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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

TEORIA DA GEOGRAFIA CRÍTICA EM UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA

Análise crítica do livro “Geografia e Movimentos Sociais: Dos primeiros estudos à


abordagem socioterritorial” de Nelson Rodrigo Pedon - Apontamentos para o estudo
dos movimentos sociais em uma perspectiva geográfica.

ANDRÉ FERNANDES DE CALDAS

Porto Alegre, 2022


Introdução

Os estudos sobre os movimentos sociais acompanharam o crescimento da


chamada Geografia Crítica no Brasil. A crescente abordagem do método materialista-
dialético de cunho marxista, a partir da década de 70, foi fundamental para que alguns
geógrafos começassem a elaborar estudos com enfoque nas lutas sociais urbanas e
do campo. No entanto, apesar desse “despertar” para o tema, muito ainda há de se
discutir a respeito do papel da geografia nos estudos dos movimentos sociais. São
várias as problemáticas a serem encaradas, a começar pelo que se entende por
movimento social.

Dentro das ciências sociais em geral, o termo movimento social é bastante


controverso. São várias as abordagens conceituais e teóricas que dividem
pesquisadores das mais diversas correntes de pensamento e que se desdobram sobre
questões fundamentais como as relações entre protagonistas e antagonistas; objetivos
e agendas; posicionamentos ideológicos; pautas de reinvindicações; métodos
organizativos etc. Tudo isso leva a reflexões a respeito dos inúmeros métodos de
classificação dos movimentos sociais. Qual seria a diferença entre movimento social,
luta de classe, revolta popular, por exemplo?

Esse panorama torna-se ainda mais intrigante para os geógrafos que se


propõem a estudar o tema, pois não só teriam de se debruçar sobre essas questões
apontadas, com ainda teriam de lidar com os desafios de compreender o papel da
Geografia dentro das teorias dos movimentos sociais e quais os arcabouços
conceituais que nós geógrafos podemos usar para enriquecer ainda mais o debate.
Esse é um desafio epistemológico que nos traz à velha reflexão a respeito do papel da
Geografia frente às demais ciências sociais.

Este artigo se propõe a fazer uma breve análise do papel da Geografia nos
estudos dos Movimentos Sociais e compreende-se que ao fazê-lo, contextualizar-se-á
essa relação dentro de uma perspectiva histórica das teorias da Geografia Crítica.
Para isso, será utilizado com obra de referência o livro de Nelson Rodrigo Pedon,
publicado em 2013 pela editora da Universidade Estadual Paulista (UNESP) sob o
título Geografia e Movimentos Sociais: dos primeiros estudos à abordagem
socioterritorial. Na medida em que se fará uma sistematização do livro, serão feitas
também, comparações com obras de outros autores e avaliações críticas de seu
conteúdo. Utilizaremos também a divisão em itens baseada em Santos (2006) e sua
sistematização dos estudos sobre os movimentos sociais. O autor sistematiza em três
tendências de matrizes e orientações teóricas diferentes, mas que produziram leituras
dos movimentos sociais parecidas. “O fio condutor não é a filiação ou a orientação
teórica de cada autor, mas sim, a imagem espacial produzida como fruto da assunção
dos movimentos sociais como objeto ou como motivador da sua reflexão” (SANTOS,
2006, p.31 apud. PEDON, 2013, p. 155). Essas três tendências foram nomeadas pelo
autor da seguinte forma:

 Geografia da organização dos movimentos sociais – Estudos de caráter


mais empírico e descritivo das formas de organização dos movimentos
e o mapeamento de suas estruturas. Suas configurações espaciais
seguem uma lógica analítica parecida com os recortes político-
administrativos, como por exemplo os bairros e como os movimentos
sociais se organizam nesta escala frente ao Estado.

 Geografia das lutas sociais – Mobilizações sociais são tidas como


recurso analítico para a identificação das espacialidades dos conflitos e
das lutas sociais. A espacialidade é tida como substrato das relações
sociais de dominação.

