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SEMIOLOGIA 2016
Arlindo Ugulino Netto.
SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA
A pediatria pode ser conceituada como a especialidade da medicina que cuida do ser humano durante seu
período de desenvolvimento: da fecundação à puberdade. Desta forma, a semiologia pediátrica é definida como a
ciência que estuda os sinais e sintomas que vão constituir as síndromes na infância, com finalidade diagnóstica.
Portanto, a semiologia pediátrica é a ferramenta que médico pediatra lança mão para guiá-lo na consulta
pediátrica. Ela é, basicamente, composta por três partes:
Anamnese
Exame Físico
Exames Complementares
ANAMNESE
A anmanese do paciente pediátrico deve ser o mais completa e detalhada possível, representando a evolução da
criança até o momento da consulta. Para isso, é necessário ao pediatra utilizar uma linguagem acessível e demonstrar
respeito e interesse na história contada pelo paciente. Os seguintes passos caracterizam a anamnese:
a) Identificação; g) Desenvolvimento Psico-motor (DPM)
b) Queixa Principal (QP) h) Antecedentes Imunológicos (AI)
c) História da Moléstia Atual (HMA) i) História Mórbida Familiar (HMF)
d) Antecedentes Gineco-obstétricos (AGO) j) Revisão de sistemas (RS)
e) História Mórbida Pregressa (HMP) k) Condições e Hábitos de Vida (CHV)
f) Antecedentes Alimentares (AA)
Durante a anamnese, o médico deve coletar uma história clínica adequada, preferencialmente com a ajuda do
responsável legal pela criança. Dessa forma, o médico deve estabelecer os fatos relevantes da anamnese, levantar
todos os achados clínicos relevantes, confrontar os achados da anamnese para a realização do exame físico,
identificando os fatos veríditos e dessa forma exclindo excessos e percebendo alterações não relatadas pela mãe ou
criança.
Depois disso, o médico deve formular um diagnóstico hipotético, baseado nos sinais e sintomas coletados e
comprovados através dp exame físico e, da mesma forma, estabelecer o diagnóstico diferencial com outra entidades
nosológicas. Com essas medidas, pode-se estabelecer com segurança o plano terapêutico daquele paciente. Caso
seja necessário, pode-se fazer uma investigação complementar, para tornar o diagnóstico mais claro.
IDENTIFICAÇÃO
A identificação possui múltiplos interesses. O primeiro deles é de iniciar o relacionamento com o paciente. Saber
o nome de uma paciente é indispensável para que se comece um processo de comunicação em nível afetivo.
São obrigatórios os seguintes interesses:
Nome; Data de nascimento; Sexo; Cor; Naturalidade; Procedência; Tipo de residência; Ocupação (estudante?).
QUEIXA PRINCIPAL
Em poucas palavras, registra-se a queixa principal que levou o paciente a procurar o médico, além do tempo de
duração do sinal deste sinal. Portanto, a queixa principal registra o motivo pelo qual a família levou a criança ao médico
e deve ser escrito com as próprias palavras do informante.
A QP é, em outras palavras, a resposta da seguinte pergunta: “Qual o problema que o (a) trouxe à consulta?
Há quanto tempo o(a) senhor(a) sente isso?”. A resposta deve ser reescrita pelo médico buscando seguir os
seguintes pontos:
Repetir as expressões utilizadas pelo paciente;
Incluir sempre a duração da queixa.
ANTECEDENTES GINECO-OBSTÉTRICOS
Os seguintes pontos devem ser abordados:
Estado de saúde da mãe durante a gestação; Se fez pré-natal (número de consultas);
Idade da mãe; Tipo de parto e local;
Grupo sanguíneo e Rh; Condições de nascimento.
Intercorrências no parto;
ANTECEDENTES ALIMENTARES
É necessário levantar os seguintes questionamentos:
Se foi amamentado exclusivo ao seio materno e Qualidade e quantidade dos alimentos ofertados;
quanto tempo; Número de refeições;
Idade do desmame e condições; Pesquisar intolerância ou alergia alimentar.
DESENVOLVIMENTO PSICO-MOTOR
Assinalar c/ que idade:-sorriu ,sustentou a cabeça, Controle esfíncteres;
sentou, engatinhou, andou; Sociabilidade;
Quantidade e qualidade do sono; Escolaridade e aproveitamento escolar.
ANTECEDENTES IMUNOLÓGICOS
Verificar carteira de vacinas;
Verificar sinal de BCG;
Obter informações sobre reações vacinais.
