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A expressão da sexualidade das pessoas com autismo

Marina da Silveira Rodrigues Almeida 2008


inclusao.brasil@iron.com.br
Consultora em Educação Inclusiva. Psicóloga e Pedagoga Especialista. Instituto Inclusão Brasil

“O homem é a única criatura que se recusa a ser o que ela é”.


(Albert Camus)

A pessoa com Autismo tem necessidade de expressar seus sentimentos de modo próprio e
único, como qualquer pessoa, por isso neste artigo vamos conversar um pouco sobre os mitos e
realidades em torno da sexualidade destas pessoas.
A repressão da sexualidade é usualmente encontrada e entendida nestes grupos, como
conseqüência de um desequilíbrio interno, dos afetos, dos comportamentos, da maneira de se
relacionar no mundo, diminuindo assim as possibilidades de se tornarem seres psiquicamente
saudáveis.
Observamos nos casos em que a sexualidade é bem encaminhada na vida destas pessoas:
melhora o seu desenvolvimento afetivo, transcurso da puberdade/adolescência/vida adulta mais
tranqüila e feliz, facilita a capacidade de se relacionar, melhora a auto-estima, permite a
construção da identidade adulta e a adequação à sociedade.
O tema sexualidade em nossa cultura vem sempre acompanhado de preconceitos e
discriminações, e talvez sempre permaneça assim, pois pertence a ordem dos tabus, das
questões inerentes a origem do ser humano.
Notamos que a sobrecarga de valores morais e preconceitos aumentam quando o tema passa a
ser sexualidade da pessoa autista, geram polêmica quanto às diferentes formas de abordá-lo,
isto acontece na sociedade, na família, com os pais e na escola.
Destacamos que pouco se tem escrito na literatura, há poucos artigos, livros e referências sobre
a pessoa autista e sua sexualidade, visto a complexidade desta discussão a dificuldades em vê-
los como pessoas como uma identidade sexual, humana e com desejos; em contrapartida os
materiais publicados referente a pessoa com autismo, via de regra encontramos as orientações
baseadas nas abordagens de extinção do comportamento sexual, através de métodos e técnicas
aversivas. Pouco se tem escrito numa abordagem humanística sobre o protagonismo juvenil.
A palavra Autismo vem do grego “autos”, que significa si mesmo. Refere-se a alguém que está
retraído em si mesmo, porém isto se aplica a crianças autistas de pouca idade. A medida que
elas crescem, podem tornarem-se mais sociáveis ou não. Junto a esse retraimento, estão os
problemas e condutas específicas de cada criança em seu intento de encontrar ou criar uma
ordem no mundo caótico que ela não consegue entender.
“Autismo é um transtorno de desenvolvimento. Não pode ser definida simplesmente
como uma forma de deficiência intelectual embora muitos quadros de autismo
apresentem QI abaixo da média. A palavra autismo atualmente pode ser associada a
diversas síndromes. Os sintomas variam amplamente, o que explica por que
atualmente refere-se ao autismo como um espectro de transtornos; o autismo
manifesta-se de diferentes formas, variando do mais alto ao mais leve
comprometimento, e dentro desse espectro o transtorno, que pode ser diagnosticado
como autismo, pode também receber diversos outros nomes, concomitantemente. Os
atuais critérios de diagnóstico do autismo estão formalizados na norma DSM-IV
(Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria). Um
esquema de diagnóstico parecido é encontrado na CID10 (Classificação Internacional
de Doenças), publicado pela Organização Mundial de Saúde. A síndrome autista foi
definida como "isolamentos e recusa profunda de contato com as pessoas, desejo
obsessivo de manter a mesma uniformidade, relação afetuosa e habilidosa com
objetos, fisionomia inteligente e mutismo ou, pelo menos, um tipo de linguagem que
não parece destinada à comunicação interpessoal", por Leo Kanner, psiquiatra
americano, em 1943. Segundo a ASA (Autism Society of America), autismo é um
distúrbio do desenvolvimento permanente e severamente incapacitante. Normalmente
aparece durante os três primeiros anos de vida. No momento, entretanto, não há
exames de sangue ou de cromossomos para o autismo: o diagnóstico é
comportamental e feito com base nos três eixos: interação social, comunicação e
imaginação, e na presença de um repertório restrito de interesses. (American
Psychiatric Association, 1987).
Por mais que educadores, profissionais, pais e demais pessoas envolvidas lembrem que a
sexualidade é uma função natural, existem em todos os indivíduos toda dificuldade em tratar do
assunto de maneira prática, porque teoria esta vastamente publicada explicada, nomeada, por
diversos autores de maneira pertinente e fundamentada.
A questão então não é mais teorizar, explicar, como uma regrinha de jogo, ou pertinente ao
campo científico, da psiquiatria, da psicanálise, da abordagem cognitiva comportamentalista, da
psicologia do desenvolvimento, etc.
Pensar e falar sobre o tema sexualidade envolve nossa angústia, reporta-nos a nossas
instâncias do que acreditados ser sexo, na nossa vida, na relação com o outro, sobre nossos
desejos, fantasias, repressões, mitos e realidades. Propomos estas questões para pensar: Como
lidamos com sexo? O que fazemos? Como nos relacionamos afetivamente? Criativamente? Com
as demais pessoas? .
A partir do momento que pudermos pensar em sexualidade relacionada a afetos,
relacionamentos afetivos e não mais puramente da esfera dos genitais, conseguiremos intervir
criativamente nas situações, sem tantos sobressaltos, medos, reservas, preconceitos,
autoritarismos, castigos.
Nos últimas décadas a melhora dos cuidados de saúde concomitante aos avanços científicos e
da medicina, como por exemplo, às intervenções precoces na gravidez, cuidados pré-natais,
pós-parto, vacinas e a qualidade de vida social, as pessoas com deficiência ganharam
longevidade, sua expectativa de vida melhorou qualitativamente, estão aí os adolescentes, os
adultos, e muitos com certeza caminharão para a senilidade.
Falar sobre sexo não é dar uma aula de Biologia da Reprodução Humana. Por isso a importância
do trabalho em conjunto, dos professores unirem-se para estudar, discutir seus casos, discutir
com os pais e a família.
Todos possuem um nível de compreensão, mesmo apresentando resistências. A resistência
muitas vezes é de cunho religioso ou por falta de informações adequadas.
A maior parte dos indivíduos portadores de TID (transtorno invasivos do
desenvolvimento) apresentam um desenvolvimento biológico normal da sexualidade.
Entretanto, no desenvolvimento psicológico ocorre uma série de alterações que se
manifestam na conduta e podem variar de intensidade e freqüência, dependendo do
grau de distúrbio e do nível intelectual. Em alguns deles predomina a necessidade de
satisfação imediata dos próprios impulsos. Segundo Haracopos e Pederson (1989),
em outros casos, a capacidade de conter os impulsos sexuais e agressivos é
rudimentar, havendo pouca ou nenhuma autocrítica. Pode ocorrer também uma
distorção da percepção da realidade, bem como capacidade limitada ou ausente de
fantasiar ou imaginar, assim como ansiedade ligada ao sentimento de excitação
sexual, associações bizarras e pensamento concreto. Haracopos e Pederson (1989)
Limite de quem? Não entendemos que eles não tenham limites, talvez não saibam parar e
quando podem ou não podem pegar em seus genitais. A questão da masturbação está no limite
