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Volume 20, N. 1, pp.

145– 161, Jan/Jun, 2016

ESTAVA ESCRITO, MAS NÃO NAS ESTRELAS:


CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMOR NA LITERATURA E NA
PSICANÁLISE

Cristóvão Giovani Burgarelli


(UFG - Universidade Federal de Goiás – Goiânia – GO)

Resumo

Este artigo resulta de uma pesquisa iniciada em 2010 cuja questão principal se
apresentou com o título “O amor e suas letras”,1 direcionando-nos para a leitura de um
conjunto de textos tanto da psicanálise quanto da literatura. Ele tem como objetivo
discutir a proposição de que uma estruturação psíquica, conforme se pode depreender na
elaboração freudiana, ou então, de que o processo de causação de um sujeito –
elaboração lacaniana – relaciona-se em algum ponto com as condições ou possibilidades
de amar. A partir de alguns elementos colhidos em diversas letras da música popular
brasileira, vamos discutir, numa dimensão clínica, a possível articulação entre o amor, o
desejo, a pulsão e a escrita. A noção de estranho faz-se importante, pois nos convoca a
considerar, numa constituição, tanto o que lhe é familiar quanto o que lhe escapa,
desconfigurando-a. Outro ponto importante é o conceito de letra em Lacan, que nos
permite pensar o sujeito do inconsciente não apenas submetido à linguagem, mas
também referido ao objeto.

Palavras chave: amor, desejo, escrita, literatura, psicanálise.

Abstract

It Was Written, But Not in The Stars: Considerations About Love in Literature
and Psychoanalysis

This article results from a survey begun in 2010 whose main issue was presented
through the title "Love and its lyrics",3 and centered on the reading of a set of texts on
both psychoanalysis and literature. It aims to discuss the proposition that a psychic
structure, as can be deduced from Freudian thought structure, or rather, that the process
of causation of a subject - Lacanian thought structure – is related at some point to the
conditions or possibilities of love . Using certain elements collected from the various
lyrics of Brazilian popular music, we will discuss, from a clinical viewpoint, the
possible connection between love, desire, drive and the writing. The notion of uncanny
is important because, in a constitution, it calls us to consider both what is familiar and
what escapes us, thereby disconfiguring it. Another important point is the concept of
letter in Lacan, which allows us to think about the subject of the unconscious not only
subjected to the language, but also in reference to the object.

Keywords: love, desire, writing, literature, psychoanalysis.

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Introdução possibilidade para o objeto de se tornar


objeto de desejo” (Lacan, 1964/1985, p.
Partindo da elaboração lacaniana 176).
de que “o sujeito se realiza sempre no Entendemos que a possibilidade
Outro” devido ao fato de se constituir de manter essa questão em aberto bem
como dividido pelo efeito da linguagem, como a de avançar com ela alguns
não podendo, portanto, perseguir “mais passos poderá contribuir com as
do que uma metade de si mesmo” recentes elaborações em torno da
(Lacan, 1964/1985, p. 178), clínica, sobretudo se consideramos o
pretendemos, neste artigo, pensar que Lacan elaborou nO seminário, livro
algumas questões referentes à dialética 10: a angústia: é com o objeto a que os
do amor, numa relação com os psicanalistas devem lidar “num certo
conceitos fundamentais da psicanálise. nível do manejo da transferência” (p.
Para tal, vamos caminhar, por um lado, 154). Entendemos ainda que tomar o
com a consideração freudiana de que a amor como questão de estudo, pela via
estrutura do amor é fundamentalmente que escolhemos seguir neste trabalho,
narcísica, ou seja, de que o objeto implica, sobretudo, incidir na discussão
amoroso emerge justamente do fato de sobre a problemática sujeito-objeto-
que o Eu mantém sua relação com o Outro, que nos põe, de saída,
mundo externo sob as influências indagações possivelmente férteis em
radicais do princípio do prazer, antes torno dos fundamentos da psicanálise.
mesmo de ele se “perturbar” pelas As letras de músicas bem como os
pulsões (sexuais). Por outro lado, contos de Hoffmann, Kafka e Edgar
tentaremos ainda, seguindo alguns Alan Poe, a que recorremos no decorrer
passos de Lacan, avançar com a de nossas conjeturas, são pertinentes a
articulação entre amor, desejo e pulsão, esta discussão, pois exemplificam o
indagando-nos principalmente sobre: paradoxo radical concernente a tal
como o objeto de amor – por causa de problemática e, tomados em seu estatuto
uma certa relação entre a constituição de criação literária, podem provocar a
do sujeito e a castração – pode assumir psicanálise a se haver com as novas-
um papel análogo ao ao objeto do velhas manifestações do inconsciente.
desejo, ou ainda, em outras palavras,
“sobre que equívocos repousa a “Eu Te Amo!” é Pesado
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acolher tais demandas de amor bem


