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Maria Esther de ARAÚJO

Libras

1ª Edição

Brasília/DF - 2018
Autores
Maria Esther de ARAÚJO

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumario
Organização do caderno de estudos e pesquisa...................................................................................................... 4

Introdução.............................................................................................................................................................................. 6

Aula 1
Sobre a Surdez ............................................................................................................................................................... 7

Aula 2
A Cultura Surda.............................................................................................................................................................17

Aula 3
Aspectos políticos da inclusão................................................................................................................................25

Aula 4
Acessibilidade, Inclusão Social e Educação........................................................................................................30

Aula 5
Língua e Linguagem e a LIBRAS............................................................................................................................ 39

Aula 6
Estrutura Gramatical da LIBRAS............................................................................................................................. 49

Referências...........................................................................................................................................................................56
Organização do caderno de
estudos e pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos,
de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com
questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais
agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos
com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de


fortalecer o processo de aprendizagem do aluno.

4
Organização do caderno de estudos e pesquisa

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

5
Introdução
XX

Objetivos

»» XXXX

6
Sobre a Surdez
Aula
1
Apresentação

Diversos fatores interferem na audição diminuindo a capacidade auditiva. Conhecer a anatomia


auditiva favorece a compreensão do tipo de perda, a interferência na comunicação e no processo
ensino-aprendizagem. Os fatores causais estão diretamente relacionados ao tipo de perda e à
capacidade de socialização, interação e comunicação; portanto, compreender quais são os fatores
que levam a uma baixa auditiva é fundamental para uma boa interação com o sujeito surdo.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» Reconhecer a anatomia auditiva e suas funções.

»» Compreender o tipo de perda e sua relação com a comunicação oral.

»» Entender a interferência da surdez no processo ensino aprendizagem.

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AULA 1 • Sobre a Surdez

Sobre a surdez e o surdo

A Linguagem e Surdez

A linguagem é o sistema pelo qual o indivíduo expressa suas ideias, pensamento, opiniões
e sentimentos. É a linguagem que permite ao homem organizar seu pensamento, traduzir o
que sente, registrar o que conhece e comunicar-se com outros indivíduos. É a linguagem que
marca o ingresso do indivíduo na cultura, construindo-se como sujeito, definido sua identidade
colocando-se como parte de uma comunidade.

A linguagem tem sido objeto de pesquisa e discussões referentes à aptidão linguística, tendo em
vista a discussão sobre falhas decorrentes de distúrbios sensoriais, como a surdez.

Chomsky (1994), em seus estudos, afirma que as crianças não seriam capazes de aprender
a língua materna caso não fizessem determinadas suposições iniciais sobre como o código
deve ou não operar. Nesse sentido, a palavra possibilita que o indivíduo desenvolva atividades
mentais fundamentais para a formação da consciência, assegurando o processo de abstração e
generalização, além de ser veículo de transmissão do saber.

Os indivíduos ouvintes utilizam os dois processos da linguagem: o verbal e o não verbal. Nos
indivíduos que apresentam surdez congênita e pré-verbal, o desenvolvimento da linguagem
verbal, de forma natural é bloqueada, mas isso não impede o desenvolvimento dos processos
não verbais.

A fase de zero a cinco anos de idade é decisiva para a formação psíquica do ser humano, já
que é nesse período que ocorre a ativação das estruturas inatas genético-constitucionais da
personalidade do sujeito. Os processos de desenvolvimento do pensamento e da linguagem
incluem o conjunto de interações entre a criança e o ambiente. Os estímulos presentes em um
ambiente linguístico são essenciais para que essas estruturas sejam ativadas, ou seja, a criança
ouve e aprende a língua oral (LURIA, 1986).

Nos casos de crianças surdas, os estímulos auditivos não são percebidos, gerando transtornos
na aquisição da linguagem oral. Isso não significa que esta criança não possui a capacidade de
se comunicar, já que o ser humano possui dois sistemas para a produção e reconhecimento da
linguagem: O sistema sensorial, que utiliza da anatomia visual/auditiva e vocal (línguas orais) e o
sistema motor, que utiliza a anatomia visual e da anatomia da mão e do braço (línguas de sinais).

