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É possível prevenir a violência?

DEBATE DEBATE
Reflexões a partir do campo da saúde pública

Is it possible to prevent violence?


Reflections in public health area

Maria Cecília de Souza Minayo 1


Edinilsa Ramos de Souza 2

Abstract The authors debate the possibilities Resumo As autoras discutem sobre as possibi-
and difficulties of preventing the various forms lidades e dificuldades de prevenir as diferentes
of violence from the point of view of public formas de violência a partir do campo da saúde
health. They define terms like prevention, pro- pública. Conceituam as noções de prevenção,
motion of health and the complex concept of vi- promoção da saúde e o complexo conceito de
olence. They present the Brazilian context fac- violência. Situam o contexto brasileiro diante
ing the serious problems that social violence dos graves problemas que a violência social sig-
means to the health area. They offer prevention nifica para o setor saúde e apresentam propos-
proposals in course in diferents countries, in- tas de prevenção em diferentes países, inclusive
cluding Brazil. They conclude that violence can no Brasil, algumas já em andamento, outras
be undone because it is a social and historical ainda em fase de elaboração. Concluem que,
phenomenon which is constructed in society. por se tratar de um fenômeno histórico-social,
Due to its complexity, any process of interven- construído em sociedade, a violência pode ser
tion should contain macro-structural, conjunc- desconstruída. Dada a sua complexidade, qual-
tural, cultural, relational and subjective issues. quer processo de intervenção deve abranger
At the same time, it should specify the prob- questões macro-estruturais, conjunturais, cul-
lems, the risk factors and the possibilities of turais, relacionais e subjetivas, bem como foca-
change. lizar a especificidade dos problemas, dos fatores
Key words Violence; Prevention; Promotion of de risco e das possibilidades de mudança.
1 Centro Latino Americano Health Palavras-chave Violência; Prevenção; Promo-
de Estudos sobre Violência
e Saúde (Claves), Escola
ção da Saúde
Nacional de Saúde Pública,
e Vice-Presidência
de Saúde, Ambiente
e Informação, Fundação
Oswaldo Cruz, Av. Brasil
4365, 21041-210
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
mcmina@castelo.fiocruz.br
2 Centro Latino Americano
de Estudos de Violência e
Saúde “Jorge Careli”, Escola
Nacional de Saúde Pública,
Fundação Oswaldo Cruz
edinilsa@gbl.com.br
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Minayo, M. C. S. & Souza, E. R.

Introdução dições de não romper a racionalidade médica


positivista. Está incluído há muitos anos, na
Neste artigo pretendemos colocar em discus- Classificação Internacional de Doenças (CID)
são a participação da saúde coletiva na aborda- da Organização Mundial de Saúde (OMS) sob
gem teórica e prática da violência, sobretudo a denominação “Causas Externas”. Esse grupo
com os instrumentos que são mais caros ao de causas que abrangia os códigos E800 a E999
campo como as noções de prevenção e pro- da CID, em sua 9a revisão, assumiu os códigos
moção. Para isso buscaremos articular esses V01 – Y98, na 10a revisão, para as análises de
conceitos, assim como o de violência, tentan- mortalidade (OMS, 1985; 1996). Para os estu-
do provocar um debate necessário na pauta dos de morbidade, os eventos violentos, antes
tradicional do setor saúde, freqüentemente representados pelo capítulo 17 da CID-9, atual-
voltada para os termos biomédicos que dizem mente estão referidos nos códigos S e T da
respeito à saúde física e à história natural das CID-10. O conceito de mortalidade por cau-
doenças. sas externas engloba homicídios, suicídios e
Se é verdade que, a partir das décadas de acidentes fatais e o de morbidade recobre as
60 e 70, houve um grande esforço teórico-me- lesões, envenenamentos, ferimentos, fraturas,
todológico e político para compreender a saú- queimaduras e intoxicações por agressões in-
de como uma questão complexa, com deter- terpessoais, coletivas, omissões e acidentes.
minações sociais e condicionantes culturais, A experiência de notificação por essa ru-
nunca um tema provocou tantas reticências brica na CID e a divulgação comparativa mun-
para sua inclusão como o impacto da violên- dial dos dados aí sintetizados têm permitido
cia no setor. As razões são muitas. Algumas estudos das mais diferentes áreas do saber, pro-
vêm do próprio âmbito onde historicamente piciado propostas de políticas públicas e a
o fenômeno tem sido tratado, o terreno do di- compreensão da eficácia de determinadas in-
reito criminal e da segurança pública. tervenções. A própria OMS, que escolheu a
Desde que se constituíram, os Estados Mo- prevenção de acidentes e traumas como tema
dernos assumiram para si o monopólio legí- do Dia Mundial da Saúde em 1993, repetia,
timo do exercício da violência, retirando-a do por essa ocasião, uma frase de William Forge
arbítrio dos indivíduos, dos grupos e da so- “desde tempos imemoriais, as doenças infeccio-
ciedade civil, e entregando-a ao exército, às sas e a violência são as principais causas de mor-
polícias e aos aparatos da justiça criminal talidade prematura’’ (OMS, 1993). Até há bem
(Burke, 1995). Outros motivos vêm do cam- pouco tempo, porém, o setor saúde olhou pa-
po específico da saúde, terreno de quase mo- ra o fenômeno da violência, como um espec-
nopólio do modelo médico e biomédico, cuja tador, um contador de eventos, um reparador
racionalidade tende a incorporar o social ape- dos estragos provocados pelos conflitos so-
nas como variável “ambiental” da produção ciais, tanto nas situações cotidianas como nas
das enfermidades. Ponto de vista que se coa- emergenciais provocadas por catástrofes, guer-
duna com a forma como vêm se apresentan- ras, genocídios e terror político.
do, também no paradigma da modernidade, Essa visão começa a mudar na década de
as relações entre o conhecimento científico e a 60, numa das especialidades mais sensíveis do
intervenção social, freqüentemente fragmen- campo médico. A pediatria americana passa a
tadas e desarticuladas. Sendo assim, mesmo estudar, diagnosticar e medicar a chamada sín-
quando politicamente se tenha assimilado ao drome do bebê espancado, colocando-a como
setor o conhecimento ampliado de saúde, as um sério problema para o crescimento e o de-
práticas promocionais e assistenciais freqüen- senvolvimento infantil. Uma década depois,
temente continuam se restringindo aos con- vários países também reconhecem, formal-
tornos paradigmáticos tradicionais. mente, os maus-tratos como grave problema
Desta forma, entendemos que o tema da de saúde pública. Assim, primeiro nos Esta-
violência não entrou no setor saúde de forma dos Unidos e no Canadá, e depois em outras
natural. Ele se impôs e assim o fez por muitos regiões, na década de 70, são criados progra-
fatores. Em primeiro lugar, apresentou-se den- mas nacionais de prevenção primária e secun-
tro dos limites dos conceitos biomédicos. E, dária, além de centrais de denúncia, tornan-
nesse sentido, parece que nossa argumentação do público e passível de intervenção social um
é contraditória ao exposto anteriormente. Mas problema tradicionalmente e até então, con-
não o é, pois sua incorporação se dá sob con- siderado de foro privado. Para que isso ocor-
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resse, muito contribuíram as sociedades de pe- talidade, vem apontando para a substituição
diatria de vários países, já articuladas com se- das antigas epidemias e das doenças infeccio-
tores da sociedade civil dedicados aos direitos sas e parasitárias para um perfil onde as doen-
da infância e da adolescência. ças do aparelho circulatório, as causas exter-
Outro fenômeno importante cuja influên- nas e os neoplasmas ocupam os três primei-
cia contaminou o campo da saúde foi o mo- ros lugares, respectivamente.
vimento feminista. Sua filosofia e método de Até a década de 60 as violências situavam-
trabalho buscando sensibilizar as mulheres e se no quarto lugar no perfil de mortalidade
a sociedade em geral sobre a violência de gê- geral, passando ao segundo lugar nos anos 80
nero, criando nova mentalidade e buscando e 90. O mais preocupante dessa mudança é a
implodir a cultura patriarcal, têm gerado mu- evidência de que grupos jovens, sobretudo do
danças essenciais nas abordagens do setor saú- sexo masculino, estão sendo cada vez mais
de. Desta forma, a violência fundamentada no atingidos como vítimas e autores e que as cau-
gênero, incluindo agressões domésticas, mu- sas de suas mortes por homicídio e por aci-
tilação, abuso sexual, psicológico e homicídios dentes de trânsito (sobretudo de carro e moto)
passam a fazer parte da agenda, não apenas estão vinculadas ao estilo de vida moderno; a
para os cuidados assistenciais e pontuais ofe- conflitos e desigualdades crescentes na socie-
recidos nas emergências hospitalares. Como dade; à impunidade das infrações e delinqüên-
objeto de prevenção e promoção da saúde a cias; à ausência de um projeto político e de so-
violência fundamentada no gênero, e que se ciedade capaz de incluir e não, pelo contrário,
expressa majoritariamente contra a mulher, se aumentar a exclusão social; e ao comporta-
inclui na fundamentação do conceito amplia- mento arbitrário e discriminatório do Estado
do de saúde que incorpora a compreensão e a personificado nas ações ilegais e ilegítimas de
mudança de atitudes, crenças e práticas; e na seus próprios agentes de segurança.
sua ação, vai além do diagnóstico e do cuida- A consideração do tema da violência nos
do das lesões físicas e emocionais. (Heise, 1994) diversos espaços do setor saúde, no Brasil, se
Em toda a sociedade ocidental, e mais par- fez de forma fragmentada e progressiva. Pri-
ticularmente no Brasil, é na década de 80 que meiro tomaram consciência do problema os
o tema da violência entra com maior vigor na epidemiologistas e os psiquiatras. Seus estu-
agenda de debates e no campo programático dos tomam vulto nos anos 70, mas o incre-
da saúde, tendendo a se consolidar no final mento maior da contribuição científica se deu
dos anos 90. Em nosso país, tiveram papel fun- nos anos 80, que acumularam 83% de toda a
damental para essa inclusão, os movimentos produção intelectual até então disponível (Mi-
sociais pela democratização, as instituições de nayo et al., 1990). Também na década de 80,
direito, algumas organizações não governa- alguns pediatras iniciaram atividades assisten-
mentais (ONGs) de atenção aos maus-tratos ciais e de prevenção nos hospitais em que tra-
na infância, e as organizações internacionais balhavam e depois criaram ONG para amplia-
com poder de influenciar as pautas nacionais. ção e maior visibilidade de seu trabalho. Aí se
Não sem controvérsias. Não sem oposições destacam os Centros Regionais de Atenção aos
que até hoje se expressam, com menos vee- Maus-Tratos na Infância (Crami) em São Pau-
mência, mas ainda fortes, sobretudo pelas for- lo; a Associação Brasileira Multiprofissional
mas de se impor ou se ignorar as prioridades de Proteção à Infância e à Adolescência (Abra-
politicamente relevantes: falta de adscrição de pia) no Rio de Janeiro; e a Associação Brasi-
espaços institucionais na agenda pública e es- leira de Prevenção aos Abusos e Negligências
cassa destinação orçamentária para seu desen- na Infância (Abpani) em Minas Gerais.
volvimento. Já na metade dos anos 90, instados por in-
O crescimento do interesse do setor para vestigadores da área da saúde, vários municí-
pensar, em seu interior, o fenômeno da vio- pios iniciaram atividades de articulação com
lência pode ser de fato sintetizado, por um la- outros setores públicos e da sociedade civil,
do, na própria ampliação contemporânea da desenhando estratégias de prevenção e de as-
consciência do valor da vida e dos direitos de sistência mais específicas. Tais iniciativas fo-
cidadania; de outro, nas observações sobre as ram sempre articuladas entre universidades,
mudanças no perfil de morbi-mortalidade no institutos de pesquisa e serviços, ensejando
mundo e no país. A transição epidemiológica uma relação profícua na abordagem das ques-
nacional, observada do ponto de vista da mor- tões. Destaque deve ser dado à Faculdade de
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Minayo, M. C. S. & Souza, E. R.

