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Andreia

Azevedo

Deficiência Mental Psicopatologia


da Criança e
Adolescente

-
Considerações Gerais 2º Ano
2º Semestre

Maio
2008
Referências Bibliográficas

- Associação Americana de Psiquiatria (2000 / 2002). Manual de


Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 4ª Edição, Texto
revisto. Lisboa: CLIMEPSI.
- Carr, A. (2006). The handbook of child and adolescent clinical
psychology: A contextual approach. New York: Routledge.
- Luckasson, R., Borthwick-Duffy, S., Buntix, W., Coulter, D., et al. (2002).
Mental Retardation: Definition, Classification, and Systems of Supports
(10th Edition). Washington, DC: American Association on Mental
Retardation.
- Pacheco, D., & Valencia, R. (1993). A deficiência mental. In R. Bautista
(Ed.), Necessidades Educativas Especiais (pp. 209-223). Lisboa:Dinalivro.
“Redução permanente da capacidade intelectual que
impossibilita de prover à subsistência, à higiene
pessoal, de assumir responsabilidades pelos seus
actos, que limita na via social, que faz carecer de
tutor, de acompanhamento e de vigilância.
A pessoa com deficiência mental deve ser educada e
viver na comunidade com programas e apoios
especiais.”
(Carta dos Direitos do Cidadão com Deficiência Mental)
Diagnóstico
• Funcionamento intelectual global significativamente inferior à
média (QI aproximadamente de 70 ou inferior)
+
• Défices ou limitações no funcionamento adaptativo
(ex. a eficácia do sujeito em corresponder aos padrões esperados para a
sua idade e para o seu grupo cultural) em pelo menos duas das
seguintes áreas: comunicação, cuidados próprios, vida familiar, aptidões
sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, auto-controlo,
aptidões escolares funcionais, trabalho, tempos livres, saúde e
segurança
(Associação Americana de Deficiência Mental, Luckasson et al., 2002; DSM-TR-IV, 2002)

• Início antes dos 18 anos


Graus de severidade da DM
• 4 Graus de severidade – Grau de incapacidade intelectual:
– Deficiência Mental Ligeira (QI entre 50/55 e 70)
– Deficiência Mental Moderada (QI entre 35/40 e 50/55)
– Deficiência Mental Grave (QI entre 20/25 e 35/40)
– Deficiência Mental Profunda (QI inferior a 20 ou 25)

– Deficiência Mental, gravidade não especificada: forte suspeita de DM


(crianças muito pequenas ou sujeitos muito incapacitados - dificultam uso
de testes convencionais)
Características Clínicas
Deficiência Mental Ligeira
• Equivalente à categoria pedagógica de “educável”;

• Desenvolvem tipicamente competências sociais e de comunicação durante


os anos pré-escolares (dos 0 aos 5 anos de idade);

• Têm deficiências mínimas nas áreas sensoriomotoras e, muitas vezes, não


se distinguem das crianças da mesma idade cronológica até idades
posteriores;

• Podem adquirir conhecimentos académicos ao nível do 9.º ano de


escolaridade;

• Durante a vida adulta poderão adquirir competências sociais e vocacionais


adequadas a uma autonomia mínima, mas podem necessitar de apoio,
orientação e assistência quando estão sob stress social ou económico fora do
habitual;

• Com apoios adequados poderão viver normalmente na comunidade, quer de


modo independente quer em lares protegidos.
Deficiência Mental Moderada

• Equivalente à categoria pedagógica de “treinável”;

• Podem adquirir competências de comunicação durante os anos pré-


escolares;

• Podem beneficiar de treino laboral, e, com uma supervisão, adquirirem uma boa
autonomia;

• Podem beneficiar de um treino de competências e ocupacionais, mas têm


pouca probabilidade de ultrapassar o 2.º ano de Escolaridade;

• Podem aprender e viajar de forma independente em locais familiares;

• Na adolescência, as suas dificuldades em reconhecer as convenções


sociais podem interferir nas suas relações com os colegas;

• Na idade adulta, a maioria pode, sob supervisão, realizar trabalhos não


especializados ou semiespecializados, em oficinas protegidas ou até no mercado
geral de trabalho.

• Em contextos supervisionados adaptam-se bem à vida em comunidade.


Deficiência Mental Grave

• Durante os primeiros anos na infância adquirem pouca ou


nenhuma linguagem comunicativa.

• Na idade pré-escolar podem aprender a falar e a contar, como


adquirir habilidades de higiene elementares.

• Podem aprender a ler algumas palavras através de imagens.

• Na idade adulta, podem realizar algumas tarefas em ambientes


protegidos com uma supervisão permanente.
Deficiência Mental Profunda

• Necessitam de um apoio individualizado e sistemático.

• Durante a primeira infância manifestam um défice no


desenvolvimento sensorimotor.