SISTEMA ANATOMIA LÍNGUA


Sistema Sensorial Utiliza a anatomia visual/auditiva e vocal. Línguas orais.

Sistema motor Utiliza a anatomia visual e da anatomia Línguas de sinais.


da mão e do braço.

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Sobre a Surdez • AULA 1

Um dos grandes desafios dos profissionais que estudam e atuam com os surdos é o de superar
a barreira da aprendizagem e uso da língua oral. Essa dificuldade está proporcionalmente
relacionada ao tempo de privação da audição, ou seja, quanto maior o tempo de privação
sonora, maior a dificuldade em da aprendizagem e uso da lingual oral. Considerando os surdos
congênitos (nascidos surdos) maiores serão suas dificuldades educacionais, caso não receba
atendimento adequado.

A capacidade de comunicação linguística no processo de desenvolvimento da criança surda é


um dos principais condutores no desenvolvimento da potencialidade do surdo. Sua capacidade
de se comunicar permitirá que desempenhe seu papel social, integrando-se verdadeiramente
na sociedade. Para que isso aconteça é necessário desenvolver alternativas que possibilitem aos
surdos o desenvolvimento desse potencial linguístico. Alternativas que não tenham como ênfase
a aprendizagem da língua portuguesa oral sobre a cognição do surdo. Essas alternativas devem
considerar a substituição do canal auditivo por outros, em destaque o visual, o motor e o tátil.
Deve-se atentar, também, para aproveitar os resíduos auditivos do surdo, ou seja, os estímulos
auditivos que podem ser percebidos, com ou sem o uso de aparelhos de amplificação auditiva
– as próteses auditivas.

De fato, a audição é um sentido de valor inestimável. Por meio da captação das informações
sonoras, a audição nos coloca dentro do mundo e da comunicação humana, sendo imprescindível
para o preestabelecimento da linguagem. Para que haja a aquisição e o desenvolvimento normal
da linguagem, é necessária a integridade anátomo-fisiológica do sistema auditivo e adequada
estimulação, viabilizando a experiência acústica necessária ao aprendizado linguístico. Esse é o
processo natural e, quando há alguma interferência na captação, condução ou transformação
dessa energia, ocorre o que chamamos de surdez (FROTA, 2006).

Ainda assim, observa-se que a pessoa com surdez tem as mesmas possibilidades de desenvolvimento
que a pessoa ouvinte, precisando somente que tenha suas necessidades especiais supridas, visto
que o natural do homem é a linguagem.

Surdez

O termo “surdez” é o mais utilizado para indicar a dificuldade ou impossibilidade de ouvir. É


considerado surdo o indivíduo cuja audição não é funcional na vida comum e parcialmente
surdo, aquele cuja audição, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva.

Deficiência auditiva é “a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, comprovada por
audiograma nas frequências de 500 hertz, e 2.000 hertz”.
Lei no 5.296/2004

9
AULA 1 • Sobre a Surdez

A surdez apresenta classificações e graus diferenciados, de acordo com a sua origem ou causa.
Para melhor compreender esse processo, vamos conhecer um pouco na anatomia da orelha e
das perdas auditivas (DOUGLAS, 2006).

“Surdo-mudo” é uma denominação arcaica e incorreta para se referir ao surdo. Este termo não é utilizado pelo grupo que
pertence à comunidade surda, pois MUDEZ é a impossibilidade de falar ou problema relacionado à emissão da voz.

Entre os profissionais da educação e saúde, o termo comumente utilizado é “Deficiência auditiva”.


É o termo técnico utilizado para indicar perda de audição ou diminuição na capacidade de escutar
os sons. Qualquer problema que ocorra em algumas das partes do sistema auditivo pode levar
a uma deficiência na audição. Geralmente, este termo não é utilizado pelo grupo que pertence
à comunidade surda.

