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ISAIAH BERLIN

Conhecido pela sua contribuição na área da filosofia política, Isaiah Berlin desenvolveu
a sua tese sobre a liberdade, na qual distingue dois tipos de liberdade (Two Concepts of Liberty,
1959): a liberdade negativa e a liberdade positiva.
A liberdade negativa é a liberdade interpretada como a ausência de constrangimentos
ou obstáculos à acção individual. Este é um ponto de vista bastante apoiado por liberais pois
acreditam que a ausência de constrangimentos legais e sociais é necessária. Por outro lado,
filósofos como Rosseau afirmam que uma sociedade organizada só existe se existirem também
constrangimentos, uma vez que estes são necessários para que se possam atingir os melhores
fins.
A liberdade positiva é a liberdade interpretada com uma noção de autogoverno moral
ou autodeterminação do individuo enquanto membro de um grupo. Isaiah Berlin opõe-se a
esta concepção de liberdade, pois acredita que esta dá margem aos abusos políticos.
Isaiah Berlin distingue dois tipos de pessoas:
- OURIÇO: Representa uma atitude mais defensiva e expectante. É o tipo de pessoas que se
colocam numa posição defensiva e que se protegem.
- RAPOSA: Representa uma maior actividade. É o tipo de pessoas que se colocam na ofensiva e
têm uma atitude mais activa.

A liberdade tem limites, esse limite é o outro. Se não fosse assim, todos os indivíduos
poderiam interferir sem limites com os outros. Este tipo de liberdade natural conduziria aos
caos social em que as necessidades mínimas do homem não seriam satisfeitas. Os direitos dos
fracos seriam suprimidos pelos direitos dos fortes. Devemos preservar a área mínima da
liberdade pessoal se não quisermos negar a nossa natureza.
Isaiah Berlin afirma que as sociedades são marcadas por diferentes valores e ideias e
por isso, os valores mais importantes para a humanidade (pluralismo de valores) entram em
conflito. Daqui desenvolve-se a ideia da incomensurabilidade dos valores, a ideia de que não
há uma medida para os valores, estes não são comparáveis, pois cada um tem a sua própria
medida e cada cultura dá importância a diferentes valores.
Os valores éticos têm uma relação de hierarquia mas não se podem medir, pois são as
referências fundamentais de onde partimos. Ninguém pode ser dono da verdade da avaliação
dos valores. O valor é aquele a que atribuímos importância.
O filósofo parte assim da ideia de que: “O mundo que encontramos na experiência
comum é um mundo em que somos confrontados com escolhas entre fins igualmente
supremos e reivindicações igualmente absolutas, e a realização de algumas dessas escolhas e
reivindicações deve envolver inevitavelmente o sacrifício de outras. Na verdade, é por causa
dessa situação que os homens atribuem valor tão imenso à liberdade de escolha; pois se
tivessem certeza de que em algum estado perfeito, alcançável pelos homens na Terra, nenhum
dos fins por eles buscados jamais entraria em conflito, a necessidade e a agonia da escolha
desapareceriam, e com elas a importância central da liberdade de escolha”.

ZYGMUNT BAUMAN
Bauman defende que a sociedade actual pode ser classificada como uma modernidade
líquida, ao contrário da modernidade sólida, que seria a sociedade da época da guerra fria e
das guerras mundiais.
Para este filósofo, a sociedade líquida não pensa a longo prazo nem consegue traduzir
os seus desejos num projecto de longa duração e de trabalho duro e intenso para a
humanidade. A força da sociedade deixa assim de estar em sincronia com o alcance de um
objectivo.
A utopia surgiu com a constatação de que o mundo precisava de ser mudado, com a
esperança no potencial humano de transformação.
A sociedade líquida surge assim através da sua incapacidade de se tornar fixa. É uma
sociedade que se transforma diariamente e que toma as formas que o mercado a obriga, não
proporcionando a elaboração de projectos de vida. Esta tem como fim último a busca do prazer
individual, o que a caracteriza como uma sociedade desregulamentada e desordenada e que
dita o fim das utopias, pois há uma perda do caracter reflexivo em relação à sociedade e da
noção de progresso como um bem que deve ser partilhado.
Zygmunt Bauman utiliza a metáfora do caçador e do jardineiro pois, segundo o mesmo,
é a melhor descrição na presença humana na terra.
O caçador é aquele que protege os seus terrenos de qualquer interferência externa e
que vê uma estabilidade funcional na presença de cada elemento no mundo, não se
importando em acabar com os recursos de um dado espaço pois pode mover-se para outro
espaço e utilizar mais recursos. Há assim uma relação com recursos partindo do pressuposto
que esses são inesgotáveis (uso e abuso).
O jardineiro sabe quais as plantas que devem ser plantadas e quais devem ser cortadas
e entende que a ordem no mundo depende do esforço de cada um e não de uma lei exterior. O
jardineiro tem por isso de continuar no território onde se encontra e adaptar-se a ele, e por
isso passa a introduzir o factor criatividade e inteligência.
Esta metáfora obriga a pensar a relação não só interpessoal mas também com a
natureza. Esta relação é uma relação de complementaridade, pois temos de ter um equilíbrio
de ambas as partes, temos de perceber o limite nessa relação com o outro e com a natureza.
Isto é relevante no que diz respeito à ética: é a cultura que as pessoas têm de criar na relação
com o outro, conhecendo e respeitando os limites.

