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BOLETIM IPPES 2021

Notificações de Mortes Violentas Intencionais e Tentativas


de Suicídios entre Profissionais de Segurança Pública no Brasil
Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio
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INSTITUTO DE PESQUISA, PREVENÇÃO E ESTUDOS EM SUICIDIO.


Boletim IPPES 2021: Notificações de mortes violentas intencionais e
tentativas de suicídios entre profissionais de segurança pública no Brasil. Rio
de Janeiro, 2021.

61 f.

1. Suicídio. 2. Tentativa de Suicídio. 3. Polícia. 4. Segurança pública. 4.


Prevenção. I. Fernanda Novaes Cruz. II. Dayse Miranda. III. Mariana da
Fonte. IV. Nathalia Fallavena Ceratti. V. Instituto de Pesquisa, Prevenção
e Estudos em Suicídio (IPPES). VI. Boletim IPPES 2021: Notificações de
mortes violentas intencionais e tentativas de suicídios entre profissionais de
segurança pública no Brasil.

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Diagramação: Caio Brasil Rocha
Assessoria de comunicação: Caio Brasil Rocha e Kathlen Barbosa
Contato: comunicacao@ippesbrasil.com.br
equipe técnica
Fernanda Cruz
Socióloga, doutora em Sociologia pelo IESP-UERJ,
pesquisadora de pós-doutorado no Núcleo de
Estudos da Violência (NEV-USP), pesquisadora e
Coordenadora Adjunta de Ensino e Pesquisa do
IPPES.

Dayse Miranda
Doutora em Ciência Política pela USP, pesquisadora
na área de violência e políticas públicas. Atualmente
é presidente e diretora de ensino e pesquisa do
Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em
Suicídio (IPPES).

Mariana da Fonte
Antropóloga, historiadora e doutoranda pelo
Programa de pós-graduação em Sociologia e
Antropologia da UFRJ. Professora de Sociologia no
Ensino Médio e pesquisadora do IPPES.

Nathalia Fallavena Ceratti


Advogada, especialista em Direito Penal e
Processual Penal, e Perícia Criminal e Ciências
Forenses. Estudante de Psicologia pela PUC-RS e
bolsista-pesquisadora do IPPES.

Textos reflexivos
Nathalia Fallavena Ceratti
Fernanda Novaes Cruz
Mariana da Fonte
Alexandra Valéria Vicente
Caio Brasil Rocha
SUMÁRIO

1. Apresentação 6
2. Categorias analisadas neste trabalho 8
3. Metodologia 9
3.1 As fontes e as limitações 11
4. Fatores profissionais 13
4.1 Instituição de origem 14
4.2 Situação funcional 17
4.3 Cargo 18
5. Fatores sociodemográficos 19
5.1 Sexo 20
5.2 Taxa por sexo 22
5.3 Idade 24
5.4 Estado civil 26
5.5 Instrumento utilizado 27
5.6 Instrumentos e vítimas para Homicídio seguido de suicídio 29
6. O que nos ensinam as narrativas dos casos analisados em 2020? 30
6.1 O que nos ensinam as narrativas dos casos analisados em 2020? 31
6.2 Os fatores associados e demais temas relevantes 32
7. Reflexões necessárias 37
7.1 A invisibilidade da inatividade 38
7.2 Homicídio seguido de suicídio ou Feminicídio seguido de suicídio? 40
7.3 A depressão como fator de risco para o comportamento suicida 44
7.4 Suicídio na segurança pública: qual é o papel da mídia? 47
8. Considerações finais 52
9. Bibliografia 53
10. Anexos 54
1. APRESENTAÇÃO

Desde março de 2020, o iso- sofrimento psíquico. São inúmeras


lamento e o distanciamento social razões para a escassez de conhe-
são as principais medidas preven- cimento sobre o assunto, dentre
tivas para o COVID-19. No entanto, elas, a carência de dados confiáveis.
sob essa justificativa, alguns servi-
ços fundamentais de assistência à A qualidade dos dados é fun-
saúde mental dos profissionais de damental para a construção das
segurança pública estiveram sob políticas de prevenção das mortes
ameaça. Considerados como traba- violentas intencionais de um país.
lhadores essenciais desde o início A subnotificação e a má qualidade
da pandemia, os profissionais de se- das informações das mortes por
gurança pública permaneceram nas suicídio entre agentes de segurança
ruas, expostos ao vírus e conviven- pública são típicas. Esse fato com-
do com o medo de se contaminar promete a compreensão do pro-
e contaminar aos seus familiares. blema, como também dificulta o
esclarecimento da causa mortis. O
Neste ambiente de medo e poder público e os atores estraté-
insegurança, o suporte emocional gicos das instituições de seguran-
se faz essencial para esses agen- ça em sua maioria desconhecem
tes. O descaso com a saúde men- a magnitude e as dimensões do
tal dos profissionais de segurança problema por falta de informação.
pública não teve início com a pan-
demia. A saúde mental é um tema A publicação anual de um
polêmico e pouco compreendido. Boletim de Mortes Violentas Inten-
O Ministério da Saúde define o cionais e Tentativas de Suicídio foi
suicídio como problema de saúde idealizada para este fim. O mapea-
pública. Essa percepção do fenô- mento dos dados de mortes violen-
meno não é homogênea. O suicí- tas intencionais por fontes distintas
dio em vários contextos sociocul- visa dar visibilidade social, política
turais e organizacionais do país é e institucional à gravidade do fenô-
um tabu. Na segurança pública não meno. Esta é terceira edição do Bo-
é diferente. Trata-se de um proble- letim, inicialmente organizado pelo
ma de saúde restrito ao sujeito em Grupo de Estudos e Pesquisa em

6
Suicídio (GEPeSP) 1 e, recentemente, Finalmente, esta versão dis-
pelo Instituto de Pesquisa, Preven- ponibiliza, na parte dos Anexos,
ção e Estudos em Suicídio (IPPES) 2. os casos de tentativas, suicídios e
homicídios seguidos por suicídio
Nesta edição, faremos um mapeados entre 2018 e 2020 por
resgate das estatísticas apresen- unidade federativa e por instituição
ta das nas três versões anteriores de segurança pública. O boletim foi
deste boletim, destacando a evo- organizado pelo Laboratório de Es-
lução dos casos de tentativas de tudos de Violência e Saúde Mental
suicídio, suicídio consumado e ho- do IPPES e faz parte de um conjun-
micídio seguido suicídio. Além dis- to de estratégias de prevenção e
so, exploramos qualitativamente intervenção no campo da Seguran-
as narrativas dos casos. Nosso ob- ça Pública. Buscamos fazer deste
jetivo é aprofundar a compreensão documento uma referência para a
dos fatores associados às mortes elaboração de um fluxo de notifica-
violentas intencionais. De maneira ção de informações de qualidade,
inédita, apresentamos textos refle- permitindo que os gestores públi-
xivos assinados por pesquisadores cos formulem e implementem po-
do IPPES sobre as inquietações que líticas de prevenção de mortes vio-
esses dados nos geram desde a pri- lentas intencionais de acordo com
meira publicação deste trabalho. as especificidades das instituições.

Boa leitura!
1 O Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Preven-
ção (GEPeSP), nascido 2013, no Laboratório de Análise
da Violência (LAV), da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Seu objetivo era produzir conhecimentos acadê-
mico e aplicado, visando fomentar ações institucionais e
políticas públicas de prevenção do suicídio no campo da
Segurança Pública no Brasil.

2 O Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em


Suicídio foi inaugurado em março de 2020. É um desdo-
bramento do Grupo de Estudos em Suicídio e Prevenção
(GEPeSP). O IPPES é uma organização sem fins lucrativos
que visa produzir conhecimento técnico e científico para
fomentar estratégias de prevenção do suicídio no Brasil.
Para maiores informações, acessar: www.ippesbrasil.com.
br

7
2. categorias analisadas neste trabalho

SUICÍDIO CONSUMADO

Um ato deliberado, intencional, de causar a morte a si mesmo, ou seja, um


ato iniciado e executado por uma pessoa que tem a noção de que o seu ato
poderá resultar na morte e cujo desfecho fatal é esperado3.

HOMICÍDIO SEGUIDO DE SUICÍDIO

O homicídio seguido de suicídio (H/S) é um fenômeno com características par-


ticulares e que se distingue tanto dos suicídios quanto dos homicídios. Trata-se
de um crime marcado sobretudo pelo gênero e o vínculo familiar. Segundo os
estudos, as mulheres, em sua grande maioria, são as principais vítimas de ma-
ridos, namorados, amantes e companheiros que, após cometerem o crime, se
suicidam. Enquanto as mulheres, quando cometem H/S, matam apenas seus(-
suas) próprios(as) filhos(as) e, em seguida, cometem o suicídio. Os estudos
apontam ainda para a presença de violência doméstica anterior à ocorrência
do H/S4.

TENTATIVA DE SUICÍDIO

Atos cometidos por indivíduos que pretendem tirar a própria vida, mas cujo
desfecho não resulta em óbito. Estima-se que as tentativas de suicídio são até
quarenta vezes mais frequentes do que os suicídios consumados e que um
caso de suicídio foi precedido por, pelo menos, 10 tentativas de gravidade su-
ficiente para demandar cuidados médicos5.