Sentir-se amado pode ser muito com a, pela via da transferência, escutar
gostoso, mas não nos parece óbvio que a trama discursiva que se vai
isso seja fácil. Se nos lembramos das construindo ao redor dela. O desejo de
canções de Vinícius de Moraes, Tom um sujeito se interpõe, portanto, como
Jobim e Paulinho da Viola, vemos ali motor de alguns passos possíveis em
em pauta a feliz possibilidade de amar, direção à felicidade, entendida aqui
mesmo que não possamos contar nem como uma construção em que se faça
com sua eternidade nem com sua valer um ato bem sucedido, pois a
entronização. “É impossível ser feliz psicanálise conta também com os
sozinho”, mas também é muito difícil efeitos avassaladores do que se imagina
hoje alguém se sustentar apegado à como a felicidade plena.
ideia de um amor imaginativo, dócil e Como muito bem sinaliza Tom
cheio de flores. Tanto é que Arnaldo Zé: “Menina, amanhã de manhã [...] a
Antunes, Carlinhos Brown e Marisa felicidade vai desabar sobre os homens
Monte já subverteram o conceito de [...] na hora ninguém escapa / de baixo
amor desses seus colegas cantadores: da cama ninguém esconde [...] Menina,
“Você me deixou satisfeito [...] Agora ela mete medo / menina, ela fecha a
me sinto feliz aqui. Quem foi que disse roda / menina, não tem saída”. Chico
que é impossível ser feliz sozinho? Vivo Buarque e Milton Nascimento também
tranquilo, a liberdade é quem me faz vão ao ponto: “O que será que será? [...]
carinho...” O que não tem remédio nem nunca terá
Será por que essa variação [...] Que desacata a gente, que é
extremada, bipolar, entre estar feliz no revelia?” Eles sabem que entre o
amor e ao mesmo tempo se sentir homem e o amor, há muros, entre eles o
oprimido; sentir-se inseguro na da linguagem, conforme nos diz
liberdade, mas fazer disso a possível novamente Buarque: “De todas as
felicidade? Como explicar essa angústia maneiras que há de amar nós já nos
no amor, se a função deste seria amamos, com todas as palavras feitas
justamente saná-la? A clínica pra sangrar já nos cortamos [...] Solta as
psicanalítica pode testemunhar muito unhas do meu coração que ele está
precisamente a respeito disso, pois apressado e desanda a bater
cotidianamente é convocada tanto a desvairado.”

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O que é que se canta nessas com o exercício das futuras pulsões


letras, senão a interferência do desejo e sexuais e, quando a síntese delas tiver se
da pulsão na relação de amor – o amor completado, passará a coincidir com o
tendo que enfrentar o seu limite, o seu todo da vertente sexual” (p. 161). Para
oposto, irrepresentável, indizível e ele, em se tratando de relação de objeto,
arrebatador? Por que tantos cortes e o ódio, que surge do “repúdio
feridas se aderem à supostamente doce primordial do Eu narcísico ao mundo
experiência do amor? Ou, ao contrário, exterior aportador de estímulos” (p.
por que algumas doces experiências de 161), é mais antigo do que o amor. “O
amor são capazes de aderir-se à angústia ódio é uma exteriorização da reação de
e à agressividade humanas, podendo desprazer provocada pelos objetos e
parcialmente suplantá-las? Porque o mantém sempre um estreito vínculo
amor puro, dessexualizado, é com as pulsões de conservação de Eu”
impossível, o amor articulado ao desejo (p. 161), portanto as pulsões do Eu e as
não cessa de se escrever nessas letras de pulsões sexuais podem corresponder à
amor, assim mais ou menos como num oposição já experimentada entre amar e
percurso de análise, em que um sujeito odiar.
desejante se põe a falar de seus O que está em questão, para
sintomas. Lacan diz l’amour, homófono Freud, em “Pulsões e destinos da
a l’a-mur (o a-muro), para se referir à pulsão” (1915/2004) são as influências,
contingência de um acontecimento nas moções pulsionais, destas três
nessa busca incessante do par erótico: grandes polaridades que dominam a
“O amor pode acontecer de novo pra vida psíquica: atividade – passividade;
você / Palpite / [...] As juras de amor ao Eu – mundo exterior; prazer –
pé do ouvido / Truque do desejo / [...] desprazer. Podemos também entender
Eu sinto a falta de você, me sinto só” que, para ele, “destinos da pulsão” são
(Rangel, 1999/2014). modos de defesa, os modos possíveis de
se haver com a pulsão de morte. Lacan
Amor, Pulsão e Desejo (1964/1985), na lição XIV dO
seminário, livro 11: os quatro conceitos
Nas palavras de Freud fundamentais da psicanálise, relaciona
(1915/2004), o amor, originalmente esse texto de Freud aos “Três ensaios
narcísico, “se conecta estreitamente sobre a teoria da sexualidade”, para