Saúde Pública da Universidade de São Paulo, nência em todas a sociedades e também de am-
com uma linha de pesquisa sobre o tema des- bigüidade, ora sendo considerada como fenô-
de a década de 70, e à Escola Nacional de Saú- meno positivo, ora como negativo, o que reti-
de Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fio- ra de sua definição qualquer sentido positivis-
cruz). Nesta última, foi criado o Centro Lati- ta e lhe confere o status de fenômeno comple-
no-Americano de Estudos sobre Violência e xo. Mais que isso, em relação a ela, a soma das
Saúde (Claves) em 1989, para produzir inves- verdades individuais não reproduz a verdade
tigações estratégicas e interdisciplinares com a social e histórica, e os mitos e crenças a seu
finalidade de assessorar as ações do setor. A respeito costumam distorcer a realidade co-
atuação dessas duas instituições, associada a mo num espelho invertido. Ouçamos algumas
todos os movimentos e iniciativas citadas an- interpretações.
teriormente, tem sido fundamental para que, Arendt (1990) que possui uma das mais vi-
no final dos anos 90, uma política nacional no gorosas reflexões sobre o tema, considera que
interior do Ministério da Saúde (MS) esteja nenhum historiador ou politicólogo deveria
sendo delineada. Portanto, na lentidão espe- ser alheio ao imenso papel que a violência
rada de um tema a que denominamos, neste sempre desempenhou nos assuntos humanos,
artigo, “intruso”, chegamos em 1998, com duas e se surpreende com quão pouco esse fenôme-
comissões criadas pelo MS. Uma encarregada no é interrogado e investigado pelos cientis-
de formular uma proposta de política sobre o tas. Engels (1981) valoriza a violência como
tema para o Sistema Único de Saúde (SUS). um acelerador do desenvolvimento econômi-
Outra voltada para formular a mesma políti- co. Mao Tsé-Tung a trata como garantia do po-
ca, em comum acordo com a Sociedade Bra- der político “o poder nasce do cano do fuzil”;
sileira de Pediatria, para a infância e a adoles- Fanon (l961) a define a vingança dos deserda-
cência (Ministério da Saúde, 1998a). Ambas dos; Sorel (l992) como a substantiva na “greve
já estão atuando dentro de suas competências geral” considerada por ele como o mito da mu-
específicas. Igualmente o Conselho Nacional dança necessária na sociedade burguesa; Sar-
de Secretários Municipais de Saúde (Cona- tre (l961) a analisa no universo da escassez e
sems), também em 1998, formulou e integrou da necessidade. Embora muitos autores se uti-
em suas estratégias articuladoras, um Plano lizem do pensamento de Marx e Engels para
de Ação de Prevenção à Violência para as Se- justificar a importância desse fenômeno no
cretarias Municipais de Saúde, com metas de- desenvolvimento histórico “a história é talvez
lineadas para um ano (Ministério da Saúde, a mais cruel das deusas que arrasta sua carro-
1998b). ça triunfal sobre montões de cadáveres, tanto
Esperamos que, no Brasil, por ter havido durante as guerras como nos períodos de desen-
grande investimento nos diagnósticos da si- volvimento pacífico” (Marx & Engels, 1972:
tuação de violência, na década que termina, 526) na verdade, para esses autores, o papel da
entremos no ano 2000 com propostas práticas violência seria secundário. O que traria o fim
e ações concretas, por meio das quais o setor da velha sociedade seriam as contradições en-
saúde possa não só ampliar seu paradigma de tre as forças produtivas e as relações de pro-
atuação, como ser formulador competente, no dução, e o Estado seria o instrumento de vio-
campo das políticas sociais. lência e coerção por excelência em favor das
classes dominantes.
Para Arendt (l990) a violência tem um ca-
A natureza histórica da violência ráter instrumental, ou seja, é um meio que ne-
cessita de orientação e justificação dos fins que
É muito difícil conceituar a violência, princi- persegue. Em seu tratado Violência: Ideologia
palmente por ser ela, por vezes, uma forma y Política, Denisov (1986) reconhece a violên-
própria de relação pessoal, política, social e cia como um conceito multifacetário por suas
cultural; por vezes uma resultante das intera- características externas (quantitativas) e in-
ções sociais; por vezes ainda, um componente ternas (qualitativas). E encontra sua expres-
cultural naturalizado Os estudiosos que nos são concreta no fato de que indivíduos, gru-
últimos tempos têm se debruçado sobre o te- pos, classes e instituições empregam diferentes
ma, ouvindo e auscultando toda a produção formas, métodos e meios de coerção e aniqui-
filosófica, mitológica e antropológica da hu- lamento direto ou indireto (econômico, polí-
manidade lhe conferem um caráter de perma- tico, jurídico, militar) contra outros indiví-
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duos, grupos, classes e instituições, com a fi- lação humana”, compreendem-na também co-
nalidade de conquistar ou reter poder, con- mo um comportamento aprendido e cultura-
quistar ou preservar independência, obter di- lizado que passa a fazer parte dos padrões in-
reitos ou privilégios. trapsíquicos, dando a falsa impressão de ser
Em seus escritos, Domenach (1981) subli- parte da natureza biológica dos seres huma-
nha o fato de que a violência está inscrita e ar- nos. Portanto, a violência necessita ser inter-
raigada nas relações sociais, não podendo, por- pretada em suas várias faces, de forma inter-
tanto, ser considerada apenas como uma for- ligada, em rede, e por meio dos eventos em que
ça exterior se impondo aos indivíduos e às co- se expressa, repercute e se reproduz. Como
letividades, havendo, desta forma, uma dialé- menciona Boulding (1981), as crueldades mais
tica entre vítima e algoz, o que deve ser obje- apavorantes se articulam com a violência es-
to de reflexão dos estudiosos para compreen- condida e naturalizada do cotidiano. A isto,
são dessa complexa relação. Soares e outros autores acrescentam a criação
Freud (1980) apresenta várias interpreta- subjetiva e simbólica em torno do tema, que
ções do tema, em diferentes etapas de seu se alimenta de imagens, fantasias, relatos, mi-
pensamento. Em primeiro lugar associa a vio- tos e emoções, provocando o cumprimento de
lência à agressividade instintiva do ser hu- profecias auto-anunciadas de caos, desordem,
mano, o que o inclina a matar e a fazer sofrer insegurança e medo. A percepção social apre-
seus semelhantes. Num segundo momento a senta-se, freqüentemente como “variável in-
define como instrumento para arbitrar con- dependente” (Soares et al., 1993: 3) tornando-
flitos de interesse, sendo, portanto, um prin- se um fator de reprodução e alimentação do
cípio geral da ação humana frente a situações fenômeno.
competitivas. Numa terceira posição, avança Por tudo o que foi exposto acima, quando
para a idéia de construção de “identidade de o setor saúde se aproxima do tema da violên-
interesses”. É essa identidade que faria surgir cia, não pode tomá-lo como um objeto pró-
vínculos emocionais entre os membros de prio. Pelo contrário, a violência é um proble-
uma comunidade humana. Os conflitos de in- ma da sociedade, que desde a modernidade o
teresses seriam mediados nas sociedades mo- tem tratado no âmbito da justiça, da seguran-
dernas pelo direito e pela lei; e a comunidade ça pública, e também como objeto de movi-
de interesses, pela identidade e busca do bem mentos sociais. No entanto, dois fortes moti-
coletivo. vos tornam o assunto preocupação da área da
Todos os autores citados têm em comum saúde. O primeiro, porque, dentro do concei-
a clareza de considerar a violência como um to ampliado de saúde, tudo o que significa
problema social e histórico, diferentemente agravo e ameaça à vida, às condições de tra-
dos sociobiólogos (Barash, 1977; Wilson, 1977; balho, às relações interpessoais, e à qualidade
Lorenz, 1979, dentre outros) que a interpre- da existência, faz parte do universo da saúde
tam como um fenômeno inerente à natureza pública. Em segundo lugar, a violência, num
humana e aos condicionamentos biogenéticos sentido mais restrito, afeta a saúde e freqüen-
que se processam nos indivíduos. Estudos de temente produz a morte. Como afirma Agu-
Chesnais (1981) e Burke (1995) reafirmam a delo (1990; 1995; 1998) “ela representa um ris-
idéia de que não se pode estudar a violência co maior para a realização do processo vital hu-
fora da sociedade que a produziu, porque ela mano: ameaça a vida, altera a saúde, produz
se nutre de fatos políticos, econômicos e cul- enfermidade e provoca a morte como realidade
turais traduzidos nas relações cotidianas que, ou como possibilidade próxima”. Ou como ana-
por serem construídos por determinada so- lisa a Organização Pan-Americana de Saúde
ciedade, e sob determinadas circunstâncias, (OPAS) em seu último documento sobre o te-
podem ser por ela desconstruídos e supera- ma, que repercutiu na 49a Assembléia da Orga-
dos. Da mesma forma trabalham com a idéia nização Mundial de Saúde, em 1996: “a vio-
da inteligibilidade do fenômeno, tratando-o lência, pelo número de vítimas e a magnitude
de forma complexa, histórica, empírica e es- de seqüelas orgânicas e emocionais que produz,
pecífica, porque, na verdade, a violência não adquiriu um caráter endêmico e se converteu
é um ente abstrato. Quando analisada nas suas num problema de saúde pública em muitos paí-
expressões concretas permite ser assumida co- ses (...) o setor saúde constitui a encruzilhada
mo objeto de reflexão e superação. E, por fim, para onde convergem todos os corolários da vio-
na medida em que a definem como “uma re- lência, pela pressão que exercem suas vítimas
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Minayo, M. C. S. & Souza, E. R.