3 OMS, 2008.

4 IPPES, 2021.

5 MELLO-SANTOS; BERTOLOTE; WANG, 2005.

8
3. metodologia

Desde 2017, mapeamos ca- ou websites locais e notas de pesar


sos de tentativas de suicídio, suicí- publicadas nos sites das instituições
dio consumado, homicídio seguido de segurança pública.
por suicídio e demais mortes defini-
das como de intencionalidade des- Todas as informações recebi-
conhecida. das são checadas, complementadas
por outras fontes (quando possível)
Esses casos são coletados a e categorizadas. Em 2020, coleta-
partir de duas fontes de dados, são mos 122 casos. São 71 registros de
elas: (i) notificações de casos com- suicídios consumados, 26 de tenta-
partilhadas em grupos de WhatsA- tivas de suicídio, 14 de homicídios
pp de agentes de segurança pública seguidos de suicídio (H/S) e casos
de diversas unidades federativas e denominados por “outros”6.
(ii) matérias publicadas em jornais
Gráfico 1: série históriica das notificações coletadas 2017-2020

6 A categoria “Outros” equivalem às mortes por


causa indeterminada: sob investigação (5) + Outros (6):
Ameaça de Suicídio (2), Autolesão sem intencionalidade
suicida (1), Homicídio seguido de Tentativa de Suicídio
(H/TS) (1), Homicídio seguido de Tentativas de Homicídio
seguido de Tentativa de Suicídio (1) e Ideação Suicida (1).

9
Desse total, 90 ocorreram em relação aos anos anteriores. Espera-
unidades da Polícia Militar, 12 na Po- mos que essa diminuição seja reflexo
lícia Civil, 8 no Corpo de Bombeiros das políticas institucionais adotadas
Militar, 4 na Polícia Penal, 3 nas For- pelas organizações de segurança pú-
ças Armadas, 3 na Polícia Rodoviária blica no país. Contudo, sabemos que
Federal, 1 na Polícia Federal e 1 em um aumento ou diminuição do nú-
uma Guarda Municipal. mero de casos precisa ser interpreta-
do com cautela, dado o curto tempo
Os dados coletados nos últi- da coleta dos dados e as limitações
mos quatro anos indicam uma ligeira das fontes analisadas.
queda nos casos no ano de 2020 em

10
3.1 As fontes e as limitações

O Boletim apresenta limita- representação para todos os estados


ções metodológicas. A primeira delas brasileiros. Esse fato prejudica a cole-
está na natureza das fontes. As infor- ta das informações em alguns deles.
mações analisadas advêm de regis- A vantagem dessa forma de levanta-
tros de notificação disseminadas via mento está na possibilidade de aces-
WhatsApp e veículos de comunica- so a variáveis que não são apresenta-
ção. Os primeiros seguem os padrões das pelas coletas oficiais.
de ocorrência das instituições. Já as
matérias jornalísticas apresentam in- No segundo gráfico, apresen-
formações mais gerais. Pelo conteúdo tamos as fontes disponíveis para cada
midiático, por exemplo, identificamos categoria de caso ao longo de 2020. A
com maior facilidade características partir dele já podemos destacar ques-
sociodemográficas da vítima e as cir- tões importantes. Em primeiro lugar,
cunstâncias dos fatos. que a mídia costuma noticiar mais ca-
Esse ponto é relevante por duas ra- sos de homicídio seguido de suicídio.
zões: a finalidade do relato implica na Essa categoria de morte é geralmente
oferta de mais ou menos detalhes so- a de que encontramos mais informa-
bre o ocorrido e as narrativas partem ções. Em seguida, estão as mortes por
de uma perspectiva que não é a de suicídio que são noticiadas especial-
quem cometeu o ato/tentativa, mas mente em jornais locais de cidades de
de quem o descreveu. pequeno porte. Identificamos poucas
notícias sobre tentativas de suicídio
A subnotificação dos dados é a envolvendo profissionais de seguran-
segunda questão de método que me- ça pública na mídia, o que sugere que
rece destaque. Por se tratar de um le- esse tipo de fato não é noticiado pela
vantamento não oficial, cuja seleção imprensa. Acreditamos que a sub-
dos dados parte de uma rede colabo- notificação desses casos seja ainda
rativa, os casos informados não têm maior.

11
Gráfico 2: Fonte de informação dos casos analisados em 2020

12
4. FATORES PROFISSIONAIS

Não é consenso nos estudos so-


bre o suicídio de profissionais
de segurança pública se esses
servidores estão em maior risco
do que a população em geral.
Uma das justificativas para esse
debate permanecer em aberto
é a carência de informações que
possibilitem a comparabilidade
entre a população em geral e as
4. FATORES
instituições de segurança públi-
PROFISSIONAIS ca. Nesta seção, exploramos as
variáveis profissionais que po-
demos extrair do material anali-
sado. Entre elas estão a institui-
ção de origem, as taxas para a
Polícia Militar, a situação funcio-
nal situação funcional dos pro-
fissionais de segurança pública
(ativo ou inativo) e cargo (para
Polícia Civil ou Polícia Militar).
4.1 Instituição de origem

Assim como nos anos anterio- missão de anualmente aprimorar a


res, em 2020, os policiais militares qualidade dos dados e esperamos
foram as principais vítimas de suicí- poder preencher essa lacuna em
dio entre os profissionais de segu- breve.
rança pública. No entanto, lembra-
mos que esse dado deve considerar Os dados do efetivo policial
que o efetivo das polícias militares da Polícia Militar são oriundos da
geralmente é maior que as demais Pesquisa Perfil das Instituições de
forças. Em razão disso, é sempre Segurança Pública para os anos ana-
necessário calcularmos a taxa des- lisados (2018-2020). Para o cálculo
sas mortes, a fim de compreender da taxa, consideramos a categoria
proporcionalmente o impacto das “mortes violentas intencionais”, ou
tentativas ou mortes violentas in- seja, consideramos o somatório dos
tencionais (suicídios consumados suicídios consumados e homicídios
e homicídios seguidos por suicídio) seguidos por suicídio. As taxas fo-
para cada uma das instituições. ram calculadas para 10.000 habi-
tantes.
No cálculo das taxas, assim
como nas versões anteriores do Apenas a partir de 2019 o
boletim, exploramos apenas as ta- IPPES passou a contabilizar as For-
xas para a Polícia Militar. Limitações ças Armadas e as Guardas Muni-
como o número de casos mapea- cipais, o que justifica a ausência
dos e a insuficiência de dados sobre dessas instituições em 2018. Nos
o efetivo das demais instituições anexos, o leitor poderá consultar
impedem que façamos o mesmo o quantitativo de casos por Unida-
cálculo para as outras instituições. de Federativa, categoria e situação
De qualquer maneira, seguimos na funcional (ativo/inativo).

14
Gráfico 3: Casos analisados por Corporação em 2018

Gráfico 4: Casos analisados por Corporação em 2019

Gráfico 5: Casos analisados por Corporação em 2020

15
Taxa de mortes violentas intencionais
para policiais militares da ativa
(2018-2020)

UF 2018 2019 2020


AC - - -
AL 5,7 2,8 2,8
AM 1,2 - -
AP - - 2,8
BA 0,9 1,6 2,6
CE 1,6 3,1 2,6
DF 3,7 - 1,9
ES - 1,2 2,4
GO 0,7 0,8 -
MA 0,9 0,9 1,8
MG 0,8 1,5 0,5
MS 4,2 2,1 -
MT - 1,4 1,4
PA 0,6 - -
PB 1,1 - -
PE 0,5 0,6 1,1
PI - 3,5 -
PR - - 1
RJ 0,5 0,7 1,9
RN - - -
RO - - 1,9
RR - - -
RS - 1,3 0,6
SC 1 - -
SE - - -
SP 1,4 1,1 0,5
TO - 5,6 -

16
4.2 Situação funcional

É relevante a quantidade de Gráfico 6: Suicídio consumado por


situação funcional (2018-2020)
profissionais de segurança pública
que cometem suicídio após a pas-
sagem para a inatividade, embora
usualmente este grupo não esteja
presente nas estatísticas oficiais. Po-
de-se perceber nos gráficos sobre a
situação funcional que todos os anos
ocorrem casos de suicídio também
entre profissionais inativos. Entre-
tanto, poucas instituições continuam
acompanhando seus profissionais
Gráfico 7: Tentativa de suicídio por
após a passagem para a inatividade. situação funcional (2018-2020)
Por conta disso, a real magnitude e
os fatores que explicam essas mortes
ainda estão em debate. Este foi um
dos temas de reflexão desta versão
do boletim e sugerimos a leitura do
texto “A invisibilidade da inatividade”
para aprofundar esse debate.

Além da inatividade, destaca-


mos também a perda de informação
desta variável nos registros analisa- Gráfico 8: Homicídio seguido de suicídio
dos que, para alguns anos e catego- por situação funcional (2018-2020)
rias, chegou a 20% dos casos.

