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PALESTRA – AUTOMUTILAÇÃO

AUTOLESÃO E CULTURA
Em várias culturas – primitivas, modernas e contemporâneas – o corpo é
utilizado para comunicação. Além dos adornos usados no corpo com o objetivo
de comunicar identidade, status, fé etc., também verificamos ao longo da
história as marcas corporais derivadas de lesões autoinfligidas. (Artigo
ARAUJO; CHATELARD; CARVALHO; VIANA, 2016.)
Quando abordamos a automutilação, estamos nos referindo a pessoas
que machucam o próprio corpo de formas diversas, por meio de cortes,
queimaduras, autoespancamento, entre outras. Segundo a definição dos
Descritores em Ciências da Saúde (Biblioteca Virtual em Saúde, 2015),
automutilação é o “ato de lesar o próprio corpo, até o ponto de cortar ou
destruir permanentemente um membro ou outra parte essencial do corpo”.
Também é possível encontrar uma relação com o termo “conduta auto-lesiva”
(correspondente ao termo em inglês self-injurious behavior) que, segundo o
DeCS, significa “ato de se machucar ou de fazer mal a si mesmo sem que haja
intenção de suicídio ou perversão sexual”. (Artigo ARAUJO; CHATELARD;
CARVALHO; VIANA, 2016.)
A depender da leitura que se faça, a automutilação é vista como um
sintoma de alguns transtornos mentais. (Artigo ARAUJO; CHATELARD;
CARVALHO; VIANA, 2016.)
Existem formas diferentes de realizar leituras sobre a automutilação, por
exemplo, como um sintoma de um transtorno mental ou como um transtorno
mental em si mesmo. Foi possível perceber que a psiquiatria aborda a
automutilação como um sintoma de alguns transtornos mentais, no entanto, na
última edição do DSM, esse ato foi incluído como uma categoria nosográfica
própria, enquanto um transtorno específico (Escoriação ou Skin Picking)
guarda algumas diferenças em relação a outras práticas de automutilação.
Para os que desejam um tratamento, este em geral é realizado por meio de
psicoterapia e medicamentos. (Artigo ARAUJO; CHATELARD; CARVALHO;
VIANA, 2016.)
Ao abordar as práticas de automutilação, encontramos esta classificada
como um sintoma dentro do campo médico, ou seja, algo que deve ser
eliminado para que o sujeito possa retornar a seu estado “normal” e saudável.
Ao tratarmos a automutilação como um sintoma no âmbito médico ou
psiquiátrico, corremos o risco de silenciar o que essas práticas autoagressivas
podem estar tentando comunicar. (Artigo ARAUJO; CHATELARD;
CARVALHO; VIANA, 2016.)
Na leitura psicanalítica, o sintoma é um fenômeno subjetivo que não
constitui necessariamente sinal de uma doença, mas a expressão de um
conflito inconsciente ou uma forma de lidar com ele. (Artigo ARAUJO;
CHATELARD; CARVALHO; VIANA, 2016.)

CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO ADOLESCENTE


O adolescente que diz em ato, o que ele quer dizer? (Live Instituto
ESPE)
O crescimento da automutilação em adolescentes vem das interações
nas redes sociais, mas também de como a sociedade lida com o adolescente,
os limites inexistentes, a posição dos pais... (Live Instituto ESPE)
Adolescer é uma escolha, uma escolha de separação. (Live Instituto
ESPE)
Adolescer é luto, investimento narcísico após a “perda” do objeto (pais) e
preparação para o investimento em novos objetos (amorosos). (Live Instituto
ESPE)
O adolescente anda com um “título” no bolso para se servir. (Live
Instituto ESPE)
A busca do “Quem sou eu?” (Live Instituto ESPE)
O processo de passagem da infância para a vida adulta é um lugar de
muito desamparo. (Live Instituto ESPE)
Luto dos pais ideais, coisas novas sendo experienciadas. (Live Instituto
ESPE)
O processo de subjetivação do adolescente, ao realizar esse
desprendimento dos pais, concretiza-se como uma forma de colocar-se como
sujeito singular, capaz de viver ao seu modo, utilizando recursos que lhes são
satisfatórios, para então conquistar a sua maneira de atuar no mundo
atravessado por condutas e valores que lhe condiz. Na adolescência há uma
tendência maior do agir do que a utilização de outros recursos como a palavra,
ou seja, no lugar de colocar em palavras aquilo que o angustia, o adolescente
transfere para o corpo, que é a forma de percebê-lo como sendo seu. Essa
tendência “é muitas vezes compreendida como um fenômeno que vem em
resposta à descoberta das percepções corporais no adolescente, segundo às
quais seu corpo se torna um estranho” (Alberti, 2009, p. 26). (Artigo LOPES;
TEIXEIRA, 2019.)
