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TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO

Tipicamente se manifestam bem cedo, antes mesmo da entrada na escola. É


frequente a ocorrência de mais de 1 transtorno do neurodesenvolvimento.

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

(transtorno do desenvolvimento intelectual)

● Déficits em capacidades mentais genéricas (raciocínio, solução de


problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem
acadêmica e pela experiência.
● Os déficits resultam em prejuízos no funcionamento adaptativo.

Características Associadas:

● É uma condição com múltiplas causas.


● Múltiplas dificuldades: juízo social, autocontrole do comportamento,
avaliação de riscos, motivação na escola ou trabalho.
● Também pode haver risco de suicídio.

Prevalência:

● Prevalência geral: 1%.


● Deficiência intelectual grave é 6:1000.
● O sexo masculino tem mais propensão que o feminino.

Curso:

● Atrasos no desenvolvimento (motor e linguagem) podem ser identificados


nos primeiros 2 anos, nos casos graves.
● Nos níveis leves, na idade escolar.
● Em geral, não é progressiva. Pode perdurar por toda a vida, ainda que os
níveis de gravidade possam mudar ao longo do tempo.
● Intervenções precoces e contínuas melhoram o funcionamento
adaptativo.
Critérios Diagnósticos - Deficiência Intelectual

a) Déficits em funções intelectuais como raciocínio, solução de problemas,


planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e
aprendizagem pela experiência confirmados tanto pela avaliação clínica
quanto por testes de inteligência padronizados e individualizados.

b) Déficits em funções adaptativas que resultam em fracasso para atingir


padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação a independência
pessoal e responsabilidade social. Sem apoio continuado, os déficits de
adaptação limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diárias,
como comunicação, participação social e vida independente, e em
múltiplos ambientes, como em casa, na escola, no local de trabalho e na
comunidade.​

c) Início dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período do


desenvolvimento.

Inteligência:
● Quociente de Inteligência (QI): representação numérica da inteligência.
● QI: capacidade intelectual global que envolve habilidades específicas,
tanto verbais quanto não verbais.
● O modelo Cattel-Horn-Carroll (CHC) de inteligência.

Funcionamento Adaptativo:

● Conceitual: Acadêmico. Competência em memória, linguagem, leitura,


escrita, raciocínio matemático, aquisição de conhecimentos práticos,
solução de problemas e julgamento em situações novas.
● Social: Percepção de pensamentos, sentimentos e experiências dos
outros, empatia, habilidades de comunicação interpessoal, para fazer
amizades e julgamento social.
● Prático: Aprendizagem e autogestão (cuidados pessoais,
responsabilidades profissionais, gestão financeira, organização de
tarefas…).
Testes mais utilizados:
● Teste de Desempenho Escolar.
● WISC IV
● WAIS III

WISC-IV

● WISC IV: Escala Wechsler de Inteligência para Crianças.


● Faixa etária: 6 anos e 0 meses até 16 anos e 11 meses.
● Fornece o QI total.
● 4 escores de índices fatoriais: índice de compreensão verbal (ICV), índice
de organização perceptual (IOP), índice de memória operacional (IMO) e
índice de velocidade de processamento (IVP).
Raciocínio Clínico

● Escores de QI são aproximações do funcionamento conceitual, mas


podem ser insuficientes para a avaliação do raciocínio em situações de
vida real e do domínio de tarefas práticas.

● O julgamento clínico é necessário para a interpretação.

Fatores de Risco

● Genéticos e fisiológicos: Etiologias pré-natais incluem síndromes


genéticas, erros inatos do metabolismo, malformações encefálicas, doença
materna e influências ambientais. Causas perinatais incluem uma gama
de eventos no trabalho de parto e no nascimento que levam a
encefalopatia neonatal. Causas pós-natais incluem lesão isquêmica
hipóxica, lesão cerebral traumática, infecções, doenças desmielinizantes,
doenças convulsivas, privação social grave e crônica, síndromes
metabólicas tóxicas e intoxicações.​

Marcadores Diagnósticos:

● Avaliação da capacidade intelectual e do funcionamento adaptativo.

● Identificação de etiologias genéticas e não genéticas.


● Avaliação da existência ou não de condições médicas associadas
(epilepsia, paralisia cerebral).
● Avaliação de transtornos mentais, emocionais e comportamentos
comórbidos.
● História médica pré-natal e perinatal.
● Genograma familiar (3 gerações)
● Exames físicos.
● Avaliação genética (cariótipo ou análise cromossômica por microarray e
testes para detecção de síndromes genéticas específicas).
● Triagem metabólica e investigação por neuroimagem.

Diagnóstico Diferencial

● Transtorno Neurocognitivo maior ou leve: Nestes transtornos ocorrem a


perda do funcionamento cognitivo (Alzheimer, TCE e etc). Pode ser
concomitante.

● Transtornos da Comunicação e específico da Aprendizagem: Não tem


déficits no comportamento intelectual e adaptativo.
● Transtorno do Espectro Autista: É uma comorbidade comum.

