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A Técnica
Alexander responde
57% dos músicos sofrem de problemas médicos que afetam seu trabalho;
20% reclamam de cansaço ou dores musculares mais de uma vez por mês;
25% têm dores mais de uma vez por semana;
55% sentem dores após tocar um instrumento;
41% tiveram a experiência de não controlar os movimentos de seus dedos;
22% dos músicos tiveram que parar de tocar no ano anterior devido a dores;
83% consideram que seu treinamento não os preparou adequadamente; a localização das dores
musculares era basicamente no pescoço e nas costas.
Atualmente, mesmo sendo desconhecido do grande público, seu trabalho vem sendo aplicado
em diferentes instituições de ensino ao redor do mundo. Está incluída nos currículos de
Universidades, Escolas e Conservatórios de Música como base para uma exploração criativa,
aperfeiçoamento da saúde, clareza mental, compreensão e expansão do potencial Humano.
Estes cursos têm dado condições aos estudantes de desenvolver seu treinamento musical
paralelamente ao estudo da Técnica Alexander. Seguindo o período letivo da universidade, as
aulas em grupo são ministradas semanalmente. O trabalho acontece de forma individualizada.
Os alunos praticam com seus instrumentos passagens musicais que estejam trabalhando em
seus ensaios ou onde observam dificuldades na execução, como tensão demasiada em
determinadas articulações, dificuldade de movimento em alguma parte do corpo ou posturas
inadequadas que levam a um incômodo geral.
Partes do texto foram publicadas no Jornal O GLOBO, encarte do Jornal da Família do dia 27 de
Junho de 2004.
Se pegarmos como exemplo o hábito de dirigir um carro, percebemos que no início do processo
executamos os movimentos dos pedais com uma certa dificuldade, pois temos que pensar com
muita atenção em como regular o uso dos pés e ao mesmo tempo manter a atenção ao que está
acontecendo ao nosso redor. Com o tempo, esta experiência vai sendo armazenada na memória
e passamos a não precisar mais pensar em todo este processo. Dizemos então que a maneira que
foi gravada pelo cérebro é "a nossa maneira" de dirigir um carro. Se essa maneira habitual
desenvolvida para dirigir um carro estiver criando algum tipo de problema, deteriorando nosso
desempenho, não temos mais como agir pois todo esse processo parece agora fora do nosso
controle. Tendemos a achar que "é assim mesmo", "não tem jeito". A mudança passa a ser algo
que está além da nossa responsabilidade.
Este processo de educação do indivíduo, que muitos associam a técnicas e filosofias orientais,
foi desenvolvido através de 9 anos de pesquisa por Frederick Matthias Alexander (1869-1955),
declamador shakespeareano que, no final do século XIX, em função de suas constantes
apresentações teatrais, começou a sofrer de problemas respiratórios e rouquidão. Observando
que sua voz voltava a funcionar melhor quando parava de ensaiar e piorava quando retornava
à sua atividade normal, Alexander iniciou uma pesquisa usando a si mesmo como objeto de
observação. Pode perceber, então, que o Uso que fazia de si mesmo afetava diretamente o
funcionamento geral do organismo; seus problemas de voz e respiração eram apenas
conseqüências de um desequilíbrio total de seu corpo. A partir daí, desenvolveu uma prática
revolucionária com base na unidade psico-física do Homem.
Quando acreditamos que podemos mudar uma postura inadequada, como, por exemplo, as
costas curvadas ao ficarmos sentados em uma cadeira, e decidimos nos posicionar numa forma
ereta que achamos ser a "certa", sabemos que esta nova postura não resiste por muito tempo.
Isso porque a memória adquirida ao longo dos anos da forma de sentar inadequada vai se
manifestando e, em poucos minutos, estamos de volta ao padrão postural antigo. Os padrões
neuromusculares armazenados são ativados nessa hora e determinam a maneira de sentar. Ou
seja, qualquer tentativa de mudança direta, apenas sobre a aparência física de uma postura ou
movimento não será efetiva, porque posturas e movimentos repetitivos e automatizados estão
relacionados com uma determinada maneira de pensar.