17
4.3 Cargo

A atividade policial é comu- Gráfico 9: Suicídio consumado por


cargo - PC e PM (2018-2020)
mente associada a posições hierár-
quicas de trabalho. Os postos de
trabalho representam não apenas
as funções a serem exercidas, mas
também apontam os papeis sociais
e organizacionais ocupados pelo in-
divíduo no interior de sua corpora-
ção. Especificamente, nos casos de
suicídio policial, uma estrutura rígi-
da de cargos de trabalho, justaposta
em níveis, pode aumentar o estresse Gráfico 10: Tentativa de suicídio
laboral, assim como desgastar as re- por cargo - PC e PM (2018-2020)
lações dos pares e, sobretudo, entre
comandantes e comandados.

Conforme demonstram os grá-


ficos ao lado, em todos os cenários
os policiais que ocupam os extratos
mais baixos da carreira (praças para
a PM e agentes para a PC) foram as
principais vítimas. Chama atenção
ainda a ausência de delegados e ofi- Gráfico 11: Homicídio seguido por
ciais em casos de homicídio seguido suicídio por cargo - PC e PM (2018-2020)
por suicídio nos três anos analisados,
o que indica que determinados perfis
profissionais podem estar mais sujei-
tos a esse fenômeno do que outros.

18
5. FATORES SOCIODEMOGRÁFICOS

O suicídio é um fenômeno es-


tável, mas a sua taxa varia se-
gundo as características so-
ciodemográficas. Os atributos
individuais das vítimas são es-
senciais para o entendimento
5. FATORES
das mortes violentas intencio-
SOCIODEMOGRÁFICOS nais. Nesta subseção, analisa-
mos como sexo, idade e estado
civil podem influenciar a morte
por suicídio, homicídio segui-
do por suicídio e tentativa de
suicídio na segurança pública.
5.1 Sexo

O suicídio é uma morte emi- cialmente feminino na população


nentemente masculina. Em pratica- geral (segundo a literatura nacional
mente todo o mundo, as taxas des- e internacional). Na segurança pú-
se tipo de morte são maiores entre blica no Brasil, nos três anos de re-
os homens, independentes da ida- ferência, o número de casos foi em
de e do estado civil do vitimado7. sua maioria masculino, no entanto,
As mortes de homens por suicídio precisamos destacar que esse resul-
na segurança pública são também tado pode estar influenciado pelo
mais elevadas, em números e ta- fato de a população masculina ser
xas8. maior nas instituições policiais. Em-
bora o número de casos de tentati-
As mortes por suicídio consu- vas de suicídio se concentre na po-
mado e H/S e as tentativas de suicí- pulação masculina, no ano de 2020,
dio entre profissionais de seguran- observamos uma mudança. Nesse
ça pública, recebidos pelo GEPESP/ ano, o IPPES recebeu 9 registros de
IPPES, segundo o sexo das vítimas, tentativas de suicídios entre profis-
seguem a proporção do efetivo das sionais de segurança do sexo femi-
instituições brasileiras. A maioria nino. Em contrapartida, o número
das vítimas de mortes violentas in- de tentativas de suicídio envolven-
tencionais são indivíduos do sexo do homens caiu quase a metade em
masculino. relação ao ano de 2019.

As tentativas de suicídio, por


outro lado, são fenômeno essen-

7 Botega (2014) descreve que “no Brasil, o coeficiente


médio de mortalidade por suicídio, no período 2004-2010,
foi de 5,7%, sendo 7,3% no sexo masculino e 1,9% no fe-
minino”.

8 É necessário fazer somente uma ressalva, em países


com culturas demasiado reclusas, punitivas e violentas à
figura feminina, esse dado pode se alterar, havendo um
aumento das taxas de suicídio femininas; observações
como essa, já foram reportadas em algumas regiões do
oriente médio (MENEGUEL et al., 2013).

20
Gráfico 12: Suicídio consumado

Gráfico 13: Tentativa de suicídio

Gráfico 14: Homicídio seguido de suicídio

21
5.2 Taxa por sexo

No cálculo das taxas, assim exceção de 2020, as taxas se man-


como para a instituição de origem, têm semelhantes em ambos cená-
nesta edição, tratamos apenas as rios. Já, entre os homens, podemos
taxas da Polícia Militar. As justifi- identificar que os casos de homicí-
cativas para essa escolha também dio seguido de suicídio impactam o
se repetem, sobretudo, no que diz cálculo da taxa quando comparados
respeito à insuficiência de dados apenas com os casos de suicídio.
sobre o efetivo para as demais insti-
tuições. Os dados de efetivo policial Embora nossos dados sugiram uma
foram extraídos da pesquisa Perfil taxa maior de suicídio de mulhe-
das Instituições de Segurança pú- res para todos os anos analisados,
blica para os anos de 2018, 2019 e é importante considerar que a po-
2020. pulação feminina é menor nas po-
lícias militares, portanto, o impacto
Na tabela 2, comparamos de um caso no total é maior do que
as taxas considerando dois cená- no casos dos homens. Contudo, es-
rios. No primeiro, estão as mortes ses dados nos ajudam a identificar
violentas intencionais (homicídios como o comportamento suicida
seguidos de suicídio e o suicídio entre as profissionais de segurança
consumado) e no segundo cenário pública do sexo feminino também
consideramos apenas as mortes é um problema. Estudos com foco
por suicídio. em compreender se há elementos
relacionados ao gênero que podem
Como as mulheres não são afetar o comportamento suicida
em sua maioria autoras de casos de precisam ser estimulados.
homicídio seguido de suicídio, com

22
Tabela 2: Taxa de mortes violentas intencionais por sexo (2018-2020)
2018 2019 2020
Taxa de Taxa de Taxa de
mortes mortes mortes
violentas violentas violentas
Sexo Taxa de Taxa de Taxa de
intencionais intencionais intencionais
mortes por mortes por mortes por
(Suicídio e (Suicídio e (Suicídio e
suicídio suicídio suicídio
Homicídio Homicídio Homicídio
seguido por seguido por seguido por
suicídio) suicídio) suicídio)
Masculino 1 0,72 1 0,86 0,97 0,83
Feminino 1,1 1,1 1,29 1,29 1,08 0,86

23
5.3 Idade

A idade das vítimas é uma in- maior regularidade a idade das


formação relevante para o suicídio pessoas envolvidas, o que justifica
policial por uma série de motivos. maior presença da idade nesses ca-
O primeiro deles é que nos permite sos.
identificar se existe algum padrão
de comportamento por idade. E se Apesar da grande perda de
esse modelo se difere da idade dos informação, calculamos a média de
demais profissionais. Essa é tam- idade para os profissionais de segu-
bém uma variável importante para rança pública da ativa e podemos
traçarmos comparações com a po- perceber uma média parecida para
pulação em geral. Pesquisas inter- todos os anos e categorias estuda-
nacionais sugerem que essas com- das.
parações sejam controladas por
idade. Isso quer dizer que é adequa- A tíulo de comparação, a pes-
do comparar as taxas da população quisa perfil das instituições policiais
em geral com idade semelhante à de 2020 destacou que a maior par-
dos profissionais de segurança pú- te do efetivo policial militar está
blica. concentrada entre 31 e 35 anos e
do efetivo de policiais civis entre 36
A primeira conclusão que e 40 anos.
nossos dados mostram é que ainda
não temos dados confiáveis e sufi- Entre os profissionais inati-
cientes sobre a idade das vítimas. A vos, a presença de idade foi ainda
ausência de informações de idade mais rara, mas entre os casos dis-
revela a inviabilidade de se conhe- poníveis tivemos uma média de
cer os grupos etários de maior risco idade relativamente baixa. Ainda
de mortes por suicídios consuma- não sabemos mensurar os motivos
dos e tentativas de suicídio no cam- para essa média, mas uma hipóte-
po da segurança pública brasileira. se é que o pouco acompanhamento
Como demonstramos no início des- que as instituições fazem dos seus
se trabalho, os casos de H/S são os agentes decai conforme o tempo da
mais cobertos pela mídia. Esse ve- aposentadoria avança.
ículo de comunicação divulga com

24
Tabela 3: Média de idade para profissionais de segurança
pública ativos (2018-2020)
2018 2019 2020
% perda de % perda de % perda de
Média Média Média
informação informação informação
Suicídio Consumado 35,2 67% 36,4 41% 40,0 40%
Tentativa de Suicídio 36,5 86% 36,7 80% 44,0 92%
Homicídio seguido de suicídio 39,0 23% 36,0 50% 42,8 20%

Tabela 4: Média de idade para profissionais de segurança


pública inativos (2018-2020)
2018 2019 2020
% perda de % perda de % perda de
Média Média Média
informação informação informação
Suicídios 62,5 43% 57,7 46% 56,0 54%

25
5.4 Estado civil

A maior problemática enfren- Gráfico 15: Suicídio consumado


por estado civil
tada por esta variável está no alto
índice de subnotificações. Há um
grande número de perdas para o
estado civil.

Com relação aos casos ana-


lisados de suicídio consumado,
tentativa de suicídio e homicídio
seguido de suicídio, a partir da vari-
ável de estado civil das vítimas, po-
demos observar que, em todos os Gráfico 16: Tentativa de suicídio
anos, 2018, 2019 e 2020, a maior por estado civil
incidência dos casos ocorreram
com vítimas que eram casadas ou
possuíam união estável.

