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Comentários • Arch. Endocrinol. Metab. 60 (2) •Abr 2016 •
https://doi.org/10.1590/2359-3997000000144
$CÓPIA
Puberdade precoce central: revisitando o
diagnóstico e o manejo terapêutico$
Vinícius Nahime Brito
Cristiane Kochi
Cristiane Kopacek
Gil Guerra-Júnior
RESUMO
O diagnóstico clínico e laboratorial e o tratamento da puberdade precoce central (PCP)
permanecem desafiadores devido à falta de padronização. O objetivo desta revisão foi
abordar as características diagnósticas e terapêuticas da PPC no Brasil com base na
literatura
Brasil
internacional relevante e na disponibilidade das terapias existentes no país. O
diagnóstico de PPC é baseado principalmente em parâmetros clínicos e bioquímicos, e
um período de acompanhamento é desejável para definir a forma “progressista” de pre-
cocidade
Arquivos de sexual. Isso ocorre
Endocrinologia devido ao amplo
e Metabolismo % espectro do desenvolvimento puberal,
incluindo a larca prematura isolada, crescimento constitucional e aceleração da puber-
dade, PCP progressiva e não progressiva e puberdade precoce. A medição dos níveis
basais e estimulados de LH continua desafiadora, considerando que os níveis nem
sempre estão na faixa puberal no início do estudo, a GnRH de curta duração não está
prontamente disponível no Brasil e os valores de corte diferem de acordo com o ensaio
laboratorial. Quando a PPC é suspeita, mas os valores basais de LH estão na faixa
pré-púbere, um teste de estimulação com GnRH mensal de curta ou longa duração é
uma opção diagnóstica. No Brasil, o tratamento de escolha para PPC progressiva e pu-
berdade precoce é um análogo de GnRH de longa duração (GnRHa) administrado uma
:
vez por mês ou a cada 3 meses. No Brasil, formulações de GnRHa (leuprorrelina e trip-
torelina) estão disponíveis e comumente administradas, incluindo depósito de 1 mês de
leuprorrelina 3,75 mg e 7,5 mg, depósito de 1 mês de triptorelina 3,75 mg e depósito de
3 meses de leuprorrelina 11,25 mg. Depósito mensal ou de 3 meses GnRHa são efica-
zes e seguros para tratar a PCP. Arch Endocrinol Metab. 2016;60(2):163-72
INTRODUÇÃO
A puberdade é um período de transição física, hormonal e psicológica da infância para
a idade adulta, com crescimento linear acelerado e realização da função reprodutiva. É
um processo complexo e multifatorial que inclui fatores genéticos, metabólicos, ambi-
entais, étnicos, geográficos e econômicos e resulta na reativação do eixo hipotálamo-
hipófise-gonadal (HPG). Um início puberal eficaz requer secreção hipotalâmica pulsátil
de GnRH estimulando a secreção de gonadotropinas pela glândula pituitária anterior
(LH = hormônio luteinizante e FSH = hormônio folículo estimulante). As gonadotropinas
estimulam as gônadas e exercem um efeito de feedback negativo no hipotálamo, en-
quanto os esteroides gonadais (T = testosterona, produzido pelos testículos, e E2 = es-
tradiol, produzido pelos ovários) inibem tanto o hipotálamo quanto a glândula pituitária
anterior. Este processo é chamado de gonadarca (1-3).
PARTICIPANTES E OBJETIVO
Foram escolhidos 6 participantes por sua experiência em endocrinologia pediátrica e
adulta. Portanto, uma reunião foi organizada em São Paulo, Brasil, em outubro de
2015, com representação da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e
da Sociedade Brasileira de Pediatria, Departamentos de Endocrinologia Pediátrica,
para examinar dados atuais relevantes para o diagnóstico e manejo terapêutico de cri-
anças com DPC. Esta revisão apresenta um resumo de questões essenciais sobre
este tópico.
