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Representatividade de segmentos sociais mais vulneráveis em políticas de

desenvolvimento regional

Autores:
Oscar José Rover
Doutor em Desenvolvimento Rural
Professor da Universidade Comunitária Regional de Chapecó - UNOCHAPECÓ

Francieli de Cesaro
Acadêmica de Psicologia da Universidade Comunitária Regional de Chapecó

Tópico:
12. Movimentos sociais e gestão territorial

Resumo:
A vulnerabilidade sócio-econômica é uma combinação de fatores que degradam o
bem-estar pessoal e social de diferentes formas e intensidades. Ela é causa e resultado de
limitado acesso a recursos e poder político, econômico e social por parte de quem dela é
afetado. A organização social, através de movimentos e organizações populares é
importante mecanismo de participação e representação para tentar fazer valer as demandas
dos segmentos mais vulneráveis. Um lugar político para sua participação e negociação de
suas demandas são Fóruns de Desenvolvimento Regional (FDR). Eles são espaços
institucionais que se têm criado sob argumento de ampliar a participação e intensificar a
democracia nas políticas de desenvolvimento. Este trabalho identificou os segmentos mais
vulneráveis da região Oeste de Santa Catarina e verificou a representatividade de suas
demandas em três FDR: a Comissão de Implementação de Ações Territoriais, o Fórum da
Mesorregião Grande Fronteira do Mercosul, e o Conselho de Desenvolvimento Regional.
Utilizou-se fontes de dados secundários para reconhecer os segmentos mais vulneráveis da
região; verificou-se junto a organizações representativas ou ligadas a tais segmentos quais
são suas principais demandas; e observou-se junto aos FDR o grau em que estas
demandas são atendidas. Se pôde destacar como um dos segmentos mais vulneráveis da
região os indígenas, que reivindicam pelo acesso à educação, garantia da integridade
territorial e políticas de afirmação étnica. Outro segmento são os agricultores
descapitalizados, que correspondem 42% do total e vivem com limitado acesso a serviços
públicos essenciais e em moradias sem saneamento básico. Necessitam de
re-ordenamento fundiário, formação profissional, melhor acesso a crédito e apoio
institucional adequado. As famílias beneficiadas pelo programa Bolsa Família são outro
segmento, que em 01/2008 correspondiam a 7810 famílias e tinham como demanda o
acesso à renda e trabalho dignos, além de serviços públicos básicos. Famílias sem terra,
atingidos por barragens e moradores de áreas irregulares podem ser agrupados num
segmento que possui como principal demanda o direito à terra e sua regularização. O direito
de participação popular no planejamento e decisão de projetos é uma demanda de todos os
segmentos citados. A pesquisa encontra-se em andamento, mas é possível adiantar que é
baixa a participação dos segmentos vulneráveis e suas demandas nos FDR. Estes são
importantes para ampliar as oportunidades de mais segmentos sociais participarem da
gestão do desenvolvimento. Porém, eles reproduzem práticas tradicionais e limitam a
incorporação dos menos organizados e mais vulneráveis, reduzindo o potencial da
democracia contribuir para o desenvolvimento.

Palavras-chave: vulnerabilidade socioeconômica, desenvolvimento regional, territórios


locais, políticas públicas, organizações sociais.

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Abstract:
The social/economical vulnerability is a combination of factors that degrade the personal and
social well-being in different ways and intensities. It is both the cause and the result of the
limited access to resources and to political, social and economic influence, by those who are
affected by it. Social organisation, through popular movements and organisations, is an
important mechanism of participation and representation, so it can make the demands of the
most vulnerable sectors come true. Regional Development Forums (FDR) constitute political
places that enable their participation and also the negotiation of their demands. They are
institutional spaces that have been created with the idea of increasing participation and
democracy in development policies. This work identified the most vulnerable sectors of the
West Region of Santa Catarina and verified their demands’ representation in three FDR: the
Commission of Implementation of Territorial Actions, the Mercosul’s Great Frontier Forum
and the Regional Development Council. Secondary data sources were used in order to
identify the region’s most vulnerable sectors; it also verified the main demands of the
representing organisations or similar to these, studied in this research; and also how further
their demands were attended. One of the region’s most vulnerable sectors, as this work
concluded, is the Indian population that claims their access to education, territorial integrity
and ethnical affirmative policies. Another sector is the poor farmers’ group that constitutes
42% of the total, whose population has limited access to primary public services and lives in
houses without sanitation. They need an agrarian re-organization, professional training, a
better access to credit and an adequate institutional support. The families granted with the
“Bolsa Família” program constitute another vulnerable sector that in January 2008
corresponded to 7810 families, who demanded access to revenues and jobs, together with
basic public services. Landless families, dam refugees and people living in non-legal areas
may be assembled in a sector that claims the right to own a land by legal means. The right
of popular participation in the planning and decision making of projects is a demand of all
these sectors. The research still goes on, but it’s possible to say that the participation of the
vulnerable sectors and their demands in the FDR is low. These organisations are important
to increase the opportunities of more social sectors to participate in the development
management. However, they reproduce traditional practises and limit the incorporation of the
less organized and more vulnerable, thus reducing the democracy’s potential to contribute to
development.

Key-words: Social/economical vulnerability, regional development, local territories, public


policies, social organizations.

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Representatividade de segmentos sociais mais vulneráveis em políticas de
desenvolvimento regional – Oeste de Santa Catarina / BR

1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa trata da vulnerabilidade de indivíduos ou grupos sociais, entendida


como uma combinação de fatores que degradam o seu nível de bem-estar e de qualidade
de vida. Sua exposição a determinados riscos, como ausência de saneamento básico,
desnutrição, falta de moradia e terra, analfabetismo e baixa escolaridade, desemprego e
ausência de renda, entre outros, quando justapostos afetam indivíduos e grupos de
diferentes formas e intensidades. Esta justaposição é facilmente encontrada em indivíduos,
famílias e grupos mais empobrecidos, sendo a parcela da população brasileira que
experimenta altos níveis de desigualdade no acesso a condições dignas de vida. Este tipo
de situação é aqui, compreendida num contexto amplo, sem se limitar à privação de renda.
A má distribuição de bens e serviços, públicos ou privados, geram desigualdades sociais e
pobreza, chegando até mesmo à miséria.
Este artigo se dedica mais intensamente a diagnosticar a distribuição da
vulnerabilidade socioeconômica na Região Oeste de Santa Catarina. Para tanto, dois tipos
de fontes de informação foram utilizadas: o uso e análise de indicadores socioeconômicos
disponibilizados publicamente e o estudo do programa de transferência de renda do
governo federal – o Programa Bolsa Família. Ao longo do trabalho se demonstra, na região
escolhida, em quais municípios (territórios locais) e quais são os segmentos sociais que se
identificam em maior graduação de vulnerabilidade socioeconômica. Enfatizam-se
informações territoriais em função de sua maior disponibilidade, através de indicadores
como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o programa Bolsa Família, indicadores
de oferta de serviços públicos, de acesso à renda, entre outros. Após diagnosticar a
distribuição da vulnerabilidade socioeconômica na região Oeste de Santa Catarina, se
trabalhou para identificar organizações e movimentos sociais que falam em seu nome, bem
como necessidades e demandas apresentadas como as mais expressivas destes
segmentos. A partir disto, se verificou em três Fóruns de Desenvolvimento Regional (FDR)
que atuam no território estudado e elaboram políticas públicas de desenvolvimento, qual o
grau de atuação para superação dos dados mais marcantes de vulnerabilidade. Os três
fóruns estudados foram: o Fórum da Mesorregião Grande Fronteira do Mercosul (FMGFM),
que atua no noroeste do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e sudoeste do Paraná;
o Conselho de Desenvolvimento Regional (CDR), da Secretaria de Desenvolvimento
Regional, do governo do Estado de Santa Catarina; e a Comissão de Implantação de Ações
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Territoriais (CIAT), criada pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA) do Governo Federal. Tais FDR são espaços
institucionais que funcionam sob o argumento de ampliar a participação, intensificar a
democracia e defender o interesse público. Quando se entende o interesse público como
distribuição universalista e inclusiva de bens da sociedade, no entanto, se verifica que os
FDR geram mecanismos de seletividade que restringem os beneficiários das políticas que
coordenam a redes vinculadas aos grupos que os coordenam, atendendo com muita
restrição as demandas dos segmentos mais vulneráveis (ROVER, 2007).