Gráfico 17: Homicídio seguido


de suicídio por estado civil

26
5.5 Instrumento utilizado

O acesso facilitado às armas A ampla presença das armas de


de fogo é considerado uma das ca- fogo entre os instrumentos utilizados
racterísticas específicas do suicídio reacende um amplo debate no interior
policial. No Brasil, o principal instru- das instituições policiais sobre o con-
mento utilizado para o suicídio da trole da arma de fogo para os policiais
população é o enforcamento. No que estão enfrentando questões de
grupo de profissionais de segurança saúde mental. Nesse sentido, os da-
dos são claros em demonstrar como o
pública, a arma de fogo é o instru-
controle do acesso às armas pode ser
mento mais utilizado em todos os uma estratégia de prevenção, embo-
anos conforme apontam os gráfi- ra idealmente esse processo deva ser
cos a seguir. A menor proporção do acompanhado de outras iniciativas,
uso da arma de fogo está nos casos tal como acompanhamento psicológi-
de tentativa. Provavelmente, o em- co e psiquiátrico adequado, conscien-
prego de outros meios menos letais tização de pares e superiores sobre
ajuda a compreender esse resultado. o adoecimento mental, entre outros.

27
Gráfico 18: Instrumento utilizado para suicídio consumado (2018-2020)

Gráfico 19: Instrumento utilizado para tentativa de suicídio (2018-2020)

28
5.6 Instrumentos e vítimas para Homicídio seguido de suicídio

A presença da arma de fogo dado demonstra a importância de


é ainda mais marcante nos casos inserirmos na análise dessas mortes
de homicídio seguido de suicídio. O a dimensão da violência doméstica.
gráfico das vítimas fatais dos homi- Esse debate também foi um dos te-
cídios seguidos de suicídio também mas que escolhemos para aprofun-
reforça o elo existente entre as víti- dar a análise neste ano. Recomen-
mas. A maior parte delas é do sexo damos a leitura do texto “Homicídio
feminino e tinha, no momento da seguido de suicídio ou Feminicídio
morte ou antes, algum vínculo afe- seguido de suicídio?” disponível
tivo com a vítima do suicídio. Esse na seção Reflexões Necessárias.
Gráfico 20: Instrumento utilizado para
homicídio seguido de suicídio (2018-2020)

Gráfico 21: Vítimas fatais dos casos de


homicídio seguido de suicídio (2018-2020)

29
6. O que nos ensinam as narrativas
dos casos analisados em 2020?
6.1 O que nos ensinam as narrativas dos casos
analisados em 2020?
Desde a versão do Boletim Existe um grande debate inter-
IPPES publicada em 2020, passamos a nacional acerca dos fatores associa-
analisar o conteúdo das notificações, dos ao comportamento suicida entre
tanto oriundas da mídia quanto das os profissionais de segurança pública.
ocorrências que envolviam profissio- Pesquisas realizadas em diversos paí-
nais de segurança pública. Essa análi- ses do mundo – majoritariamente em
se nos permite identificar fatores que países desenvolvidos –, nem sempre
podem ser relevantes para compre- apresentam resultados semelhantes.
ender as mortes e as tentativas de sui- Ou seja, fatores que aparecem como
cídio. Em 2020, foram analisados 122 relevantes em um contexto, por vezes
casos pelo IPPES. Entre esses estão não se repetem em outro.
71 suicídios, 14 homicídios seguidos
de suicídio e 26 tentativas de suicídio. Chae e Boyle (2013) publicaram
Nesta análise, foi considerado todo o uma revisão bibliográfica dos estudos
material disponível referente a cada sobre fatores de risco e fatores de pro-
um dos casos, entre eles, a notifica- teção relacionados ao suicídio policial.
ção da ocorrência, nota de pesar da Os autores apontaram os cinco fato-
corporação que o profissional estava res relacionados ao trabalho mais pre-
vinculado e a(s) matéria(s) jornalísti- sentes nos estudos, são eles: estresse
cas sobre o caso. organizacional, trauma oriundo de
incidente crítico, trabalho por escalas
É evidente que essas fontes de e jornada atípica de trabalho, proble-
informação possuem uma série de mas de relacionamento e uso e abuso
limitações, sendo a principal delas o de álcool. Os autores afirmam ainda
fato de as narrativas serem construí- que, embora o grau em que esses es-
das majoritariamente por outros ato- tressores influenciam uns aos outros
res que não as vítimas. Ao mesmo não seja claro, os estudos sugerem
tempo, os relatos nos permitem aces- que não é um único fator isoladamen-
sar temas e informações que desapa- te, mas a interação de múltiplos riscos
recem quando trabalhamos apenas pode ser responsável ​​por elevar o ris-
em uma perspectiva de quantificação co de suicídio entre policiais9.
dos casos e das características socio-
demográficas das vítimas. 9 CHAE; BOYLE, 2013.

31
6.1 Os fatores associados e demais temas relevantes

Aqui no Brasil, o estudo con- superiores e as condições de tra-


duzido por Miranda (2016), tam- balho. Por fim, os fatores indivi-
bém sugere que o suicídio policial duais abordam questões de saúde
precisa ser compreendido a partir mental, como presença de trans-
de uma perspectiva multidimen- torno mental, uso abusivo de ál-
sional. Nessa perspectiva, o suicí- cool ou drogas, dificuldades para
dio policial é um fenômeno mul- dormir, entre outros (MIRANDA,
tifatorial composto por fatores 2016). No gráfico a seguir é pos-
situacionais, sociais, organizacio- sível ver a recorrência de cada um
nais e individuais. Os fatores situ- desses fatores a depender do tipo
acionais relacionam-se à presença de morte.
de vitimização direta ou indireta Os fatores individuais estão
desses agentes. Os fatores sociais com maior frequência nos relatos,
retratam a qualidade e a intensi- sobretudo considerando os suicí-
dade das relações sociais desses dios e tentativas. Entre eles estão
agentes. Os fatores organizacio- a depressão (18 casos) e o uso de
nais abordam temas referentes à álcool ou drogas (4 casos). Fatores
instituição e à cultura organizacio- situacionais estão em 2 casos de
nal, como as relações com pares e tentativa e em 4 casos de suicídio.

Gráfico 22: Presença de fatores associados nos casos de 2020

32
Entre esses, estão experiências de
vitimização provocadas ou no de- Fatores organizacionais tam-
sempenho das funções policiais ou bém apareceram - ainda que em
por colegas. A narrativa a seguir de- menor frequência - em narrativas
monstra como a articulação desses de tentativas (1 caso) e suicídios (5
fatores pode ajudar a compreender casos). Entre esses, as narrativas ci-
o desenvolvimento do comporta- tam transferências como forma de
mento suicida em um profissional: punição, perseguições e condições
precárias de trabalho com desta-
“(o policial) possuía Transtorno do que para a baixa remuneração. Fi-
Espectro Autista (TEA) e relatava nalmente, os fatores sociais abor-
que, desde o início da carreira dam os relacionamentos sociais
militar, sofria bullying e persegui- desses agentes. Nesta perspectiva e
ções dentro da corporação, prin- confirmando o que já foi apontado
cipalmente após seu diagnóstico, em outros trabalhos, esses fatores
o que fez com que sua possível estão presentes em 20 casos, sendo
promoção fosse prejudicada. Ao 10 deles de homicídio seguido por
que tudo indica no vídeo e a fotos suicídio. Na figura a seguir, é possí-
enviadas da ocorrência, ele have- vel ver uma série de combinações
ria se suicidado em seu aparta- de palavras que sugerem a existên-
mento por conta de perseguições cia de conflitos domésticos.
institucionais.” (Matéria de Jornal,
29/08/2020)

33
Figura 1: Nuvem de palavras dos fatores

É evidente que a origem das formações relevantes para futuras


informações ajuda a compreender pesquisas ou no desenvolvimento
a frequência de determinados de políticas públicas.
fatores e a ausência de outros. Por
exemplo, é provável que notícias O primeiro elemento a ser
de casos de homicídio seguido destacado é a menção a tentativas
de suicídio retratem fatores de suicídio anteriores, presentes
sociais. E a depressão também em 3 casos de suicídio e 1 tentativa.
é um elemento mais facilmente Esse dado reforça um ponto que já
associado ao comportamento foi destacado por outros estudos e
suicida do que aspectos situacionais corrobora como uma tentativa de
ou organizacionais. Além desses suicídio é um fator de risco para no-
fatores, os temas quantificados no vas tentativas.
gráfico 21 também apontam in-

34
Gráfico 23: Aspectos relevantes colhidos das narrativas dos casos de 2020

Chama a atenção também externas às organizações policiais. Na


menções a tratamentos psiquiátricos mesma linha destacamos a existên-
ou psicológicos em andamento, pre- cia da restrição às armas (2 casos) e
sentes em 7 casos de suicídio e em 2 o histórico de afastamento por ques-
tentativas. Ou seja, mesmo o trata- tões de saúde (6 casos).
mento em andamento não foi sufi- Histórico de violência do-
ciente para evitar o episódio. Seriam méstica também está present em
necessárias mais informações para 3 casos de homicídio seguido por
suicídio, 1 caso de tentativa e 1
tecer conclusões sobre esses casos,
de suicídio. Esse resultado reforça
mas eles nos ajudam a pensar que
a importância da identificação e
alguns já vinham sendo acompanha- acompanhamento dos casos de vio-
dos por equipes de saúde internas ou lência doméstica para a prevenção

35
do comportamento suicida. Jornal, 17/05/2020).

