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A) Fenilcetonúria
A fenilcetonúria (PKU) resulta de mutações que causam uma importante ausência
da enzima fenilalanina-hidroxilase (PAH). Ela afeta 1 em cada 10.000 bebês
brancos nascidos vivos, e há diversas variantes desta doença. A forma mais
comum, referida como fenilcetonúria clássica, é frequente em indivíduos de
descendência escandinava, e é significativamente incomum em populações
afrodescendentes (dos Estados Unidos) e judias. Os homozigotos com este
distúrbio autossômico recessivo classicamente possuem grave ausência de PAH,
levando à hiperfenilalaninemia e à PKU. Os bebês acometidos apresentam-se
normais ao nascimento, contudo, dentro de poucas semanas, passam a exibir níveis
crescentes de fenilalanina plasmática, comprometendo assim o desenvolvimento
cerebral. Em geral, aos 6 meses de idade, já ocorre evidente e grave retardo
mental; menos de 4% de crianças fenilcetonúricas não tratadas possuem o
quociente de inteligência (QI) acima de 60. Cerca de um terço dessas crianças
permanecem incapazes de andar, e dois terços são incapazes de falar. Em crianças
não tratadas, o retardo mental é comumente acompanhado de convulsões e outras
anomalias neurológicas, além de redução na pigmentação capilar e cutânea e
eczema. A hiperfenilalaninemia e o consequente retardo mental podem ser evitados
por meio da restrição da ingestão de fenilalanina já nos primeiros momentos de
vida. Portanto, diversos procedimentos de triagem são rotineiramente empregados
para a detecção de PKU no período pós-natal imediato. Muitas pacientes do sexo
feminino com PKU que recebem tratamento dietético de início precoce na vida
conseguem atingir a idade reprodutiva e são clinicamente normais. A maioria delas
apresenta hiperfenilalaninemia acentuada, pois o tratamento dietético é
descontinuado quando se tornam adultas. Entre 75% e 90% das crianças que
nascem destas mulheres possuem retardo mental e microencefalia, e 15%
apresentam doença cardíaca congênita, apesar de as próprias crianças serem
heterozigotas. Esta síndrome, chamada PKU materna, origina-se a partir dos efeitos
teratogênicos da fenilalanina ou de seus metabólitos, que atravessam a placenta,
afetando múltiplos órgãos fetais específicos durante o desenvolvimento. A presença
e a gravidade das anomalias fetais relacionam-se diretamente com os níveis de
fenilalanina maternos; portanto, é fundamental que a restrição dietética de
fenilalanina materna seja iniciada antes da concepção e continuada por toda a
gravidez. A anormalidade bioquímica na PKU reside na incapacidade de converter
fenilalanina em tirosina. Em crianças normais, menos de 50% do consumo dietético
de fenilalanina é necessário para a síntese de proteínas. O restante é convertido em
tirosina pelo sistema de fenilalanina-hidroxilase. Quando o metabolismo da
fenilalanina se torna bloqueado devido à falta da enzima PAH, surgem vias
alternativas, gerando inúmeros intermediários, que são excretados em grandes
quantidades na urina e na sudorese. Estes fazem com que as crianças acometidas
apresentem forte odor de mofo. Acredita-se que o excesso de fenilalanina ou de
seus metabólitos contribui com os danos cerebrais na PKU. A ausência
concomitante de tirosina, que é um precursor da melanina, é responsável pela cor
clara da pele e dos cabelos. A nível molecular, aproximadamente 500 alelos
mutantes do gene PAH já foram identificados, dos quais somente alguns geram uma
deficiência grave da enzima. Crianças com mutações, que resultam na acentuada
falta de atividade da PAH, apresentam os achados clássicos da PKU, ao passo que
as que possuem alguma atividade residual ainda presente possuem a doença na
sua forma mais branda. Elas podem, ainda, ser assintomáticas, em uma condição
denominada hiperfenilalaninemia benigna. O grande número de alelos do gene PAH
responsáveis pelo desenvolvimento da doença inviabiliza o diagnóstico molecular.
Assim, a quantificação dos níveis séricos de fenilalanina é utilizada para diferenciar
a hiperfenilalaninemia benigna da PKU; os níveis nesta última são geralmente ≥ 5
vezes acima do normal. Após o estabelecimento do diagnóstico bioquímico, pode-se
determinar a mutação específica que causou a PKU. Com esta informação,
procede-se aos testes de possíveis portadores em membros de famílias
considerados de risco. Atualmente, a terapia de reposição da enzima é utilizada na
tentativa de se reduzir os níveis de fenilalanina circulante nos pacientes com PKU
clássica. A enzima de reposição, conhecida como de fenilalanina amônia-liase
(PAL), converte a fenilalanina excessiva em amônia e outros metabólitos não
tóxicos. Embora 98% dos casos de hiperfenilalaninemia sejam atribuídos a
mutações na PAH, aproximadamente 2% surgem a partir de anormalidades na
síntese ou na reciclagem do cofator tetrahidrobiopterina. O reconhecimento clínico
destas formas variantes é importante, pois, neste caso, os pacientes não podem ser
tratados somente com a restrição dietética de fenilalanina, necessitando, também,
de suplementação de tetra-hidrobiopterina, alguns precursores de
neurotransmissores e ácido fólico.
(ROBBINS)
A PKU é causada por uma ampla variedade de mutações no gene PAH (12q22-q24.
2) que codifica a fenilalanina hidroxilase.
B) Deficiência de biotinidase
Duas outras condições que são amplamente direcionadas para o teste de triagem
de recém‑nascidos são a surdez congênita e o hipotireoidismo congênito. O teste de
triagem de recém‑nascidos para perda auditiva é obrigatória em 37 estados nos
Estados Unidos e três províncias no Canadá. Aproximadamente metade de todos os
casos de surdez congênita é decorrente de defeitos monogênicos (Caso 13). As
crianças detectadas como tendo comprometimento auditivo pelo teste de triagem de
recém‑nascidos recebem intervenção com linguagem de sinais, implantes cocleares
e outras formas de comunicação auxiliar no início da vida, aumentando, assim, as
suas capacidades de linguagem em longo prazo e as habilidades intelectuais além
daquelas vistas se a deficiência é descoberta mais tarde na infância. A triagem para
o hipotireoidismo congênito, uma doença cuja base genética é conhecida em
apenas 10% a 15% dos casos, mas é facilmente tratável, é universal nos Estados
Unidos e no Canadá e também é rotina em muitos outros países. A terapia de
reposição de hormônio tireoidiano iniciada precocemente na infância impede
completamente a deficiência intelectual severa e irreversível causada pelo
hipotireoidismo congênito. Assim, tanto o hipotireoidismo quanto a surdez facilmente
cumprem os critérios para teste de triagem de recém‑nascidos. Várias outras
doenças, como a galactosemia, a anemia falciforme (Caso 42), a deficiência de
biotinidase, a imunodeficiência severa combinada e a hiperplasia adrenal congênita,
fazem parte de programas de triagem neonatal em muitos ou na maioria dos
estados americanos, mas não em todos. Quais distúrbios devem ser o alvo do teste
de triagem de recém‑nascidos é uma determinação que varia de estado para estado
nos Estados Unidos. No entanto, muitos estados instituíram a triagem para um
grupo de 32 condições, seguindo as recomendações de um painel convocado pela
Secretary of the Department of Health and Human Services.