2. DESCRIÇÃO SUCINTA DA REGIÃO ESTUDADA

A região estudada é a porção da ‘Região Oeste de Santa Catarina’, que


compreende os vinte municípios que compõem a Associação dos Municípios do Oeste de
Santa Catarina – AMOSC. É uma região com importante histórico de organização social,
com importantes movimentos sociais como o Movimento dos Sem Terra e um forte
sindicalismo rural, assim como um não menos importante histórico institucional, como berço
da primeira Associação de Municípios de Santa Catarina, a AMOSC. Na Figura 01, fica
visível seu posicionamento no estado de Santa Catarina e sua composição de municípios.

Figura 01: Abrangência atual dos municípios da AMOSC.


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Fonte: Associação dos Municípios do Oeste de Santa Catarina.

Esta região possui pouco mais de 260 mil habitantes (IBGE, 2007). A maioria de
seus municípios diminuiu sua população no período de 1996 a 2007. Chapecó, Cordilheira
Alta, Guatambu, Nova Erechim, Pinhalzinho, Planalto Alegre, Quilombo e São Carlos
tiveram algum crescimento populacional, mas destes, apenas Chapecó, Cordilheira Alta,
Nova Erechim e Pinhalzinho tiveram um crescimento populacional superior a sua taxa de
natalidade. Assim como no conjunto da Grande Região Oeste de Santa Catarina, esta
micro-região vem perdendo população para centros mais urbanizados do litoral catarinense
e as capitais dos 03 estados do Sul do país. Para conhecer a população total de cada um
dos municípios e seu avanço ou decréscimo entre 1996 e 2007 vide a Tabela 01.

Tabela 1: Crescimento Populacional x Taxa de Natalidade dos municípios da AMOSC.


Crescimento Taxa de
Municípios
1996 2007 Populacional Natalidade (1)
Águas de Chapecó 6.410 6.086 -324 941
Águas Frias 2.938 2.551 -387 395
Caxambu do Sul 5.771 4.885 -886 782
Chapecó 131.014 164.992 33.978 28.045
Cordilheira Alta 2.872 3.361 489 344
Coronel Freitas 10.333 10.201 -132 1.368
Formosa do Sul 2.752 2.620 -132 458
Guatambu 4.435 4.505 70 817
Irati 2.577 2.025 -552 387
Jardinópolis 2.067 1.851 -216 309
Nova Erechim 3.411 4.118 707 607
Nova Itaberaba 4.559 4.117 -442 692
Pinhalzinho 11.172 14.691 3.519 2.261
Planalto Alegre 2.572 2.639 67 393
Quilombo 12.471 10.884 -1.587 1.830
Santiago do Sul 1.757 1.450 -307 204
São Carlos 11.989 10.372 -1.617 1.278
Serra Alta 3.437 3.200 -237 451
Sul Brasil 3.552 3.061 -491 508
União do Oeste 3.710 3.058 -652 479
Santa Catarina 4.875.244 5.866.252 991.000 914.895
Fonte: IBGE Contagem da População 1996-2007. (1) MS/SVS/DASIS - Sistema de Informação sobre
nascidos e sobre nascidos vivos - SINASC (1996-2005).

A região Oeste Catarinense apresenta características rurais, de onde sai boa parte
da produção brasileira de aves e suínos, além de possuir produção significativa de grãos.
Há poucos anos, especialmente para os agricultores familiares em condições
socioeconômicas mais vulneráveis, a produção de leite tem se tornado uma alternativa
econômica importante. Na maior parte desta região há uma forte associação entre
frigoríficos de grande e médio porte e produtores rurais de base familiar, em um modelo de
integração vertical, no qual as empresas fornecem insumos e tecnologia e compram a

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produção de animais. Outras formas de agroindustrialização, de menor porte, começam a
surgir, além de indústrias de produção metal-mecânica e moveleira (Mior, 2005). Mesmo
assim, a agropecuária de base camponesa (familiar) ainda é o modo de vida preponderante
de muitas pessoas, especialmente nos municípios menores da região.
O Oeste de Santa Catarina é uma região com forte organização de movimentos
sociais, especialmente rurais. Ali nasceram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), além de um forte sindicalismo
da agricultura familiar, representado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar da Região Sul (Fetraf Sul). Estas organizações ganham destaque em mobilização e
organização popular, algumas com capacidade de articulação internacional. Seu
nascedouro vem de suporte dado por forças religiosas ligadas à Teologia da Libertação,
através da identificação de processos de seletividade e exclusão socioeconômica,
especialmente com a abertura democrática da década de 1980. Apesar dos esforços por
evidenciar processos e formas de vulnerabilização de diferentes segmentos e grupos
sociais, mesmo tendo ocorrido o crescimento dos citados movimentos de base popular, se
verifica que muito há por ser feito para superação da exclusão socioeconômica na região.
Considerou-se importante neste trabalho evidenciar quais são os públicos em condições
mais vulneráveis, assim como suas principais necessidades e demandas. A partir daí se
pode verificar a coerência de muitos atores públicos que argumentam em sua defesa, mas
muitas vezes não operacionalizam políticas em seu favor.

3. OS SEGMENTOS SOCIAIS MAIS VULNERÁVEIS DA REGIÃO OESTE DE SC

Para melhor entendimento da questão principal deste estudo, a vulnerabilidade


socioeconômica, se criou algumas subdivisões consideradas necessárias para que se tenha
uma vida digna e cidadã. Estas são abaixo apresentadas e comentadas.

