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1. A solidão....................................................................................................................1
2. A solidão percebida na existência da pessoa...........................................................5
3. A solidão como confinamento do potencial afetivo...................................................7
4. A solidão e o arrependimento...................................................................................8
5. A solidão como hábito e o exílio do prazer.............................................................10
6. Solidão - Um paralelo entre as teorias de Freud e Adler........................................11
7. Solidão a dois e individual (estudo psicológico).....................................................15
Bibliografia...................................................................................................................18
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SOLIDÃO
1. A solidão
"Qualquer talento ou distinção pessoal deve servir ao incremento de
uma sensibilidade a favor de determinada pessoa,do contrário,
apenas restará uma vaidade nefasta que excluirá o sujeito da
condição humana, rebaixando-o novamente para o reino animal da
competição". (Charles Darwin)
Porém, outro psicólogo - Alfred Adler, logo notou que tal construção mental de
natureza sexual era apenas uma metáfora para esconder a verdade oculta por trás
do medo, que era a recusa de se doar profundamente. A angústia da castração no
menino, nada mais era do que um treino precoce para que no futuro seu pênis ou
lado emocional servissem à apenas ele próprio, jamais compartilhando com outro
ser.
Este tipo de mulher geralmente tem um histórico familiar de um pai quase que
totalmente ausente. Vendo o sofrimento e constante submissão da mãe, partem
para uma espécie de reação de conduta oposta, assimilando uma total rebelião e
desprezo pela figura masculina. Sua única meta passa pelo reforço constante de seu
narcisismo seja estético ou não, colecionando todo tipo de galanteio masculino como
um troféu a ser exibido.
Quando pensamos na solidão, a primeira idéia que passa por nossa mente é
se temos ou não verdadeiros amigos, a qualidade de uma relação afetiva que
estamos vivenciando, o quanto somos estimados ou procurados por quem sentimos
afeição ou apreço. Embora tudo isso seja bastante natural, gostaria de enfatizar
nesse estudo a relação da solidão com a própria personalidade do indivíduo. Quero
dizer não apenas de algo existencial, mas tão somente como cada um direciona sua
meta de vida. Talvez não nos demos conta, mas um dos atributos de nossa
sociedade que mais contribuem para o aumento da solidão é o confinamento de
papéis em que vivemos diariamente. Somos treinados desde os primórdios a
agirmos de acordo com determinadas expectativas ou deveres sociais. Caso haja
uma transgressão, o resultado quase sempre é culpa ou ansiedade. Isso se dá no
âmbito profissional, social e pessoal, e quase sempre aceitamos os fatos como nos
são apresentados.
Vamos pensar pela seguinte ótica, se alguém não consegue atuar seu maior
talento ou habilidade perante a sociedade, imaginem o que esta última não fará
acerca das imperfeições desse mesmo indivíduo? É nesse exato ponto que
deveríamos nos questionar sobre o seguinte: O que se tem feito acerca da solidão e
conseqüente ódio interno resultante? Apenas se tem caminhado para o egoísmo e
rigidez excessiva da disciplina, visando que outros tenham também um mundo tão
sombrio e angustiante? Após anos como psicólogo fico ainda perplexo ao presenciar
como um casamento não traz consigo a mínima garantia de satisfação e felicidade
sexual, sendo que a masturbação continua sendo uma constante de acordo com
relatos de pacientes. Novamente falamos de potencial não efetuado, de
possibilidades não realizadas. O que fazer no caso acima descrito, em que duas
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pessoas não estão aptas a se satisfazerem mutuamente? Isso sem dúvida é outra
prova brutal de isolamento e solidão a dois.