• Com um treino adequado poderão melhorar as suas


capacidades de comunicação e de cuidados próprios.
Classificação com base no tipo e intensidade de suportes
e serviços requeridos (“PADRÕES DE INTENSIDADE E APOIOS
NECESSÁRIOS” – Associação Americana de Deficiência Mental,
1992; cit. por Luckasson et al., 2002):

Pervasiva

Extensiva

Limitada

Intermitente
Aspectos desenvolvimentais
• RN:
– Síndromes (ex. S. De Down), hipotonia, dificuldades na sucção
• 1º ano:
– Hipotonia, menor resposta a estímulos sonoros e visuais,
relação com outros, jogo
• 2º e 3º anos:
– Atraso em 1 ou mais áreas (ex. linguagem)
– Problemas de comportamento
• 4º e 5º anos:
– Atraso na linguagem
– Problemas de comportamento
– Dificuldades no desempenho académico
Dados Epidemiológicos
• Entre 1 a 3% (Fryers, 2000; Volkmar & Dykens,
2002; cit. por Carr, 2006)
• 1% - DSM-TR-IV (APA, 2002)

• DM ligeira – 85%
• DM moderada – 10%
• DM severa – 3-4%
• DM profunda – 1-2%
• Mais frequente nos sujeitos de sexo masculino,
numa proporção 5:1
DM Ligeira DM Severa
Incidência 2,5% 0,5%
Idade de 8-10 1º ano
diagnóstico
Estabilidade do QI Baixa Elevada
Recorrência Comum Rara
familiar
Síndromes, Rara Comum
malfomações
Convulsões, Raros Comuns
problemas
neurológicos
Etiologia Menos de 50% Mais de 75%
conhecida
Comorbilidade

•3 a 4 vezes mais que a população em geral

• Problemas psiquiátricos (por vezes o diagnóstico é

dificultado pela associação à DM): PHDA, Perturbação de

Humor, Perturbação Global do Desenvolvimento (ex.

Autismo), Perturbação de Movimentos Estereotipados;

Perturbações Mentais Secundárias a um Estado Fisíco Geral

– ex. Demência devido a Traumatismo)

• Outros Problemas associados: P. Cerebral, Epilepsia, Défice

auditivo e visual, ...


Diagnóstico Diferencial

- Perturbações da Aprendizagem ou Perturbações da


Comunicação (não existe um défice generalizado do
desenvolvimento intelectual e adaptativo)
- Perturbações do Espectro do Autismo
- PHDA
- Epilepsia (“ausências”)
- Funcionamento Intelectual Estado-Limite
Etiologia
ETIOLOGIA - FACTORES PREDISPONENTES
• Etiologia Heterógenea; existe etiologia desconhecida; em 30 a 40%
dos casos não é possível determinar de forma clara a etiologia:
Principais Factores Predisponentes
- Hereditariedade: erros inatos de metabolismo; anomalias num único gene (ex.
esclerose tuberosa), aberrações cromossómicas (ex. Síndrome de Down por
translocação, X-Frágil)
- Alterações precoces do desenvolvimento embrionário: alterações
cromossómicas (ex. Síndrome de Down devido a trissomia 21), lesões pré-natais
por toxinas (ex. consumo materno de álcool, drogas, infecções)
- Influências ambientais: privação de cuidados, de estimulações sociais e
linguísticas
- Perturbações mentais: perturbação autística e outras perturbações globais do
desenvolvimento
- Problemas na gravidez e perinatais: má nutrição fectal, prematuridade,
infecções virais (toxoplasmose, citomegalovírus), traumatismos
- Estados fisícos gerais adquiridos na infância: infecções (ex.meningite,
encefalite), traumas e envenenamento (ex. chumbo), doenças degenerativas
Avaliação
- Processo de avaliação multidisciplinar

(pediatria, neurologia, psiquiatria, psicologia, professores,

terapeuta da fala, terapia ocupacional, ...).

- Procedimentos de despiste pós-natal (ex. fenilcetonúria;

síndromes especifícos, comorbilidades - PREVENÇÃO) –

avaliações do desenvolvimento
- O Funcionamento Intelectual Global é definido por um
quociente de inteligência (QI). O QI é avaliado com base em
um ou mais Testes de Inteligência:
- Escala de Inteligência de Weschler Revista para as
Crianças, 3ªedição; Cegoc-Tea / 2003 (WISC-III)

- Funcionamento Adaptativo:
- Escala de comportamento adaptativo de Vineland
(Sparow, Balla, & Cicchetti, 1984)
Intervenção
• Multidisciplinar (Psicólogo como parte de uma
equipa de médicos, professores, terapeutas),
Precoce e Ecológica (contexto).
• Áreas principais (Carr, 2006):
– Psicoeducação
– Organização e estruturação dos apoios/suportes necessários (criar
situações de aprendizagem positivas) – Reavaliação periodica
– Treinos de competências sociais, competências que visem a
autonomia, terapia ocupacional, terapia da fala (tratar défices
associados; integração social)
– Suporte e estratégias para lidar com os comportamentos
associados e comorbilidades
– Aconselhamento nos períodos de transição fundamentais do ciclo
da vida. Suporte à família (lidar com o processo de luto a “criança
idealizada”)

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