O processo de reeducação psicofísico chamando Técnica Alexander joga uma luz sobre esta
questão. Esta técnica foi desenvolvida no final do século XIX por Frederick Matthias Alexander
(1869-1955). Alexander, um ator australiano renomado, que desenvolveu problemas de voz e
respiração em função de suas constantes apresentações teatrais. Após ficar impossibilitado de
trabalhar e sem respostas concretas da medicina sobre seu problema, Alexander começou a
observar a sua maneira de usar seu corpo, percebendo que vícios posturais e de movimento
exerciam uma influência negativa sobre sua saúde geral, embora suas conseqüências imediatas
fossem sobre sua voz e respiração.
Na tentativa de resolver seus padrões posturais incorretos, o ator verificou que apenas uma
mudança externa de posição corporal não era suficiente para exercer qualquer influência
positiva sobre o uso de sua voz e respiração. Era preciso envolver todo o "organismo
psicofísico". Sua maneira viciada de usar a si próprio era o principal fator da repetição de
padrões incorretos de postura e movimento. Alexander desenvolveu seu trabalho sobre estas
idéias, criando assim uma experiência prática que ensinava ao indivíduo a possibilidade de
poder desfazer seus padrões habituais automáticos, tanto físicos quanto mentais, que estão na
raiz de vários problemas relacionados à saúde.
Um aspecto que o trabalho com a técnica introduz é a responsabilidade de poder agir para
solucionar problemas de vícios posturais e de movimento. É muito comum acreditar que as
respostas para certas questões relacionadas ao próprio corpo estejam fora de nosso alcance,
como se a identificação e resolução de problemas relacionados a posturas e movimentos
inadequados fosse conseqüência apenas de questões como vida agitada, estresse, mobiliário
inadequado, excesso de trabalho, idade avançada, limites físicos, etc. Estas idéias nos fazem
acreditar que a solução está apenas em uma questão externa. Que tudo vai se resolver quando
mudar de emprego, ter a vida menos agitada, um mobiliário melhor e assim por diante.
Padrões de postura e movimento foram sendo cultivados por nós desde a infância e nós temos
condições de transformá-los através de uma reeducação a partir do momento que estes padrões
não sejam mais necessários ou estejam causando prejuízo para a saúde. A idéia de ser
responsável pelo modo de usar o corpo é um dos objetivos do trabalho, pois a Técnica
Alexander propõe que qualquer mudança só começará com esta tomada de decisão. Temos
condições de ativar o melhor potencial de organização do corpo, independente do limite físico e
do ambiente ao nosso redor.
© Roberto Reveilleau
BIBLIOGRAFIA
Canto e postura
"Você não pode separar o uso de sua voz do resto de você mesmo. O impulso de comunicar
vocalmente vem do uso de todo o organismo, não apenas dos órgãos vocais. E toda vez que seu
uso mecânico é afetado, é também sua voz, que é a expressão de você mesmo..." Michael
McCallion - The Voice Book
Reaprender a usar o corpo com mais eficiência não só ajuda a prevenir uma série de problemas
físicos típicos dessa profissão como também traz um ajuste melhor da postura e do movimento,
ampliando o potencial artístico e dando condições de, sem os excessos de esforço muscular
habituais, obter uma melhor performance musical.
Postura
A postura é algo dinâmico e não pode ficar restrita a uma determinada atividade, quando na
verdade está presente em todas as ações do dia-a-dia. Não é possível de se obter uma postura
bem equilibrada nem um movimento bem coordenado na hora de tocar um instrumento ou
cantar se isso não faz parte do universo cotidiano do indivíduo. Se a maneira de usar o corpo
através de gestos, posturas e movimentos ao se trabalhar num computador, ao andar, ao sentar
e ao se levantar de uma cadeira está carregada de padrões inadequados de uso do corpo, então
esta será a maneira do artista usar a si próprio em ensaios e apresentações.