3.1. Vulnerabilidade social: uma questão de acesso à terra

Para se pensar a influência da posse de terra em relação à vulnerabilidade social,


apresentar-se-á alguns dados que justificam a desigualdade neste aspecto. A posse da
terra é fator estrutural em territórios rurais para desenvolver atividades produtivas, gerando
tanto renda monetária quanto não monetária, além de poder garantir habitação, bem como
garantia de aposentadoria especial como agricultor, entre outros. Para um território
predominantemente rural, como a Região Oeste de Santa Catarina, a distribuição da terra
(Tabela 02) é reveladora dos graus de desigualdade, permitindo identificar onde se situam
maiores vulnerabilidades neste quesito.
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Tabela 02: Percentagem dos estabelecimentos agropecuários segundo área do
estabelecimento – 1996 e 2002/3.
Federação e 1996 - Grupos de área total
Municípios 2002/03 Até 10 ha 10 a 20 a 50 a Acima de
menos menos menos 100 ha
de 20 ha de 50 ha de 100
ha
Chapecó 1996 12,04 20,71 29,69 14,72 15,41
2002/03 44,16 22,78 21,88 4,24 2,9
*
Águas de 1996 19,94 31,34 28,31 10,24 10,17
Chapecó 2002/03 43,85 38,38 14,78 2,48 0,49
Pinhalzinho 1996 17,75 39,9 30,75 6,19 5,42
2002/03 39,57 45,65 17,1 1,88 0,43
Guatambu 1996 7,73 16,4 24,79 12,76 22,54
2002/03 37,02 25,45 29,09 4,95 3,47
União do Oeste 1996 19,95 31,34 28,31 10,24 10,18
2002/03 35,56 29,83 31,74 2,38 0,47
Cordilheira Alta 1996 14,45 37,21 42,29 6,05 -
2002/03 34,47 44,21 19,47 1,57 0,26
Caxambu do Sul 1996 15,38 34,9 39,39 7,46 2,88
2002/03 33,77 34,1 26,99 4,3 0,82 7+
Águas Frias 1996 17,34 27,04 37,06 15,57 2,99
2002/03 33,46 57,21 16,73 1,83 0,2
Sul Brasil 1996 13,25 39,22 30,05 12,45 -
2002/03 31,62 41,69 22,33 3,16 1,18
Quilombo 1996 10,12 29,25 42,54 11,34 6,75
2002/03 30,84 35,52 29,98 3,29 0,34 10 +
Nova Itaberaba 1996 16,15 33,21 39,15 9,7 1,79
2002/03 30,69 35,25 31,63 2,01 0,4
Irati 1996 11,71 26,15 42,09 18,07 1,99
2002/03 30,13 39,2 24,26 5,6 0,8
Planalto Alegre 1996 19,54 41,65 30,43 8,36 -
2002/03 29,65 32,55 34,88 2,61 0,29
São Carlos 1996 19,51 46,62 29,97 3,34 0,55
2002/03 29,35 48 20,59 1,82 0,22
Coronel Freitas 1996 11,5 29,45 43,06 8,57 7,42
2002/03 25,42 38,65 30,43 4,53 0,94
Nova Erechim 1996 13,35 40,77 40,05 5,83 -
2002/03 24,91 46,92 25,56 2,58 0
Serra Alta 1996 13 37,83 38,81 7,16 3,2
2002/03 22,42 45,32 28,5 2,57 1,16
Formosa do Sul 1996 7,85 27,46 45,33 12,21 7,15
2002/03 19,08 39,24 33,33 7,79 0,53
Jardinópolis 1996 8,05 26,22 44,99 18,59 2,14
2002/03 17,04 38,25 38,25 5,68 0,75
Santiago do Sul 1996 15,98 36,65 36,77 9,62 0,98
2002/03 16,87 37,86 34,15 8,23 2,88
AMOSC 1996 14,22 32,66 36,19 10,42 5,07
2002/03 30,49 38,8 26,58 3,68 0,93
Santa Catarina 1996 5,52 12,67 22,4 12,27 47,14
2002/03 29,57 31,69 28,18 6,36 4,17

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Fonte: IBGE – Censo Agropecuário, 1996. Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento
Rural. Levantamento Agropecuário de Santa Catarina, 2002-2003.
Algumas tabelas estão indicadas com duas setas, uma demarcando os 07 e outra os 10
* municípios que apresentam os indicadores mais desfavoráveis no quesito analisado por cada
uma. Será possível observar que há um conjunto de municípios que, na maioria dos casos , se
situa neste grupo com indicadores desfavoráveis.

Na Tabela 02 se verifica que há municípios com percentuais elevados de


propriedades com menos de 10 ou entre 10 e 20 ha. A grande maioria dos municípios da
região apresenta a maior concentração de suas propriedades rurais com até 50 ha de terra,
o que denota uma agricultura familiar de pequenas a médias propriedades. Observa-se
entre 1996 e 2002/3 um aumento do percentual de estabelecimentos até 10 ha, bem como
uma elevação ou manutenção dos estabelecimentos entre 10 e 20 ha e entre 20 e 50 ha,
denotando um processo de ‘minifundização’ das propriedades da região. Como seu relevo é
pouco permissivo à agricultura anual, muitas propriedades, mesmo com uma quantidade
maior de terras, têm muitas restrições a seu uso.
Como a região de estudo é predominantemente rural, grande parte da população,
principalmente a jovem, tem saído em busca de melhores condições socioeconômicas no
meio urbano (SILVESTRO et al, 2001). A posse de maior quantidade de terra, se favorável
à agropecuária, permite ampliar e/ou qualificar as atividades produtivas, gerar renda e
aceder a outros serviços e recursos. Quando este caminho é limitado pela limitada posse de
terra, o acesso a serviços como educação, saúde, transporte, comunicação, etc, só se fará
possível mediante sua oferta pública. Os agricultores mais pobres muitas vezes sequer
dispõem de título de propriedade da terra e, quando o possuem, além de sua quantidade
ser pouca, sua qualidade é inferior, seja em relevo ou em fertilidade. Suas necessidades
passam por melhor acesso à terra e por um atendimento de crédito diferente daquele que
os crédito oficiais têm proporcionado, mesmo o Pronaf (Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar).
Em estudos realizados por Silvestro et al (2001), sobre a diferenciação social e
econômica dos agricultores do Oeste Catarinense, utiliza-se uma estratificação em
diferentes níveis de renda: agricultores capitalizados, em transição e descapitalizados. Os
autores identificaram para a região que 42% dos estabelecimentos agrícolas oportunizam
uma renda inferior a um salário mínimo por mês, por pessoa ocupada, definindo-os como
descapitalizados. Outros 13% dos estabelecimentos eles definiram como capitalizados e
29% como em transição.
Outro segmento que enfrenta dificuldades de acesso à terra são as comunidades
indígenas. Atualmente, na região estudada existem três reservas indígenas, sendo elas
Toldo Chimbangue I, com conclusão da demarcação em 1994; o Toldo Chimbangue II
declarada em 2002, homologada em 2006, que atualmente aguarda o registro; e a Aldeia

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Kondá, que está assentada desde 2001, entretanto aguarda o decreto para oficializar a
reserva indígena (Tabela 03). Segundo o Conselho Missionário Indigenista (CIMI) há mais
indígenas na região para além dos assentados, porém sem dados de sua quantidade e
distribuição.

Tabela 03: Terras indígenas jurisdicionadas para AER Chapecó, 2007.


Terra Distân Aldeias Populaçã Nº de Município Sociedade Superfície
Indígena cia da o Famílias em há
AER*
Chimbangue 17 km - 377 26 Chapecó Kaingang 988,66
Chimbangue 15 km - 78 64 Chapecó Kaingang 975,00
II
Kondá 15 km Praia Bonita 140 76 Chapecó 2.300,23
Gramadinho 280 22
TOTAL 875 188 4.263,89
(*) AER: Administradores Executivos Regionais
Fonte: FUNAI – Fundação Nacional do Índio. Elaboração dos autores.