As normas para o teste de triagem de recém‑nascidos diferem amplamente em todo
o mundo. Quais distúrbios devem ser o alvo do teste de triagem de recém‑nascidos
varia de província para província no Canadá, sem um consenso nacional. A partir de
2014, o programa nacional do Reino Unido para triagem de recém‑nascidos em
todas as jurisdições incluía apenas cinco distúrbios, com exceção da Irlanda do
Norte, que já testa sete distúrbios; o Reino Unido está considerando adicionar mais
três distúrbios. Por muitos anos, a maioria dos testes triagem de recém‑nascidos era
realizada por um teste específico para cada condição individual. Por exemplo, a
triagem da fenilcetonúria baseava‑se em um ensaio microbiano ou químico que
testava para detectar o nível elevado de fenilalanina (veja a seção anterior). Essa
situação mudou drasticamente com a aplicação da tecnologia de espectrometria de
massa em tandem (TMS, do inglês, tandem mass spectrometry). A TMS não apenas
permite que uma gota de sangue neonatal seja examinada com precisão e de modo
rápido para um aumento de fenilalanina, com menos falso‑positivos do que com os
métodos de testes mais antigos, mas a análise por TMS também pode detectar
simultaneamente algumas dezenas de outros distúrbios bioquímicos. Alguns destes,
como a homocistinúria (Cap. 12) ou a doença da urina do xarope de bordo, já
estavam sendo selecionados para testes individuais (Tabela 18‑2). A TMS, no
entanto, não substitui os métodos de teste de doenças específicas para outros
distúrbios incluídos atualmente no teste para triagem de recém‑nascidos, como
galactosemia, deficiência de biotinidase, hiperplasia adrenal congênita e anemia
falciforme.
C) Leucocitose
LEUCOCITOSE
A leucocitose refere-se a um aumento no número de leucócitos no sangue. É uma
reação comum a uma variedade de condições inflamatórias. Patogenia. A contagem
de leucócitos do sangue periférico é influenciada por vários fatores, incluindo o
tamanho do precursor mieloide e linfoide e os pools de células estocadas na medula
óssea, timo, circulação e tecidos periféricos. A taxa de liberação de células dos
pools de reservas para a circulação. A proporção de células que são aderentes às
paredes dos vasos sanguíneos em qualquer tempo (o pool marginal). A taxa de
extravasamento das células do sangue para os tecidos. A homeostasia de
leucócitos é mantida por citocinas, fatores de crescimento e moléculas de adesão
através dos efeitos no comprometimento, proliferação, diferenciação e
extravasamento de leucócitos e seus progenitores. Na infecção aguda, há um rápido
aumento na saída de granulócitos maduros do pool da medula óssea. Se a infecção
é prolongada, a liberação de interleucina-1 (IL-1), fator de necrose tumoral (TNF) e
outras citocinas inflamatórias estimula as células do estroma da medula óssea e as
células T a produzirem quantidades aumentadas de fatores de crescimento
hematopoiéticos. Estes aumentam a proliferação e a diferenciação de progenitores
granulocíticos comprometidos e, por vários dias, provocam um aumento sustentado
na produção de neutrófilos. Alguns fatores de crescimento estimulam
preferencialmente a produção de um único tipo de leucócito. Por exemplo, a IL-5
estimula principalmente a produção de eosinófilos, enquanto o GCSF induz a
neutrofilia. Tais fatores são produzidos diferencialmente em resposta a vários
estímulos patogênicos e, como resultado, os cinco principais tipos de leucocitose
(neutrofilia, eosinofilia, basofilia, monocitose e linfocitose) tendem a ser observados
em diferentes condições clínicas.
D) Mucopolissacaridoses
As mucopolissacaridoses (MPSs) caracterizam-se pela degradação defeituosa e
armazenamento excessivo de mucopolissacarídeos em vários tecidos. Cabe
lembrar que os mucopolissacarídeos fazem parte da matriz extracelular e que são
sintetizados por fibroblastos do tecido conjuntivo. Ocorre secreção da maior parte
dos mucopolissacarídeos, entretanto, uma determinada fração é degradada nos
lisossomos através de uma via que envolve múltiplas enzimas. Algumas variantes
de MPS, classificadas numericamente de MPS I a MPS VII, já foram descritas, cada
uma decorrente da deficiência de uma enzima específica desta via. Os
mucopolissacarídeos que se acumulam nos tecidos incluem dermatan sulfato,
heparan sulfato, queratan sulfato e (em alguns casos) sulfato de condroitina. Todas
as MPSs geram hepatoesplenomegalia, deformidades esqueléticas, lesões das
válvulas cardíacas, depósitos arteriais subendoteliais, particularmente nas artérias
coronarianas, e lesões cerebrais. Em muitas das síndromes mais prolongadas,
lesões subendoteliais levam à isquemia do miocárdio. Portanto, o infarto do
miocárdio e a descompensaçãocardíaca são importantes causas de morte. A
maioria dos casos está associada a fácies grosseira, córneas opacas, rigidez
articular e retardo mental. A excreção urinária dos mucopolissacarídeos acumulados
está frequentemente aumentada. Em todos esses distúrbios, exceto em um, o modo
de herança é autossômico recessivo; a exceção, que é a síndrome de Hunter, é
uma doença recessiva ligada ao X. Dentre as sete variantes reconhecidas, somente
duas síndromes bem-caracterizadas são discutidas brevemente aqui.
• A MPS tipo I, também conhecida como síndrome de Hurler, é causada por uma
deficiência de α-L-iduronidase. Na síndrome de Hurler, as crianças afetadas
possuem expectativa de vida de 6 a 10 anos, e a morte geralmente resulta de
complicações cardíacas. O acúmulo de dermatan sulfato e de heparan sulfato é
observado em células do sistema fagocítico mononuclear, fibroblastos e em células
endoteliais e de músculo liso das paredes vasculares. As células afetadas
encontram-se aumentadas e com o citoplasma claro, em decorrência do acúmulo de
material positivo para a coloração com o ácido periódico de Schiff dentro de
lisossomos saturados e vacuolados. Também podem ser observadas inclusões
lisossômicas em neurônios, que são responsáveis pelo retardo mental.
• A MPS tipo II, ou síndrome de Hunter, difere da síndrome de Hurler pelo modo de
herança (ligado ao X), pela ausência de córneas opacas e pelo curso clínico
frequentemente mais brando. Assim como na síndrome de Hurler, os
mucopolissacarídeos acumulados na síndrome de Hunter são o heparan sulfato e o
dermatansulfato, porém, neste caso, a causa é a deficiência da enzima L-iduronato
sulfatase. Apesar da diferença na deficiência enzimática, o acúmulo dos mesmos
substratos ocorre porque a quebra do heparan sulfato e do dermatan sulfato requer
tanto a α-L-iduronidase quanto a sulfatase; na ausência de alguma delas, a
degradação subsequente é impedida. O diagnóstico é realizado por meio da
quantificação dos níveis enzimáticos nos leucócitos. O diagnóstico pelo DNA não é
realizado rotineiramente devido ao grande número de mutações alélicas
existentes.
(ROBBINS)
Trissomia do 21
Em pelo menos 95% de todos os pacientes, o cariótipo da síndrome de Down tem
47 cromossomos, com uma cópia extra do cromossomo 21. Esta trissomia resulta
de não disjunção meiótica do par de cromossomos 21. Como observado
anteriormente, o risco de se ter um filho com trissomia do 21 aumenta com a idade
materna, especialmente após 30 anos de idade. O erro meiótico responsável pela
trissomia geralmente ocorre durante a meiose materna (aproximadamente 90% dos
casos), predominantemente na meiose I, mas cerca de 10% dos casos ocorrem na
meiose paterna, frequentemente na meiose II. A trissomia do 21 típica é um evento
esporádico, e assim recorrências não são frequentes, como será discutido adiante.
Aproximadamente 2% dos pacientes com síndrome de Down são mosaicos de duas
populações de células ‑ uma com um cariótipo normal, e uma com o cariótipo da
trissomia do 21. O fenótipo pode ser mais leve do que o da trissomia do 21 típica,
mas existe uma grande variabilidade fenotípica entre pacientes mosaico,
presumivelmente refletindo a proporção variável de células da trissomia do 21 no
embrião durante o início do desenvolvimento.