De forma simplificada, a surdez pode ser dividida em dois grupos: parcialmente surdos e surdos.

»» Parcialmente surdos – São aqueles que possuem surdez leve, moderada e acentuada.

»» Surdos – São aqueles que possuem surdez severa, profunda e anacusia.

Anatomia da orelha

A orelha é o órgão responsável pela audição e pelo equilíbrio. Sua maior parte fica localizada no
osso temporal, sendo dividida em três partes:

Orelha Externa: responsável pela captação da energia sonora.

É composta pelo pavilhão auditivo, o canal auditivo externo ou meato auditivo e a membrana
timpânica. É a região visível do sistema auditivo e tem como função captar e canalizar sons que
serão conduzidos à orelha média.

Orelha Média: responsável pela condução da energia sonora.

Dentro da cavidade do osso temporal, é composta pela tuba auditiva, que faz a ligação entre a
orelha média e a nasofaringe, equilibrando a pressão e drenando secreções, e por três ossículos,
chamados martelo, bigorna e estribo, afixados por ligamentos à parede da orelha. As vibrações
da membrana timpânica são transmitidas a estes ossinhos, que conduzem a energia sonora
para a orelha interna.

10
Sobre a Surdez • AULA 1

Orelha Interna: responsável pela transformação da energia sonora


em energia elétrica, bem como pelo equilíbrio.

Consiste em escavações no osso temporal, que se comunica com a orelha média. A orelha interna
possui duas regiões, uma com função de equilíbrio, denominada labirinto ou canais semicirculares
e outra com função auditiva, denominada cóclea. Ao receber o estímulo conduzido pela orelha
média, a cóclea se encarrega em desencadear o processo de transformar o estímulo mecânico
em estímulo elétrico, percebido e decodificado pelo sistema nervoso central, completando o
ciclo da audição.

Figura 1 – Sistema Auditivo Periférico

Fonte: Anatomia (2011)

Categorias ou classificações das perdas auditivas

As perdas auditivas podem ser classificadas em relação ao local da lesão, ou seja, em que parte
anatômica do sistema auditivo ela acontece (tipo de perda) ou em relação à quantidade de
estímulo/energia sonora que se perde (grau da perda) (FROTA, 2006).

Classificação da perda auditiva de acordo com o local da


lesão – tipo

TIPO OCORRÊNCIA / DEFINIÇÃO


Deficiência Auditiva Condutiva »» Causada por um problema localizado na orelha externa e/ou média.
»» Esta deficiência, em muitos casos, é reversível e geralmente não precisa de
tratamento com aparelho auditivo, apenas cuidados médicos.

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AULA 1 • Sobre a Surdez

Deficiência Auditiva »» Decorrente de lesão na orelha interna.


Neurossensorial
»» Nesse caso há uma diminuição na capacidade de receber os sons, provocada por um
problema no mecanismo de percepção do som desde o ouvido interno até o cérebro.

Deficiência Auditiva Mista »» Ocorre quando há uma alteração de origem condutiva somada a sensório-neural, a
associação dos dois tipos de perda. Ou seja, quando o problema está localizado em
ambos os mecanismos numa mesma pessoa.

Deficiência Auditiva Central »» Ocorre quando há alterações nos mecanismos de processamento da informação
sonoro, no sistema nervoso central.
»» Não é, necessariamente, acompanhada de diminuição da sensitividade, ou seja, da
percepção da presença do som.

Classificação da perda auditiva de acordo com o a energia sonora


perdida – grau, de acordo com Northern e Dows (1984)

Esta é outra classificação que pode ser dada às perdas auditivas, para crianças até 7 anos. Quanto
maior o grau da perda, maior o comprometimento auditivo.

Na tabela a seguir é possível compreender o que o indivíduo com deficiência auditiva consegue
ouvir sem o recurso do amplificador sonoro – a prótese auditiva:

Denominação Nível O que consegue ouvir sem amplificação


Audição normal Até 15 dB Consegue ouvir, sem amplificação, todos os sons da fala.

