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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3

2 TERAPIA OCUPACIONAL – MARCO HISTÓRICO ......................................... 4

2.1 Surgimento e desenvolvimento da profissão no Exterior e no Brasil ......... 7

2.2 Realidade atual da formação profissional ................................................ 10

3 INTERVENÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL NO CAMPO SOCIAL ........ 13

3.1 Atuação do terapeuta ocupacional com indivíduos em situação de risco


social ...................................................................................................................14

3.2 Intervenções da Terapia Ocupacional em Saúde e Trabalho. ................. 16

4 ERGONOMIA ................................................................................................. 18

4.1 Conceitos, métodos e técnicas utilizados em ergonomia ......................... 19

4.2 Introdução à análise ergonômica da atividade com enfoque nos aspectos


materiais, fisiológicos, psicológicos e organizacionais ...................................... 26

4.3 Abordagem do funcionamento do ser humano em situação real de


trabalho... ........................................................................................................... 30

4.4 Ergonomia: uma história do trabalho e da saúde da classe trabalhadora 36

4.5 Ergonomia, uma ciência pautada na interdisciplinaridade ....................... 38

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................................... 41

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é


semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor
e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado.
O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos
ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar,
as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 TERAPIA OCUPACIONAL – MARCO HISTÓRICO

Fonte: https://www.telavita.com.br/

Desde os tempos pré-históricos o homem utiliza a arte para expressar seus


feitos, medos e desejos. Estas eram as pinturas rupestres elaboradas nas paredes
das cavernas onde viviam, fabricação de cerâmica no período neolítico, o polimento
de pedras, etc. (DUNCAN et al, 2004, p.17).
No Egito antigo os nobres não precisavam trabalhar, ocupando seu tempo
ocioso com atividades que lhes davam prazer como o trabalho em jardins. Os
egípcios assim como os gregos utilizavam a música, a diversão e os jogos para
aliviar o sofrimento dos doentes mentais, reconhecendo as propriedades curativas
dessas atividades. Em 172 a.C., Galeno, médico grego escreveu “A ocupação é o
melhor remédio, e é essencial para proporcionar a felicidade humana”. (DUNCAN
et al, 2004, p.17-18).
No ano de 1791, Pinel visitou o Asilo de Saragoça, onde estavam utilizando
o trabalho como conduta terapêutica no tratamento dos doentes, reconhecendo a
validade e os benefícios do trabalho e introduziu a atividade na terapêutica em sua

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reforma no Hospício de Bicêtre. Esta atitude ficou historicamente conhecida como
“queda dos grilhões que mantinham presos os infelizes insanos de espírito”.
(DUNCAN et al, 2004, p.18).
O alemão Herman Simon foi considerado o “pai” da Terapia Ocupacional,
pois quando trabalhava no Westefalian Hospital transformou o hospital em “oficina”,
seu método era chamado de “Tratamento Ativo” e dizendo que “a ocupação é um
tratamento”. Simon teve bastante influência na psiquiatria brasileira. (DE CARLO;
LUZO, 2004, p.25).
A ideia de que a ocupação ou diversão é benéfica aos doentes remota à
2.000 a.C. Galeno e Hipócrates propunham o uso de exercícios e atividades como
importantes agentes terapêuticos. No fim do século XVIII e primórdios do século
XIX, Phillipe Pinel e Benjamim Rush, entre outros, passam a utilizar o tratamento
moral baseado em atividades físicas e trabalho produtivo como principal estratégia
terapêutica. (LANCMAN, 2004).
Em 1913 foi fundado um curso de ocupação para inválidos em Wisconsin,
USA, e a profissão foi fundada em 15 de março de 1917 em Clifton Springs, New
York. (SCHWARTZ apud NEISTADT; CREPEAU, 2002, p.796).
Logo após a profissão terapia ocupacional ser criada, a Primeira Guerra
Mundial eclodiu e os E.U.A. entraram na guerra. Isso gerou uma chamada imediata
de voluntárias (somente sexo feminino), com compromisso civil, conhecidas como
“auxiliares de reconstrução”, para assistir os homens feridos na frente de batalha.
As “auxiliares de reconstrução de terapia ocupacional” utilizavam instruções sobre
ofícios como recurso. No final da guerra, quase 1200 auxiliares de reconstrução de
terapia ocupacional contribuíam com seus serviços. (SCHWARTZ apud NEISTADT;
CREPEAU, 2002, p.798)

“As Guerras Mundiais ajudaram a aumentar a consciência pública dos


benefícios da Terapia Ocupacional e forneceram uma oportunidade para
que os terapeutas provassem sua competência e valor social. As guerras
alinharam, de forma mais próxima, a Terapia Ocupacional com a medicina,
como aconteceu na ligação entre AOTA e a AMA. À medida que a profissão
negociou sua função com outros profissionais dentro do sistema médico,
surgiram questões básicas, como a diferenciação entre Terapia
Ocupacional e a Fisioterapia. Para atuar dentro do sistema médico, houve
pressão sobre a Terapia Ocupacional para estreitar sua definição de

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serviços e abandonar alguns objetivos humanistas dos fundadores. ”
Schwartz apud Neistadt e Crepeau, 2002 (p. 798).
“Naquela época, as mulheres eram escolhidas para exercer a profissão,
pois acreditava-se que suas características maternais fossem muito
benéficas no tratamento dos doentes mentais. Foram elas, também, as
pioneiras no trabalho com indivíduos incapacitados, recebendo a
denominação de ‘auxiliares de reconstrução’. ” De Carlo e Bartalotti, 2001
(p.27)

Na Segunda Guerra Mundial, mais uma vez, se ressaltou o valor da terapia


ocupacional como auxilio as pessoas doentes e feridas. Nesta época, a profissão
passou a ser vista como um trabalho de mulheres. As demandas exigiram a ênfase
sobre os trabalhos manuais, deslocou-se para as habilidades mais práticas ligadas
ao trabalho. (SCHWARTZ apud NEISTADT; CREPEAU, 2002, p.798).

“No final dos anos 60 até os anos 80, houve um período de rápidas
mudanças na sociedade e na terapia ocupacional. A prática da terapia
ocupacional tornou-se especializada e começou a se expandir para áreas
dos cuidados de saúde, além do hospital.... Entretanto, a especialização
ameaçou a conduta generalista para o processo do tratamento, que
considerava todos os aspectos do paciente. A íntima ligação desenvolvida
com a medicina e sua fundamentação nas condutas científicas
continuaram a conflitar com a arte da prática e com os objetivos da terapia
ocupacional. ” Schwartz apud Neistadt e Crepeau, 2002 (p. 800).

De início, a formação dos Terapeutas Ocupacionais seguia o modelo


curricular de curso técnico, com duração de dois anos e três anos, após algum
tempo. O primeiro curso de T.O. foi ministrado no Hospital das Clínicas de São
Paulo, e foi regulamentado em 1964. A formação dos Terapeutas Ocupacionais a
nível universitário, no Brasil, iniciou com muita influência do modelo norte-
americano, devido à vinda de orientadores estrangeiros enviados pela ONU para
treinamento de orientadores locais. Ao mesmo tempo em que o ensino iniciava em
São Paulo, por iniciativa de outros estados, com ou sem apoio da ONU, outros
cursos foram instalados. Os profissionais formados a partir da década de 50
“seguiram o modelo clínico vigente na medicina que lhes possibilitou constituir uma
determinada identidade e corpo de conhecimento técnico científico”. (SOARES,
1991).

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Somente em 13 de outubro de 1969 foram definidas as atribuições da
Terapia Ocupacional e a formação de nível superior foi reconhecida. (DE CARLO;
BARTALOTTI, 2001, p.29- 36)
Na década de 80 começam a discutir a necessidade de práticas com caráter
preventivo e comunitário, promovendo a manutenção da saúde e não somente a
reabilitação. Isso fez com que a procura por este tipo de atendimento aumentasse.
(DE CARLO; BARTALOTTI, 2001, p.38).