Para além dos indígenas que ainda não tiveram uma área de terra demarcada,
mesmo os que já possuem terra vivem, no geral, uma situação de vulnerabilidade
sócio-econômica. Isto porque a demarcação de suas terras é recente, a partir de 1994,
sendo que, algumas ainda permanecem em processo de regularização e durante longo
período, apesar de serem os habitantes originais deste vasto território regional, viviam
dispersos em áreas urbanas e com condições de vida muito limitadas. Seu afastamento da
terra por gerações limitada seu conhecimento atual em retirar seu próprio sustento e gerar
renda da terra.
Outra questão relacionada ao acesso à terra é o caso dos atingidos por barragens,
dado importante de ser analisado para esta região. Apenas para citar um exemplo, a
barragem da Foz do Chapecó está sendo construída entre os municípios de Águas de
Chapecó/SC e Alpestre/RS, e vai atingir 15 municípios em Santa Catarina e no Rio Grande
do Sul. Segundo informações do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), vai
deslocar mais de 3 mil famílias, sendo que, 300 delas já tiveram os direitos negados pelas
empresas, ficando sem terra. Isto acontece devido às famílias de pescadores, que moram
as margens do Rio Uruguai, não serem reconhecidas pelas empresas como atingidas pelas
obras. As mesmas vão ficar com sua atividade de pesca comprometida.
Para territórios rurais, dificilmente a desigualdade e a vulnerabilidade
socioeconômica estarão desligadas da distribuição de terra. A própria existência, na região,
de movimentos sociais preocupados com esta questão, já é um indicador da relevância
deste tema, o qual, muitos atores institucionais sequer discutem. O MST, o MAB, assim

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como o Movimento Indígena se organizam em prol da demarcação de suas terras, sendo
expressão da luta destes grupos sociais pelo acesso a este recurso básico que é a terra. Os
FDR estudados, por sua vez, quando se referem à questão da terra é para manifestar o
direito dos que já a possuem e destes especialmente os já capitalizados. Caso exemplar é o
debate feito junto a um dos FDR observados, o CDR da SDR Chapecó, que em reuniões
que trataram deste tema se posicionaram claramente em favor dos agricultores e não dos
indígenas.

3.2. O acesso à educação como indicador social

O acesso à educação de qualidade faz parte dos direitos do cidadão e está


previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos. No Brasil, no entanto, ainda há
analfabetismo, o que também se evidencia no Oeste Catarinense. Na Tabela 04 se
apresenta os anos de estudo do responsável pelo domicílio dos habitantes da região. Ali se
destaca a quantidade de chefes de família dos municípios de Caxambu do Sul, Pinhalzinho,
Chapecó e Coronel Freitas que estão na categoria sem instrução e com menos de um ano
de instrução. Destaca-se também, os mais baixos índices de escolaridade nas áreas rurais
que nas urbanas.

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Tabela 04: Pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes por situação e
anos de estudo (%) - 2000.
Situação do domicílio X Grupos de anos de estudo
Urbana Rural Total
Unidade da Federação Sem Sem Sem
e Município instrução Até 4 instrução Até 4 instrução Até 4
e menos anos e menos anos e menos anos
de 1 ano de 1 ano de 1 ano
Guatambu 3,51 9,31 13,80 43,51 17,31 83,93
Caxambu do Sul 7,53 19,97 6,95 35,74 14,47 77,13
Planalto Alegre 2,52 15,45 10,73 45,43 13,25 84,86
Santiago do Sul 5,07 15,70 7,97 46,13 13,04 82,84
Irati 0,90 11,17 11,89 53,16 12,79 89,01
União do Oeste 2,12 15,67 10,25 46,42 12,37 84,71
Coronel Freitas 5,45 20,02 6,27 34,40 11,73 72,42 7+
Jardinópolis 5,01 20,64 5,61 37,88 10,62 74,75
Sul Brasil 3,45 14,08 6,78 51,67 10,23 82,76
Nova Itaberaba 0,47 5,61 9,64 56,97 10,10 82,32 10+
Quilombo 4,54 21,18 5,08 37,75 9,62 73,63
Águas de Chapecó 3,96 20,46 5,63 41,56 9,59 77,24
Cordilheira Alta 0,39 3,85 7,32 56,22 7,70 75,09
Pinhalzinho 6,10 33,07 1,20 16,52 7,30 58,09
Chapecó 5,65 30,09 1,29 4,04 6,93 42,35
Nova Erechim 3,53 25,00 3,31 28,85 6,84 64,00
Águas Frias 0,76 9,94 5,96 52,45 6,73 75,08
Formosa do Sul 3,06 18,49 3,35 47,75 6,40 75,99
Serra Alta 1,45 23,13 3,98 44,46 5,42 76,99
São Carlos 3,60 28,80 1,33 27,36 4,93 62,42
AMOSC 3,45 18,08 6,42 40,41 9,87 74,78
Santa Catarina 4,17 30,34 1,86 13,19 6,03 43,51
Brasil 10,27 28,39 5,90 8,00 16,17 36,39
Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2000.

A educação é fator-chave para superar vulnerabilidades sócio-econômicas.


Verifica-se pela Tabela 04 que no ano de 2000, quando do último senso do IBGE, havia
ainda um grande número de pessoas com baixa educação até a 4ª serie, em toda a região.
A taxa de alfabetização de adultos corresponde ao percentual de pessoas acima
de 15 anos de idade que sabem ler e escrever, indicador componente do IDH-E. Estes
dados, para a região são apresentados na Tabela 05.

12
Tabela 05: Taxa de Alfabetização (%) – 1991 e 2000.
Município, Federação e País 1991 2000
Guatambu 80,46 82,65
Irati 80,82 84,21
Caxambu do Sul 81,59 85,1
Nova Itaberaba 81,85 85,31
Águas de Chapecó 83,39 85,7
Planalto Alegre 78,19 86,13
Santiago do Sul 80,65 86,95 7+
Sul Brasil 81,58 87,35
União do Oeste 86,38 87,42
Formosa do Sul 83,58 88,57 10 +
Coronel Freitas 83,99 89,11
Quilombo 81,23 89,11
Cordilheira Alta 86,76 89,27
Serra Alta 87,25 90,1
Jardinópolis 83,14 90,3
Águas Frias 84,49 90,57
Nova Erechim 89,38 91,84
Pinhalzinho 88,91 92,22
São Carlos 90,91 92,58
Chapecó 89,18 92,89
Santa Catarina 88,5 92,6
Brasil 79,93 86,37
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – PNUD (1991-2000).

Outro indicador componente do IDH-E é a taxa bruta de freqüência à escola, que é


a razão entre o número total de matrículas de pessoas de todas as faixas etárias que
freqüentam o ensino fundamental, o médio e o superior e a população de 7 a 22 anos. Na
Tabela 06, no ano de 1991, Irati é o município com a menor taxa (45,96%). Para o ano de
2000 sua taxa aumenta significativamente para 82,49%. O mesmo acontece com Sul Brasil,
grande evolução de 1991 para o ano de 2000. Chapecó se mantém nos dois anos com o
maior índice em relação aos demais municípios, apresentando em 2000, uma taxa de
97,09%. Além disto, se observa que há municípios que evidenciam um esforço de melhorar
sua oferta educacional, já que em 2000 vários deles estavam acima da média estadual,
enquanto em 1991, isto acontecia apenas em Chapecó. Apesar de a matrícula não significar
qualidade de oferta educacional, ela revela um esforço de vários municípios de garantir o
acesso à educação por maior número de habitantes.

