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Como já foi visto, um dos principais problemas abordados pela Filosofia contemporânea é a

crise da concepção moderna de razão. Essa crise teve início no século XIX e foi reforçada
no século XX, com base nas descobertas de uma corrente de pensamento ligada à Filosofia
e à Psicologia, denomi-nada Psicanálise, inaugurada por Sigmund Freud e adotada por
inúmeros seguidores, entre os quais se destacam Carl Jung e Jacques Lacan.
Freud era médico e se dedicava ao tratamento de doenças mentais. Logo, suas pesquisas
sobre a consciência tinham o objetivo de descobrir as causas e, por consequência, a cura
dos sintomas de perturbação psíquica manifestados por seus pacientes. Nessa busca, ele
identificou três elementos formadores do psiquismo humano: o id ou inconsciente, o ego e o
superego.
Observe a forma de atuação desses elementos na ilustração a seguir. De acordo com o
pensamento de Freud, a consciência humana correspondia apenas ao ego, permanecendo
ocultos a ela os desejos inconscientes do id e as proibições morais do superego.
Considerando esses três elementos formadores do psiquismo, Freud concluiu que o ser
humano era composto de uma racionalidade entrelaçada a um universo de desejos, as
pulsões, que nem sempre eram aceitas pelas normas morais e sociais da civilização.
Geralmente ligadas à sexualidade, ao poder e à morte, as pulsões do id seriam, muitas
vezes, reprimidas pelo superego, sem chegar à consciência.
Mas essa repressão poderia falhar, fazendo com que os desejos retornassem sob a forma
simbólica de sintomas como perturbações psíquicas, so-nhos, esquecimentos e atitudes
acidentais no cotidiano, denominadas "atos falhos".
'. Sendo assim, a Psicanálise freudiana previa que o psicanalista (ou analista) buscasse a
fonte dos sintomas perturbadores apresentados por seus pacientes, os quais seriam
causados pela repressão de certos desejos.
Ao encontrar essa fonte, o analista poderia ajudar os pacientes a sublimar seus desejos
conflitantes, direcionando-os para objetos não condenáveis, ou simplesmente
enfraquecendo-os ao torná-los conscientes. Isso levaria à cura dos sintomas
desencadeados pela repressão das pulsões inconscientes. Porém, nos estudos seguintes
envolvendo a Psicanálise, essa noção de cura foi subs-tituída, de modo gradual, por uma
hipótese menos audaciosa: a de que os procedimentos de análise conduziriam o paciente a
uma espécie de controle das pulsões, uma vez que elas seriam naturais e, portanto,
inevitáveis.
Essas novas reflexões proporcionadas pela Psicanálise tiveram forte impacto na Psicologia
e contribuíram para uma grande transformação na maneira filosófica de se compreender a
racionalidade e a liberdade humanas.Nesse contexto, algumas descobertas freudianas
foram tão avassaladoras quanto à da ideologia,que revelou a determinação de forças
sociais ocultas sobre as ações e os pensamentos dos indivíduos. Entre essas destacam-se
• a existência de uma porção irracional do psiquismo humano e sua força sobre a razão ou
consciencia;
• a impossibilidade de o próprio indivíduo conhecer a totalidade dos seus conteúdos
inconscientes;
• a tensão constante entre os desejos individuais e as normas da civilização.
Segundo Freud, a história da civilização era marcada pelo embate entre as pulsões de vida,
designadas como Eros, e as de morte, denominadas Tânatos. Essa luta interna seria causa
de angústia e mal-estar para o indivíduo, uma vez que a vida em sociedade exigia a
repressão constante e eficaz de alguns impulsos naturais.
Freud publicou uma vasta obra, que trata da literatura à mitologia, da arte à ciência e
religião, da filosofia à sabedoria popular. Assim, seu pensamento também influenciou
diversas outras áreas, como as Artes o surrealismo, por exemplo), a Filosofia (do século
XX) e a Saúde (inovação no tratamento de doenças psíquicas, tratamento humani-zado,
geração de várias correntes da Psicologia).

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