“Embora a clientela da Terapia Ocupacional ainda seja constituída, em sua


maioria, por aqueles considerados ‘diferentes’ (as pessoas com
deficiência, os doentes crônicos, os loucos etc.), novas populações têm
sido atendidas por meio de ações inovadoras dos terapeutas ocupacionais,
sejam pacientes com quadros clínicos agudos e de recuperação mais
rápida, sejam sujeitos em condição de risco pessoal e/ou social. ” De Carlo
e Bartalotti, 2001(p.38)

Uma nova direção vem sendo tomada na prática da Terapia Ocupacional e


propõe mais possibilidades e recursos em vários sentidos. Dessa forma, as
atividades estão passando a constituir um campo prático, de pesquisa e de reflexão
abundante. (DE CARLO; BARTALOTTI, 2001, p.46)

2.1 Surgimento e desenvolvimento da profissão no Exterior e no Brasil

A Terapia Ocupacional como profissão da área de saúde surgiu nos


Estados Unidos e sua primeira escola foi fundada em Chicago, em 1915. Neste
país, com intento de minimizar os efeitos da primeira Guerra Mundial, propunha-se
o atendimento em reabilitação aos incapacitados físicos e mentais que retornavam
dos campos de batalha. Este período foi chamado de “reconstrução” ou da
restauração (do latim, reabilitare) dos potenciais físicos e mentais dos sequelados
de guerra. No Brasil, formalmente, a história da profissão remonta ao período pós II
Guerra Mundial e às estratégias de implantação de programas de reabilitação na
América Latina, preconizadas por organismos internacionais (ONU, OIT, Unesco).
Com efeito, embora já houvesse experiências de uso das “ocupações com
objetivo terapêutico” em instituições asilares psiquiátricas no Brasil, devido à

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influência norte-americana, os cursos de formação em Terapia Ocupacional foram
implantados, preferencialmente, na área da reabilitação física (BARTALOTTI; DE
CARLO, 2001, p.31). De modo gradativo, na formação dos terapeutas ocupacionais,
foram incorporados estágios na atenção psiquiátrica.
No Brasil, em 1852, ocorrem as primeiras práticas destas atividades em
instituições psiquiátricas, quando foi fundado o Hospício Pedro II. Naquele momento
criaram as oficinas de sapateiro, alfaiate, marceneiro, florista e de desfiar estopa
para os pacientes. (SILVEIRA, 1966, p.19).
A Terapia Ocupacional no Brasil está relacionada de forma histórica com as
instituições para doentes mentais, as psiquiátricas, como foi relatado em trabalhos
de médicos brasileiros como Nise da Silveira. Em 1946 surgiu o Serviço de Terapia
Ocupacional no Centro Psiquiátrico Nacional, cuja direção ficou ao encargo da Dra.
Nise M. da Silveira. Porém, as ocupações, desde o século XIX, eram mais utilizadas
como medidas disciplinares do que terapêuticas nos manicômios psiquiátricos. (DE
CARLO; LUZO, 2004, p.04).
Em relação à implantação de programas de reabilitação física no Brasil, no
início dos anos 50, uma comissão da ONU visita a América Latina e apresenta o
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
como o local mais adequado para a implantação de um Centro de Reabilitação. Em
1956, foi implantado o Instituto Nacional de Reabilitação (INAR), na Clínica de
Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP. O Instituto de
Reabilitação passou a ter dupla finalidade: realizar assistência aos “deficientes”
acometidos por afecções do aparelho locomotor e promover cursos de formação
técnica em áreas como fisioterapia e terapia ocupacional.
Segundo referência de profissionais da área, a formação técnica em terapia
ocupacional era “restrita e específica das profissões técnicas de reabilitação
(eminentemente clínica, referente à sintomatologia, à intervenção médica
específica, aos princípios de indicação terapêutica etc.), sendo a Terapia
Ocupacional responsável somente por membros superiores e pelas técnicas em
atividades de vida diária” (BARTALOTTI; DE CARLO, 2001, p.34).

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Os programas terapêuticos ocupacionais seguiam indicações médicas e
centravam-se na patologia ou na afecção orgânica do paciente. A Terapia
Ocupacional “dividia” o paciente com a Fisioterapia, sendo que a reabilitação dos
membros superiores ficava sob responsabilidade dos terapeutas ocupacionais. As
atividades terapêuticas eram analisadas sistematicamente em suas possibilidades
de ação, relativas ao diagnóstico médico e às funções lesadas. Elas eram
selecionadas, graduadas e estruturadas em etapas de complexidade crescente e
seu exercício repetitivo promovia a completa recuperação funcional ou a
minimização das sequelas motoras. Na ocorrência de sequelas, os pacientes eram
treinados para readaptação nas atividades da vida diária (alimentação, vestuário,
higiene pessoal...) e, quando possível, preparados para o retorno ao trabalho
produtivo. Esgotadas as possibilidades funcionais do paciente, o médico (não o
terapeuta ocupacional ou outro profissional) prescrevia a “alta” ou o desligamento
do programa de reabilitação.
Somente em 1969, a profissão foi reconhecida como de nível superior. No
ano de 2001, somavam-se 29 escolas de formação em Terapia Ocupacional no
Brasil. Não obstante, o processo de aprovação da formação superior em Terapia
Ocupacional não ocorreu sem o desagrado da classe médica, “que não desejava
esse tipo de emancipação” (BARTALOTTI; DE CARLO, 2001, p.34).
Entrementes, a Terapia Ocupacional já havia incorporado em seus
pressupostos teórico-metodológicos o modelo biomédico. Deste modo, o terapeuta
ocupacional, para vencer a condição de “subalternidade” em relação à classe
médica buscou tornar-se um profissional “high tech” e incorporar “conhecimentos
científicos de anatomia, fisiologia, técnica de reparos, acompanhando os avanços
da cirurgia e dos cuidados emergenciais (...) demonstrando competência clínica e
tecnológica em relação à abordagem de seus pacientes” (GOLLEGÃ; LUZO; DE
CARLO In: BARTALOTTI; DE CARLO, 2001, p.139).
No Brasil, no final da década de 70, o movimento de Reforma Psiquiátrica
Brasileira, fortemente influenciado pelo movimento de desinstitucionalização
psiquiátrica italiano, representou uma crítica às instituições asilares e a busca de
transformação das propostas de atendimentos em saúde mental. Neste processo,
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lutou-se pela implementação de novas políticas públicas, pela garantia e construção
de direitos as pessoas com transtornos mentais e por uma rede de atenção pública
integral em saúde mental. Representando um forte avanço neste processo, em abril
de 2001, foi sancionada a Lei Federal no 10.216 que “dispõe sobre a proteção e os
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental” e orienta a atenção prioritária em serviços
comunitários.

2.2 Realidade atual da formação profissional

A Terapia Ocupacional é um campo de conhecimento e intervenção em


saúde, em educação e na área social, que reúne tecnologias orientadas para a
emancipação e a autonomia de pessoas que, devido a problemáticas específicas
(físicas, sensoriais, psicológicas, mentais ou sociais), apresentam dificuldades de
inserção e participação na vida social temporária ou definitivamente (BARROS E
COL., 2002, P. 366).
É notável o crescimento dessa profissão no campo da saúde,
especialmente na última década. A ampliação da participação desses profissionais
pode ser verificada através do incremento da oferta de cursos de graduação na
área, principalmente em instituições públicas de ensino, e, também, pelo aumento
do número de vagas e de convocações oferecidas pelos concursos públicos.
(BARROS E COL., 2002, P. 366).
Tentando atingir a integralidade, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem
criado novas oportunidades para diversas categorias profissionais na rede. Este é
o caso da Terapia Ocupacional, que possui características que favorecem sua
inserção no atual sistema público de saúde no Brasil. A preocupação com a visão
integral das pessoas e o reconhecimento da dimensão social da saúde sempre
estiveram presentes para a profissão. Qualidade de vida, cidadania, prevenção,
promoção da saúde são termos bem próximos da Terapia Ocupacional e são,
também, termos próprios do SUS. Por outro lado, a diversidade de suas áreas de
atuação (saúde mental, a reabilitação, prática hospitalar, área educacional, social e
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outras) garante ao terapeuta ocupacional uma formação geral e ampla, que vem
sendo valorizada no atual sistema de assistência à saúde. (BARROS E COL., 2002,
P. 366).
Apesar de seu crescimento, o desconhecimento acerca da profissão parece
ser um incômodo para os profissionais. Em recente pesquisa junto aos terapeutas
ocupacionais que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade do Rio de
Janeiro, foi constatado que 24% dos profissionais entrevistados apontaram a falta
de reconhecimento da profissão como o principal desafio em sua prática
(CARVALHO, 2010).