 Geo-grafias das lutas sociais – Teorização, esquemas explicativos e


conceitos que definem movimentos sociais como um conceito
geográfico. Os movimentos sociais em sua prática possuem um
potencial de gerar e formar alternativas de apropriação do espaço na
sua busca por territorializar-se diante de um quadro de confronto social.
O espaço é então produzido/reproduzido por essas contradições

Estudos Pioneiros

De forma geral, podemos afirmar que o início dos estudos sobre os


movimentos sociais coincidiu com a chegada também do marxismo na geografia. Nas
demais ciências sociais, segundo Gohn (1985), foi na década de 60 e 70 que as
pesquisas que serviram como fundamentação teórica para os geógrafos começaram a
surgir principalmente através da análise da atuação dos movimentos sindicais.
Em 1963 e em 1965 respectivamente, Manoel Correia de Andrade e Josué de
Castro publicam os livros A terra e o homem no Nordeste e Sete palmos de terra e um
caixão, obras precursoras dos estudos dos movimentos sociais na Geografia. Nestes
trabalhos, os autores apontam o surgimento das Ligas Campesinas como movimento
organizado em resposta à concentração fundiária, defendendo a necessidade de
efetuar a reforma agrária para a mudança do perfil agrário brasileiro. Mesmo que de
forma um tanto descritiva e sem abordar com profundidade os detalhes da
organização e ação das ligas, os autores discorrem a cerca dos fatores histórico-
geográfico e da estrutura agrária que sustentam as desigualdades sociais da região
nordestina.

De certa forma, esses geógrafos foram responsáveis por trazer alguns


aspectos fundamentais que fazem parte dos estudos sobre movimentos sociais na
geografia brasileira, como a contextualização espacial e social da luta dos movimentos
populares, questionamentos a cerca de seus objetivos e sua formação ideológica e
sua relação com a formação socioespacial numa perspectiva historicista.

Com a consolidação do materialismo dialético marxista na geografia, cria-se o


instrumental teórico necessário para compreender as desigualdades e injustiças
sociais resultantes da divisão social do trabalho e sua consequente divisão da
sociedade em classes. A organização espacial da sociedade passa ser vista não só
como um reflexo da sociedade, mas condição para a reprodução das relações sociais.
O conceito de território entendido como expressão espacial da luta de classes é
definido então, a partir das relações de poder ensejadas pelo conflito permanente
entre capital e trabalho. Assim como para as demais ciências sociais, os movimentos
sociais passam a ser interpretados sob a ótica do marxismo em suas mais diversas
correntes. Na Geografia não será diferente.

Geografia dos Movimentos Sociais

Cabe ressaltar que mesmo nessa crescente onda da geografia crítica, os


movimentos sociais demoraram a receber destaque enquanto tema se comparados à
quantidade de estudos elaborados sobre urbanização, agricultura, análise regional e
planejamento econômico. No entanto, destacam-se, mesmo em menor quantidade,
estudos focados nos movimentos sindicais, movimentos campesinos, movimentos
urbanos e setoriais desenvolvidos (mesmo que tardiamente) na década de 80.
Durante esse período, muitos estudos de caso foram elaborados tendo os
movimentos sociais como fundamento de suas análises, no entanto, são poucos os
que realmente se empenharam a elaborar uma teoria geográfica dos movimentos
sociais. No livro Geografia e Movimentos Sociais (2013), Nelson Rodrigo Pedon faz
um levantamento muito interessante dos artigos escritos em dois periódicos de
Geografia publicados no Brasil que possuem os movimentos sociais como objeto
principal desde a década de 60 e 70: o Boletim Paulista de Geografia (BPG) da
Associação dos Geógrafos do Brasil e a Revista Brasileira de Geografia, organizada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; no entanto, de acordo com o autor,
não foram encontrados nos periódicos, artigos relacionados ao tema. Grande parte
destes se relacionam a conteúdos de tendência neopositivista.

Duas revistas de importância nacional foram consultadas para o levantamento


de artigos na década de 80: o Boletim Paulista de Geografia (BPG) e a revista Terra
Livre, assim como livros publicados que abordam especificamente os movimentos
sociais, parte deles frutos de pesquisas acadêmicas de pós-graduação.

Foram apontados na obra de Pedon (2013), o artigo de Myrna T. Rego Viana -


Algumas reflexões sobre a luta pela terra nas cidades – no nº 57 da BPG de 1980 (tido
pelo autor como pioneiro na abordagem do tema em um periódico de geografia) e o
artigo Movimentos Sociais Urbanos: Algumas reflexões de Ana Clara Torres Ribeiro
presente no livro organizado por Ruy Moreira - Geografia: teoria e crítica – também
publicado em 1980; como obras que analisam os movimentos sociais urbanos sob
uma perspectiva estruturalista.