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Espectro: tem a ver com a variabilidade de sinais e sintomas que podem


aparecer de um modo diversificado. Cada pessoa com TEA têm seus
sintomas próprios, que dependem de vários fatores, ou seja: nenhum
autista é igual ao outro.

Características Associadas

● Há prejuízo no funcionamento diário.


● Atenção compartilhada prejudicada. (criança ñ compartilha os
interesses dela)
● Preferência por atividades solitárias ou com pessoas muito mais
jovens ou muito mais velhas.
● Estereotipias motoras simples, uso repetitivo de objetos e fala
repetitiva.
● Adesão excessiva a rotinas, resistência a mudanças. Padrões
ritualizados.
● Aparente indiferença à dor, calor ou frio.
● Restrições alimentares.
● A discrepância entre habilidades adaptativas e intelectuais
costumam ser grandes.
● Déficits motores são frequentes.
● Comportamento de auto lesão.
● Ausência de brincadeiras típicas.
● Os sintomas comumente atrapalham a aprendizagem.

Prevalência
● Afeta 1% da população.
● É 4x mais frequente no sexo masculino do que no feminino.
● As meninas têm mais propensão a ter comorbidade com deficiência
intelectual.
Curso
● Os sintomas costumam ser reconhecidos durante o segundo ano de vida
(12 a 24 meses).
● Geralmente procuram por atrasos no desenvolvimento, comumente atraso
na linguagem.
● Não é um transtorno degenerativo.
● Os sintomas são mais acentuados na infância e nos primeiros anos de vida
escolar.
● Uma minoria trabalha e vive de forma independente na vida adulta. Quase
nada se sabe sobre a velhice.
● Histórico de amizades normais e boas habilidades não verbais na infância
descartam o transtorno.
Fatores de Risco:
● Ambientais: Idade parental avançada, baixo peso ao nascer, exposição fetal
a ácido valpróico.
● Genéticos: Há uma mutação genética conhecida, estimativa de
herdabilidade de 37 a 90%.

Critérios Diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista.


Diagnóstico Diferencial
1. Síndrome de Rett:
● É um distúrbio neurológico causado por um problema genético que
ocorre quase exclusivamente em mulheres e afeta o desenvolvimento
após um período inicial de 6 meses de desenvolvimento normal.
● Inclui perda das habilidades manuais voluntárias, movimentos manuais
repetitivos (como torcer, entrelaçar ou friccionar as mãos), perda da
linguagem falada e anormalidades da marcha, incluindo andar nas pontas
dos pés ou marcha instável com a base alargada e pernas rígidas.​
● Uma ruptura da interação social pode ser observada durante a fase
regressiva da síndrome de Rett (entre 1 e 4 anos de idade), o que pode
confundir com autismo. Depois desse período, a maioria dos indivíduos
com síndrome de Rett melhora as habilidades de comunicação social.

2. Mutismo seletivo: O desenvolvimento precoce não costuma estar


acometido e apresenta habilidades comunicacionais adequadas em
alguns contextos. A reciprocidade social não se mostra prejudicada, nem
estão presentes padrões de comportamento restritivos ou repetitivos.​
3. Transtornos da linguagem e da comunicação social: Não costuma estar
associado à comunicação não verbal e não possui padrões de
comportamento restritivos e repetitivos.​

4. Deficiência intelectual: Envolve prejuízo geral no funcionamento


intelectual; não há discrepância entre o nível de habilidades
sociocomunicativas e outras habilidades intelectuais. Um diagnóstico de
autismo em um indivíduo com deficiência intelectual é apropriado
quando a comunicação e a interação social estão significativamente
prejudicadas em relação ao nível de desenvolvimento das habilidades não
verbais do indivíduo.​

5. Transtorno do movimento estereotipado: Estereotipias motoras estão


entre as características diagnósticas do autismo. Um diagnóstico adicional
de transtorno do movimento estereotipado não é feito quando tais
comportamentos repetitivos são mais bem explicados pela presença de
autismo. Quando as estereotipias causam autolesão e se tornam um foco
do tratamento, os dois diagnósticos podem ser apropriados.​

6. TDAH: A comorbidade deve ser considerada quando dificuldades


atencionais ou hiperatividade excedem o tipicamente encontrado em
indivíduos com idade mental compatível.​

7. Esquizofrenia: Presença de quadros de alucinações ou delírios, que não


são característicos do espectro autista.

Comorbidade:
● 70% dos casos possuem um transtorno comórbido.
● 40% têm dois ou mais transtornos comórbidos.
TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
Características principais
● Desatenção: Dificuldade em manter o foco e desorganização. Não por falta
de compreensão!
● Hiperatividade: Atividade motora excessiva. Inquietude extrema em
adultos.
● Impulsividade: Ações precipitadas.

Características Associadas
● Baixa tolerância à frustração.
● Irritabilidade ou labilidade do humor.
● Mesmo na ausência de um transtorno específico da aprendizagem, o
desempenho acadêmico e profissional costuma ser prejudicado.
● Risco aumentado de tentativa de suícidio, principalmente quando em
comorbidade com transtorno de humor, conduta e uso de substâncias.