de onde pode, quando, intensidade e frequência. Eles estavam obtendo prazer, se entretendo
com seus genitais, talvez até insistiu no comportamento por falta de algo melhor na realidade
para investir, se ligar... Então esse é nosso gancho, é bom se ligar com gente, este é o nosso
papel!
Não vimos ninguém se masturbando ou se exibindo com cara de coitadinho, aliás, estavam
curtindo toda a situação, salvo exceções de alguns casos podem se machucar numa tentativa
pouco organizada de tentarem prazer de maneira mais adequada.
Poderíamos ouvir no silêncio das falas destas pessoas como, algo assim:
“Tudo bem gosto de vocês, gosto da minha casa, da escola, então vou fazer o que me
mandam,... Acho que isto que sinto é muito ruim, devo me submeter ao que vocês querem.
Então vou tomar o remédio e ficarei quietinho. Não aborrecerei mais ninguém com minhas
angustias de não saber também o que sinto, o que faço.
“Tudo isso está tão chato e desinteressante, meu corpo me dá um sensação boa quando
eu mexo nele, é bom ficar assim desligado”.
“Achei que esta vontade louca de me masturbar fosse bom, estava aqui sozinho... estava
muito bom”.
“Descobri que não posso ter prazer com meu corpo na escola! Por que será? Vou
experimentar em outros lugares? Aonde será que pode?”.
Os mais valentes ou agressivos com a vida respondem com a subversão, não querem tomar a
medicação, ficam hostis, conseguem expressar através de seus desmandos, desobediências
que não é disto que precisam, não se submetem, podem dizer algo assim:
“Preciso continuar a fazer isso(...) estou falando do meu jeito, vocês é que não entendem,
não consigo saber o que querem e o que sentem sobre isso que faço”...
“Estou crescendo e não sei o que fazer com este meu corpo novo, com estas mudanças,
com meu crescimento, com estes desejos...”
“Fico muito atrapalhado com as mudanças em meu corpo, desejos, excitações, meu corpo
modificou-se, eu não consigo compreender, fico muito desorganizado, com medo,
assustado, ao mesmo tempo tudo é muito bom, é uma confusão na minha cabeça”.
“Não entendo direito porque me batem me ameaçam, ficam bravo comigo, tem algo que
faço que não é para fazer, por que será?Por que as pessoas ficam assim quando pego no
meu corpo?””
Para a família, a segregação do filho(a) com deficiência é uma forma de proteção para o próprio
núcleo familiar que também tenta se poupar e evitando a exposição do filho(a). No entanto, isto
acaba por dificultar as noções de regras sociais e de bom convívio, fora de seu ambiente escolar
e familiar.
Para piorar, a pessoa com deficiência raramente tem privacidade, o que dificulta o entendimento
do que é privado ou público: o quarto às vezes é mantido as portas abertas ou sendo proibido
fechar a porta ou apagar a luz. Muitas vezes os pais, irmãos não batem na porta do quarto,
invadem a dentro. Os banhos são supervisionados, impedem que possam ter contato com seu
corpo, que possam notar suas modificações físicas, sobra pouco tempo para que eles possam
desenvolver sentido de privacidade, de liberdade, de respeito, de contato corpóreo.
Além disso, a maioria das pessoas acredita que o deficiente não tem auto-percepção, precisam
ser controlados, repreendidos, ameaçados, chantageados. Tanto a família como muitos
profissionais tendem a impor condutas de comportamento, passando por cima dos seus
sentimentos, não consideram que as pessoas com deficiência intelectual e autismo podem ter
limitações intelectuais mas não têm limitações de seus sentimentos.
Vejamos as diferenças entre às singularidades das pessoas com Autistas.
A pessoa com Autismo vai precisar de apoios para compreender o mundo a sua volta de forma a
desenvolverem sua identidade como jovem e futuro adulto libertando-se do modelo infantilizado,
de maneira concreta, firme, vivenciando a experiência através de teatros, escrevendo,
desenhando, expressando-se artisticamente.
Para podermos manejar as expressões sexuais inadequadas, precisamos observar alguns
aspectos, tais como: quando ocorrem, em que contexto, em que lugar, qual a freqüência, e
principalmente tentar descobrir qual o estímulo (interno ou ambiental ) desencadeante da
conduta em questão. A partir desses dados, estratégias podem ser cridas para tentar
compreender, traduzir em linguagem verbal (escrita, gestual, simbólica etc.) evitar, modificar e
adequar a expressão ou comportamento sexual.
A primeira das três categorias principais do TID é o Distúrbio da Interação Social. É
evidente que dentro desta categoria encontramos numerosos sintomas, tais como:
dificuldade em aceitar mudanças na rotina diária, muitos apresentam resistência ao
contato físico, embora alguns possam tolerar algum contato dependendo do momento,
de quem o toca e da intensidade e duração. Em outros casos, o individuo quer
abraçar ou agarrar uma ou várias pessoas, de maneira invasiva e fora de contexto,
geralmente sem percepção do sentimento alheio. A agressividade (chutes, mordidas,
socos, tapas, beliscões, puxar os cabelos, cuspir, etc.) também pode ser um distúrbio
social importante, que muitas vezes é causada por uma pequena frustração ligada a
alguma atividade da vida cotidiana e, outras vezes ocorre sem uma causa aparente.
Pode-se dizer que a impossibilidade de estabelecer empatia ou perceber os
sentimentos alheios são alguns dos pontos marcantes da personalidade de muitos
desses indivíduos. Em outras palavras, eles não conseguem se colocar no lugar de
outra pessoa. A Habilidade de Imaginar o que se passa na mente do outro não faz
parte do repertório social desses indivíduos (Frith,1989). Esta inabilidade afeta
diretamente tanto a capacidade de perceberem os sentimentos, necessidades e
desejos alheios, como também os seus próprios. De certa maneira isso afetará
significativamente a possibilidade de compreenderem e respeitarem uma série de
regras sociais. A Segunda categoria:Distúrbios da Comunicação. Todos sabemos
que se não houvesse comunicação entre as pessoas não haveria possibilidade de
organização social. Pois bem, praticamente todos os indivíduos portadores de TID
apresentam distúrbios da comunicação, que podem variar desde um isolamento e
mutismo absolutos até um desenvolvimento da comunicação muito próximo do
normal, sendo que este último é uma ocorrência rara. Alguns indivíduos não se
comunicam nem verbalmente nem através de gestos, parecem estar completamente
indiferentes ao que acontece ao seu redor. Outros, apesar do mutismo, acabam
apontando para as coisas que desejam, estabelecendo assim algum tipo de
comunicação intencional (...). A terceira categoria:Estereotipias e Rituais. Estes
comportamentos estereotipados e ritualizados podem ser: girar objetos, abanar as
mãos, mexer os dedos das mãos ou o corpo de forma rítmica e estranha, andar na
ponta dos pés, apego não apropriado a objetos, restrição da variedade de alimentos
ingeridos. Também podem estar presentes risos imotivados ou descontextualizados,
agressividade e destrutividade. De qualquer forma, essas condutas podem ser
freqüentes ou intermitentes. (Transtorno Invasivos do Desenvolvimento- 3.milênio –
Dr. Walter de Camargos Jr., 2005)
As pessoas com Autismo precisam ser ajudadas na compreensão da interação social,
adequando-se melhor as relações sociais, através de vivencias com figuras, pranchas com
imagens, de maneira a ajudarem a construir sua identidade como jovem e futuro adulto sexual.
