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MANUAL MSD
Versão para Profissionais de Saúde
Deficiência intelectual
Por Stephen Brian Sulkes
, MD, Golisano Children’s Hospital at Strong, University of Rochester School of Medicine and Dentistry
Última modificação do conteúdo fev 2022
Caracteriza-se a incapacidade intelectual por uma função intelectual significativamente abaixo da média (frequentemente
expresso como um quociente de inteligência < 70 a 75), combinada com limitações no funcionamento adaptativo (p. ex.,
comunicação, orientação, habilidades sociais, autoproteção, uso de recursos comunitários e manutenção da segurança pessoal),
junto com demonstração de necessidade de apoio. A conduta envolve educação, aconselhamento familiar e apoio social.
Função adaptativa (capacidade de atender os padrões apropriados à idade e condição sociocultural para o
funcionamento independente nas atividades de vida diária)
Basear a gravidade apenas com o quociente de inteligência (QI) (p. ex., leve de 52 a 70 ou 75; moderado de 36 a 51; grave de
20 a 35 e profundo < 20) é considerado inadequado. A classificação deve também levar em conta o nível de suporte necessário
para todas as atividades, variando de intermitente para elevado. Essa abordagem focaliza os pontos fortes e as necessidades
de uma pessoa, relacionando-os às exigências do ambiente da pessoa, expectativas e atitudes da família e comunidade.
Cerca de 3% da população têm QI < 70, o que corresponde a pelo menos 2 desvios padrão abaixo da média de QI na
população geralmente (QI de 100); se a necessidade de suporte é considerada, apenas cerca de 1% da população tem
deficiência intelectual grave. A deficiência intelectual grave ocorre em famílias de todos os grupos socioeconômicos e níveis de
educação. Deficiência intelectual menos grave (exigindo apoio intermitente ou limitado) ocorre mais frequentemente em
grupos de nível socioeconômico mais baixo, correspondendo com as observações de que o QI se correlaciona melhor com o
sucesso escolar e status socioeconômico do que com fatores orgânicos específicos. Contudo, estudos recentes sugerem que
fatores genéticos desempenham papel nas inabilidades cognitivas mais leves.
Fatores perinatais
Complicações relacionadas à prematuridade, sangramento do sistema nervoso central, leucomalácia periventricular, parto em
posição pélvica ou com uso alto de fórceps, gestação múltipla, placenta prévia, pré-eclâmpsia e asfixia perinatal aumentam o
risco de deficiência intelectual. O risco é maior para idade gestacional; deficiência intelectual e baixo peso compartilham
causas semelhantes. Os lactentes com peso baixo ou extremamente baixo ao nascimento aumentam as probabilidades de
apresentar deficiência intelectual, dependendo da idade gestacional, eventos perinatais e qualidade dos cuidados.
Fatores pós-natais
A desnutrição e a privação ambiental (falta de apoio físico, emocional e cognitivo necessários para o crescimento,
desenvolvimento e adaptação social), durante o período do lactente e infância precoce, podem ser as causas mais comuns de
deficiência intelectual em todo o mundo. Podem também ocasionar incapacidade intelectual situações como encefalites virais
e bacterianas (incluindo neuroencefalopatia associado à aids), meningite (p. ex. infecções pneumocócicas, infecção por
Haemophilus influenzae) intoxicação (p. ex., chumbo, mercúrio), desnutrição grave e acidentes que causam lesões encefálicas
graves ou asfixia.
Comportamento imaturo
Algumas crianças com deficiência intelectual leve podem não apresentar sintomas aparentes até a idade pré-escolar.
Entretanto, a identificação precoce é comum naquelas com formas moderadas ou graves de deficiência intelectual e quando
acompanhadas por anormalidades físicas ou sinais (p. ex., de paralisia cerebral), que podem estar associados a uma causa
particular da deficiência intelectual (p. ex., asfixia perinatal). Na idade pré-escolar, o atraso de desenvolvimento torna-se
aparente, muitas vezes manifestando-se mais como um atraso na comunicação do que nas habilidades motoras. Entre as
crianças maiores, as características marcantes são QI baixo combinado com limitações nas habilidades comportamentais
adaptativas (p. ex., comunicação, autodireção, habilidades sociais, autocuidado, uso dos recursos comunitários, manutenção
da segurança pessoal). Embora os padrões de desenvolvimento possam variar, é muito mais comum a criança com deficiência
intelectual apresentar progresso lento em vez de uma parada de desenvolvimento.