EXAME FÍSICO
Neste ponto, é pertinente fazer a seguinte observação: o exame físico na criança não segue as regras
estabelecidas para o exame físico sistemático dos adulto. Geralmente, o médico pediatra deve iniciar o exame pela
região que esteja mais acessível e/ou que seja menos estressante ou dolorosa para criança, de modo que o paciente
aceite, com uma maior facilidade, o exame.
No próprio colo da mãe, por exemplo, o médico pediatra já é capaz de avaliar o padrão respiratório do paciente,
a presença de deformidades ou abaulamentos, coloração da pele, batimentos de aletas nasais, sinais evidentes de
síndromes, etc. Só então devemos iniciar alguns procedimentos e técnicas que são desagradáveis (o que inclui:
oroscopia, otoscopia, exame ocular e inspeção da região inguinal).
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OBS : Durante o exame físico, a cooperação da criança é indispensável para que o exame tenha algum valor
diagnóstico. Crianças estressadas inquietas tornam a avaliação médica dificultosa e incômoda (principalmente para
mães e acompanhantes). Com isso, algumas medidas simples podem acalmar a criança, tais como:
Conquistar amizade da criança: item indispensável para avaliação dessa criança, isso é importante não só para
a a consulta, mas também porque o vínculo pediátrico com aquela estará presente até os 21 anos.
Falar com voz suave;
Explicar antes o que vai fazer:
Evite dominar a criança;
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De um modo geral, durante o exame físico de uma criança, o médico vai comprovar todos os achados que foram
relevantes coletados durante a anamnese. Dessa forma, os sinais (dados que podem ser verificados de maneira
objetiva) e os sintomas (dados subjetivos, que o médico só terá conhecimento com o relato do paciente) poderão ser
evidenciados e, desta forma, caracterizar síndromes (conjunto de sinais e sintomas que estão ligados alguma mesma
entidade nosológica) e, portanto, todos estes dados devem ser cuidadosamente investigados pelo médico, para que
possa ser estabelecido uma hipótese diagnóstica concreta.
Em resumo, o exame físico caracteriza-se por:
Avaliação dos aspecto gerais e dados vitais
Medidas antropometricas
Avaliação de órgãos e sistemas
Atitude e posição: posição que o paciente adota com a finalidade de se sentir confortável.
o Atípica (normal): não há preferências.
o Típica: Sugere um desconforto.
Genupeitoral: geralmente a criança adota essa posição, pois ela permite uma melhor
oxigenação e ventilação, por isso, nesses casos deve-se suspeitar de alguma cardiopatia
congênita.
Ortopnêica: em crianças a ortopneia deve-se sempre pensar em edema agudo de pulmão.
Nesses casos o exame do aparelho respiratório é de extrema importância, podendo nesses
casos auscultar ruídos adventícios (estertores finos), mostrando na radiografia congestão
bilateral. Diferentemente em adultos ocorre devido a enfisema pulmonar, cardiopatias,
insufiência cardíaca congestiva.
Cócoras: Também sugere doenças cardíacas.
Antálgica: pode se manifestar de várias formas: (1) Colocação da mão sobre o local, (2)
decúbito lateral sobre o local, (3) decúbito lateral oposto ao local, (4) decúbito ventral, (5)
decúbito dorsal / flexão MMII.
Posições contraturais: (1) Opistótono: contratura muscular intensa em que a criança
permaneça apoiada sobre os calcanhares e região nuncal. Pode ocorrer devido a irritação
meníngea infecciosa (meningite) ou ainda, nos casos avançados de tétano; (2) Ortótono, (3)
Pleurotótono, (4) Gatilho.
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Condições de higiene
Ativo ou hipoativo
Estado psíquico
Biotipo:
Longilíneo;
Brevilíneo;
Normolíneo;
Fala:
Disfonia;
Afonia;
Disfasia;
Dislalia;
Dislexia.
Coloração da pele: um sinal clínico importante nesses pacientes é a palidez cutâneo-mucosa. Este sinal pode
ser simplesmente devido a uma má-alimentação, ou ainda, predizer condições graves, como ocorre por
exemplo, nos casos de hipoxemia, que mesmo a criança com hemograma normal, apresenta-se pálida, nesses
casos é necessária a utilização de O2. Quando a palidez está acompanhada de sudorese, extremidade frias,
oligúria, pode ser devido a hipotensão, sinais importantes de choque (inclusive, diferentemente do adulto, a
hipotensão é um sinal tardio de choque na criança).