Perda auditiva discreta ou mínima 16 a 25 dB As vogais são ouvidas claramente, mas pode apresentar
discreta dificuldade com consoantes surdas.

Perda auditiva leve 26 a 40 dB Ouves somente alguns dos sons da fala; os fonemas
sonoros mais fortes.

Perda auditiva moderada 41 a 65 dB Perda a maior parte dos sons da fala em um nível de
conversação normal.

Perda auditiva severa. 66 a 95 dB Não ouve os sons da fala de uma conversação normal.

Perda auditiva de grau profundo Acima de 95 dB Não ouve fala ou outros sons.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) utiliza outra classificação para deficiência auditiva,
apresentada na tabela a seguir:

Grau Perda Auditiva em dB


Audição Normal Até 25

Deficiência auditiva leve 26 a 40

Deficiência auditiva moderada 41 a 60

Deficiência auditiva grave 61 a 80

Deficiência auditiva muito grave incluindo surdez 81 ou mais

12
Sobre a Surdez • AULA 1

Comportamento auditivo
»» Parcialmente Surdos:

›› Surdez leve:

No caso de surdez de grau leve, o indivíduo pode ser considerado desatento, já


que normalmente solicita que o interlocutor repita o que lhe falou. Nesses casos, a
deficiência não impede a aquisição normal da linguagem, mas poderá causar algum
problema de articulação, produzindo troca de fonemas na fala ou dificuldade na
leitura e escrita.

›› Surdez moderada:

Observa-se uma dificuldade em perceber, com clareza, o que se fala pelo telefone e
mesmo em uma conversação direta, o que leva a muitas trocas nas palavras ouvidas
por outra foneticamente semelhante (pato/rato). Nesse caso é frequente o atraso da
linguagem.

Normalmente, é necessário um apoio visual para facilitar a compreensão do que foi


dito. O indivíduo, com uma surdez de grau acentuado, apresenta atraso de linguagem
e alterações articulatórias, ocasionando maiores problemas linguísticos.

»» Surdo

›› Surdez severa:

A compreensão verbal vai depender da habilidade em se fazer a leitura labial. Crianças


com surdez severa costumam atingir os 4 ou 5 anos de idade sem ter aprendido a
falar, e necessitam de um atendimento especializado para adquirir a linguagem oral.

›› Surdez profunda:

A perda auditiva é acima de 91 dB, e o indivíduo não percebe nem identifica a voz
humana, o que acaba por impedir a aquisição da linguagem oral. Os sons percebidos
são os graves que transmitem vibração (trovão, helicóptero). Esta perda é considerada
muito grave, o que leva à necessidade de um atendimento especializado desde a mais
tenra idade para que se adquira a linguagem oral.

O termo “anacusia” é utilizado para a falta total de audição e, nesses casos, o surdo deve ser trabalhado e estimulado o mais
precocemente possível, tendo como conduta pedagógica o mesmo da surdez profunda.

13
AULA 1 • Sobre a Surdez

Causas das perdas auditivas

São vários os fatores que podem causar uma deficiência auditiva. Tanto a identificação do fator
causal quanto o momento em que a lesão ocorre são fundamentais para traçar um bom trabalho
com o indivíduo surdo ou ensurdecido.

Podemos classificar a deficiência auditiva quanto ao momento em que ocorre a lesão (FROTA,
2006):

Pré-natal (durante a gestação)

São perdas auditivas que podem ser causadas por desordens genéticas, consanguinidade, doenças
infectocontagiosas (como a toxoplasmose, a sífilis e a rubéola), uso de drogas e álcool pela
mãe, desnutrição ou carência alimentar materna, hipertensão ou diabetes durante a gestação
e exposição à radiação. São as perdas congênitas (nascidas com a perda) e não apresentam boa
resposta medicamentosa ou cirúrgica.

