, ocasiona uma


incapacidade em perceber os sons. Geralmente o surdo se comunica através da Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS) e apresenta uma perda auditiva que pode ser severa ou
profunda (HONORA; FRIZANCO, 2009).

As dificuldades, apresentadas pelos surdos, como aponta Castro; Pedrosa (2005),


estão relacionadas a aquisição normal da linguagem oral que envolve a percepção de
fonemas, palavras, intensidade da voz e discriminação de sons. Como consequência
compromete os aspectos cognitivos, prejudicando a contextualização e abstração,
aspectos importantes para a aprendizagem.

A Educação do aluno surdo: aspectos históricos

No Brasil, tem-se informação de que em 26 de setembro de 1857, foi fundada a


primeira instituição para Surdos e que recebeu, na época, o nome de Imperial Instituto de
Surdos-Mudos, atualmente tem o nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos
(INES). A partir de então, os surdos passaram a contar om uma escola especializada para
a sua educação.

De acordo com Tenor (2008), nos últimos anos, cresceram muitos estudos sobre
o desenvolvimento pleno dos potenciais cognitivos, linguísticos, emocionais e sociais
para esses indivíduos. Uma variedade de métodos de trabalhos foram propostos no
decorrer da história da educação dos surdos, com o objetivo de atender as necessidades
especificas de ensino. Em1880 na cidade de Milão, reuniu surdos da Europa e dos EUA
e definiu como proposta de educação dos surdos a oralista.

Segundo como descreve Soares (1999), o oralismo tem como propósito favorecer
a compreensão e a produção da linguagem oral e considera que o surdo pode se constituir
como interlocutor por meio da linguagem oral.

Em 1971, quase cem anos depois, no Congresso Mundial de Surdos em Paris


foram discutidas a língua de sinais e também sobre a chamada “Filosofia da Comunicação
Total”.
De acordo Damázio (2007) a Comunicação Total pressupões a utilização de todo
e qualquer recurso possível para a comunicação e tem como objetivo favorecer as
interações sociais, considerando as áreas cognitivas, linguísticas e afetivas dos alunos.

A constatação de que o enfoque oralista deixava muito a desejar e a comunicação


gestual nunca deixou de existir entre os surdos, permitiu iniciar, dentro do processo
educativo dos surdos, uma nova abordagem educacional por meio do Bilinguismo.

As propostas educacionais do Bilinguismo começam a surgir a partir do Decreto


5.626/05 que regulamentou a lei de Libras. O Decreto descreve a organização de turmas
bilíngues, formadas por alunos surdos e ouvintes onde as duas línguas, Libras e Língua
Portuguesa são utilizadas no mesmo espaço educacional, definindo também que para os
alunos surdos a primeira língua é a Libras e a segunda é a Língua Portuguesa na
modalidade escrita, sugere que ocorra na formação inicial e continuada de professores a
formação de intérpretes para a tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa
(DAMÁZIO 2007).

A educação do surdo: contribuições da psicopedagogia e desafios atuais

Com o objetivo de uma reflexão mais aprofundada, serão apresentados três


estudos que tratam do tema da Surdez vinculada à área da Psicopedagogia.

O primeiro estudo, que tem como título “Um olhar psicopedagógico na inclusão
de um aluno surdo” (Oliveira, 2018), buscou verificar uma experiência ocorrida em sala
de aula do 1º Ano do Ensino Médio Profissionalizante (Técnico Subsequente de Petróleo
e Gás), na disciplina de Língua Portuguesa em que a autora atuou como professora de
Língua Portuguesa. Conteúdos e estratégias de ensino foram desenvolvidos para inclusão
de um aluno surdo, usando-se narrativas por imagens e apoio sistemático de intérprete de
Libras. Conclui ser importante a inserção do psicopedagogo no processo de inclusão na
instituição escolar, por seu olhar psicopedagógico integrador das diversas áreas que ajuda
o aluno a superar as suas dificuldades e junto à equipe escolar irá analisar, orientar,
motivar e integrar o grupo sempre tendo como foco o aluno.

O segundo estudo, que tem como título “ A contribuição do psicopedagogo escolar


na inclusão dos alunos surdos” (Oliveira, 2019), teve como objetivo principal analisar a
contribuição do psicopedagogo para a inclusão dos alunos surdos na rede municipal de
Uberlândia. A metodologia de estudo utilizada englobou uma pesquisa de natureza
bibliográfica e um estudo de caso. No estudo de caso, buscou compreender o grau de
conhecimento referente a temática surdez de duas psicopedagogas que foram
entrevistadas. Como resultados, a pesquisa apontou que os psicopedagogos devem se
aprimorar cada vez mais no tema inclusão para contribuírem de maneira significativa na
formação continuada dos professores.

O terceiro estudo, que tem como título “Deficiência auditiva e práticas


pedagógicas docentes: uma avaliação psicopedagógica” (Chaini; Frazão; Santana, 2012),
teve como objetivo conhecer o funcionamento e o desenvolvimento das funções lógicas
de um aluno com DA, investigando seu nível cognitivo e se havia defasagem em relação
à sua idade cronológica. Envolveu a aplicação de provas operatórias que teve como
objetivo determinar o nível de pensamento do sujeito realizando uma análise quantitativa;
técnicas projetivas com o objetivo de investigar os vínculos estabelecidos pelo
participante em três esferas: o escolar, o familiar e consigo mesmo. Segundo resultado, o
desenvolvimento cognitivo do participante é muito bom, principalmente no que se trata a
matemática. Dessa forma chegou-se à conclusão que a metodologia aplicada pelos
professores não favorece o aprendizado do menor, principalmente nas disciplinas
teóricas, que requerem mais leitura, no entanto, são mais auditivas. Ao final do estudo foi
solicitado à família avaliações com outros profissionais como, oftalmologista,
neurologista e fonoaudiólogo; além de conversas frequentes com os profissionais da
educação da escola onde o participante estuda.

Conclusões

Como pode-se observar, os estudos deixam claro a importância da atuação do


psicopedagogo no auxílio do processo de inclusão bilíngue, bem como na melhora do
desenvolvimento do surdo. E ainda, o diagnóstico psicopedagógico representa uma
ferramenta importante que possibilita identificar as causas das dificuldades escolares e
bloqueios que se apresentam o aluno e ainda, avalia as possibilidades dos mesmos.
REFERENCIAS

BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.


Porto Alegre: Artmed, 2007
BRASIL. Decreto Nº 5626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de
24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da
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