Translocação Robertsoniana
Aproximadamente 4% dos pacientes com síndrome de Down tem 46 cromossomos,
sendo que um deles é uma translocação Robertsoniana entre o cromossomo 21q e
o braço longo de um dos outros cromossomos acrocêntricos (geralmente o
cromossomo 14 ou o 22). O cromossomo translocado substitui um dos
cromossomos acrocêntricos normais e o cariótipo de um paciente com síndrome de
Down com uma translocação Robertsoniana entre os cromossomos 14 e 21 é,
portanto, 46,XX ou XY,rob(14;21) (q10;q10), + 21 . Apesar de ter 46 cromossomos,
os pacientes com uma translocação Robertsoniana que envolve o cromossomo 21
são trissômicos para genes em todo o 21q. Um portador de uma translocação
Robertsoniana, que envolve, por exemplo, os cromossomos 14 e 21, tem apenas 45
cromossomos; um cromossomo 14 e um cromossomo 21 estão ausentes e são
substituídos pelo cromossomo translocado. Os gametas que podem ser formados
por esse portador são mostrados na Figura 6‑3, e esses portadores estão sob risco
de ter um filho com síndrome de Down por translocação. Ao contrário da trissomia
do 21 típica, a síndrome de Down por translocação não apresenta nenhuma relação
com a idade materna, mas tem um risco relativamente alto de recorrência em
famílias quando um progenitor, especialmente a mãe, é portador de translocação.
Por essa razão, a cariotipagem dos pais e possivelmente de outros parentes é
essencial para que um aconselhamento genético acurado seja fornecido.
Translocação do 21q21q
Um cromossomo translocado 21q21q é observado em uma pequena percentagem
dos pacientes com síndrome de Down e acredita‑se que se origine como um
isocromossomo. É particularmente importante avaliar se um progenitor é portador,
porque todos os gametas do portador desse cromossomo devem conter ou o
cromossomo 21q21q, com a sua dose dupla do material genético do cromossomo
21, ou não possuí‑lo e não ter um representante do cromossomo 21. A prole
potencial, portanto, inevitavelmente tem ou síndrome de Down ou monossomia do
21, que raramente é viável. Os portadores de mosaico apresentam maior risco de
recorrência e, assim, o diagnóstico pré‑natal deve ser considerado em qualquer
gravidez subsequente.
Trissomia parcial do 21
Muito raramente, a síndrome de Down é diagnosticada em um paciente no qual
apenas uma parte do braço longo do cromossomo 21 está presente em triplicata.
Esses pacientes têm uma importância especial porque podem mostrar qual região
do cromossomo 21 provavelmente é responsável por componentes específicos do
fenótipo da síndrome de Down e que regiões podem estar triplicadas sem provocar
esse aspecto do fenótipo. O sucesso mais notável foi a identificação de uma região
de menos de 2 Mb que é fundamental para os defeitos cardíacos observados em
aproximadamente 40% dos pacientes com síndrome de Down. Selecionar os genes
específicos cruciais para a expressão do fenótipo da síndrome de Down a partir
daqueles que vêm a ser meramente sintênicos com eles no cromossomo 21 é
essencial para a determinação da patogenia dos vários achados clínicos.
(THOMPSON)
C) Síndrome do X Frágil
A síndrome do X frágil é o protótipo de doenças nas quais a mutação que as causa
ocorre em uma longa sequência repetida de três nucleotídeos (tripletos). Outros
exemplos de doenças associadas a mutações de repetição de trinucleotídeos são a
doença de Huntington e a distrofia miotônica. Atualmente, sabe-se que este tipo de
mutação é responsável por cerca de 40 doenças, e que todas as condições
descobertas até o momento estão associadas a alterações neurodegenerativas. Em
cada uma destas condições, a amplificação de grupos específicos de três
nucleotídeos em um gene compromete sua função. Determinadas características
específicas das mutações de repetição de trinucleotídeos, descritas adiante, são
responsáveis pelo padrão atípico de herança das doenças associadas. A síndrome
do X frágil origina-se de uma mutação no gene FMR1, localizado no Xq27.3, e é a
segunda causa genética mais comum de retardo mental, depois da síndrome de
Down. Sua frequência é de 1 em 1.550 para homens e 1 em 8.000 para mulheres. A
síndrome tem o nome derivado da aparência cariotípica do cromossomo X no
método de diagnóstico original. A cultura de células do paciente em um meio com
deficiência de folato mostrou, consistentemente, uma descontinuidade de coloração,
ou constrição, do braço longo do cromossomo X. Atualmente, tal método foi
substituído pela análise de DNA para verificação do tamanho da repetição do
tripleto, conforme discutido adiante. Homens clinicamente afetados possuem retardo
mental variando de moderado a grave, embora a extensão do comprometimento
seja altamente variável. Não é incomum que algumas crianças sejam inicialmente
diagnosticadas com sintomas semelhantes ao autismo. O fenótipo físico típico inclui
uma face alongada com mandíbula aumentada, orelhas grandes e evertidas e
testículos aumentados (macro-orquidismo). Embora sejam características da
síndrome do X frágil, estas anormalidades nem sempre estão presentes ou podem
ser bastante sutis. A única anormalidade física distinta que pode ser detectada em
pelo menos 90% dos homens com a síndrome do X frágil após a puberdade é o
macro-orquidismo. Assim como em todas as doenças ligadas ao X, a síndrome do X
frágil afeta predominantemente os homens. No entanto, a análise de diversos
heredogramas mostra alguns padrões de transmissão que não estão tipicamente
associados com outros distúrbios recessivos ligados ao X. Estes incluem:
• Homens portadores. Aproximadamente 20% dos homens que, por meio da análise
de heredogramas, sabidamente carregam uma mutação do X frágil, não manifestam
os sintomas neurológicos ou as características físicas típicas do X frágil durante a
infância. Conforme discutido a seguir, estes indivíduos portadores (também
conhecidos como “homens transmissores”) possuem anormalidade molecular
detectável no locus do FMR1, sem, no entanto, a mutação plena observada nas
crianças sintomáticas.
• Mulheres afetadas. De 30% a 50% das mulheres portadoras da mutação do X
frágil em um cromossomo podem apresentar características de comprometimento
cognitivo brando ou outros distúrbios comportamentais. Aproximadamente 20%
desenvolvem características de comprometimento reprodutivo prematuro (ver a
seguir). A presença de sintomas nas mulheres portadoras, embora brandos, é
incomum para uma doença recessiva ligada ao X.
• Antecipação. Este termo refere-se ao fenômeno por meio do qual os achados
clínicos do X frágil se agravam a cada geração, como se a mutação se tornasse
cada vez mais deletéria, conforme vai sendo transmitida de um homem para seus
netos e bisnetos do sexo masculino. Essas características incomuns têm sido
relacionadas com a natureza dinâmica da mutação. Na população normal, o número
de repetições da sequência CGG no gene FMR1 é pequeno, com média de cerca
de 29; já nos indivíduos afetados, há de 200 a 4.000 repetições. Acredita-se que
estas “mutações completas” surjam através de um estágio intermediário de
pré-mutações, caracterizadas por 52 a 200 repetições CGG. Homens e mulheres
portadores podem apresentar pré-mutações. Durante a oogênese (mas não a
espermatogênese), as pré-mutações podem ser convertidas em mutações
completas pela amplificação subsequente das repetições CGG, que podem ser
transmitidas tanto aos filhos quanto às filhas da portadora feminina. Estas
observações fornecem uma explicação para o fato de alguns homens portadores
não serem afetados (possuem pré-mutações), e de algumas mulheres o serem (elas
herdam as mutações completas).
Patogenia
As bases moleculares para a síndrome do X frágil estão começando a ser
compreendidas e estão relacionadas com o silenciamento do produto do gene
FMR1 – a proteína do retardo mental familiar (FMRP). O gene FMR1 normal contém
repetições CGG na sua região 5’ não traduzida. Quando a quantidade de repetições
de trinucleotídeos ultrapassa a quantidade normal em, aproximadamente, 230, o
DNA da região 5’ inteira do gene torna-se anormalmente metilado. A metilação
também se estende acima da região promotora do gene, levando à supressão
transcricional do FMR1. Acredita-se que a ausência consequente da FMRP seja
responsável pelas alterações fenotípicas. A FMRP está amplamente expressa nos
tecidos normais, porém níveis mais altos são encontrados no cérebro e nos
testículos. Trata-se de uma proteína de ligação ao RNA e que é transportada do
citoplasma para o núcleo, onde se liga a mRNAs específicos e os transporta aos
axônios e aosdendritos. É nas sinapses que os complexos FMRP-mRNA exercem
diversas funções críticas na regulação da tradução de mRNAs específicos
envolvidos no controle de funções sinápticas. A ausência desta função de transporte
finamente controlada parece ser a base da síndrome do X frágil.