Perinatal (durante o nascimento)

São as perdas adquiridas no momento do nascimento. Podem ter como causa a anoxia (falta de
oxigenação), prematuridade, traumas do parto, estrangulamento de cordão umbilical, icterícia
grave no recém-nascido e infecção hospitalar. Não apresentam boa resposta medicamentosa
ou cirúrgica.

Pós-natal (depois do nascimento)

São as perdas adquiridas após o nascimento. Podem ser causadas por infecções (como meningite,
sarampo, caxumba), o uso de remédios ototóxicos em excesso e sem orientação médica, a exposição
excessiva a ruídos e a sons muito altos e o traumatismo craniano. Esses casos, normalmente,
não apresentam boa resposta medicamentosa ou cirúrgica.

Também podem ser causadas por processos alérgicos ou viroses que originam gripes e resfriados.
Nesse caso, a resposta medicamentosa ou cirúrgica é satisfatória, podendo chegar a uma
recuperação total.

Sinais indicadores de surdez:

»» não se assustar com portas que batem ou outros ruídos fortes;

»» não acordar com música alta ou barulho repentino;

»» não atenderem quando são chamadas;

»» serem distraídas, desatentas, desligadas, apáticas, não se concentrarem;

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Sobre a Surdez • AULA 1

»» não falar, após os dois anos de idade;

»» parecer ter atraso no desenvolvimento neurológico ou motor.

Diagnóstico

É primordial que a perda auditiva seja percebida nos


Sugestão de estudo
primeiros meses de vida. Para isso, é necessário o
empenho de profissionais qualificados na identificação Uma boa dica de leitura são as revistas
da perda, no seu diagnóstico e na intervenção disponíveis no site http://www.crfa1.org.br/

educacional, possibilitando um desenvolvimento mais


qualitativo e melhor interação social.

Um dos desafios da saúde pública é a obtenção desse diagnóstico o mais precocemente possível.
Infelizmente, na maioria dos casos, a surdez só é percebida tardiamente. Por esse motivo, deu-se a
criação da Lei no 12303, de 2 de agosto de 2010, que define como obrigatório o “Teste da Orelhinha”.
Trata-se de um procedimento realizado através de Emissões Otoacústicas Evocadas (OEA).

De acordo com o Joint Committee on Infant Hearing e o Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas
na Infância, é fundamental que a triagem auditiva neonatal chegue a todas as crianças com até
90 dias de nascidas; se for detectada alguma alteração, que se façam os procedimentos cabíveis
até 180 dias após o nascimento da criança, isso com o exame de emissões otoacústicas.

O Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância


Saiba mais
(CBPAI) e Triagem Auditiva Universal (TANU) também
apoiam esse parâmetro. O exame não tem qualquer Quer saber mais sobre a surdez e como prevenir?
contraindicação, não acorda nem incomoda o bebê, Consulte os manuais disponíveis no site

não exige uso de agulhas ou qualquer outro objeto http://www.fonoaudiologia.org.br/

perfurante e é absolutamente inócuo, dura de 5 a 10


minutos, o recém-nascido não sente nada e é de simples compreensão.

O diagnóstico precoce das perdas auditivas é essencial para o bom desenvolvimento da criança.
É preciso que as alterações nas vias auditivas sejam diagnosticadas logo no início e que os fatores
causadores da perda auditiva sejam identificados e, se possível, sanados, minimizando ou evitando
prejuízos futuros. Embora o diagnóstico seja essencial, não basta saber que a perda auditiva
existe. É necessário que haja estrutura para readaptação dessas crianças (FERNANDES, 2003).

Cerca de 50% das perdas auditivas teriam os danos minimizados se tivessem sido diagnosticados precocemente ou
eliminados os fatores de risco.
(PEREIRA, 2004).

15
AULA 1 • Sobre a Surdez

Resumo

Vimos até agora:

»» O conceito de surdez, a relação da surdez com a linguagem e comunicação, bem como


alguns mitos e verdade sobre o surdo.

»» A anatomia das orelhas externa, média e interna e a relação com o tipo e classificações
da perda auditiva.

»» Os fatores causais, tipo e grau da perda e a relação com a linguagem e comunicação.