ROSSEAU
Rosseau é adepto de uma filosofia de educação natural e de uma concepção optimista
do homem e da natureza, na qual defende que num estado de natureza os indivíduos vivem
isolados pelas florestas, sobrevivendo com o que a Natureza lhes dá, desconhecendo as lutas e
comunicando pelo gesto.
Este é o estado de felicidade original, onde os seres humanos não tinham a
necessidade de se relacionarem e onde não havia desigualdades. Esta era a forma assumida
pelo Bom Selvagem. O Bom Selvagem é a pessoa fora do contexto pessoal que tem uma
atitude positiva. É uma pessoa com um fundo bom. Este estado de natureza termina quando se
dá a divisão entre o “meu” e o “seu”, a propriedade privada, e dá origem a um estado de
sociedade que corresponde actualmente ao estado de guerra de todos contra todos.
É neste processo de transformação que o homem se degenera, porque abandona os
seus instintos naturais passando a usar a justiça no lugar da piedade. A partir da socialização, o
homem torna-se senhor da razão e passa a movimentar a vontade. O homem poderá chegar ao
máximo das suas possibilidades como ser social, a partir da escolha do benefício alheio em
detrimento de si próprio.
«Homo lupus homo» - O homem é o lobo do homem: Isto vem confirmar o estado de
sociedade, pois não há natureza positiva. Quando nos sentimos ameaçados vamos colocar-nos
na ofensiva (leviatã – Thomas Hobbes).
Segundo Rosseau, a socialização é a causa da desnaturalização do homem e o melhor
caminho para a sua degradação. A comunhão com a natureza é a única forma de preservação
da verdadeira essência do homem.

THOMAS HOBBES
Hobbes, no Leviatã, parte do princípio de que os homens são egoístas e de que o
mundo não satisfaz todas as suas necessidades. Por isso, Hobbes defende que no Estado
Natural, sem a sociedade civil, há necessariamente competição entre os homens pela riqueza,
segurança e glória. Esta luta de todos contra todos ocorre porque cada homem persegue
racionalmente os seus próprios interesses.
A paz só é conseguida por meio de um contrato social, do qual se tem de estabelecer
um mecanismo que o obrigue a ser cumprido. Para isso, tem de entregar o poder individual a
uma ou várias pessoas que punam quem quebrar o contrato. Estas pessoas são, segundo
Hobbes, os soberanos (pode ser uma pessoa individual, uma assembleia ou qualquer outra
forma de governo).
A existência da soberania consiste em ter o poder suficiente para manter a paz,
punindo aqueles que a quebram. Assim, quando o leviatã (soberano) existe, a justiça passa a
ter sentido pois os acordos e as promessas passam a ser obrigatoriamente cumpridos.

ÉTICA DIALÓGICA
A ética remete a uma relação complexa de interacção. Para a ética ser dialógica tem de
conter respeito mútuo, ou seja, quando se fala em concepções teleológicas, pode-se falar delas
mas não como um elemento exclusivo/absoluto, por causa do respeito mútuo.
A ética dialógica é isto, o pluralismo dos valores, a incomensurabilidade dos valores, a
interacção dos valores, a relação dos valores.
O diálogo é uma troca: dar e receber – é um confronto entre duas razões. Não há na
ética uma explicação unilateral e exclusiva, na vida prática há vários factores que se
relacionam.

