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Sergei Prokofiev
Prokofiev tinha sido durante a juventude o enfant térrible da música russa devido à sua
reputação como pianista defensor das novas correntes e à autoria de obras
deliberadamente escandalosas, como a Suite cita (1914), qualificada como «bárbara» no
seu tempo. Bem considerado pelos bolcheviques, Prokofiev optou, no entanto, por se
exilar após o triunfo da Revolução. Estabeleceu-se nos Estados Unidos, onde o
modernismo das suas obras não foi compreendido, e mais tarde em França, onde veio a
estrear algumas das suas peças mais importantes. Por fim, em 1933, decidiu regressar ao
seu país. Ali, o seu estilo teve de se adaptar às diretivas do Partido, orientando-se para um
certo classicismo. Por esse motivo, a sua música perdeu agressividade, mas ganhou em
qualidade melódica, sem deixar nunca uma certa tendência para o grotesco. Os ballets
Romeu e Julieta (1938) e Cinderela (1945), a sua monumental Sinfonia nº5 (1945) e a
enigmática nº6 (1947), o conto Pedro e o lobo (1936) e a ópera Guerra e paz (1941-52)
são algumas das obras mais importantes desta última fase.
Dmitri Shostakovich
Apesar do seu relacionamento nem sempre ter sido cordial, Dmitri Shostakovich
admirava a inesgotável veia melódica de Prokofiev. Este, por sua vez, invejava de
Shostakovich a sua mestria na orquestração. Durante muito tempo, Shostakovich foi
considerado no Ocidente o compositor oficial soviético, embora na verdade a sua relação
com o regime estivesse longe de ser tranquila: a períodos em que era considerado o
melhor músico do seu país, sucediam-se outros em que as suas composições eram
reprovadas e proibidas, sempre com a acusação de formalismo. Precisamente uma sua
obra, Lady Macbeth do distrito de Mtsensk (1934), provocou no dia 9 de janeiro de 1936
a publicação no Pravda do artigo Caos em vez de música, origem do realismo socialista.
«A 26 de Janeiro de 1936, Stalin, acompanhado por três figuras gradas do aparelho
soviético – Molotov, Zhdanov e Mikoyan – deslocou-se ao Teatro Bolshoi, em Moscovo,
para assistir à ópera Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk, de Dmitri Shostakovich. O
compositor foi convidado para a récita, mas não para o camarote de Stalin, como seria de
esperar. Esta circunstância causou-lhe alguma apreensão, que terá aumentado ao
aperceber-se de que Stalin e os seus camaradas tinham saído antes do último ato.
Dois dias depois, o Pravda publicava um artigo que mostrava que a apreensão do
compositor era justificada: intitulava-se “Caos em vez de música” e desferia um feroz
ataque contra Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk. Foi o primeiro passo de uma
campanha implacável contra Shostakovich e toda a música que não se conformava ao
modelo do realismo socialista.»
Com receio de eventuais represálias por parte do regime, Shostakovich fez diversas
adaptações desta obra. No entanto, após a sua morte, a versão mais interpretada é a
original.
Face a todas estas críticas, Shostakovich passou a temer a sua liberdade artística e até pela
sua própria vida. Assim, no ano seguinte, em 1937, compôs a célebre 5ª sinfonia, num
tom muito mais convencional, mas poderosamente expressivo, e descrita pelo próprio
compositor como "a resposta de um artista soviético à crítica justa". Trata-se, no fundo,
de uma oferta de paz a Estaline.
Contudo, infeliz por ter sido forçado, Schostakovich também começou a incluir na sua
música protestos secretos contra a tirania de Estaline. A sua sinfonia nº7 era
ostensivamente um protesto patriótico contra o cerco alemão a Leninegrado, embora o
compositor tenha admitido em privado que também estava preocupado com o modo de
como Estaline destruíra essa mesma cidade.
Schostakovich descreveu o dia da morte de Estaline como o dia mais feliz da sua vida.
Finalmente livre de desencadear a sua raiva anteriormente reprimida contra o ditador,
criou um vívido retrato da brutalidade homicida de Estaline no segundo andamento da
sua 10ª sinfonia, composta nesse mesmo ano.
Nos seus últimos anos, o humor das suas primeiras composições deu lugar à zombaria,
ao sarcasmo e ao desespero. Pouco a pouco, Shostakovich foi-se fechando em si mesmo
e a sua música foi adquirindo um tom cada vez mais sombrio, indelevelmente marcado
pela presença da morte. Isto acontece na sua impressionante série de quartetos de corda
ou nas três últimas das suas quinze sinfonias.