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Acidente de Goiâ nia com o Cé sio 137

Fato histórico;

 O acidente foi resultado de uma peça de uma máquina de


radiologia retirada por dois catadores de materiais recicláveis
em uma clínica abandona no Centro de Goiânia.

 A peça foi retirada em 13 de setembro de 1987, e seu


desmonte parcial se deu a partir daí.

 Dias depois, a peça foi revendida para Devair Ferreira, que a


abriu por completo, contando com o cilindro que guardava o
Césio-137.

 A descoberta do acidente foi feita pelo físico Walter Mendes, e


o trabalho de contenção retirou seis mil toneladas de lixo
nuclear de Goiânia.

 Mais de 110 mil pessoas foram examinadas, e quatro


morreram pelo contato com a radiação.

 O acidente com o Césio-137 em Goiânia foi um acidente


radiológico que aconteceu na capital de Goiás, em 13 de
setembro de 1987. Deu-se por meio de contaminação
com radioatividade que ocorreu nessa cidade, e até hoje é
o maior acidente radiológico que já houve no planeta.
 Além disso, o acidente com Césio-137 em Goiânia foi um
dos piores episódios de contaminação com radioatividade
da história, sendo o maior acidente do tipo acontecido fora
de uma usina nuclear. Por conta dele, quatro pessoas
morreram, vítimas do contato com elevados níveis de
radiação, e, no total, 249 pessoas registraram alta
contaminação.
 O acidente com material radioativo que aconteceu em
Goiânia foi classificado como nível 5. Essa classificação faz
parte da Escala Internacional de Acidentes Nucleares (que
classifica acidentes nucleares) e vai do nível 0 ao 7. Assim,
a exposição do Césio-137 em Goiânia foi classificada como
acidente com consequências de longo alcance.
O acidente aconteceu quando dois catadores de materiais
recicláveis entraram no prédio de uma clínica de radioterapia
que estava abandonada. Essa clínica era o Instituto Goiano
de Radioterapia, que ficava localizado no Centro de Goiânia.
No interior dela, havia uma máquina de radioterapia que,
apesar de abandonada, ainda estava com a sua cápsula com
material radioativo no seu interior.
Os catadores se chamam Wagner Pereira e Roberto Alves, e
ambos decidiram desmontar a máquina para pegar as peças
de chumbo a fim de revendê-las. A parte superior da máquina
foi separada e levada para um ferro velho, para que eles
pudessem trabalhar no desmonte dela e separar suas partes
de chumbo e aço.
Depois de cinco dias de trabalho com a peça, Pereira e Alves
levaram o restante dela para outro catador de materiais
recicláveis: Devair Ferreira. Eles revenderam o que não lhes
interessava para Ferreira, que abriu toda a cápsula e
averiguou o seu interior.
Pereira e Alves já haviam tido contato com a radiação ao
mexer na cápsula, mas foi Devair Pereira quem a abriu
completamente e expôs por inteiro o material radioativo que
tinha em seu interior: 19 gramas de Césio-137. Ferreira se
impressionou com um efeito do pó no interior da cápsula: ele
brilhava no escuro.
Após abrir o cilindro que continha o Césio-137. Ferreira levou o
material para a sua casa e convidou diversos amigos,
familiares e vizinhos para que eles pudessem ver como ele
brilhava no escuro. Durante dias, dezenas de pessoas foram
expostas à radiação, e muitas delas tiveram contato direto
com o Césio, até mesmo passando-o em seu corpo.
Dessa forma, as pessoas que tiveram contato com o material
radioativo, incluindo Roberto Alves, Wagner Pereira e Devair
Ferreira, começaram a passar mal. Os sintomas eram os
mesmos, e todos sofriam de diarreias, vômitos, queda de cabelo,
tonteira etc. A princípio, os médicos e os próprios catadores
acreditavam que estavam sentindo os efeitos de uma intoxicação
alimentar.
Os sintomas foram se agravando, e logo Maria Gabriela
Ferreira, esposa de Devair Ferreira, suspeitou que a doença que
os acometia poderia ter alguma relação com o material brilhoso
com que todos haviam tido contato. Ela então pegou o cilindro e o
levou, de ônibus, para a Vigilância Sanitária.
A quantidade de pessoas doentes com os mesmos sintomas
chamou a atenção dos médicos sobre uma possível
contaminação com radiação. Foi então que os médicos
acionaram o físico Walter Mendes Ferreira para que ele
pudesse examinar o cilindro que estava guardado na Vigilância
Sanitária.
Walter Mendes atendeu a chamada, e, quando chegou à
Vigilância Sanitária, seus aparelhos já identificaram altos níveis
de radiação. Após um momento de hesitação, Mendes concluiu
que os níveis de radiação no local onde estava o cilindro estavam