»» A importância do diagnóstico precoce e do diagnóstico diferencial para o processo de


socialização do surdo.

16
A Cultura Surda
Aula
2
Apresentação

A origem da língua de sinais deixa a necessidade de uma maior compreensão da riqueza que
existe nessa forma de se comunicar, entendendo a língua de sinais como legítima e eficaz.
Historicamente, os conflitos sociais, quanto à sua eficácia e legitimidade, demonstram o quanto
à sociedade precisa quebrar a barreira do preconceito e entender o que o surdo e a Língua de
Sinais é capaz de fazer.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» Entender a origem da língua de sinais.

»» Refletir sobra às diferenças culturais surdas na história.

»» Refletir sobre os aspectos históricos e sociais na educação e socialização do sujeito surdo.

»» Compreender como se forma a cultura e identidade surda.

»» Refletir sobre as relações sociais que envolvem a comunidade surda.

A Cultura Surda

A comunicação por Língua de Sinais não é exclusividade brasileira. Na maioria do mundo há, pelo
menos, uma Língua de Sinais (LS) usada pela comunidade surda de cada país e as comunidades
surdas estão espalhadas pelo mundo, sendo grande e diversifica.

Para refletirmos sobre os fundamentos políticos da inclusão social do surdo, é necessário um


conhecimento básico da história de surdos. Conhecer a história de surdos nos possibilita mais
do que a aquisição de conhecimentos, mas também bases para reflexão e questionamentos
diversos relacionados à educação e inclusão social do surdo na atualidade.

17
AULA 2 • A Cultura Surda

Aspectos históricos e educacionais.

Os contextos históricos em que os povos surdos


Para refletir
estão inseridos possibilita uma visão dos
diferentes “olhares” sobre sua aceitabilidade e as Por que nos dias atuais, mesmo com uma política de
diversas tentativas de inclusão social. Os registros inclusão, o sujeito surdo continua excluído?

não são ricos, mas é possível notar os esforços


de tornar os sujeitos surdos o mais próximo do modelo ouvinte, adotando estratégias, em sua
maioria, excludentes, buscando adaptar o surdo a sociedade ouvinte, entendendo ser a surdez
uma deficiência, em muito caos incapacitante. (SILVA, 2009).

O povo surdo é grupo de sujeitos surdos que tem costumes, história, tradições em comuns e pertencentes às mesmas
peculiaridades, ou seja, constrói sua concepção de mundo através da visão.

É na Lei Hebraica que encontramos as primeiras referências aos surdos. Em diversos versículos
bíblicos encontramos referências associando o divino a deficiências físicas como surdez e
cegueira, entre outras.

Êxodo - 4:11

E disse-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? Ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o
SENHOR?

Levítico - 19:14

Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR.

Os egípcios acreditavam que os surdos eram seres divinos, capazes de se comunicarem com os
deuses. Sendo assim, serviam de intermediários entre os faraós e as divindades, eram temidos
e respeitados.

Na Grécia, os surdos eram tratados como seres incompetentes, acreditando-se que por não
possuírem uma linguagem, não eram capazes de raciocinar. Por serem considerados incapazes,
não tinham direitos, eram marginalizados e muitas vezes condenados à morte.

A história dos surdos começa mudar graças às discussões em torno das condições semi-humana
delegada aos surdos. Alguns filósofos da época pensavam que os símbolos tinham que ser falados,
já Sócrates possuía o seguinte pensamento.

“Se não tivéssemos voz nem língua e ainda assim quiséssemos expressar coisas uns aos outros, não deveríamos, como
aqueles que ora são mudos, esforçar-nos para transmitir o que desejássemos dizer com as mãos, a cabeça e outras partes do
corpo?”.
Relatos históricos de Sócrates

18
A Cultura Surda • AULA 2

Influenciados pelos Gregos, os Romanos acreditavam que os surdos eram seres imperfeitos,
excluindo-os da sociedade. Posteriormente defendeu-se a ideia de que os filhos surdos eram
consequência de algum pecado cometido por seus pais, ou seja, filhos surdos pagavam pelo
pecado de seus pais.