sobre os serviços de urgência, atenção especia- to conhecido e respeitado o esquema quadri-


lizada, reabilitação física, psicológica e de assis- dimensional de Lalonde (1996). Transporta-
tência social” (Opas, 1993). do do âmbito da concepção teórica para se
Ao abordar o tema da violência, os sanita- transformar numa proposta de trabalho, o
ristas colocam forte ênfase no seu papel de chamado “modelo Lalonde” parte do que con-
analisar as tendências epidemiológicas e no sidera os determinantes da situação de saúde
compromisso com a identificação de políticas de uma população: o estilo de vida; a biologia
e programas voltados para promover os fato- humana; o ambiente e os serviços de saúde. Ins-
res de sociabilidade, prevenir a cultura da do- piradas nesse esquema, três grandes conferên-
minação, da discriminação, da intolerância e cias internacionais foram realizadas, buscan-
a ocorrência de lesões físicas e emocionais e do socializar um pensamento hoje ainda não
de morte, mas também para aperfeiçoar e dar hegemônico de que a saúde é a resultante de
qualidade à atenção às vítimas. Visam atuar muitos fatores e não apenas uma questão mé-
(dentro do que lhes é específico) nos fatores dica. A primeira foi em Ottawa (1986), a se-
de risco e na rede causal desses agravos, seja gunda, em Adelaide (1988) e a terceira em
antes ou após o fato, tanto do ponto de vista Sunsval (1991). Todas buscaram estabelecer e
individual, no que concerne às vítimas e aos criar um consenso com relação às bases con-
atores, como nos fatores macrossociais. Em ceituais e políticas e as novas práticas de saú-
síntese, a atuação no campo da saúde tem um de tendo em conta o conjunto de determinan-
lado específico, e uma face de integração com tes.
as políticas públicas e com os movimentos so- A promoção da saúde, segundo a Carta de
ciais. Portanto, levando-se em conta a tradi- Otawa de l986, “é o processo de capacitação da
ção e a credibilidade do setor nas intervenções comunidade para atuar na melhoria da qualida-
preventivas e promocionais no nível dos gru- de de sua vida e saúde incluíndo maior contro-
pos populacionais e na atenção às vítimas, con- le desse processo”. Os temas tratados nessa con-
sideramos que as instituições e os profissio- ferência falam de um conjunto de valores: vi-
nais de saúde desempenham um papel funda- da, solidariedade, eqüidade, participação, par-
mental no âmbito das políticas de superação ceria; de um conjunto de estratégias: ações do
da violência e de suas conseqüências. estado, da comunidade, dos indivíduos; e pro-
move uma múltipla responsabilização pelos
problemas que afetam a qualidade de vida e
Pensando a prevenção da violência de saúde (Buss, 1998).
O conceito de prevenção de Lalonde, rea-
É importante esclarecer o que se denomina e firmado posteriormente em diversos foros de
o que abrange o papel preventivo que pode de- saúde pública, permite integrar o tema da vio-
sempenhar o setor saúde. lência no âmbito das políticas e propostas de
Prevenção, como noção do senso comum mudanças sociais e ambientais e incluí-lo nos
significa antecipação da decisão sobre uma si- projetos de ambientes saudáveis e de qualida-
tuação de risco. Na área da saúde, prevenção de de vida. A aplicação do conceito de preven-
é uma categoria fundamental, tanto no que diz ção de Leavell e Clark, no entanto, não deve
respeito aos fatores desencadeantes dos agra- ser abandonada, pois ajuda no entendimento
vos, como enquanto componente dos atos te- dos cuidados e da assistência relativa aos agra-
rapêuticos. O tema foi trabalhado com maio- vos e lesões, orientando a praxis dos profissio-
res detalhes, conceitual e operacionalmente nais no cotidiano dos serviços.
por Leavell e Clarck no início da década de 50 Para a aplicação do conceito de prevenção,
quando os autores formularam, num guia de no caso da violência é importante ter idéia de
atuação para os serviços, cinco níveis de in- quais são as questões em pauta em determi-
tervenção: 1) promoção da saúde; 2) prote- nada sociedade, quais são os grupos ou os in-
ção específica; 3) diagnóstico e tratamento divíduos considerados prioritários para atua-
precoce; 4) limitação do dano; 5) reabilitação ção, e quais seriam as melhores estratégias de
(Leavell & Clark, 1976). ação. No caso brasileiro, os problemas que
Embora o modelo de Leavell e Clarck seja mais nos afligem nesse momento histórico são,
o mais popularizado para os serviços de saúde do ponto de vista macro-estrutural, as extre-
e trate a promoção como um dos estágios de mas desigualdades, a violência nos ambientes
sua proposta, na década de 70 tornou-se mui- de trabalho e o desemprego, a exclusão social
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e a exclusão moral, a corrupção e a impunida- exército e da polícia, foram os principais fa-
de, problemas que se arrastam historicamen- tores responsáveis pelo declínio da violência
te e, nesta etapa do desenvolvimento, têm fatal. Essas mudanças que promoveram a valo-
grande peso sobre a dinâmica da violência. Do rização da vida são transições macro-estrutu-
ponto de vista conjuntural o brutal crescimen- rais que, ao ocorrerem, influenciaram novas
to do crime organizado, nos grandes centros formas culturais de resolver os conflitos, de
urbanos, sobretudo em torno do narcotráfico inter-relações sociais, assim como novas ex-
(o que repercute em outras formas de delin- pressões simbólicas e subjetivas de significar
qüência como assaltos a bancos, roubos de car- a violência.
ros, de cargas, seqüestros e outras formas de As altas taxas de homicídios nos Estados
violência geral e difusa); do contrabando de Unidos, contrastando com as de países euro-
armas de fogo; aumento da delinqüência ju- peus, indicam que outros fatores culturais de
venil e dos crimes contra as pessoas e o patri- forte arraigo na estrutura social podem ser res-
mônio, favorecidos pelo clima de anomicida- ponsáveis pela exacerbação da violência. Vá-
de, desemprego, impunidade e ausência de um rios estudiosos assinalam o culto às armas e a
projeto social que integre o conjunto dos es- questão racial como elementos fundamentais
tratos sociais. Do ponto de vista cultural, in- dessa situação. O costume da ação direta pa-
terpessoal e privado, as elevadas taxas de vio- ra defesa pessoal e do patrimônio, o elogio da
lência contra a criança e o adolescente, contra força e da justiça imediata pelas armas, estão
a mulher, contra os idosos, a violência contra vivos naquele país.
homossexuais e a discriminação racial. Do Mercy et al. (1993), analisando o cresci-
ponto de vista institucional, a arraigada vio- mento das taxas de homicídios nos Estados
lência e corrupção policial, o alijamento e a Unidos, no período de 1900 a 1990, destacam
morosidade da justiça, assim como incontá- a permissividade em relação à compra, porte
veis formas de discriminação e maus-tratos e emprego de armas de fogo. O homicídio ten-
que ocorrem nos diferentes setores do Estado, de a crescer com a densidade de armamento
na sua relação com a população. por habitante. Nos estados americanos onde
Ao tratar as intervenções, podemos consi- é maior a proporção de possuidores de armas
derar algumas como de cunho macrossocial, de fogo e onde as leis vigentes são menos res-