O objetivo desta revisão foi abordar o diagnóstico e o manejo terapêutico da PPC com
base na literatura internacional relevante e na disponibilidade dos medicamentos exis-
tentes no Brasil.
Diagnóstico clínico
Velocidade de altura acima do valor esperado para sexo e idade e/ou altura aci-
ma do canal genético familiar.
A história clínica deve ser sempre a etapa diagnóstica inicial, e a investigação deve in-
cluir as condições de nascimento, histórico de trauma perinatal, infecções anteriores,
ingestão acidental de drogas e uso de cremes ou pomadas. Também é muito importan-
te identificar doenças neurológicas prévias e informações como a ocorrência de dor de
cabeça e alterações psicológicas, visuais ou de apetite. A idade de início dos sinais e
sintomas não é útil no diagnóstico diferencial. No entanto, manifestações clínicas abai-
xo dos 4 anos de idade sugerem etiologias orgânicas, particularmente hamartomas hi-
potalâmicos. Informações sobre a história familiar, incluindo a idade de início puberal e
casos semelhantes na família, podem ser úteis no diagnóstico de PPC familiar (10,16
-19) .
O exame físico deve incluir informações sobre altura, peso e estágio puberal. Nas me-
ninas, o diagnóstico diferencial da PPC pode ser desafiador porque o espectro do de-
senvolvimento puberal é muito amplo e inclui a laarca prematura isolada, crescimento
constitucional e aceleração da puberdade, PPC progressiva e não progressiva e puber-
dade precoce (desenvolvimento de características sexuais secundárias entre as idades
de 8 e 9 anos em meninas e 9 e 10 anos em meninos) ( 23,24 ). Em meninos, o de-
senvolvimento testicular é frequentemente indicativo de ativação do eixo HPG, enquan-
to na puberdade periférica, o crescimento peniano ocorre sem desenvolvimento testicu-
lar concomitante, ou o tamanho do testículo é desproporcional à virilização da genitália.
Outras avaliações importantes durante o exame físico que podem ajudar no diagnósti-
co diferencial da DPC idiopática e neurogênica incluem exame neurológico, medição
do perímetro cefálico e avaliação funduscópica. O exame físico também deve investi-
gar a presença de neurofibromas e manchas café com leite com bordas regulares, que
são sugestivas de neurofibromatose tipo 1 e relacionadas à PPC (associadas ao glio-
ma óptico). Manchas café-au-lait com bordas irregulares e muitas vezes irregulares po-
dem indicar o diagnóstico de síndrome de McCune-Albright, que está associada à pu-
berdade precoce periférica da etiologia ovariana (10,16 -19) .
:
Diagnóstico diferencial da puberdade precoce
Diagnóstico laboratorial
Avaliação hormonal
Nas meninas, os níveis séricos de E2 não são usados para diagnosticar PPC, conside-
rando sua baixa sensibilidade e grande sobreposição entre crianças pré-púberes e pú-
beres normais (26). Nos meninos, o T total sérico é sensível ao diagnóstico precoce de
puberdade, mas insuficiente para determinar o diagnóstico diferencial entre PPC cen-
tral e periférica, que é estabelecido a partir dos níveis de LH. Também no sexo masculi-
no, a medição do β-hCG é sempre recomendada. A medição do FSH basal ou estimu-
lado por GnRH não é útil no diagnóstico de PPC, mas quando os níveis são baixos ou
suprimidos, eles sugerem fortemente o diagnóstico de puberdade precoce periférica
(10). Os níveis de gonadotrofinas e hormônios esteroides sexuais em crianças com
menos de 2 anos de idade devem ser interpretados com cautela, uma vez que muitas
vezes estão aumentados nessa idade em associação com a minipuberdade fisiológica.