Estas pessoas não são vistas como tal. A interação da comunicação precisa ser encorajada ou
devermos abrir formas de comunicação alternativas para que possam expressar seus
sentimentos e suas fantasias envolvendo seu corpo, suas experiências sensórias, perceptivas. O
uso da criatividade precisa ser investido, num campo, artístico, musical, plástico, a fim de que
possam expressar sua subjetividade concomitante as transformações da sua sexualidade.
Através destes contatos o confronto do ser adolescente encontrou vazão para expressão, e
precisam ter o direito de vivenciarem, experimentarem e conhecerem as transformações físicas,
afetivas e sociais que são pertinentes deste processo de juventude. E nós temos o dever de
ajudá-los a desenvolver estas transformações de maneira adequada.
Ter que enfrentar a sexualidade dos filhos na época da adolescência já é um tabu, gerador de
conflitos, impasses, medos para a maioria dos pais. Agora imaginem o quanto é incrementado
de fantasias e preconceitos quando se trata das preocupações de um filho com deficiência.
Os pais por medo de expor o adolescente a riscos físicos e emocionais optam eventualmente por
negar, reprimir ou infantilizar a existência do crescimento do filho ou filha na puberdade, lutam
para manter seus filhos assexuados. É uma luta perdida, pois não há como parar o crescimento
de alguém, o que encontramos é que escapa por outra via, aparecendo a regressão de aptidões
que a pessoa havia adquirido, comportamentos auto ou hetero-agressivos, isolamento, tristeza,
adoecimento psíquico, sofrimento.
Nas instituições escolares encontramos os profissionais, também se defendendo, acabam por
criarem estigmas, rótulos como se as pessoas autistas fossem ora hiper-sexualizados ora
assexuados.
No entanto, muitas instituições de ensino já começam a aceitar/pensar a importância de tal
processo na vida do aluno.
O tema sexualidade vem sendo tratado com uma certa freqüência nas escolas, em contraste
com a mentalidade do final do século passado, quando havia a visão do sexo como algo sujo e
imoral (exceto quando para a procriação).
Os pais e professores da área de saúde e educação precisam lembrar que a vivência sexual das
pessoas com deficiência favorece o desenvolvimento afetivo, a capacidade de estabelecer
contatos interpessoais, fortalecendo a auto-estima o bem-estar, o amor-próprio, e a adequação à
comunidade.
Para que os comportamentos e manifestações sexuais não se tornem problemáticos, existe a
necessidade de investimentos na educação sexual; sempre com a participação dos pais e
familiares, pois é através destes que há o desenvolvimento psico-emocional e a transmissão de
valores para a aquisição de limites.
Os valores, princípios e regras sociais existem porque têm finalidade, nos ajudam a nos proteger
e aos outros de situações de abusos e violências, situações constrangedoras e não éticas. Toda
sociedade precisa para se organizar e se manter, de algum tipo de ordenação, de regras que
possam colocar ordem na desordem. Isto implica em restringir, selecionar, e estabelecer
critérios, além de dar valor e hierarquizar. Portanto, sempre encontraremos aquilo que acaba
sendo considerado mais ou menos doentio, errado, impuro e anormal, dependendo do período
histórico e do grupo social em que se está numa dada sociedade. O importante é pensar, refletir,
questionar, conversar, indignar-se, para não incorporarmos passivamente tudo o que nos é
apresentado! Isto implica em aprender a impor respeito aos nossos valores, mas saber respeitar
os valores dos outros também.
Na escola a educação sexual, deve apresentar-se com disponibilidade do profissional, amor e
ciência. Não adianta tratar o assunto como disciplina de conteúdo ou como algo que irá conter a
sexualidade.
A orientação sexual para pessoas com deficiência, é um trabalho organizado com diversos
objetivos: como por exemplo à prevenção de gravidez indesejada, transmissão de informações
sobre sexualidade, o aumento da compreensão sobre o próprio corpo, a orientação sobre os
códigos do comportamento sexual, a melhora do relacionamento com sua família e os
profissionais, favorecendo o desenvolvimento da identidade.
O educador sexual deve guiar-se por atitudes éticas, não esquecendo de estar atento a suas
concepções pessoais em face da sexualidade, verificando com precisão aquilo que a pessoa
com deficiência intelectual ou autismo quer saber, interpretando aquilo os acontecimentos
afetivos sobre sua perspectiva e não a pessoal, lidando com comportamentos inadequados
através da colocação de limites claros e objetivos, através de acordos criados pelo profissional,
aluno e ou grupo.
A higiene pessoal e os cuidados íntimos devem ser enfatizados, é uma forma de desenvolver a
auto-imagem e auto-estima, desenvolvendo a capacidade de adequação social e o sentimento
de posse do corpo.
Na adolescência os meninos com deficiência intelectual ou autismo precisam ser informados
sobre a ejaculação e a polução noturna, orientando sobre os cuidados e limpeza. As meninas
necessitam de orientação sobre como lidar com a menstruação e ambos precisam ser
informados sobre as mudanças que estão ocorrendo com seus corpos.
Nos casos de impossibilidade funcional devido a problemas motores ou em razão à severidade
do comprometimento cognitivo e ou afetivo os pais devem assumir tais cuidados, ou pedir que ao
jovem os realize com supervisão constante.
A educação sexual deve ser incluída na educação geral, integradas à estimulação sensório-
motora, intelectual e das capacidades adaptativas ao meio social, de modo natural. Os recursos
pedagógicos poderão ser lúdicos, criativos e desportivos como, por exemplo, os jogos, a música,
o esporte, a pintura, modelagem, de modo adequado à idade e ao nível de compreensão, são
elementos integradores e interativos para trabalhar o corpo, crescimento, diferenças sexuais,
rivalidades, atrações, etc...
É essencial enfatizar a importância do relacionamento afetivo dos pais e familiares, para um
adequado desenvolvimento da sexualidade. A família nuclear representa o protótipo de todos os
relacionamentos que a pessoa terá com os outros no decorrer de toda a vida, mas ainda para o
portador de necessidades especiais que precisa ser aceito pelo seu núcleo familiar; mas na
impossibilidade desta fazê-lo cabe a escola resgatar este papel oferecendo suporte dos valores
integrativos, de auto-estima, confiança e esperança.
Tanto a pessoa com deficiência intelectual como autismo necessita de respostas coerentes às
suas solicitações afetivo-sexuais, que favoreçam sua autoconfiança, sua auto-estima e seu
senso de valor.
A ambigüidade no comportamento dos pais e profissionais frente à sexualidade do deficiente
levam aos conflitos e atitudes incoerentes de ambas as partes, gerando frustração, dor e muita
angústia. A ansiedade e falta de confiança no potencial afetivo-sexual das pessoas com
deficiência intelectual e autismo, faz com que fiquemos agitados e irracionais quando temos de
lidar com um problema, uma situação.
O que sabemos é que tanto as pessoas com deficiência intelectual e autismo sentem, desejam,
sonham, sofrem, como qualquer ser humano, portanto nós é que precisamos libertar-nos dos
nossos preconceitos frente à sexualidade humana e proporcionar uma vida com qualidade e
respeito as singularidades individuais.
http://inclusaobrasil.blogspot.com