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acrescentar nessa discussão um Complexo de castração. Por exemplo,


elemento fundamental: “a sexualidade com seu estilo de pensar pela via não de
só se realiza pela operação das pulsões, uma doutrina, mas da produção de
no que elas são pulsões parciais, aforismos, ele nos fala do amor, nO
parciais em relação à finalidade seminário, livro 10: a angústia (1962-
biológica da sexualidade” (p. 167). 1963/2005), como uma das vias do mal-
Conforme Lacan, a transferência entendido pela qual o gozo pode ser
é a atualização de tal realidade sexual, atingido: “somente o amor permite ao
materialidade de que o inconsciente é gozo condescender ao desejo” (p. 197).
constituído. Para abordá-la, Lacan forja Há acoisa freudiana. Repetindo-se o
o conceito de objeto a, para nos dizer, tempo todo, ao bordejar a historinha do
entre outras coisas, que diferentemente Édipo, a letra de Freud acossa o gozo
de uma subjetivação do sujeito, o que há perdido do Pai da horda.
é uma lacuna em que o sujeito ocupa o
lugar do objeto, em que ele “instaura a O Objeto a Como Acesso ao Outro,
função de um certo objeto, enquanto Não ao Gozo
objeto perdido” (1964/1984, p. 175). Há
um gozo mais além do princípio do Tomando como exemplo “O
prazer, para além da estruturação estranho” (Freud, 1919/1976), essa
fundamentalmente narcísica do amor. provocação de Lacan parece ser
Para ele, não é o objeto, mas a fantasia, procedente, pois, em sua leitura do
a sustentação do desejo: “o sujeito se conto de Hoffmann, “O homem da
sustenta como desejante em relação a areia”, Freud realça insistentemente
um conjunto significante cada vez mais que, para Nataniel, os estranhos efeitos
complexo” (p. 175) diante do qual o tanto do Homem de areia –
sujeito se deixa ver como dividido, ou principalmente – quanto da boneca
como diz Lacan “esquisado”, Olímpia são resultantes da angústia de
“habitualmente duplo”, em sua relação castração. Longe de recorrer a
ao objeto. fundamentos racionalistas, o que
Em vários momentos de sua interessa a Freud não é pensar esse
obra, esse autor nos diz que podemos estranhamento como um medo de
perceber que se trata de uma elaboração natureza cognitiva, mas sim como uma
que está longe de se resumir ao angústia, ou seja, um afeto presente

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desde “o período em que o ego não se infalivelmente à nossa casa.” (p. 44) O
distinguira ainda nitidamente do mundo argumento primeiro de Freud não
externo e de outras pessoas” (p. 295). parece ser diferente: “o estranho
O estranho, portanto, provém de algo familiar que foi
acompanha Nataniel e o faz sentir seus reprimido” (p. 307); ao que ele
efeitos desde o momento em que o eu- acrescenta: “uma experiência estranha
Nataniel era objeto, outro. E mais: sua ocorre quando os complexos infantis
fixação nesse lugar o impede de amar que haviam sido reprimidos revivem
uma mulher. Isso se escreveu. Ao uma vez mais por meio de alguma
contrário de uma entrada no estádio, impressão, ou quando as crenças
palco em que se joga o jogo amor- primitivas que foram superadas parecem
pulsão-desejo-amor, o que se vê aí na outra vez confirmar-se” (p. 310).
história desse rapaz? Seu sugamento Depois, por fim, sua cartada que faz
pelo buraco negro, a que Freud chama com que a questão permaneça: “essas
de pulsão de morte – “compulsão à duas categorias de experiência estranha
repetição, procedente dos impulsos nem sempre são nitidamente
instintuais [...] compulsão poderosa o distinguíveis” (p. 310). Ao contrário,
bastante para prevalecer sobre o para Freud (1919/1976) as crenças
princípio do prazer” (p. 297). Não lhe primitivas não apenas se relacionam
foi possível se haver com o grande mal- intimamente com os complexos infantis,
entendido em que se resume nossa vida. mas também se baseiam neles.
Ele não foi tão bem enganado como se Por isso, a seguinte questão: qual
esperava pela operação significante. é exatamente o valor dessa
Estranho é como Kafka (1999) argumentação de que o estranho provém
caracteriza um tal ser “que se chama de algo familiar que foi recalcado, se na
Odradek” (p.43): ele “é literatura imaginativa (histórias de
extraordinariamente móvel e não se fadas, por exemplo) quase todos os
deixa capturar”; “ele se detém exemplos contradizem a nossa hipótese?
alternadamente no sótão, na escadaria, Mas, o interessante é que Freud não a
nos corredores, no vestíbulo”. “Às abandona, e sim propõe como ponto
vezes fica meses sem ser visto; com possível de resolução distinguir entre “o
certeza mudou-se então para outras estranho que realmente experimentamos
casas; depois porém volta e o que simplesmente visualizamos ou