Imagens
A idade óssea (BA) é obtida com uma radiografia do punho e da mão não dominantes
e estimada por diferentes métodos, dos quais Greulich e Pyle são os mais comumente
usados ( 39 ). Em pacientes com puberdade precoce, a AB é frequentemente avança-
da e, quando o avanço excede um ano ou dois desvios-padrão (DP), é considerada
significativa. A AB é usada para prever a altura adulta pelo método Bayley-Pinneau (
40
), embora este método tenha baixa precisão. Tabelas de Bayley-Pinneau para AB
média devem ser preferidas àquelas que usam AB acelerada, uma vez que estas últi-
mas superestimam a altura adulta ( 41,42 ). A ultrassonografia pélvica não é usada no
diagnóstico de puberdade precoce, mas em meninas, ajuda a determinar o volume ute-
rino e ovariano e é um método sensível para detectar cistos e lesões neoplásicas. Um
volume ovariano > 1,8 mL e comprimento uterino > 3,4 cm indicam estimulação hormo-
nal e podem ser um parâmetro laboratorial adicional para avaliar meninas com puber-
dade precoce (16). Microcistos e folículos ovarianos são achados normais em aproxi-
madamente 40% das meninas pré-púberes. Alguns estudos demonstraram que a ul-
trassonografia pélvica e os achados do Doppler da artéria uterina são úteis para esta-
:
belecer um diagnóstico diferencial entre a telarca prematura isolada e a PPC progressi-
va. Esta avaliação é baseada no índice de pulsatilidade (IP) da artéria uterina (uma di-
ferença entre o pico de fluxo sistólico e final diastólico dividido pela velocidade do flu-
xo). No entanto, este método requer um examinador experiente ( 43 ). Após a confir-
mação laboratorial da PPC, a avaliação anatômica do sistema nervoso central (SNC)
deve ser realizada em todos os pacientes, preferencialmente por ressonância magnéti-
ca (RM) (10,44). A tomografia computadorizada do cérebro pode identificar tumores do
SNC, principalmente calcificados, mas tem baixa sensibilidade para detectar pequenos
hamartomas.
Estudos moleculares
Em todos os casos de PPC idiopática com ou sem história familiar, o estudo molecular
do gene anel-dedo 3 de makorin (MKRN3), recentemente implicado na etiologia genéti-
ca da PPC, é indicado e pode elucidar a base genética da PPC, sem implicação no di-
agnóstico e manejo terapêutico (26). O MKRN3 tem um potencial efeito inibitório na se-
creção de GnRH e mutações inativantes do MKRN3 foram identificadas em famílias de
várias origens geográficas (12). Na verdade, MKRN3 representa a causa genética mais
comum de CPP (&Tabela 1). Na PPC familiar, defeitos do MKRN3 foram encontrados
em cerca de 30% das famílias ( 45 ), enquanto em pacientes com PPC aparentemen-
te esporádica, defeitos do MKRN3 foram detectados em cerca de 8% dos casos (12).
Nesses casos, o aconselhamento genético deve ser considerado nos pacientes afeta-
dos e seus familiares.
mais comumente usados, e sua eficácia e segurança no tratamento da PPC foram de-
monstradas por vários estudos. A dose de GnRHa usada para tratar a PPC é de 75-
100 µg/kg. Na prática, isso corresponde a 3,75 mg administrados por via intramuscular
ou subcutânea a cada 28 dias. Embora alguns grupos americanos recomendem doses
mais altas de GnRHa (200-300 µg/kg), uma dose mensal de 7,5 mg não mostrou resul-
tados clínicos superiores para iniciar a parada puberal ( 49 ). Nos últimos anos, pre-
parações mais convenientes com dosagem trimestral tornaram-se disponíveis, como
AL 11,25 mg, 22,5 mg e 30 mg, com vários estudos demonstrando sua eficácia e segu-
rança em comparação com os do GnRHa mensal. No entanto, os resultados de acom-
panhamento a longo prazo ainda estão faltando ( 49 - 51 ). No Brasil, a recente
aprovação do depósito de 3 meses LA 11,25 mg para tratar a PPC melhorou a conveni-
ência e a adesão da dosagem e trouxe resultados terapêuticos satisfatórios. A parada
puberal pode ser obtida inicialmente com doses de depósito de 1 mês (3,75 mg ou 7,5
mg) ou depósito de 3 meses (11,25 mg). Um fluxograma do tratamento da PPC é apre-
sentado em'Figura 2.
