Embora as informações sejam veiculadas de forma mais clara e assíduas,
falar sobre morte e suas esferas ainda é um grande tabu para a sociedade atual, a morte é um evento natural do percurso da vida, porém, ninguém está preparado para vivenciá-la independente de como ela aconteça nas vidas de cada um e seja entes queridos, figuras públicas ou até mesmas pessoas desconhecidas, mas que sua partida causa grande comoção. E mesmo a morte sendo descrita como um evento natural da vida, ainda assim há inúmeras dúvidas em torno dela e talvez, seja essa procura que de fato mobilize tantos estudiosos e profissionais, principalmente para entender as causas desse acontecimento e suas eventuais mobilizações, assim como prevenir e informar a população. Um dos grandes tabus que envolvem esse tema é o suicídio e seus riscos como a tentativa, ideação, automutilação, há também inúmeras questões que permeiam o assunto, porém falar sobre ele é necessário para que cada vez mais o preconceito seja combatido e as informações sejam disseminadas a fim de ajudar e para isso é importante compreender que é um evento multifatorial e que acomete pessoas de várias idades, independentemente de sua sexualidade classes sociais, etnias, religião, fatores clínicos entre demais variáveis. Com efeito, Almasi et al. (2009) sugerem que os maiores fatores de risco tendem a estar associados a fatores sociodemo-gráficos, nomeadamente o desemprego, a baixa escolaridade, o estado civil, bem como o isolamento social (Moreira & Gonçalves, 2010). Apresentam-se, ainda, como fatores de risco acrescentado, a prevalência de fatores clínicos, como a existência de diagnósticos prévios de doença mental, com particular destaque para a depressão e a esquizo- frenia, assim como os casos de abuso de álcool e drogas. Os números de suicídios no Brasil e no mundo são alarmantes e o aumento de casos não deve ser visto apenas como um ato individual decorrente apenas de problemas pessoais ou ainda, como um problema pessoal, mas como uma questão de saúde pública que necessita ser visto além do campo da Psicologia e transtornos psicológicos por exemplo, pois deve-se considerar também como uma questão social e levar em consideração os vieses que o cercam. Segundo Durkheim (2003), o suicídio não é hereditário, o que se transmite de pai para filho é tão somente certo temperamento que pode predispor os indivíduos para o suicídio, mas que não pode constituir uma explicação da determinação desses. Portanto, o que se transmitia não seria a afecção propriamente dita, mas um ambiente favorável ao desenvolvimento. Diante tantas vertentes que rodeiam o tema, é preciso que o profissional da área de saúde mental esteja ciente das diversas situações, assim como cuidar da sua própria saúde mental e física para que esteja bem emocionalmente para lidar com as demandas que aparecerão e devem estar capacitados para o sofrimento psíquico de seus pacientes, assim como reconhecerem os seus limites pessoais para que também não adoeçam perante as dificuldades. Esse é um aspecto específico das profissões da área da saúde: a reparação tem de ser feita tão concretamente, sobre seres humanos tão semelhantes aos cuidadores, de tal modo que deixa vulnerável quem a exerce. Para poder trabalhar de modo adequado, sem sobrecarga de tensão, onipotência ou culpa, deve-se adquirir maturidade e capacidade para aceitar as limitações impostas pela realidade (BOTEGA, 2015, p. 207). Há diversas ferramentas e estratégias a fim de contribuir para a atuação do profissional de psicologia, umas delas é a intervenção em crise que permite a utilização de diversas técnicas diretivas com o objetivo de proteger a vida, diminuir os riscos e sequelas, ajudando pessoa a retomar a direção de sua vida com equilíbrio e facilitar no seu processo terapêutico, pois o atendimento ao paciente suicida pode ser influenciado pelas atitudes dos profissionais de saúde. É importante que haja uma rede de apoio para ambas as partes, para que o profissional não se sinta sobrecarregado, assim como o paciente tenha suporte para recorrer quando precisar de ajuda, sendo importante encontros e grupos de apoio para compartilharem suas experiências, assim como o núcleo familiar e demais interações sociais para amenizar o sofrimento, há também mecanismos individuais que podem ser desenvolvidos com o mesmo propósito e o indivíduo consiga regular as suas emoções.
É de suma importância que a população tenha conhecimento dos
diversos serviços de acolhimento da pessoa que atentou contra a própria vida, como hospitais gerais e unidades de pronto socorro que atendem casos de urgência e emergências, centro de atenção psicossocial (CAPS) que são especializados para atendimento de casos graves e persistentes, o serviço de telefone 24 horas (CVV) o centro de valorização da vida é uma associação sem fins lucrativos e oferta serviço gratuito, clinicas-escola que podem oferecer um atendimento especializado e a longo prazo, os clássicos consultórios particulares, as unidades básicas de saúde (UBS), núcleo ampliado de saúde da família (NASF) que é composto por uma equipe multidisciplinar, entre outros serviços pautados na ética e no desempenhar da melhoria do paciente e de seus familiares. Sendo assim é preciso que o profissional esteja ciente da necessidade que essa área tem de profissionais humanizados e que se empenhem para ajudar na melhoria daqueles que cheguem até ele e a melhor forma disso acontecer é espalhando informações, combatendo o preconceito e ajudando na promoção de estratégias para a prevenção e fazendo um trabalho pautado na ética e respeito. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Orientações para a atuação profissional frente a situações de suicídio e
automutilação/ Organizado pela Comissão Especial de Psicologia na Saúde do CRP 01/DF --. Brasília: CRP, 2020.48p.: il.
GONÇALVES, L. R. C.; GONÇALVES, E.; OLIVEIRA JÚNIOR, L. B. DE ..
Determinantes espaciais e socioeconômicos do suicídio no Brasil: uma abordagem regional. Nova Economia, v. 21, n. 2, p. 281–316, maio 2011.
FERREIRA, G. D. S.; FAJARDO, A. P.; MELLO, E. D. D.. Possibilidades de
abordagem do tema do suicídio na Estratégia Saúde da Família. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 29, n. 4, p. e290413, 2019.