Sexualidade e Autismo

(Texto extraído do Relatório Preliminar sobre o mesmo tema elaborado em 1992 por Demetrious
Haracopos e Lennart Pedersen na Dinamarca com financiamento do Ministério Social
Dinamarquês - disponível na íntegra na biblioteca da AMA)

Autismo

Embora a ocorrência do autismo seja pequena (1 caso em 1000), este tem sido alvo de um
interesse crescente por parte dos profissionais. As contribuições para a compreensão das
causas e da patologia da síndrome vêm de campos diversos como a neurobiologia,
neuroanatomia e neuropsicologia, da psicologia cognitiva da psicologia do ensino etc. Hoje
aceita-se ser o autismo um distúrbio do desenvolvimento de natureza biológica. A psiquiatria
cataloga o autismo como " Distúrbio Abrangente do Desenvolvimento" nos sistemas básicos de
classificação diagnóstica CID-10 e DSM III R (Lier et al. 1988).

O autismo pode aparecer nos primeiros meses de vida ou até os 3 anos de idade. A síndrome do
autismo apresenta retardo mental e desenvolvimento anormal da linguagem e nas habilidades de
comunicação e interação social. Além destes sintomas cardinais, a criança autista apresenta
outros desvios de comportamento como hiperatividade, déficits de atenção, e desordens
motoras, sensoriais e de percepção. Frequentemente aparece agressividade e automutilação e
recusa para comer ou dormir. A criança também pode sofrer de outras desordens neurológicas
ou biológicas. Por exemplo, 20 - 30% dos casos apresentam ocorrências epiléticas durante a
infância e a adolescência.

O problema crucial da pessoa autista - principalmente no que se refere à sexualidade - é sua


inabilidade para iniciar, manter ou compreender um relacionamento social com outras pessoas.
Independentemente de seu nível cognitivo e de suas habilidades de linguagem e a despeito de
ter ou não interesse em ter contato com outras pessoas, a pessoa autista sofre de um distúrbio
básico no que concerne a sua habilidade de interagir socialmente. Este distúrbio pode acarretar
rejeição das pessoas que a cercam, resultando em afastamento da pessoa autista.

Na época da juventude e depois na idade adulta, maioria das pessoas com autismo conseguem
continuar desenvolvendo-se em diferentes áreas (Mesibov 1983, Pedersen et al 1985). Todavia
a deficiência social e de comunicação, mantêm-se como um problema definitivo. Os
comportamentos ritualistas e estereotipados parecem diminuir, os problemas com sono e
alimentação desaparecem e a hiperatividade diminui consideravelmente. As habilidades práticas
e de cuidados consigo mesmo continuam desenvolvendo-se. O interesse em interagir
socialmente torna-se mais aparente em alguns jovens e adultos autistas. Por outro lado, a falta
de experiência de interação e comunicação social na infância, mais tarde torna-se evidente
através da dificuldade em perceber os estados mentais das outras pessoas e empatizar com
elas.
Os jovens e adultos autistas têm dificuldades inclusive em expressar os próprios sentimentos de
uma forma que os outros possam compreendê-los e aceitá-los. O casamento parece não ser a
única coisa que as pessoas autistas não conseguem. Fazer novas amizades ou ter amigos
parece fora de questão para a pessoa autista. Mesmo que ele funcione em um nível intelectual
alto e seja capaz de cuidar dele mesmo em um contexto diário normal, a pessoa autista vai dar
sempre uma impressão ingênua e imatura.

Outro problema básico da pessoa autista é a inadequação ou falta do uso da imaginação. A falta
de habilidade em perceber e compreender expressões emocionais em outras pessoas parece
relacionar-se com a limitação, ou mesmo falta, da capacidade de imaginar qualquer coisa. A
habilidade para imaginar o que possa acontecer em resposta a uma ação e para reter
experiências anteriores e suas consequências formando um repertório que ajude a antecipar o
que vai ocorrer a curto ou longo prazo, parece totalmente fora do alcance das pessoas autistas.
Como resultado aparecem ações impulsivas ou uma forma rígida e imprevisível, mesmo
ritualística, de organizar as próprias ações. As deficiências básicas que caracterizam a pessoa
autista tem um profundo efeito sobre o seu desenvolvimento sexual.

Sexualidade e autismo

Como já mencionamos, existe hoje um escasso material empírico sobre o comportamento sexual
das pessoas autistas. Entretanto, é obvio que os distúrbios abrangentes que o autismo acarreta
devem trazer problemas importantes no desenvolvimento da conduta sexual.

A sexualidade é parte do desenvolvimento do organismo e do processo maturação, em


conecção com o desenvolvimento dos sistemas nervoso, metabólico e hormonal. A sexualidade
se desenvolve através da interação social e da comunicação, através do contato físico, dos jogos
e da assimilação de normas e regras sociais. A sexualidade é uma experiência emocional
consigo mesmo e com os outros. Sexualidade é fantasia, isto é, é a capacidade de imaginar,
uma capacidade que se baseia na percepção, na compreensão e em conceitos simbólicos
pescados na corrente de nossas experiências diárias. Sexualidade é desejo, excitação e
orgasmo. Deve ser descoberta, experimentada e praticada. Isto pode ocorrer em jogos, sozinho
ou com outros.

O desenvolvimento e processo de maturação das pessoas autistas pode ser afetado pelo grande
número de desordens em seu sistema nervoso, no metabolismo e no processo hormonal. Como
a epilepsia é frequente, é comum também o uso de medicação. Remédios antipsicóticos são
frequentes para a diminuição da agressividade e de condutas auto destrutivas e podem afetar a
sexualidade. Estudos com pacientes psiquiátricos adultos sugerem que o uso de neurolépticos
pode inibir a libido, a ereção e a ejaculação. (Mitchell&Popkin, 1983;Hertof, 1987).