Destacamos também a pre- Além dessas mensagens, 5 ca-


sença de sinais de alerta em 5 ca- sos (sendo 4 de suicídio e 1 de HS)
sos. Definimos como sinais de aler- deixaram registros direcionados para
tas comportamentos ou atitudes familiares ou colegas de trabalho.
que denunciassem ou antecipas-
sem o episódio. Neste bojo, tem O debate sobre os fatores de
destaque mensagens de despedida risco e de proteção para os casos de
em redes sociais, conforme narra o suicídio policial permanece aberto,
relato abaixo: assim como a interação entre os fato-
“Ainda segundo boletim de ocor- res, tanto no sentido de aumentar o
rência, a ex-mulher do policial teria risco, quanto de atenuá-lo. Nos textos
contado à colega, horas antes, que a seguir abordaremos analiticamente
o marido havia lhe mandado men- alguns dos aspectos qualitativos en-
sagens por celular pedindo para contrados nas narrativas analisadas
ela cuidar dos filhos e que “ele faria em 2020.
algo muito covarde” (Matéria de

36
REFLEXÕES NECESSÁRIAS

Nesta seção, pesquisadores do


IPPES debatem temas relevan-
tes para a compreensão do sui-
cídio, do homicídio seguido por
suicídio e da tentativa de suicí-
dio entre os profissionais de se-
7. REFLEXÕES gurança pública. Para saber mais
NECESSÁRIAS sobre essas temáticas, acesse a
Biblioteca Digital do IPPES com
o QR code ou no link abaixo:
https://ippesbrasil.com.br/la-
boratorio-de-estudos/bibliote-
ca-digital/
7.1 A invisibilidade da inatividade
Por Nathalia Fallavena Ceratti e Fernanda Novaes Cruz

A pouca atenção dispensada


a policiais que estão na inatividade Revisitando estudos nacio-
ou estão em vias de chegar a ela nais e internacionais sobre o tema,
não é novidade nas instituições de sabemos que o processo de sociali-
segurança pública brasileiras. Além zação no interior dessas instituições
da carência de políticas destinadas faz com que os agentes tenham
a essa população, a falta de dados mais dificuldade de conduzir as re-
dificulta até que conheçamos me- lações para além do mundo da ca-
lhor os desafios enfrentados por serna. E esse pode ser um elemento
essa parcela de agentes da seguran- dificultador na transição para a ina-
ça pública. tividade.

Essa escuridão nos dados Os agentes que passam para


também afeta o tema da saúde a inatividade, assim como os da ati-
mental. Hoje, os dados oficiais não va, também enfrentam problemas
nos permitem saber quantos agen- decorrentes da profissão, tais como
tes inativos morrem por suicídio to- ansiedade, estresse, traumas, de-
dos os anos no país. Por outro lado, pressão e transtorno do estresse
ao longo dos 3 anos do Boletim do pós-traumático. Porém, estes efei-
IPPES (2018 até 2020) mapeamos tos e sentimentos não desaparecem
33 suicídios entre policiais inativos, uma vez que estes profissionais se
5 casos de homicídio seguido de aposentam, muito pelo contrário.
suicídio e 9 tentativas. Apesar de Em certos casos, podem acentuá
ser um avanço no esforço de men- -los em decorrência da perda de
surar esse fenômeno, a inexistên- status social, da rede de apoio ins-
cia de números atualizados sobre a titucional, do vínculo da irmandade
quantidade de servidores inativos policial, da perda do senso de pro-
nos impossibilita de calcular taxas pósito e objetivos, além da deses-
para essa população, o que seria o tabilidade financeira gerada pela
procedimento mais adequado para desigualdade salarial da atual con-
compararmos a exposição desses dição.
agentes ao adoecimento mental
em relação aos servidores ativos. Por outro lado, um estudo re-

38
cém-publicado nos Estados Unidos10 monstrado importante melhora na
demonstrou que, apesar de todas saúde física e mental desses profis-
as adversidades enfrentadas pelos sionais. Também é necessário pro-
policiais inativos, existe um grau mover um maior suporte durante
muito elevado de resiliência desen- este período de transição, tendo em
volvido por parte desta categoria. vista que, não raras vezes, duran-
Esse mecanismo de defesa serve te o período da atividade, policiais
como fator de proteção para o so- acabam se distanciando de seus cír-
frimento psíquico e contribui para culos de convívio e a aposentadoria
aprimorar a saúde mental destes demanda uma reaproximação dos
profissionais. vínculos com a família e amigos.

Apesar de ainda serem es- Portanto, é necessário e ur-


cassas as pesquisas a respeito das gente conhecermos melhor sobre
causas e efeitos dos traumas e es- a saúde mental dos agentes que
tresses gerados pela profissão em passam para a inatividade. Assim
policiais da inatividade, sabemos como desenvolver estratégias que
que algumas vezes as adversidades reforcem os elementos proteti-
enfrentadas tanto pessoalmente vos, como a resiliência, e reduzam
quanto profissionalmente por estes os fatores de risco decorrentes do
policiais não podem ser evitadas. exercício da profissão. Um sistema
Porém, cabem às instituições e cor- de cuidado e atenção a esse públi-
porações fornecerem mecanismos co precisa contemplar não apenas a
para que esses agentes possam de- segurança financeira e o apoio psi-
senvolver uma vida mais saudável cológico e médico, mas também o
e satisfatória ao longo de sua traje- desenvolvimento de competências
tória profissional e também após a pessoais que estimule capacidades
aposentadoria. O desenvolvimen- como flexibilidade, atenção plena
to de competências pessoais, tais e motivação, ou seja, que possam
como resiliência, autoconfiança, contribuir para um processo de en-
perseverança e otimismo têm de- velhecimento com saúde e bem-es-
tar.
10 PARNABY; BROLL, 2020.

39
7.2 Homicídio seguido de suicídio
ou Feminicídio seguido de suicídio?
Por Mariana da Fonte

De acordo com a literatura11, lheres e companheiras, ao tempo


o fenômeno do homicídio seguido que a maioria das mulheres mata
de suicídio (H/S), apesar de não se seus próprios filhos.
tratar de uma categoria homogê-
nea, apresenta algumas caracterís- Assim, distinto tanto do suicídio
ticas fundamentais. Em primeiro quanto do homicídio, o fenôme-
lugar, quando comparado a outros no do homicídio seguido de suicí-
tipos de violência, o H/S dispõe de dio (H/S) apresenta características
certa estabilidade, variando pouco particulares que o definem como
temporalmente. Além disso, trata- um crime marcado sobretudo pelo
se de um fenômeno marcado pelo gênero e pelo vínculo familiar. Um
gênero, uma vez que os homens olhar mais atento aos casos de H/S
assumem majoritariamente o pa- pode nos fornecer ferramentas ana-
pel de assassinos e as mulheres e líticas mais precisas para compreen-
crianças conformam a maioria das der questões macroestruturais que
vítimas (SOARES, 2002). Sobre este permeiam a nossa sociedade. Além
aspecto, é importante frisar que disso, o desenvolvimento de pes-
as mulheres, na maioria dos casos, quisas científicas comprometidas
são vítimas de seus maridos, aman- com a criação de políticas públicas
tes, companheiros e namorados; e no âmbito do suicídio depende da
as crianças são vitimadas na ampla nomeação e da compreensão por-
maioria pelos seus pais. Segundo menorizada de fenômenos como o
a literatura, o marcador de gênero H/S.
de H/S nos auxilia a compreender
ainda que homens e mulheres não O gráfico na página seguinte
matam o mesmo tipo de pessoas. A nos auxilia a visualizar a preponde-
maioria dos homens mata suas mu- rância de fatores sociais que retra-
tam a qualidade e a intensidade das
11 Para uma introdução ao tema do Homicídio segui- relações sociais dos policiais (tais
do de Suicídio (H/S) ver: PARNABY; BROLL, 2020; ADLER,
como o baixo nível de sociabilidade
1999; COOPER; EAVES, 1996; FELTHOUS; HEMPEL, 1995;
SOARES, 2002. Referências completas na seção de biblio- informal, isolamento social, crises
grafia.