Entidades de classe
O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) é
uma Autarquia Federal criada pela Lei nº 6316, de 17 de dezembro de 1975. Com
sede no Distrito Federal, o COFFITO tem objetivos constitucionais de normatizar e
exercer o controle ético, científico e social das profissões de Fisioterapeuta e
de Terapeuta Ocupacional. Enquanto Autarquia Federal, o conselho exerce a
função normativa e o controle ético, científico e social do exercício da Fisioterapia e
da Terapia Ocupacional. (BRASIL, 2017).
Atualmente o COFFITO busca defender os interesses corporativos das
profissões, dedicando-se em defender a inserção profissional nos diversos
ambientes no mundo do trabalho, bem como, fomentar a boa formação técnica e
humanista dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais, para que a sociedade
possa receber serviços resolutivos e de excelência. (BRASIL, 2017).

Produção de conhecimento
Compreender a terapia ocupacional como um núcleo profissional composto
por saberes e práticas (CAMPOS, 2000; MALFITANO, 2005) implica em explorar,
conhecer e debater acerca das tendências e tensões que têm sido produzidas
longitudinalmente no saber-fazer profissional. Trata-se, portanto, de reconhecer que
as perspectivas, referências, modelos e abordagens utilizados expressam modos

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de entendimento e ação da terapia ocupacional em consonância com sua época,
que podem ou não ter continuidade no curso histórico da profissão.
Ao longo dessas seis décadas, desde a criação dos primeiros cursos de
terapia ocupacional no Brasil, em 1956, referenciais teóricos e metodológicos vêm
sendo incorporados e substituídos de acordo com os contextos e mudanças
históricas, sociais e políticas do país, tendo sido o ensino, a pesquisa e a extensão,
desenvolvidos nas universidades, importantes vetores de produção de novas
perspectivas e tendências para a profissão. A incorporação de novas perspectivas
teórico-metodológicas e referenciais teórico-práticos acontece, também, em diálogo
com reconfigurações no âmbito das políticas públicas, com recomendações de
organismos internacionais e com a difusão de novas tecnologias e tendências
produzidas nos cenários nacional e/ou internacional. (CAMPOS, 2000;
MALFITANO, 2005)

Mercado de trabalho
A Terapia Ocupacional e, consequentemente, seu mercado de trabalho,
constituem práticas sociais ligadas ao contexto histórico e, como tais, vêm se
transformando ao longo dos anos. Essas mudanças e rupturas refletem o contexto
cultural, político, ideológico e socioeconômico no qual a profissão está inserida. De
acordo com Medeiros (2003), o percurso de uma profissão e o caminho que esta
assume depende de seus papéis e das funções sociais desempenhadas por seus
profissionais, além de suas construções teóricas, das práticas utilizadas e do
caminho das diferentes convicções de homem e sociedade que dão suporte à
elaboração da construção do seu conhecimento. Assim, tentar entender a Terapia
Ocupacional e seu mercado de trabalho de forma linear é uma visão reducionista,
pois:

[...] é preciso entender as diferentes características que ela


assumiu e continua assumindo, e os diferentes contextos
nos quais essas formas se manifestam (MEDEIROS, 2003,
p. 38).

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Nesse sentido, Cavalcante, Tavares e Bezerra (2008) propõem uma análise
do mercado de trabalho da Terapia Ocupacional sob um olhar crítico ao sistema
econômico capitalista, em sua vertente liberal. De acordo com esses autores, as
transformações geradas pelo capitalismo exercem influências sobre a profissão,
tanto no mercado de trabalho quanto nas demandas impostas aos profissionais.
Bezerra, Tavares e Cavalcante (2009) corrobora com essa perspectiva e
afirma que a análise do mercado de trabalho da Terapia Ocupacional não deve
perder de vista o cenário político e social que vem ocorrendo no Brasil, pois este
afeta diretamente a profissão, uma vez que as mudanças sociais decorrentes têm
seus efeitos no mundo do trabalho e podem atingir a classe trabalhadora através
das mudanças no seu mercado.
De acordo com Medeiros (2003, p. 39):

A Terapia Ocupacional como profissão é resultado da


divisão de classes sociais, com as consequentes
especializações do trabalho humano nas sociedades
capitalistas, e da tendência de compartimentalização
fragmentada do conhecimento.

3 INTERVENÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL NO CAMPO SOCIAL

Fonte: http://www.cruzverde.org.br

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Segundo a World Federation of Occupacional Therapy (2003), a Terapia
Ocupacional é um campo de conhecimento e de intervenção em saúde, educação
e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emancipação e
autonomia das pessoas que, por razões ligadas a problemáticas específicas,
físicas, sensoriais, mentais, psicológicas e / ou sociais, apresentam,
temporariamente ou definitivamente, dificuldades na inserção e participação na vida
social. A Terapia Ocupacional na área social teve seus primeiros momentos nos
anos 70, quando alguns profissionais brasileiros compreenderam a necessidade de
atuar em projetos de ações sociais e em instituições até então distantes de seus
interesses.
Terapia ocupacional no campo social foram constituídas durante a década
de 1980 sob forte influência do contexto histórico-político, uma vez que esse período
foi marcado pela emergência dos movimentos sociais, pela luta em favor da
redemocratização do país e pelo debate da Reforma Sanitária e da Luta
Antimanicomial. Outrossim, os docentes e pesquisadores da terapia ocupacional
buscavam formação em áreas de conhecimentos afins, tais como a antropologia, a
filosofia, a educação e a psicologia (BARROS; GHIRARDI; LOPES, 2002;
GALHEIGO, 2016).

O terapeuta ocupacional, no âmbito de sua atuação, é


profissional competente para atuar em todos os níveis de
complexidade da política de assistência social, do
desenvolvimento socioambiental, socioeconômico e cultural
(BRASIL, 2010, p. 80).

3.1 Atuação do terapeuta ocupacional com indivíduos em situação de risco


social

No campo social, observa-se uma variedade de ações desenvolvidas, na


maioria das vezes, por organizações não governamentais e voltadas a crianças e
adolescentes, especialmente para aqueles que se encontram em situações de
maior vulnerabilidade e risco pessoal e social (LOPES et al., 2006).
A grande parte das instituições dialoga pouco com outros serviços, como a
comunidade, a família e a escola, deixando a desejar na promoção dos direitos das
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crianças e dos adolescentes em situação de vulnerabilidade, tornando ineficaz
atender a essa população. Portanto, é necessário o fortalecimento de ações que se
dediquem à promoção dos direitos desses sujeitos (LOPES; SILVA; MALFITANO,
2006).
Segundo a Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2005), a
vulnerabilidade é formada por situações que levam à exclusão social dos sujeitos.
Situações como essa surgem não só nos processos de produção e reprodução de
desigualdades sociais, mas também nos processos discriminatórios, nas
construções histórico-sociais e nas dificuldades de acesso às políticas públicas.
Sendo assim, a vulnerabilidade é constituída por fatores sociais, culturais,
políticos, biológicos, econômicos, assim como pelo difícil acesso a direitos, que
atuam de diversas maneiras sobre as possibilidades de enfrentamento de situações
adversas (BRASIL, 2010).
A Terapia Ocupacional social atua com base no que emerge das
contradições desta sociedade, marcada pela desigualdade e pela presença
crescente de grandes contingentes da população submetidos à marginalização,
dissolução de vínculos e vulnerabilização das redes sociais, como sugerem Barros
et al. (2007).
Na Resolução COFFITO nº 445/2014 (BRASIL, 2014), foram definidos os
parâmetros e competências para a atuação do terapeuta ocupacional nos contextos
de saúde, sociais, culturais e educacionais em todo território nacional. Os
parâmetros assistências terapêuticos ocupacionais em contextos sociais são
pautados no âmbito comunitário, territorial, domiciliar ou outras formas de moradia
em:
I) Serviços, programas e projetos sócio assistenciais de proteção social
básica;
II) Serviços, programas e projetos sócio assistenciais de proteção social
especial de média complexidade;
III) Serviços, programas e projetos sócio assistenciais de proteção social
especial de alta complexidade;
IV) Serviços, programas e projetos culturais;
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V) Serviços, programas e projetos educativos formais e não formais;
VI) Serviços, programas e projetos socioambientais, econômicos,
diversas modalidades associativas e com comunidades tradicionais.