Por outro lado sabemos que a interação social, a comunicação e o contato físico são áreas
primariamente afetadas nas pessoas autistas. Sabemos que eles têm muita dificuldade, ou
mesmo incapacidade, para empatizar com outras pessoas e que eles também têm problemas
para entender e expressar seus próprios sentimentos, necessidades e desejos. Sabemos que
sua fantasia e uso da imaginação não existem ou são muito limitadas e sabemos que sua
tendência para ritualizar e repetir padrões de comportamento de forma estereotipada os impede
de experimentar a vida. Eles têm restrições na capacidade de relatar experiências tanto no
contexto físico como no psicológico.
A puberdade, com o crescimento repentino e as mudanças na aparência física que e a
acompanham e o aparecimento de caracteres sexuais, pode acarretar ansiedade na pessoa
autista. Uma jovem autista descrevia a horrível sensação que ela sentia ao redor de seu clitóris.
Algumas vezes ela se dirigia à sensação, pedindo-lhe para parar. Em situações extremas, ela
podia até bater-se. Ela se recusava a tocar-se, não por ter medo da sensação mas por pensar no
ato de tocar-se como "muito desagradável". Um jovem autista dizia ter medo de que seu pênis
caísse, quando ereto.

A falta de compreensão das normas e regras sociais pode levar uma pessoa autista a tirar a
roupa ou masturbar-se em público. A falta de empatia pode fazer com que um autista tente tocar,
beijar ou abraçar uma pessoa estranha. Uma pessoa autista pode dirigir também sua atenção
para crianças menores. A despeito do fato do jovem autista não ser capaz de namorar, o desejo
de ter um namorado ou namorada pode tornar-se uma obsessão. A dificuldade em aproximar-se
dos outros na tentativa de estabelecer um relacionamento amoroso e/ou a rejeição ao contato
físico com conotações sexuais pode levar à frustração e resultar em agressividade ou
comportamentos auto agressivos. A pessoa pode isolar-se ou desistir inteiramente de sua
sexualidade.

AUTISMO E SEXUALIDADE – UM TABU A SER QUEBRADO

Data: 01/09/2014

Falar de sexo ainda é tabu, principalmente no que se refere à Educação Sexual dentro do lar,
depais pra filhos. Não adianta ser liberado e dizer que falar de sexo é natural, pois as estatísticas
mostram o contrário: pais continuam tendo resquícios na abordagem do assunto com seus filhos
adolescentes.

Qualquer pessoa bem informada sabe que a sexualidade é parte integral da vida e que não se li
mitaà presença ou não do orgasmo. Sexualidade é a energia que motiva a encontrar o
amor, contato eintimidade, e se expressa na forma
de sentir, na forma das pessoas tocarem e serem tocadas.
Asexualidade influencia pensamentos, sentimentos, (inter)ações e tanto a saúde física como a
mental.Apesar de polêmica,
a Orientação Sexual nas Escolas tem sido uma fonte inesgotável de informaçãobásica sobre sex
o para (pré)adolescentes no espaço educacional.
No colégio são abordados temasrelacionados ao sexo e, não raramente, os estudantes são esti
mulados a falarem e aprenderemsobre sexo;
as sensações físicas e também a parte emocional das relações sexuais.

Com um pouco de sorte, estes adolescentes sentir-se-ão à vontade para discutirem o assunto
também em casa, dando a oportunidade a seus pais de os conduzirem para uma vida sexual
futura saudável e segura.

(PRÉ)ADOLESCENTES AUTISTAS E SEXUALIDADE

No entanto, como é desenvolvido este mesmo processo quando o adolescente tem um quadro
de autismo? Como falar com um/a jovem autista sobre sexo? É possível? É necessário?... A
resposta é sim, tanto é possível quanto extremamente necessário.

Adolescentes autistas são, em primeiro lugar, seres humanos saudáveis. Fisicamente,


experimentam as mesmas sensações do despertar sexual quanto os adolescentes neuro-típicos.
Seus hormônios estão presentes e sim, haverá excitação (ereção) para os rapazes e excitação
vaginal para as moças.

Assim como tais manifestações físicas são inéditas para o adolescente neuro-típico, também o
são para o adolescente autista. Com a diferença que provavelmente o primeiro grupo já tenha
algum conhecimento da fase pela qual irá passar, e o segundo grupo não. O relacionamento
com amigos do mesmo sexo, na escola, na vizinhança etc., possibilita as crianças que se
desenvolvem tipicamente a terem uma ideia do que sexo significa - ainda que está ideia esteja
longe da realidade. Já os que se desenvolvem atipicamente (autistas) geralmente não tem este
relacionamento social na puberdade, o que faz com que muitas vezes ignorem o conceito de
sexualidade por completo antes do próprio despertar sexual.

Sendo assim, é importante que pais e cuidadores em geral estejam preparados para
anteciparem esta fase inevitável do desenvolvimento orgânico do adolescente e o prepare para
tal.

Independente do grau de autismo, a instrução sexual deve ser possibilitada, de preferencia antes
da primeira ocorrência (toque dos próprios órgãos genitais, ereção perceptível – no caso dos
meninos – etc.) e da ansiedade e nervosismo que possam acompanha-los.

SINTOMAS FISICOS

O jovem autista de médio a alto funcionamento, pode ser instruído verbalmente, do mesmo
modo que outros adolescentes. Provavelmente as instruções do Orientador Sexual (professor,
terapeuta, pais ou familiares chegados) serão cuidadosamente assimiladas por ele. O
importante, no caso, é que ele/a entenda que o processo da excitação sexual é natural, não
havendo o que temer. Começamos por explicar-lhes o funcionamento do corpo humano e assim
como sentimos frio, calor, fome ou vontade de urinar, também sentimos excitação dos genitais, o
que é distinto para cada ser humano em termos de frequência e intensidade.

Imprescindível é ensinar-lhes que a masturbação é normal, porém um ato privado, ou seja, a ser
feito na privacidade de seus quartos/banheiro, ou qualquer outro local onde se encontrem sós.

Estipular um lugar adequado e, em alguns casos, também o horário mais conveniente para que o
adolescente autista se masturbe, não é exagero e sim cuidado. Lembremos que muitos autistas
sentem-se seguros com uma determinada rotina. Incluir a masturbação na rotina de um
adolescente com autismo, pode ser positivo e afastar o estresse que ele/a possa sentir durante
os momentos de excitação sexual.

REGRAS

Outro fator extremamente importante é estipular regras, para que não venham a ser vítimas de
abuso sexual ou demonstrarem comportamento sexual socialmente incorreto.

