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Cultura (1930)
Luciano Alvarenga Montalvão
Doutor em Psicologia (UFRN)
Psicanalista em Formação pelo Instituto Gerar (SP)
@psi.lucianoalvarengam
Contexto Histórico
- Qual seria a natureza desse “sentimento que ele [Romain Roland] gostaria de
correspondia a uma ligação mais íntima do Eu com o mundo ao seu redor. Se nos for
foi conservado na vida anímica de muitos seres humanos, então ele se colocaria, como
DISTRAÇÕES PODEROSAS
SATISFAÇÕES SUBSTITUTIVAS
SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES
“ A questão sobre o propósito da vida humana foi colocada incontáveis vezes; ela nunca teve
nenhuma resposta satisfatória [...] A religião é a única a saber responder a pergunta a respeito
de um propósito de vida. Dificilmente estaremos errados ao decidir que a ideia de um propósito
para a vidavenha diretamente do sistema religioso” (p. 319 - 320)
“Por esse motivo, iremos nos voltar para a questão menos pretensiosa de saber o que os próprios
seres humanos deixam reconhecer pela sua conduta como sendo o propósito e a intenção de suas
vidas, o que eles exigem da vida e o que eles querem alcançar. A resposta dificilmente será
equivocada; eles anseiam por felicidade, querem ser felizes e permanecer assim. Esse anseio
tem dois lados, uma meta positiva e uma negativa; por um lado, ele quer a ausência de dor e
desprazer, e, por outro, a experiência de intensos sentimentos de prazer. No sentido mais
restrito da palavra, “felicidade” refere-se apenas à última meta [...] “Notamos que é simplesmente
o programa do princípio do prazer que determina o propósito da vida” (p. 320)
“O sofrimento ameaça a partir de três lados: do próprio corpo, que, destinado à decadência e à
dissolução, não pode nem mesmo prescindir da dor e do medo como sinais de alarme; do mundo
exterior, que pode voltar sua raiva contra nós com suas forças descomunais, implacáveis e
destrutivas; e, finalmente, das relações com outros seres humanos” (p. 321)
“De maneira diferente, nos conduzimos em relação à terceira fonte, a social. Esta, não queremos
absolutamente admitir, não conseguimos compreender por que os dispositivos criados por nós
mesmos não deveriam ser sobretudo uma proteção e um benefício para nós todos. No entanto,
se pensarmos no quanto fomos malsucedidos justamente na prevenção contra essa parcela de
sofrimento, surge a suspeita de que por trás disso também poderia estar uma parte da natureza
invencível [...] uma parte de nossa própria constituição psíquica”.
“[...] uma grande parte da culpa por nossa miséria é daquilo que chamamos de nossa cultura;
seríamos muito felizes se abandonássemos e voltássemos a nos encontrar em condições primitivas”
(p. 333).
Freud caracteriza a cultura como:
“[...] a soma de todas as realizações e dos dispositivos através dos quais a nossa vida se
distancia da de nossos antepassados animais e que servem a duas finalidades: a proteção do
ser humano contra a natureza e a regulamentação das relações dos seres humanos entre si”.
“Descobriu-se que o ser humano se torna neurótico porque ele não consegue tolerar a
quantidade de impedimentos que a sociedade lhe impõe a serviço de seus ideais culturais, e
disso foi concluído que essas exigências fossem abolidas ou reduzidas, isso significa um
retorno à felicidade”; (p. 334).
De que maneira são reguladas as relações dos seres humanos entre si:
(1) A vida humana em comum só se tornará possível caso se encontre reunida uma maioria que
seja mais forte do que cada um dos indivíduos e que se mantenha unida contra cada um dos
indivíduos. Essa substituição do poder do indivíduo pelo da comunidade é o passo cultural
decisivo. Sua essência consiste em que os membros da comunidade limitem-se em suas
possibilidades de satisfação [...]
(2) A próxima exigência cultural é, portanto, a da justiça, isto é, a garantia de que, uma vez
que passe a existir a ordem de direito, ela não seja novamente infringida em favor de um
indivíduo;
(3) Outro caminho do desenvolvimento cultural parece visar a que esse direito não seja mais
expressão da vontade de uma pequena comunidade ‒ casta, camada, população, tribo. (p. 334
- 335)
A constituição da cultura nos traz algo para amar e algo para odiar.
Capítulo IV
[...] Sobre que bases se funda a cultura? Freud propõe refletir sobre o amor como
fundamento da cultura. Mas qual amor?
“é possível encontrar a felicidade pela via do amor, mas, para isso, são indispensáveis amplas
modificações da função do amor. Essa pessoas se desobrigam da aceitação do objeto, quando
deslocam o valor maior de ser amado para o próprio amor; elas protegem-se contra a sua
perda quando dirigem o seu amor não a objetos específicos, mas, a todos os seres humanos, e
elas evitam as oscilações e as desilusões do amor genital desviando-se de sua meta
sexual e trasformando a pulsão em uma moção inibida quanto à meta (p. 352).
“Às vezes pensamos reconhecer que não é apenas a pressão da cultura, mas
algo na essência da própria função que nos impede a satisfação completa e
nos força a outros caminhos” (p. 357)
Capítulo V
“Por trás de tudo isso, o que há de realidade negada de bom grado é que o
ser humano não tem uma natureza pacata, ávida de amor, e que no máximo
até consegue defender-se quando atacado, mas que, ao contrário, a ele é
dado o direito de também incluir entre as suas habilidades pulsionais uma
poderosa parcela de inclinação para a agressão”
“Em consequência disso, o outro não é, para ele, apenas um possível colaborador e um
objeto sexual, mas é também uma tentação, de com ele satisfazer a sua tendência à
agressão, de explorar a sua força de trabalho sem uma compensação, de usá-lo
sexualmente sem o seu consentimento, de se apropriar dos seus bens, de humilhá-lo, de
lhe causar dores, de martiriza-lo, e de matá-lo [...] Em circunstâncias que lhe são
favoráveis, quando foram excluídas as forças anímicas contrárias que costumam inibí-la,
ela se manifesta, até mesmo espontaneamente, revelando o ser humano como uma
besta selvagem, alheia à tendência de poupar a própria espécie”. (p. 363).
“Em consequência dessa hostilidade primária dos seres humanos entre si,
a sociedade da cultura está consequentemente ameaçada de se
desintegra”
“Daí, portanto, o recurso a métodos que devem estimular os seres
humanos a identificação e a ligações amorosas inibidas quanto à meta,
daí a restrição à vida sexual e daí também o mandamento ideal de amar o
próximo como se ama a si mesmo, que realmente se justifica pelo fato
de nada ser tão contrário à natureza humana originária” (p. 364)