Os transtornos comportamentais são a razão para a maioria dos encaminhamentos psiquiátricos e internação em
instituições para pessoas com deficiência intelectual. Os problemas de comportamento são geralmente ligados a situações,
podendo ser encontrados os fatores desencadeantes. Fatores que predispõem a atitudes inaceitáveis incluem
Falta de treinamento em comportamentos aceitáveis socialmente
Desconforto pela coexistência de problemas físicos e distúrbios de saúde mental como de-pressão e ansiedade
Nos quadros institucionais (agora incomum nos EUA), a superpopulação, a falta de pessoal e a falta de atividades contribuem
tanto para os desafios comportamentais como para o progresso funcional limitado. Evitar a colocação a longo prazo em
ambientes amplos de cuidados congregados é extremamente importante para maximizar o sucesso do indivíduo.
Distúrbios comórbidos
Distúrbios comórbidos são comuns, particularmente deficit de atenção/hiperatividade, transtornos do humor ( depressão,
transtorno bipolar), distúrbios do espectro do autismo, transtorno de ansiedade e outros.
Algumas crianças podem ter comprometimento motor ou sensorial comórbido como paralisia cerebral ou outros deficits
motores, atraso na linguagem ou perda da audição. Estas falências motoras ou sensoriais podem mimetizar deficiências
cognitivas, mas elas, por si só, não são as causas. Com a maturidade, algumas crianças podem desenvolver ansiedade ou
depressão se forem rejeitadas socialmente por outras crianças ou se forem perturbadas pela percepção de que os outros as
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06/08/22, 16:57 Deficiência intelectual - Pediatria - Manuais MSD edição para profissionais
vêm diferentes e deficientes. Condutas adequadas, inclusive programas escolares, podem ajudar a maximizar a integração
social, minimizando tais respostas emocionais.
Teste pré-natal
Exame genético
Pode-se fazer exames pré-natais para determinar se o feto tem anormalidades, incluindo doenças genéticas, que predispõem
à deficiência intelectual.
Desde o nascimento, avalia-se rotineiramente o crescimento e desenvolvimento, incluindo a capacidade cognitiva, em
consultas de crianças saudáveis. Em caso de suspeita de deficiência intelectual, deve-se avaliar o desenvolvimento e a
inteligência detalhadamente, geralmente com intervenção precoce ou ajuda da equipe escolar.
Estabelecido o diagnóstico de deficiência intelectual, deve-se tentar identificar sua causa, frequentemente incluindo exames
de imagem, genéticos e metabólicos do sistema nervoso central (SNC). A determinação da causa pode indicar prognósticos,
planos educacionais, programas de treinamento, ajuda no aconselhamento genético e alívio do sentimento de culpa dos pais.
Teste pré-natal
O aconselhamento genético pode ajudar casais de alto risco a entender os possíveis riscos. Se uma criança tem deficiência
intelectual, a avaliação etiológica pode ajudar a família com informações apropriadas sobre riscos para as futuras gestaçãoes.
Teste pré-natal pode ser feito em casais de alto risco que optam por ter filhos. Testes pré-natais permitem aos casais
considerar a possibilidade de interrupção da gestação e planejamento familiar subsequente. Os exames incluem
Amniocentese ou amostras das vilosidades coriônicas
Rastreamento quádruplo
Ultrassonografia
Incapacidades progressivas
Deterioração neuromuscular
Diagnóstico da causa
As causas podem ser identificadas com base nos dados de história (perinatal, desenvolvimento, neurológica e familiar). (Ver
também o relatório de evidências de 2011 sobre testes genéticos e metabólicos em crianças com atraso global do
desenvolvimento sobre testes genéticos e metabólicos em crianças com atraso global do desenvolvimento da American
Academy of Neurology e da Practice Committee of the Child Neurology Society.)
Imagens cranianas (p. ex., RM) podem mostrar malformações do sistema nervoso central (como as verificadas nas
neurodermatoses como as neurofibromatoses ou esclerose tuberosa), hidrocefalia tratável ou malformações cerebrais mais
graves como a esquizencefalia.