Adolescentes autistas, independente de seu desenvolvimento mental, podem ser ingênuos


devido à sua natureza. Na falta de malícia podem tornar-se presas fáceis de pessoas de má fé –
outros adolescentes neuro-típicos, bulliesou adultos abusadores. Para evitar isso, devemos
estipular regras nesta nova fase de suas vidas:

-Pensarantecipadamente - seja proativo ("pre-ensine");

-Ser concreto (falar sobre o pênis ou vagina, não os pássaros e as abelhas)

-Ensinar o adolescente a masturbar-se somente em casa e em lugar privado (quarto próprio,


banheiro ou um local onde possa ter privacidade sem ser perturbado por outros familiares);

-Não permitir que outra pessoa (homem ou mulher) lhe masturbe, explicando que de outro modo
é uma relação sexual e não masturbação – fique certo de que o adolescente entenda a diferença
entre os dois tipos;

-Ensinar o jovem a não permitir que ninguém toque suas partes privadas, ainda que digam que
irão ‘ajudá-lo/a’ a masturbar-se. Note bem que não basta dizer ‘somente com o seu
consentimento’, pois se está fisicamente excitado, pode concordar em ser tocado por alguma
pessoa de má fé. Esta será uma segunda fase da experiência sexual do relacionamento;

-Instruir o jovem para não tocar ninguém sem sua permissão, e caso seja mútuo consentimento,
sempre em local privado;

-Ensinar que o toque dos órgãos genitais deve ser feito somente em local privado – não durante
a aula ou sentado à mesa etc. Lembre-se de como o ensinou a não tirar meleca do nariz. Aqui
vale a mesma regra!

-Redirecionar comportamentos inadequados. Por exemplo, se uma criança é susceptível a


masturbar-se na sala de aula ou em público, dar-lhe algo para transportar ou armazenar, etc.

-Ser consistente e repetir várias vezes sobre a segurança sexual;

-Encontrar alguém do mesmo sexo para ensinar as noções básicas de segurança e higiene
(irmãos, pais, avós etc.)

-Cumprimentar todo o comportamento apropriado, reforçando positivamente o que o jovem


acaba de realizar corretamente.

Todo cuidado é pouco ao estipularmos regras com o adolescente autista. Tenha certeza que
está sendo extremamente claro (concreto) nesse processo de instrução. Lembremos que em
termos de sexualidade você não está apenas ensinando informações; você também está
ensinando valores e competência social .

Adolescente com autismo mais severo:

Adolescentes que apresentam sintomas de autismo severo, e/ou com sua capacidade cognitiva
afetada, necessitam de uma instrução mais concreta. Vale o uso de recursos visuais como
pictogramas, para que entendam o que falamos acima, porém de modo visual.

Através de pictogramas e palavras (instruções) simples, podemos ensinar este adolescente que
a ereção/excitação sexual é uma sensação boa, prazerosa e normal, mas os genitais não devem
ser tocados em qualquer lugar da casa, por exemplo. Devem associar o prazer de tocarem seus
genitais com a privacidade de seus quartos ou banheiro. Assim como muitos aprenderam a fazer
suas necessidades ali, também irão aprender que sexo é privado.

Por meio de pictogramas com desenhos do pênis ou da vagina, das próprias mãos tocando os
genitais, do local onde é esperado que estejam a sós e da sensação final de alívio, é possível
que estes adolescentes mais desafiados pelo autismo também possam dar vazão à sua
sexualidade.

SINTOMAS EMOCIONAIS

Pessoas com autismo não só podem relacionar-se sexualmente com um parceiro/a, assim como
muitos o encontram como uma experiência extremamente prazerosa.

Conversar com nossos filhos ou pacientes autistas sobre relacionamento, não difere muito do
jeito que falamos com nossos filhos neuro-típicos: quando a gente gosta de outro alguém, o sexo
é muito melhor! Sentimentos como carinho, vontade de ficar bem perto, antes e depois do sexo,
é algo que autistas também experimentam – ainda que não seja regra.

Dois dos ângulos da tríade do autismo são a precária Interação Social e a Comunicação
comprometida. Isso faz com que o desafio de engajar numa relação amorosa seja maior para o
adolescente autista do que o não autista.

Ao prepararmos nossos filhos/pacientes para a vida sexual a dois, devemos tentar melhorar suas
habilidades nesta área social:

Como aproximar-se de outro adolescente? O que falar? Como tentar iniciar um relacionamento?
Uma vez iniciado, qual o momento de falar sobre sexo com ele/a? Como agir com respeito
durante o envolvimento sexual?...

Existem vários cursos de Habilidades Sociais para adolescentes com autismo oferecidos na
Holanda. Muitos deles abordam o tema, já que é parte integrante do desenvolvimento de um
adolescente, definindo parte de sua identidade.

Quanto ao adolescente com autismo mais severo, resta saber se esse tipo de relacionamento, a
dois, é possível. Fisicamente talvez sim; emocionalmente existem barreiras
a serem ultrapassadas e talvez estas sejam intransponíveis. Porém, quem pode dizer que este
grupo não vive uma vidasexual também satisfatória, ainda que individual?...
Sexo é uma necessidade física, intensificada pelo aconchego, carinho e amor. Mas o
autista que recebe de seus pais amor, carinho e a certeza de um lar seguro pode viver
plenamente contente por toda a vida.

“Se a saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser
considerada como um direito humano básico.”- Organização Mundial de Saúde -1975

Fonte consultada: ftp://ftp.fnde.gov.br/web/pcn/05_08_orientacao.pdf

Fatima de Kwant - Jornalista


Defensora do autismo na Holanda

Grupo do facebook, criado por Wilson Marx (Brasil), co-administrado por Fatima de Kwant
(Holanda) e Brian Bird (Inglaterra). Para entrar no grupo é necessário ter uma conta no
facebook.https://www.facebook.com/groups/MenosIguais

Fundação que auxilia mães de crianças com autismo, na Holanda.

www.stichtingmamavita.nl/

www.autisme-nva.nl
Associação Holandesa de Autismo.
Nossas experiências com Autismo e Sexualidade - Parte I
Tentei amenizar os fatos aqui relatados, mas há coisas que, mesmo amenizando, ficam
um tanto "pesadas" para se ler. Se não sentir-se preparado, não leia este post nem o
próximo.

"O caminho que percorremos, no início, foi tortuoso, cheio de pedras e incertezas, pois não
sabíamos aonde estávamos indo. Com fé, tenacidade e amor, chegamos ao paraíso. Bastou
perseverança e acreditar em um Deus todo poderoso para sermos felizes. Nosso filho é um
exemplo de que todos temos potencial e que todos somos merecedores de uma vida digna, não
importa cor, credo, sexo ou condição."