Em seguida, em 1984 e em 1985, os artigos de Ariovaldo Ubelino de Oliveira -


Aos trabalhadores nem o bagaço ou a revolta dos trabalhadores dos canaviais e
Laranjais e o de sua orientanda, Samira Peduti Kahil – a luta dos A luta dos posseiros
em Lagoa São Paulo: a dialética da construção/destruição do território para o trabalho
livre - presentes respectivamente nos n.º 60 e 62 do BPG, foram apontados como
artigos focados no estudo dos movimentos sociais no campo sob a influência do
pensamento do sociólogo José de Souza Martins.

Ainda em 1985, é publicado no nº 62 do BPG o artigo escrito por duas


sociólogas, L. A. Machado Silva e Ana Clara T. Ribeiro. Neste artigo as autoras e
baseiam no conceito de “paradigma” de Thomas Kuhn para apontar uma mudança de
paradigma, alterando a análise dos movimentos sociais urbanos até então
influenciados pelo estruturalismo com ênfase em processos econômicos, para uma
análise de natureza política. Pensadores tidos como paradigmáticos como Manuel
Castells, Jean Lojkine, José Álvaro Moisés e Francisco Weffort, utilizados pelas
autoras como referências, associam a ideia da formação dos movimentos sociais a
critérios um tanto mais subjetivos e um pouco mais amplos. É a chamada questão
urbana tornando-se fundamental para o entendimento das organizações dos
movimentos sociais que passam a ter uma diferenciação em sua constituição
rompendo com o enquadramento de luta de classes mais caro ao marxismo ortodoxo.
A institucionalização dos movimentos perde importância e sua classificação é
ampliada em termos mais gerais, englobando movimentos de caráter mais
espontâneo, autônomos e diversos. Entra em ascensão as análises baseadas em
fatores culturais e nos estudos das identidades desses movimentos e sua relação com
o consumo/produção do espaço urbano.

Boa parte dos estudos sobre os movimentos sociais urbanos na década de 80


tiveram as associações de moradores e de bairros como objeto de pesquisa. O recorte
espacial do bairro remete à espacialidade da organização social de modo direto e
simbólico. A escala do bairro traria uma dimensão mais concreta das reinvindicações
populares em diálogo direto com o Estado, e através da leitura geográfica destas
relações se teria uma compreensão melhor dos processos de segregação e
contradições socioespaciais presentes na realidade urbana. Este tipo de abordagem
está presente nos estudos de diversos autores que se debruçaram sobre os estudos
das associações como Júlia Adão Bernardes, Satiê Mizubuti e Marcelo Lopes de
Souza, este último com salvas diferenças.

Geografia das lutas sociais

Em sua tese de mestrado O que pode o ativismo de bairro? – Reflexão sobre


as limitações e potencialidades do ativismo de bairro à luz de um pensamento
autonomista (1988), Marcelo Lopes de Souza traz em sua abordagem o conceito de
autonomia extensamente trabalhado pelo filósofo e economista de origem grega,
Cornelius Castoriadis. Ao se debruçar sobre aspectos do ativismo de bairro, Souza
tece críticas a estudos que privilegiam a dimensão econômica e política da ação das
associações. Para ele, questões relativas à identidade intersubjetiva dos bairros são
essenciais para compreender os reais objetivos desses movimentos, sua coesão e
suas reivindicações. A respeito da obra de Souza (1988), Pedon (2013) esclarece:
“Souza (1998, p. 19) acredita que o Movimento de Bairro é um dos “terrenos
importantes de inserção de reflexão sobre a espacialidade e as relações
espaço/sociedade”. No Movimento de bairro, o espaço constitui um referencial direto e
decisivo ao definir territorialmente sua base social, catalisa e referencia simbólica e
politicamente o enfrentamento de uma problemática com imediata expressão espacial,
como a insuficiência dos equipamentos de consumo coletivo, problemas habitacionais,
segregação socioespacial, intervenções urbanísticas autoritárias e deterioração da
qualidade de vida na cidade”. (PEDON, 2013, p. 100).

Ainda em Pedon (2013), podemos ter uma ideia da importância do trabalho de


Souza na seguinte passagem:

“Mesmo que seu trabalho não tenha como objetivo explicito a formulação de
um conjunto teórico-conceitual pertinente à geografia para avançar nos estudos sobre
movimentos sociais, sua problematização traz à tona questões cruciais como a
natureza espacial e territorializante de determinadas manifestações sociais e sua

inserção na sociedade atual. (PEDON, 2013, p. 106).