GnRHa são geralmente bem tolerados, e seus efeitos colaterais são infrequentes e in-
cluem reações alérgicas locais (5%-10% dos casos), cefaleia, dor abdominal, sangra-
mento vaginal após a primeira dose de GnRHa, náuseas, sintomas vasomotores devi-
do a hipoestrogenismo e hiperprolactinemia e, raramente, anafilaxia (10,44). Esses
efeitos podem ser de intensidade leve a grave. Deve-se prestar atenção à reação alér-
gica local, caracterizada pelo desenvolvimento de um abscesso estéril, que prejudica a
absorção de GnRHa que não suprime a secreção hormonal ( 53 ). Nesses casos, o
:
acetato de medroxiprogesterona (MPA) ou acetato de ciproterona (CPA) representam
opções terapêuticas. Tanto o MPA quanto o CPA são úteis no bloqueio da progressão
da puberdade, mas não têm impacto benéfico na altura final. O AMF inibe a liberação
central de gonadotrofina agindo no gerador de pulsos hipotalâmicos e também inibe di-
retamente a esteriólise gonadal, inibindo a enzima 3 beta-hidroxiesteroide desidroge-
nase 2 (16,19). Além disso, o MPA tem uma ação mimética glicocorticóide, resultando
na supressão do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), hipertensão, desenvolvimento
de habitus cushingoide e perda mineral óssea. A dosagem do AMF varia de 50 mg a
150 mg por mês (injeção intramuscular no depósito). As vantagens do AMF incluem
seu baixo custo, fácil administração e eficácia estabelecida no bloqueio da progressão
da puberdade (16,19). A CPA tem atividade antiandrogênica, competindo com a testos-
terona por seu receptor em tecidos periféricos e uma ação progestacional adicional no
nível hipofisário, suprimindo parcialmente a secreção de gonadotropinas. As doses
orais diárias habituais de PCR são de 50 a 100 mg/m2 (16). Os efeitos colaterais da
CPA incluem sintomas gastrointestinais e ginecomastia no sexo masculino. Devido ao
seu efeito supressor de ACTH e cortisol, o hipoadrenalismo laboratorial pode ocorrer
com o uso de CPA, merecendo atenção especial em situações estressantes (16,19).
Vale ressaltar que essas opções terapêuticas devem ser consideradas apenas quando
GnRHa não estiver disponível ou, como mencionado acima, em caso de reação local.
CONCLUSÕES
A puberdade é um processo multifatorial. O diagnóstico clínico da puberdade precoce
nem sempre é fácil, particularmente no sexo feminino e entre as variantes do desenvol-
vimento normal (telarca precoce e crescimento constitucional e aceleração da puberda-
de) com condições patológicas progressivas e não progressivas. A decisão de tratar a
PPC, principalmente em meninas, é baseada em dados clínicos e antropométricos e no
avanço da idade óssea. Às vezes, esses dados obtidos no acompanhamento de curto
prazo não recomendam o tratamento da PPC. Embora o diagnóstico bioquímico tenha
mostrado melhora significativa com imunoensaios mais sensíveis e específicos, a pa-
dronização ainda é necessária devido à disponibilidade de vários métodos e protocolos
para medir a LH basal e estimulada por GnRH. Esse fato resulta em diferentes valores
de corte para confirmar a ativação do eixo gonadal. O tratamento com GnRHa mostrou
avanços significativos nos últimos anos, com dosagens mais convenientes, eficazes e
seguras a curto e longo prazo.
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Errata
Datas de Publicação
» Publicação nesta coleção
Abr 2016
História
» Recebido
12 de fevereiro de 2016
» Aceito
10 de março de 2016
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