muito elevados e que seus aparelhos de medição estavam
corretos. Ele, inclusive, impediu que um bombeiro descartasse o
cilindro em um rio da capital goiana.
Walter Mendes acionou a Comissão Brasileira de Energia
Nuclear (CNEN), e logo foi iniciado o processo de contenção de
danos. Um grande trabalho foi realizado em Goiânia para
identificar os locais contaminados, e foi percebido que vários
locais da cidade, sobretudo no Centro, estavam com elevados
índices de contaminação.
Isso aconteceu porque a exposição da radiação por mais de 15
dias fez com que ela se espalhasse por diferentes partes da
cidade. Vários locais passaram por uma intensa
descontaminação, e as casas onde residiam Wagner Pereira e
Devair Ferreira, por exemplo, foram totalmente demolidas. Os
operários que fizeram a limpeza desses locais escavaram-nos em
uma profundidade de mais de 60 centímetros, e cada buraco foi
preenchido com concreto.
Ao todo, estima-se que seis mil toneladas de material
contaminado foram retiradas da capital, depositadas em
tambores e enterradas em uma sede da CNEN em Abadia de
Goiás, cidade que fica a cerca de 20 quilômetros de Goiânia. Na
época, o pânico se espalhou no estado, e muitos temiam ir ao
Centro de Goiânia. Muitos moradores de Abadia se revoltaram
com o fato de que o lixo radioativo seria enterrado na cidade.
Além de cuidar do lixo nuclear e realizar o trabalho de
descontaminação, a contenção de danos analisou milhares de
pessoas para encontrar as que haviam sido contaminadas com a
radiação. Na época, o governo de Goiás utilizou o espaço
do Estádio Olímpico, no Centro e bem próximo dos locais onde
houve a contaminação, para aglomerar todos os que estavam
sob suspeita.
As pessoas contaminadas ficaram isoladas em acampamentos
construídos no estádio, passaram por testagens regulares e
tomaram remédios para se descontaminarem. Ao todo, mais
de 110 mil pessoas foram analisadas, e, dessas, 249 foram
identificadas como contaminadas com radiação.
Algumas dessas pessoas estavam tão contaminadas que se
tornaram focos de contaminação, ou seja, o contato com elas se
tornou perigoso. Os que tiveram sintomas e contaminação leves
ficaram em quarentena nos acampamentos construídos no
estádio, mas os casos mais graves foram enviados para hospitais
de Goiânia e do Rio de Janeiro.
Entre os 249 contaminados, 129 tiveram rastros da substância
interna e externamente em seus corpos, 49 foram internados em
hospitais, e 20 precisaram de atendimento médico intensivo.
O acidente com Césio-137 resultou em quatro vítimas fatais
diretas. A primeira e mais conhecida delas foi a menina Leide
das Neves Ferreira, sobrinha de Devair Ferreira. Ela chegou a
ingerir alimentos com as mãos sujas de Césio-137, e faleceu no
Rio de Janeiro, onde esteve em tratamento, no dia 23 de outubro
de 1987.
Ela foi enterrada em Goiânia e em um caixão de chumbo, e seu
enterro foi cercado de polêmica, uma vez que dezenas de
pessoas se reuniram no cemitério para impedir que ela fosse
enterrada ali. As pessoas temiam que o enterro de Leide das
Neves pudesse contaminar todo o cemitério. Pedras e paus
foram lançados enquanto o caixão dela era enterrado.
As outras vítimas foram Maria Gabriela, esposa de Ferreira,
e Israel Baptista e Admilson Alves, ambos funcionários do
ferro-velho de Ferreira. Todos os quatro morreram em outubro de
1987. Houve ainda centenas de pessoas que acumularam
sequelas por conta do contato com a radiação, muitas inclusive
lutam na Justiça para ser indenizadas pelo Estado.
Devair e Ivo Ferreira (irmão daquele e pai de Leide das Neves)
sobreviveram, mas se tornaram homens depressivos por conta
da culpa que sentiram pelo acidente. O primeiro morreu em 1994,
e depois do acidente tornou-se alcoólatra, sendo vítima de
cirrose, embora tivesse câncer quando faleceu. Já o segundo
adquiriu vício em cigarro e morreu, em 2003, vítima de enfisema
pulmonar.
No ano de 1996, a Justiça julgou e condenou por homicídio
culposo (quando não há intenção de matar) três sócios e funcionários
do antigo Instituto Goiano de Radioterapia a três anos e dois meses de
prisão, pena que foi substituída por prestação de serviços.
Atualmente, as vítimas reclamam da omissão do governo para a
assistência tanto médica como de medicamentos. Para tentar resolver
a situação, eles fundaram a associação de Vítimas Contaminadas por
Césio-137 e lutam contra o preconceito ainda existente.
O acidente com Césio-137 foi o maior acidente radioativo do Brasil e
o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares.