A autora salienta que na adolescência há uma tendência maior do agir
do que a utilização de outros recursos como a palavra, ou seja, no lugar de
colocar em palavras aquilo que o angustia, o adolescente transfere para o
corpo, qual forma de percebê-lo como sendo seu. Essa tendência “é muitas
vezes compreendida como um fenômeno que vem em resposta à descoberta
das percepções corporais no adolescente, segundo as quais seu corpo se
torna um estranho” (Alberti, 2009, p. 26). (Artigo LOPES; TEIXEIRA, 2019.)
O corpo é o interlocutor das angústias que o sujeito não consegue
colocar em palavras. (Artigo LOPES; TEIXEIRA, 2019.)
O corpo, muitas vezes, funciona como localização do mal-estar, pois é
nele que são habitadas as angústias, tristezas e medos, que poderiam ser
trabalhados através da fala; por isso é tantas vezes adoecido. (Artigo LOPES;
TEIXEIRA, 2019.)
Na adolescência, ocorrerá um trabalho de ressignificação da identidade,
possibilitando o acesso do jovem a outra etapa do ciclo vital. A sociedade
oferece, de acordo com a sua cultura, rituais tradicionais de passagem à idade
adulta que funcionam como mediações simbólicas entre o adolescente e o
meio, e que lhe conferirão o status de adulto. (Artigo AYUB; MACEDO, 2011.)
No processo de expansão de seus horizontes endogâmicos, um dos
cenários primeiros de experimentação do adolescente é a escola. Sabe-se que
aquilo que foi experienciado no cenário familiar com matizes de ausência ou de
excesso se reproduzirá nas relações escolares. Trata-se dos efeitos do vivido
no processo de transição daquilo que é da ordem do espaço endogâmico para
o campo exogâmico. Segundo Zimerman (2003), a escola constitui um espaço
no qual a existência de problemas é inevitável, o que, por si só, não se tornaria
algo preocupante. O autor considera que “problema, mesmo, consiste na
inexistência da criação de apropriados espaços na escola, onde as distintas
problemáticas possam ser ventiladas e debatidas” (p.17). (Artigo AYUB;
MACEDO, 2011.)

AUTOMUTILAÇÃO
A automutilação não está cifrada como um sintoma, como uma formação
inconsciente. (Live Instituto ESPE)
Quem se automutila quer se matar? A automutilação é uma forma muito
“capenga de fazer vazar, de produzir em ato algo que o faça existir. (Live
Instituto ESPE)
Uma sensação de invasão de angústia que, com o corte faz localizar no
corpo uma dor que estava espalhada. (Live Instituto ESPE)
Tentativa atrapalhada, mas que endereça a dor, tenta atar essa dor.
(Live Instituto ESPE)
Falta de gozo, falta de espaço. O cutting faz borda naquilo que
transborda. (Live Instituto ESPE)
É um simbólico capenga, mas ainda no território do ato. É endereçado a
um Outro, diferente de passagem ao ato que é o cair de um objeto. A
automutilação é uma mensagem pedindo uma interpretação. (Live Instituto
ESPE)
Cutting, roer unhas, arrancar pele e cabelos (automutilações). (Live
Instituto ESPE)
Amenizar sofrimento/angústia; expiar “pecado” ou punição; prazer
autoerótico ou masoquismo. (Live Instituto ESPE)
Nock (2010) afirma que, comumente, a automutilação inicia-se na
adolescência e é mais prevalente em adolescentes e adultos jovens, sobretudo
do gênero feminino, o que justifica os estudos terem como população-alvo
estes grupos. Além disso, destaca que é mais frequente ocorrer em situação
privada com a utilização de um objeto afiado para cortar a pele ou pontiagudo
para desenhar ou escrever sobre a superfície do corpo e que há variação tanto
em relação à frequência quanto à severidade da automutilação entre as
pessoas estudadas. (Artigo LOPES; TEIXEIRA, 2019.)