Exames genéticos podem ajudar a identificar distúrbios:
Cariotipagem padrão mostra síndrome de Down (trissomia 21) e outros distúrbios de números cromossômicos
A análise de microarranjo cromossômico identifica variantes no número de cópias como pode ser encontrado na
deleção 5p (síndrome do 5p menos ou síndrome do miado do gato) ou síndrome de DiGeorge (deleção cromossômica
22q)
Ortopedistas
Fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais (devem atender nas comorbidades das crianças com deficits motores)
Assistente social (que podem ajudar a reduzir a privação ambiental e identificar características chave)
Crianças com distúrbios de saúde mental concomitantes, como depressão, podem receber medicação psicoativa apropriada
em doses semelhantes às usadas em crianças sem deficiência intelectual. O uso de um fármaco psicoativo sem terapia
comportamental e mudanças ambientais é raramente útil.
Todo esforço deve ser feito para que a criança more na casa ou em residência da base comunitária. Em geral, é melhor para a
criança viver em casa com a família do que viver em locais alternativos, a menos que dificuldades de comportamento graves
exijam um nível de supervisão mais alto do que a família é capaz de fornecer. A família pode ser beneficiada com o suporte
psicológico e ajuda de uma creche para os cuidados diários, auxiliar doméstico e serviços temporários. O ambiente deve
encorajar independência e reforçar o aprendizado de aptidões.
Sempre que possível, uma criança com deficiência intelectual deve frequentar uma creche ou escola ao lado de crianças sem
incapacidade intelectual. A legislação educativa especial primária norte-americana (IDEA) norte-americana (Individuals with
Disabilities Education Act (IDEA)) estipula que toda criança com inabilidades deve ter oportunidades de educação apropriadas
nos ambientes menos restritivos e mais inclusivos. O Americans with Disability Act e a Section 504 of the Rehabilitation Act
também fornecem acomodações em escolas e outros ambientes públicos.
Adultos com deficiência intelectual devem receber apoio e local de trabalho. Grandes instituições residenciais estão sendo
substituídas por pequenos grupos de residências individuais ou de suporte equipados para as necessidades e habilidades
funcionais das pessoas.
Pontos-chave
Deficiência intelectual envolve o desenvolvimento intelectual lento com funcionamento intelectual abaixo da
média, comportamento imaturo e habilidades de autocuidado limitadas que em combinação são graves o
suficiente para exigir algum nível de suporte.
Alguns fatores pré-natal, perinatal e pós-natal podem causar deficiência intelectual, mas uma causa específica
muitas vezes não pode ser identificada.
Deficits de linguagem e habilidades pessoais e sociais podem ocorrer por causa de problemas emocionais,
privação ambiental, transtornos de aprendizagem ou surdez, em vez de por causa de deficiência intelectual.
Fazer a triagem usando testes como Ages and Stages Questionnaire (ASQ) ou Parents, Evaluation of
Developmental Status (PEDS) e referir-se a casos suspeitos para testes de inteligência padronizados e avaliação
do neurodesenvolvimento.
Pesquisar causas específicas com exames de imagem do crânio, exames genéticos (p. ex., análise cromossômica
por microarranjo, sequenciamento do exoma) e outros testes como clinicamente indicado.
Informações adicionais
Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que O Manual não é responsável pelo conteúdo destes recursos.
American Academy of Neurology and the Practice Committee of the Child Neurology Society: Evidence report on genetic and
metabolic testing on children with global developmental delay (2011)
Individuals with Disabilities Education Act (IDEA): Lei norte-americana que disponibiliza educação pública adequada e gratuita
para crianças com deficiência elegíveis e garante educação especial e serviços relacionados a essas crianças
Americans with Disability Act: Lei norte-americana que proíbe a discriminação por causa de uma deficiência
Section 504 of the Rehabilitation Act: Lei norte-americana que garante certos direitos para pessoas com deficiências
American Association on Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD): Organização que fornece recursos de pesquisa,
suporte e defesa para pessoas com deficiências intelectual e de desenvolvimento
March of Dimes: Organização que visa melhorar a saúde de mães e lactentes por meio de pesquisa, defesa e educação.
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