UTILITARISMO
Jeremy Bentham afirma que as acções são boas quando tendem a promover a
felicidade e más quando tendem a promover o oposto da felicidade.
O utilitarismo tem como objectivo: “Agir sempre de forma a produzir a maior
quantidade de bem-estar”. É uma moral eudemonista que insiste no facto de que devemos
considerar o bem-estar de todos e não o individual.
Todos queremos sempre ter a melhor vida, e por isso, o nosso interesse tem de ser
compatível com o interesse dos outros. Tem por isso de haver respeito mútuo.
Quanto ao contrato social, Bentham acredita que a obediência só se justifica porque
proporciona mais felicidade do que a desobediência. Deste modo, o autor entende por
utilidade: “aquele princípio que aprova ou desaprova qualquer acção (individual ou de
qualquer acto ou medida de governo), segundo a tendência que tem de aumentar ou diminuir
a felicidade da pessoa cujo interesse está em jogo, ou segundo a tendência de promover ou
comprometer a referida felicidade”.

RACIONALISMO
A razão tem um papel importante. Segundo Kant, devemos fazer com que a nossa
atitude se torne numa atitude universal. Este filósofo vê o racionalismo baseado nos princípios
da busca da certeza pela demonstração e análise, sustentados pelo conhecimento a priori.
Assim, o conhecimento não é inato nem resultado da experiencia sensível mas sim produzido
somente pela razão.
Já segundo Hegel, a razão tem um papel muito importante na análise dialéctica da
realidade. O hegelianismo foi surgindo a partir destes pensamentos de Hegel, e diz que há uma
identidade entre o racional e o real, o que significa que a realidade seria absolutamente
justificável em todas as suas manifestações. O processo dialéctico é o que permite uma
interpretação da realidade.

IDEALISMO-TELEOLÓGICO
Segundo Platão, o elemento fundamental da sua tese reside na teoria as ideias ou
formas. A ideia é aquilo que gera, aquele princípio que não muda, aquilo que é necessário e
permanente, a causa de toda a mudança. As ideias enquanto coisas perfeitas não são visíveis
aos olhos dos homens concretos devido ao seu esplendor e por isso, só o espirito as consegue
vislumbrar e apreender.
Platão utiliza a metáfora do sol, na qual o sol está para o mundo visível como a ideia de
bem para o mundo do inteligível. A luz equivale aqui à verdade, as cores aos objectos do
conhecimento, a faculdade de visão à faculdade da razão, o exercício da visão ao exercício da
razão e a aptidão para ver à aptidão para conhecer.
Para atingirmos as coisas invisíveis ou inteligíveis são necessárias outras faculdades,
onde não basta a razão que apenas nos consegue levar ao nível das coisas invisíveis inferiores,
aos conhecimentos científicos racionais. Para chegarmos às coisas invisíveis superiores só
através da contemplação intelectiva.
Segundo Platão, só aquele que renunciar em absoluto ao uso dos
sentidos pode elevar-se. Só através da razão, alguém pode aceder à essência das coisas.
Neste contexto também surge a célebre alegoria da caverna, onde, segundo Platão,
um conjunto de pessoas vivem acorrentadas desde a infância, encarando uma parede vazia e
incapazes de se ver uns aos outros ou a si mesmos. Estas pessoas assistem a sombras
projectadas pelo fogo na parede e começam a dar-lhes nomes. Entre eles e o fogo, há uma
pequena parede que os impede de ver as pessoas que carregam e movem pequenos objectos
que criam essas sombras e que ecoam sons, os quais os acorrentados pensam ser produzidos
pelas sombras. Estas sombras são o mais próximo da realidade que estas pessoas conhecem da
realidade e por isso, só quem se conseguir libertar dessas correntes é que poderá ser capaz de
perceber que as sombras não constituem a realidade em absoluto e por isso será capaz de sair
da caverna e perceber a verdadeira forma de realidade (ascensão espiritual/psicológica).
Com isto, Platão quer explicar que os fatos do mundo não se apresentam
imediatamente como os devemos interpretar e que a realidade ultima das coisas pode estar
oculta ao olhar menos atento, procurando desta forma explicar como chegamos a conhecer as
coisas, através de um olhar que ultrapassa a mera aparência imediata e procura a realidade.
Quanto à ignorância humana, há aqueles que são incapazes ou relutantes de procurar a
verdade e sabedoria. A Alegoria da Caverna também é frequentemente interpretada como um
alerta sobre como governantes, sem uma mentalidade filosófica forte, manipulam a
humanidade.
A ideia é o esplendor da luz, mas os nossos olhos sensíveis não conseguem olhar o sol
de frente, embora tenhamos de o tentar.