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sobre o qual lemos” (p. 308). Ele em alemão? Algo que é do próprio Eu,
exemplifica, para explicar essas duas mas que ao mesmo tempo o ultrapassa?
situações: primeiro, tomando o estranho Sim, mas também algo que, às vezes, o
ligado à onipotência de pensamentos, à ultrapassa de modo horrorizante – que
realização de desejos aparentemente às vezes se trata do próprio
impossíveis, aos poderes secretos do aniquilamento desse Eu. Outro
mal e ao retorno dos mortos, pode-se paradoxo efetivamente evocado com
considerar que se trata de “uma questão esse termo é a relação entre semblante e
de teste de realidade, uma questão da real. O amor, por exemplo, que faz
realidade material dos fenômenos” (p. semblante ao que pode haver de terrível
309); segundo, embora o estranho que – ao real, contornado pelas
provém da experiência real seja quase estruturações simbólicas e,
sempre pertencente ao primeiro grupo, singularmente, pelo modo peculiar de
ele se torna diferente quando “provém um sujeito ocupar sua posição subjetiva
de complexos infantis reprimidos, do – encadeia-se retomando
complexo de castração, das fantasias de incessantemente os primeiros traços de
estar no útero, etc.” (p. 309). uma história cujo primeiro capítulo foi
Aqui, em nossa leitura, parece escrito antes mesmo de o Eu ter nascido
emergir um ponto fundamental: para ali.
Freud (1919/ 1976), uma coisa é o Há algo, portanto, no processo
estranhamento intelectual, enquanto que de causação do sujeito que já estava
outra, bem diferente, é o estranhamento escrito, e o amor então seria uma
que, para além de recalcar um conteúdo maneira de o Eu aí advir e se organizar
ideativo, põe em suspensão a própria em seu movimento de báscula,
realidade material, isto é, um tal ponto duplicando-se em um e outro. Pode ser
da estruturação do sujeito em que essa este o sentido do condescender usado
tal realidade não surge, sendo que “o acima: o amor permite uma estruturação
seu lugar é tomado pela realidade simbólica, desejante, na qual o sujeito
psíquica” (p. 309). Em vez da lógica pode contornar o gozo sem ser por ele
racional, o que temos aqui senão a engolido. Como Freud nos diz, tanto o
lógica da sexualidade? amor quanto a arte, além de evocarem
O que se quer dizer com esse inúmeros enigmas, constituem-se como
termo “estranho-familiar”, Unheimlich destinos sublimados das pulsões. Lacan,

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por sua vez, o denomina como “a vivo, humano. Não se trata de pensar
sublimação do desejo” (1962- essa linguagem como mais um
1963/2005, p. 198) ou amor-sublimação instrumento para o homem, e sim como
que permite ao gozo condescender. uma possibilidade ou uma maneira
De fato, guardadas as devidas singular de o mundo se escrever nele (e
diferenças com a dimensão em que para ele). Para a psicanálise, a escrita
poderíamos articular arte e sublimação, diz respeito, então, à maneira como,
o amor pode ser tomado aqui como primeiramente, um sujeito é falado e
fundamental ao propósito de se pensar antecipado. Escrita e amor, literatura e
análise e sublimação, pois podemos psicanálise: a verdade em todos esses
dizer que na experiência analítica o que casos não pode ser sulcada senão devido
se põe em questão são as condições para à negatividade dos significantes, em
que o amor advenha e faça ver seus cuja cadeia o sujeito é representado.
efeitos. O sujeito se põe a tecer com sua As várias vezes que Freud
fala os significantes que marcaram sua insiste em que o efeito de
história desde a infância, e esse trabalho estranhamento não se encontra
pode lhe render algumas efetivamente relacionado aos fatores
reconfigurações em sua pauta corporal, racionais, e sim à trama constitutiva das
que à primeira vista pode nos parecer pulsões, bem como o retorno de Lacan
fixa e definitiva. aos conceitos freudianos oferecem-nos,
sem dúvida, boas pistas para que
Corpo e Escrita pensemos a implicação da psicanálise
com a literatura. Por isso, quando se
Voltamos, portanto, ao muro, fala de escrita em psicanálise, o que se
l’amour, da linguagem. É da nossa evoca e se põe em questão é que um
tentativa de dizer algo sobre esse pas- significante e seu encadeamento,
possible (não-possível, passo-possível) mesmo ao desempenhar sua função de
que evocamos no título deste texto o semblante, pode também provocar
fato de que o amor, quando acontece, já rupturas no real, devido a seus
estava escrito, mas não nas estrelas.4 rearranjos, à sua insistência e a seus
Interessa-nos, por exemplo, indagar modos peculiares de sulcar o corpo. Ele
sobre os efeitos que a linguagem pode às vezes tem o poder de dissolver o que
trazer ao implantar-se num organismo já constituía forma e fazer precipitar o