40
Gráfico 24: Presença de fatores nas narrativas dos casos ocorridos em 2020

financeiras, problemas conjugais, Caso 1:


entre outros) e de fatores individu-
ais (como sofrimento psíquico, uso Às 6 horas da manhã, em uma
abusivo de álcool ou drogas) nos ca- cidade do interior de São Paulo,
sos de homicídio seguido de Suicí- tiros são disparados dentro de um
dio. Tais fatores que podem operar apartamento. Segundo informações
como agravantes para o risco do H/S dos vizinhos, entre 5h e 6h da
compõem o modelo ecológico para manhã, o casal que residia no local
o comportamento suicida proposto discutiu dando início a uma intensa
por MIRANDA (2016), que compre- briga. O Boletim de Ocorrência do
ende o suicídio policial como um fe- caso menciona que Pedro12, policial
nômeno multifatorial. militar, matou a esposa Joana com
um tiro e depois se suicidou. Ainda
Para melhor ilustrar os ar- sobre o acontecido, o irmão de Joa-
gumentos e achados supracitados, na enfatizou que a irmã havia termi-
analisamos dois casos de homicídio nado o relacionamento com Pedro
seguido de suicídio com o intuito de e o mesmo não aceitou o término,
elencar fatores em comum que nos negando-se a deixar o apartamen-
auxiliem a definir com maior preci-
são o fenômeno: 12 Foram utilizados nomes fictícios para a descrição
dos casos.

41
to do casal. Ademais, a mãe de Jo ridade nos casos de H/S, é funda-
ana relatou que, antes do ocorrido, mental que perguntemos: por que
-
Pedro já havia ameaçado se matar, mulheres são vitimizadas por seus
apontando a arma três vezes em parceiros antes destes cometerem
direção à cabeça. o suicídio? O que este fato nos re-
vela sobre estruturas de poder que
Caso 2: permeiam nossas instituições e so-
ciabilidades? E, por fim, por que
Em um município do interior não falar de feminicídio - assassina-
do estado da Bahia, um policial de to de uma mulher pelo simples fato
33 anos matou sua esposa Carla de ser mulher - seguido de suicídio?
(também policial) e, em seguida, se
matou. As filhas, que presenciaram De acordo com a literatu-
o acontecido, não sofreram feri- ra, os motivos mais comuns para
mentos. A polícia responsável pela a ocorrência do feminicídio são o
investigação do caso disse que, 4 ódio, o desprezo e o sentimento de
meses antes do ocorrido, o policial perda do controle e da propriedade
foi preso em flagrante por violência sobre as mulheres. Não à toa, briga
doméstica. Após este acontecido, entre casais motivadas pela recusa
foi expedida medida protetiva em do homem em aceitar a separação
favor de Carla. Entretanto, não se ou o divórcio é um dos fatores que
sabe se a medida ainda estava em se destaca nos casos de H/S notifi-
vigor no momento do H/S. cados. Ademais, como evidenciado
no caso 2 descrito acima, a ocor-
Os dois casos descritos acima evi- rência de violência doméstica é
denciam uma questão hegemônica uma realidade alarmante que pode
presente nos casos de homicídio configurar um fator de risco para a
seguido de suicídio (14) coletados perpetuação do H/S. Segundo Ri-
para a confecção deste boletim: no chards, Gillespie e Smith (2014),
contexto do homicídio, as mulhe- o feminicídio seguido de suicídio
res são as principais vítimas de seus pode ser visto como um extremo
parceiros íntimos. Neste sentido, da violência doméstica. Para as
é de suma importância se atentar autoras, enquanto o homicídio se-
para a relação entre o perpetrador guido de suicídio é uma ocorrência
e a vítima quando se analisa este rara no contexto do crime em geral,
fenômeno. Se esta é uma regula- no âmbito do homicídio por parcei-

42
ro íntimo, o feminicídio seguido de Além disso, é fundamental
suicídio é muito comum. que os/as produtores/as de conhe-
cimento e formuladores de opinião
A reflexão em torno da categoria reconheçam que, apesar de casos
de feminicídio (em detrimento do como os notificados neste boletim
homicídio) seguido de suicídio, tem acontecerem, em sua maioria em
o intuito de evidenciar como nos espaços domésticos, não devem ser
casos notificados, a morte de mu- tratados como problemas individu-
lheres por seus parceiros (que co- alizados. A morte de mulheres por
metem o suicídio posteriormente) seus parceiros é uma questão social
não é um acontecimento isolado. generalizada e que somente sendo
Pelo contrário, sua recorrência re- tratada como tal poderá mobilizar
flete estruturas de dominação e de o apoio da comunidade acadêmica,
poder que organizam as relações de política e civil.
gênero em nossa sociedade.

43
7.3 A depressão como fator de risco
para o comportamento suicida
Por Alexandra Valéria Vicente

A depressão é um transtorno volvidas.


que afeta mais de 300 milhões de
pessoas em todo o mundo e, segun- O Manual Diagnóstico e Esta-
do dados da Organização Mundial da tístico de Transtornos Mentais (DS-
Saúde (OMS), aproximadamente 12 M-5)14 esclarece que no transtorno
milhões de brasileiros apresentam depressivo há a prevalência do
a doença13. A OMS estima que entre humor triste, porém é possível
20% e 25% da população já teve, tem observar ainda: diminuição do
ou poderá ter o transtorno, sendo interesse ou prazer em atividades
assim, é um dos principais quadros diárias, perda ou ganho de peso,
de adoecimento mental no Brasil. insônia, sonolência, cansaço,
perda de energia, sentimentos de
Ainda para a OMS, até 2030 inutilidade e culpa excessiva, baixa
a depressão será a doença mais co- autoestima, capacidade diminuída
mum do mundo. A Organização es- para pensar, para se concentrar,
clarece que a doença também será indecisão, entre outros. No entanto,
a que mais irá gerar custos econômi- o comportamento suicida é
cos e sociais para os governos, devi- considerado um dos sintomas mais
do aos gastos com os tratamentos graves da depressão. E estudos
e a perda de produção das pessoas indicam que 15% das pessoas
impactadas. deprimidas sem tratamento morrem
por suicídio15.
Quando em um episódio de-
pressivo, o indivíduo pode apre- Contudo, quando se trata de
sentar um significativo sofrimento profissionais de segurança pública,
mental que irá alterar suas relações pessoas com porte de arma (e fácil
familiares, sociais e profissionais. Em acesso às mesmas) que transitam
um quadro mais grave da doença é cotidianamente por contextos so-
improvável que possa continuar com
as atividades normalmente desen-
14 APA, 2014.

13 OMS, 2014. 15 BOTEGA et al., 2009.

44
ciais que as expõem naturalmente a quico mais presentes no suicídio.
situações de perigo e significativo ris- Contudo, outros conceitos e descri-
co de vida, o transtorno depressivo ções utilizados, tais como: “surto”,
pode ganhar cores mais fortes. Isso “resistência ao tratamento”, “histó-
ocorre pois, por um lado, as caracte- rico de tentativa”, “uso de álcool ou
rísticas do trabalho contribuem para drogas”, “já apresentava problemas
o agravamento do quadro por aspec- psicológicos há algum tempo”, “mãe
tos tais como: vivência recorrente de faleceu há mais ou menos 01 ano”,
situações com alto potencial trau- “perseguido no ambiente de traba-
mático, pouco (ou nenhum) suporte lho”, “afastado do tratamento”, per-
ao fortalecimento da saúde mental mitem inferir acerca da presença do
do profissional e cultura organiza- quadro depressivo em outros even-
cional significativamente sustentada tos, mas que não foi assim identifi-
pela punição (o que é diferente da cado, bem como para a possiblidade
“responsabilização”, que poderia, in- de outros transtornos mentais.
clusive, contribuir para o restabeleci-
mento da saúde de alguns profissio- O estudo da mensagem dei-
nais que, ao invés de serem tratados xada por um policial morto por sui-
em suas patologias, são alijados das cídio demonstra a presença de uma
engrenagens institucionais e jogados depressão fortemente associada ao
em uma invisibilidade que não cuida sentimento de desesperança, o que
e não acolhe). Por outro lado, o tra- indica a gravidade do sofrimento ex-
balho desse profissional o lança em perimentado. Importante ressaltar
inúmeras “oportunidades” para a que o sentimento de desesperança
morte por suicídio, cujas caracterís- se encontra fortemente associado
ticas podem, inclusive, se apresentar ao comportamento suicida, sendo a
como “morte indeterminada”, ou sua presença mais indicativa ao sui-
como “ato de serviço”. cídio do que a própria depressão. No
bilhete, o profissional relata o ideal
Na análise do contexto apre- que o conduziu a trabalhar na segu-
sentado pela mídia para as descri- rança pública, lamenta ter “falhado”
ções das mortes por suicídio entre os e agradece o acolhimento recebido
profissionais de segurança pública foi para, em seguida, afirmar que “can-
possível observar a significativa pre- sou do mundo”. Ele não tinha mais
sença do termo “depressão” como esperanças.
um dos fatores de adoecimento psí-