cujas repercussões podem ser medidas ao lon- tritivas, mais crescem as taxas de homicídio.
go do tempo. Outras medidas atuam no nível Os autores associam esse uso disseminado de
de hábitos e costumes culturais fortemente ar- armas ao racismo exacerbado de brancos con-
raigados (por isso naturalizados) cuja mudan- tra negros fomentando a violência social.
ça, de longo prazo, também pode fazer gran- As estatísticas mostram ainda que os ne-
de diferença nos indicadores, como é o caso gros, que lotam as prisões americanas, são a
do racismo e do uso generalizado pela popu- parcela da população com as maiores taxas de
lação, de armas de fogo, nos Estados Unidos. mortalidade por violência e são os que, em
Outras, como é o caso do Brasil, têm que atin- grandes proporções, se destróem entre si. As-
gir vários níveis da realidade: problemas ma- sim, qualquer programa de intervenção nos
croestruturais, que se exacerbam no presente, Estados Unidos, necessita atuar na questão da
problemas novos que se nutrem dessa exacer- produção, distribuição e acesso a armas de fo-
bação, assim como problemas culturais arrai- go pela população civil, assim como na cons-
gados que alimentam a situação conflitiva ge- trução de novos padrões de sociabilidade e de
neralizada. Pensar a prevenção é ter em con- interação social, sobretudo no que concerne
ta essas especificidades históricas, sob pena ao racismo exacerbado.
de se oferecerem propostas inócuas, ingênuas No caso do Brasil juntamos às questões
ou voluntaristas. Por outro lado, dentro de macro-estruturais altas e crescentes taxas de
uma visão complexa dessa realidade, a partir homicídio, a violência interpessoal, domésti-
de um diagnóstico correto, é possível promo- ca, nos ambientes de trabalho e a produção
ver intervenções que resultem em mudanças simbólica de um forte sentimento de insegu-
importantes. rança que tende a exacerbar o individualismo,
Chesnais (1981) mostra que, na Europa, o e alimentar uma forma de cinismo que pro-
desenvolvimento social, a educação formal, a move a apartação social.
melhoria da situação de vida da população tra- Os dados de mortalidade indicam um cres-
balhadora, aliada à instituição da justiça, do cimento insidioso da violência, sobretudo nos
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Minayo, M. C. S. & Souza, E. R.

grandes centros urbanos que concentram 75% é o narcotráfico que, com características de
do total das ocorrências. De 2% no conjunto uma organização totalitária, impõe pelo ter-
da mortalidade geral em 1930 (Prata, 1992), ror o seu poder, impedindo a organização ci-
as chamadas “causas externas” passaram a re- vil dessa parcela da população (Rodrigues,
presentar 10,5% em 1980 e em 1993 já atin- 1994). Dessa forma, trata-se, em geral, de uma
giam 15,3% (Souza & Minayo, 1995), corres- população privada de direitos básicos, de ci-
pondendo, no final da década de 80 à segun- dadania moral (Cardia, 1995) e sem expecta-
da causa de óbito, permanecendo abaixo ape- tivas de cidadania política. No nível das rela-
nas das mortes por enfermidades cardiovas- ções primárias, apesar da escassez de dados
culares. O perfil das mortes violentas segue a que permitam generalizar, descobrem-se a gra-
tendência mundial em termos de incidência vidade e a persistência de experiências violen-
sobre o sexo masculino e faixas etárias jovens. tas no próprio lar (Assis, 1994; Deslandes,
Essas mortes devem-se, principalmente, aos 1994), fato que induz grande número de crian-
homicídios e aos acidentes de trânsito. Juntos, ças e adolescentes a abandonarem suas casas
esses eventos representam mais da metade das (Minayo et al., 1993).
mortes por causas externas. Entretanto, a maioria dos homicídios não
Os resultados de algumas análises mostram ocorre devido ao fato dos adolescentes e jo-
que, particularmente nas grandes cidades bra- vens estarem envolvidos com drogas e serem,
sileiras, os homicídios estão basicamente cons- portanto, delinqüentes. Mesquita (1995), em
tituídos por conflitos com a polícia, desaven- São Paulo, esclarece que 70,7% das vítimas de
ças entre grupos de narcotraficantes e desen- execuções não estavam relacionadas com cri-
tendimentos interpessoais. O perfil observa- me anterior e que 67,1% possuíam profis-
do dos adolescentes e jovens brasileiros assas- são/ocupação ou eram estudantes. Esses da-
sinados (Souza, 1992; Souza & Assis, 1996; dos demonstram a forte discriminação e o for-
Souza et al., 1997) é semelhante ao encontra- te peso da exclusão moral sobre a população
do em estudos realizados em outras partes do pobre, em última instância, considerada por
mundo (Fingerhut et al., 1992a; b). Do ponto grande parte da população e pela polícia co-
de vista sócio-demográfico, na grande maio- mo “criminógena”.
ria, as vítimas são adolescentes e adultos jo- Os conflitos interpessoais registrados pe-
vens, do sexo masculino, com características la polícia não refletem o verdadeiro nível de
típicas das camadas menos favorecidas da po- ocorrência deste evento entre a população, ten-
pulação: residentes em áreas pobres e às vezes do em vista que a maioria deles sequer chega
periféricas das grandes metrópoles; de cor ne- ao conhecimento desta instituição. Boa parte
gra ou descendentes desta etnia; com baixa es- dos seus protagonistas são conhecidos, vizi-
colaridade e pouca ou nenhuma qualificação nhos ou parentes das vítimas. Seus motivos
profissional. demonstram claramente o elevado nível de
Além da violência estrutural, convivem co- violência que perpassa as relações entre os se-
tidianamente, em suas comunidades, com os res humanos, o baixo limiar de tolerância ao
efeitos da violência conjuntural da delinqüên- outro, a ausência de diálogo na resolução dos
cia. Residem em bairros populares, onde a cri- problemas, a desvalorização da vida, enfim, o
minalidade ocupa um lugar especial no uni- elevado nível de estresse nas relações interpes-
verso simbólico do grupo: o heroísmo do ban- soais (Hirsch et al., 1973).
dido é implicitamente contraposto à fraque- A falta de investigação, sobretudo quando
za da polícia, que não é considerada como as vítimas são membros das classes populares,
mais honesta do que as gangues, e ao fracasso impede a elucidação dos crimes e a captura de
dos seus pais em conseguirem ascensão social seus autores, contribuindo para a impunida-
por meio do trabalho. Para Fonseca (1993), de. Na dinâmica das relações institucionais,
nesses locais não há demarcação nítida entre ficam claros determinados jogos de interesse
as atividades legais e ilegais; os princípios abs- e poder entre justiça e polícia que se acusam
tratos de moralidade dominante chocam-se mutuamente de ineficiência; a eliminação de
com a realidade em que se instaura uma ou- pessoas consideradas indesejáveis, cujo perfil
tra moralidade cuja orientação é sintetizada coincide com o daqueles pertencentes às clas-
na figura do herói do bairro. ses populares; homicídios de inocentes nos
Contemporaneamente, o principal repre- quais a polícia tenta incriminar a vítima, for-
sentante da delinqüência nessas comunidades jando-lhes o porte de armas, atitudes suspei-
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Ciência & Saúde Coletiva, 4(1):7-32, 1999