3.2 Intervenções da Terapia Ocupacional em Saúde e Trabalho.

A área da Saúde do Trabalhador (ST) é um campo de práticas e saberes


interdisciplinares, que visam à integridade física, emocional e social dos
trabalhadores. Atualmente, as intervenções na área são orientadas pela Política
Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – PNSTT (BRASIL, 2012),
cuja premissa é a atenção integral à saúde dos trabalhadores.
Na terapia ocupacional (TO), as ações no campo da ST no Brasil, década
de 1950, partiram do foco na reabilitação dos indivíduos, dentre eles os
trabalhadores, o que impulsionou a criação de diversos centros de recuperação,
habilitação e reabilitação profissional. No entanto, o atendimento era voltado apenas
para os trabalhadores contribuintes da Previdência Social, e também, não era
viabilizada a reinserção para o mercado de trabalho (LAMONATO et al., 2007)
Já nos Centros de Reabilitação Profissional (CRP) do Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), década de 1980, o modelo de atenção era desenvolvido
por equipes multiprofissionais formadas por médicos, assistentes sociais,
psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, fonoaudiólogos,
pedagogos e sociólogos. Todos os recursos terapêuticos necessários constavam
do interior do próprio serviço. O terapeuta ocupacional atendia a clientela do serviço,
os trabalhadores amputados por acidentes de trabalho que ficavam em programa
de reabilitação profissional visando ao retorno ou à reinserção ao trabalho
(TAKAHASHI; IGUTI, 2008).
Segundo Soares (1991), a TO vem intervir no binômio trabalho-saúde e,
sob o ponto de vista da autora, assume, enquanto base fundamental, o caráter
subjetivo/objetivo do trabalho como realização da capacidade humana e inserção
do indivíduo na sua realidade material.
16
Watanabe e Nicolau (2001) revelam que os terapeutas ocupacionais
brasileiros vêm desenvolvendo diversos trabalhos na área de saúde do trabalhador,
exercendo diferentes papéis (funcionários da empresa, consultor, assessor,
prestador de serviços, parceiro e colaborador de pesquisa e intervenção) e atuando,
basicamente, em quatro frentes: reabilitação, prevenção de doenças, promoção da
saúde e promoção social, mas também na investigação das atividades laborais,
condições, postos, organização e relações do trabalho, com o objetivo de prevenir
doenças ocupacionais e acidentes de trabalho.
Nos serviços públicos de saúde, como os Centros de Referência em Saúde
do Trabalhador (Cerest), as ações de TO estão articuladas com as demais ações
de saúde em equipes multidisciplinares (LANCMAN; GHIRARDI, 2002), realizando
atividades de assistência aos trabalhadores adoecidos ou acidentados no trabalho,
traçando plano de atendimento individual ou grupal; vigilância em saúde do
trabalhador, dos ambientes e condições de trabalho utilizando recursos como a
ergonomia da atividade; e educação em saúde e trabalho, com ações de
capacitação junto à rede para auxiliar na supervisão para notificação dos
acidentados do trabalho nas unidades de urgência/emergência dos territórios
municipais.
Destaca-se que a TO passa a fazer parte do cenário não apenas da saúde
do trabalhador como também da Vigilância em Saúde do Trabalhador (Visat),
desenvolvendo ações essenciais na investigação, análise e intervenção
relacionadas ao trabalho visando à promoção de saúde, bem como prevenção de
agravos relacionados a acidentes e doenças ocupacionais (DALDON; LANCMAN,
2013a).
Lancman e Ghirardi (2002) afirmam a importância da atuação de terapeutas
ocupacionais na área de saúde do trabalhador, por ser um profissional altamente
habilitado para tratar e prevenir os agravos nutridos pelas relações homem-trabalho
intimamente associadas desde os primórdios da humanidade até a
contemporaneidade.
A prática da TO no cenário da saúde do trabalhador deve incluir ações que
busquem a prevenção de doenças ou agravos advindos de atividades laborais,
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reabilitação dos indivíduos já adoecidos, dando atenção especial ao homem e às
questões que permeiam a sua saúde, uma vez que as condições e a forma como é
organizado o trabalho constituem fatores importantes na determinação do
adoecimento, permitindo, ao trabalhador, a realização de uma tomada de
consciência e conhecimento acerca de sua prática, possibilitando a realização de
mudanças na sua relação com o trabalho que executa (LANCMAN, 2004).

4 ERGONOMIA

Fonte: https://www.daexe.com.br/

A etimologia do termo ergonomia remonta a duas palavras gregas, ergon


(trabalho) e nomos (regras), ou seja, “regras para o trabalho”. Na prática, é uma
ciência que busca aplicar aos mais diferentes materiais de trabalho normas e formas
que propiciem o maior conforto e proteção para o trabalhador, buscando uma
convivência pacífica entre homem e máquina. Dul e Weerdmeester (2012, p. 14)
afirmam que a ergonomia é “[...] uma disciplina científi ca que estuda as interações
dos homens com outros elementos do sistema, fazendo aplicações da teoria,

18
princípios e métodos de projeto, com o objetivo de melhorar o bem-estar humano e
o desempenho global do sistema”.
Quando entendemos a ergonomia como um aprimoramento dos
mecanismos laborais, é possível entender que ela remonta aos períodos mais
antigos, partindo da criação da roda e de ferramentas que facilitavam a caça e o
plantio, bem como o domínio do fogo pelo homem, com a intenção de transformar
o alimento pelo calor, processo que possibilitou que outras ferramentas e estilos de
vida fosses elaborado (ABRAHÃO et al., 2009).

A Ergonomia objetiva modificar os sistemas de trabalho para


adequar a atividade nele existentes às características, habilidades e
limitações das pessoas com vistas ao seu desempenho eficiente,
confortável e seguro (ABERGO, 2000).

4.1 Conceitos, métodos e técnicas utilizados em ergonomia

O conceito mais atual da ergonomia envolve a adaptação da máquina ao


homem, em um sistema de interação entre as partes. Contudo, essa preocupação
vai além da eficácia produtiva, uma vez que abrange todo o processo, desde o
projeto do produto até a verificação de formas de trabalho existentes, não
considerando a produção máxima que o trabalhador pode executar sem
compreender as consequências do impacto disso em sua saúde (WEBER, 2018).
A ergonomia engloba técnicas e métodos científicos na análise do trabalho
humano, podendo ser classificada de três formas quanto a sua contribuição
(WEBER, 2018):
 Ergonomia de concepção: quando ocorre na fase de projeto de
produtos, da máquina ou do ambiente.
 Ergonomia de correção: aplicada em situações reais existentes,
como problemas de fadiga e doenças ocupacionais.
 Ergonomia de conscientização: ocorre quando os problemas não
são resolvidos nas fases de concepção e correção, tornando-se necessário
conscientizar o operador a trabalhar de forma segura e fornecer treinamentos para
a execução das atividades.