Dados vitais:
Temperatura em graus Celsius: axilar, auricular e retal.
Frequência cardíaca;
Pulso;
Frequência respiratória.
Peso:
o Desnutrição: ocorre naqueles casos em que há um deficit alimentar, nesses casos são chamadas de
desnutrição primária. Já nos casos de desnutrição secundária, ocorre devido a patologias específicas.
o Obesidade: é o resultado de um desequilíbrio energético, em que, a oferta é maior que a gasto de
energia. Com isso, o alimento é armazenado na forma de tecido adiposo.
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OBS : É importante estabelecer o diagnóstico diferencial de edema com obesidade. Geralmente crianças desnutridas
apresentam um quadro de hipoproteinemia e, devido a um desequilíbrio osmótico, podem apresentar edema
generalizado, o que erroneamente pode ser interpretado pelas mães como obesidade. Além disso, ainda é necessário
fazer diagnóstico diferencial com doenças renais.
MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS
Os dados aqui obtidos devem ser colocados em gráficos específicos, e incluem:
Peso
Estatura
Perímetro cefálico
Perímetro torácico
Perímetro abdominal
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PESO
A pesagem de recém-nascidos (com até 16kg) deve ser feita em balanças próprias para esta faixa etária;
quando acima de 16kg, utilizar balança para adultos.
ESTATURA
A medição da estatura deve ser feita mensalmente, pelo menos, e devidamente registrada nas curvas de
crescimento. Para crianças menores de 2 anos, devemos medí-la deitada, com antropômetro de Harpender; para
crianças maiores de 2 anos, a medição deve ser feita em pé, com escala métrica ou em balança antropométrica.
Desta forma, temos os seguintes padrões para aumento da estatura:
Primeiro ano de vida- 25 cm;
Segundo ano de vida- 12,5 cm;
Terceiro ano de vida- 9 cm;
Cerca de 6cm/ano até a puberdade;
Entre 4 e 5 anos - duplica a estatura em relação ao nascimento;
Entre 12 e 13 anos - triplica a estatura em relação ao nascimento;
PERÍMETRO CEFÁLICO
A medição do perímetro cefálico deve ser feito com auxílio de fita métrica, passando pela glabela e pelo
occipício, sem abranger as orelhas.
O padrão normal é o que segue:
Primeiro ano de vida em torno de 12 cm;
Primeiro semestre 1cm /mês;
Segundo semestre ½ cm /mês.
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b) Palpação: aquecer as mãos e pesquisar: pontos dolorosos, tumorações, nódulos, frêmito tóraco vocal –
choro/gemido, expansibilidade – simetria.
c) Ausculta: toda a região torácica; pesquisa de murmurio vesicular; presença de ruídos adventícios; pode ser um
dos primeiros passos do exame físico,dependendo do psiquismo da criança.
b) Ausculta: inicia-se pelo ictus-que corresponde a área mitral (AM); ainda no 4 EICE mais próximo ao esterno-área
tricúspide (AT); no 2 EICE ,próximo ao esterno-área pulmonar (AP); no 2 EICD,próximo ao esterno-área
aórtica(AA). Deve-se determinar: frequência cardíaca; ritmo das bulhas cardíacas; intensidade das bulhas
cardíacas; presença de outros ruídos (atrito ou sopros(sistólico,diastólico e contínuos).
0 a 1 mês –70 a 190 bpm
1m a 11 meses-80 a 160 bpm
2 anos-80 a 130 bpm
FC 6 anos-75 a 115 bpm
10 anos-70 a 110 bpm
14 anos-60 a 105 bpm
18 anos-50 a 95 bpm
c) Palpação de pulsos: com 2 e 3 dedos, devemos avaliar, de forma comparativa (lados simétricos), a intensidade,
ritmo e simetria dos pulsos. Devemos verificar os pulsos radiais, femorais e pediosos.
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d) Aferição de Pressão arterial: o manguito deve ser adequado ao tamanho da criança; só tem valor quando
medido com a criança tranquila.
EXAME DO ABDOME
a) Inspeção: forma; simetria; cicatriz umbilical(hérnias/secreções); presença de movimentos peristálticos;
abaulamentos; circulação colateral.
b) Ausculta: deve preceder a palpação e a percussão; inicia-se pela fossa ilíaca esquerda; pesquisar ruídos hidro
aéreos: aumentados (diarreia,fase inicial da peritonite) / redução ou abolidos (íleo paralítico e peritonite
avançada).
c) Palpação: evitar manobras bruscas; mãos devem estar aquecidas e a mão espalmada sobre o abdome (utiliza
as popas digitais); aproveitar a inspiração (maior relaxamento muscular).
