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Consultoria Genética

PARECER

Dados gerais

Solicitantes: DANIEL DE OLIVEIRA CALDAS e JANE DE OLIVEIRA

Data de emissão do parecer: 26 de abril de 2021.

Emitido por: Ana Beatriz, Andressa do Rocio Machado, Glanda Hada, Jhony
Krachinski Felicetti e Lina Tieco Doi.

Histórico: O segundo filho do casal, FÁBIO DE OLIVEIRA CALDAS,


apresentou resultado positivo para Fenilcetonúria (CID: E70.0) na triagem
neonatal, vulgo, teste do pezinho. Casal aparentado (primos de primeiro
grau). Suspeitam que uma tia tinha a doença, em razão da mesma ter
deficiência mental grave, convulsões e pele e cabelos mais claros que os
demais membros da família. Suspeita não confirmada por nenhum exame
diagnóstico em razão do falecimento da mesma aos 15 anos de idade.

Objetivo: Aconselhamento genético familiar mediante análise de


heredograma.

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Heredograma

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Discussão

A Fenilcetonúria, ou PKU, é um distúrbio metabólico com padrão de herança


mendeliana recessivo resultante de mutações patogênicas nos dois alelos do
cromossomo 12q22-q24, cujo gene tem a função de codificar a enzima
hepática fenilalanina hidroxilase (PHA). Tem-se, assim, o bloqueio da rota
metabólica de conversão da fenilalanina em tirosina, aminoácido essencial
para a produção de neurotransmissores.
A fenilalanina acumulada no corpo é convertida em ácido feniláctico,
fosfoetanolamina e ácido fenilpirúvico, metabólitos tóxicos que causadores de
problemas cognitivos e físicos irreversíveis.
As manifestações clínicas variam conforme a gravidade da doença, incluindo
irritabilidade, distúrbios comportamentais, odor almiscarado na urina,
hipopigmentação da pele e cabelos, microcefalia, deficiência intelectual e
convulsão.
A PKU é assintomática em recém-nascidos e pode ser tratada com sucesso
se diagnosticada precocemente, por meio de uma dieta restritiva em
fenilalanina, o que inclui a impossibilidade de aleitamento materno.
A dieta deve iniciar com o nascimento e se estender por toda a vida, podendo
o tratamento ser complementado com medicamentos, reposição enzimática e
terapia gênica, a depender do caso.
Mesmo que a doença não se manifeste na família por gerações, o casamento
consanguíneo aumenta a probabilidade de gerar filhos com doenças
autossômicas recessivas – como a PKU – em razão da maior possibilidade de
ambos os genitores serem heterozigotos portadores do mesmo alelo
patogênico.
No caso da PKU, sua incidência em casais sem parentesco é de 1:10.000. No
caso de primos de primeiro grau, como no caso analisado, as chances
aumentam para 7:10.000.

Análise de recorrência

Daniel e Jane: trata-se de casal, primos de primeiro casal, ambos


heterozigotos portadores do alelo patogênico recessivo da PKU que
denominaremos de f.
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Da análise do quadro de Punnet extrai-se que, a cada gestação, há 25% de


chances de o/a filho/a do casal vir a nascer com os dois alelos recessivos,
sendo diagnosticado com PKU. (quadro 01)

Fábio: homem, solteiro, autossômico recessivo. Análise de recorrência futura.


Caso venha a casar com uma pessoa portadora de PKU, ou seja,
autossômica recessiva, as chances do/a filho/a ter PKU são de 100%. Caso
venha a casar com uma pessoa heterozigota recessiva portador do alelo
patogênico do PKU, as chances caem para 50%. (quadro 2)

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Por fim, caso venha a se casar com uma homozigoto dominante, seus filhos
não terão a doença, todavia, o gene permanecerá na família, de forma que
poderá reaparecer futuramente, em gerações futuras. (quadro 03)

Orientações:

Período de lactação: O tratamento deve iniciar o quanto antes,

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preferencialmente antes do 10º dia de vida. O aleitamento materno não é


contraindicado, todavia, recomenda-se verificar com o nutricionista.

Resto da vida: dieta restritiva de fenilalanina. Dentre os alimentos permitidos


estão a maioria das frutas, com exceção de figos secos, vegetais em sua
maioria, refrigerantes sem aspartame, limonada, manteiga e balas de goma.
Deve-se consumir moderadamente algumas frutas como banana, abacate e
certos vegetais como batatas e aipim. Por fim, alimentos com alto nível de
fenilalanina como carnes, laticínios, chocolates e aspartame são proibidos o
consumo.