Nesse período histórico, os surdos não tinham direitos a heranças, não frequentavam o meio
social e eram proibidos de se casarem.

Foi nesse período que os surdos começaram a despertar a atenção da igreja, preocupada com a
impossibilidade do surdo se confessar e com o aumento do número de surdos nascidos em famílias
nobres. Era comum o casamento consanguíneo na nobreza. Para que a herança fosse mantida
na família era aceito casamento entre primos, sobrinhas e até irmãos, produzindo um aumento
significativo de indivíduos com anomalias genéticas, incluído a surdez. Foi Santo Agostinho que
defendeu a ideia que os surdos podiam comunicar por meio de gestos, que, em substituição à
fala, eram aceitos para a salvação da alma. Dessa forma, é no século XII que encontramos os
primeiros relatos sobre a educação dos surdos.

O primeiro registro da utilização de uma técnica ou estratégia de ensino com surdo relata de
700 d.C. John Beverley foi o primeiro a ensinar uma pessoa surda a falar, sendo considerado por
muitos como o primeiro educador de surdos. Ainda assim, os créditos de primeiro professor de
surdo foi para o monge beneditino espanhol Pedro Ponce de León que desenvolveu um alfabeto
manual que ajudava os surdos a soletrar as palavras. Dando continuidade ao seu trabalho, Juan
Pablo Bonet, padre espanhol, ensinou os surdos a lerem e a falarem, utilizando outra metodologia,
o método oral.

Foi John Bulwer, médico britânico, que defendendo o uso de gestos entre os surdos. Seguindo
seus passos, John Wallis (1616 a 1703) desiste de ensinar os surdos à oralidade, dedicando-se a
ensiná-los a escrever usando gestos (WIDELL, 1992).

Sobre os Métodos...

Língua de Sinais e Escola para Surdos.

As discussões sobre os surdos geraram inquietações que acabaram por conduzir ao surgimento
da língua de sinais bem como sua utilização no processo educacional. O abade Charles Michel
de L´Epée foi um dos grandes responsáveis por esse avanço. No século XVII, L’Epée, movido por
questões religiosas reuniu os surdos dos arredores de Paris, criando a primeira escola pública
para surdos. (MOURA. 1997)

19
AULA 2 • A Cultura Surda

Os surdos não tinham acesso aos ensinamentos do catolicismo e não tinham direito a confissão
de pecados. L´Epée aprendeu os sinais e iniciou a educação de surdos na França e, além dos
ensinamentos religiosos, ensinou conhecimentos a nível escolar.

“[...] E então, associando sinais a figuras e palavras escritas, o abade ensinou-os


a ler; e com isso, de um golpe, deu-lhes o acesso aos conhecimentos e à cultura
do mundo”.
Sacks (2002, p.30)

Outro aspecto relevante em sua metodologia foi à presença de um intérprete da língua de sinais,
que auxiliava no processo de ensino aprendizagem. Esse pode ter sido o fator mais importante
que justifica seu sucesso com a educação de surdos foi.

O sistema metódico de L´Epée – uma combinação da língua de sinais nativa com


gramática francesa traduzida em sinais – permitia aos alunos surdos escrever o
que era dito por meio de um intérprete que se comunicava por sinais, um método
tão bem sucedido que, pela primeira vez, permitiu que alunos surdos comuns
lessem e escrevessem em francês e, assim, adquirissem educação.
Sacks (2002, p.30)

Embora a metodologia tenha apresentado resultados positivos, seu desenvolvimento foi abafado
pela crença de que o surdo não possuía a mesma capacidade de aprendizagem que o ouvinte.
Isso levou os surdos uniram-se cada vez mais em prol de uma comunidade, de uma cultura e
de uma língua.