Nos adolescentes que praticam a automutilação existe algo que convoca
o olhar do Outro para o seu corte, apesar da tentativa de escondê-los, por
exemplo, com pulseiras ou faixas. Faz-se um convite ao olhar para saber o que
está por trás de tais adereços. Nesse sentido, há sempre algo que escapa; é
um esconder, mas que não esconde totalmente. Le Breton (2007) destacou
que as marcas corporais implicam em uma vontade de atrair o olhar, de
fabricar uma estética de presença; é muitas vezes vivida como reapropriação
do corpo e do mundo que em algum momento da vida se deixou escapar.
(Artigo LOPES; TEIXEIRA, 2019.)
Ao nos perguntarmos os motivos que levam uma adolescente a praticar
automutilação, iremos perceber que existem os mais diversos: relação
conflituosa com os pais, término de namoro, não está indo bem na escola,
prazer em sentir a dor etc. No entanto, é preciso entender que a automutilação
não pode ser vista somente do ponto de vista de algo que seja ruim e emitir um
juízo de valor para com as pessoas que a praticam. Na maioria das vezes, as
adolescentes que fazem a prática se valem dela como uma tentativa de
estabilização, de algo que escapa à sua capacidade de conseguir lidar com os
conflitos. É bem verdade que devemos ficar alertas para esse tipo de
comportamento, pois, ao mesmo tempo em que a automutilação é uma forma
de estabilização, pode ser que pela repetição o sujeito se fixe na pulsão de
morte e ocorra o suicídio consumado. (Artigo LOPES; TEIXEIRA, 2019.)
Esses trabalhos, ao analisarem o conteúdo das manifestações em
espaços virtuais, encontraram correlação dos hábitos de automutilação com as
frustrações relativas ao universo das descobertas dos adolescentes,
envolvendo uso de drogas, intrigas escolares, isolamento social, crises
familiares e as primeiras decepções amorosas. (Artigo CEDARO;
NASCIMENTO, 2013.)
Favazza (1987) também corrobora essa observação, completando que o
suicídio é uma saída em direção à morte, um ato de fuga, enquanto a
automutilação é uma tentativa de reentrada em um estado de normalidade,
como num ato mórbido de regeneração. Uma pessoa que tenta suicídio
procura acabar com todos os sentimentos, mas uma pessoa que se mutila
procura se sentir melhor. Os sujeitos que se mutilam fariam isso por não
saberem lidar com emoções fortes, pressões externas e problemas de
relacionamento. Essas ações seriam uma maneira de administrarem
sentimentos pela via da atuação, em vez de expressá-las verbalmente, pois o
outro a ser destruído, pelo ato agressivo, estaria internalizado. Assim, lesionar-
se seria uma forma de amenizar a angústia, gerando simultaneamente dor e
prazer. (Artigo CEDARO; NASCIMENTO, 2013.)
Podemos deduzir que o gozo nas automutilações é demandado pela
incapacidade de se escapar do Outro absoluto ou de um Supereu
excessivamente severo, estando o sujeito imerso num quadro melancólico, no
qual amor, ódio e culpa se misturam em atos e pensamentos simultâneos de
dor e de prazer. Logo, o prazer na dor seria uma concentração de
investimentos narcísicos operando a perda de um objeto perdido e a saudade
de um lugar e um tempo vivenciados apenas no imaginário. (Artigo CEDARO;
NASCIMENTO, 2013.)
Para Favazza (1996), a automutilação estereotipada, refere-se à prática
de comportamentos repetitivos, como bater a cabeça várias vezes ou o ato de
se arranhar. A automutilação superficial ou moderada pode ser definida a partir
da prática de machucar a pele de maneira leve ou profunda, normalmente
utilizando objetos cortantes e pontiagudos. Essa forma de automutilação pode
ser dividida em três partes: compulsiva, episódica e repetitiva. A diferença entre
elas irá depender do sentido e a frequência destes atos na vida do sujeito.
(Artigo NASCIMENTO; NOBRE, 2021.)
Favazza (1996) também observou que muitas das pessoas que praticam
automutilação normalmente não sentem dor ou arrependimentos após o ato,
pelo contrário, relatam, geralmente, uma sensação de alívio. Ainda sobre o
fenômeno da automutilação, é importante destacar a influência da mídia nessa
prática, que está ligada com a forma como a internet, redes sociais e blogs a
disseminam. É cada vez mais comum encontrar relatos de jovens
automutiladores nas redes sociais, principalmente em postagens voltadas para
a prática automutilatória, contendo imagens dos cortes e frases reflexivas sobre
este ato, que passa a se tornar um fenômeno exibicionista e não mais secreto,
já que na internet os jovens se vinculam com outros adolescentes que se
automutilam da mesma maneira que eles, promovendo assim um sentimento
de acolhimento. (Artigo NASCIMENTO; NOBRE, 2021.)