Recomenda-se fazer acompanhamento com o nutricionista com quem deve-


se verificar os demais alimentos de consumo livre (verde) e quais devem ter
consumo restrito (amarelo) ou proibido (vermelho), bem como porções
recomendadas e necessidade de complementação.

Por fim, recomenda-se a monitoração de níveis séricos de fenilalanina ao


longo da vida e acompanhamento com médico neurologista.

Importante salientar que, precocemente diagnosticado e devidamente tratado,


a fenilcetonúria possui prognóstico extremamente favorável ao paciente.

Referências:

BORGES-OSÓRIO, M. R., ROBINSON, W. M. Genética Humana. 3 ed. Porto


Alegre: Artmed: 2013.

GRIGGITHS, Anthony J. F. Introdução à Genética. 11 ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2019.

MARQUI, Alessandra B. T. Fenilcetonúria: aspectos genéticos, diagnóstico e


tratamento. Rev. Soc. Bras. Clín. Méd. LILACS. Disponível em: <
https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-877193>. Acesso em: 19
abr. 2021.

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MENCK, Carlos, F. M. Genética Molecular Básica. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2017.

Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas –


Fenilcetonúria. Portaria SAS/MS nº 1.307, de 22 de novembro de 2013.
Disponível em: <
https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/abril/02/pcdt-
fenilcetonuria-livro-2013.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2021.

SCHAEFER, G. B., THOMPSON, J. N. Genética Médica. Porto Alegre:


Grupo A, 2015.

Secretaria da Educação e do Esporte do Estado do Paraná. Orientações


Alimentares para Portadores de Fenilcetonúria. Disponível em: <
https://www.nre.seed.pr.gov.br/arquivos/File/toledo/logistica/alimentacao_esco
lar/orientacao_para_fenilcetonuria.pdf>.

SNUSTAD e SIMMONS. Fundamentos da Genética. 7 ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2017.

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RESPOSTA AOS QUESITOS GERAIS:

I. Qual o padrão de herança da doença analisada?


Trata-se de doença autossômica recessiva.

II. A doença afeta homens e mulheres na mesma proporção?


Sim.

III. Existe a possibilidade dessa doença pular gerações?


Sim.

IV. Se a doença desaparecer em uma geração, é possível que ela


reapareça na família em gerações futuras?
Sim. Se os pais forem heterozigotos portadores do gene recessivo da
fenilcetonúria, a condição pode reaparecer em gerações futuras.

V. Existe tratamento para a doença?


Sim. A doença pode ser tratada com sucesso se diagnosticada
precocemente, por meio de dieta restrita em fenilalanina desde o
nascimento, medicamentos, reposição enzimática e terapia gênica, a
depender do caso.
Importante ressaltar que a gestante faça um acompanhamento com um
nutricionista para realização de dieta restrita em fenilalanina durante o
período de amamentação.

VI. O tratamento influencia no cálculo de risco de recorrência da doença


na família? Justifique a resposta.
Não. A doença é a manifestação de uma herança genética que ocasiona a
perda total e/ou parcial da capacidade de converter fenilalanina em
tirosina, logo não há indícios de que o tratamento influencie em diminuição
ou aumento de recorrência da doença na família.

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RESPOSTA AOS QUESITOS ESPECÍFICOS:

I. O casamento consanguíneo influência na análise genética desse


caso? Justifique a resposta.
Sim. Quanto mais próximo o grau de parentesco, maiores são as chances
de ambos os genitores carregarem o alelo defeituoso.

II. Caso Daniel e Jane decidam ter mais filhos, qual a chance de nascer
uma menina saudável?
Probabilidade de ter uma menina é de 50% e a probabilidade de ter uma
criança saudável 75%. Portanto, probabilidade de ser menina e saudável é
de 37,5% ou ⅜.

III. Se Fábio decidir ter filhos com uma mulher que não tem o alelo
causador da doença, existe chance de seus filhos terem a doença?
Se esses filhos nascerem sem a doença, é possível que ela reapareça
em alguma geração futura ou podemos afirmar que está extinta
naquela família?
Não. Porém a doença pode reaparecer em gerações futuras se os
descendentes de Fábio tiverem uma prole com um indivíduo heterozigoto
recessivo portador da condição.

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