19
Quanto aos seus domínios de especialização, a ergonomia divide-se
conforme a ocasião em que e efetuada (SOUZA et al.,2019):

 Ergonomia física: relacionada a anatomia humana, antropometria,


fisiologia e biomecânica.
 Ergonomia cognitiva: relacionada aos processos mentais, como
percepção, memoria e raciocínio.
 Ergonomia organizacional: relacionada as otimizações de sistemas
sócio técnicos

A importância dessas formas de ergonomia consiste em suas aplicações,


conforme o seu objetivo nos diferentes ambientes laborais. A análise ergonômica
do trabalho (AET), desenvolvida por franceses, e um exemplo de ergonomia de
correção, pois visa a aplicar os conhecimentos da ergonomia para analisar,
diagnosticar e corrigir uma situação real do trabalho (IIDA, 2005).
A elaboração de uma AET e um passo importante para se alcançar essa
adaptação da máquina ao homem, pois ela funciona como um mecanismo de auxílio
para a compreensão dos problemas existentes no processo produtivo (CORREA;
BOLETTI, 2015).
Por meio do conhecimento prévio da demanda, da tarefa ou da atividade, e
possível aumentar a qualidade de vida do trabalhador em seus aspectos físicos,
sensoriais, cognitivos, sociais e organizacionais (WEBER, 2018).
O fisioterapeuta do trabalho e um dos profissionais habilitados para a
elaboração da AET, pois tem conhecimento técnico-cientifico sobre a anatomia
fisiologia humana e a biomecânica corporal, itens importantes na avaliação e em
todo o processo que resulta na AET (CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E
TERAPIA OCUPACIONAL [Coffito], 2016).
Outros profissionais com conhecimento em anatomia, fisiologia,
biomecânica corporal, organização do trabalho e com curso de pós-graduação lato

20
sensu de, no mínimo, 360 horas em ergonomia em instituição pública ou privada
credenciada pelo Ministério da Educação também podem elaborar e assinar uma
AET (BRASIL, 2016).
A Norma Regulamentadora de Ergonomia 17 (NR 17), publicada pelo
Ministério do Trabalho e Emprego (atual Secretaria de Trabalho), estabelece os
parâmetros ergonômicos norteadores que permitem a avaliação da adaptação das
condições de trabalho as características psicofisiologicas dos trabalhadores.
(CORREA; BOLETTI, 2015).
O objetivo dessas alterações e fornecer o máximo de conforto, segurança
e desempenho eficiente ao trabalhador, e isso deve ser a base da AET, pois é uma
forma de avaliar a adaptação das condições de trabalho as características
psicofisiologicas do trabalhador (BRASIL, 1990).
Por esse motivo, são avaliados o levantamento, o transporte e a descarga
individual de materiais, bem como os equipamentos, o mobiliário, as condições
ambientais e a organização do trabalho. Entre as premissas da AET, destacam-se
a compreensão da situação do trabalho e suas implicações, a elaboração de um
diagnóstico para investigar as situações mais preocupantes, a emissão de
pareceres e a busca por soluções para melhorias (CORREA; BOLETTI, 2015).
Além disso, essa e uma importante ferramenta utilizada para a gestão da
saúde e segurança ocupacional. Cabe ao empregador realizar as analises
ergonômicas por meio de um profissional da ergonomia, tornando-se importante
que ele entenda as três etapas da AET. (CORREA; BOLETTI, 2015).
A elaboração de um relatório de AET engloba uma extensa teoria, bem
como o conhecimento das ferramentas ergonômicas que são recursos auxiliares
nas avaliações posturais, as quais se diferenciam pelos fatores analisados e os
dados de entrada (SOUZA et al., 2019). Essas ferramentas fornecem recursos de
cálculo para estabelecer o limite de peso recomendável em determinadas atividades
de trabalho e consistem em registros importantes de análises sobre queixas álgicas
e de agravos à saúde. Além disso, elas reúnem informações sobre satisfação no
ambiente de trabalho e são ótimos fundamentos para propostas futuras
relacionadas com a atuação empresarial, como nos casos de expansão
21
empresarial, além de serem um ótimo indicativo de saúde e segurança ocupacional.
Dessa forma, o melhor método a ser utilizado é aquele que se enquadra à
necessidade da sua avaliação (SOUZA et al., 2019).

Método OWAS
O método OWAS é utilizado na análise das posturas das costas, dos
braços, das pernas e do esforço do trabalhador (Figura 6), fornecendo uma
categoria de ação em que se pode analisar a frequência e o tempo em que o
trabalhador fica em cada postura em sua tarefa. Assim, é possível avaliar cada
postura, fornecendo pontos, bem como o nível de esforço avaliado por carga. A
porcentagem de tempo em determinada postura apresenta categorias de ação,
mensurando também a força empregada e as propostas de categorias de ação
conforme a pontuação. De acordo com Souza et al. (2019), existem quatro classes
de posturas, conforme descrito a seguir.

1. Postura normal: sem necessidade de medida corretiva.


2. Postura levemente prejudicial: pode ser necessária uma medida
corretiva.
3. Postura prejudicial: é necessário corrigir a postura o mais rápido
possível.
4. Postura extremamente prejudicial: são necessárias medidas
imediatas de correção.

22
Método RULA
O método RULA é uma adaptação do OWAS, utilizando esquemas de
postura do corpo com tabelas de risco de exposição a fatores de cargas externos.
Assim, a demonstração do risco de desenvolver doenças ocupacionais é mais
simples. Esse método é muito utilizado para a análise das sobrecargas
concentradas no pescoço e nos membros inferiores durante execução das
atividades laborais (SOUZA et al., 2019).
Para o método RULA, o corpo é dividido em duas partes: A e B, que são os
membros superiores e os inferiores (pescoço, tronco, pernas e pés). A análise é

23
feita de acordo com as angulações do corpo e dos membros, com pontuação de 1
a 7, sendo 1 o menor risco e 7 o maior risco de lesão.

24
Método NIOSH
O NIOSH é um órgão do governo norte-americano que desenvolveu uma
equação que permite calcular o limite de peso recomendável, levando-se em
consideração fatores como a manipulação assimétrica de cargas, a duração da
tarefa, a frequência dos levantamentos e a qualidade da pega. Essa equação
considera os critérios a seguir para estabelecer os limites de carga, de acordo com
o Manual de aplicação da Norma Regulamentadora nº 17 (BRASIL, 2002).

 Biomecânico: limita o estresse na região lombossacral.


 Fisiológico: limita o estresse metabólico e a fadiga associada a
tarefas repetitivas.
 Psicofísico: limita a carga conforme a percepção da capacidade do
trabalhador.
O NIOSH é uma ótima ferramenta para estimar os limites de carga, o que é
essencial em empresas cujos serviços envolvem a descarga de materiais. No
entanto, essa ferramenta não é aplicável às tarefas em que a frequência de
levantamento é elevada (mais de seis levantamentos por minuto). Além disso, deve-
se estar atento ao termo localização-padrão de levantamento que é empregado na
definição dos fatores da equação, sendo uma referência no espaço tridimensional
para avaliar a postura de levantamento. (BRASIL, 2002).

25
4.2 Introdução à análise ergonômica da atividade com enfoque nos aspectos
materiais, fisiológicos, psicológicos e organizacionais

Conforme a NR 17, para avaliar a adaptação das condições de trabalho às


características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a
análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as
condições de trabalho (BRASIL, ABNT, 1990).
As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento,
transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos, às condições

26
ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. A AET visa
aplicar os conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma
situação real de trabalho. O método desdobra-se em 5 etapas (IIDA, 2005):
a. Análise da demanda: consiste na descrição de um problema ou
situação problemática, que justifica a necessidade de uma ação ergonômica. Pode
ser solicitado pela direção da empresa; pelos trabalhadores e suas organizações
sindicais;
b. Análise da tarefa: trata-se de um conjunto de objetivos prescritos, que
os trabalhadores devem cumprir. A AET analisa a discrepância entre a tarefa que é
prescrita (descrição de cargos) e a que é executada;
c. Análise da atividade: refere-se ao comportamento do trabalhador na
realização de uma tarefa. A atividade é influenciada por fatores internos e externos.
Os fatores internos estão relacionados ao próprio trabalhador, caracterizado pelas
suas experiências, idade, sexo, motivação, sono e fadiga. Já os fatores externos
referemse às condições em que a atividade é executada: i) conteúdo do trabalho
(objetivos, regras e normas); ii) organização do trabalho (constituição de equipes,
horários, turnos); iii) meios técnicos (máquinas, equipamentos, posto de trabalho,
iluminação, ambiente térmico);
d. Diagnóstico: o diagnóstico procura descobrir as causas que
provocaram o problema descrito na demanda. Podendo ser vários fatores:
absenteísmo (faltas ou atrasos); rotatividade (pode ser devido ao treinamento
insuficiente ou elevada carga de estresse no ambiente); acidentes (pode ocorrer por
falta de manutenção nas máquinas, sinalização mal interpretada, pisos molhados,
entre outros); baixa qualidade: pode ser por consequências de erros de
dimensionamento do posto de trabalho, ou pela sequência inadequada de tarefas;
e. Recomendações ergonômicas: as recomendações ergonômicas
referem-se as providências que deverão ser tomadas para resolver o problema
diagnosticado. Devem-se prescrever todas as etapas necessárias para resolver o
problema. Estas podem vir acompanhadas de figuras com detalhamento das
modificações a serem feitas em máquinas ou postos de trabalho, e indicar as