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que era matéria em suspensão (cf. essencial, um desconhecer fundamental


Lacan, 1971/2009, p. 114). Podemos de que provém o conhecer-me. Para dar
pensar, portanto, numa operação em que mais vida a essa ambiguidade, Lacan
se (re)vela uma contiguidade entre joga com a seguinte homofonia da
significante e letra, sendo que a escrita língua francesa: méconnaître e me
se constitui como o que se evoca de connaître (p. 823).
gozo ao se romper um semblante, ou Freud (1930/1974) nos diz de
seja, como a própria ruptura entre sua esperança com relação a uma
encadeamento significante (o saber libertação parcial do mal-estar, que, a
posto em uso a partir do semblante) e o despeito de nossa vontade, conta em
gozo, cujo tecido confina tanto com as nossa constituição como um dos
coisas confusas, interditas, quanto com elementos já escritos. Pensando, então,
o sofrimento e a angústia (saber na possibilidade de contorná-lo, ele
inconsciente). descreve algumas técnicas com as quais
A chave de leitura com que costumamos agir sobre as moções
Lacan (1960/1998) vai a este outro texto pulsionais. A primeira, comenta, incide
de Freud, “O mal-estar na civilização”, sobre nosso aparelho sensorial, para que
não parece ser diferente. Afastando-se domine, na medida do possível, “as
das leituras mais cristalizadas, ele vai fontes internas de nossas necessidades”
pinçar ali o que Freud nos permite ler (p. 97). A segunda se propõe a
sobre a distância que há entre a reorientar os objetivos pulsionais para
consciência e esse mal-estar, que tem a que “eludam a frustração do mundo
ver com o inconsciente, entendido por externo”, tarefa que consiste em
Lacan como “uma cadeia de “intensificar suficientemente a produção
significantes que em algum lugar (numa de prazer a partir das fontes do trabalho
outra cena, escreve Freud) se repete e psíquico e intelectual” (p. 98). A partir
insiste, para interferir nos cortes que lhe desse ponto de seu texto, Freud dá
oferece o discurso efetivo e na destaque ao que tomamos aqui hoje,
cogitação a que ele dá forma” (p. 813). especificamente, como tema de
Trata-se, portanto, para Lacan, de discussão: a pulsão, a arte e o amor.
reconhecer no Eu essa “função de Conforme nos diz, na fruição das
domínio, jogo de imponência, rivalidade obras de arte “a distensão do vínculo
constituída” (p. 823), uma ambiguidade com a realidade vai mais longe” (p. 99),

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e a satisfação é obtida na fantasia, por é convocado. Conforme uma gramática,


meio das ilusões que se originam da a gramática da casa, uma estruturação
5
vida imaginativa. Daí, passa ao que ele topológica se monta como um
chama de “a técnica da arte de viver” modo singular de se haver com
(p.101), o amor, que visa também a Odradek, o estranho-familiar, entendido
“tornar o indivíduo independente do aqui não apenas como o recalcado, mas
Destino”, localizando a “satisfação” em como aquilo que não cessa de não se
processos psíquicos internos e escrever, convocando, portanto, a
deslocando a libido. Interessante é que, implicação do sujeito com uma zona
nesse ponto, Freud realça o seguinte litorânea entre o simbólico e o real.
porém: “mas ela [essa arte de viver] não NO seminário, livro 16: de um
volta as costas ao mundo externo; pelo Outro ao outro, Lacan relembra que a
contrário, prende-se aos objetos elaboração freudiana não se sustenta a
pertencentes a esse mundo e obtém partir da noção de representação, mas
felicidade de um relacionamento sim por uma configuração de
emocional com eles” (p. 101). Por fim, significantes cuja sintaxe se assenta
atrela ao amor o seu exato oposto, a basicamente nestas duas funções: o
perda, o resto do qual ele faz signo: “o deslocamento e a substituição. Para
lado fraco dessa técnica de viver é que reforçar seu argumento, Lacan toma
nunca nos achamos tão indefesos contra como exemplo a importância do sonho.
o sofrimento como quando amamos, Ele comenta que, para Freud, a função
nunca tão desamparadamente infelizes do princípio de realidade, embora
como quando perdemos o nosso objeto constituída desde o início como
amado ou seu amor” (p. 101). precária, não é anulada, mas sim
Então, se a demanda se mantém essencialmente dependente de outra
sempre por (não) se satisfazer, fazendo precariedade, quer seja a do princípio
com que o desejo corra por baixo, do prazer, à qual se encontra
podemos falar que se trata de uma estritamente vinculada a função do
estrutura de ficção cujas verdades se sonho, entendida por Lacan como
encontram tributadas à assinatura do função do significante. Para Freud, o
sujeito. Uma estrutura em que, a partir sonho se representa como um rébus, e
de um certo ponto, devido ao disso Lacan interpreta que o sonho, por
intrincamento das várias peças, o sujeito sua função de prazer, dá a cada um dos

