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Psicanalítica:
Freud, o fundador da psicanálise, estabelece Ao criar a categoria das psiconeuroses narcísi-
premissas para a compreensãocontemporânea cas para explicar a melancolia, Freud se dá
da depressão através de conceitos fundamen- conta da insuficiência do modelo neurótico
tais como o luto e a melancolia. para a análise dos quadros melancólicos e dá
o primeiro passo para a compreensão das
Em "Luto e Melancolia" (1917), Freud descre- patologias contemporâneas, denominadas
ve o luto como sendo a reação à perda de psicopatologias do vazio, narcísicas.
umapessoa querida ou de uma abstração que
esteja no lugar dela, como pátria, liberdade, Em "Além do Princípio do Prazer" (1920),
ideal etc. Freud introduz o conceito de pulsão de morte
(Thanatos), sugerindo que há uma tendência
Sob as mesmas influências, em muitas pessoas inata para o retorno ao estado inorgânico e
se observa em lugar do luto uma melancolia, explorando como essa pulsão pode contribuir
o que nos leva a suspeitar nelas uma disposi- para a autodestruição e influenciar a experiên-
ção patológica. A melancolia se caracteriza por cia depressiva.
um desânimo profundamente doloroso, uma
suspensão do interesse pelo mundo externo, A obra de Sigmund Freud continua a ser uma
a perda da capacidade de amar, a inibição de referência de base para a compreensão das
toda atividade e um rebaixamento do senti- dinâmicas psíquicas associadas à depressão.
mento de autoestima, que se expressa em Por sua vez, a interpretação contemporânea
autorrecriminações e auto insultos, chegando muitas vezes integra abordagens psicanalíticas
até a expectativa delirante de punição. Esse de outras perspectivas teóricas.
quadro se aproximará mais de nossa compre-
ensão se considerarmos que o luto revela os
mesmos traços, exceto um: falta nele a pertur-
bação do sentimento de autoestima.
Depressão
Neurótica
Na visão de Lacan, a depressão neurótica está mais associada à estrutura clássica da neurose.
A depressão neurótica pode surgir de conflitos não resolvidos entre desejos inconscientes e as
demandas da realidade. Os estados depressivos podem ser tomados a partir da lógica pulsional,
tratando-se da posição do sujeito em relação ao seu desejo. Esta designação de depressão poderia
então ser mais firmemente relacionada à uma recusa ao próprio desejo, já que este necessariamente
comporta a falta. Estando o sujeito colado à uma ideia da perfeição, na condição depressiva não se
consegue sair desse lugar.
Depressão
Psicótica
A depressão psicótica, segundo Lacan, está associada a perturbações mais profundas na estrutura
psíquica. Ela está relacionada à quebra da função simbólica, destaca-se então a falha no processo
de simbolização como um aspecto central na depressão psicótica. Isso significa que o sujeito tem
dificuldades em atribuir significado simbólico aos seus sentimentos e experiências. A perda de con-
tato com a realidade, a desorganização do pensamento e a falta de ancoragem simbólica são
características frequentemente associadas à depressão psicótica; o que faz com que o sujeito se
Na obra Teoria Psicanalítica das Neuroses, Otto Fenichel pontua que as depressões neuróticas são
tentativas desesperadas de forçar um objeto a que dê provisões vitalmente necessárias. Por outro
lado, as depressões psicóticas mostram que se produziu, de fato, perda completa verdadeira, em
que as tentativas regulatórias visam penas o superego.
A depressão saudável e a
depressão patológica
Winnicott apresenta uma compreensão sobre o valor da depressão, ou seja, o aspecto
saudável da depressão, a partir de um paradoxo - por um lado, as pessoas deprimidas
podem se suicidar, sofrer transtornos psiquiátricos, enfim, viver toda uma série de riscos
característicos; a capacidade para deprimir, por outro lado, encontra-se intimamente ligada
ao conceito de força do ego, ao estabelecimento do self e à descoberta de uma identidade
pessoal, ou seja, encontra-se próxima dos estados de saúde. Assim, Winnicott já nos remete
à necessidade de aprofundar nossa compreensão sobre a depressão a partir da importância
do significado de suas impurezas, que nos conduzirão ao terreno da psicopatologia, ou seja,
que farão da depressão uma entidade mórbida.
RELAÇÕES
explorou as dinâmicas das relações mãe-bebê e
como experiências precoces moldam a psique.
Klein também abordou as ansiedades depressivas,
OBJETAIS destacando a importância de integrar aspectos
positivos e negativos da experiência emocional.
A posição
depressiva
Em 1934 Klein contribuiu para o estudo da psicogênese dos estados depressivos, quando
referenciou a “posição depressiva”. Esta posição situa-se no primeiro semestre de vida da
criança e posteriormente corresponde, no segundo ano de vida, ao estágio da percepção
do objeto total. Até lá a criança está protegida do sofrimento depressivo graças aos
mecanismos de clivagem, de projeção e de introjeção: os objetos maus (seio mau, mãe má
e parte má do eu) são separados dos bons e projetados sobre o espaço que cerca o bebê,
ao passo que os objetos bons são incorporados ao seu eu.