Consequências para a saúde e para o meio ambiente;

Após o acidente, moradores buscaram vender suas moradias e deixar o local.


Entretanto, seus imóveis tiveram o valor reduzido pelo medo da população da
existência de radiação no ar.] Além da desvalorização dos imóveis, por muito
tempo a população local sofreu discriminação devido ao medo de que a
radiação fosse contagiosa, dificultando o acesso aos serviços, educação e
viagens. Houve também uma queda significativa de estabelecimentos
comerciais na região.

 Leide das Neves Ferreira, de 6 anos (6,0 Gy, 600 REM), era filha de Ivo
Ferreira e foi a vítima com a maior dose de radiação do
acidente. Inicialmente, quando uma equipe internacional chegou a tratá-la,
ela estava confinada a um quarto isolado no hospital porque os funcionários
estavam com medo de chegar perto dela. Ela desenvolveu gradualmente
inchaço na parte superior do corpo, perda de cabelo, danos nos rins,
pulmões e hemorragia interna. Ela morreu em 23 de outubro de 1987
de septicemia e infecção generalizada no Hospital Naval Marcílio Dias, no
Rio de Janeiro. Ela foi enterrada em um cemitério comum em Goiânia, em
um caixão especial de fibra de vidro revestida com chumbo para evitar a
propagação da radiação. Apesar destas medidas, ainda houve um início de
tumulto no cemitério, onde mais de 2 000 pessoas, temendo que seu
cadáver envenenasse toda a área, tentaram impedir seu enterro usando
pedras e tijolos para bloquear a rua do cemitério. Depois de dias de
impasse, Leide foi enterrada em um caixão de chumbo lacrado, erguido por
um guindaste, devido às altas taxas de radiação e para que esta fosse
contida.
 Maria Gabriela Ferreira, de 37 anos (5,7 Gy, 570 REM), esposa do
proprietário do ferro-velho Devair Ferreira, ficou doente cerca de três dias
depois de entrar em contato com a substância. Seu estado de saúde piorou
e ela desenvolveu hemorragia interna, principalmente nos membros, nos
olhos e no trato digestivo, além da perda de cabelo. Ela morreu em 23 de
outubro de 1987, cerca de um mês após a exposição.
 Israel Baptista dos Santos, de 22 anos (4,5 Gy, 450 REM), foi um
empregado de Devair Ferreira que trabalhou na fonte radioativa
principalmente para extrair o chumbo. Ele desenvolveu doença respiratória
grave e complicações linfáticas. Acabou por ser internado no hospital e
morreu seis dias depois, em 27 de outubro de 1987.
 Admilson Alves de Souza, de 18 anos (5,3 Gy, 530 REM), também foi
funcionário de Devair Ferreira, que também trabalhou na fonte radioativa.
Ele desenvolveu lesão pulmonar, hemorragia interna e danos ao coração.
Morreu em 28 de outubro de 1987.
Outras vítimas posteriores