13
Tabela 06: Taxa bruta de freqüência à escola (%) – 1991 e 2000.
Município e Federação 1991 2000
Santiago do Sul 50,22 81,01
Águas de Chapecó 57,46 81,98
Sul Brasil 49,74 82,17
Irati 45,96 82,49
União do Oeste 54,71 83,33
Formosa do Sul 52,57 83,87
Quilombo 60,56 83,99 7+
Nova Itaberaba 50,04 84
São Carlos 59,7 84,89
Caxambu do Sul 59,04 85,13 10+
Nova Erechim 61,41 85,64
Jardinópolis 53,14 86,3
Coronel Freitas 54,56 87,86
Cordilheira Alta 54,95 87,9
Serra Alta 54,75 88,28
Planalto Alegre 52,16 89,37
Águas Frias 54,78 89,79
Pinhalzinho 59,36 89,83
Guatambu 55,11 90
Chapecó 63,86 97,09
Santa Catarina 62,17 84,36
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil – PNUD (1991-2000).

3.3. Habitação e saneamento básico.

Habitação e saneamento básico são importantes aspectos para identificar os


segmentos sociais mais vulneráveis, pois tais condições possibilitam compreender algumas
dificuldades enfrentadas pelos mesmos, as quais estão diretamente ligadas a condições
dignas de vida. Na Tabela 07 está apresentada a média de moradores por domicílio nos
anos 1991 e 2000, podendo ser um indicador de vulnerabilidade, pois um maior número de
pessoas/moradores por domicílio indica a existência de mais pessoas para as quais
precisarão buscar a satisfação de necessidades e anseios. Em 2000, os municípios que se
destacam são Santiago do Sul e União do Oeste. Observa-se entre 1991 e 2002 uma
significativa redução do nº de moradores por domicílio, seguindo uma tendência do estado e
do país.

14
Tabela 07: Média de moradores por domicílio (pessoas) – 1991 e 2000.
Unidade da Federação e Ano
Município 1991 2000
Santiago do Sul *- 4,08
Jardinópolis *- 3,97
União do Oeste 4,55 3,96
Cordilheira Alta *- 3,95
Irati *- 3,95
Coronel Freitas 4,45 3,91
Formosa do Sul *- 3,91 7+
Quilombo 4,38 3,91
Serra Alta 4,48 3,9
Sul Brasil *- 3,88 10 +
Nova Itaberaba *- 3,86
Planalto Alegre *- 3,86
Águas Frias *- 3,83
Caxambu do Sul 4,4 3,8
Guatambu *- 3,74
Nova Erechim 4,22 3,71
Pinhalzinho 4,16 3,6
São Carlos 4,27 3,52
Águas de Chapecó 4,26 3,65
Chapecó 4,09 3,48
Santa Catarina 4,02 3,53
Brasil 4,19 3,73
Fonte: IBGE – Censo Demográfico. * Dados não informados pelo SIDRA/IBGE.

Outro elemento central é a água que é uma necessidade básica para uma melhor
qualidade de vida. Na Tabela 08 estão os domicílios particulares permanentes com
abastecimento de água em 2000. Ali se vê que há alguns municípios com baixo
fornecimento de água através de rede pública de fornecimento, sendo que em grande
medida muitos dos que apresentam baixos indicadores para outros quesitos também
aparecem aqui nesta condição.

15
Tabela 08: Domicílios particulares por situação e abastecimento de água (%) - 2000.
Forma de abastecimento de água
Brasil, Unidade da
Poço ou
Federação e Outra
Rede geral nascente (na
Município forma
propriedade)
Nova Itaberaba 4,12 58,09 37,79
Sul Brasil 24,42 72,25 3,32
Formosa do Sul 24,6 68,56 6,84
Guatambu 25,22 73,63 1,14
Águas Frias 30,89 67,89 1,22
União do Oeste 35,1 63,49 1,41
Planalto Alegre 35,8 63,88 0,32 7+
Águas de Chapecó 36,45 59,27 4,28
Serra Alta 38,19 49,16 12,65
Jardinópolis 40,08 59,52 0,4 10 +
Irati 41,8 55,5 2,7
Caxambu do Sul 43,13 55,72 1,16
Quilombo 45,9 51,57 2,52
Cordilheira Alta 48,01 51,22 0,77
Santiago do Sul 50,24 49,76 -
Coronel Freitas 55,08 41,75 3,17
São Carlos 57,03 42,59 0,38
Pinhalzinho 68,83 30,56 0,61
Nova Erechim 73,4 24,79 1,82
Chapecó 82,59 15,16 2,24
Santa Catarina 74,56 22,99 2,45
Brasil 77,82 15,58 6,61
Fonte: IGBE – Censo Demográfico 2000.

Quando verificadas as pessoas que vivem em domicílios com banheiro, água


encanada, energia elétrica, geladeira e serviço de coleta de lixo (Tabela 09), se percebe que
o quesito saneamento básico ainda é uma das maiores dificuldades encontradas nos
municípios da região.

16
Tabela 09: Percentual de pessoas que vivem em domicílios com banheiro e água encanada,
energia e geladeira e com serviço de coleta de lixo – 1991 e 2000.
Domicílios
Banheiro e Energia
urbanos com
água elétrica e
Municípios e Federação serviços de
encanada geladeira
coleta de lixo
1991 2000 1991 2000 1991 2000
Sul Brasil 57,34 61,77 71,49 88 3,87 73,88
Irati 21,89 65,97 46,56 87,82 1,02 84,51
Santiago do Sul 43,69 67,38 69,15 89,71 6,99 47,6
Formosa do Sul 43,18 68,12 77,75 87,92 4,77 85,14
Nova Itaberaba 60,53 69,96 78,25 92,39 5,89 88,58
Planalto Alegre 47,43 71,2 64 90,32 3,7 92,26
Serra Alta 47,92 71,3 79,84 96,11 60,3 94,64 7+
Guatambu 61,94 72,74 75,06 80,49 4,05 90,65
Águas de Chapecó 59,59 74,53 73,83 89,92 37,03 88,34
Águas Frias 44,92 74,68 80,47 88,23 4,34 93,16 10 +
Caxambu do Sul 61,12 75,48 74,17 85,35 57,3 84,43
Jardinópolis 32,3 78,63 70,16 91,69 .. 88,8
União do Oeste 49,46 79,3 77,37 92,68 25,9 89,92
Quilombo 51,56 81,81 71,31 89,83 35,44 85,48
São Carlos 77,29 85,49 86,67 95,68 62,92 89,15
Cordilheira Alta 68,12 87,45 87,02 98,11 71,57 96,77
Coronel Freitas 65,6 88,06 85,35 94,89 62,93 93,9
Chapecó 79,83 92,54 83,11 93,69 89,29 96,8
Pinhalzinho 77,11 94,48 85,01 95,05 73,98 94,25
Nova Erechim 78,1 95,78 87,31 97,45 52,49 96,29
Santa Catarina 79,96 91,73 87,09 95,78 83,55 96,88
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (1991-2000) – PNUD.

Silvestro et al (2001), tratando das moradias dos agricultores familiares da região,


comenta que elas são pequenas, com aproximadamente 50m2, a maioria de madeira, já
comprometidas pela ação do tempo. A divisão interna é geralmente composta por uma
cozinha, uma pequena sala e um ou dois quartos, divididos por cortinas de pano. O
banheiro dificilmente se encontra na parte interna da casa, devido a ausência de instalações
adequadas na propriedade. Também as águas utilizadas não têm seu destino correto, ou
seja, falta saneamento básico. Apesar de já haver uma política nacional de apoio à
construção e reforma de casas rurais, se têm verificado que muitas vezes as famílias que
mais necessitariam não conseguem acessar créditos para habitação face às exigências
bancárias e às contrapartidas exigidas pelo programa do Governo Federal. No caso dos 03

17
FDR estudados, apenas no CDR/SDR se verifica alguma iniciativa de tratar destas questões
de habitação e saneamento básico (SDR/Chapecó, 2008).

