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INSTITUTO FRATELLI – PSICOLOGIA E SAÚDE

LAÍS RIBEIRO

FORMAÇÃO EM TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL


ESTUDO DE CASO: TCC EM CASO DE ANSIEDADE SOCIAL

SALVADOR
2022
1. INTRODUÇÃO

A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é uma abordagem pensada por Aaron


Beck e tem como princípios básicos: ser de curto prazo, ser estruturada e focada em
problemas (BECK, 2013). Segundo Moura et al (2018), a TCC parte do pressuposto de que o
sujeito faz avaliações a respeito dos acontecimentos de forma que há uma associação entre as
cognições e as reações emocionais. Com isso, entende-se que a função cognitiva é
imprescindível nessa abordagem. Ademais, Moura et al (2018) destacam que a TCC tem
como propósito corrigir as distorções cognitivas que o indivíduo possui a respeito de si, do
mundo e do futuro.
Ademais, destaca-se que o Transtorno de Ansiedade Social (TAS) é um dos tipos de
transtornos de ansiedade mais comuns, sendo o terceiro mais prevalente dentre todos os
transtornos mentais (CLARK E BECK, 2012). Quanto ao tratamento, Muller et al (2015)
observaram na literatura evidências de eficácia da psicoterapia e da farmacoterapia ou do
tratamento combinado, sem haver um predomínio destes. Além disso, ressalta-se que a
literatura também traz a contribuição da TCC no tratamento de indivíduos que receberam o
diagnóstico de TAS. Isso, de acordo com Juster e Heimberg (1995) e Ballenger et al. (1998)
se deve ao desenvolvimento de tal abordagem em estratégias terapêuticas específicas e
efetivas. Em conformidade a isso, estudos têm apresentado que o tratamento para TAS a partir
da terapia cognitivo-comportamental tem recebido resultados positivos, imediatos e
duradouros (HOFFMANN e BARLOW, 2002; HOLLON et al., 2006 apud MULLER, 2015).

2. DEFINIÇÃO DA ÁREA

Sendo uma das principais representações do que define a psicologia para o senso
comum, a clínica pode ser entendida como uma área da psicologia ainda muito recente.
Nascida nos Estados Unidos em 1950, tal área começou a se apresentar como uma alternativa
ao modelo médico através da explicação de comportamento visíveis a partir da psiquê
(BRITO, 2007).
De acordo com Mackay (1975 apud RIBEIRO & LEAL, 1996), a psicologia clínica
objetiva definir os aspectos comportamentais individuais e suas capacidades por meio de
métodos de análise e, a partir de uma integração destes resultados com as informações
oriundas dos exames físicos, história social, promover intervenções relacionadas a um
“ajustamento do indivíduo” que são apropriadas. Em consonância a isso, Pierón (1968 apud
RIBEIRO & LEAL, 1996) acrescenta que a psicologia clínica é a ciência do comportamento
humano, que tem como base a observação e análise aprofundada tanto de casos individuais
quanto grupais.

3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO(S) ATENDIMENTO(S)

O estudo de caso a ser discutido foi apresentado por Muller et al (2015) e se trata do
paciente de nome fictício Daniel, sexo masculino, adulto jovem, filho único, estudante do
nível superior e heterossexual. Este apresentou como queixas principais: ansiedade
relacionada a diversos contextos sociais, dificuldade na escolha profissional e para realizar
seu trabalho de conclusão de curso.
Apesar de ter alguns amigos, Daniel considerava ser tímido quando criança. Na escola,
buscava se sentar nos cantos a fim de não chamar a atenção, além de apresentar bom
rendimento escolar. No início da adolescência, Daniel passou por dificuldades financeiras,
além da separação de seus pais, sobre a qual não foi informado. Com isso, este passou a se
isolar socialmente, passando a maior parte do tempo em seu quarto. Daniel apresentava medo
excessivo ao lidar com as pessoas, sentia-se muito ansioso em seleções profissionais,
buscando por aquelas para as quais era indicado. Este já havia realizado psicoterapia durante a
adolescência por um período de três anos. Contudo, retomou a terapia, quando adulto jovem
por conta da ansiedade desencadeada em situações sociais e também por conta de uma
ansiedade antecipatória. Daniel não mencionou nenhuma doença clínica. Este fez uso de
escitalopram e rivotril durante a adolescência durante seu primeiro acompanhamento
psicológico e psiquiátrico. Além disso, Daniel também relatou dificuldades para se aproximar
de garotas nas festas da faculdade, tendo dificuldades para falar com as mesmas por pensar
que elas não gostariam dele. O paciente também relatou ter dificuldades ao tentar ter relações
sexuais antes, por se sentir muito ansioso; contudo, anos depois, iniciou um namoro com uma
pessoa que já conhecia e com quem está em um relacionamento há mais de 2 anos. Quanto a
esta, ele alegou se sentir ansioso antes de ter a primeira relação sexual, porém, com o tempo,
passou a conseguir fazê-lo de forma continuada.