45
Examinando outro evento, de seleção, capacitação continuada,
no qual o policial comete suicídio condições de trabalho compatíveis
após o término do plantão no alo- aos riscos experimentados, suporte
jamento de seu local de trabalho, psicossocial para o manejo de situa-
é possível refletir acerca das possí- ções com alto potencial traumático
veis dificuldades e contradições por e, por fim, em um modelo de gestão
ele vivenciadas no contexto institu- humanizada, isto é, que não retire
cional. Visto como um profissional as responsabilidades, mas que seja
comprometido, qualificado e que capaz de enxergar a individualidade
gostava muito da profissão exercida, daqueles que executam os protoco-
apesar do diagnóstico de depressão, los e procedimentos operacionais
continuava exercendo suas funções padrão.
normalmente, inclusive com autori-
zação para acréscimo de carga horá- Concluindo, é preciso sinalizar
ria (serviço extra). Valorizado em sua para a forte associação entre depres-
“operacionalidade”, parece não ter são, suicídio e passagem para a inati-
tido o sofrimento reconhecido e vali- vidade. A aposentadoria para o pro-
dado. Certamente, em muitas vezes, fissional de segurança pública pode
o próprio sujeito recusa o tratamen- ser impactante: acostumado a uma
to oferecido e não aceita se afastar rotina que demandava rapidez nas
das funções profissionais. Contudo, ações, muitas vezes realizando ser-
tal fato não exime a instituição da viços “extras”, passou considerável
sua responsabilidade, que é ofere- parte da vida na instituição de traba-
cer o tratamento necessário, afastar lho convivendo não muito com a fa-
o policial pelo tempo indicado pelo mília. O novo período da vida, para o
serviço de saúde e certificar-se de qual muitas vezes não foi preparado,
que este está sendo realizado. Ne- pode acarretar quadros depressivos,
cessário ainda acautelar todo o ar- uso abusivo de álcool e/ou outras
mamento em posse do profissional. drogas e conflitos familiares. Consi-
derando os dados epidemiológicos
Como parte das estratégias acerca do comportamento suicida,
que buscam contribuir para a pre- é possível perceber a importância da
venção ao adoecimento mental do proposição de ações por parte das
profissional de segurança pública, instituições de segurança pública
é importante frisar que as institui- também para esse grupo.
ções devem investir nos processos

46
7.4 Suicídio na segurança pública:
qual é o papel da mídia?
Por Caio Brasil Rocha

O suicídio é um dos grandes fica Plos One17. O número total de


temas tabus do jornalismo. Como suicídios cresceu 10% no período
parte de um acordo não verbaliza- e esse aumento poderia estar as-
do, uma parcela dos profissionais sociado à abordagem midiática do
e veículos de imprensa optam por caso, que detalhou o método ado-
não noticiar os casos de violência tado. Além de muitos veículos de
autoprovocada, à exceção dos que imprensa terem construído narrati-
envolvem celebridades, pela cren- vas sensacionalistas sobre a morte
ça de que isso pode incentivar no- do ator, não se furtaram a narrar
vos suicídios. Entretanto, pesquisas os pormenores do acontecimento.
apontam que falar e trazer o debate
à cena pública é um caminho para a Para orientar os profissionais
valorização da vida16. Na contramão de mídia, a Organização Mundial
do mito construído, a mídia pode de- da Saúde (OMS) criou em 1999 um
sempenhar um papel de prevenção manual para abordagem do suicí-
e apresentar alternativas ao suicídio. dio, traduzido para o português em
200018. O manual ainda é pouco di-
Pautar o suicídio é importan- fundido no campo profissional, o que
te, mas é preciso que seja de uma de um lado afasta parte dos agentes
forma consciente, responsável e de mídia da temática – pelo receio
qualificada. Nos meses seguintes à de não saber tratar do tema deli-
morte por suicídio do ator norte-a- cado – e, por outro, faz que alguns
mericano Robin Williams, em agos- profissionais abordem os eventos
to de 2014, verificou-se nos Estados de forma leiga e pouco cuidadosa.
Unidos um aumento de 32% de sui-
cídios pelo método utilizado pelo ar- Além das notificações rece-
tista, enquanto os outros métodos bidas para a composição deste Bo-
somados apresentaram crescimen- letim, o IPPES coleta na internet in-
to de 3%, segundo a revista cientí-

17 FINK; SANTAELLA-TENORIO; KEYES, 2018.

16 NIEDERKROTENTHALER et al., 2010. 18 OMS, 2000.

47
formações sobre casos de suicídios, profissional de segurança pública, 8
homicídios seguidos por suicídio e fazem o uso do termo “feminicídio”.
tentativas de suicídio entre profis-
sionais de segurança pública, que Uma das orientações mais
são checadas pela equipe de pes- importantes da OMS para os pro-
quisadores. Em 2020, foram anali- fissionais de mídia se refere ao não
sados 71 casos de suicídio, 26 ten- detalhamento do método utiliza-
tativas de suicídio e 14 homicídios do pela vítima de suicídio ou de
seguidos por suicídio. A equipe de tentativa de suicídio. Ressalta-se
pesquisadores encontrou 53 notí- que, por mais que o método mais
cias e 11 notas de falecimento refe- usual entre profissionais de segu-
rentes a esses casos. Para a análise rança pública seja recorrendo ao
da cobertura jornalística que em- seu próprio instrumento de tra-
preendemos aqui, desconsidera- balho, a não omissão dessa infor-
mos as notas publicadas pelas ins- mação pode vulnerabilizar ainda
tituições de segurança pública em mais indivíduos que se encontram
seus sites por comporem um gê- em sofrimento e ser determinante
nero textual diferente das notícias. para uma possível nova tentativa.

Entre as 53 notícias examina- O método utilizado pelo ator


das, 32 fazem uso do termo “sui- Robin Williams, por exemplo, é um
cídio”. Em 21 delas o profissional dos mais conhecidos pela popu-
buscou outras formas de se refe- lação geral, mas a sua divulgação
rir ao fenômeno. Dessas, a maioria pode estar associada ao aumento
apresenta uma relativa proximidade do número de casos em que a víti-
semântica, como “tirou a própria ma fez uso do método. Entre as 53
vida” e “se matou”, mas também notícias analisadas, 41 descrevem
foram identificadas formas de se o método e apenas 12 o omitem.
referir ao suicídio que manifestam Além disso, 18 matérias relatam o
sensacionalismo e juízos de valor, local do corpo atingido ou a condi-
como chamá-lo de “o sinistro”. Entre ção física em que ficou a vítima de
as 14 notícias somadas de homicí- suicídio ou de tentativa de suicídio.
dio seguido de suicídio e homicídio
seguido de tentativa de suicídio em A OMS também orienta os
que a vítima de homicídio é a com- profissionais de mídia para não di-
panheira ou ex-companheira do vulgarem possíveis cartas deixadas

48
pelas vítimas de suicídio. Entretan- da matéria especialistas em suicídio.
to, das 7 matérias que mencionam Afinal, um fenômeno complexo e
a existência de uma carta, áudio multicausal não pode ser reduzido a
ou mensagem da vítima, 3 exibem relatos simples e objetivos. Porém,
o seu conteúdo. Outra recomen- nenhuma das notícias observadas
dação não seguida por veículos de apresenta a fala de um profissional
imprensa é a de não expor a ima- ou instituição especialista em suicí-
gem da vítima de suicídio. Não fo- dio e prevenção. Apenas 2 notícias
ram registradas imagens das víti- trazem no texto estatísticas sobre o
mas mortas ou feridas em nossa suicídio e têm como fonte de dados
análise, mas 28 notícias apresen- a Organização Mundial da Saúde e
tam retratos das vítimas. Entre as a Ouvidoria de Polícia de São Paulo.
matérias sobre homicídio seguido
de suicídio e homicídio seguido de As fontes são matéria prima
tentativa de homicídio, 8 mostram essencial para o fazer jornalístico.
a imagem das vítimas de homicídio. Citar as fontes das informações qua-
lifica o texto, conferindo-lhe cre-
Não apresentar explicações dibilidade. Entretanto, 13 notícias
simplistas para o comportamento não mencionam a fonte da informa-
suicida ou conjecturar motivos tam- ção. Em 23, apenas 1 fonte é men-
bém é uma instrução da OMS. Po- cionada, 2 fontes são citadas em
rém, nas 53 notícias analisadas, 21 9 matérias, 3 fontes são indicadas
descrevem motivos ou apresentam em 7 notícias, não foram identifi-
indícios de uma possível causa para cadas matérias com 4 fontes, e em
o comportamento suicida. Entre as 1 notícia são encontradas 5 fontes.
15 matérias que abordam casos de
homicídio seguido de suicídio ou de Identificamos 67 citações
homicídio seguido de tentativa de a fontes nas matérias. Entre elas,
suicídio, 8 relatam uma causa ou dão a Polícia Militar surge 20 vezes, a
indícios de motivos para o homicídio. Polícia Civil 13 e “Polícia” sem es-
pecificação da instituição soma 2
Para aventar sobre as possíveis ocorrências. Assim, as instituições
razões que levam um indivíduo ao policiais ou seus atores represen-
comportamento suicida, sem incor- tam 35 das vozes presentes nas 53
rer a simplificações, salientamos que notícias analisadas. Confira a ta-
se faz necessário trazer como fonte bela com as fontes consultadas.