O fenômeno da automutilação na adolescência, conforme evidenciado
no decorrer deste trabalho, pode estar relacionado com vários fatores, como
por exemplo a depressão, quadros obsessivos, ansiedade, relacionamentos
familiares e outros. (Artigo NASCIMENTO; NOBRE, 2021.)
Os cortes autoinflingidos envolvem certa relação entre o corpo próprio e
a expressão do sofrimento, e não a intenção de se matar. A autoagressividade
que estes cortes envolvem circunscreve-se a uma esfera íntima e facilmente
acobertada pelo adolescente (Gauthier, 2007), pois são quase sempre
realizados em uma parte do corpo menos monitorada pelos pais ou pela
família. Geralmente o adolescente não demonstra de forma manifesta
inquietação ou angústia com o fato de se automutilar, sendo o alarme acionado
quando um adulto descobre e se preocupa com o fato. Outro aspecto relevante
nestes relatos é o fato de o adolescente não fazer qualquer referência à dor
que sente na hora de se cortar. Ao contrário, referem-se, na sua maioria, ao
caráter apaziguante de tal ato. Estes atos são realizados pelos jovens em
momentos de uma insuportável tensão interna, com a qual não sabem como
lidar. Trata-se, portanto, de uma dor que não encontra expressão pela via das
palavras. (Artigo FORTES; MACEDO, 2017.)
Diante desta impossibilidade de colocar em palavras a própria dor, o ato
automutilatório se apresenta como um recurso apaziguante. (Artigo FORTES;
MACEDO, 2017.)
Observamos, nas narrativas citadas acima, a referência a incidências de
acontecimentos penosos antecedendo o início dos cortes: um irmão menor que
morreu, um namoro que terminou – acontecimentos que produziram uma dor
psíquica insuportável, com a qual o jovem não conseguiu lidar, associada ao
forte sentimento de solidão por não se ter com quem partilhar esta dor. Ante
tamanha dor, a mutilação surge, como já dito, como um recurso –um recurso
desesperado, certamente– para arrefecer a angústia. Uma adolescente
escreve no blog: “Quando eu termino de me cortar, a angústia depois de um
tempo volta, mas vale a pena, pelo sentimento de alívio, nem que seja somente
por 5 minutos” (Monster, 2012). (Artigo FORTES; MACEDO, 2017.)
Busca-se assim, paradoxalmente, apaziguar a dor psíquica insuportável
por meio do ato de infligir-se uma dor física. (Artigo FORTES; MACEDO,
2017.)
O sofrimento psíquico deve ser endereçado ao outro, o qual oferecerá
um espaço de ressonância no qual o sujeito pode legitimar a sua dor. Se a dor
não ressoa em ninguém, ela se mantém no próprio sujeito e é redirecionada
para o corpo próprio. (Artigo FORTES; MACEDO, 2017.)
A ideia de Pontalis (2005) de que a dor mantém proximidade com o
silêncio é corroborada por Gauthier (2007), que denomina a automutilação
como uma dor silenciosa. Sobre este modo de expressão que não se apoia nas
palavras, Douville (2004) salienta que é raro quaisquer associações verbais
que possam trazer um significado ao ato automutilatório. O que se observa
frequentemente são racionalizações, movimentos de negação e de denegação
que podem ser caracterizados como manifestações arcaicas de defesa, formas
psíquicas de resposta do sujeito a uma intrusão do real. Por isso mesmo, em
seu trabalho clínico com crianças e adolescentes que se automutilam, o autor
constata que pouco ou nenhum efeito terá a técnica da interpretação, já que
esta tem como condição efetuar-se a partir de um dizer ou de uma enunciação,
e não sobre um comportamento. Se não estamos diante do dizer e da
enunciação, qual seria o estatuto nosográfico da automutilação? Douville
(2004) propõe pensá-la –em consonância com Lagache (1949) em “De la
psychanalyse à l’analyse de la conduite”– como sendo da ordem da conduta,
isto é, de comportamentos que revelam algo da “pessoa”, cuja consistência tem
como base “assegurar-se de que habita um corpo, que será ao mesmo tempo
lugar de seus signos e passaporte de seu ser” (Douville, 2004, p.8). (Artigo
FORTES; MACEDO, 2017.)