3.4. Saúde e vulnerabilidade social.

A vulnerabilidade está diretamente ligada ao acesso à saúde, direito universal do


cidadão. Na Tabela 10 é apresentado à mortalidade infantil até um ano e até cinco anos, em
1991 e 2000. Pode-se perceber que a mortalidade infantil até um ano de idade é elevada no
município de Caxambu do Sul, assim como em outros municípios que apresentam
resultados problemáticos também para outros dados já mostrados.

Tabela 10: Mortalidade infantil até um ano e cinco anos de idade – 1991 e 2000.
Até 1 ano de Até 5 anos de
idade idade
Município e Federação 1991 2000 1991 2000
Caxambu do Sul 39,13 31,71 39,56 31,73
Nova Itaberaba 32,72 26,47 33,08 26,48
Guatambú 39,13 24,7 39,56 24,71
São Carlos 28,15 23,37 28,47 23,39
Jardinópolis 28,15 21,8 28,47 21,81
Águas Frias 23,91 20,3 24,17 20,31
Nova Erechim 23,91 18,64 24,17 18,65 7+
Águas de Chapecó 30,41 18,63 30,75 18,64
Formosa do Sul 18,51 14,06 18,72 14,07
Quilombo 22,3 14,06 22,55 14,07 10 +
Santiago do Sul 18,88 14,06 19,09 14,07
Sul Brasil 18,88 14,06 19,09 14,07
Chapecó 17,38 11,01 17,57 11,02
Cordilheira Alta 18,51 11,01 18,72 11,02
Coronel Freitas 18,51 11,01 18,72 11,02
Irati 18,51 11,01 18,72 11,02
Pinhalzinho 23,91 11,01 24,17 11,02
Serra Alta 18,51 11,01 18,72 11,02
União do Oeste 18,51 11,01 18,72 11,02
Planalto Alegre 18,51 8,24 18,72 8,25
Santa Catarina 24,84 16,79 25,11 16,8
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (1991 e 2000) – PNUD.

Os dados da tabela 10 se reforçam com as informações sobre longevidade, através


do IDH longevidade (Tabela 11).

18
19
Tabela 11: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – Longevidade (IDHM-L) – 1991 e
2000.
Município e Federação 1991 2000
Caxambu do Sul 0,675 0,718
Nova Itaberaba 0,706 0,747
Guatambu 0,675 0,757
São Carlos 0,731 0,765
Jardinópolis 0,731 0,775
Águas Frias 0,756 0,785
Águas de Chapecó 0,718 0,796 7+
Nova Erechim 0,756 0,796
Formosa do Sul 0,791 0,83
Quilombo 0,766 0,83 10 +
Santiago do Sul 0,788 0,83
Sul Brasil 0,788 0,83
Chapecó 0,799 0,855
Cordilheira Alta 0,791 0,855
Coronel Freitas 0,791 0,855
Irati 0,791 0,855
Pinhalzinho 0,756 0,855
Serra Alta 0,791 0,855
União do Oeste 0,791 0,855
Planalto Alegre 0,791 0,88
Santa Catarina 0,753 0,747
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (1991 e 2000) – PNUD.

A mortalidade infantil e a expectativa de vida, indicadores aqui escolhidos e


expressivos da condição de saúde/doença de uma população, exigem ações complexas e
diversas para se tornarem positivos. Os FDR da região, quando tratam do tema, no geral o
fazem em termos da ampliação da oferta hospitalar.

3.5. Renda e vulnerabilidade social

A renda é um fator central para definir graus de vulnerabilidade socioeconômica,


afinal, na existência de renda consistente as pessoas podem estar menos dependentes de
transferências governamentais e mesmo de alguns serviços públicos.

20
Tabela 12: Percentual da renda proveniente de rendimentos do trabalho, de transferências
governamentais e renda per capita – 1991 e 2000.
Percentual da Percentual da
renda proveniente renda proveniente Renda per Capita
Municípios de rendimentos do de transferências (mensal)
trabalho governamentais
1991 2000 1991 2000 1991 2000
Guatambu 88,39 67,43 5,59 14,04 106,09 145,53
Jardinópolis 90,28 75,79 3,76 14,07 133,5 163,26
Sul Brasil 82,44 71,13 4,15 14,47 87,2 166,92
Irati 84,57 71,26 4,55 12 85,43 167,98
Santiago do Sul 88,95 71,59 4,66 13,65 103,04 175,19
Caxambu do Sul 85,79 70,73 8,43 14,16 94,59 186
Serra Alta 89,84 76,88 4,73 11,94 110,59 227,31 7+
Nova Itaberaba 85,29 72,84 5,22 11,43 131,29 231,3
Formosa do Sul 86,89 68,05 4,15 12,1 86,87 238,11
Coronel Freitas 90,15 69,78 5,8 12,48 139,72 243,86 10 +
Planalto Alegre 86,48 67,03 7,44 11,04 131,07 257,73
Quilombo 84,31 74,99 6,76 14,05 130,38 260,88
Águas de Chapecó 86,4 74,7 7,42 13,7 105,11 262,02
União do Oeste 89,99 73,4 4,77 11,07 142,65 263,75
Pinhalzinho 87,3 74,24 6,97 13,96 194,43 271,07
Águas Frias 89,74 73,5 4,4 11,13 113,86 271,11
Cordilheira Alta 88,08 75,15 5,61 10,47 132,67 315,96
Nova Erechim 86,28 73,18 6,09 11,46 168,18 318,05
Chapecó 88,83 76,94 5,77 11,1 223,77 341,64
São Carlos 75,12 70,96 7,62 14,55 159,5 389,92
AMOSC 86,76 72,48 5,69 12,64 129,00 244,88
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (1991 e 2000) – PNUD.

A Tabela 12 está organizada com um ranking da menor renda per capita para a
maior, considerando o ano de 2000. Nela novamente se evidencia alguns municípios
liderando o ranking. Isto é visível também na coluna percentual de renda proveniente de
rendimento do trabalho, onde se observa para todos os municípios um decréscimo desta
renda entre 1991 e 2000, com um crescimento da renda proveniente de transferências
governamentais. Como os dados desta tabela vão até o ano de 2000, ressalta-se que
programa de transferência de renda governamental como o Bolsa Família não está ali
incluído.
Outro indicador de transferência governamental é o programa Bolsa Família (PBF), é
um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de
pobreza (com renda mensal por pessoa de R$ 60,01 a R$ 120,00) e extrema pobreza (com
renda mensal por pessoa de até R$ 60,00). Conhecer a distribuição dos beneficiários deste
21
programa permite conhecer a distribuição territorial da vulnerabilidade socioeconômica, a
partir da renda familiar. Além disto, é um programa para o qual se tem dados atuais, o que
permite maior precisão de análise quando comparado a dados produzidos a partir do último
senso do IBGE (2000).
Na região de estudo, fez-se uma relação do número de beneficiados pelo
Programa Bolsa Família referente à folha de pagamento 10/2007, com a população de cada
município. Isto permitiu identificar, para além do número de beneficiários, qual a sua
proporção em relação à população total do município. Foi possível perceber que o município
que recebe mais benefícios é Sul Brasil, com 21% da população, seguido de Santiago do
Sul com 16% (Tabela 13). Usando este indicador se reforça a percepção de que há um
grupo de municípios que concentra as principais condições de vulnerabilidade
socioeconômica.

