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A violência nossa de cada dia

A violência tem aumentado consideravelmente em nossos dias. Às vezes nos questionamos

se hoje o mundo está mais violento que antes, mas o que percebemos é a facilidade dos

meios de comunicação que nos fazem saber das notícias no momento em que está

acontecendo. A mídia aproveita ainda certo prazer que muitos têm em ouvir estas notícias

cada vez mais agressivas, violentas e cheias de detalhes que nos apavoram sempre que nos

são mostradas e fazem dos fatos violentos como se fosse só isto que estivessem acontecendo

no mundo.

Este aumento significativo da violência nos centros urbanos faz-nos pensar que houve um

retrocesso no processo evolutivo do Espírito. Mas, como sabemos que o Espírito não retroage

nesta caminhada em direção ao progresso, o fato nos comprova que está havendo uma

incidência muito grande na reencarnação de Espíritos ainda dominados por instintos, sem

noção razoável do bem e do mal, com ausência do senso moral. Obedecendo apenas aos

impulso primários, cometem toda sorte de violência, sem um sentimento de remorso.

Quais são as causas de tanta violência? Afastamento de Deus – falta de Religião, separação

da Ciência e Religião, filosofia materialista, educação equivocada – materialista ou declínio

da educação? Podemos dizer que tudo isso colabora para aumentar a violência, mas,

resumindo, diríamos que o problema maior é a falta de espiritualização do homem. O resto,

miséria, crueldade, egoísmo, injustiças, leis imperfeitas, fanatismo, desagregação familiar,

ódios, corrupção e tudo o mais não passam de efeitos, mediatos ou imediatos.

O mundo carece de harmonia e não de violência; de paz e não de guerra.


(…) Jesus postou-se terminantemente em oposição à violência, ensinando que ela não ficará

impune nas esferas em que a alma respira, nos passos da sua evolução. Camilo[1]

Na Turquia, as autoridades tomaram uma atitude sui generis para contrapor as ondas de

violência das torcidas nos estádios de futebol: proibir a entrada de homens e só admitir a

entrada de mulheres e crianças…

Mas a violência explode desenfreada como se fosse uma praga espalhando os miasmas

pestilenciais por toda a Terra! E, nos agitados dias de hoje, ela deixou de ser característica

dos adultos, vez que as crianças, recebendo com a mamadeira a visão dos quadros de

desequilíbrio através das mídias, bebem, com o leite, as informações deletérias de mentes

apodrecidas. A violência está presente até nos desenhos animados. Assim os pequenos e

futuros “Rambos” vão assimilando em seus psiquismos esses ingredientes sórdidos, cujo

corolário é a explosão da violência de variegado matiz na sociedade… Os noticiários

surpreendem-nos dia a dia com as informações desses desatinos, num interminável desfile

de horrores…

Os Espíritos Superiores não ficam insensíveis ante esses quadros desoladores e, vez por

outra, enviam-nos, como orientações e estímulos, as suas palavras esclarecedoras. Assim,

temos uma belíssima e oportuna página de Camilo (1), o guia Espiritual do médium Raul

Teixeira, na qual o Benfeitor Espiritual tece, com a sua sensibilidade, preciosas deduções

sobre essas questões do nosso cotidiano com o sugestivo título:

Jesus ante o temor da violência

Reforçada por uma cruel propaganda massiva, a violência vai ganhando espaço no mundo

psicológico das pessoas, passando a envenenar suas expressões emocionais, impondo-lhes

temores que, no passar do tempo, se vão convertendo em francos processos neuróticos.


As mídias vão infestando de pavor as grandes quanto as pequenas cidades, aterrando

homens e mulheres de procedências sociais diversas, uma vez que a hidra da violência não

escolhe as suas presas, açoitando com seu chicote covarde o dorso de toda a Humanidade.

São tempos difíceis e definidores, esses tempos atuais. São oportunidades para que, as almas

encarnadas na Terra possam escolher de que lado desejam ficar, se na luz, se nas sombras;

se anseiam pelos altos cimos espirituais, ainda que com esforços inauditos, ou se preferem a

aridez dos apetites baixos que infernizam os indivíduos de má vontade.

Em todo lugar onde se instalaram os quartéis-generais da violência, em guetos de baixeza,

perante o comodismo e mesmo a complacência de autoridades constituídas para proteger

as populações, e diante da inépcia dos processos educacionais de má qualidade, não são

poucos os que se armam de diversas formas, a fim, dizem, de protegerem-se e proteger seus

familiares e pertences.

Imprevidente iniciativa essa, a de armar-se o indivíduo, objetivando defender-se, pois, para

defender-se com qualquer arma, terá que investir contra outra pessoa, realizando a justiça

que não lhe cabe efetuar.

(…)

Disse Jesus que não deveríamos temer os que podem matar o corpo, mas que nada podem

fazer contra a alma.3(…)

Não se trata de prestar culto ao holocausto, nem de promover um estado coletivo de

masoquismo religioso, para demonstrar desapego ao corpo. Não, não se trata disso. A

questão é mais profunda; é mais séria.

(…)
Nessas considerações sobre o temor da violência, vale, ainda, recordar outro ensinamento

do Cristo, ao dizer4: “Aquele que quiser ganhar a vida, perdê-la-á, e o que a perder, por

amor de mim, ganhá-la-á”(…).

