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Este artigo se propõe a fazer uma breve análise do papel da Geografia nos
estudos dos Movimentos Sociais e compreende-se que ao fazê-lo, contextualizar-se-á
essa relação dentro de uma perspectiva histórica das teorias da Geografia Crítica.
Para isso, será utilizado com obra de referência o livro de Nelson Rodrigo Pedon,
publicado em 2013 pela editora da Universidade Estadual Paulista (UNESP) sob o
título Geografia e Movimentos Sociais: dos primeiros estudos à abordagem
socioterritorial. Na medida em que se fará uma sistematização do livro, serão feitas
também, comparações com obras de outros autores e avaliações críticas de seu
conteúdo. Utilizaremos também a divisão em itens baseada em Santos (2006) e sua
sistematização dos estudos sobre os movimentos sociais. O autor sistematiza em três
tendências de matrizes e orientações teóricas diferentes, mas que produziram leituras
dos movimentos sociais parecidas. “O fio condutor não é a filiação ou a orientação
teórica de cada autor, mas sim, a imagem espacial produzida como fruto da assunção
dos movimentos sociais como objeto ou como motivador da sua reflexão” (SANTOS,
2006, p.31 apud. PEDON, 2013, p. 155). Essas três tendências foram nomeadas pelo
autor da seguinte forma:
Estudos Pioneiros
“Mesmo que seu trabalho não tenha como objetivo explicito a formulação de
um conjunto teórico-conceitual pertinente à geografia para avançar nos estudos sobre
movimentos sociais, sua problematização traz à tona questões cruciais como a
natureza espacial e territorializante de determinadas manifestações sociais e sua
Outro aspecto evidente foi a forte divisão entre estudos dos movimentos sociais
urbanos e os movimentos campesinos que nos remete à velha segmentação entre
estudos da geografia urbana e da geografia agrária. Os estudos dos movimentos
urbanos basicamente centrados nos movimentos de moradores ou de bairro, com
alguns poucos dedicados ao movimento sindical. Os estudos dos movimentos
campesinos, em boa parte, focados em na formação da Liga Campesina e dos
sindicatos rurais e de forma ainda incipiente no Movimento Sem-Terra.
Em um levantamento feito por Melo e Silva (2007) das publicações feitas das
revistas Terra Livre da Associação de Geógrafos Brasileiros e Tempo Social
(Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo), pouco foi produzido a
respeito dos movimentos sociais dede 1986 a 2005, período em que se compreende a
pesquisa. No caso da Terra Livre, 7,6% dos artigos seguiam essa temática e na
Tempo Social, 3,4%. No que tange à natureza urbana ou rural dos movimentos, há
uma relevante inversão: 31% dos estudos na temática rural são de temática sobre os
movimentos sociais, sendo que a maioria com enfoque no Movimento dos Sem-Terra
(MST). Vale lembrar que é a partir da década de 90 que o MST começa a ganhar
projeção nacional graças as suas estratégias de conflito e ocupação de latifúndios
improdutivos por todo Brasil inclusive servindo de articulador de outros movimentos
sociais não só no campo, como na cidade, como por exemplo o MTST. É notório que
O MST hoje possui uma influência grande inclusive no meio urbano através de suas
redes de comunicação on-line e off-line e através da logística de distribuição de seus
produtos nos grandes centros urbanos em lojas e armazéns próprios ou de parceiros.
A maior complexidade do contexto socioespacial urbano e a cada a vez mais
intensa pluralidade de interesses de seus agentes e atores é para Souza (2008) outra
razão para o deslocamento dos estudos dos movimentos sociais urbanos para os
movimentos sociais rurais. Seria cada vez mais complexa a classificação dos
movimentos sociais urbanos dado seus desdobramentos e interações em diferentes
escalas e espacialidades alternativas.
Três autores de acordo com Pedon (2013) fizeram propostas geográficas para a
análise dos movimentos sociais, dentro do que Santos (2006) chama de Geo-grafias
das lutas sociais: Carlos Walter Porto-Gonçalves, o próprio Renato Emerson dos
Santos e Bernardo Mançano Fernandes.
3. Território e territorialidade
5. Ação e interlocutores
Conclusão
Em um quadro geral, ao nos debruçarmos sobre o livro Geografia e
Movimentos Sociais de Pedon, nota-se um certo avanço nos estudos sobre
movimentos sociais no campo da geografia. No início podemos notar a predominância
de estudos de casos preocupados em trazer os referenciais teóricos da Geografia
Crítica na análise das lutas sociais nos contextos urbano e rural. As categorias
espaciais assumem a importância como ferramenta analítica, onde a importância é a
compreensão da relação entre as lutas sociais e de classe e seu desdobramento na
organização socioespacial e na divisão socioespacial do trabalho. Neste período se
situam boa parte da produção elaborada início da década de 80 por geógrafos como
Viana, Bernardes, Mizubuti e Souza.
Nesses dois períodos, fica latente a busca por referencial teórico em outros
campos diferentes da geografia para a compreensão das lutas sociais. Não houve
uma tentativa de elaborar uma teoria dos movimentos sociais por parte da geografia.
Pouco também se discutiu a respeito das formas de classificação das diferentes
formas de manifestação dos movimentos sociais. Isso só começou a ganhar um corpo
timidamente maior, com a produção já no início dos anos 90 e 00 através das obras de
Carlos Walter Porto-Gonçalves, Renato Emerson dos Santos e Bernardo Mançano
Fernandes.
BIBLIOGRAFIA
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