Tremor/Ataxia do X Frágil
Embora anteriormente se pensasse que pré-mutações CGG no gene FMR1 fossem
inócuas, elas podem, na realidade, causar uma doença fenotipicamente diferente da
síndrome do X frágil, por meio de um mecanismo distinto, que envolve um “ganho
de função” tóxico. Esta doença foi descoberta quando se observou que
aproximadamente 20% das mulheres portadoras desta pré-mutação (mulheres
portadoras) possuíam comprometimento cognitivo brando e insuficiência ovariana
prematura (antes dos 40 anos), e que mais de 50% dos homens portadores da
pré-mutação (homens transmissores) exibem uma síndrome neurodegenerativa
progressiva com início na sexta década de vida. Esta síndrome, conhecida como
tremor/ataxia do X frágil, caracteriza-se por tremores de intenção e ataxia cerebelar,
podendo progredir para o parkinsonismo. Como as pré-mutações podem causar
doenças? Nestes pacientes, o gene FMR1, ao invés de ser metilado e silenciado,
continua a ser transcrito. Os mRNAs de FMR1 contendo CGG formados desta
maneira são “tóxicos”. Eles se acumulam no núcleo e formam inclusões
intranucleares. Neste processo, o mRNA agregado recruta proteínas de ligação a
RNA. Possivelmente o sequestro destas proteínas em localizações anormais leva a
eventos tóxicos para a célula. Conforme observado anteriormente, muitas outras
doenças neurodegenerativas relacionadas com expansões de repetição de
trinucleotídeos já foram reconhecidas. Alguns princípios gerais incluem:
• Em todos os casos, as funções gênicas são alteradas por uma expansão das
repetições, mas o limite preciso em que as pré-mutações são convertidas em
mutações completas varia em cada distúrbio.
• Enquanto a expansão da síndrome do X frágil ocorre durante a oogênese, em
outros distúrbios, como a doença de Huntington, as pré-mutações são convertidas
em mutações completas durante a espermatogênese.
• A expansão pode envolver qualquer parte do gene, e a gama de possibilidades
pode ser dividida em duas amplas categorias: aquelas que afetam regiões não
traduzidas (como na síndrome do X frágil) e aquelas que afetam regiões
codificantes (como na doença de Huntington). Quando as mutações afetam regiões
não codificantes, ocorre “perda da função”, pois a síntese proteica (p. ex., FMRP) é
inibida. Em contraste, as mutações que envolvem as porções traduzidas do gene
originam proteínas mal-dobradas (no caso da doença de Huntington). Muitas dessas
mutações de “ganho de função tóxico” envolvem repetições CAG que codificam
trechos de poliglutamina, e as doenças decorrentes são, por vezes, referidas como
doenças poliglutamínicas, afetando primariamente o sistema nervoso. O acúmulo de
proteínas mal-dobradas em agregados no citoplasma é uma característica comum
destas doenças.
(ROBBINS)
A) Síndrome de Turner
A síndrome de Turner, caracterizada pelo hipogonadismo primário em mulheres
fenotípicas, origina-se da monossomia parcial ou completa do braço curto do
cromossomo X. Utilizando-se os métodos citogenéticos de rotina, observa-se a
completa ausência do cromossomo X em 57% das pacientes, originando o cariótipo
45,X. Essas pacientes são as mais gravemente afetadas, e o diagnóstico
geralmente pode ser realizado ao nascimento ou no início da infância. As
características clínicas típicas associadas à síndrome de Turner 45,X incluem atraso
no crescimento, levando a uma estatura anormalmente baixa (abaixo do terceiro
percentil); aumento de volume na nuca em decorrência da distensão de vasos
linfáticos (no bebê), que causa pescoço alado em crianças mais velhas; implantação
capilar baixa; cúbito valgo (ângulo de carregamento aumentado do cotovelo); tórax
em forma de escudo, com aumento da distância entre os mamilos; palato ogival;
linfedema de mãos e pés; e uma variedade de malformações congênitas, como rins
em forma de ferradura, válvula aórtica bicúspide e coarctação da aorta. As
anormalidades cardiovasculares são a causa mais comum de morte na infância. Na
adolescência, as meninas acometidas não desenvolvem características sexuais
secundárias normais; as genitálias permanecem infantis, há mínimo
desenvolvimento mamário e surgem poucos pelos pubianos. A maior parte das
pacientes possui amenorreia primária, e o exame morfológico demonstra
transformação dos ovários em fitas brancas de estroma fibroso, e ausência de
folículos. A condição mental destas pacientes geralmente é normal, mas podem ser
observados defeitos sutis no processamento visuoespacial. Curiosamente, há
hipotireoidismo causado por autoanticorpos, especialmente em mulheres com o
isocromossomo Xp. Cerca de 50% dessas pacientes desenvolvem hipotireoidismo
clínico. Em pacientes adultas, a combinação da baixa estatura com a amenorreia
primária deve incitar a forte suspeita da presença da síndrome de Turner. O
diagnóstico é fechado através da cariotipagem. Aproximadamente 43% das
pacientes com a síndrome de Turner são mosaicos (uma das linhagens de células
sendo 45,X), ou então possuem anormalidades estruturais do cromossomo X. A
mais comum é a deleção do braço curto, levando à formação de um isocromossomo
do braço longo: 46,X,i(X) (q10). O efeito final das anormalidades estruturais é a
produção da monossomia parcial do cromossomo X. Também pode haver
combinações de deleções com mosaicismo. Cabe ressaltar a heterogeneidade
cariotípica associada à síndrome de Turner, visto que é responsável por variações
significativas no fenótipo. Em contraste com as pacientes com monossomia do X,
aquelas que são mosaicos ou que possuem variantes de deleção podem apresentar
aparência próxima do normal e ter como sinal somente a amenorreia primária. A
patogenia molecular da síndrome de Turner ainda não foi totalmente compreendida,
porém os estudos têm começado a esclarecê-la. Conforme mencionado
anteriormente, ambos os cromossomos X são ativos durante a oogênese e são
essenciais para o desenvolvimento normal dos ovários. Durante o desenvolvimento
fetal normal, os ovários contêm 7 milhões de ovócitos. Os ovócitos desaparecem
gradualmente, até que estejam em torno de somente 400.000 na menarca, e menos
de 10.000 restantes na menopausa. Na síndrome de Turner, os ovários fetais
desenvolvem-se normalmente no início da embriogênese. Entretanto, a ausência do
segundo cromossomo X leva a uma perda acelerada dos ovócitos, que se torna
completa aos 2 anos de idade. De certa forma, portanto, “a menopausa ocorre antes
da menarca”, e os ovários são reduzidos a faixas fibrosas atróficas, com ausência
de óvulos e folículos (ovários em fita). Como as pacientes com síndrome de Turner
também possuem outras anormalidades (não gonadais), presume-se que os genes
necessários para o crescimento e o desenvolvimento normais de tecidos somáticos
também residam no cromossomo X. Dentre os genes envolvidos com o fenótipo de
Turner, têm-se o gene homeobox da baixa estatura (SHOX) em Xp22.23. Este é um
dos genes que permanecem ativos em ambos os cromossomos X, e que são únicos
por apresentarem um homólogo ativo no braço curto do cromossomo Y. Assim, tanto
homens quanto mulheres normais possuem duas cópias ativas deste gene. A perda
de uma das cópias do SHOX gera a baixa estatura. De fato, observam-se deleções
do gene SHOX em 2% a 5% das crianças que são normais exceto pela baixa
estatura. Ao passo que a perda de uma cópia do SHOX pode explicar o crescimento
deficiente na síndrome de Turner, não explica outras características clínicas, como
malformações cardíacas e anormalidades endócrinas. É evidente que, localizados
no cromossomo X, há outros genes também envolvidos.