É fundamental que todo ser humano esteja atento ao modo como enfrenta
etapas cruciais em seu desenvolvimento, desde a tenra infância como a entrada na
escola, passando pela adolescência, escolha profissional e a questão do amor. O
que foi descrito anteriormente sobre o potencial não efetuado, remonta a um estilo
de vida que chamaria de "projeto da desistência", ou seja, a pessoa vai tolhendo seu
próprio potencial, seja desistindo ou não encontrando sua vocação, seja não se
satisfazendo afetiva e sexualmente. Com toda a certeza essa deve ser uma das
maiores pragas psíquicas de nossos tempos. Como resultado temos a total solidão e
duas variáveis que produzem os maiores índices de ansiedade: a impotência e
medo em quase todas as esferas da existência. Escolher a solidão é esconder as
carências mais profundas, por vergonha ou medo de que alguém descubra o quanto
um ser humano pode estar faminto de afeição. A solidão é uma tentativa surrealista
de se tentar controlar o processo do amor. A mágoa maior não é resultante de uma
relação que não deu certo, mas principalmente por nunca termos nenhum controle
sobre futuras paixões ou decepções, sendo que a solidão é a tentativa desesperada
para se colocar um freio nesse processo.
4. A solidão e o arrependimento
Todo o processo acima citado nos leva a conclusão de que a solidão apenas
nos mostra como estamos absolutamente despreparados para a questão da morte
em todos os sentidos, sendo que jamais reconhecemos que determinados sinais
sociais nos mostram a finitude de nossas experiências gratificantes acumuladas, nos
mostrando que a mais dolorosa experiência humana sempre foi a mudança em
todas as esferas da existência, e a falta de instrução ou treinamento para algo tão
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óbvio da natureza humana passa a ser um dos pilares de toda a estrutura social e
pessoal que petrificam o ser humano no medo e apatia. Jamais devemos nos
esquecer que em suma a solidão apenas representa a total falta de investimento na
esfera da troca afetiva.
Não há talvez outro sentimento humano que impere sobre os demais do que a
solidão. Esta desafia todas as estruturas e esferas de nossa sociedade tipo:
dinheiro, posses, status, sexualidade, beleza e poder. Sem sombra de dúvida
podemos eleger a solidão como o topo do sentimento humano deste século, nenhum
outro como descrito acima consegue por tanto tempo ocupar nossa alma e
desprovê-la do sentido da vida. Podemos sentir raiva de uma determinada pessoa,
estarmos irados, preocupados com o sustento, mas nada é mais angustiante e fatal
para nossa auto-estima do que a conscientização de que estamos carentes, sentir
que poucos ou ninguém mantém um contato profundo e duradouro conosco, que
não somos importantes ou especiais para alguém. A solidão impede o livre fluir de
quase todas as potencialidades ou desejos humanos. É até interessante notar como
esse tema nunca foi esmiuçado pela psicologia, dada sua importância estratégica no
contexto de nossa atual sociedade. Desde cedo somos educados para o sucesso, a
glória, poder ou vantagens, mas ninguém nos conta o que fazer quando não
sentimos mais vontade nisso tudo, por sentirmos o sentimento da solidão. Nenhuma
escola ou educador nos ensina a como lidar com tão corrosivo elemento da alma
humana, apenas sentimos o vazio, a ausência, e impotentes ficamos no terrível
dilema da espera de que algo aconteça e mude essa vida estéril. Impotência é
nosso deus central nos dias atuais, e a única sabedoria é retirar algum
conhecimento dessa experiência.
Solidão a dois não é tanto saber que o outro jamais lhe completará,
mas principalmente o total desprezo e indiferença em relação aos
nossos anseios e expectativas, é ser constantemente ignorado e
abandonado na presença de alguém.
A solidão é como uma ressaca do mar, trazendo ou nos dando uma dimensão
de todos os nossos atos e pensamentos, ela nos mostra todo um histórico e estilo de
vida, sendo na maioria das vezes uma prova indesejada da nossa falta de
responsabilidade pelo ente humano, é ainda o produto de tudo aquilo que sempre
tentamos fugir,o desespero. Sua imperativa presença não dá espaço para fugas ou
escapismos como quando estamos absortos em algo, mas revela cruelmente nossos
mais remotos hábitos, medos, temores e anseios, sendo que este último é uma
tentativa desesperada da mente para se proteger dos primeiros, pois o desejo na
solidão tem a função vital de proteção da saúde psíquica, pois caso contrário, nosso
inconsciente é literalmente invadido pelas mais temidas idéias destrutivas e
persecutórias.