Arlete Moysés Rodrigues em sua tese de doutorado, Na procura do lugar ao


encontro da identidade – Ocupação coletiva de terras, outro trabalho que data de
1988, a autora analisa o Movimento dos Sem-teto na Região Metropolitana de São
Paulo. Através da influência do filósofo e sociólogo Emir Sader, Rodrigues toma os
movimentos sociais urbanos como sujeitos coletivos capazes de elaborar significações
a partir das experiências e condições dadas de vida. A luta pela produção do espaço
torna-se luta social onde os esforços individuas se organizam e impõem práticas
cotidianas para a apropriação e reprodução do espaço urbano. Essa leitura de mundo
é bastante influenciada pelas obras de Alain Touraine, Edward Thompson e Henry
Lefebvre. A obra da autora se destaca ainda pela opção clara pelo que ela chama de
“pesquisa participativa”. Embora reconhecendo-se no seu papel de acadêmica, não
esconde sua opção por militar em prol da Reforma Urbana.

Saindo um pouco do campo de análise dos movimentos sociais urbanos, Ruy


Moreira em seu livro intitulado Movimento operário e a questão cidade-campo no
Brasil de 1985, e cuja origem veio de sua tese de mestrado, apresenta um estudo do
movimento operário e sua importância para a luta de classes, luta esta que para ele
tem papel fundamental na estruturação do território e é elemento fundamental na
organização socioespacial brasileira.

Ao considerar a relação cidade-campo como expressão territorial da divisão


técnica do trabalho, o sectarismo entre movimentos operários e movimentos
campesinos torna-se um obstáculo para a aliança entre operários e camponeses.
Desta maneira, Ruy Moreira traz à tona o velho questionamento a respeito da divisão
entre Geografia Urbana e Geografia Agrária. Para ele, ao compartimentar a geografia
perde-se a visão sobre a totalidade social.

“[...] põe-se em questão edificar o embrião que inverta a relação cidade-


campo dos dominantes, montada como estrutura espacial ordenadora da reprodução
dos homens para o capital, instaurando a relação cidade-campo que organiza a
reprodução de homens livres [...] ou seja, efetuar a estrutura espacial que organize a
relação cidade-campo dos dominados, que seja capaz de efetivar a ruptura espacial
organizadora da relação cidade-campo dos dominantes, instituindo uma formação
econômico-social sem dominantes e dominados, e, então, de instaurar a gestão
operário-camponesa sobre a totalidade social”. (MOREIRA, 2013, p. 164).

Ariovaldo Umbelino de Oliveira, em 1988, no seu livro A geografia das lutas no


campo afirma que os movimentos sociais são um elemento primordial para a
compreensão do espaço rural brasileiro. Ao contrário de correntes que se debruçam
nos estudos sobre as consequências da modernização das relações de produção no
campo, Oliveira se atém à materialização e territorialização da luta e dos conflitos
campesinos. Embora, não se atenha a questões teóricas diretamente relacionadas aos
movimentos sociais, sua leitura acerca do processo de territorialização do capitalismo
no campo e a marginalização do campesinato é de fundamental importância na
consideração dos movimentos sociais como portadores de uma estratégia de
desenvolvimento socioterritorial avessa à impetrada pelo capitalismo monopolista.

Apoiando-se nas obras que debatem a pertinência da classe histórica


campesina como as de Rosa Luxemburgo, Teodor Shanin e Karl Kautsky, além claro
do já citado José de Souza Martins, o autor acompanha um tracejado histórico da
formação dos movimentos campesinos desde as revoltas sociais no Brasil do século
XVIII e XIX, passando pelas ligas camponesas nas décadas de 50 e 60, até a
formação dos sindicatos dos trabalhadores rurais e do Movimento dos Sem-Terra nas
décadas de 70 e 80, demonstrando a distribuição espacial dos histórico dos conflito
pela terra no Brasil.
O levantamento efetuado por Pedon nos permite concluir que durante a década
de 80 não houve por parte dos estudos apontados o enfoque na produção de uma
teoria dos movimentos sociais a partir dos conceitos próprios da geografia, ou seja,
não foi criada uma teoria geográfica dos movimentos sociais. Fica clara a tendência
maior à produção de estudos de caso, onde a organização e formação dos
movimentos sociais não eram o objeto em si de análise, mas sim a compreensão da
importância das lutas sociais para a organização espacial da sociedade. A única
exceção fica por conta da crítica um pouco mais profunda realizada por Marcelo Lopes
de Souza que resultou numa abordagem um pouco mais complexa dos movimentos
sociais no que se refere ao aspecto conceitual, ao introduzir o conceito de autonomia
em sua análise.