Tabela 13: Relação número de beneficiados pelo programa Bolsa Família pela população
total do município, referente a 10/2007.
nº pessoas
População nº pessoas beneficiadas*/ nº
Municípios (1) beneficiadas (2) população
Sul Brasil 3061 639 21%
Santiago do Sul 1450 232 16%
União do Oeste 3058 471 15%
Guatambu 4505 688 15%
Nova Itaberaba 4117 615 15%
Formosa do Sul 2620 386 15%
Caxambu do Sul 4885 656 13% 7+
Águas de Chapecó 6086 791 13%
Irati 2025 233 12%
Jardinópolis 1851 212 11% 10 +
Serra Alta 3200 352 11%
Quilombo 10884 1180 11%
Águas Frias 2551 270 11%
Coronel Freitas 10201 913 9%
Pinhalzinho 14691 1224 8%
Planalto Alegre 2639 218 8%
Chapecó 164992 13470 8%
Nova Erechim 4118 296 7%
São Carlos 10372 726 7%
Cordilheira Alta 3361 186 6%
AMOSC 260667 23758 9%
Fonte: IBGE - Contagem da População 2007. MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
a Fome.
* Refere-se à mãe e os filhos a ela vinculados, beneficiários do Programa Bolsa Família.

22
Verificou-se nos FDR estudados, quanto ao quesito renda, um esforço em construir
projetos econômicos. No entanto, nos 03 casos se verifica que não são os grupos mais
vulneráveis os que recebem recursos financeiros para ampliar sua renda de forma
autônoma (ROVER, 2007).

3.6. O IDH como forma de avaliar a vulnerabilidade socioeconômica

A partir do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), tendo como informações


dados referentes ao período de 1991 e 2000 do Censo Demográfico é possível perceber
que todos os municípios da região Oeste de Santa Catarina tiveram um crescimento
significativo no seu IDH-M, conforme o Gráfico 01. Alguns municípios permaneceram na
faixa dos índices considerados como desenvolvimento médio e outros passaram a índices
altos. Vale dizer que os indicadores de longevidade e, especialmente, educação foram os
responsáveis pela elevação do IDH-M.

Gráfico 01: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal 1991-2000.

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – PNUD.

23
4. OS GRUPOS EM CONDIÇÕES VULNERÁVEIS, SUAS ORGANIZAÇÕES E
DEMANDAS.

Além dos dados até aqui apresentados, mais focados na distribuição territorial das
vulnerabilidades socioeconômicas, procurou-se distribuir por grupo/segmento social as
principais necessidades e demandas por eles expressas para entender a conexão entre as
condições de vulnerabilidade e as demandas destes segmentos. Neste sentido, se fez uma
aproximação com as organizações e movimentos mais diretamente ligados aos grupos que
evidenciam dificuldades de acesso a recursos e condições para o desenvolvimento. No
quadro 01 estão explicitadas as principais demandas expressas pelos documentos e por
lideranças destas organizações.

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Quadro 01: Principais demandas expressas por alguns dos segmentos sociais mais vulneráveis da região Oeste de Santa Catarina.
Segmentos
Forma de organização Principais demandas
sociais
Mulheres: Movimento das Mulheres a) Defesa da classe trabalhadora para continuidade e ampliação dos direitos previdenciários; b) Crédito
agricultoras, Camponesas (MMC). para mulheres trabalhadoras; c) Saúde pública para a mulher; d) Permanente capacitação/formação –
arrendatárias, cursos e seminários; e) Campanha pelo fim da violência contra a mulher; f) Luta pela reforma agrária; g)
ribeirinhas, Campanha de documentação; h) Organização popular - participação política da mulher na sociedade; i)
posseiras, Organização das jovens do MMC; j) Educação para mulheres jovens e adultas no campo; k) Um novo
bóias-frias, projeto popular de agricultura – defesa da semente crioula; l) Articulação com entidades, movimentos
diaristas, sociais populares; m) Mobilizações: Campanha contra a violência, exploração, discriminação e dominação
pescadoras no campo; pela Reforma agrária; contra os transgênicos e a ALCA;
artesanais, sem Fonte: Movimento das Mulheres Camponesas – MMC (2007); TONELLO (1999); CASAGRANDE, (1991);
t e r r a , STRAPAZZON (1997); POLI (1995).
assentadas.
P o v o s Conselho Indigenista Missionário a) Demarcação e registros de novas reservas indígenas; b) Preservação das reservas já garantidas
indígenas. (CIMI) perante lei; c) Elaboração de programas e projetos de re-educação ambiental, incluindo o reflorestamento;
d) Garantia de educação diferenciada em diferentes níveis aos indígenas; e) Avaliação das ações de
saúde oferecidas à população indígena; f) Fiscalização no serviço prestado aos indígenas; g)
Desenvolvimento de políticas voltadas para a auto-sustentabilidade; h) Preservação do patrimônio cultural
e fontes documentais.
Fonte: Conselho Indigenista Missionário – CIMI; Conselho Indigenista Missionário Regional Sul – Equipe
Chapecó (2002; 2007); Fundação Nacional do Índio - FUNAI (2007).
P e q u e n o s Sindicato dos Trabalhadores da a) ampliação dos direitos trabalhistas; b) Articulação dos trabalhadores em torno dos sindicatos, a fim de
A g r i c u l t o r e s Agricultura Familiar (Sintraf); fortalecer sua representatividade; c) Discussão com a sociedade a importância da Agricultura Familiar; d)
Familiares Sindicato dos Trabalhadores Ter uma prática não simplesmente assistencialista por parte dos sindicatos; e) Reduzir o êxodo rural; f)
Rurais (STR); Federação dos Elaboração de crédito rural diferenciado; g) Capacitação/formação de recursos humanos; h) Informações e
Trabalhadores da Agricultura atualização de novas tecnologias que reduzam os custos de produção; i) ações conjugadas para facilitar a
Familiar (FETRAF - Sul); comercialização de produtos; j) Saneamento básico; k) Integração das ações do PRONAF; l) Buscar novas
Associação dos Pequenos formas de recursos para projetos de apoio à agricultura familiar; m) Articular propostas do Projeto de
Agricultores do Oeste de Santa Desenvolvimento Sustentável e Solidário; n) Luta pela transformação social e Reforma agrária.
Catarina (APACO). Fonte: Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar – FETRAF Sul; SILVESTRO et alii (2005);
MANZANO (2004); POLI (1995).

F a m í l i a s Movimento dos Atingidos por a) Garantia dos direitos das famílias atingidas; b) Apoio às famílias para comprovação de propriedades,
atingidas por Barragens (MAB). através de documentos; c) Assentamento de todos os sem terras existentes na área a ser alagada,
barragens inclusive os filhos dos pequenos proprietários com terra insuficiente para todos os filhos adultos; d)
Indenização da terra e benfeitorias (em dinheiro), terra por terra na região e assentamento em área
adquirida pela empresa; e) Reassentamentos adequados com a realidade da família; f) Elaboração de
projetos e ações as famílias que permanecem à beira do rio; g) Garantia da participação popular no
planejamento de qualquer obra; h) Acesso a energia elétrica a todas as famílias, principalmente às
atingidas; i) Mobilização: reforma agrária e campanha contra os altos preços da energia elétrica; j) Fim das

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perseguições dos defensores dos direitos humanos.
Fonte: Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB (2007); UCZAI (1992); POLI (1995).
Famílias Sem Movimento dos Trabalhadores a) Elaboração de projetos para a agricultura familiar; b) Reforma agrária; c) Educação em assentamentos;
Terra Rurais Sem Terra (MST). d) Formação permanente – cursos e seminários; e) Qualidade de vida nos assentamentos;
Fonte: Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – MST (2007); POLI (1995).