O ponto central desse presente estudo é o fato da solidão revelar até que ponto
verdadeiramente desejamos a troca e contato humano, nesse caso a solidão passa
a ser um estímulo e até um objeto de reflexão apurada para uma futura busca,
selecionando melhor as escolhas, dando inclusive uma dimensão do que realmente
gostamos ou daquilo que profundamente sentimos saudades. Diria que esse seria o
lado positivo da solidão, uma dissecação de nosso estilo de vida como descrito
anteriormente, pesando-se todas as vantagens e desvantagens de nossa conduta,
neste caso a solidão seria um intervalo para que pudéssemos reavaliar nossas
experiências de vida, e o que realmente estamos buscando, e a maneira pela qual
estamos fazendo isso. É fundamental sentirmos essa solidão para que possamos
refletir e ajustar padrões viciados de conduta e comportamento. Fugir da solidão
constantemente significa abafar essa oportunidade de crescimento interior.
Adler achava que tal mecanismo se devia ao fato da pessoa insistir sempre em
ser amparada pelo seu meio, pois o sofrimento seria uma espécie de escudo para
nunca se atingir a independência, forçando um cuidado e atenção especial para a
pessoa acometida pela neurose, o que ele chamava de "pessoa mimada", o
protótipo de ser humano incapaz de troca, mas tão somente direcionado para os
benefícios que possa obter através de seu distúrbio. A solidão no psiquismo humano
é sentida como um processo doloroso de exclusão na obtenção ou participação de
experiências afetivas de troca ou prazer, é sentir que todos os demais tem um direito
que nos é negado. Segundo a teoria psicanalítica, a fantasia que a criança
desenvolve acerca da sexualidade dos pais, é que "há uma espécie de festa na qual
ela está excluída", sendo este exatamente o sentimento do solitário acerca de sua
real condição humana, sua crença na incapacidade de obter semelhante satisfação.
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Adler acreditava que a criança percebia tal acontecimento não como um prazer
de natureza sexual negado, mas principalmente o ódio da mesma em relação à
pessoa que detinha o poder sobre sua inclusão ou exclusão de determinados
eventos, ou seja, uma luta contra a suposta tirania e dominação dos pais, traçando
um paralelo entre a luta de classes no modelo econômico que vivemos. Outro ponto
muito interessante acerca da psicologia do solitário, observado em terapia é o de
que determinado indivíduo parece ter criado historicamente todo um "projeto" voltado
à solidão. Citarei a seguir alguns elementos que contribuem para tal finalidade,
embora muitos deles sejam preconceitos ditados pela sociedade, mas que acabam
sendo incorporados pela pessoa, visando evitar uma experiência de aproximação,
alguns exemplos: neuroses em geral, onde a pessoa acaba por ficar debilitada,
dificultando uma real experiência de prazer com o outro, sendo que a relação se
torna de extrema dependência, por exemplo, a síndrome do pânico, onde o medo e
pavor forçam uma atuação excessiva e desgastante sobre o indivíduo, e o mesmo é
incapaz de prosseguir suas tarefas profissionais ou sociais, o mais interessante é
que determinadas crises de pânico sempre ocorrem quando o sujeito se encontra
numa situação social ou simplesmente saiu de casa, revelando que o único
ambiente seguro é seu lar, rejeitando por completo a aproximação com outras
pessoas.
Uma das experiências de maior angústia que recaem sobre determinado ser
humano, é quando o mesmo descobre que apesar de usufruir de determinado
relacionamento, não conseguiu efetivamente eliminar o problema da solidão. A
sensação primeira é sentir que não se tem o que se merece, causando ansiedade e
total desconforto pessoal. A primeira e básica lição para qualquer tipo de
relacionamento, é expor a insatisfação, sendo este ato uma prova de real amor, pois
abre a porta para que ambas as pessoas reflitam sobre o desafio de estar com
alguém e manter a chama do prazer. A falta do diálogo franco e profundo, apenas
aprisionam ambos nos fantasmas da carência e insatisfação generalizada. Toda
vivência negativa deveria ter o intuito de transformar determinada barreira em um
novo caminho de evolução da relação. Infelizmente preferimos perder nosso
companheiro para uma trama mal resolvida do inconsciente da pessoa, renegando
por completo o potencial criativo e a coragem de mudar. Como é extremamente fácil
perder aquela habilidade ou fidelidade em admirar o outro. O fato é que a maioria
dos relacionamentos, provam a dificuldade de se encontrar pessoas que realmente
caminhem juntas, no mais profundo de suas almas e atitudes.