Outro aspecto evidente foi a forte divisão entre estudos dos movimentos sociais
urbanos e os movimentos campesinos que nos remete à velha segmentação entre
estudos da geografia urbana e da geografia agrária. Os estudos dos movimentos
urbanos basicamente centrados nos movimentos de moradores ou de bairro, com
alguns poucos dedicados ao movimento sindical. Os estudos dos movimentos
campesinos, em boa parte, focados em na formação da Liga Campesina e dos
sindicatos rurais e de forma ainda incipiente no Movimento Sem-Terra.

Em um levantamento feito por Melo e Silva (2007) das publicações feitas das
revistas Terra Livre da Associação de Geógrafos Brasileiros e Tempo Social
(Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo), pouco foi produzido a
respeito dos movimentos sociais dede 1986 a 2005, período em que se compreende a
pesquisa. No caso da Terra Livre, 7,6% dos artigos seguiam essa temática e na
Tempo Social, 3,4%. No que tange à natureza urbana ou rural dos movimentos, há
uma relevante inversão: 31% dos estudos na temática rural são de temática sobre os
movimentos sociais, sendo que a maioria com enfoque no Movimento dos Sem-Terra
(MST). Vale lembrar que é a partir da década de 90 que o MST começa a ganhar
projeção nacional graças as suas estratégias de conflito e ocupação de latifúndios
improdutivos por todo Brasil inclusive servindo de articulador de outros movimentos
sociais não só no campo, como na cidade, como por exemplo o MTST. É notório que
O MST hoje possui uma influência grande inclusive no meio urbano através de suas
redes de comunicação on-line e off-line e através da logística de distribuição de seus
produtos nos grandes centros urbanos em lojas e armazéns próprios ou de parceiros.
A maior complexidade do contexto socioespacial urbano e a cada a vez mais
intensa pluralidade de interesses de seus agentes e atores é para Souza (2008) outra
razão para o deslocamento dos estudos dos movimentos sociais urbanos para os
movimentos sociais rurais. Seria cada vez mais complexa a classificação dos
movimentos sociais urbanos dado seus desdobramentos e interações em diferentes
escalas e espacialidades alternativas.

Dois estudos são marcantes deste período: o texto intitulado “A experiência de


autogestão dos trabalhadores agrários de Nova Ronda Alta e o seu significado para o
Movimento dos Sem-Terra” de Nelson Rego publicado em 1988 e o texto “Movimento
Social como categoria geográfica” de Bernardo Mançano Fernandes publicado em
2000. O primeiro aponta perspectivas propositivas para uma possível alternativa de
organização dos movimentos de luta pela reforma agrária baseada na experiência
auto gestionária do assentamento de Nova Ronda Alta e o segundo inova ao dar um
primeiro passo em direção a uma “teorização autenticamente geográfica ao tema”
(Pedon, 2013, p. 146). Vale destacar que o trabalho de Fernandes (2000) se ampara
no trabalho de outro geógrafo, Jean-Yves Martin que escreveu o artigo “A
geograficidade dos movimentos socioespaciais” publicado no Caderno Prudentino de
Geografia (CPG) em 1997. Esses dois trabalhos em conjunto constituem a base
teórica dos conceitos de movimento socioespacial e socioterritorial que iremos retomar
mais adiante.

Geo-grafias das Lutas Sociais

Três autores de acordo com Pedon (2013) fizeram propostas geográficas para a
análise dos movimentos sociais, dentro do que Santos (2006) chama de Geo-grafias
das lutas sociais: Carlos Walter Porto-Gonçalves, o próprio Renato Emerson dos
Santos e Bernardo Mançano Fernandes.