Essa dificuldade de entendimento das pessoas, com respeito ao “querer ganhar a vida” e

quanto ao “perdê-la”, deve-se ao compreensível instinto de conservação que faz com que

ninguém queira se desfazer do corpo, ainda que esteja enfrentando problemas graves ou

situações complexas, salvo nos casos de descompensação psicológica profunda ou de alguma

anomalia psiquiátrica.

Desejam “ganhar” suas vidas, na acepção do Evangelho de Jesus, os que não hesitam em

destruir as dos outros, para preservar a própria. Após o esfriamento da mente, quando o

criminoso homicida se der conta do que promoveu com o seu gesto insano, as perturbações

do remorso passarão a acompanhá-lo, como a “voz da consciência” a imputar-lhe culpa.

(…)

É por isso que quem quiser ganhá-la, “perdê-la-á”. Sim, porque perde-se a alegria de viver,

as motivações para uma existência sóbria e bela desaparecem, pois a sombra da culpa

acompanhará o desditoso réu, à semelhança da “voz da consciência” que cobrava de Caim o

haver morto seu irmão (…).

(…)

Quando queremos penetrar o sentido do ensinamento do Cristo a respeito do ganhar e do

perder a vida, faz-se importante tomar outro ângulo para percebermos que serão felizes os

que estejam “ganhando” espiritualmente as próprias existências, convertendo-as em vida,

pelas realizações fecundas, pelo crescimento que imprimam às próprias ações, pela

fidelidade com que sirvam a Deus, em cada gesto que os caracterize pelo mundo. Esses serão
bem-aventurados, recolhendo das Fontes Celestiais, em forma de bênçãos de saúde íntima,

de equilíbrio geral e de paz, a vida abundante que souberam buscar, ao longo dos seus dias

na escola terrena.

Quanto aos que venham a perder as suas vidas, e, aqui, nos referimos tão-somente aos que

levam a vida com nobreza, realizando seus deveres, na marcha e nas lutas naturais na busca

do Criador, sendo golpeados pelas explosões de violências, caso não se percam na revolta e

no desejo enlouquecido de vingança, avançam para a Grande Luz, deixando para trás as

necessárias e duras experiências num mundo expiatório.

(…)

À frente das ações e modos violentos das criaturas do Seu tempo, o Mestre Jesus jamais

deixou de chamar a atenção dos Discípulos para a sua inconveniência.

O exemplo do Rabi é para a incutir em cada um de nós, que fazemos parte do Seu rebanho

de almas, as noções de que o mundo carece de harmonia e não de violência; de alegria e não

de desolação; de paz e não de guerra.

Frente às mídias que se locupletam com as notícias violentas, que “vendem”, tanto quanto

infelicitam, a criatura com mente arejada pelos ensinos do Espiritismo, que a todo tempo

confirmam os de Jesus, aprenderá a trabalhar os valores da alma, a atuar de modo consciente

e digno na vida terrena, sem se deixar arrastar, nem arrasar, pelos impulsos da violência, que

degeneram, que ferem, que matam.

Dia chegará em que, amadurecidos, os homens se unirão como irmãos verdadeiros,

encontrando a violência somente nos compêndios, nas enciclopédias de história, que

revelarão um tempo tormentoso vivido pela Humanidade, e que, então, estará bem distante

do mundo venturoso da Nova Era.


O Espiritismo é, portanto, um dos grandes antídotos para a violência… Aquele que conhece

o Espiritismo sabe que terá de se modificar interiormente, se quiser ser mais feliz. Marco

Prisco em “Luzes do Alvorecer”, psicografia de Divaldo Franco, nos diz que “somente quem

ama e se reveste de bondade pode resistir aos conflitos e desafios perturbadores da

sociedade agressiva que prefere ignorar o Bem.”

Em “O Livro dos Espíritos”, questão 756, Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores se “a

sociedade dos homens de bem se verá algum dia expurgada dos seres malfazejos”. Os

Espíritos responderam que “a Humanidade progride. Esses homens, em quem o instinto do

mal domina e que se acham deslocados entre pessoas de bem, desaparecerão gradualmente,

como o mau grão se separa do bom, quando este é joeirado. Mas, desaparecerão para

renascer sob outros invólucros (…)”.

Richard Simonetti nos lembra que “quando a contenção da violência deixar de ser um

problema policial e se transformar em questão de disciplina do próprio indivíduo; quando

a paz for produto não da imposição das leis humanas, mas da observação coletiva das leis

divinas, então viveremos num mundo melhor.”

Acreditamos, assim, que somente quando o homem aprender a “amar o próximo como a si

mesmo” e perceber que “fora da caridade não há salvação” é que conseguiremos implantar

a paz, primeiro em nossos corações e depois em toda a Humanidade.

“Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra. Bem-aventurados os

pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.” (Jesus -Mateus, 5:4-9)

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[1] – TEIXEIRA, Raul. Justiça e Amor. Niterói: Fráter, 1996, cap. VI, item 3. (in fine).
2 – TEIXEIRA, Raul. Justiça e Amor. Niterói: Fráter, 1996, cap. VI, item 4.
3 – Mateus, 10:28.
4 – Mateus, 16:25.

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