tas, bem como fuga e reação à autoridade po- mais cuidado, abordando-o nos aspectos ne-
licial; a impunidade dos assassinatos cometi- gativos (as conseqüências) e nos aspectos po-
dos por policiais, devido ao forte corporati- sitivos (a qualidade de vida). Como lembra
vismo e à condescendência com que são jul- Chesnais (1981) em seu estudo, os dados de
gados, às vezes nem o sendo, em tribunais mi- violência em determinado país são indicado-
litares (Americas Watch, 1993; Mesquita, 1995). res poderosos para se avaliar a qualidade de
Para finalizar, é importante que se diga que vida, pois dizem respeito tanto a condições ge-
este quadro de elevada mortalidade e morbida- rais de existência, de trabalho, de sociabilidade,
de por violência no Brasil não pode ser com- como a vivência de uma cultura de diálogo e
preendido integralmente, sem que se lance tolerância que reatualiza na cotidianeidade, os
mão de determinados termos e conceitos como direitos e os deveres dos cidadãos. Apresenta-
desigualdade, injustiça, corrupção, impunida- mos seis propostas em andamento, sendo que
de, deterioração institucional, violação dos di- as três primeiras colocam o foco na segurança
reitos humanos, banalização e pouca valori- pública: uma experiência de Cali, Colômbia,
zação da vida. Outros mais poderiam ser lis- outra de Nova Iorque e uma proposta do esta-
tados, entretanto, mais do que fazer um inven- do do Rio de Janeiro. As outras três partem do
tário da ampla gama de fatores que configu- campo da saúde coletiva, uma do Center for
ram o quadro de violência social que hoje se Disease Control and Prevention (CDC) ame-
enfrenta neste país, é importante lembrar as ricano; uma do MS e outra do Conasems.
palavras de Arendt. Para essa autora, a respos-
ta para a violência destrutiva do poder está na
severa frustração de agir no mundo contem- Plano Integral da Colômbia
porâneo cujas raízes estão na burocratização
da vida pública, na vulnerabilidade dos gran- O Projeto Desarrollo, Seguridad y Paz (Dese-
des sistemas e na monopolização do poder, paz) foi criado em Cali, Colômbia, em 1992,
que seca as autênticas fontes criativas. O de- com vistas a planejar e a executar um projeto
créscimo do poder pela carência da capacida- integral de política pública de enfrentamento
de de agir em conjunto (por meio de demo- ao problema de segurança daquela cidade.
cracias realmente participativas) é um convi- Abrange todos os setores da sociedade por
te à violência. Assim, “a violência, sendo ins- meio de intensa campanha de educação para
trumental por natureza, é racional. Ela não pro- a cidadania. Em 1995, acrescenta aos seus ob-
move causas, nem a história, nem a revolução, jetivos as estratégias de fortalecimento demo-
nem o progresso, nem o retrocesso; mas pode ser- crático institucional e comunitário, e de diá-
vir para dramatizar queixas e trazê-las à aten- logo para a paz e a convivência. O projeto es-
ção pública” (Arendt, 1994). tá diretamente ligado à prefeitura da cidade.
Desta forma, no nosso entendimento, pen- Atualmente é definido como um progra-
sar qualquer programa de prevenção e mudan- ma de política pública sobre segurança, con-
ças no campo da violência no Brasil, significa vivência e paz, de caráter global, que se orien-
combinar a atuação no campo macro-estru- ta por uma investigação sistemática e uma prá-
tural, nas questões conjunturais que expres- tica política, cultural, educativa e democráti-
sam problemas estruturais, nos problemas de ca. Busca educar comunitariamente em torno
ordem cultural e nas relações interpessoais, dos direitos humanos, democracia e paz; esti-
no âmbito privado e público. mular a organização e o diálogo entre os dife-
rentes setores da sociedade e destes com as or-
ganizações governamentais. Estimula o desen-
Experiências e propostas de prevenção volvimento de atividades culturais e lúdicas
que fortaleçam a identidade comunitária, o
Nesta última parte do trabalho descreveremos uso criativo do tempo livre, particularmente
algumas experiências e propostas de preven- entre setores menos favorecidos sócio-econo-
ção e de melhoria dos indicadores de violência micamente.
que estão ocorrendo no mundo e também no Organiza-se em torno de seis estratégias
país. Sua descrição tem o objetivo de discutir ou programas por áreas de trabalho:
que, assim como no campo dos direitos e das Investigação sistemática: trata-se de um
liberdades, existe um movimento da socieda- sistema de vigilância epidemiológica das le-
de e do estado para olhar esse fenômeno com sões fatais, com registro diário dessas ocorrên-
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Minayo, M. C. S. & Souza, E. R.

cias. Esse programa tem permitido corrigir as humanos. Propicia o uso e a qualificação do
distorções e incoerências entre as diversas ins- espaço público como espaço civilizado. De-
tituições que efetuam os registros, criando senvolve atividades como o foro permanente
uma base de dados confiável. Atualmente, es- de “diálogo para fazer cidade”, a fim de sensi-
tá sendo ampliado para abranger as lesões in- bilizar a cidade sobre a necessidade de convi-
terpessoais. Sua base de dados também tem si- vência e contra a violência nas relações urba-
do utilizada em investigações sócio-etnográ- nas; apoia formas comunitárias de comunica-
ficas sobre violência generalizada, delinqüên- ções; participa de programas culturais de re-
cia juvenil e violência doméstica, que são rea- conhecimento e valor do espaço público; pu-
lizadas em conjunto com o Ministério da Jus- blica livros, folhetos e material audiovisual so-
tiça e as universidades locais. bre a cidade, a paz e a convivência.
Fortalecimento democrático institucional: Diálogo para a paz e a convivência: esti-
trata-se da aplicação de programas munici- mula a participação da sociedade civil na cons-
pais orientados para que o exercício do po- trução de uma solução política negociada pa-
der, da força e da justiça se ajustem à norma- ra o conflito social e armado entre a guerrilha
tividade e aos princípios ético-sociais da Cons- e o Estado. Para isto, promove a realização de
tituição Nacional, dando prioridade à instân- encontros, mobilizações e jornadas pela paz;
cia civil. apoia as diferentes iniciativas de paz que se
Fortalecimento democrático comunitário: dão na Colômbia; apoia ações de mediação e
busca divulgar e promover o exercício dos di- negociação entre setores em conflito, mesmo
reitos humanos, a paz e a democracia, com di- armado. Uma comissão para a paz global urba-
ferentes pedagogias e formas, organizadas se- na promove a participação de todos os seto-
gundo setores sociais. Atualmente se desen- res sociais (Espitia, 1997: 171-176).
volve por meio das seguintes atividades: mi- Merece observar que o idealizador de De-
crocentros nas escolas com videoteca de cará- sepaz é um médico doutor em epidemiologia,
ter didático; subprogramas para jovens nos titulado em Harvard, à época prefeito de Cali,
centros educativos; encontros comunitários que aproveitou sua experiência profissional
em comunidades em situações críticas para para torná-la mais abrangente e incluir a dis-
fortalecer a unidade cívica e a convivência ci- cussão e a participação da sociedade.
dadã; subprogramas de lazer com festival de
música e reuniões sobre direitos humanos na
zona rural do município; oficinas de direitos Plano de Combate à Violência
humanos em organizações cooperativas e sin- de Nova Iorque
dicais; estímulo a mesas de trabalho e foros de
debates sobre o tema da paz; e coordenação da A proposta de uma nova política de seguran-
rede municipal de direitos humanos com a ça pública em Nova Iorque foi publicada em
participação de 17 organizações governamen- documento do Departamento de Polícia, em
tais e não governamentais. 1998, e amplamente divulgada. Em linhas ge-
Setores sociais e urbanos prioritários: rais, incorpora diretrizes do modelo de poli-
orienta ações e investimentos nas áreas e se- ciamento comunitário, dando ênfase à melho-
tores sociais menos privilegiados do municí- ria das relações polícia/população. Parte de al-
pio e com alta incidência de violência e insegu- guns parâmetros como intolerância aos pe-
rança. Desenvolve atividades ligadas a jovens quenos crimes; controle dos locais considera-
em alto risco, integrantes de gangues juvenis, dos de alto risco; enfoque sobre problemas que
oferece alternativas de trabalho com capaci- afetam a qualidade de vida; descentralização
tação profissional, recreação e esporte. Esti- do planejamento e das ações de segurança, des-
mula e oferece oportunidade de voltar a estu- locando o poder decisório para os comandos
dar aos jovens saídos das gangues e guerrilha. distritais, e, finalmente, “tolerância zero” pa-
Atua ainda junto aos negros e índios para rein- ra os desmandos policiais.
serir aqueles que abandonaram os movimen- Neste plano de atuação, com ênfase na ati-
tos guerrilheiros. vidade policial, opera com quatro princípios
Cultura e comunicação para a paz e a con- básicos: 1) o investimento na capacidade e na
vivência: estimula atividades artísticas, cultu- inteligência investigativa; 2) o uso de táticas
rais e comunitárias pela vida. Educa o cidadão flexíveis e adaptáveis às mudanças na dinâmi-
em relação à ética e ao respeito aos direitos ca criminal; 3) alocação e remanejamento rá-
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Ciência & Saúde Coletiva, 4(1):7-32, 1999