Para Porto-Gonçalves, o conceito de território é fundamental para a


compreensão dos movimentos sociais. Ao recorrer a autores como Michel Foucault,
Pierre Bourdieu, Milton Santos e Edward Thompson, o autor amplia o espectro de
análise das lutas sociais para além do referencial marxista e passa dialogar com
correntes pós-estruturalistas e neomarxistas. A tríade território-territorialização-
territorialidade serve de base conceitual para compreender como grupos sociais
através de relações de poder se apropriam do espaço, estabelecendo neste processo
um vínculo identitário coeso socialmente e territorialmente. É de origem foucaultiana a
perspectiva de que há uma relação íntima entre poder e espaço, e é através dessa
relação que a sociedade estabelece suas estratégias de produção/reprodução não só
no campo material, mas simbólico. Ao demarcar fronteiras e limites que estabelecem o
que faz parte do território e o que lhe é externo, de fora; essas estratégias passam a
definir marcos e limites que irão se tornar fatores ativos no processo de identificação e
representação das identidades individuais ou coletivas. Território passa a se tornar um
significante dessas identidades e no caso dos movimentos sociais, essa territorialidade
é estabelecida através da luta pela sua r-existência (existir e resistir fundem-se num só
processo dialético entre ser e o devir).

“No caso dos movimentos sociais analisados por Gonçalves, essa


territorialidade expressa uma militância, um ativismo do processo de identificação que
evidencia o reconhecimento. Em suma, a existência do território está ligada aos
emblemas identificadores de sua ocupação (apropriação), por meio do qual os grupos
humanos preservam e reproduzem suas particularidades, concretizando-se material
e /ou simbolicamente sua identidade” (PEDON, 2013, p. 167).

Não há na visão de Porto-Gonçalves uma divisão entre material e simbólico,


pois o território é condição elementar da existência da sociedade. O espaço é esse
híbrido numa clara referência a Milton Santos (1996), em que o espaço geográfico é
constituído da união indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações. O
espaço geográfico é formado por esses constantes encontros/confrontos entre
diferentes grupos, cada um demarcando sua territorialidade, ou seja, o espaço contém
diferentes territorialidades em constante processo de transformação nesse processo
de apropriação e constituição de uma determinada sociedade. É, portanto, necessário
que se reconheça as lutas sociais e suas formas específicas. Elas que conferem a
diversidade de territórios.

Porto-Gonçalves estuda os seringueiros do Acre em sua luta pela preservação


de sua forma de vida frente o avanço da fronteira agrícola sobre a Amazônia. O autor
recorre a Pierre Bourdieu e seu conceito de habitat e habitus para defender que o
complexo seringal não era um lugar meramente ocupado por grupos de pessoas que
viviam da produção de borracha, mas sim, parte fundamental para seu modo de vida e
construção de sua identidade. A Reserva Extrativista defendida pelos seringueiros
torna-se expressão de sua territorialidade, de sua geo-grafia (saber geográfico como
expressão territorial “grafada” no espaço através da luta social), onde a condição do
sujeito se dá nas e pelas lutas de afirmação de suas identidades territoriais. Ainda
sobre seu entendimento de lutas sociais, Pedon (2013) esclarece:

“Baseando-se no historiador inglês Edward Thompson e no sociólogo francês


Pierre Bourdieu, Gonçalves concebe na luta de classes o desenvolvimento do conflito.
Entretanto, a luta é mais relevante do que a classe, isso porque é no conflito que os
sujeitos fazem a si próprios. É a luta que cria o movimento social entre os seringueiros,
e não o contrário. O movimento dos seringueiros expressa a passagem da ação
territorial à identidade por ela concebida. A importante contribuição de Carlos Walter
Porto Gonçalves reside na manobra analítica que ele empreende ao valorizar a
natureza geográfica do sujeito-movimento social” (PEDON, 2013, p.174).

Compartilhando com Porto-Gonçalves, a perspectiva de que as teorizações e


conceitos da geografia partem dos movimentos sociais, entendidos como expressão
da dialética sociedade-espaço; encontramos na obra de Renato Emerson dos Santos,
o lugar do espaço no conjunto da teoria social crítica outro estudo que pensará os
movimentos sociais a partir da sua espacialidade, mais especificamente o movimento
Pré-Vestibular para Negros e Carentes (PVNC) e sua importância para a luta
antirracismo no Brasil.

Com o intuito de difundir a perspectiva do raciocínio centrado no espaço, o


autor pretende separar duas formas de abordagens distintas das teorias críticas na
geografia: o pensar sobre o espaço e o pensar a partir do espaço. A primeira,
conforme foi demonstrado anteriormente, mantém o enfoque na organização espacial
e os movimentos sociais como resultado de seus processos estruturais. A segunda, os
movimentos fazem parte da estrutura estruturante do espaço, eles são a força que
impulsiona essa relação dialética entre sociedade e espaço.

