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Césio-137, o maior acidente radiológico do Brasil

Tragédia atômica matou 12 pessoas e contaminou mais de 600 em Goiânia

O acidente radioativo em Goiânia - também conhecido como acidente com o Césio-137 - ocorreu em 13 de
setembro de 1987. A contaminação radioativa teve início quando dois catadores de papel encontraram um
aparelho de radioterapia numa clínica abandonada no Centro de Goiânia. Depois de levado para um ferro-velho
local, o aparelho foi desmontado e, dentro dele, foi encontrada uma cápsula de chumbo com 19,26g de cloreto
de césio em seu interior.
O objetivo de Devair Ferreira, dono do ferro-velho, era aproveitar o metal da cápsula, mas o brilho azulado
emitido pelo cloreto de césio no escuro - que em condições normais é semelhante ao sal de cozinha - chamou a
sua atenção. Devair decidiu então levar o material para casa, distribuindo-o entre familiares e amigos. Sua
sobrinha, Leide das Neves, ingeriu partículas do material misturado a um ovo cozido. Era o início do maior
acidente radiológico do Brasil, de acordo com a Comissão Nacional de Energia Nuclear. A radiação matou onze
pessoas e contaminou mais de 600. Cerca de 100 mil pessoas foram expostas à radiação.

A radioatividade atingiu o corpo dos contaminados rapidamente. Em algumas horas, as primeiras vítimas
começaram a sentir náuseas e tonturas, além de diarréia e vômito. Maria Gabriela, esposa de Devair, desconfiou
que o pó branco considerado sobrenatural era a causa do mal estar da família. Depois disso, no dia 29 de
setembro de 1987, as autoridades sanitárias deram o alerta de contaminação por radioatividade para a
população local.

Após o desastre, as atividades de descontaminação produziram mais de 13 mil toneladas de lixo atômico. Entre
os dejetos, estão incluídos materiais de construção provenientes da demolição dos edifícios contaminados,
animais, plantas, fragmentos de solo e roupas. Os resíduos foram armazenados em um depósito construído em
Abadia de Goiânia, cidade próxima da capital. O depósito é coberto de camadas de chumbo e concreto, que
mantém a radioatividade isolada do meio ambiente. O tempo de meia-vida do material armazenado é de 180
anos, suficiente para que não haja mais perigo para o meio ambiente.

As vítimas fatais do “brilho da morte” - como foi apelidado o cloreto de césio - foram enterradas em túmulos
revestidos de chumbo e concreto. A primeira vítima foi Leide das Neves, sobrinha de Devair, que morreu seis
dias após a contaminação, aos 6 anos de idade. Devair Ferreira, dono do ferro-velho, apesar de ter sido a vítima
mais exposta à radiação, morreu sete anos após a tragédia, em 1994. Sua esposa, Maria Gabriela, ficou doente
três dias após a exposição à radioatividade e faleceu um mês após a contaminação, em outubro de 1987.

Depois de mais de 26 anos da tragédia, os contaminados pela radioatividade alegam não receber os
medicamentos que deveriam ser oferecidos pelo governo. Parte dos contaminados ainda moram na região do
acidente, que durante anos teve seus imóveis desvalorizados. Boa parte do comércio local fechou e os
habitantes locais foram, de certa forma, discriminados, já que o resto da população tinha medo de ser
contaminada.

A região do acidente com o Césio-137 começou a ser revitalizada pelo governo municipal e estadual no fim dos
anos 1990. Em 2006, a prefeitura decidiu reinaugurar o antigo Mercado Popular da cidade, que fica próximo ao
local do acidente. Atualmente, o Mercado Popular é um ponto turístico de Goiânia, sede de uma feira de
gastronomia semanal.

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