Moradores de Associação de Moradoes das a) Regularização das terras; b) Acesso à água encanada e energia elétrica; c) Inserção ao mercado de
á r e a s Áreas Irregulares de Chapecó trabalho; d) Parcerias com instituições privadas e públicas;
irregulares (AMAI). Fonte: Entrevista com líderes da associação.

F a m í l i a s Programa Bolsa Família (PBF). a) Acesso à rede de serviços públicos – saúde, educação e assistência social; b) Promoção de segurança
beneficiadas alimentar e nutricional; c) Emancipação das famílias; d) Capacitação/formação profissional – geração de
por programa trabalho e renda; e) Documentação – registro civil entre outros; f) Regularização de moradias.
de transferência Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome - MDS; Sistema de Benefícios ao
de renda. Cidadão – SIBEC.

Fonte: Elaboração dos autores.

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Observa-se, no Quadro 01 que em todos os casos, mais ou menos intensamente,
aparece o tema do acesso à terra e moradia como condição básica. Em acordo com as
demandas destas organizações, se parte do pressuposto de que não há como construir
mecanismos efetivos de superação de vulnerabilidades socioeconômicas sem, como
primeiro passo, garantir acesso a condições dignas de moradia. No caso dos territórios
rurais, para além da moradia há necessidade de acesso à terra produtiva que permita às
famílias gerar renda não monetária, com a produção para o consumo próprio, bem como
renda monetária com a comercialização de sua produção. O tema do acesso à terra e de
uma reforma agrária, no entanto, sequer aparece na reflexão dos 03 FDR, à exceção do
CDR/SDR que, quando trata do assunto é para se posicionar em favor dos agricultores já
estabelecidos e contra a demanda dos povos indígenas. Outras demandas, de um ou outro
segmento, aparecem em diversas políticas elaboradas por vários governos, do federal aos
municipais, sendo que algumas delas são tratadas pelos FDR estudados (Quadro 02),
mesmo que de forma muito restrita e seletiva. A forma como são atendidas as demandas
das organizações ligadas aos segmentos mais vulneráveis da região na maioria das vezes,
no entanto, aparece isolada de uma estratégia de desenvolvimento local/regional e de uma
estratégia de superação de vulnerabilidades socioeconômicas.

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Quadro 02: Demandas dos segmentos sociais mais vulneráveis atendidas pelos FDRs estudados (2003-2007).
Demandas Tipo de Investimento FDR Para quem foi destinado
Assistência Técnica (formação) Atendimento as famílias através do Projeto Microbacias 2; CDR Pequenos agricultores.
Planejamento do desenvolvimento territorial (oficinas, CIAT
capacitação, intercâmbio, equipamentos e material
didático);
Capacitação de Recursos Humanos FMGFM
Acesso a terra e moradia Construção de casas populares; CDR
Regularização de moradias,
reservas indígenas.
Crédito rural diferenciado
Apoio ao desenvolvimento rural Subvenção de calcário e semente de milho; CDR Pequenos agricultores.
Auxílio a estiagem; CDR
Financiamento para a construção de rede de água. CDR
Construção e reforma de unidades de resfriamento de CIAT
unidades de leite;
Construção de abatedouro; CIAT
Fortalecimento de agroindústrias familiares (SC) FMGFM
Aquisição de equipamento para Agricultura Familiar FMGFM
Cana-de-açúcar (Nova Itaberaba/SC) FMGFM
Reduzir o êxodo rural Moradia rural; CDR Pequenos agricultores; Famílias
atingidas por barragens.
Comercialização de produtos da Pavilhão de Exposições (Caxambu do Sul/SC) FMGFM
agricultura familiar
Apoio a implantação de pontos de comercialização CIAT Pequenos agricultores; Famílias
(aquisição de materiais/equipamentos); sem terra;
Reforma Agrária
Geração de trabalho e renda Catadores de material reciclável; CDR Famílias beneficiadas por
programas de transferência de
renda.
Desenvolvimento do Arranjo Produtivo Local de Móveis na FMGFM
região Oeste de Santa Catarina
Apoio ao artesanato. FMGFM
Acesso a educação e saúde Transporte escolar – Ensino público; CDR
Bolsas de Estudo Art. 170 – Ensino Superior;
Reformas e construção de ginásios esportivos;

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Aquisição de aparelhos/equipamentos e veículos para a
saúde;
Custeio e manutenção de serviços de saúde.
Saneamento básico (acesso a Ampliação e melhorias de redes elétricas; CDR
água, energia, esgoto). Instalação de poço artesiano; Pequenos agricultores;
Implementação de cisterna para captação de água da CIAT Mulheres camponesas (MMC);
chuva;
Fontes: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional - SDR/CDR (2003-2008); Planos de Desenvolvimento Territorial do Oeste Catarinense -
APACO/SDT/MDA (2004-2008); DAMO (2008).

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar este trabalho, inicialmente é importante considerar que esta é uma
pesquisa em andamento, cujo principal objetivo é identificar o atendimento, por políticas de
desenvolvimento regional, das demandas dos segmentos e territórios mais vulneráveis. Até
o momento o estudo se concentrou mais intensamente no levantamento de quais os
segmentos e territórios mais vulneráveis, realizando apenas algumas incursões pela
atuação dos 03 FDR estudados. Neste sentido, ao longo de trabalho se apresentou para
quais situações se verificou que um FDR mais intensamente que outro, priorizou algumas
das temáticas elencadas neste estudo como essenciais.
A partir de indicadores disponíveis se organizou um ranking dos municípios que
estão entre aqueles com resultados menos favoráveis. Em 11 tabelas, ao longo deste
trabalho, se organizou este ranking para o qual se apresenta, na tabela 14, os municípios
que estão entre os que mais aparecem na ordenação de vulnerabilidade social proposta.

Tabela 14: Municípios que aparecem com mais freqüência nas tabelas apresentadas.
Município Guatambu S u l N o v a Formosa Águas Caxambu Santiago União Irati
Brasil Itaberaba do Sul d e do Sul d o
Chapecó Oeste
Ocorrência 9 9 9 9 8 8 7 7 7
nas tabelas

Na tabela 14 estão os municípios que apareceram entre os 10 mais vulneráveis para


um indicador escolhido em cada tabela na qual foi feito o ranking. Eles são parte de uma
lista de municípios que deveria ser prioritária em políticas integradas visando superar
indicadores de vulnerabilidade social.
Outro caminho que se trilhou neste trabalho foi levantar informações sobre os
segmentos socioeconomicamente mais vulneráveis, suas organizações e suas demandas.
Conforme visto, há um conjunto de organizações que representam ou falam em nome de
alguns destes segmentos. Suas principais demandas foram apresentadas, porém, também
foi possível perceber que sua participação nos FDR estudados é restrita, especialmente no
FMGFM e no CDR. A não participação de organizações e movimentos sociais nos FDR
estudados tem levado à exclusão de suas demandas da pauta de prioridades destes fóruns,
inverso do que é possível ver na CIAT onde algumas destas organizações têm assento.

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