No caso especifico do cantor, observo uma grande preocupação com a busca de uma postura
adequada na hora de cantar. Embora essa busca de
uma atitude física eficiente para um bom
desempenho do canto seja uma meta pertinente, os
meios empregados para isso tendem a ser
equivocados. É muito comum uma abordagem direta
através de ações corretivas onde uma imagem pré-
determinada de “postura certa” é imposta a um
corpo que é único, com características próprias e que
não se encaixa em um padrão estereotipado. Nesta
tentativa, uma série de contrações musculares será
ativada criando desajustes desnecessários. Esse
excesso de esforço muscular impedirá um
movimento livre e bem coordenado e, conseqüentemente, afetará a capacidade respiratória e a
produção da voz.
Hábito
Ao longo da vida é comum adquirirmos uma série de padrões de uso do corpo que lentamente
vão sendo automatizados e passam a ser ativados a todo instante. De tanto repeti-los,
memorizamos esses padrões, que passam a fazer parte do nosso vocabulário de ações.
Terminamos por nos sentir confortáveis nesses padrões, mesmo que eles interfiram em nosso
equilíbrio e coordenação. Identificamos essa situação como “minha” maneira de ser, “minha”
identidade e justificamos as conseqüências limitantes desses padrões com frases como “eu sou
muito tenso”, “eu tenho um trabalho estressante”, “minha vida é muito agitada” ou “é por
causa da minha idade”.
A questão é que a repetição de padrões viciados de uso do corpo faz com que se perca a
capacidade de perceber o quanto essa interferência é prejudicial aos mecanismos posturais que,
carregados de excesso de tensão muscular, produzem como resultado um mau funcionamento
do organismo. Entre as disfunções mais comuns podemos citar o enrijecimento e as dores
musculares, problemas articulares, costas arqueadas, limitação de movimento nos braços e
pernas, falta de controle muscular, dificuldades respiratórias, diminuição de rendimento,
confusão mental e nervosismo excessivo antes de apresentações.
Reeducação
Tratamentos específicos, embora benéficos, não resolvem a questão pois não trabalham com a
mudança de padrões habituais de uso do corpo. Sem envolver uma ação consciente por parte
do aluno em um processo de aprendizagem, qualquer tentativa de mudança real será frustrada
pois os padrões de mau uso do corpo memorizados serão sempre ativados, como um gatilho
que é acionado toda vez que houver uma maior exigência física ou emocional, como em uma
passagem musical difícil ou em uma apresentação importante.
Alexander e voz
A Técnica Alexander não tenta fazer algo novo, e sim dar a oportunidade de parar de se repetir
certos hábitos. Ela não é uma técnica vocal e nem exclui a necessidade de treinamento específico
para o cantor, mas o trabalho promove o aprendizado de um uso mais eficiente dos
mecanismos posturais, permitindo que a voz seja expressão de toda a sua integridade e
organização e não resultado de tensão e desequilíbrio.
Como resume Joyce Warrack professora de canto da Royal College of Music, a primeira escola
de música a oferecer ainda nos anos de 1950 a Técnica Alexander: “Reeducação vai
efetivamente requerer paciência e tempo (embora a formação de um cantor através de qualquer
método é um processo moroso), mas serão recompensados com a resultante facilidade e
comando de seus nervos assim como a flexibilidade e qualidade da voz através do máximo de
resultado com o mínimo esforço físico".
© Roberto Reveilleau
REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS
McCallion, M; The Voice Book, Inglaterra, 1992
Warrack, J.; The Indirect Approach to Singing, In Barlow W. (ed.), More Talk of Alexander,
Mouritz, Inglaterra, 2005.
Fonte: http://tecnicadealexander.com/artigos.php