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termos, ali expostos diacronicamente, a distribuição da libido entre o ego e os


tradução em imagem, “a qual só objetos” (p. 106). Em síntese, Freud não
subsiste por ser articulável em separa o processo próprio a um sujeito e
significantes” (Lacan, 1968-1969/2008, o processo civilizatório.
p. 192). Pensar, portanto, o amor, e
Quanto a esses dois processos, consequentemente sua implicação com
Freud (1930/1974, p. 106) explicita a os conceitos de escrita, pulsão e desejo,
seguinte distinção: no primeiro, “o significa situar-se numa margem, num
programa do princípio do prazer é intermeio, no entanto o mais paradoxal
mantido como objetivo principal”; já no é que não se trata de se pôr entre dois
segundo, “o que mais importa é o mundos distintos, mas sim, como
objetivo de criar uma unidade a partir podemos depreender de Lacan
dos seres humanos individuais”, (1971/2009, p. 110), num oú topos em
relegando o objetivo da felicidade a um que o literal possa vir a tornar-se o
segundo plano, devido ao conjunto de litoral, um não-lugar, para além do
restrições que é necessariamente Édipo, pois as tramas do significante
imposto. Segundo ele, portanto, o mantêm com a letra uma relação de
individual e o cultural encontram-se não-limite. Aqui está o ponto basilar
numa oposição hostil um para com o para que pensemos as principais
outro, e disso podemos depreender – articulações a que este texto se propõe –
basta seguir o passo-a-passo de sua o limite implicado num processo de
argumentação – a impossibilidade tanto causação do sujeito, o modo como a
de separar radicalmente esses processos literatura pode escrevê-lo e, por fim, a
quanto de dicotomizar o campo do clínica psicanalítica com seu modo
sujeito e o campo do Outro. Nesse peculiar de convocar, numa operação
momento, Freud, eticamente, retorna inconsciente, esse mesmo resto, isso de
com sua questão para dentro da que ficou exilado o sujeito. Não que
psicanálise e nos alerta para o seguinte: nossa vida cotidiana esteja isenta dos
não se trata de uma luta derivada da efeitos que advêm desse oú topos –
contradição irreconciliável entre eros e nenhuma relação parental, social,
pulsão de morte, mas sim “de uma luta cultural, se funda, senão na linguagem
dentro da economia da libido, que engendra o sujeito e seu desejo –
comparável àquela referente à mas o que interessa à função radical da

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psicanálise são os dispositivos capazes primeiros passos para distinguir


de levar um sujeito, com seu corpo, a conceitualmente letra e significante,
colher os efeitos dessa sua própria bem como para abordar a verdade em
divisão pela linguagem. sua vinculação com o real.
Nesse ponto uma convergência
entre literatura e psicanálise: Odradek, a A Carta Chega a Seu Destino
preocupação do pai de família, convoca
sim alguns semblantes os quais Partindo da ideia de que a ordem
repetimos por toda a vida, mas o simbólica é determinante para o sujeito,
estranho nunca se oculta de todo. ou seja, que é ela que lhe demonstra,
Questão que nos convoca, nesta numa história, a determinação
elaboração, a articular melhor o fundamental advinda do percurso de um
conceito de letra em Lacan. Comecemos significante, Lacan vai questionar o que
pelo que ele nos diz nO seminário, livro é a verdade, sobretudo a verdade que
18: de um discurso que não fosse brota do pensamento freudiano.
semblante (1971/2009, p.86): “não foi Segundo ele, o fato de existir a ficção já
absolutamente à toa que meus Escritos é derivado disso que ele está tomando
começaram pelo “Seminário sobre ‘A como questão, a verdade, e, para
carta roubada’”. A carta [letre] é sustentar essa discussão, elege como
tomada ali num sentido diferente do de exemplo sua leitura do conto de Poe “A
“A instância da letra [letre] no carta roubada”, traduzido por
inconsciente””. Embora seja o Baudelaire.
“Seminário sobre ‘A carta roubada’” Trata-se de uma abordagem que
um texto que se situa no início de sua inaugura, dentro da discussão que busca
elaboração, a que muitos chamam de articular a psicanálise à literatura, uma
período simbólico, nele, ao se vertente diferente, pois se opõe de modo
fundamentar na homonímia letter/carta radical tanto à psicobiografia quanto a
e letter/letra para pensar, com Freud, o qualquer iniciativa de se aplicar a teoria
automatismo da repetição e o da psicanálise para analisar obras
deslocamento do sujeito como literárias. Leite (2010) comenta que, ao
determinado pelo lugar que venha a contrário disso, o argumento de que
ocupar o significante puro, ou seja, pela Lacan busca tirar consequências é o de
carta/letra roubada, Lacan enuncia os que a obra “corresponde a um modo