O corte vem, assim, segundo o autor como tentativa de conferir uma
restauração brutal das fronteiras perdidas do corpo, como forma de diminuir o
sentimento de vertigem e promover a sensação de vida. A concepção de
vertigem alude a esta impossibilidade de domínio sobre as intensidades
experimentadas, sendo o ato automutilatório tentativa de alguma ligação do
desespero experimentado. Além disso, podemos pensar que se trata, também,
de esboçar uma tentativa de resposta ali onde há o desencontro com o outro,
ali onde o chamado ao outro não encontra uma resposta (Hachet, 2015).
(Artigo FORTES; MACEDO, 2017.)

MANEJO NA CLÍNICA E NA ESCOLA


Na singularidade de cada caso vamos entender o quê responde a isso.
(Live Instituto ESPE)
Na clínica, é com palavras que vamos pavimentando essa travessia.
(Live Instituto ESPE)
Escuta-dor (psi/professor). (Live Instituto ESPE)
Assumir a perspectiva de ressaltar a singularidade do sujeito-
adolescente como diretriz do trabalho do psicólogo escolar permite que a
escola seja um lugar possível para a subjetivação. (Artigo LOPES; TEIXEIRA,
2019.)
Considerando as automutilações, Alberti (2009) entende que os
adolescentes utilizam de mutilações para expressar aquilo que não pode ser
dito através de palavras, sendo uma forma de denúncia do próprio sofrimento.
O corpo, nesta perspectiva, funciona como meio de comunicar aquilo que lhes
sufocam. Utilizando-se das palavras, ou seja, quando o significante representa
algo para outro significante através de uma cadeia, o simbólico reveste e é
possível, então, que o adolescente possa se direcionar para outros processos
construtivos que não seja o ato de se automutilar. Apesar de entendermos ser
o ato de cortar-se uma forma também de estabilização, o sujeito, poderia
encontrar através da sublimação, outras formas de expressões daquilo que lhe
atormenta. (Artigo LOPES; TEIXEIRA, 2019.)
O lugar da escuta analítica, nas instituições ou âmbito coletivo,
perpassa, sobretudo, por um mal-estar que demanda do analista uma
intervenção. Desse modo, o analista é convocado a ocupar dois lugares: o
lugar do fazer-dizer, em que o analista facilitará a circulação discursiva e a
função do escriba, onde por situações pontuais o analista realiza alguma
comunicação àqueles que solicitaram a intervenção (Stazzone, 1997). (Artigo
LOPES; TEIXEIRA, 2019.)
O sintoma da automutilação na escola, pode gerar consequências
graves para o sujeito e instituição, no que diz respeito a um certo tipo de
paralisação nas produções, dificuldade de socialização e inadequação ao
espaço escolar. Vemos que as instituições, que abrem espaço para essa
escuta consegue positivamente um diálogo mais aberto com os alunos,
considerando não só os aspectos cognitivos, mas, sobretudo as questões
emocionais que influenciam diretamente na aprendizagem. Na escola, os
sintomas da adolescência aparecem disfarçados pelo nome de ansiedade,
transtorno borderline, dislexia, depressão; mas, na verdade, o que
encontramos com mais frequência são sujeitos que expressam seu mal-estar
através do corpo, por isso os casos tão comuns de automutilação, sobretudo
em meninas. Os professores, na maioria das vezes, são convocados a
responderem essas demandas ditas psicológicas e, de alguma forma a lidar
com esses sintomas, no entanto, eles se veem paralisados e sem saber como
agir. Há certa incoerência porque, de um lado, os professores são cobrados
pela direção a elaborar práticas que incluam (aprendizagem significativa,
considerar o erro etc.) e, de outro, precisam concluir conteúdos extensos ao
término de um ano. Esse é um dos exemplos de incômodo do professor ao ter
que lidar com esses impasses. (Artigo LOPES; TEIXEIRA, 2019.)
Acreditamos que através da possibilidade da escuta, as adolescentes
possam se direcionar para um movimento criativo de conseguir, por exemplo,
verbalizar as angústias e mal-estar através das palavras. (Artigo LOPES;
TEIXEIRA, 2019.)
Acreditamos, que a escola pode sim, fazer resistência no modo de atuar,
utilizando-se, por exemplo, de um viés clínico na instituição escolar e,
compreender o sujeito para além de um “fracasso”. (Artigo LOPES; TEIXEIRA,
2019.)