Inicia-se com palpação superficial -deslizando a mão sobre o abdome,observando se há dor.
Pesquisa-se presença de massas ou visceromegalias;
No lactente –fígado é palpado a 2/3 cm abaixo do RCD;
Em 14 % dos lactentes palpa-se ponta de baço e em 7% das crianças entre 2 e 7 anos;
Palpação de loja renal-c/ a mão esquerda apoiada sob o ângulo costovertebral e palpa-se c/ a mão
direita,normalmente os rins não são palpáveis;
d) Percussão: todo abdome deve ser percutido. O som é timpânico na maior parte do abdome devido a presença
de víscera ocas (intensidade variável). Por meio da percussão, podemos realizar hepatimetria e pesquisa de
esplenomegalia.
Meninas:
Simetria de grandes lábios;
Presença de pilificação ou tumoraçao;
Coloração de mucosa da vulva e introito vaginal;
Características de clitóris,pequenos lábios e hímem;
Presença de secreções.
No que diz respeito à região anal, devemos, inicialmente, procurar a perfuração anal (alguns recém-nascidos
podem nascer com ânus imperfurado) e avaliar o pregueamento de esfíncter. Neste momento, devemos observar a
presença de mal formações, fissuras e outras lesões.
AVALIAÇÃO DA PELE
A avaliação cutânea baseia-se pela pesquisa de discromias, tumorações, descamações, lesões
eritematovesiculares, sinais de infecção, alterações da coloração (cianose, icterícia, anemia, etc.).
OROSCOPIA
Realizado com auxílio de luz e espátula;
Avaliar: aspecto e cor da mucosa; condição dos dentes; exame da língua (papilas, manchas, lesões);
visualização de palato mole,úvula e amígdalas e presença de secreções;
OTOSCOPIA
Utiliza-se Otoscópio com espéculo de tamanho apropriado p/ cada idade;
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EXAME NEUROLÓGICO
Durante o exame físico do RN, é possível iniciar-se simultaneamente a avaliação neurológica, com base na
observação da postura, da movimentação espontânea, da resposta ao manuseio, incluindo o choro. Um exame mais
acurado deve ser realizado, após 24 horas de vida, a fim de minimizar a influência do estresse do parto sobre sua
performance neurológica.
O exame neurológico pode ser feito com a pesquisa dos reflexos arcaicos que traduzem uma imaturidade, ou
falta de mielinização do SNC. Alguns desses sinais desaparecem e alguns outros se modificam, entre os principais são:
Reflexo de Moro (reflexo do abraço): é um movimento global do qual participam os membros superior e
inferior; é facilmente provocado por um som ou soltando-se subitamente o RN que estava seguro nos braços. A
coluna vertebral arqueia-se para trás, a face mostra surpresa, os braços e mãos se abrem, encurvam-se para
frente num movimento que simula um abraço; as pernas se estendem e depois e depois se elevam; pode
acompanhar-se de choro. A ausência ou redução deste reflexo indica grave lesão do SNC. Quando assimétrico
pode significar paralisia braquial, sífilis congênita (pseudoparalisia de Parrot) ou fratura de clavícula ou úmero.
Desaparece aos 3-4 meses de idade. Sua forma completa consta de 3 componentes: abdução dos braços e
extensão dos antebraços sobre os braços, abertura das mãos, choro. Desaparece entre 4 e 6 meses.
Sucção: o RN normal apresenta sucção reflexa como resposta a qualquer objeto que lhe toque os lábios.
Preensão Palmo-Plantar: obtém-se por estimulação da palma das mãos ou planta dos pés com um objeto ou o
próprio dedo. Entretanto quando o bebê está com a 6 a 8 meses, a preensão já é considerada voluntária e não
reflexa.
Marcha Reflexa: sustentando-se o RN sob as axilas em posição supina, encosta-se um dos pés do RN sobre o
plano. Este contato vai desencadear uma flexão do outro membro inferior, que se adianta e vai tocar o plano à
frente, desencadeando uma sucessão de movimentos que simula a deambulação. Desaparece aos 2 meses.
Fuga ou Asfixia: colocando-se o RN em decúbito ventral, de modo que as narinas fiquem obstruídas pelo
plano onde está deitado, o RN faz uma rotação da cabeça para respirar melhor.