Acerca da posição depressiva, o autor Willy Baranger refere que ela produz-se como
consequência da percepção da mãe como pessoa total - pelos 4 a 5 meses de idade - , em
que a criança unifica o amor e o ódio que haviam sido mantidos à parte na relação anterior
com objetos parciais, sendo o surgimento desta posição correlato ao da angústia depressiva,
que se manifesta essencialmente pelo medo de perder o objeto bom pelos ataques dos
objetos maus e do id, ao mesmo tempo que aparecem sentimentos de culpa.A progressiva
maturação força o bebê a perceber a globalidade do objeto, surgindo o sofrimento, a
inquietude e, finalmente, “a depressão” devido as suas tendências agressivas, as quais
demonstra diante de seus “objetos bons” o medo concomitante de perdê-los.
Psicanálise
Relacional e Interpessoal
Sandor Ferenczi, um psicanalista húngaro contemporâneo de Sigmund Freud,
contribuiu significativamente para a compreensão das interações sociais e suas
influências nas condições psicológicas, incluindo a depressão. Embora Ferenczi não
tenha uma obra específica dedicada exclusivamente à depressão, suas ideias foram
articuladas em vários escritos. Uma das principais obras onde se pode encontrar suas
ideias sobre a influência das interações sociais é "Confusão de Língua entre os
Adultos e a Criança" (1933).
Teoria das
Relações Objetais
Ferenczi foi um dos responsáveis pela construção da Teoria das Relações Objetais,
que se concentra nas relações interpessoais e na influência do ambiente nas
experiências emocionais. Ele argumentava que a qualidade dessas relações molda
a psique do indivíduo desde a infância, neste sentido introduziu o conceito de
"trauma relacional", sugerindo que experiências traumáticas nas relações interpessoais
podem ter um impacto duradouro na saúde mental. O autor enfatizava a importância da
empatia e de uma resposta materna adequada para o bem-estar psicológico da criança,
falhas nesse aspecto poderiam levar a desdobramentos negativos, incluindo a depressão.
PSICANALISTA
Kehl amplia as discussões sobre a depressão,
explorando nuances e dinâmicas específicas que
não apenas dialogam com a teoria de Lacan, mas
BRASILEIRA também acrescentam novas camadas ao seu
entendimento.
Depressão e sexualidade,
histeria e perversão
Stoller argumenta que a sexualização pode operar como um mecanismo de defesa contra a
depressão, manifestando-se de maneiras distintas na histeria e na perversão.
Em "Perversion: The Erotic Form of Hatred," o autor examina como a sexualidade pode ser
mobilizada como uma forma de lidar com conflitos internos e emoções depressivas. Para
Stoller, a transformação de sentimentos de desamparo e tristeza em excitação sexual repre-
senta uma estratégia psíquica para enfrentar a dor emocional subjacente. Contextualizando
essa visão na histeria, Stoller destaca como a expressão sexual pode servir como uma tentati-
va de controlar a angústia decorrente de conflitos não resolvidos. Neste sentido, explora
como a histeria pode ser uma resposta à dificuldade de lidar com o desejo e as complexida-
des emocionais, utilizando a sexualidade como uma forma de subverter a depressão latente.
Em relação à perversão, Stoller examina como a erotização do ódio pode representar uma
tentativa de defesa contra o desamparo. Ao canalizar o ódio por meio da sexualidade, o
indivíduo poderia então encontrar uma saída para emoções depressivas, transformando-as
em uma expressão erótica peculiar. Objetivamente, as obras de Stoller oferecem recursos
para entendermos as complexas interações entre a sexualidade e o sofrimento psíquico.
No que se refere à depressão psicótica, Styron oferece uma reflexão profunda sobre
a quebra da função simbólica. Ao narrar os momentos de desorganização do pensamen-
to e a perda de ancoragem simbólica, Styron proporciona uma visão visceral das caracte-
rísticas associadas à depressão psicótica, aproximando-se das ideias de Lacan sobre a
dificuldade em atribuir significado simbólico aos sentimentos e experiências. A obra de
Styron, permeada pela sensibilidade artística e pela análise clínica, oferece uma compre-
ensão rica e multifacetada da depressão.
As Questões do Desejo
Depressão neurótica e
depressão psicótica
Ao dialogar com os conceitos de Lacan, Quinet aprofunda a compreensão da
depressão neurótica, revelando as nuances dos conflitos entre desejos inconscientes
e as demandas da realidade. Sua abordagem, ancorada na lógica pulsional, expande
a discussão sobre a recusa ao próprio desejo, enriquecendo o entendimento da condição
depressiva. A obra de Quinet oferece uma leitura crítica e atualizada da perspectiva
lacaniana, refletindo sobre a impossibilidade de alcançar a perfeição e as consequências
dessa busca na manifestação da depressão.
Referências:
Baranger, Willy. Posição e objeto na obra de Melanie Klein. Editora Artes Médicas, 1981.
CONTEÚDO
Carolina Tosetti
Analista de conteúdo
DESIGN
Priscila Teixeira
Designer