(ROBBINS)
B) Síndrome de Klinefelter
A síndrome de Klinefelter define-se como um hipogonadismo masculino que se
desenvolve na presença de, ao menos, dois cromossomos X, e um ou mais
cromossomos Y. É a causa mais comum de hipogonadismo masculino. A maior
parte dos pacientes afetados possui um cariótipo 47,XXY. Este cariótipo resulta da
não disjunção dos cromossomos sexuais durante a meiose. O cromossomo X
adicional pode ter origem tanto materna quanto paterna. A idade materna avançada
e o histórico de irradiação em um dos progenitores podem contribuir com o erro
meiótico, originando a condição. Aproximadamente 15% dos pacientes apresentam
padrões mosaicos,incluindo 46,XY/47,XXY, 47,XXY/48,XXXY, e variações deste
modelo. A presença de uma linhagem de 46,XY em mosaicos geralmente está
associada a uma condição clínica mais branda. A síndrome de Klinefelter está
associada a uma larga variedade de manifestações clínicas. Em alguns indivíduos,
pode estar expressa somente como hipogonadismo, entretanto, a maioria dos
pacientes possui um aspecto corporal distinto, com um aumento do comprimento
entre as plantas dos pés e o osso púbico, o que cria a aparência de um corpo
alongado. O aspecto eunucoide também é característico. A redução na quantidade
de pelos faciais, corporais e pubianos e a ginecomastia são frequentemente
observadas. Os testículos apresentam tamanho significativamente reduzido,
algumas vezes com apenas 2 cm na maior dimensão. Acompanhando a atrofia
testicular, os níveis séricos de testosterona são mais baixos que o normal, com
níveis urinários de gonadotrofina aumentados. Apenas raramente os pacientes com
a síndrome de Klinefelter são férteis, sendo provavelmente os casos de mosaicos,
com grande proporção de células 46,XY. A esterilidade deve-se ao
comprometimento da espermatogênese, algumas vezes atingindo a total
azoospermia. O exame histológico revela hialinização dos túbulos, que aparecem
como estruturas semelhantes a fantasma ao corte tecidual. Em contraste, há
predomínio das células de Leydig, como resultado de hiperplasia ou de um aumento
aparente devido à perda dos túbulos. Embora a síndrome de Klinefelter possa estar
associada ao retardo mental, o grau de comprometimento intelectual é tipicamente
brando, e, em alguns casos, não se detecta qualquer deficiência. A redução na
inteligência correlaciona-se com o número extra de cromossomos X. A síndrome de
Klinefelter está associada a uma maior frequência de diversos distúrbios, incluindo
câncer de mama (visto 20 vezes mais comumente do que em homens normais),
tumores de célula germinativa extragonadal e doenças autoimunes, como lúpus
eritematoso sistêmico.
(ROBBINS)
C) Síndrome do Triplo X
Todas as células descendentes derivadas de cada um desses precursores, portanto,
têm um complemento cromossômico 47,XXX ou 45,X. Esse paciente é um mosaico
variante da síndrome de Turner com a expressão fenotípica
dependente do número e distribuição de células 45,X. O mosaicismo autossômico
parece ser muito menos comum que o mosaicismo envolvido com os cromossomos
sexuais. Um erro em uma divisão mitótica no início do desenvolvimento que afete os
autossomos geralmente gera um mosaico inviável devido à monossomia
autossômica. Raramente, a população de célula inviável é perdida durante a
embriogênese, gerando um mosaico viável (p. ex., 46,XY/47,XY,+21). Esse paciente
é um mosaico da trissomia do 21, com expressão variável da síndrome de Down
dependente da proporção de células contendo a trissomia. Uma segunda categoria
de aberrações cromossômicas está associada a alterações na estrutura dos
cromossomos. Para que essas aberrações possam ser visualizadas por técnicas de
bandeamento rotineiras, uma grande região de DNA (aproximadamente de 2 a 4
milhões de pares de bases) contendo muitos genes deve estar envolvida. A
resolução é muito maior com a hibridização in situ fluorescente (FISH), técnica que
pode detectar alterações tão pequenas como quilobases. As alterações estruturais
nos cromossomos geralmente são resultantes de quebras no cromossomo
acompanhadas por perda ou rearranjo do material. Essas alterações ocorrem
espontaneamente com uma frequência baixa que aumenta após exposição dos
cromossomos a mutagênicos ambientais, como produtos químicos e radiação
ionizante. Na próxima seção, revisaremos brevemente as formas mais comuns de
alterações na estrutura dos cromossomos e as notações utilizadas para descrever
essas alterações.
Deleção é a perda de uma porção de um cromossomo. A maioria da deleções são
intersticiais, mas raramente podem ocorrer deleções terminais. As deleções
intersticiais ocorrem quando há duas quebras em um mesmo braço cromossômico
seguidas pela perda do material cromossômico entre os pontos de quebra e fusão
das extremidades quebradas. As regiões e as
bandas nas quais ocorreram as quebras podem ser especificadas. Por exemplo,
46,XY,del(16) (p11.2p13.1) descreve pontos de quebra no braço curto do
cromossomo 16 em 16p11.2 e 16p13.1 com perda de material entre as quebras. As
deleções terminais são resultantes de uma única quebra em um braço
cromossômico, produzindo um fragmento sem centrômero que é, então, perdido na
próxima divisão celular e um cromossomo com uma deleção. A extremidade do
cromossomo é protegida através da aquisição de sequências teloméricas.
A) Anemia Falciforme
Autossômica Recessiva
Princípios
• Vantagem do heterozigoto
• Mutação com propriedade nova
• Composto genético
• Variação étnica nas frequências alélicas
Principais características fenotípicas
• Idade de início: infância
• Anemia
• Infarto
• Asplenia
História e exame físico
Pela segunda vez em seis meses, um casal caribenho trouxe sua filha de 24 meses
de idade, C.W., ao departamento de emergência porque ela não conseguia
sustentar seu peso sobre os próprios pés. Não havia história de febre, infecção ou
trauma e sua história médica era, quanto aos demais aspectos, normal. Os achados
de vista prévia foram normais, exceto por um nível baixo de hemoglobina e o baço
levemente aumentado. Os achados no exame físico eram normais, exceto pela
ponta do baço palpável e pés inchados. Seus pés eram muito sensíveis à palpação
e ela não conseguia ficar de pé. Ambos os genitores tinham irmãos que haviam
morrido de infecção na infância, e outros que podiam ter tido anemias falciforme.
Diante desta história e da recorrência do inchaço doloroso nos pés, sua médica
realizou um teste para anemia falciforme pela eletroforese de hemoglobina. O
resultado deste teste documentou a hemoglobina falcêmica. Hb S, em C.W.
A anemia falciforme (MIM 603903) é um distúrbio autossômico recessivo da
hemoglobina, no qual os genes da subunidade β têm uma mutação missense que
substitui o ácido glutâmico por valina no aminoácido 6. A doença se deve mais
comumente à homozigose para a mutação falcêmica, embora a heterozigose
composta para o alelo falcêmico e a hemoglobina C ou o alelo
da β‑talassemia possam também causar anemia falciforme A prevalência da anemia
falciforme varia muito entre as populações em proporção à exposição passada e
presente à malária. A mutação falcêmica parece conferir certa resistência à malária
e, portanto, uma vantagem para a sobrevivência de indivíduos heterozigotos para a
mutação. A hemoglobina é composta por quatro subunidades. Duas subunidades α,
codificadas por HBA no cromossomo 16 e duas subunidades β codificadas pelo
gene HBB no cromossomo 11. A mutação Glu6Val na β‑globina diminui a
solubilidade da hemoglobina desoxigenada e a leva a formar uma rede gelatinosa
de polímeros fibrosos espessos que distorcem a hemácia conferindo‑lhe uma
aparência de foice. Esses eritrócitos falciformes ocluem capilares causando infartos.