PRAGMATISMO
A ideia de eficiência e a capacidade que temos de influenciar a realidade (sociedade,
outros e a natureza). Segundo William James e John Dewey a escola é uma antecipação da vida
e a sociedade vai estar representada segundo a eficiência.
James afirmava que a experiencia social, cultural, tecnológica e filosófica poderia ser
usada como juízo de valor da verdade. Para este, a vida de muitas pessoas sem crença religiosa
era superficial e desinteressante, e embora nenhuma crença religiosa pudesse ser
demonstrada como correcta, somos todos responsáveis pelas nossas apostas nesta área.
Por outro lado, Dewey rejeitava a crença num ideal estático, tal como um deus pessoal,
embora reconhecesse a importante função das instituições e práticas religiosas na vida
humana. Acreditava assim que o método científico seria o único recurso confiável no
sentido de promover o bem da humanidade.
O pragmatismo é a consideração da prática (pragma). Este vai analisar a realidade, a
nossa relação com ela e o modo como o fazemos. Para Dewey, a cidadania activa é importante,
é um elemento essencial de toda a humanidade, é pedir a cada um de acordo com as suas
capacidades (noção de eficácia da acção que se realiza).

MATERIALISMO
Segundo Marx, há uma necessidade material das pessoas na sociedade. Cada um vai
ser beneficiário de uma distinção das riquezas de acordo com as suas necessidades.
O materialismo é a relação humana que é determinada pela economia e pelas
necessidades socias, procura as causas de desenvolvimento e mudanças na sociedade humana
nos meios pelos quais os seres humanos produzem colectivamente as necessidades da vida.

RAZÃO SUFICIENTE
Leibniz defende a razão suficiente, dizendo que é esta que se estabelece entre o acto
de vontade. Este acto de vontade é o acto misto, envolve a racionalidade e a emoção.
Razão VS Emoção – “Penso, logo existo”, Descartes VS “Penso, sinto, logo existo”,
Damásio.

A JUSTIFICAÇÃO ÉTICA DO DIREITO COMO TAREFA PRIORITÁRIA DA FILOSOFIA


POLÍTICA, RELACIONANDO VALORES, NORMAS E FACTOS
A sociedade está organizada de acordo com três elementos: ética, moral e direito. O
direito é o primeiro elemento, o factor da organização de uma sociedade centrada em:
1º- PRIMADO DA LEI: a lei é geral e abstracta para todos, por causa da segurança para
sabermos que são normas susceptíveis de ser aplicadas no direito. Para que este primado da lei
funcione, é necessário não só haver um estado democrático para todos, mas também
legitimidade de origem (direito ao voto) e legitimidade do exercício (limitação do poder).
2º- LEGITIMIDADE DE ORIGEM: Quem vai decidir as leis.
3º- LEGITIMIDADE DE EXERCÍCIO: Como vão agir aqueles que foram escolhidos.
4º- INTERAÇÃO DOS VALORES

LEGITIMAÇÃO: É o processo de legitimação, é o processo de escolha.


LEGITIMIDADE: É o fim da legitimação, garantir que quem exerce o poder, o faz de forma
concreta.

A filosofia política tem enfrentado um problema nas sociedades: os conceitos de


liberdade e igualdade são ambíguos e a melhor maneira para os equilibrar nunca foi exposta de
uma forma que viesse a merecer aprovação geral.
Rawls pretende alcançar a resposta sobre se é impossível explicitar o conceito de
liberdade e igualdade de um modo equilibrado e de maneira a que os cidadãos das sociedades
democráticas concordem sobre isso. Para isso, é preciso submeter os fundamentos do direito à
revisão, a partir de uma concepção moral.
Rawls limitou o seu trabalho à justiça, a qual define como uma virtude trabalhada com
esmero pela tradição ética entre a ética individual e a ética social. Rawls dedica o seu trabalho
à justiça social, que tem por objecto o modo pelo qual as instituições mais importantes
distribuem os seus direitos e deveres fundamentais e determinam as vantagens provenientes
da cooperação social.
Segundo Rawls, os princípios da justiça constituem o critério para examinar a estrutura
básica das sociedades.
A fundamentação ética do direito, segundo Rawls, baseia-se na autonomia real dos
homens, tal como concebida pelos cidadãos dos países democráticos a partir de uma tradição
digna de confiança. É o reconhecimento do caracter auto legislador de seus componentes, que
confere ao procedimento democrático um valor moral e proporciona um fundamento de
legitimidade.
Assim, só podemos falar de normas legítimas ou justas se elas se ativerem aos
princípios que esses componentes escolheriam em condições ideais, que garantem a justiça da
escolha e que expressam a unidade da racionalidade prática em sua dupla função empírica.
Esta unidade irá reforçar-se se os cidadãos das sociedades democráticas viverem segundo os
princípios da justiça da justiça, como cidadãos livres (aqueles que se consideram autorizados a
apresentar reivindicações às suas instituições, dentro de certos limites) e iguais (todos são
capazes de compreender uma concepção política e de agir a partir dela).

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