27
respectivas responsabilidades (pessoa e seção do departamento encarregado, com
indicação do respectivo prazo).
A Ergonomia apresenta-se sobre diversos tipos, dentre eles encontra-se a
Ergonomia de campo que, constitui na pesquisa realizada a partir de uma situação
real, ou seja, é o estudo do homem no trabalho e em quais condições ele o realiza.
Para isto, pode-se utilizar como parâmetro de avaliação dos riscos prospectivos, a
análise ergonômica do trabalho (AET), que estuda cada posto pertencente a um
sistema de produção, analisando todos os pontos desfavoráveis ao
desenvolvimento da atividade, agrega as diferentes partes num todo para,
posteriormente, fazer uma recomposição da situação de trabalho. Contudo, sua
aplicação pode ser realizada nos mais diversos setores da atividade humana como
na indústria, na agricultura e mineração, nos setores de serviço e nas atividades
domésticas ou atividades de vida diária. (BRASIL, 2002).
Neste aspecto, SANTOS (1997), relata a existência de diferentes técnicas
que podem ser empregadas para uma intervenção ergonômica, quais sejam,
observação direta, observação clínica, registro de diversas variáveis fisiológicas do
indivíduo, medidas do ambiente físico (ruído, iluminação, vibração, poeira,
temperatura, gases).
Para FREITAS (2000), a preocupação com o homem, seu trabalho e o
ambiente no qual este é desenvolvido, tem despontado em diversos segmentos
produtivos como fator relevante nos programas de aumento da produtividade, nos
projetos de implantação da qualidade total, na busca de maior segurança no
trabalho e no aumento da qualidade de vida, tanto profissional como pessoal do
trabalhador.
Devido a esta realidade, POZZOBON et al (2001), apontam para a
necessidade de assegurar um ambiente de trabalho ergonomicamente correto e
adequado à biomecânica corporal e a uma conscientização de hábitos posturais
que levem a adequada realização das tarefas laborativas, evitando dores e
possíveis desenvolvimento de doenças.
Com a industrialização acelerada em todos os países do mundo, somada
às necessidades econômicas imediatas, são geradas agressões constantes ao
28
homem e ao meio ambiente, que para VIEIRA (2000), deixa os trabalhadores à
mercê da sorte no que se refere à segurança e à saúde ocupacional. Para o autor,
a ocorrência de tal fato se dá não somente pela inexistência de legislação, mas
principalmente pela falta de conscientização da responsabilidade que engloba tanto
os trabalhadores, como empresários e profissionais da área no aspecto da
prevenção, dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais.
De acordo com COUTO (1998), a ergonomia apresenta cinco áreas
aplicadas ao trabalho:
 Ergonomia na organização do trabalho pesado: visa adequar as
atividades com alto despêndio energético para que os trabalhadores não atinjam a
fadiga, que nesta situação se apresenta como um acúmulo de ácido láctico no
sangue. Nesta área, estuda-se os ambientes de trabalho à temperaturas extremas;
 Biomecânica aplicada ao trabalho: a biomecânica trata do estudo
dos movimentos humanos sob o ponto de vista da mecânica. Nesta área estuda-se
as diversas posturas de trabalho, a coluna vertebral, os membros superiores, com
o intuito de entender os mecanismos de formação da fadiga, lombalgias, lesões por
trauma cumulativo, entre outras. Também se observa o que acontece com o
trabalhador que cumpre sua jornada de trabalho na posição sentada;
 Adequação ergonômica geral do posto de trabalho: utilizando os
conceitos e tabulações principalmente da antropometria, as medidas humanas e as
posições de desconforto e conforto são levadas em consideração para o
planejamento de postos de trabalho adequados. Estas observações são válidas
para o planejamento das diversas situações de trabalho (leve ou pesado, sentado
ou em pé). A ergonomia tenta planejar o posto de trabalho para que atenda 90% da
população trabalhadora, sendo assim, é necessário o conhecimento do padrão
antropométrico desta população;
 Prevenção da fadiga no trabalho: a ergonomia procura identificar os
fatores que predispõem à fadiga, tanto física quanto psíquica, objetivando propor
soluções capazes de diminuir esta sobrecarga;

29
 Prevenção do erro humano: adequa os postos de trabalho de tal
forma que diminua o risco de erro humano. Sabe-se que nem todo o erro acontece
por condições ergonômicas desfavoráveis, mas em muitos casos estas condições
podem desencadear tal erro.

4.3 Abordagem do funcionamento do ser humano em situação real de


trabalho

Os riscos ergonômicos são responsáveis por grande parte das queixas,


dores, distúrbios e doenças osteomusculares relacionadas às atividades laborais.
Esses riscos são referentes à ergonomia física, sendo eles: posturas inadequadas,
levantamento manual de carga, repetitividade, esforço físico e condições ambientais
(ruído, iluminação e temperatura). (WEBER, 2018).
Em seu cotidiano, o profissional de ergonomia se depara com situações em
que, após o mapeamento de um ambiente de trabalho, percebe que, em algumas
atividades laborais, ocorre a associação de dois ou mais riscos ergonômicos. Isso
pode ser fundamental para o aumento de dores e de lesões osteomusculares,
promovendo um crescimento do índice de absenteísmo na empresa e,
consequentemente, a redução da produtividade e o crescimento do custo com
afastamento relacionado a acidentes de trabalho.
Para Weber (2018, p. 114):

[…] os fatores ergonômicos propriamente ditos muitas vezes encontram-


se nas situações comuns do ambiente de trabalho, o que pode ocasionar
a falsa impressão de normalidade quando, na verdade, eles apresentam
riscos. Nesse sentido, a repetitividade excessiva das tarefas, por exemplo,
pode provocar fadiga e desgaste. Fisicamente, pode motivar o surgimento
de lesões, como tendinite e lombalgia. A postura inadequada dos
colaboradores é outro problema comum nos locais de trabalho e origina
lesões. Logo, a combinação entre a repetitividade de uma tarefa e a
postura inadequada é ainda mais prejudicial para o trabalhador, pois
associa duas variáveis negativas, responsáveis por problema físicos, na
mesma atividade.

30
Transporte manual de cargas
Atualmente, na grande maioria das atividades dos setores operacionais,
ocorre algum tipo de transporte manual de cargas, sendo este um dos riscos
ergonômicos mais comuns de se identificar no ambiente de trabalho. O transporte
manual de cargas refere-se à quando um trabalhador, de forma individual ou em
dupla, realiza o levantamento, a sustentação, o transporte ou o deslocamento (puxar
ou empurrar) de cargas de qualquer peso. (WEBER, 2018).
Pode-se identificar facilmente os principais erros durante a execução da
atividade de levantamento manual de carga. De forma descritiva, a grande maioria
dos trabalhadores executa essa atividade realizando uma flexão da coluna vertebral
e mantendo os joelhos estendidos. Como essa atividade é repetida várias vezes
durante o dia com essa postura errada, com o decorrer do tempo, ocorrerá fadiga
na musculatura da coluna lombar, sendo essa patologia uma das mais decorrentes
nos casos de afastamento do trabalho. (WEBER, 2018).
Segundo Iida (2005), o número de lesões e traumas musculares
relacionados à atividade de transporte manual de cargas é de 60% do total, sendo,
ainda, 20% da atividade de puxar e empurrar. Kroemer e Grandjean (2005, p. 103)
reforçam o alto índice de distúrbios relacionados ao transporte manual de cargas:

[…] O British Health and Safety Executive (Health and Safety Executive,
1992) informou que no Reino Unido mais de um quarto dos distúrbios
registrados na indústria, entre 1990 e 1991, estavam associados com o
manuseio de cargas — o transporte ou manutenção de cargas pela força
manual ou corporal. Destes distúrbios, 45% ocorreram nas costas, 22 nas
mãos e 13 nos braços. Dados similares são reportados nos Estados
Unidos (Marras et al., 1995). De acordo com Krämer (1973), na Alemanha,
os problemas discais são a causa de 20% de absenteísmo e 50% de
aposentadorias prematuras. Os problemas de coluna estão entre as
causas mais comuns de distúrbios e invalidez em muitas populações
industriais.