Inicialmente, a oxigenação leva à solubilização desses polímeros e o eritrócito
recupera sua forma normal; entretanto, o afoiçamento e o retorno ao normal,
repetidas vezes, levam a células irreversivelmente falcêmicas que são removidas da
circulação pelo baço. A taxa de remoção dos eritrócitos da circulação é maior que a
capacidade de produção da medula óssea, o que causa a anemia hemolítica. A
heterogeneidade alélica é comum na maioria dos distúrbios mendelianos,
particularmente quando o alelo mutante causa perda de função. A anemia falciforme
é uma exceção importante a esta regrab porque uma mutação específica é
responsável pelas novas propriedades únicas de Hb S. A Hb C também é menos
solúvel que Hb A e tende a se cristalizar nas hemácias, diminuindo sua
deformabilidade em capilares e causando hemólise moderada, mas Hb C não forma
os polímeros de Hb S em forma de bastão. Os pacientes com anemia falciforme
geralmente apresentam nos primeiros dois anos de vida anemia, atraso no
crescimento e desenvolvimento, esplenomegalia, infecções repetidas e dactilite
(tumefação dolorosa das mãos ou pés pela oclusão dos capilares nos pequenos
ossos, como vista na paciente C.W.;). Infartos vasoclusivos ocorrem em muitos
tecidos, causando derrames, síndrome torácica aguda, necrose papilar renal,
autoesplenectomia, úlceras nas pernas, priapismo, necrose óssea asséptica e perda
visual. A vaso‑oclusão óssea causa “crises” dolorosas e, se não tratada, esses
episódios podem persistir por dias ou semanas. A asplenia funcional, a partir do
infarto ou de outros fatores pouco compreendidos, aumenta a suscetibilidade a
infecções bacterianas, como sepse pneumocócica e osteomielite por Salmonella
osteomyelitis. A infecção é a maior causa de morte em todas as idades, embora a
insuficiência renal progressiva e a insuficiência pulmonar sejam, também, causas
comuns de morte na quarta e quinta décadas de vida. Os pacientes têm também um
alto risco de desenvolver anemia aplásica com risco de morte após a infecção por
parvovírus, pois essa infecção causa uma cessação temporária da produção de
eritrócitos. Os heterozigotos para a mutação (ditos portadores do traço falcêmico)
não têm anemia e são geralmente normais clinicamente. Sob condições de hipoxia
grave, entretanto, como na subida a altitudes elevadas, os eritrócitos de pacientes
com traço falcêmico podem ficar falcêmicos e provocar sintomas semelhantes aos
observados na doença clássica. O risco de rabdomiólise em heterozigotos
falciformes aumenta quando em situação de esforço e desidratação extremas. Em
um determinado paciente com anemia falciforme, não existe um prognóstico preciso
para a gravidade do curso da doença. Embora a base molecular da doença seja
conhecida há mais tempo do que qualquer outro defeito monogênico, o tratamento
atual é somente de apoio. Nenhuma terapia que previna ou reverta o processo de
afoiçoamento in vivo foi identificada. A persistência da hemoglobina fetal melhora
enormemente a gravidade da doença. Várias intervenções farmacológicas
objetivando um aumento das concentrações de hemoglobina fetal estão sob
investigação, e a hidroxiureia foi aprovada com esta indicação. Embora a terapia
gênica tenha o potencial de melhorar e curar esta doença, a transferência eficiente
do gene da β‑globina foi alcançada em apenas um paciente. O transplante
alogênico de medula óssea é o único tratamento disponível atualmente que pode
curar a anemia falciforme. Devido aos 11% de mortalidade por sepse nos primeiros
seis meses de vida, a maioria dos estados nos Estados Unidos oferece a triagem de
recém‑nascidos para a anemia falciforme para iniciar a profilaxia com antibióticos, a
qual é mantida até os cinco anos de idade. Pelo fato de a anemia falciforme ser um
distúrbio autossômico recessivo, os futuros irmãos de uma criança afetada têm um
risco de 25% de ter anemia falciforme e risco de 50% de ter o traço falcêmico. Com
o uso do DNA fetal originado das vilosidades coriônicas ou amniócitos, o diagnóstico
pré‑natal está disponível por análise molecular da mutação falcêmica.
(THOMPSON)
B) Doença de Huntington
Autossômica Dominante
Princípios
• Expansão de repetições de trincas
• Mutação com propriedade nova
• Antecipação sexo‑específica
• Penetrância reduzida e expressividade variável
• Aconselhamento pré‑sintomático
Principais características fenotípicas
• Idade de início: fim da infância ao fim da idade adulta
• Anomalias do movimento
• Anomalias cognitivas
• Anomalias psiquiátricas
Patogenia
O produto do gene HD, a huntingtina, é expresso de forma ubíqua. A função da
huntingtina permanece desconhecida. Mutações no HD causadoras de doença
geralmente resultam da expansão de uma sequência de repetições CAG codificante
de poliglutamina no éxon 1; alelos normais de HD possuem de 10 a 26 repetições,
enquanto os alelos mutantes possuem mais de 36 repetições. Aproximadamente 3%
dos pacientes desenvolvem HD como resultado de uma expansão de repetições
CAG nova; 97% herdam um alelo HD mutante de um dos pais afetados. Novos
genes HD mutantes surgem da
expansão de uma pré‑mutação (27 a 35 repetições CAG) para uma mutação
completa. Quando o paciente herda a mutação completa de um genitor portador da
pré‑mutação, este geralmente é o pai. A expansão do trato de poliglutamina na
huntingtina parece conferir a ela uma propriedade nova deletéria, e parece ser tanto
necessária como suficiente para a indução de um fenótipo tipo HD. Além da atrofia
grave e difusa neoestriato, que é a marca da HD, a expressão de huntingtina
mutante provoca disfunção neuronal, atrofia cerebral generalizada, mudanças nos
níveis de neurotransmissores e acúmulo de agregados nucleares e citoplasmáticos
neuronais. Por fim, a expressão da huntingtina mutante leva à morte neuronal;
entretanto, é provável que os sintomas clínicos e a disfunção neuronal precedam o
desenvolvimento de agregados intracelulares e a morte neuronal. O mecanismo
pelo qual a expressão desse trato expandido de poliglutamina provoca a HD ainda é
desconhecido.
Tratamento
Atualmente, não há tratamentos curativos para a HD. A terapia é focada em
cuidados de apoio, assim como no tratamento farmacológico dos problemas
comportamentais e neurológicos.
Risco de herança
Cada criança de um pai com HD tem 50% de risco de herdar um alelo HD mutante.
Exceto para aqueles alelos com penetrância incompleta (36 a 39 repetições CAG),
todas as crianças que herdaram um alelo HD mutante desenvolverão a HD e
tiverem um tempo de vida normal. Crianças de pais portadores de uma pré‑mutação
possuem um risco empírico de 3% de herdarem um alelo HD, no qual a pré‑mutação
se expandiu para uma mutação completa. Entretanto, nem todos os homens que
carregam uma pré‑mutação são igualmente prováveis de transmitir uma mutação
completa.
Testes pré‑sintomáticos e pré‑natais estão disponíveis por meio de análise do
número de repetições CAG no éxon 1 do gene HD. Testes pré‑sintomáticos e
pré‑natais são formas de testes preditivos e são melhor interpretados após a
confirmação de uma expansão CAG em um membro da família afetado. Foram
feitas recomendações sobre os testes genéticos pré‑sintomáticos de condições
incuráveis, como a doença de Huntington, incluindo a necessidade de avaliação
neurológica e psicológica antes do teste e a necessidade de apoio psicológico de
familiares ou amigos. Além disso, o paciente é obrigado a ter 18 anos de idade ou
mais e ser capaz de tomar uma decisão informada sobre o seu desejo de ter os
resultados dos testes pré‑sintomáticos. As implicações de tais resultados são,
obviamente, mudança do estilo de vida.
E) Hemofilia
A hemofilia A é um distúrbio recessivo ligado ao X clássico, no qual há falha na
coagulação sanguínea devido à deficiência do fator VIII, uma proteína da cascata da
coagulação. A natureza hereditária da hemofilia e até mesmo o seu padrão de
transmissão foram reconhecidos desde a antiguidade e essa condição se tornou
conhecida como “hemofilia real”, pela sua ocorrência entre os descendentes da
Rainha Vitória da Grã‑Bretanha, que era uma portadora. Como na discussão
anterior, suponha que Xh represente o alelo mutante para o fator VIII que causa
hemofilia A e que o XH represente o alelo normal. Se um homem com hemofilia se
casar com uma mulher normal, todos os filhos homens receberão o cromossomo Y
de seu pai e um cromossomo X materno e se tornarão não afetados, mas todas as
filhas receberão o cromossomo X paterno com o alelo para hemofilia e se tornarão
portadoras obrigatórias. Se a filha de um homem afetado se casar com um homem
não afetado, há quatro genótipos possíveis para a prole, com iguais probabilidades:
A hemofilia presente no avô afetado, que não apareceu em nenhum de seus
próprios filhos, tem 50% de chance de aparecer em cada filho de suas filhas.