pidos de recursos e de pessoal; e 4) avaliação rito, com interface com o Ministério Público;
contínua dos resultados. As novas estratégias que sejam aplicados softwares geo-referencia-
e formas de atuação da polícia enfatizam maior dos para acompanhamento dos indicadores;
presença dos policiais na rua; maior colabo- que sejam utilizados programas articulados
ração da população na vigilância; redução da em rede; que as informações sobre os dados
impunidade e articulação das autoridades lo- de violência no estado sejam disponibilizadas
cais, estaduais e federais. na internet; que sejam realizados cursos, qua-
Embora o plano esteja centrado na idéia lificações e aperfeiçoamentos da polícia civil
da segurança pública, apresenta um conjun- para que cumpra sua função constitucional
to de metas mais gerais, a partir de um diag- que é a de polícia judiciário-investigativa; que
nóstico da violência, cujos alvos principais são: seja incentivada e premiada a atuação eficien-
elevação do nível de emprego; melhoria do te, entendido este último conceito como ca-
atendimento emergencial; e enfrentamento e pacidade investigativa do policial e/ou da equi-
mobilização em torno da violência domésti- pe; que sejam definidas metas claras e identi-
ca. Suas estratégias são as seguintes: desarmar ficadas prioridades, visando à redução da cor-
as ruas; diminuir a violência nas escolas e nas rupção policial e de crimes mais graves. Além
ruas; reprimir traficantes de drogas, com fo- do tráfico de drogas e dos crimes letais, serão
co especial no escalão intermediário do tráfi- enfocados os roubos e furtos de veículos; que
co; quebrar o ciclo da violência doméstica; re- sejam mantidas as experiências exitosas, a
cuperar os espaços públicos degradados; com- exemplo da Divisão de Anti-seqüestro; que se-
bater furtos e roubos de, e em, automóveis, in- ja criada uma ouvidoria para fazer frente aos
vestigar e desmontar redes de receptadores e crimes contra os direitos humanos perpetrados
revendedores; enfrentar os problemas de trá- por policiais; que sejam organizados conse-
fego: engarrafamentos, acidentes, poluição am- lhos comunitários com a participação da so-
biental; combater a corrupção e a brutalidade ciedade civil e partidos políticos e trabalho
dos policiais e introduzir a avaliação do com- preventivo nas comunidades; já estão sendo
portamento dos mesmos, realizada por repre- criados dois conselhos de segurança, um exe-
sentantes das comunidades; incutir nos poli- cutivo e outro consultivo, para integrar todas
ciais padrões de cortesia, profissionalismo e as agências pertinentes, em escala estadual,
respeito; perseguir os fugitivos da justiça. com apoios federais; que sejam colocadas sob
De 1993 até 1997, em vigor o plano, as ta- a responsabilidade da subsecretaria de segu-
xas de violência correspondentes a homicí- rança pública todas as escolas de polícia e to-
dios, roubos, agressão grave e estupros cairam das as atividades de ensino e qualificação pro-
60% em Nova Iorque (New York State Divi- fissional e ética dos mesmos; que seja criada
sion of Criminal Justice, 1997). uma subsecretaria adjunta para a questão da
violência doméstica contra a mulher, integran-
do as delegacias especializadas de atendimen-
A Proposta do Estado do Rio de Janeiro to à mulher, os abrigos e núcleos já existentes
e a serem criados; que seja firmado convênio
O governo recém eleito deste estado pretende para implantação do programa de proteção de
atuar nos mesmos moldes do plano apresen- testemunhas; que haja investimento em três
tado para a cidade de Nova Iorque, ou seja, no projetos de curto prazo, a serem desenvolvi-
setor de segurança pública. Para isto buscará dos pela polícia militar – um para áreas turís-
informatizar a polícia civil, não sem antes ra- ticas, outro relativo ao policiamento comuni-
cionalizar rotinas, com mudanças desde esca- tário, cujo projeto piloto será iniciado no bair-
las de trabalho do policial até redefinições de ro de Copacabana, e, finalmente, o projeto “es-
metas, de métodos de avaliação e de gerencia- tádios de paz”, que visa à recuperação da se-
mento. Nestas mudanças pretende que os ser- gurança nos estádios de futebol; que o Bata-
viços de atendimento ao público e de admi- lhão de Operações Especiais (Bope) seja am-
nistração das delegacias sejam transferidos pa- pliado e tenha sede também em Niterói e Bai-
ra profissionais não policiais; que as instala- xada, inicialmente, assim como na Zona Oes-
ções físicas e equipamentos sejam substituí- te, no futuro. Espera-se com isto reduzir o nú-
dos e/ou reformados; que sejam desenvolvi- mero de mortos nos confrontos, uma vez que
dos softwares que permitam a identificação de o investimento na investigação, tenderá a tor-
uma ocorrência desde o boletim até o inqué- nar o confronto desnecessário ou menos fre-
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Minayo, M. C. S. & Souza, E. R.