Para fins de mapeamento ergonômico, lembre-se de que a análise do risco


de levantamento de carga é feita de forma qualitativa (identificação da existência do
risco), não sendo necessário o uso de ferramentas ergonômicas para mensurar
quantitativamente o risco de lombalgia durante a atividade de levantamento de
cargas. (WEBER, 2018).

31
Condições ambientais
A Norma Regulamentadora do Trabalho 17 (NR-17), em seu item 17.5, cita
as normativas que se deve seguir quanto aos riscos ergonômicos causados pelas
condições ambientais. A NR descreve como riscos ambientais: ruído, temperatura,
iluminação, velocidade e umidade relativa do ar. (BRASIL, 2017).
É importante ressaltar que o mapeamento ergonômico é uma “apreciação”
dos riscos existentes no ambiente de trabalho, sendo assim, é uma análise
qualitativa, ou seja, o profissional realizará uma investigação do ambiente, dos
mobiliários e das atividades executadas pelo trabalhador. (BRASIL, 2017).
Dessa forma, quando se trata da análise qualitativa de riscos ambientais,
deve-se atentar para três riscos visíveis durante a apreciação ergonômica, são eles:
ruído, temperatura e iluminação. Contudo, todos os riscos ambientais deverão ser
mensurados em uma etapa futura (durante a elaboração da análise ergonômica do
trabalho). (BRASIL, 2017).
O ruído é o primeiro risco que deve ser observado em um mapeamento
ergonômico. Ao investigar a atividade laboral e seu ambiente, o profissional deve
se atentar a ruídos externos e a ruídos provocados por ferramentas de impacto ou
maquinários. (BRASIL, 2017).
A temperatura, por sua vez, deve ser classificada na análise qualitativa de
forma bem simples: local com temperatura ambiente (sem influência de ar-
condicionado e ventiladores) ou local com temperatura controlada (ambiente
fechado com uso de ar-condicionado). É importante destacar que as mensurações
quantitativas desses riscos serão realizadas na análise ergonômica do trabalho.
(BRASIL, 2017).
Quanto à iluminação, deve-se observar os tipos de iluminação existentes
no posto de trabalho, sendo eles: natural (ambiente aberto ou semifechado que
tenha como iluminação somente a luz solar), artificial (ambiente fechado com luz
gerada por lâmpadas) ou uma associação entre eles. Além disso, deve-se ficar
atento quanto ao ofuscamento da luz natural ou da luz artificial nas telas e nos
monitores dos postos informatizados. (BRASIL, 2017).

32
Durante o mapeamento ou análise ergonômica, o profissional deve
embasar os seus resultados na NR-17 de ergonomia, que rege a legislação a
respeito desse assunto. Assim, ele deve ter total conhecimento dos itens existentes,
sendo o levantamento de cargas um item citado em especial. (BRASIL, 2017).
Confira, a seguir, os itens da NR-17 referentes ao levantamento e ao
transporte manual de cargas (BRASIL, 1978).
17.2 Levantamento, transporte e descarga individual de materiais.
17.2.1. Para efeito desta Norma Regulamentadora:
17.2.1.1 Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o
peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o
levantamento e a deposição da carga.
17.2.1.2 Transporte manual regular de cargas designa toda atividade
realizada de
Maneira contínua ou que inclua, mesmo que de forma descontínua, o
transporte manual de cargas.
17.2.1.3 Trabalhador jovem designa todo trabalhador com idade inferior a
dezoito anos e maior de quatorze anos.
17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas
por um trabalhador cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua
segurança.
17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de
cargas, que não as leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias
quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar, com vistas a salvaguardar sua
saúde e prevenir acidentes.
17.2.4. Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas,
deverão ser usados meios técnicos apropriados.
17.2.5. Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para o
transporte manual de cargas, o peso máximo destas cargas deverá ser nitidamente
inferior àquele admitido para os homens, para não comprometer a sua saúde ou a
sua segurança.

33
17.2.6 O transporte e a descarga de materiais feitos por impulsão ou tração
de vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico
deverão ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador
seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a
sua segurança.
17.2.7 O trabalho de levantamento de material feito com equipamento
mecânico de ação manual deverá ser executado de forma que o esforço físico
realizado pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não
comprometa a sua saúde ou a sua segurança.

Posturas no trabalho
As posturas no ambiente de trabalho podem variar durante a jornada
laboral. Na maioria das situações, elas são determinadas pelo ambiente ou pela
atividade que está sendo executada pelo trabalhador. Por esse motivo, deve-se
atentar para a importância da ação da ergonomia nas empresas, a fim de corrigir as
inadequações físicas do ambiente, reduzir os riscos posturais e promover a
qualidade de vida do trabalhador. (BRASIL, 2017).
É considerada uma boa postura no ambiente de trabalho quando o sistema
musculoesquelético do trabalhador se encontra fisiologicamente adequado e
equilibrado enquanto este realiza as atividades laborais. Segundo o Comitê sobre
Postura, da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos, referida por Hall e
Brody (2001, p. 130):

[…] A postura é o arranjo relativo das partes do corpo. Boa postura é o


estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de
sustentação do corpo contra as lesões ou as deformidades progressivas,
independentemente da atitude (p. ex., ereta, deitada, agachada, inclinada)
na qual essas estruturas estão trabalhando ou repousando. Nessas
condições, os músculos funcionam mais eficientemente e as posições
ótimas são proporcionadas para os órgãos torácicos e abdominais.

Assim, é correto afirmar que o principal e mais comum risco ergonômico


encontrado em todos os ambientes e setores do trabalho é a postura inadequada
ou incorreta. (BRASIL, 2017).

34
A postura inadequada tem como principal causa dois fatores, listados a
seguir, que podem ser observados em um mapeamento ergonômico. (BRASIL,
2017).

 Ambiente de trabalho lesivo: quando um ambiente de trabalho


apresenta uma ou mais inadequações físicas (de mobiliários, maquinários ou
ferramentas) que exigem do trabalhador posturas e movimentos que causam
sobrecarga no sistema musculoesquelético e, consequentemente, o aumento do
risco de dores e distúrbios relacionados ao trabalho. (BRASIL, 2017).
 Ausência de conscientização ergonômica: quando o ambiente ou
posto de trabalho se encontra adequado ergonomicamente, porém, devido à falta
de conhecimento (treinamentos) dos conceitos de ergonomia, o trabalhador assume
vícios posturais inadequados. (BRASIL, 2017).

Desse modo, fica evidente a importância da identificação desse risco


ergonômico e a implantação de ações que possam reduzi-lo, promovendo a
melhoria da qualidade de vida do trabalhador e o aumento da produtividade.
(BRASIL, 2017).

Movimentos repetitivos

Antigamente, era comum encontrar, em diversas literaturas, a nomenclatura


lesão por esforço repetitivo (LER). Contudo, o uso demasiado dessa
nomenclatura, associado a repetitividade a todas as queixas de dores e distúrbios
osteomusculares, mostrou-se um erro, pois, em muitas ocasiões após a análise
quantitativa da repetitividade com o uso de metodologias específicas, ficou
evidenciado que o risco encontrado era de grau ausente ou baixo, o que não seria
a causa primária de tais distúrbios musculoesqueléticos. (BRASIL, 2017).
Atualmente, encontra-se com mais frequência nas literaturas a
nomenclatura doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT), que

35
permite a associação de causas posturais, repetitivas e traumas em doenças e
distúrbios relacionados às atividades laborais. (BRASIL, 2017).
É importante enfatizar que os movimentos repetitivos fazem parte de nossas
vidas, como, por exemplo, o ato de caminhar. Muitas vezes, trabalhamos em
atividades que exigem uma deambulação constante, mas nem por isso ocorre o
desenvolvimento de lesões ou doenças relacionadas ao trabalho. O movimento
repetitivo pode ser lesivo, porém sempre estará associado a outros fatores de risco,
como postura, esforço físico e o próprio excesso da repetitividade na execução da
atividade laboral. (BRASIL, 2017).
Sendo assim, é importante realizar o mapeamento ergonômico para
identificar esse risco, bem como uma análise quantitativa futura, a fim de, por meio
de ações ergonômicas, reduzir o risco de doenças relacionas à repetitividade.
(BRASIL, 2017).