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singular de fazer borda ao impossível de vista – e mais uma vez a substitui,


dizer” (p. 73). Em vez, então, de apagá- deixando as seguintes palavras, de
la com o trabalho de traduzi-la para as modo que o ministro pudesse, quando
categorias teóricas da psicanálise, o que viesse a utilizar a carta, reconhecer
se propõe é tomá-la “como colocação quem as escreveu: “um desígnio tão
em ato da estrutura do inconsciente” funesto / Se não é digno de Atreu, é
(Leite, p. 73). digno de Tiestes”6 (Lacan, 1971/2009,
Segundo Lacan (1957/1998), o p.97).
conto de Poe constitui-se num drama Nesse momento de sua
cuja narração se desenrola a partir de elaboração, Lacan vai priorizar o que
duas cenas, uma que se pode chamar de chama de intersubjetividade, que,
primitiva e a segunda, que pode ser segundo ele, estrutura as ações dessas
considerada como sua repetição. Assim, duas cenas. E isso se dá, porque há três
ele as lê: a primeira se passa na alcova tempos “ordenando três olhares,
real, onde a Rainha, que se encontrava sustentados por três sujeitos,
sozinha, recebe uma carta – fato alternadamente encarnados por pessoas
simples, mas que passa a desencadear diferentes” (p. 17): o tempo de um olhar
complicações exatamente porque entra que nada vê (o Rei e a polícia), “o de
em cena o ministro D..., que nota não só um olhar que vê que o primeiro nada vê
a carta, já sabiamente deixada de lado e que se engana por ver encoberto o que
sobre a mesa para jogar com a ele oculta” (a Rainha e o ministro) e,
desatenção do Rei, mas também o por fim, o terceiro, que vê que o que era
desarvoramento da Rainha e, mais do para se esconder encontra-se a
que isso, ele tem a oportunidade de descoberto, podendo disso apoderar-se
furtar essa carta, deixando à Rainha quem quiser (primeiro o ministro e
uma outra, uma não-carta, um resto; já a depois Dupin). Sustentando que o
segunda se passa no gabinete do essencial é justamente que não
ministro, espaço que a polícia já vinha saberemos nunca o que há dentro da
vasculhando meticulosamente havia carta – que, embora ela tenha um
dezoito meses: ali o ministro recebe sentido, não é isso que interessa para
Dupin, um detetive que, por sua vez, interpretarmos o que venha a ocorrer
desvenda o jogo que o ministro utiliza com os envolvidos, e sim, propriamente,
para esconder a carta – deixando-a à a veiculação dessa carta –, Lacan busca

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ESTAVA ESCRITO, MAS NÃO NAS ESTRELAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMOR NA
LITERATURA E NA PSICANÁLISE

mostrar como os sujeitos se revezam oportunidade de falar dele, se é que


nesse fato de todos serem ludibriados. convém acrescentá-lo como uma
O que está em questão, portanto, espécie de anotação à margem, como
conforme comenta Leite (2010, p.81) é aquilo que distingo como dimensão do
que “essa carta/letra causa seus efeitos imaginário.”
não apenas como significante (e isto Tomando, então, a separação
absolutamente a despeito da entre a mensagem e a materialidade da
significação que sua mensagem carta como traço fundamental em Poe,
desconhecida encerra), mas também Lacan pode fazer equivaler carta e letra,
como objeto, [...] independente da bem como afirmar que ela, embora
mensagem”. Ao retomar o texto que purloined (extraviada, retida), chega a
abre seus Escritos, Lacan (1971/2009), seu destino, quer seja, ao sujeito do
na lição de 17 de março de 1971, inconsciente, submetido à linguagem e,
explica: “[...] faço questão de sublinhar conforme diz Leite (2010, p. 81)
o que é essencial e a razão por que a “habitado pelo que ela traz: a castração
tradução A carta roubada não é correta. e a morte”. Para além do que se dá a
The Purloined Letter quer dizer que, de ver, ela é um objeto em torno do qual os
toda forma, ela chega a seu destino. E o sujeitos se posicionam e se deslocam.
destino, eu o forneço. Forneço-o como o
destino fundamental de toda carta, no Considerações Finais
sentido de epístola. Ela chega, digamos,
não só a este ou àquela, mas aos que Podemos voltar agora às nossas
nada podem compreender dela, dentre letras de amor bem como à relação que
elas, a polícia, no caso. [...] Essa tentamos traçar entre o que elas portam
invenção, essa maquinação de Poe, tudo e as demandas de amor com que
isso é dito de maneira muito bonita, constantemente lidamos em nossa
magnífica. A carta evidentemente está clínica. Será que não podemos situá-las
fora do alcance da explicação do também nesse intermédio entre a
espaço, já que é disso que se trata [...] imagem especular, amada, que nos
Esse famoso espaço realmente é, para sustenta como ser, e suas sucessivas
nossa lógica, já se vai um bom tempo, lituras, que nos pre-ocupam? Saber
desde Descartes, a coisa mais estorvada amar não será saber manejar isso que se
do mundo. Esta, aliás, é uma põe aí, entre o conforto e o desconforto?