Contudo, não reaparecerá entre os descendentes de seus filhos homens. A filha de
uma portadora tem 50% de chance de se tornar ela mesma uma portadora. Um
alelo recessivo ligado ao X pode ser transmitido ao acaso por uma série de várias
mulheres portadoras de forma indetectável até que se expresse em um
descendente do sexo masculino.
(THOMPSON)
F) Consanguinidade
Consanguinidade e Endogamia
A consanguinidade, como a estratificação e o casamento preferencial positivo,
ocasiona um aumento na frequência de doenças autossômicas recessivas, ao
aumentar a frequência com que os portadores de uma doença autossômica
recessiva se casam. Ao contrário dos distúrbios em populações estratificadas, nas
quais cada subgrupo provavelmente tem uma alta frequência de uns poucos alelos,
os tipos de distúrbios recessivos vistos na prole de genitores consanguíneos podem
ser muito raros e incomuns na população como um todo, porque o casamento
consanguíneo permite que um alelo incomum herdado de um ancestral comum
heterozigoto torne‑se homozigoto. Um fenômeno similar é visto em isolados
genéticos, pequenas populações derivadas de um número limitado de ancestrais
comuns que tendem a casar apenas entre si. O casamento entre dois indivíduos
aparentemente “não relacionados” em um isolado genético pode ter o mesmo risco
para determinadas condições recessivas que o observado em casamentos
consanguíneos, porque os indivíduos são ambos portadores pela herança de
ancestrais em comum do isolado, um fenômeno conhecido como endogamia. Por
exemplo, entre os judeus asquenazes na América do Norte, os alelos mutantes para
doença de Tay‑Sachs (gangliosidose GM2) (Caso 43), são relativamente mais
comuns do que em outros grupos étnicos. A frequência da doença de Tay‑Sachs é
100 vezes maior em judeus asquenazes (um por 3.600) do que na maioria das
outras populações (um por 360.000). Assim, a frequência de portadores de doença
de Tay‑Sachs entre judeus asquenazes é aproximadamente de um em 30 (q2
1/3.600, q 1/60, 2 pq 1/30) em comparação com uma frequência de portador
de aproximadamente um em 300 em indivíduos não asquenazes. Casais
consanguíneos, por vezes, precisam de aconselhamento genético antes de terem
filhos porque um aumento do risco de defeitos congênitos em sua prole é
amplamente observado. Na ausência de uma história familiar para uma condição
autossômica recessiva conhecida, usamos números empíricos de risco para os
filhos dos casais consanguíneos, com base em pesquisas populacionais sobre
defeitos congênitos em crianças nascidas de casais que são primos de primeiro
grau, quando comparados com casais não consanguíneos. Esses resultados
fornecem números empíricos de risco no aconselhamento de primos de primeiro
grau. Embora o risco relativo para a prole anormal seja maior para pais aparentados
do que para não aparentados, ainda é bastante baixo: aproximadamente o dobro na
prole de primos de primeiro grau, em comparação com números iniciais de risco
para qualquer anomalia de 15 a 20 por 1.000 para qualquer criança,
independentemente da consanguinidade. Esse aumento do risco não é
exclusivamente para doenças monogênicas autossômicas recessivas, mas inclui
todo o espectro de distúrbios monogênicos e de traço complexo. No entanto,
qualquer casal, consanguíneo ou não, que tem um filho com um defeito congênito
apresenta maior risco de ter outro filho com um defeito congênito em uma gravidez
subsequente. Essas estimativas de risco para consanguinidade podem ser
ligeiramente aumentadas, pois são derivadas de comunidades em que casamentos
entre primos de primeiro grau são generalizados e incentivados. Estas são
sociedades em que o grau de relacionamento (coeficiente de endogamia) entre dois
primos de primeiro grau pode, na verdade, ser maior do que o teórico 1/16, devido a
várias outras linhas de parentesco. Além disso, essas mesmas sociedades também
podem limitar os casamentos com indivíduos do mesmo clã, levando à substancial
estratificação da população, o que também aumenta a taxa de doença autossômica
recessiva além do que poderia ser esperado com base na frequência do alelo
mutante isolado. Devido geralmente à raridade dos alelos mutantes na população,
os indivíduos que apresentam distúrbios autossômicos recessivos raros são mais
tipicamente heterozigotos compostos do que realmente homozigotos. Uma exceção
bem conhecida a essa regra ocorre quando um indivíduo afetado herda exatamente
o mesmo alelo mutante de ambos os pais quando estes são consanguíneos (i.e.,
quando são parentes e portam um alelo mutante idêntico herdado de um ancestral
comum). A presença de consanguinidade entre os genitores de um paciente com
um distúrbio genético é uma forte evidência (mas não uma prova) de que o distúrbio
foi herdado de maneira autossômica recessiva. Por exemplo, o distúrbio mostrado
no heredograma da é mais provavelmente uma condição autossômica recessiva,
mesmo que as demais informações nessa genealogia sejam insuficientes para
definir tal padrão de herança. A consanguinidade é encontrada mais frequentemente
em pacientes com doenças muito raras do que nos casos de doenças recessivas
mais comuns. Isso ocorre porque é menos provável que dois indivíduos que se
casem ao acaso na população sejam portadores do mesmo alelo mutante do que se
tivessem herdado de um ancestral em comum. Por exemplo, no xeroderma
pigmentoso, um defeito de reparo de DNA bastante raro com herança autossômica
recessiva, mais de 20% dos casos ocorrem na prole de casais de primos em
primeiro grau. Por outro lado, em condições recessivas mais comuns, a maioria dos
casos ocorre em casais que não são aparentados, tendo cada um maior chance de
ser portador. Assim, a maioria dos afetados por doenças relativamente comuns, tais
como a FC, não resulta de casamentos consanguíneos, tendo em vista o alelo
mutado ser comum na população geral. O risco de uma doença genética na prole de
casais consanguíneos não é tão alto como muitas vezes se imagina. Para primos
em primeiro grau, o risco absoluto de uma prole anormal, incluindo não apenas
doenças autossômicas recessivas, mas também natimortalidade, óbitos neonatais e
malformações congênitas, é de 3% a 5%, aproximadamente o dobro do risco geral
de 2% a 3% que ocorre na prole de um casal sem consanguinidade. A
consanguinidade ao nível de primos em quinto grau ou ainda mais distantes não
costuma ter importância em genética e o risco adicional para a prole nesses casos
costuma ser desprezível. A incidência de casamentos entre primos em primeiro grau
é baixa (∼ 1 a 10 em cada 1.000 casamentos) na maioria das populações ocidentais
atualmente. Por outro lado, permanece relativamente comum em alguns grupos
étnicos como, por exemplo, em famílias de áreas rurais no subcontinente indiano,
em outras partes da Ásia e no Oriente Médio, onde 20% a 60% dos casamentos
ocorrem entre primos.
(THOMPSON)
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt0199_30_01_2014.html
CAPÍTULO I
Art. 1º Esta Portaria institui a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com
Doenças Raras, aprova as Diretrizes para Atenção Integral às Pessoas com
Doenças Raras no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e institui incentivos
financeiros de custeio.
Art. 2º A Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras tem
abrangência transversal às redes temáticas prioritárias do SUS, em especial à Rede
de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas, Rede de Atenção à Pessoa com
Deficiência, Rede de Urgência e Emergência, Rede de Atenção Psicossocial e Rede
Cegonha.
Art. 3º Para efeito desta Portaria, considera-se doença rara aquela que afeta até 65
pessoas em cada 100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2.000
indivíduos.
CAPÍTULO II
DOS OBJETIVOS
Art. 4º A Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras tem
como objetivo reduzir a mortalidade, contribuir para a redução da morbimortalidade
e das manifestações secundárias e a melhoria da qualidade de vida das pessoas,
por meio de ações de promoção, prevenção, detecção precoce, tratamento oportuno
redução de incapacidade e cuidados paliativos.