Anita Brito

Há muitos anos, conversando com uma amiga, ela me disse que uma parente sua tinha um filho
autista e que todos sofriam muito por causa disso. Era uma família de classe média alta e
moravam no Litoral Cearense, pois tinham mais paz fora do Estado de São Paulo. No Ceará,
eles viviam em uma casa grande, com um quintal enorme e próximo a uma linda praia. Ali,
tinham poucos amigos e nunca chamavam ninguém para ir a casa deles. Parentes nunca
visitavam e a sociedade ao redor, certamente, julgava o casal como anti-social, pois qualquer
tentativa de se aproximar do casal, era em vão.

Ao me contar sobre esta família, minha amiga detalhou alguns fatos da vida deste casal.
* A criança, um menino, de repente "virou" autista (hoje sabe-se que não é bem assim e que
ninguém vira autista);
* Ficou extremamente agressivo e parou de falar o pouco que falava;
* Não ia no colo de nenhum membro da família;
*Balançava-se para frente e para trás o tempo todo;
*Não conseguia viver em sociedade;

Como ela também era professora, disse-me que gostaria de trabalhar com crianças especiais um
dia e que gostaria de trabalhar com alunos com Síndrome de Down, mas que tremia só de
pensar em ter um aluno autista. Conversamos sobre o assunto por umas duas horas, durante um
almoço em sua casa.
O que ela me contou ao final, me comoveu demais e eu ainda nem era mãe! Ela me contou
como estava a vida da amiga e que elas não estavam mais se falando tanto porque a amiga se
abriu com ela e contou o que estava acontecendo.

O filho estava com 15 anos e estava se masturbando muito. O problema, é que, após a
ejaculação, o menino começava a gritar, pois ficava com nojo de ficar sujo.

O garoto começou a ficar mais agitado, e sua mãe teve que começar a masturbá-lo...
Começamos a chorar, pensando no sofrimento dos pais com aquela situação. A família era muito
católica e isso os estava consumindo. Não conseguimos terminar o assunto, porque a comoção
foi geral.

Depois falamos sobre mais alguns autistas que tinham desejos específicos, tais como: carros,
obituários, um determinado desenho (o filme Rain Man havia sido lançado nos cinemas
brasileiros naquela época, por isso o assunto veio à tona) e mudamos de assunto com a frase:
"Bem, vamos falar de coisas mais leves!"

10 anos depois, tornei-me mãe.

Ao desconfiar que meu filho poderia ser autista, tive receio de como seria quando chegasse sua
adolescência (sim, sempre penso à frente, mas não sofro por antecedência). Ao ter certeza de
que ele ERA autista, fiquei pensando em como o ensinaria a "comportar-se" em sociedade em
relação a isso.

Aos cinco anos comecei a conversar com ele sobre o assunto. Ele ainda não verbalizava quase
nada:

- Filho, às vezes você fica com o pipo¹ durinho?


- Sim.
- E você mexe nele?
Silêncio...
- Filho, você mexe nele quando está duro?
- Sim.
- Posso te pedir uma coisa? Quando você quiser mexer, só pode ser dentro de casa. Pode ser?
(...) Nicolas, você está me ouvindo, amor? (Silêncio) Nicolas?

E parei de falar sobre o assunto naquele momento, retornando somente no dia seguinte.

Meu coração estava à mil e meus pensamentos rodando em minha cabeça. Será que ele estava
me entendendo? Será que ele iria ter problemas? Será que nós teríamos problemas com ele em
relação a ele?

Confesso que durante aquele período considerei várias coisas, mas não sabia bem o que
considerar. Os adolescentes neurotípicos já dão trabalho quando os hormônios estão a mil,
imaginem um autista?

Orei muito e pedi a Deus forças para passar por aquele momento e chegar nos dias de hoje. E
deu certo...

Depois conto mais a vocês


¹ Pipo era a palavra que usávamos para nos referirmos ao pênis. Hoje em dia já falamos pênis
para ele.
Parte II: http://meufilhoeraautista.blogspot.com.br/2012/12/nossas-experiencias-com-autismo-
e_13.html

Postado por Anita Brito às 17:02

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Marcadores: autismo e sexualidade, sexo autismo, sexo para autistas, sexualidade

COMO TRABALHAR COMPORTAMENTOS SEXUAIS INADEQUADOS NOS


ADOLESCENTES E JOVENS AUTISTAS

Sabemos como e jovens com transtornos do espectro do autismo (ASD) podem exibir muitos
comportamentos desafiadores durante a puberdade. Semelhante a adolescentes sem ASD,
adolescentes com ASD experimentar mudanças hormonais e curiosidade sexual durante este
tempo. Uma diferença importante é que os indivíduos com ASD experimentar essas mudanças,
além de dificuldades de comunicação, de socialização e de comportamento. É importante que os
pais reconheçam que é comum para os indivíduos com ASD para exibir comportamentos
sexuais. A maioria dos pais dos adolescentes com ASD experimentar o desafio de ensinar os
seus adolescentes a se comportar de uma forma sexual adequada.

Comportamentos de auto-estimulação

O erro que os pais muitas vezes faz-e é fácil de fazer-se de parar o comportamento quando eles
encontram o seu filho se masturbando em uma área pública. Eles costumam gritar ou
acentuadamente puxar a mão de seu filho de distância. Isso faz parar o comportamento, mas ele
envia uma mensagem de que a sexualidade e o corpo humano são ruins e sujos.

Alerta

Se o seu filho se masturba em excesso, irritação genital pode resultar. Certifique-se de que não
há um corrimento vaginal em meninas ou vermes em crianças pequenas. Ambos podem causar
coceira e irritação. Um exame pelo médico do seu filho deve deixá-lo saber se isso é um
problema. Alguns medicamentos usados ??para o autismo, notadamente os ISRS (Inibidores
Seletivos da Receptação), diminuir a libido e pode ser apropriado.

Este é um assunto difícil para os pais de crianças com autismo. Quando eles descobrem que seu
filho se masturbando ativamente sem qualquer discrição, eles se perguntam como lidar com a
situação. Para manter uma perspectiva correta, lembrem-se quase todas as crianças se
masturbar. Crianças com autismo não têm inibições, porque eles não têm conhecimento do tabu
social contra masturbando em público.

Identificar precocemente os comportamentos

Embora possa ser difícil, é fundamental para os pais a identificar comportamentos sexuais
inapropriados logo no início e responder em conformidade. Quanto mais tempo um pai espera
para intervir, o mais difícil será para abordar o comportamento. Relatado com freqüência
comportamentos sexuais inadequados incluem tocar auto, tocando outros, masturbação em
público, e despir. Se as habilidades apropriadas sociais, habilidades de auto-cuidado, e
habilidades de linguagem não foram aprendidas antes da puberdade, os pais podem ter
dificuldade em responder a comportamentos sexuais inadequados de seus filhos de uma
maneira positiva e produtiva.

Idealmente, os pais devem procurar o tratamento de um profissional qualificado, a fim de tratar


de suas preocupações e desenvolver um plano de tratamento individualizado para reduzir
comportamentos inadequados de seus filhos. Os pais são encorajados a entrar em contato com
o psicólogo da escola de seu filho, um psicólogo com formação ou experiência em avaliação de
comportamento e de gestão. Indivíduos com ASD possuem uma gama de competências e
habilidades cognitivas. Portanto, um plano individualizado é a opção mais adequada disponível a
fim de satisfazer as necessidades do indivíduo.