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Pode ser interessante pensar por que Em síntese, nossa expectativa é


Cazuza, em sua canção, pede ao Senhor que esta discussão, que pretendeu
piedade “pra quem não sabe amar” e caminhar com alguns pontos com os
“fica esperando alguém que caiba no quais podemos articular o amor ao
seu sonho”. Piedade para aqueles que desejo, portanto ao mesmo tempo ao
não têm coragem de enfrentar esse Outro, ao objeto e ao sujeito, possa
desencontro com seu imaginário? Não é lançar luzes sobre nosso fazer clínico,
à toa que Freud já nos havia alertado: que, a nosso ver, não lida com outra
amar é também correr o risco do coisa senão com os impasses do amor,
desemparo, coisa que Arnaldo Antunes que, falados e analisados numa situação
entende bem nesta canção: “Tá fazendo muito peculiar, a do amor de
frio nesse lugar / Onde eu já não caibo transferência, podem mover um sujeito
mais / [...] Onde eu já não caibo em a não ceder de seu desejo,
mim / Mas se eu já me perdi / Como paradoxalmente inextricável ao amor e
vou me perder/ Se eu já me perdi / à liberdade.
Quando perdi você”.
Notas

1) Questão inicialmente proposta pelas XII Jornadas de Formações Clínicas – O amor e


suas letras – do Forum do Campo Lacaniano do Rio de Janeiro, realizadas em novembro
de 2010.

2) La premisa inicialmente propuesta por la XII Jornada de Formaciones Clínicas – El


amor y sus letras – del Forum del Campo Lacaniano de Río de Janeiro, realizadas en
noviembre del 2010.

3) An issue – love and its lyrics – proposed by the XII Jornadas de Formação Clinícas at
the Forum of the Rio de Janeiro Lacanian Association, held in November, 2010.

4) Título que emerge também de uma letra de música, Escrito nas estrelas (composição
de Arnaldo Black e Carlos Rennó), que o Brasil conheceu em 1985 na voz de Tetê
Espíndola. Venceu, nesse ano, o Festival dos festivais da Rede Globo bem como bateu
os recordes de execução e vendagens, ganhando inclusive o disco de ouro. Eis um
trecho: Caso do acaso/ Bem marcado em cartas de tarô/ Meu amor, esse amor/ De cartas
claras sobre a mesa/ É assim/ Signo do destino/ Que surpresa ele nos preparou/ Meu
amor, nosso amor/ Estava escrito nas estrelas/ Tava, sim”.

5) O tempo 2 incide sobre o tempo 1, que por sua vez volta modificado no tempo 2, e
assim “sucessivamente” – sucessões às custas de itermitências.

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LITERATURA E NA PSICANÁLISE

6) Esta frase diz respeito ao desejo de vingança de Atreu contra seu irmão Tiestes, que
seduzira/desencaminhara a esposa do primeiro, bem como ao desejo de vingança de
Dupin contra o ministro, que desviara a carta da rainha.

Referências

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CRISTÓVÃO GIOVANI BURGARELLI

O autor

Cristóvão Giovani Burgarelli, psicanalista, é professor da Faculdade de Educação, do Programa de Pós-


Graduação em Educação e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal
de Goiás; doutor em Linguística pela Unicamp; pesquisador nos projetos Entraste (UFG), Outrarte
(IEL/Unicamp) e CIRCEFT (Université Paris 8); autor do livro Linguagem e escrita: por uma
concepção que inclua o corpo. Endereço: Rua 1.121, n. 249. Setor Marista, Goiânia-GO. CEP: 74
175- 120. E-mail: crgiovani@gmail.com . Fone: (62) 9277-0867.

Recebido em: 30/03/2016

Aprovado em: 30/06/2016

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