A questão que se coloca neste artigo é a necessidade de espaços de
fala, em que os adolescentes possam verbalizar suas queixas, mas também se
perceber no coletivo e construir formas de lidar com o sofrimento. É evidente
como nossos adolescentes estão sensíveis diante de conflitos e como os
adultos podem trabalhar junto com eles, não para camuflarem esse sofrimento,
mas para criarem juntos maneiras saudáveis de lidar com os conflitos que
estejam vivenciando. (Artigo SANTOS; PULINO; RIBEIRO, 2021.)
Entende-se que a comunicação entre os adolescentes pode ser mais
efetiva entre os pares, e a mediação realizada por um profissional para
promover e potencializar essas relações. (Artigo SANTOS; PULINO;
RIBEIRO, 2021.)
O entendimento da educação para a realidade, segundo Freud
(1996/1927) consiste em ofertar uma educação em que possam ser discutidas
as ambivalências do ser humano, que não se camufle o sofrimento, mas
permita aos estudantes uma posição de “tomar consciência da necessidade
social” (p. 115). (Artigo SANTOS; PULINO; RIBEIRO, 2021.)
Este fenômeno pode ser cada vez mais visualizado nas escolas e nos
consultórios, já que cada vez mais os adolescentes se encontram com
dificuldades para lidar com seus sofrimentos psíquicos decorrentes das
transformações físicas e psicossociais da adolescência. Porém, é necessário
colocar que ser adolescente não significa ser um possível automutilador,
porém, é durante este período que os jovens iniciam suas buscas por
identificações, além de iniciarem o processo de construção de sua própria
identidade. Com isso, é na adolescência que passamos a ser influenciados em
todos os âmbitos de nossas vidas, seja por grupos sociais, familiares ou pelas
mídias digitais, como a internet e as redes sociais, como já foram discutidas
anteriormente nesta pesquisa. A partir da realização desta pesquisa é possível
considerar que existe uma necessidade geral em promover informações sobre
a automutilação, sendo que devido à falta de conhecimento da sociedade sobre
este comportamento, o sujeito que comete essa prática acaba por ser visto
socialmente como alguém que deseja chamar atenção ou manipular as
pessoas. Este olhar equivocado pode vir a gerar uma dificuldade no
relacionamento entre pais e seus filhos praticantes de automutilação, pelo fato
dos primeiros não conseguirem compreender o sofrimento dos jovens, negando
e naturalizando os problemas deles. É de extrema importância que a
automutilação seja abordada nos ambientes familiares e escolares, pois como
sabemos, é uma questão muito vivenciada entre os adolescentes dos tempos
atuais. A partir da promoção de uma maior informação sobre este assunto, as
equipes escolares e as famílias podem pensar em novas estratégias de
prevenção. O psicólogo possui um papel extremamente importante na atuação
com jovens que se automutilam, pois é este profissional que irá investigar e
acompanhar este quadro, promovendo assim um espaço para que o sujeito,
junto com o profissional, possa construir suas associações e interpretações em
relação ao ato de se automutilar, buscando assim compreender a angústia
profunda apresentada. Além disso, é fundamental que o psicólogo atue para
fortalecer seu paciente, promovendo assim um ambiente onde ele se sinta
acolhido, e possa falar de seu sofrimento de uma maneira livre, sem temer
julgamentos ou acusações. Por fim, esta pesquisa promoveu o conhecimento
sobre a necessidade de um acompanhamento psicológico para os pais de
sujeitos praticantes de automutilação, que, na maioria dos casos, relutam-se a
aceitar os diagnósticos de seus filhos, mostrando-se irredutíveis em
compreender os motivos que levam os jovens a se automutilarem. Este
atendimento parental se torna também muito necessário devido ao fato,
conforme apresentado anteriormente nesta pesquisa, dos pais serem as
primeiras figuras de identificação de seus filhos, promovendo assim uma
grande influência nas decisões e na forma como eles enxergam a si mesmos.
Com isso, a família pode auxiliar o jovem a buscar uma ajuda especializada
logo após a descoberta do quadro, para que este problema possa ser tratado
de uma maneira precoce e eficiente, antes que chegue a um nível extremo.
(Artigo NASCIMENTO; NOBRE, 2021.)
Acreditamos que com ou sem medicação, o que pode realmente ajudar
um automutilador é autorizá-lo a falar, expressar-se. A “cura pela fala” de Freud
nos aponta para a via que parece mais apropriada para tratamento de
automutilação, quando este é necessário ou desejado pelo sujeito. (Artigo
ARAUJO; CHATELARD; CARVALHO; VIANA, 2016.)

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