qüente; que seja criado em cada batalhão o seu A proposta parte da tradição da saúde pú-
Grupo Especial de Atendimento ao Turista, blica de integrar lideranças, disciplinas, orga-
treinado pelo Bope, que atuará no sentido de nizações e comunidades, e também do tradi-
impedir intervenções aleatórias, irresponsá- cional enfoque de risco. Estabelece relações
veis, voluntaristas ou desencadeadas por inte- com os diversos setores: educação, trabalho,
resses escusos; que áreas de responsabilidades mídia, medicina, organizações públicas, co-
comuns sejam definidas, integrando-se ambas mércio e negócios, e justiça criminal. Organi-
as polícias; que sejam redefinidos programas za programas de prevenção em nível local, es-
e disciplinas nos cursos em seus vários níveis, tadual e federal. Envolve comunidades no de-
privilegiando focos mais dramáticos, relativos senvolvimento de programas e políticas, e es-
à sociedade, cidadania, democracia, direitos timula o senso de responsabilidade comuni-
humanos e civis, e cultura; que sejam integra- tária para este problema. Grupos étnicos são
dos estudiosos de distintas áreas do saber pa- contemplados. A violência é caracterizada co-
ra estabelecer um pacto, definir metas com- mo problema do país e não de minorias étni-
plementares e cronograma de investigações do cas e de pobres, convocando, portanto, a par-
tema, visando à ampliar a “massa crítica” e ticipação de todos na busca de soluções.
consolidar o conhecimento. Todo este traba- Os pontos prioritários para atuação par-
lho implicará na aplicação de recursos que es- tem da análise dos fatores de risco: prevenção
tão previstos através da transferência do que às armas de fogo, abrangendo restrições à pro-
é arrecadado pelo Departamento Estadual de dução, circulação e uso, o que significa forte
Trânsito (Soares, 1998). atuação do setor saúde junto ao campo polí-
Esta proposta, ainda em fase de planeja- tico-jurídico; rompimento do ciclo da violên-
mento e negociações, busca integrar o pensa- cia, incluindo envolvimento dos sanitaristas
mento intelectual ao exercício político, até por- no âmbito da cultura, das relações e sobretu-
que o atual governo foi eleito com a promessa do prevenindo as violências domésticas (con-
de criar prioritariamente uma política demo- tra crianças, adolescentes, mulheres, idosos),
crática de segurança pública que possibilite assim como nos comportamentos, atitudes e
soluções para as candentes questões relacio- práticas médicas de atendimento a esses pro-
nadas à violência no Estado (Garotinho, 1998). blemas. Busca do apoio e do engajamento das
associações médicas e financiamento de orga-
nizações privadas para realização de interven-
Proposta do Center for Disease Control ções e avaliação de seu impacto; desenvolvi-
and Prevention mento e avaliação de abordagens comunitá-
rias, envolvendo seus líderes, organizações go-
Esta proposta parte de uma abordagem cientí- vernamentais e não governamentais, responsa-
fica multidisciplinar explicitamente dirigida bilizando a todos pelos esforços de prevenção.
para a identificação de estratégias efetivas de Além de liderar o projeto, o CDC atua em
prevenção. É elaborada a partir de um diag- quatro frentes específicas: l) compilando e dis-
nóstico epidemiológico e de uma convicção seminando descrições de programas de pre-
de que a saúde pública tem um campo de atua- venção à violência e informações sobre como
ção importante sobre o problema, e apresenta iniciá-los nas comunidades; 2) avaliando as
um método de atuação baseado na seguintes intervenções; 3) financiando demonstrações
etapas: 1) definição do problema, que é o de- de projetos que dêem respostas efetivas aos
lineamento da morbi-mortalidade a partir de problemas das comunidades; 4) buscando mu-
caracteres epidemiológicos (quem, quando, dar crenças e atitudes tanto nos comporta-
onde e como); 2) identificação epidemiológi- mentos individuais quanto no ambiente.
ca dos fatores de risco e causas dos traumas Os princípios que estão norteando as ações
(por quê); 3) desenvolvimento e teste de in- do CDC são: investir em prevenção, especial-
tervenções, através de ensaios prospectivos e mente na prevenção primária; buscar as raí-
aleatórios, comparações de grupos populacio- zes causais, problemas econômicos e sociais
nais, análises de tendências, estudos observa- como pobreza, falta de emprego e racismo;
cionais e de caso-controle; 4) implementação adotar uma postura de aprendizado contínuo,
de intervenções com comprovada efetividade, por processo de avaliação; enfatizar ações
baseada em avaliação, a fim de determinar o coordenadas, primeiramente, tirando vanta-
custo-efetividade do programa. gens dos benefícios sinérgicos da cooperação
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Ciência & Saúde Coletiva, 4(1):7-32, 1999


entre instituições, comunidades, disciplinas viço de saúde são possíveis, desde que se traba-
acadêmicas; intervir o mais precocemente pos- lhe num processo de sensibilização e de for-
sível nas comunidades afetadas buscando sua mação de profissionais, dando-lhes as devidas
colaboração. condições instrumentais, e esclarecendo as suas
Não temos em mãos nenhuma avaliação responsabilidades para com as crianças e os
do sucesso desse programa que se desenvolve adolescentes. Além da atuação setorial espe-
desde o início da década de 90, apenas sabe- cífica, preconiza a participação nas políticas,
mos que tem servido de referência para a estratégias e ações intersetoriais que busquem
Opas/OMS na sua orientação aos países das atuar nos fundamentos do Estado e da socie-
Américas. Internamente, nos Estados Unidos, dade, sobretudo nos processos de democrati-
essa iniciativa foi saudada de forma contro- zação política, social, econômica e cultural.
versa. Muitos aprovaram a energia com que a Entende que essa participação amplia a cida-
saúde pública passou a enfrentar o problema. dania e a eqüidade, considerando que o con-
Outros, mesmo reconhecendo a importância ceito de saúde tem como eixo central a quali-
do envolvimento, criticam o que consideram dade de vida.
um certo idealismo dos sanistaristas de que- Em relação à violência contra a mulher, o
rerem dar conta de um problema tradicional plano propõe desenvolver uma consciência crí-
da segurança e da justiça, com métodos espe- tica, na sociedade e nos serviços locais de saú-
cíficos e tradicionais do campo das doenças, de, sobre o significado da violência contra es-
tratando um tema de alta complexidade social se grupo social específico, da forma mais
como epidemia (Weisberg, 1995). abrangente possível, sabendo que a mentali-
dade patriarcalista e a violência de gênero são
um problema universal no país. Objetiva tam-
Proposta do Conselho Nacional bém discutir formas de organizar os serviços
de Secretários Municipais de Saúde de modo a melhorar a sensibilidade para os
sintomas e sinais de violência apresentados
Esse Conselho buscou introduzir na sua agen- pelas mulheres; melhorar a notificação dos ca-
da e de seus organismos representativos a pre- sos e participar intersetorialmente na criação
venção e a atenção às vítimas de violência co- e manutenção dos serviços de referência para
mo tema relevante do Sistema Único de Saúde as vítimas.
(SUS). Seu objetivo foi o de criar um plano de Quanto ao atendimento nas emergências,
ação cujas metas, para 1999, serão: 1) realizar propõe melhorar o desempenho dos serviços,
em todos os municípios brasileiros um pro- a formação dos profissionais e o entrosamen-
grama de sensibilização sobre o tema; 2) rea- to das equipes para pensar técnica e humanis-
lizar um programa de formação de recursos ticamente o atendimento; melhorar o sistema
humanos, visando implantar um sistema de de informações; e melhorar a rede de referên-
informação em todas as capitais e municípios cia a fim de que as diferentes etapas dos tra-
com mais de 70/1.000.000 de mortes por cau- tamentos aos que sofreram lesões possam ter
sas externas e naqueles onde a questão da vio- continuidade.
lência é relevante; 3) criar um modelo de vigi- No que se refere ao sistema de informa-
lância epidemiológica para causas externas a ções sobre causas externas, o plano propõe in-
ser progressivamente implantado; e 4) promo- vestimento na sensibilização e treinamento de
ver a participação das secretarias municipais profissionais das secretarias municipais de saú-
nas atividades intersetoriais voltadas para a su- de, visando ao aprimoramento de seus instru-
peração da violência nas comunidades locais. mentos de captação de dados, considerando
Suas ações estarão centradas, inicialmen- estarem aí as fontes primárias capazes de per-
te, em quatro pontos: l) a violência contra mitir um dimensionamento quantitativo e
crianças e adolescentes; 2) a violência contra qualitativo da questão. Objetiva a articulação
a mulher; 3) os atendimentos aos agravos por com os dados da segurança pública e a busca
violência nas emergências; e 4) o sistema de de assessoria para aprofundamento de pesqui-
informação e vigilância às causas externas. sas que forneçam o perfil sócio-epidemioló-
O Conselho entende que, em relação às gico mais aproximado às realidades dos mu-
crianças e adolescentes, a identificação, a pre- nicípios brasileiros.
venção primária e o cuidado mais abrangen- Tal proposta de ação tem como público al-
te dos casos de violência que chegam ao ser- vo em um nível mais geral, os secretários de
20
Minayo, M. C. S. & Souza, E. R.

