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O mal-estar na civilização

I
Freud inicia o texto partindo da indagação acerca de um sentimento oceânico que serve
de fonte à necessidade religiosa: “sensação de eternidade, um sentimento de algo
ilimitado, sem barreiras...” (p. 14).
O sentimento oceânico encontra fundamento na primeira fase de desenvolvimento, em
que não há divisão entre o Eu e o mundo exterior. Tal sentimento se conserva na vida
psíquica do adulto.

II
Existem três recursos que o homem utiliza para amenizar a dificuldade da vida:
poderosas diversões, gratificações substitutivas (ex. artes) e entorpecentes. (p. 28).
A religião oferece sentido à vida e a conduta humana se dirige à finalidade felicidade
(prazer e ausência de dor). A referida conduta encontra fundamento no princípio de
prazer (p. 30). Contudo, a felicidade não pode ser concebida como um estado constante.
Isso porque o sofrer nos é constitutivo em três esferas: corpo, mundo externo (natureza)
e a relação com o outro. (p. 31).
O princípio de realidade se constitui economicamente da relação entre prazer e ausência
de dor. A prioridade do homem submetido ao mundo externo é evitar o sofrimento em
detrimento da busca de prazer.
Freud expõe técnicas para afastar o sofrimento e alcançar felicidade. O isolamento do
sujeito para se desvincular do mundo externo e da relação com o outro; a submissão da
natureza por meio da ciência com a finalidade de um trabalho humano conjunto, em que
todos visam a felicidade de todos (p. 32); a intoxicação; o controle das pulsões por meio
da quietude, por ex. yoga (p. 34); o deslocamento da libido, ex. a sublimação (p. 35); a
vida na fantasia, ex. a fruição da arte (p. 37); a oposição delirante à realidade - quando
realizado por uma massa, pode-se denominar religião (p. 37/38); o amor (p. 38/39);
fruição de beleza, de modo amplo (p. 39/40)

III
Freud retoma as fontes de sofrimento humano e destaca que as duas primeiras são
incontornáveis. Quanto a terceira, a social, é a que poderíamos nos precaver, mas a
realidade nos mostra que as instituições humanas criadas falharam nesta prevenção. O
psicanalista aponta, então, uma possível causa pela nossa constituição psíquica (p.
43/44).
Finalidades da sociedade para Freud: “proteção do homem contra a natureza e a
regulamentação dos vínculos dos homens entre si” (p. 49).
Freud destaca que a sociedade não se ocupa apenas do útil. Aponta o cuidado com
higiene, a busca por beleza como fatores de consideração não úteis na sociedade. A
seguir, expõe as realizações intelectuais, científicas e artísticas e as ideias, com destaque
à filosofia e à religião como traços característicos da sociedade. Com isso, conclui que
os traços culturais do homem em sociedade se empenham em duas metas, a utilidade e o
prazer (p. 54/56).
“Tal substituição do poder do indivíduo pelo da comunidade é o passo cultural decisivo
[direito em oposição à força bruta]” [...] a exigência cultural seguinte é a da justiça, isto
é, a garantia de que a ordem legal que uma vez se colocou não será violada em prol de
um indivíduo. [...] O resultado final deve ser um direito para o qual todos – ao menos
todos capazes de viver em comunidade – contribuem com o sacrifício de seus instintos,
e que não permite – de novo com a mesma exceção – que ninguém se torne vítima da
força bruta.” (p. 57). Freud caracteriza o conflito do homem com a sociedade em um
impulso à liberdade individual. Esta que tinha pouco valor fora de sociedade em razão
de sua precariedade. (p. 58).

IV
O amor genital (sexual) e o amor inibido na meta (amizade/ternura), conduzem os
homens às relações sociais e à cultura (p. 66). Contudo, a própria cultura atua contra à
sexualidade, uma vez que depende de grande energia psíquica dos sujeitos (p. 68). As
restrições sexuais impostas pela cultura direcionam a sociedade à heteronormatividade e
monogamia, com o objetivo da multiplicação de indivíduos (p.69).
Em outras palavras, a sexualidade impele o sujeito à cultura, mas esta o priva de sua
plena sexualidade, provocando conflito entre sujeito e sociedade.

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