O leitor irá indagar sobre qual é o maior problema histórico que incide sobre
determinada relação, destruindo seu conteúdo. A resposta é que as estratificações
sociais se reproduzem em todos os relacionamentos, criando classes sociais, assim
como nos aspectos econômicos. Temos então o rico e pobre, sendo este último um
total dependente afetivo. A tensão destes opostos irá produzir um combate
interminável dentro da relação. Um outro aspecto desta questão é o problema do
narcisismo, pois quando observamos a vaidade em determinada pessoa, ou a
segurança que a mesma demonstra emitir, este processo não deixa de ser a retirada
da energia do outro para benefício próprio. Este é o sinal mais marcante de nossa
era; a competição incessante para testar quem realmente detém o poder em todas
as frentes.
A solidão sentida a dois, não deixa de ser uma espécie de teste sobre o que
mais sentimos ao lado de alguém: ansiedade, desejo de fuga, desprezo ou rejeição.
A armadilha não é a exposição constante perante tais sentimentos negativos, mas
como disse acima, a incessante negação dos mesmos. Deveríamos estar cônscios
de que uma relação eternamente será uma dualidade ou um conflito de opostos,
nunca algo linear de prazer que possamos pegar quando nos sentimos famintos.
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Todos dizem que buscam alguém para envelhecer em dupla; dividir momentos
de prazer e dor; que a beleza acaba cedo, sendo o importante a essência da
parceria. Embora tudo isto seja correto, o fato é que a "eternidade" de um
relacionamento é mensurada na capacidade de ambos proverem continuamente
novas experiências, sendo constantemente criativos perante os desejos e potencial
do outro. O preço máximo a ser pago por nosso consumismo econômico é atrair
parceiros descartáveis, causando no final a perda da libido existencial. Se até o
presente momento a humanidade foi absolutamente incompetente para produzir um
modelo econômico sem miséria material, seria absurdo pensar que não sofreríamos
a miserabilidade afetiva e psíquica. Não se trata de politizar em cima de um assunto
afetivo, mas concluir que qualquer processo individual é fruto de um todo onde cada
um se insere. Ninguém almeja a solidão que é a prova máxima da desumanidade,
mas quase todos se iludem ao pensarem que estão acompanhados.
Esta tarefa parece um tanto óbvia, mas é espantosa a omissão das pessoas
perante tal fato. A busca pela segurança e estabilidade são o maior obstáculo para o
crescimento em conjunto. Não apenas as imagens passadas mudam, mas também
há um incessante bombardeio por novas expectativas e possibilidades. Amar não é
um treino, um dom, ou um esforço, mas a junção sincrônica de desejos e atitudes,
liderados pela motivação da criatividade permanente; amar é a responsabilidade
pela evolução do outro, pois gostemos ou não, nossa admiração funciona como na
esfera profissional, sendo não apenas maior ganho material, mas principalmente a
plena satisfação. Temos o vício mais do que milenar de admirar o maior e exercer o
poder cruel no menor, assim sendo, falta a distribuição de potência em todos os
níveis, e obviamente pessoas que desejem usufruir da mesma.
Bibliografia
Adler, Alfred: O sentido da vida. Editora Paidós, Cidade do México, México 1937
Freud, Sigmund: Obras completas. Biblioteca Nueva Madrid, Espanha 1981
http://antonioaraujo_1.tripod.com/psico1/portugues/solidaopsi/solid.html
http://antonioaraujo_1.tripod.com/psico1/portugues/solidaodois/soli2.html