4. DESCRIÇÃO DO(S) ATENDIMENTO(S)

O tratamento psicoterapêutico de Daniel se deu em 48 sessões individuais ao longo de


12 meses, sendo 10 sessões para uma avaliação inicial – que tinha como objetivo avaliar a
queixa principal e o histórico médico, familiar e social do paciente –, 35 sessões nas quais
foram realizadas intervenções psicoterapêuticas sob a perspectiva da TCC, como
psicoeducação, treino de habilidades sociais e uso do feedback, e 3 sessões que tinham como
finalidade executar uma avaliação final do processo. Ademais, as autoras também trazem que,
após 6 meses de alta do paciente, foi realizada uma sessão de seguimento, na qual não foi
identificada a necessidade de avaliação psiquiátrica, o que resultou no não uso de
medicamentos.
Durante a avaliação inicial, observou-se que Daniel apresentava dificuldades para
avaliar suas capacidades sociais, além de superestimar a probabilidade de ocorrência de
eventos negativos. Observou-se que, em momentos ansiogênicos, crenças de incapacidade e
inadequação eram ativadas, além de que Daniel desenvolveu padrões elevados a respeito do
que seria considerado um comportamento social adequado. Ademais, através do exame do
estado mental, as autoras observaram alterações, como: atenção autofocada, atenção e
memória seletiva – com foco para situações e lembranças de desempenho negativos –, timidez
excessiva, aceleração do pensamento e ansiedade antecipatória.
No decorrer do tratamento, a psicóloga trabalhou na psicoeducação do paciente a
respeito do modelo cognitivo comportamental, de forma que este passasse a prestar mais
atenção em seus pensamentos, emoções e comportamentos. Além disso, foi utilizada a técnica
da reestruturação cognitiva a fim de que Daniel pudesse aprender a identificar cognições
disfuncionais e a fazer o teste de realidade, tornando-se apto para corrigir os pensamentos
disfuncionais. Destaca-se também como principais estratégias adotadas para tal objetivo do
tratamento de Daniel: busca de evidências, descatastrofização e identificação de erros
cognitivos.
Por fim, pode-se observar grande avanço no tratamento de Daniel. As autoras
destacam que, ao longo das sessões, o senso de humor do paciente foi sendo percebido por ele
como uma possível qualidade que contribuiria nas suas relações interpessoais. Com o tempo,
este passou a receber feedbacks positivos dos seus colegas de trabalho – estes traziam que
achavam Daniel uma pessoa comunicativa. Ainda a respeito do trabalho, outro avanço
percebido no comportamento de Daniel, foi quanto ao desenvolvimento de habilidades
voltadas a defesa de seus próprios direitos – o paciente conseguiu pedir aumento do salário
para seus superiores, tendo em vista que este recebeu uma demanda maior que o de costume.
Por fim, Daniel também percebeu que passou a lidar melhor com as interações ao avaliar seus
pensamentos mais funcionalmente e ao alocar sua atenção aos contextos sociais.
5. CONCLUSÃO

A partir da apresentação sintetizada do estudo de caso, pode-se constatar que o


tratamento psicológico permitiu que o paciente em questão desenvolvesse suas habilidades
sociais, além de ter suas crenças centrais disfuncionais e erradas corrigidas e sua ansiedade
social reduzida. Destaca-se também o papel fundamental da técnica de reestruturação
cognitiva relacionada à exposição, além do treino de habilidade sociais para o seu
desenvolvimento e consequente melhora.
Por fim, sendo a TCC uma abordagem que tem como um de seus princípios o foco nos
problemas, considera-se que tal linha teórica foi extremamente adequada ao objetivo do
cliente. Ademais, enfatiza-se também que as autoras consideraram que as técnicas cognitivas
que trouxeram mais resultados durante o processo psicoterapêutico do paciente Daniel foram:
“a reestruturação cognitiva, a exposição e o treino em habilidades sociais, pois foram as
técnicas que mais auxiliaram na redução dos sintomas de ansiedade e no enfrentamento de
situações sociais.” (MULLER ET AL., 2015 p. 76).

6. REFERÊNCIAS

BALLENGER, J.C.; DAVIDSON, J.R.; LECRUBIER, Y.; NUTT, D.J.; BOBES, J.; BEIDEL,
D.C; DEBORAH, C.; ONO, Y.; WESTENBERG, H.G.M. Consensus statement on social
anxiety disorder from the international consensus group on depression and anxiety.
Journal of Clinical Psyhchyatry, v. 59, n. 17, p. 54-60. 1998.

BECK, J. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2.ed. Porto Alegre: Artes


Medicas, 2013.

BRITO, S. Psicologia clínica: procura de uma identidade. Psilogos, v. 4, n. 2, p. 63-68.


2007.

CLARK, D.A.; BECK, A.T. Terapia cognitiva para os transtornos de ansiedade: ciência e
prática. Porto Alegre, Artmed, p. 640. 2012.
JUSTER, H.R.; HEIMBERG, R.G. Social phobia-longitudinal course and long-term
outcome of cognitive-behavioral treatment. The Psychiatric Clinics of North America, v.
18, n. 4, p. 821-841. 1995.

MOURA, I. M., ROCHA, V. H. C., BERGAMINI, G. B., SAMUELSSON, E., JONER, C.,
SCHNEIDER, L. F., MENZ, P.R. A terapia cognitivo-comportamental no tratamento do
transtorno de ansiedade generalizada. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio
Ambiente. Ariquemes: FAEMA, v. 9, n. 1, jan./jun., 2018.

MULLER, J. L., TRENTINI, C. M., ZANINI, A. M., LOPES, F. M. Transtorno de


Ansiedade Social: um estudo de caso. Contextos Clínicos, v. 8, n.1, p. 67-78, jan-jun. 2015

RIBEIRO, J. P., LEAL, I. P. Psicologia clínica da saúde. Análise Psicológica, v. 4, n.14, p.


589-599, 1996.

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