49
Tabela 5: Fontes consultadas pelas Observamos nas notícias
matérias publicadas no ano de 2020
sobre violências autoprovocadas
Fonte Citações entre profissionais de segurança
Polícia Militar 20 pública muitos aspectos dissonan-
Polícia Civil 13 tes com a proposta de abordagem
Testemunhas 8 apresentada pela OMS. A difu-
Familiares 5 são dos manuais já existentes e a
Fonte não revelada 5 construção de novos, que contem-
Amigos e conhecidos 2 plem uma abordagem mais atuali-
Departamento Penitenciário 2 zada das questões que surgem no
Polícia (não especificada) 2
espaço midiático, é um caminho
Secretarias de governo 2
importante para a boa prática do
Advogado 1
jornalismo e a valorização da vida.
Associação de Praças 1
Instituto Médico Legal 1
A notícia sobre suicídio per-
Ordem dos Advogados do Brasil 1 corre um caminho semelhante ao
Organização Mundial da Saúde 1
da cobertura de violência urbana.
Outro veículo de imprensa 1
Entretanto, por mais que o sui-
Ouvidoria de Polícia de São Paulo 1
cídio se enquadre no campo de
Vítima (tentativa de suicídio) 1
pesquisa da violência e, nos ca-
Total de fontes 67
sos investigados, a vítima seja um
Fonte: elaboração do IPPES
profissional de segurança pública,
propomos um novo olhar para o
A divulgação de serviços fenômeno. Uma narrativa diferen-
de acolhimento ou de conteúdos te para a cobertura do fenômeno
de profissionais envolvidos com do suicídio e tentativas de suicí-
a prevenção do suicídio ocorreu dio é possível e se faz necessária.
em apenas 4 matérias. Entre elas,
o Centro de Valorização da Vida Advoga-se pela emergência
(CVV) é mencionado 4 vezes, o de um compromisso do campo pro-
Grupo Amor Vida, 1 vez, e um vídeo fissional em abordar a temática de
no qual uma psicóloga e um mili- forma cuidadosa, alinhado com as
tar especialista em negociação em recomendações das instituições
crise suicida conversam a respei- que trabalham pela prevenção do
to da prevenção é sugerido 1 vez. suicídio. Uma cobertura que hiper

50
detalha os fatos expõe as vítimas pela Constituição o direito de ocul-
e seus familiares, além de vulne- tar a fonte. Essa decisão é tomada
rabilizar ainda mais aqueles que para proteger, sobretudo, a vida da
estão em sofrimento emocional. pessoa que apresenta uma infor-
mação valiosa para a construção
Para alterar esse quadro, do conteúdo noticioso de interes-
propomos uma cobertura do fe- se público, além de ser um fator
nômeno e não do fato em si. O determinante para a democracia.
fato pode propiciar uma entrada
ao tema, mas sem pormenorizar A ocultação de determina-
as situações que podem gerar ga- das informações sobre casos de
tilhos e favorecer a repetição. As- suicídio – não só os que envol-
sim, trazer autoridades da área vem profissionais de segurança
de saúde como fontes das maté- pública – se inscreve na mesma
rias, apresentar o suicídio em um lógica e pode salvar vidas. Um cui-
debate mais amplo e menos des- dado não com a fonte, mas com
critivo do fato, além de ressaltar o público leitor. Com a crescen-
alternativas ao suicídio e divulgar te centralidade dos meios de co-
serviços e instituições que fazem municação na vida cotidiana das
o acolhimento de pessoas em pessoas, o jornalismo ocupa um
sofrimento e trabalham a pre- espaço estratégicos na circula-
venção do suicídio é essencial. ção de informações confiáveis e
seguras, sobretudo na internet.
Os profissionais de jornalis- A postura cidadã de um jornalis-
mo têm como uma das prerroga- mo empático e parceiro da vida
tivas mais importantes garantidas se faz cada vez mais necessária.
pelo Código de Ética e respaldado

51
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compreensão do compor- não nos permitem tais inclusões.


tamento suicida não é uma tarefa Estudos sobre o fenômeno do
simples. Ao longo desses três anos adoecimento mental dos profissio-
de Boletim, mais do que respostas, nais de segurança pública são fun-
a leitura dessas páginas gera mais damentais para promover políticas
questionamentos. A princípio, essa públicas de prevenção, mas não são
constatação pode parecer frustrante, a única estratégia. Promover a saú-
entretanto, são novas questões que de mental dos profissionais de segu-
nos instigam a aprimorar a qualidade rança pública depende de um pacto
do trabalho a cada ano. Também ino- coletivo. Esse compromisso envolve
vamos as estratégias, incorporando atores institucionais, governamentais
mais fontes e mais variáveis que nos e, inclusive, atores sociais. Toda a so-
ajudem a compreender o fenômeno ciedade ganha com um profissional
e, principalmente, a subsidiar políti- mentalmente saudável e valorizado.
cas públicas orientadas. É sob essa perspectiva que este tra-
balho e as outras iniciativas do IPPES
Desde a primeira edição, con- têm se sustentado.
seguimos avançar o projeto de me-
lhorar a qualidade das informações Agradecemos mais uma vez o
sobre o comportamento suicida na compromisso e empenho de todos
segurança pública no país. Passamos os atores institucionais voluntários
a analisar mais instituições, incluí- que colaboram com o fortalecimento
mos análises qualitativas dos casos da rede de notificação de mortes vio-
e, a partir dessa edição, passamos a lentas intencionais e de tentativas de
debater temas que merecem mais suicídio entre profissionais de segu-
atenção. Sabemos que ainda há um rança pública brasileiros. Esperamos
longo caminho a ser percorrido! Por que as análises apresentadas nesta
exemplo, sabemos da necessidade versão do Boletim possam ser subsí-
de incluir em nossas análises aspec- dios para futuras pesquisas e para o
tos como a raça e tempo de serviço e desenvolvimento de políticas públi-
da necessidade de aprimorar o esco- cas comprometidas com a valoriza-
po das taxas, mas infelizmente as ba- ção da vida na segurança pública de
ses de dados de que dispomos ainda nosso país.

52
9. bIBLIOGRAFIA

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de Pensamiento e Investigación Social, v. 13, n.
2, p. 207-217, 2013.

53
10. Anexos

10. Anexos
Anexo 1: Suicídio de agentes de segurança pública da ativa 2018-2020

2018 2019 2020


PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA
Brasil 32 5 1 0 1 1 2 0 38 5 1 0 4 2 0 1 34 4 3 0 0 0 3 3
UF
AC 1
AL 4 2 2
AP 1 1
AM 1
BA 3 4 6
CE 3 3 1 5 5 2
DF 2 1 1 1
ES 1 2
GO 1 1
MA 1 2 1
MT 1 1 1 1 1 1
MS 2 1 1
MG 3 1 6 2 1
PA 1
PB 3 1 1
PR 2
PE 1 2 1
PI 2
RJ 2 3 2 1 1 5 1 1
RN 1
RS 2 1
RO 1 1
RR
SC
SP 8 1 6 1 2 1 1
SE
TO 2 1
Anexo 2: Suicídio de agentes de segurança pública inativos 2018-2020
2018 2019 2020
PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA
Brasil 5 1 1 0 0 0 0 0 10 1 1 0 0 0 1 0 11 1 1 0 0 0 0 0
UF
AC
AL 1
AP
AM
BA
CE 2 1 1
DF 1
ES 1
GO
MA 1
MT 1 1
MS
MG 1 1
PA
PB
PR 1 1
PE
PI 1
RJ 1 1 3 1 5 1
RN
RS
RO
RR
SC
SP 1 2 1 2
SE
TO
Anexo 3: Homicídio seguido de suicídio de agentes de segurança pública ativos 2018-2020
2018 2019 2020
PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA
Brasil 10 3 0 0 0 0 0 0 5 2 0 0 3 0 0 0 6 1 0 0 3 0 0 0
UF
AC
AL
AP 1
AM
BA 1 2
CE 1
DF 2 1 1
ES
GO 1
MA 1
MT
MS
MG 1 1
PA
PB
PR 1 1
PE 1
PI
RJ
RN
RS 1
RO 1 1
RR
SC 1
SP 4 3 1 3 2
SE
TO
Anexo 4: Homicídio seguido de suicídio de agentes de segurança pública inativos 2018-2020
2018 2019 2020
PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA
Brasil 1 1 0 0 0 0 0 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
UF
AC
AL
AP
AM
BA
CE
DF
ES
GO
MA
MT
MS
MG 1
PA
PB
PR 2
PE 1
PI
RJ
RN
RS
RO
RR
SC
SP
SE 1
TO
Anexo 5: Tentativa de suicídio de agentes de segurança pública da ativa 2018-2020
2018 2019 2020
PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA
Brasil 11 2 1 0 0 0 0 0 18 1 0 0 0 1 0 0 9 1 1 1 1 0 0 0
UF
AC
AL 1
AP
AM
BA 1 1 1
CE 1 1
DF 1
ES 1
GO
MA
MT
MS
MG 1
PA
PB
PR 1
PE 1
PI
RJ 6 2 1 12 1 7 1
RN 1
RS
RO 1
RR
SC
SP 3 1
SE
TO
Anexo 6: Tentativa de suicídio de agentes de segurança pública inativos 2018-2020
2018 2019 2020
PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA PM PC CB GM PP PF PRF FA
Brasil 0 0 0 0 0 0 0 0 3 1 0 0 0 0 0 0 4 1 0 0 0 0 0 0
UF
AC
AL
AP
AM
BA
CE
DF
ES
GO
MA
MT
MS
MG
PA
PB
PR 2
PE
PI
RJ 2 1 2
RN
RS
RO
RR
SC 1
SP 1
SE
TO
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