saúde e as coordenações municipais e, em um cada um dos acidentes e violências, em maior


nível mais específico, os profissionais de nível ou menor grau, é prevenível; o setor saúde não
primário da atenção à saúde (comunitário e é o único responsável pelos problemas, pelo
ambulatorial) e os que trabalham no atendi- risco dos acidentes e violências: é a encruzi-
mento emergencial, inclusive os do setor de lhada para onde convergem os resultantes des-
epidemiologia. ses eventos sociais. Os demais setores e insti-
As estratégias de atuação do plano prevêem tuições da sociedade também devem ser ins-
atividades de sensibilização, de integração e tados a refletir e atuar na prevenção; o setor
de atuação. A sensibilização dos secretários de saúde tem o dever de apontar os caminhos pa-
saúde em reuniões deliberativas e a dos demais ra a sociedade, apresentando-lhe informações,
profissionais do setor, por meio de divulgação análises e indicadores provenientes dos dados
em publicações de entidades representativas e de seus sistemas de informação de mortalida-
sindicatos dos profissionais de saúde. A popu- de e de morbidade; a prevenção deve ser en-
lação também está contemplada nessa propos- tendida em seu conceito mais amplo, abran-
ta, sendo alvo de pequenas mensagens a serem gendo a antecipação do evento, das seqüelas
veiculadas na mídia, correlacionando violên- e das mortes; as iniciativas necessitam de sen-
cia, saúde e prevenção. A integração prevê a sibilização intragovernamental e de vontade
realização de dois seminários no ano de 1999 política.
– um no início para definir a agenda de traba- O plano propõe as seguintes estratégias de
lho e outro no final do ano, para avaliar as me- trabalho: a) dar um tom positivo ao projeto
tas atingidas, estimular o diálogo e colaborar político de prevenção da violência e aciden-
na manutenção dos projetos que deverão ca- tes; b) valorizar e articular as iniciativas exis-
da vez mais ter um caráter local. tentes e dispersas; c) articular a formulação de
Como podemos ver, trata-se de uma pro- política e estratégias das ações, nos diferentes
posta inicial para colocar o tema na pauta das órgãos e setores do SUS; d) articular interse-
práticas do setor saúde. Assim, o Conasems torialmente e com os movimentos da socieda-
pretende, no ano de 1999, atingir a meta de de organizada; e) manter cooperação técnica
abranger 50% dos municípios representados, e científica com países que têm políticas per-
nos quais pelo menos uma equipe possa ser tinentes aos problemas aqui tratados; f ) as
sensibilizada e treinada, na medida em que ações compreenderão sensibilização, assistên-
propostas de melhorias dos serviços estejam cia e recuperação.
sendo progressivamente implantadas, buscan- O plano de metas inicial contempla: infor-
do articular o potencial de colaboração de to- mação e vigilância epidemiológica; acidentes
da a sociedade e também, de modo particular, de trânsito/transporte; atendimento pré-hos-
das universidades nos diversos estados do país. pitalar; grupos populacionais: crianças, ado-
lescentes e jovens, mulheres e idosos; e recu-
peração e reabilitação. Está em andamento uma
Proposta do Comitê Técnico Científico articulação com a divisão de saúde do traba-
(CTC) do Ministério da Saúde lhador, para incluir a violência nos ambientes
de trabalho como uma das metas do plano.
O MS, diante da magnitude do problema da No tocante à informação, a carência de co-
violência no Brasil, de sua transcendência e do nhecimento em torno dos eventos violentos na
impacto que provoca na morbidade e morta- área de saúde está intrinsecamente ligada aos
lidade da população, instituiu um CTC de as- inúmeros problemas com os dados existentes
sessoramento, ligado ao Grupo Técnico para nos sistemas estruturados no país, que não se
Acidentes e Violências da Secretaria de Políti- comunicam nem seguem a mesma metodolo-
cas de Saúde. Paralelamente, e em função da gia. Identificaram-se como principais fontes
importância do tema contra crianças e ado- de informação a serem tratadas e articuladas: o
lescentes, criou também o CTC de Prevenção Sistema de Informações Hospitalares do Siste-
de Acidentes e Violências na Infância e na Ado- ma Único de Saúde (SIH/SUS); o Sistema de
lescência. Esses comitês já iniciaram as discus- Informação de Mortalidade do Ministério da
sões sobre o tema, estabelecendo como obje- Saúde (SIM/MS); o Boletim de Ocorrência Po-
tivo formular uma política de prevenção e licial (BO); a Comunicação de Acidentes do
atenção aos acidentes e violências, dentro de Trabalho (CAT); (5) o Boletim do Departamen-
alguns parâmetros considerados relevantes: to Naciona de Estradas de Rodagem (DNER).
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Quanto à viligância epidemiológica, a pro- crianças e adolescentes, além das originadas
posta é iniciar com alguns projetos pilotos em na escola, na comunidade, nos conflitos com
locais específicos, atuando na busca de con- a polícia.
sistência dos dados, na implantação de roti- A atuação para a recuperação e a reabili-
nas de registros para melhor conhecimento de tação visa, sobretudo, à incentivar a preven-
determinados agravos, no estabelecimento dos ção dos acidentes/violências em geral e dos
fatores de risco, no monitoramento de even- acidentes de trânsito em particular; à infor-
tos e na avaliação de eficácia de ações. mar, orientar e apoiar o paciente e a família
No que se refere aos acidentes de trânsito e como sujeitos da ação de recuperação e reabi-
transporte, o plano prevê uma articulação litação; à promover as condições de readapta-
muito forte com o Departamento Nacional de ção e reinserção do paciente na família e na
Trânsito para que sejam efetivadas as medidas sociedade; e à sensibilizar a sociedade civil so-
que preservem a saúde dos motoristas e pas- bre as necessidades básicas do paciente em re-
sageiros (cinto de segurança, controle de ve- cuperação/reabilitação.
locidade, abstinência de álcool por parte do Estão sendo ainda elaboradas as estraté-
motorista, questões ergonométricas, orienta- gias relacionadas à violência contra a mulher,
ção sobre descanso e estresse nas viagens, e ou- os idosos e os trabalhadores.
tros), assim como a normalização de ações de
emergência e atenção às vítimas de acidentes.
No campo específico da saúde, prevê-se a Conclusões
atuação no atendimento pré-hospitalar (APH),
visando à formação de recursos humanos es- Pela reflexão apresentada anteriormente, con-
pecializados, em nível superior e médio, para cluímos que qualquer projeto de prevenção da
o atendimento na área de emergência; ao fo- violência deve levar em conta a complexida-
mento à implantação e ampliação da rede de de desse fenômeno que possui raízes macro-
serviços para o atendimento aos acidentados; estruturais, formas de expressão conjunturais
à normalização das atividades do APH; à in- e atualização na cotidianeidade das relações
tegração do APH aos serviços de emergência, interpessoais. Por causa de seu caráter com-
a partir do mapeamento de áreas de risco. plexo, a partir de qualquer ângulo que seja
Em relação às crianças, adolescentes e jo- abordado esse processo social, as análises têm
vens a proposta do MS visa à consolidação dos que ser abrangentes e específicas simultanea-
princípios para as políticas públicas nacionais mente, assim como devem envolver diferentes
na área da prevenção de acidentes e violência contextos e atingir os sujeitos que sofrem ou
na infância e adolescência. De um lado busca provocam intolerância, conflitos e agressões.
articular com todos os outros setores públi- Desta forma, é papel do setor saúde liderar
cos para resguardar os direitos estabelecidos ações específicas, intersetoriais e de militân-
na Constituição de 1988 e no Estatuto da cia cidadã, buscando promover qualidade de
Criança e do Adolescente de 1990. De outro es- vida, ambiente saudável, incorporação de di-
tabelece estratégias específicas do setor saúde reitos e superação de processos de domina-
para o atendimento primário e nos hospitais. ção, de exclusão e de violência física, moral e
Dois grandes eixos são considerados: os emocional. Dentro de ações específicas, in-
acidentes e as violências. O primeiro abrange vestir na prevenção de agravos e riscos e na
os acidentes domésticos como quedas, quei- atenção e recuperação das vítimas de violên-
maduras, intoxicações e afogamentos e outras cias e acidentes.
lesões, considerando as faixas etárias do ciclo As seis propostas aqui apresentadas, umas
evolutivo da criança e adolescente: 0-3 meses, mais abrangentes, outras mais setorialmente
4-6 meses, 7-12 meses, 1-2 anos, 2-3 anos, 3-5 focalizadas, revelam os limites da tolerância
anos, pré-escolar, escolar e adolescência; e os social para as situações de banalização da vida
acidentes extradomiciliares como acidentes de e da morte na arena de várias sociedades nes-
trânsito, afogamentos, intoxicações e outras te fim de século. Este é também o caso do Bra-
lesões. No eixo das violências foram incluídas sil. Como filosofa Soares: “o pessimismo da ra-
as agressões domésticas: abuso físico, sexual e zão não deve desautorizar o otimismo da von-
psicológico, a negligência e o abandono; e as tade, ainda que seja apenas para que a fortu-
violências extradomiciliares: exploração do na se cumpra de modo mais virtuoso: para que
trabalho infanto-juvenil, exploração sexual de possamos viver com a disposição cívica que so-
22
Minayo, M. C. S. & Souza, E. R.

mente a esperança propicia. E para que possa-


mos formular juízos mais justos quando obser-
vamos a realidade da violência entre nós” (Soa-
res, 1993: 7).
Frente às opiniões aqui expressas, retorna-
mos indagando a nossos debatedores e provo-
cando-os à argumentação: é possível prevenir
a violência?

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