Para Santos, a espacialidade é peça fundamental na ação política dos


movimentos sociais, é uma qualidade inerente a qualquer expressão de movimento
social. A geografia traria o instrumental necessário para este raciocínio do espaço não
como algo externo, mas constituinte das lutas sociais. Para isso, o autor propõe
categorias de análise e interpretação dos movimentos sociais:
1. Materialização/manifestação

2. Recortes espaciais e as construções identitárias

3. Território e territorialidade

4. Ação e temário, agendas

5. Ação e interlocutores

6. Ação e desdobramentos, impactos, efeitos, causas, origem

7. As esferas institucionais como distintas dimensões espaço-temporais

8. Os sujeitos da construção dos movimentos e suas experiências


espaciais do fazer político

O estudo de Bernardo Mançano Fernandes com contribuição de Jean


Yves-Martin e de caráter também propositivo, busca firmar dentro da geografia um
campo conceitual que permite a compreensão dos processos de espacialização e
territorialização das lutas sociais. Diferentemente dos demais estudos apresentados,
Fernandes busca inserir a geografia dentro do campo teórico das demais ciências
sociais que discutem os processos de formação dos movimentos sociais. Para isso,
defende os conceitos de movimentos socioterritoriais e movimentos socioespaciais.

Para o autor, movimento social não é uma categoria distinta de movimentos


socioterritoriais. Na prática, um não existe sem o outro. A diferenciação se dá dentro
do campo da geografia onde a categoria movimentos sociais se divide em movimentos
socioterritoriais e socioespaciais a depender dos conceitos e teorias usados na leitura
geográfica da dinâmica social presente na luta de classes.

Por movimentos socioterritoriais compreende-se todo aquele movimento cuja


luta é a conquista do território através da ocupação. O ato de ocupar é a chave para o
entendimento da intencionalidade dessa conquista que se dá através da
espacialização e territorialização dos processos de resistência da luta social. Por
espacialização na obra de Bernardes, recorremos a Pedon (2013).
“A espacialização é compreendida como um processo complexo de produção e
criação de espaços, assim como das relações que estabelecem seus limites. Constitui
um movimento concreto de ação e reprodução de relações sociais no campo e na
cidade e combina as múltiplas dimensões da vida social; (...) não compreende apenas
a apropriação de determinadas porções do campo e da cidade, mas envolve a
instauração de novas formas de uso; novas formas de relação entre sociedade
natureza; novas formas de organização social e novos projetos de uso de um espaço
que se torna, assim, território” (PEDON, 2013, p.186).

O espaço, lócus da reprodução da vida, se transforma em território através do


conflito entre diferentes forças políticas com diferentes projetos de conquista e de
controle. É na natureza destes confrontos que as territorialidades dos movimentos
sociais vão se construindo de forma dinâmica e antagônica aos poderes hegemônicos
vigentes. A agenda que define os objetivos dos movimentos socioterritoriais visa a
transformação dos territórios, das relações sociais e dos sistemas produtivos. Uma
transformação de caráter sistêmica, tanto no viés político, quanto econômico e cultural.
Através do compromisso com esta agenda e através também de seus métodos
organizativos que os movimentos passam a definir suas identidades e suas escalas de
atuação. Quanto maior sua organização, quanto melhor definida sua agenda e quanto
maior sua permanência; maior a coesão territorial e identitária. Mais ampla também,
será sua escala de atuação.

Os movimentos categorizados por Fernandes como essencialmente


socioterritoriais são os movimentos sem-terra no campo e os movimentos sem-teto
nas cidades. Ambas as agendas destes movimentos colocam a propriedade privada
como um elemento exclusivo e orgânico ao capitalismo. Já os movimentos sociais
como o movimento feminista, antirracistas, o movimento LGBTQI+, e os sindicatos
seriam exemplos de movimentos socioespaciais. Para o autor, esses movimentos não
seriam antisistêmicos pois sua luta é por melhores condições e/ou reconhecimento
dentro de um sistema vigente, tampouco seriam territoriais pois mantém o espaço
como base de suas ações, não interferindo diretamente na territorialidade hegemônica
vigente.