4.4 Ergonomia: uma história do trabalho e da saúde da classe trabalhadora

A etimologia do termo ergonomia remonta a duas palavras gregas, ergon


(trabalho) e nomos (regras), ou seja, “regras para o trabalho”. Na prática, é uma
ciência que busca aplicar aos mais diferentes materiais de trabalho normas e formas
que propiciem o maior conforto e proteção para o trabalhador, buscando uma
convivência pacífi ca entre homem e máquina. Dul e Weerdmeester (2012, p. 14)
afi rmam que a ergonomia é “[...] uma disciplina científi ca que estuda as interações
dos homens com outros elementos do sistema, fazendo aplicações da teoria,
princípios e métodos de projeto, com o objetivo de melhorar o bem- -estar humano
e o desempenho global do sistema”
Quando entendemos a ergonomia como um aprimoramento dos
mecanismos laborais, é possível entender que ela remonta aos períodos mais
antigos, partindo da criação da roda e de ferramentas que facilitavam a caça e o
plantio, bem como o domínio do fogo pelo homem, com a intenção de transformar

36
o alimento pelo calor, processo que possibilitou que outras ferramentas e estilos de
vida fosses elaborados (ABRAHÃO et al., 2009).
O entendimento do conceito de ergonomia e sua aceitação por parte da
comunidade científica surgiu após a Segunda Guerra Mundial, quando a Força
Aérea Real britânica buscava compreender por que os equipamentos modernos
utilizados em seus aviões não alcançavam a eficácia esperada. Para isso, foi criada
uma comissão formada por um psicólogo, um fisiologista e um engenheiro. Após
longas análises, eles encontraram os problemas e os solucionaram, adaptando os
mecanismos de tal modo que cada piloto conseguisse compreendê-los e manipulá-
los com facilidade e maestria (ABRAHÃO et al., 2009), dando origem ao período
conhecido como ergometria tradicional.
A partir daí, a ergonomia voltou-se à aplicação de conhecimentos pré- -
existentes dentro das empresas com o objetivo de aumentar sua produtividade.
Com a chegada dos anos 1960, diversos movimentos sociais que buscavam
melhores condições laborais e uma carga horária adequada sem a fragmentação
do trabalho tomaram conta da sociedade, alçando os ergonomistas a uma posição
de destaque (ABRAHÃO et al., 2009). Nessa fase, conhecida como ergonomia do
meio ambiente, as intervenções eram mais mecânicas e pontuais, primando pela
segurança do funcionário e buscando minimizar as situações de insalubridade, mas
sem modificar postos de trabalho, já que o ambiente era visto como o único
responsável pelas doenças laborais.
Neste cenário, no ano de 1980 aconteceu uma virada no universo laboral,
que começou a investir esforços para a automação de processos de trabalho,
buscando cada vez mais transferir o alto esforço realizado nos postos de atuação
pelos funcionários por um trabalho automatizado, com o mínimo esforço físico
possível (ABRAHÃO et al., 2009). Os anos subsequentes ficaram conhecidos como
o período da ergonomia cognitiva.
Nessa mesma época, um acontecimento marca a história da ergonomia no
Brasil: a fundação da Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo) em 1983, com
o intuito de regular e difundir as atividades da área pelo país. A partir daí, algumas

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alterações ergonômicas mais incisivas começam a acontecer no cenário nacional,
como as Normas Reguladoras previstas na legislação.
Após esse período, inicia-se um ciclo que segue vigente até os dias de hoje,
conhecido como macroergonomia, pautado pela participação do público-alvo.
Desse modo, aqueles que realizam o trabalho contribuem para a criação de
intervenções, o que torna o processo mais assertivo e facilita a aceitação das
mudanças implementadas, uma vez que representam contribuições colaborativas
(SAMPAIO; SOUZA, 2012).
Sendo assim, é possível perceber que a ergonomia evoluiu e sofreu
modificações, passando por um processo de autotransformação e transformação
da sociedade. Uma vez que as legislações e causas trabalhistas foram evoluindo,
a ergonomia acompanhou esse processo, reformulando-se, adaptando-se e
produzindo novas ferramentas e tecnologias que viriam a influenciar a maneira
como entendemos o trabalho.

4.5 Ergonomia, uma ciência pautada na interdisciplinaridade

A ergonomia muitas vezes é entendida como um resultado — como um


produto ou uma norma —, mas a verdade é que ela é um processo repleto de
etapas, abrangendo desde o ajuste e foco do problema até a identificação do
processo de tomada de decisão na organização, o levantamento dos recursos
humanos para formar a consultoria interna e a determinação das formas de
apresentação de resultados. A análise é fundamental para que o ergonomista
realize as modelagens necessárias para prover mudanças no ambiente de trabalho.
Já a implementação ergonômica constitui a fase final de uma intervenção.
Os pressupostos para a prática desta ciência estão apoiados em
fundamentos ou princípios básicos para compreender um fenômeno, sendo eles a
interdisciplinaridade, a análise das situações reais e o envolvimento dos sujeitos,
formando uma tríade essencial para o trabalho dos ergonomistas, proposta por
Abrahão et al. (2009).
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A interdisciplinaridade consiste em um processo de contínuo
desenvolvimento e reconstrução dos conhecimentos de diferentes áreas que se
interligam e são atravessadas por conteúdos e saberes umas das outras, criando
um novo significado para saberes já consolidados. Esse processo é importante para
observar o fenômeno do trabalho humano sob diferentes perspectivas, uma vez que
permite compreender todas as facetas de uma mesma situação (Figura abaixo).

Fonte: Adaptada de Hermosilla (2006).

Na construção do saber interdisciplinar, são englobados os mais diferentes


conhecimentos, como as ciências humanas, sociais, da vida e técnicas, situadas
em um cruzamento interdisciplinar com a fisiologia, a psicologia, a sociologia, a
linguística e práticas profissionais como a medicina do trabalho, o design, a
sociotécnica e as tecnologias de estratégia e organização (HERMOSILLA, 2006).
Quando compreendemos a ergonomia como um processo, compreendemos que
ela acima de tudo propõe um estudo do ser humano em sua pluralidade, o que
requer vários conhecimentos em áreas diferentes para compreender os fenômenos,
pensando em soluções ergonômicas para cada problema estudado.
A análise da situação real consiste em entender o trabalho que é realizado
na prática, com intimidade, conhecendo os processos, falhas e potenciais, além de
ouvir quem faz o trabalho, quais são os seus objetivos, dificuldades, características
e necessidades, criando opções e soluções de acordo com a realidade daquele que

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irá se beneficiar delas. Esse pressuposto também compreende que o profissional
da ergonomia deva sempre ir até o local onde acontecerá a intervenção (ABRAHÃO
et al., 2009).
A análise dos sujeitos parte do pressuposto de que, além de conhecer a
fundo uma atividade laboral, devemos conhecer profundamente aquele que a
exerce. Uma vez que as atividades laborais podem apresentar diferenças
dependendo de quem as realiza, isso torna a intervenção ergométrica algo pessoal
e único, não podendo ser aplicado de maneira indistinta a todos os sujeitos
(ABRAHÃO et al., 2009).
Por todos os motivos e cenários apresentados ao longo deste capítulo, é
notável que a ergonomia cresce sobremaneira, tonando-se imprescindível para o
bom funcionamento de empresas. Muitas delas já possuem profissionais da
ergonomia contratados justamente para aplicar este olhar atento a todos os
funcionários, sendo esta uma das áreas de atuação daqueles que possuem
formação na área da educação física e desejam atuar transformando a jornada
laboral de maneira positiva, utilizando os conhecimentos sobre o corpo e o
movimento.
O profissional de educação física possui competências e habilidades que
vão ao encontro daquelas exigidas do profissional que atua na área da ergonomia,
como conhecimentos anatômicos, fisiológicos e biomecânicos, integrando essas
grandezas com a promoção da saúde. Dessa maneira, a ergonomia se compromete
a apresentar resultados efetivos para o aprimoramento da atividade laboral,
buscando sempre a melhor forma de realizar o trabalho, criando condições para
produção e manutenção da saúde. Como resultado, isso gera impactos na relação
de trabalho entre empregado e empregador, que, ao ter funcionários em atividades
mais funcionais e efetivas, obtém um aumento significativo de seus lucros.

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