 Devair Alves Ferreira, o dono do ferro-velho sobreviveu em primeira mão à


exposição, apesar de ter recebido 7 Gy de radiação. Os efeitos corporais
incluíram a perda de cabelo e problemas em diversos órgãos. Sentindo-se
culpado por abrir a cápsula, tornou-se alcoólatra e contraiu câncer pela
radiação, morrendo 7 anos depois, em 1994.
 Ivo Ferreira, pai da menina Leide das Neves Ferreira, teve baixa
contaminação. No entanto, tornou-se depressivo depois da morte da filha e
passou a fumar em torno de seis maços de cigarro por dia, falecendo
por enfisema pulmonar em 2003, 16 anos depois.
 A Associação das Vítimas do Césio 137 afirma que até o ano de 2012,
quando o acidente completou 25 anos, cerca de 104 pessoas morreram nos
anos seguintes pela contaminação, decorrente de câncer e outros
problemas, e cerca de 1 600 tenham sido afetadas diretamente. Os
resultados para as 46 pessoas com maior nível de contaminação estão
mostrados no gráfico de barras acima. Várias pessoas sobreviveram,
apesar das altas doses de radiação. Isto pode ter acontecido, em alguns
casos, porque receberam doses fracionadas. Com o tempo, os mecanismos
de reparo do corpo poderão reverter o dano celular causado pela radiação.
 Muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados
para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para
detecção de radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada
uma mistura de ácido e tintas azuis. Telhados foram limpos a vácuo,
mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Objetos como
brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram considerados
material de rejeito. O que foi recolhido com a limpeza foi transferido para
o Parque Estadual Telma Ortegal. Até hoje todos os contaminados ainda
desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato
este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira.
 Após trinta anos do desastre radioativo, as várias pessoas contaminadas
pela radioatividade reclamam por não estarem recebendo os
medicamentos, que, segundo leis instituídas, deveriam ser distribuídos
pelo governo. E muitas pessoas contaminadas ainda vivem nas
redondezas da região do acidente, entre as Ruas 57, Avenida
Paranaíba, Rua 74, Rua 80, Rua 70 e Avenida Goiás; essas pessoas
não oferecem, contudo, mais nenhum risco de contaminação à
população.
Lixo atômico
A limpeza produziu 13 500 quilogramas de lixo atômico, que necessitou ser
acondicionado em 14 contêineres que foram totalmente lacrados. Dentro
destes estão 1 200 caixas e 2 900 tambores, que permanecerão perigosos
para o meio ambiente por 180 anos.[8] Para armazenar esse lixo atômico e
atendendo às recomendações do IBAMA, da CNEN e da CEMAM, o Parque
Estadual Telma Ortegal foi criado em Goiânia, hoje pertencente ao município
de Abadia de Goiás, onde se encontra uma "montanha" artificial onde foram
colocados no nível do solo, revestida de uma parede de aproximadamente 1
(um) metro de espessura de concreto e chumbo.[9]
A CNEN ativou, posteriormente, o Centro Regional de Ciências Nucleares do
Centro-Oeste (CRCN-CO), como Unidade Técnico-Científica com competência
principal de exercer o controle institucional do Depósito Final de rejeitos
radioativos do Césio-137.

Elementos e reações químicas envolvidas.

O Césio 137 é um isótopo radioativo resultante da fissão de


urânio ou plutônio, é usado em equipamentos de radiografia, até
aí tudo bem, o problema ocorre quando este isótopo é
desintegrado e dá origem ao Bário 137m que passa a emitir
radiações gama. Os raios gama possuem um grande poder de
penetração, sendo nocivos ao ser humano. A radiação gama
pode danificar células e atravessar chapas de alumínio com
facilidade.
Dentro da cápsula do acidente de gôiania encontraram algo
jamais visto, tinha aspecto brilhante e encantava a todos, este
material foi distribuído entre curiosos, inclusive crianças. A beleza
radiante fez com que passassem o material até pelo próprio
corpo: era o brilho da morte.

Esse material era o Bário e se desintegrava em um pó azulado e


fosforescente, altamente tóxico. Somente após 16 dias da
abertura da cápsula é que foi acionada a Comissão Nacional de
Energia Nuclear (Cnem) e o caso foi controlado. As
conseqüências deste acidente são vistas até hoje, muitos
sobreviventes sofrem doenças como câncer, hipertensão e
distúrbios variados, e recebem tratamento médico contra estes
males.

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