Fatores de Risco
● Ambientais: Muito baixo peso ao nascer (< 1,500kg ), tabagismo e
alcoolismo na gestação, exposição a neurotoxina, infecções.
● Genéticos: É frequente em parentes de primeiro grau.

Prevalência
● 5% das crianças.
● 2,5% em adultos.
● É mais prevalente no sexo masculino, proporção de 2:1 nas crianças e 1,6:1
em adultos.
● Nas meninas é comum a desatenção.

Curso
● Hiperatividade já chama atenção quando a criança começa a andar, mas é
difícil de distinguir do comportamento normal antes dos 4 anos de idade.
● Diagnosticado com mais frequência no ensino fundamental.
● Sintomas de hiperatividade ficam menos claros na adolescência e vida
adulta, persistem os sintomas de desatenção e impulsividade.
● O transtorno pode evoluir para comportamentos antissociais na
adolescência.

Determinar o subtipo

● Apresentação combinada: Se tanto o Critério A1 (desatenção) quanto o


Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) são preenchidos nos últimos 6
meses.

● Apresentação predominantemente desatenta: Se o Critério A1


(desatenção) é preenchido, mas o Critério A2
(hiperatividade-impulsividade) não é preenchido nos últimos 6 meses.

● Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva: Se o Critério A2


(hiperatividade-impulsividade) é preenchido, e o Critério A1 (desatenção)
não é preenchido nos últimos 6 meses.

● Em remissão parcial: Quando todos os critérios foram preenchidos no


passado, nem todos os critérios foram preenchidos nos últimos 6 meses, e
os sintomas ainda resultam em prejuízo no funcionamento social,
acadêmico ou profissional.

Especificar a gravidade atual

1. Leve: Poucos sintomas, se algum, estão presentes além daqueles


necessários para fazer o diagnóstico, e os sintomas resultam em não mais
do que pequenos prejuízos no funcionamento social ou profissional.

2. Moderada: Sintomas ou prejuízo funcional entre “leve” e “grave” estão


presentes.

3. Grave: Muitos sintomas além daqueles necessários para fazer o


diagnóstico estão presentes, ou vários sintomas particularmente graves
estão presentes ou os sintomas podem resultar em prejuízo acentuado no
funcionamento social ou profissional.
▪ Transtorno de oposição desafiante: O comportamento se caracteriza por
hostilidade, negatividade e desafio. É intencional! O TDAH pode ter aversão às
atividades devido à sua dificuldade em manter o foco ou um esforço mental
prolongado.

▪ Transtorno explosivo intermitente: Compartilham do comportamento


impulsivo. Porém a agressividade dirigida aos demais não é característico do
TDAH. E o TEI não possui dificuldade em manter a atenção e também é raro
na infância.

▪ Outros transtornos do neurodesenvolvimento: A atividade motora aumentada


do TDAH é generalizada, diferente dos movimentos estereotipados do
autismo e do transtorno do movimento estereotipado.

▪ Transtorno específico da aprendizagem: Essas crianças podem parecer


desatentas devido à frustração, entretanto, a desatenção não aparece fora do
contexto escolar.
▪ Deficiência intelectual: Sintomas de TDAH são comuns entre crianças
colocadas em ambientes acadêmicos inadequados à sua capacidade
intelectual. Nesses casos, os sintomas não são evidentes durante tarefas não
acadêmicas. Um diagnóstico de TDAH na deficiência intelectual exige que
desatenção ou hiperatividade sejam excessivas para a idade mental.

▪ Transtorno de ansiedade: Também apresenta sintomas de desatenção e


hiperatividade, mas é devido à preocupação e ruminação.

▪ Transtornos depressivos: Também apresenta dificuldade para se concentrar,


mas este sintoma está presente somente nos episódios de humor.

▪ Transtorno bipolar: Apresenta desatenção. Hiperatividade e impulsividade,


mas durante os episódios de humor. É raro em crianças e adolescentes,
diferente do TDAH.
▪ Transtorno por uso de substâncias: Se os sintomas de desatenção e
hiperatividade ocorrerem depois do uso. Os sintomas de TDAH costumam
aparecer antes, ainda na infância.
▪ Transtornos da personalidade: Borderline e narcisista possuem muitas
características comuns (desorganização, intrusão social, desregulação
emocional e desregulação cognitiva), porém se acrescenta o medo do
abandono, autolesão, ambivalência extrema. Uma observação prolongada
pode ser necessária para o diagnóstico diferencial.

▪ Transtornos psicóticos: O TDAH não pode ser diagnosticado se os sintomas de


desatenção e hiperatividade aparecerem exclusivamente durante um surto
psicótico.

▪ TDAH induzido por medicamentos: Comum em medicamentos como


repositores para a tireóide, broncodilatadores e neurolépticos (antipsicóticos).

▪ Transtornos neurocognitivos: Início tardio!

Comorbidade

▪ Transtorno de oposição desafiante: Em metade das crianças.

▪ Transtorno de conduta: ¼ das crianças e adolescentes.

▪ Entre diversos outros transtornos...

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