III - proporcionar a atenção integral à saúde das pessoas com doença rara na Rede
de Atenção à Saúde (RAS);
IV - ampliar o acesso universal e regulado das pessoas com doenças raras na RAS;
V - garantir às pessoas com doenças raras, em tempo oportuno, acesso aos meios
diagnósticos e terapêuticos disponíveis conforme suas necessidades; e
CAPÍTULO III
III - organização das ações e serviços de acordo com a RAS para o cuidado da
pessoa com doença rara;
IV - oferta de cuidado com ações que visem à habilitação/ reabilitação das pessoas
com doenças raras, além de medidas assistivas para os casos que as exijam;
CAPÍTULO IV
DAS RESPONSABILIDADES
VIII - efetuar e manter atualizado o cadastramento dos serviços de saúde sob sua
gestão no sistema de informação federal vigente para esse fim e que realizam a
atenção à saúde das pessoas com doenças raras, de acordo com critérios técnicos
estabelecidos em Portarias específicas do Ministério da Saúde; e
CAPÍTULO V
DA ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO
Art. 12 A organização do cuidado das pessoas com doenças raras será estruturada
nos seguintes eixos:
b) deficiência intelectual; e
II - Eixo II: composto por doenças raras de origem não genética e organizado nos
seguintes grupos:
a) infecciosas;
b) inflamatórias; e
c) autoimunes.
CAPÍTULO VI
Art. 13. A linha de cuidado da atenção aos usuários com demanda para a realização
das ações na Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras
é estruturada pela Atenção Básica e Atenção Especializada, em conformidade com
a RAS e seguindo as Diretrizes para Atenção Integral às Pessoas com Doenças
Raras no SUS.
I - realizar ações de promoção da saúde com foco nos fatores de proteção relativos
às doenças raras;
V - promover ações que auxiliem a autonomia das pessoas com doenças raras.
III - oferte atenção diagnóstica e terapêutica para no mínimo 1 (um) grupo de cada
um dos Eixos de que trata o art. 12.
II - ter uma população definida como de sua responsabilidade para o cuidado, assim
como ter vinculado a si os serviços para os quais é a referência para tratamento às
pessoas com doenças raras, podendo ser de abrangência local, regional, estadual
ou nacional;
III - apoiar os outros serviços de atenção à saúde no que se refere ao cuidado da
pessoa com doença rara, participando sempre que necessário da educação
permanente dos profissionais de saúde que atuam neste cuidado;
XIII - realizar tratamento clínico e medicamentoso, quando houver, das pessoas com
doenças raras segundo os PCDT instituídos;
XVIII - garantir, por meio dos profissionais da RAS, o acesso regulado às diversas
categorias profissionais necessárias para o cuidado e tratamento integral às
pessoas com doenças raras, incluindo as diversas especialidades médicas e
profissionais para atendimento ambulatorial e hospitalar de acordo com as
necessidades do cuidado às pessoas com doenças raras; e
IV - subsidiar ações de saúde dos gestores no âmbito das doenças raras, quando
necessário;
Art. 18. Além dos requisitos mínimos de que trata o art. 17, para pleitear a
habilitação como Serviço de Atenção Especializada em Doenças Raras, o
estabelecimento de saúde deverá cumprir os seguintes requisitos:
a) enfermeiro;
b) técnico de enfermagem; e
Parágrafo único. O responsável técnico de que trata o inciso II poderá atuar como
profissional em outro serviço habilitado pelo SUS.
Art. 19. Além dos requisitos mínimos de que trata o art. 17, para pleitear a
habilitação como Serviço de Referência em Doenças
Raras, o estabelecimento de saúde deverá cumprir os seguintes requisitos:
I - possuir equipe assistencial para cada grupo dos Eixos de que trata o art. 12
composta, no mínimo, por:
a) enfermeiro;
b) técnico de enfermagem;
d) médico geneticista;
e) neurologista;
h) psicólogo;
j) assistente social; e
Art. 20. Para pleitear a habilitação dos estabelecimentos de saúde como Serviço de
Atenção Especializada em Doenças Raras ou Serviço de Referência em Doenças
Raras, as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
encaminharão à Coordenação- Geral de Média e Alta Complexidade (CGMAC/
DAET/SAS/MS):
IV - a indicação do(s) eixo(s) assistencial(is) de que trata o art. 12, bem como os
grupos de doenças doença(s) para a(s) qual(is) o estabelecimento ofertará a
assistência;
CAPITULO VII
DO FINANCIAMENTO
Art. 22. Fica instituído incentivo financeiro de custeio mensal para as equipes
profissionais dos estabelecimentos de saúde habilitados como Serviços de Atenção
Especializada em Doenças Raras.
Art. 23. Fica instituído incentivo financeiro de custeio mensal para as equipes
profissionais dos estabelecimentos de saúde habilitados como Serviços de
Referência em Doenças Raras.
Art. 24. Fica instituído incentivo financeiro para custeio dos procedimentos dispostos
no anexo III, a serem incorporados na Tabela de Procedimentos, Medicamentos e
OPM do SUS para fins diagnósticos em doenças raras, realizados pelos Serviços de
Atenção Especializada em Doenças Raras e Serviços de Referência em Doenças
Raras.
§ 1º O incentivo financeiro de que trata o "caput" será efetuado por meio do Fundo
de Ações Estratégicas e Compensação (FAEC) pós-produção.
§ 3º O repasse dos recursos de que trata este artigo ocorrerá em conformidade com
a produção dos respectivos procedimentos informados no Sistema de Informação
Ambulatorial (SIA/SUS).
§ 4º O incentivo financeiro previsto neste Capítulo será repassado pelo Fundo
Nacional de Saúde para os fundos de saúde dos entes federativos beneficiários,
respeitando-se a especificidade do Serviço.
Art. 25. O repasse dos incentivos financeiros de que trata esta Portaria será
imediatamente interrompido quando:
Art. 28. O monitoramento de que trata esta Portaria não dispensa o ente federativo
beneficiário de comprovação da aplicação dos recursos financeiros percebidos por
meio do Relatório Anual de Gestão (RAG).
Art. 29. O Sistema Nacional de Auditoria (SNA), com fundamento nos relatórios de
gestão, acompanhará a conformidade da aplicação dos recursos transferidos nos
termos do disposto no art. 5º do Decreto nº 1.232, de 1994.
Art. 30. Para fins do disposto nesta Portaria, o ente federativo beneficiário estará
sujeito:
I - à devolução imediata dos recursos financeiros repassados, acrescidos da
correção monetária prevista em lei, mas apenas em relação aos recursos que foram
repassados pelo Fundo Nacional de Saúde para o respectivo fundo de saúde e não
executados nos termos desta Portaria; e
CAPITULO VIII
DA AVALIAÇÃO E DO MONITORAMENTO
CAPITULO IX
Art. 35. A solicitação dos exames para diagnóstico das doenças raras, conforme
descrito nesta Portaria, será facultado apenas aos estabelecimentos habilitados
como Serviço de Atenção Especializada em Doenças Raras ou Serviços de
Referência em Doenças Raras.
Art. 36. As Diretrizes para Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras no
âmbito do SUS serão disponibilizadas no endereço eletrônico
http://www.portal.saude.gov.br.
Art. 37. Os medicamentos e as fórmulas nutricionais incorporados pela CONITEC e
constantes dos protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas para os cuidados das
pessoas com doenças raras serão objeto de pactuação tripartite no âmbito da
assistência farmacêutica e dispostos em atos específicos.
Art. 38. A APAC emitida para a realização dos procedimentos de avaliação clinica
para diagnóstico de doenças raras - Eixo I: 1 - Anomalias congênitas ou de
manifestação tardia, Eixo I: 2 - Deficiência Intelectual e Eixo I: 3 - Erros Inatos do
Metabolismo, terão validade fixa de 3 (três) competências.
Art. 44. Os recursos orçamentários objeto desta Portaria, correrão por conta do
orçamento do Ministério da Saúde, devendo onerar o Programa de Trabalho
10.302.2015.8585 Atenção à Saúde da População para Procedimentos de Média e
Alta Complexidade (Plano Orçamentário 0007).
Art. 45. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação, com efeitos
operacionais a partir da competência posterior a sua publicação.