Conclusão
Em um quadro geral, ao nos debruçarmos sobre o livro Geografia e
Movimentos Sociais de Pedon, nota-se um certo avanço nos estudos sobre
movimentos sociais no campo da geografia. No início podemos notar a predominância
de estudos de casos preocupados em trazer os referenciais teóricos da Geografia
Crítica na análise das lutas sociais nos contextos urbano e rural. As categorias
espaciais assumem a importância como ferramenta analítica, onde a importância é a
compreensão da relação entre as lutas sociais e de classe e seu desdobramento na
organização socioespacial e na divisão socioespacial do trabalho. Neste período se
situam boa parte da produção elaborada início da década de 80 por geógrafos como
Viana, Bernardes, Mizubuti e Souza.

Em seguida, na segunda metade da década de 80 podemos notar uma leve


mudança quanto à abordagem socioespacial onde os movimentos sociais ganham
maior centralidade. São estudos que analisam o papel dos movimentos enquanto
sujeitos coletivos que através da sua luta produzem/reproduzem o espaço. Destacam-
se nessa fase as produções de Moreira, Kahil, Silva, Souza, Rodrigues e Oliveira.
Seus referenciais teóricos vão desde Martin, a Lefebvre, Castells, Lokjin, David
Harvey, Castoriadis e outros.

Nesses dois períodos, fica latente a busca por referencial teórico em outros
campos diferentes da geografia para a compreensão das lutas sociais. Não houve
uma tentativa de elaborar uma teoria dos movimentos sociais por parte da geografia.
Pouco também se discutiu a respeito das formas de classificação das diferentes
formas de manifestação dos movimentos sociais. Isso só começou a ganhar um corpo
timidamente maior, com a produção já no início dos anos 90 e 00 através das obras de
Carlos Walter Porto-Gonçalves, Renato Emerson dos Santos e Bernardo Mançano
Fernandes.

São diversas as formas de movimentos sociais consideradas pelos demais


campos das ciências sociais, incluindo aí a geografia, mas parece que ao focar em um
movimento social através de estudos de caso, se perde aquilo que há de comum ou
aquilo que o diferencia dos demais movimentos. São significativos os esforços de
Porto-Gonçalves ao estabelecer o vínculo entre os movimentos sociais e sua
construção identitária através de suas territorialidades, no entanto podemos cair no
risco de um certo “identitarismo” territorial, pondo em risco uma visão maior da
totalidade das lutas sociais.
Um esforço de classificação foi proposto por Renato Emerson dos Santos para
a melhor sistematização dos estudos dos movimentos sociais através do que o autor
chama de raciocínio centralizado no espaço. As oito dimensões de análise da
espacialidade dos movimentos sociais é caminho novo a ser melhor explorado, e
acredita-se que com o tempo pode ser que se estabeleça um método de análise
consolidado a partir de sua proposta metodológica de trabalho.

De acordo com Pedon, o único autor a dar um passo em direção a uma


possível teorização dos movimentos sociais de cunho geográfico, foi Bernardo
Mançano Fernandes através de seu conceito de Movimento Socioterritorial e de
Movimento Socioespacial. Sem sombra de dúvida trata-se de um esforço considerável
na tentativa de melhor compreender a natureza dos movimentos sociais em um
espectro mais geral, no entanto, está justamente em sua concepção de território o
ponto mais polêmico de sua obra. O autor confere grande importância ao Movimento
Sem-Terra e Sem-Teto como exemplos de movimentos capazes de territorializar na
prática suas lutas através das ocupações e dessa forma se tornam claros seus
posicionamentos políticos e suas propostas de confronto frente a territorialidade do
capital. No entanto, outros movimentos sociais são classificados de forma genérica e
confusa no termo socioespacial, como se esses movimentos não tivessem sua própria
territorialidade e sua própria capacidade de mudar o sistema. O fato de parte desses
movimentos terem agendas, métodos organizativos e permanência mais difusas
confere a eles uma dimensão não-territorial. Faz parecer que esses movimentos estão
“soltos no espaço”.

A complexidade das pautas dos movimentos sociais, e justamente suas


diferentes estratégias de territorialização e consolidação de sua territorialidade, faz
como que haja ainda a necessidade de se debater a produção a respeito desse tema
pelas demais ciências sociais e ao mesmo tempo traz ainda um grande desafio para a
criação de uma teorização própria da geografia. Essa tarefa já foi iniciada, mas um
longo trajeto ainda há de se percorrer pela frente.

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