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Acidente com césio-137 em Goiânia

A história do acidente começou no centro de Goiânia, dois catadores de lixo entraram numa clínica abandonada e se
depararam com um enorme aparelho deixado no local.
Com o intuito de vender as partes de valor, por conterem aço e chumbo, os homens levaram o equipamento até o ferro-
velho de Devair Alves Ferreira na Rua 26-A, no Setor Aeroporto.
Ao desmontar o equipamento, Devair encontrou uma cápsula nuclear contendo um pó de cor branca que no escuro
tinha um brilho azul. Fascinado pelo material e achando ser algo de valor, ele exibiu a descoberta para familiares,
amigos e vizinhos sem saber do perigo que estava em suas mãos.
Como o césio é um elemento radioativo, o núcleo do seu átomo sofre desintegrações. A quantidade de césio-137 foi
suficiente para gerar uma grande contaminação, já que o radioisótopo se espalhou rapidamente por se tratar de um pó
fino que adere facilmente aos locais com umidade.
As consequências da exposição
Horas depois do primeiro contato com o césio-137, iniciaram-se os sintomas de intoxicação. Pessoas que apresentaram
tontura, diarreia e vômito recorreram aos hospitais. Sem ter conhecimento do material radioativo na região, os médicos
acreditavam se tratar de uma doença contagiosa.
Apenas duas semanas após a exposição, a esposa de Devair foi até à Vigilância Sanitária, levando consigo parte do
equipamento que estava no ferro-velho.
O acidente radioativo só foi confirmado em 29 de setembro, quando o físico nuclear Walter Ferreira foi chamado ao
local e com o uso de detectores indicou os altos níveis de radiação. Imediatamente a Comissão Nacional de Energia
Nuclear (CNEN) foi acionada para implementar um plano de emergência.
Os efeitos da radiação foram sentidos por moradores que tiveram o contato direto com o material e os que trabalharam
para sanar o acidente, como médicos, enfermeiros, bombeiros e policiais.
As vítimas do acidente: quantas e quem foram?
Segundo dados oficiais, o acidente resultou em quatro vítimas fatais um mês após o contato com a substância. As
principais causas foram hemorragia e infecção generalizada.
O primeiro óbito foi de Leide das Neves Ferreira, uma menina de 6 anos, que se tornou símbolo da tragédia. Maria
Gabriela Ferreira, que ajudou a desvendar o mistério, foi a segunda vítima fatal, assim como Israel Santos e Admilson
Souza, funcionários do ferro-velho.
Entretanto, estima-se que mais pessoas morreram em decorrência de complicações e muitas ainda carregam as
consequências da herança radioativa.
As medidas tomadas após o acidente
Para a descontaminação do local sete focos principais foram identificados e isolados. Cerca de 112.800 pessoas foram
monitoradas e agrupadas de acordo com a exposição e sintomas apresentados.
Foram recolhidos 3500 m3 de lixo nuclear e armazenados em contêineres concretados e enterrados a 23 km de Goiânia,
na cidade de Abadia de Goiás. O Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste realiza o monitoramento da
atividade dos rejeitos radioativos.
Em 1988, foi criada a Fundação Leide das Neves Ferreira, pelo Estado de Goiás, para acompanhamento das vítimas da
radiação de acordo com os níveis de exposição. Hoje, os serviços são fornecidos pelo Centro Estadual de Assistência aos
Radioacidentados – C.A.RA.
Em 1996, foram julgados os responsáveis pelo Instituto Goiano de Radioterapia. A sentença por homicídio culposo
(quando não há intenção de matar) foi de três anos e dois meses de prisão, mas a pena foi substituída por prestação de
serviços.
A Lei nº 9425 criada em 24 de dezembro de 1996 concedeu pensão especial para as vítimas do maior acidente nuclear
no Brasil e no mundo, ocorrido fora de usinas nucleares.
Para que serve o césio-137?
As emissões radioativas são capazes de destruir as células cancerígenas, que são mais sensíveis à radiação. Por isso, são
empregadas doses calculadas do radioisótopo de césio no tratamento do câncer.
Os perigos do césio-137: a razão por que o acidente foi tão grave
O perigo ocorre quando a radiação ionizante, que tem elevado poder de penetração, emite altas concentrações de
partículas radioativas. O principal efeito biológico é a mudança nas células do sangue, como a perda de glóbulos
brancos.
O isótopo de césio-137, por exemplo, age no organismo provocando:
 hemorragias,
 infecções,
 doenças agudas,
 perda de cabelo
 morte (dependendo da quantidade e tempo de exposição).

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