Em 1966, Shostakovich escreveu seu segundo concerto para
violoncelo, obra-prima ainda mais admirada que a primeira do gênero
para o instrumento. Nesse mesmo ano, sofreu um ataque cardíaco e foi diagnosticado com um problema grave no coração. Ele continuou a compor, porém com menor intensidade, e suas obras trazem cada vez mais o tema da morte. Sua Décima quarta sinfonia (1969), uma coleção de canções sobre textos de Lorca, Apollinaire, Küchelbecker e Rilke, é um trabalho obcecado pela morte, de considerável dissonância e que mostra pouca preocupação com o realismo socialista ainda exigido pelo Estado. Em setembro de 1971, ano em que escreveu sua última sinfonia, o compositor sofreu um novo ataque cardíaco. O Quarteto de cordas nº 15 foi escrito em 1974, e sua última obra, a melancólica e sombria Sonata para viola op. 147, em 1975, ano de sua morte, quando um terceiro e fatal ataque tirou sua vida.
A carreira de Shostakovich foi gloriosa, embora cheia de altos e
baixos, momentos nos quais sua criação ou mesmo sua postura frente ao regime eram postos em questão. Ele colecionou tanto honrarias oficiais quanto inclusões de seu nome em index nada lisonjeiros. Embora tendo vivido perseguições e dissabores de uma época difícil, o pesquisador Philippe Olivier, na História da música ocidental, chama atenção para o fato de que Shostakovich foi igualmente um grande pessimista, obcecado pela ideia da morte. Assim, não se podem colocar todas as agruras que atormentavam o compositor apenas na conta de perseguições políticas. Ao mesmo tempo, Shostakovich teria sido um comunista sincero, ainda que tivesse divergências com a doutrina oficial. Isso explicaria por que ele nunca teria tentado emigrar, bem como o engajamento que o levou a se filiar ao Partido Comunista.
Shostakovich deixou uma obra prolífica e rica, bastante ligada ao
povo soviético. Seu estilo evoluiu do humor ousado e do caráter experimental de seu primeiro período (no qual se nota influências de Prokofiev e Stravinsky), exemplificado pelas óperas O nariz e Lady Macbeth, ao fervor nacionalista e à melancolia de sua segunda fase – a das Sinfonias nº 5 e nº 7. Já a última fase é marcada pelo clima desafiador e sombrio de obras como a Sinfonia nº 14 e o Quarteto nº 15. Sua produção inclui ainda balés, sinfonias de câmara, peças para piano, concertos para violino, violoncelo e piano, dezenas de suítes e outras obras orquestrais. Na produção de câmara, sonatas, duetos, trios e um quinteto com piano. Há ainda uma expressiva produção vocal, que inclui canções e obras como cantatas e oratórios. Finalmente, não se pode esquecer de sua produção para o cinema, com mais de duas dezenas de peças. O conjunto de sua obra o consagra como um dos maiores nomes do século XX, um compositor que soube como poucos transmitir a angústia, a ironia e a turbulência de toda uma época.
Dmitri Shostakovich [Reprodução]
Linha do tempo 1906 Nasce em São Petersburgo, no dia 26 de setembro 1919 Ingressa no Conservatório de Petrogrado, onde estuda com Glazunov