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Sr. Ministro,
A meu pedido e por decreto de 22 de Outubro de 1953, o Sr. Ministro da Saúde Pública
e da População quis pôr-me à disposição do Sr. Governador-Geral da Argélia para ser
designado à um hospital psiquiátrico da Argélia.
Colocado no Hospital Psiquiátrico de Blida-Joinville a 23 de Novembro de 1953, desde
essa data exerço aí as funções de médico-chefe de serviço.
Durante quase três anos dediquei-me totalmente ao serviço deste país e dos homens que
o habitam. Não poupei nem os meus esforços nem o meu entusiasmo. Nada houve na
minha ação que não exigisse como horizonte o surgimento unanimemente desejado de
um mundo melhor.
A Loucura é um dos meios que o homem tem de se alienar da liberdade. E posso dizer
que, observando este fato, medi com horror a amplitude da alienação dos habitantes
deste país.
Ora, que aposta absurda era querer fazer existir certos valores quando a ausência de
direitos, a desigualdade, o assassínio quotidiano do homem eram erigidos em princípios
legislativos.
Na sociedade, o trabalhador deve colaborar no atual estado das coisas. Mas é preciso
que concorde com a excelência da sociedade vivida. Chega um momento em que o
silêncio se torna mentira.
Por todas estas razões, tenho a honra, Sr. Ministro, de lhe pedir que aceite a minha
demissão e que dê por finda a minha missão na Argélia, com a certeza de toda a minha
consideração.