Muitos adolescentes com ASD podem se beneficiar de um programa de formação em educação


sexual, no entanto outros adolescentes com habilidades expressivas e receptivas limitados
podem se beneficiar de um programa de modificação de comportamento mais
intensivo. Independentemente do tipo de programa desenvolvido para um adolescente com ASD,
existem algumas estratégias gerais que são evidentes na maioria dos programas de qualidade.

Usando modificações ambientais para melhorar o comportamento

Um passo inicial na abordagem de comportamentos sexuais é inadequado para determinar


quais, se houver, alterações ambientais pode ser feito para reduzir a probabilidade de que um
comportamento sexual inadequado vai ocorrer. Os pais muitas vezes são muito criativos em
suas tentativas de modificar ambientes, e essas modificações simples podem freqüentemente
evitar comportamentos inadequados. Por exemplo, alguns pais relataram que a compra de
diferentes tipos ou estilos de roupas íntimas ou roupas reduziu a probabilidade de que seu filho
iria se engajar em comportamentos inadequados. Outros pais relataram que insistir que seu filho
usar um cinto reduziu as tentativas de seu filho se envolver de forma inadequada. Se um objeto
específico é freqüentemente associado com o comportamento, o que limita o acesso do
adolescente ao objeto também pode ser eficaz. Modificações como estas podem produzir
resultados imediatos e muitas vezes são implementadas com o mínimo esforço.
Dizer sim a comportamentos adequados

Outra estratégia eficaz envolve um adolescente dizendo o que fazer ao contrário do que não
fazer. Muitas vezes, uma reação inicial é para que os pais digam que seus filhos "pararem" se
engajar no comportamento, no entanto, isso é apenas parte da resposta. Com base nos
princípios da análise do comportamento de ensino aplicada (ABA), quando a tentativa para
diminuir qualquer comportamento, é mais eficaz para ensinar um comportamento para substituir
o comportamento inadequado. Portanto, dizer a uma criança para "parar" pode resultar no
questionamento criança, "O que devo fazer em vez disso?" e pode resultar na participação da
criança em outro comportamento inadequado. Um exemplo de uma mãe a execução dessa
estratégia no supermercado envolveria ela pedindo seu filho para empurrar o carrinho quando
ela observou-o a tentar tocar-se de forma inadequada. Se lhe é dito para empurrar o carrinho,
ele está ciente do comportamento apropriado desejado e incapaz de tocar a si mesmo uma vez
que ambas as mãos estão no carrinho.

Para os comportamentos que os pais considerem adequadas em locais privados, mas não em
locais públicos, os adolescentes podem ser ensinados a discriminar entre lugares privados (por
exemplo, quarto) e locais públicos (por exemplo, do lado de fora, sala de estar, etc.). Uma vez
que os adolescentes podem discriminar entre os locais aceitáveis ??e não aceitáveis, podem ser
ensinadas a se engajar no comportamento sexual somente no local privado / aceitável. Todas as
tentativas de engajar no comportamento em locais públicos devem ser interrompidas
imediatamente. Este procedimento permite que adolescentes a se engajem no comportamento
sexual ao mesmo tempo, ensinando-lhes que é inaceitável em público.

Além disso, é importante não só para ensinar os adolescentes a discriminar entre os locais, mas
também entre as pessoas. Por exemplo, os pais podem acreditar que é apropriado para
adolescentes a ser carinhoso para com as pessoas conhecidas, mas não em relação a
estranhos. Portanto, os adolescentes precisam ser ensinados a diferença entre um estrangeiro e
uma pessoa familiarizada com os quais o afeto é o caso, antes que se pode esperar para saber
por que o afeto é só às vezes apropriado.

Seja consistente

A consistência é um fator adicional que desempenha um papel crítico na abordagem exibe


inadequados de comportamento sexual. Todo mundo que tem um relacionamento com o
adolescente necessita de ser coerente ao responder a um comportamento inadequado. Se um
adolescente recebe feedback inconsistente, ele ou ela terá mais dificuldade para aprender o que
é e o que não é aceitável. Por exemplo, o tratamento de uma adolescente que se envolve em
despir exigiria pais e professores do adolescente para aplicar a regra de permanecer vestido
durante todo o dia, todos os dias. Por ter expectativas consistentes, pais e professores podem
evitar experiências difíceis no futuro.

Lembre-se o potencial para resultados inadvertidos

Pense à frente. Ao programar qualquer intervenção, é essencial considerar como ele vai
generalizar para outras configurações. Muitas vezes, os profissionais e os pais se esforçam para
a generalização de competências. Quando uma criança é ensinada a dizer,”por favor," durante a
requerente, os profissionais e os pais esperam que a criança eventualmente dizer "por favor" em
casa, na escola, e com os seus pais, irmãos e professores. Generalização é muitas vezes um
resultado desejável. No entanto, também pode ser indesejável. Isso ocorre quando uma criança
está autorizado a se envolver em comportamentos sexuais no banheiro em casa e, em seguida,
começa a se envolver em comportamentos idênticos no banheiro na escola. Por esta razão, os
pais e os profissionais devem usar uma grande quantidade de consideração ao escolher as
intervenções apropriadas.

É de vital importância para ensinar adolescentes a abster-se de comportamentos sexuais


inapropriados. Os adolescentes que são capazes de gerir os seus comportamentos sexuais de
forma adequada têm acesso a um maior número de oportunidades profissionais, sociais e
educacionais, e são menos propensos a se envolver em situações que poderiam levar a
conseqüências irreparáveis. Profissionais estão disponíveis para ajudar, e não existem
intervenções eficazes. Responder às preocupações com profissionais e buscando tratamento
eficaz para comportamentos inadequados de um filho adolescente pode fazer uma diferença
significativa no sucesso da criança.

Referências

Haracopos, D. & Pedersen, L. (1992). Sexualidade e autismo: relatório dinamarquês. Reino


Unido: Sociedade para a autisticamente para deficientes.

Rublo, LA & Dalrymple, NJ (1993). A consciência social / sexual da pessoa de com autismo: uma
perspectiva dos pais.Archives of Sexual Behavior, 22 (3), 229-240.

Van Bourgondiën, ME, Reichle, NC, & Palmer, R. (1997). Comportamento sexual em adultos
com autismo. Jornal do Autismo e Perturbações do Desenvolvimento, 27 (2), 113-125.

FONTE: Dr. Jenny Tuzikow é um psicólogo e analista certificado comportamento no Instituto


Estadual de Nova York de Pesquisa Básica em Developmental Disabilities em Staten Island. Ela
pode ser alcançada em Jenny.Tuzikow@opwdd.ny.gov.

Adelle Jameson Tilton

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