O Oralismo

Em 1880, tendo como base as discussões geradas no Congresso de Milão, defini-se uma nova
corrente na educação dos surdos: a oralista. Trata-se de um método que considera a voz como
o único meio de comunicação e de educação para os surdos, que passou a ser adotado como
metodologia única, sendo excluídas todas as possibilidades de uso das línguas de sinais na
educação dos surdos.

O sistema metódico de L´Epée – uma combinação da língua de sinais nativa com


gramática francesa traduzida em sinais – permitia aos alunos surdos escrever o
que era dito por meio de um intérprete que se comunicava por sinais, um método
tão bem sucedido que, pela primeira vez, permitiu que alunos surdos comuns
lessem e escrevessem em francês e, assim, adquirissem educação.
Sacks (2002, p.30)

A linguagem de sinais foi proibida, o domínio da língua oral passou a ser uma condição para
aceitação da pessoa com surdez dentro de uma comunidade majoritária. Nesse momento
histórico, a proposta oralista ganha força com defensores como Ferreri, líder dos educadores de

20
A Cultura Surda • AULA 2

surdos na Itália, que via a língua de sinais algo rudimentar, constrangedor e primitivo. Para ele
a língua de sinais era uma mímica violenta e espasmódica. (MOURA, 2000).

O oralismo foi uma proposta que não trouxe benefícios para os surdos já que, em sua maioria,
os surdos não eram bem-sucedidos com a leitura labial e em uma emissão sonora que fosse
compreensível aos ouvintes. Isso levava ao sentimento de incapacidade. Além disso, o oralismo
simplesmente desconsiderava as questões relacionadas à cultura e sociedade surda.

Foi após o Congresso Mundial de Surdos, realizado em 1971, em Paris, que o chamado “Império
Oralista” declina e a língua de sinais retoma força. Nesse mesmo Congresso foram também discutidos
resultados de pesquisas realizadas nos EUA sobre a chamada “Filosofia da Comunicação Total”.

A Comunicação Total

Por volta de 1960, Dorothy Shifflet, professora e mãe de uma menina surda, descontente com os
métodos oralistas, utilizou um método que combinava sinais, fala, leitura labial e treino auditivo,
denominando seu trabalho de Total Approach – (Abordagem ou Comunicação Total)

Comunicação Total respeita as características da pessoa com surdez utilizando todo e qualquer
recurso possível para a comunicação, a fim de potencializar as interações sociais, considerando
as áreas cognitivas, linguísticas e afetivas dos alunos. A ideia é usar o que for possível para se
processar uma comunicação eficiente. Esta filosofia recomenda o tanto de códigos manuais
como da língua oral.

Diferente do que é defendido pelo oralismo, a Comunicação Total acredita que somente o
aprendizado da língua oral não assegura pleno desenvolvimento do surdo. A proposta filosófica
da Comunicação Total valoriza a comunicação e a interação, e não apenas a língua. Outro
aspecto relevante é o respeito e valorização da família e seu papel na hora de compartilhar
valores e significados.

Esta filosofia defende a ideia que o deficiente auditivo deve ser aceito de forma que não haja
discriminação pelo fato da criança surda não dominar a oralidade. Ainda assim há ainda resistência
quanto a essa proposta, já que a oralidade continua a ser o objetivo principal de trabalho em
muitas sessões de terapia, tanto por imposição de algumas famílias como pela visão de muitos
profissionais.

Apesar das políticas públicas investirem no estabelecimento de modelos que valorizem o surdo
na sua totalidade, os ganhos ainda são pequenos. O certo é que a Comunicação Total possibilitou
o contato com sinais anteriormente proibidos pelo oralismo. Esse contato propiciou aos surdos
à aprendizagem das línguas de sinais que, no uso da Comunicação Total, era frequentemente
utilizado entre os alunos, enquanto na relação com o professor era usada uma mistura de língua
de sinais com a língua oral.

21
AULA 2 • A Cultura Surda

O Bilinguismo

O Bilinguismo é o uso de mais de uma língua, dentro de uma mesma comunidade linguística ou
pela mesma pessoa. Essa posposta filosófica e metodológica visa capacitar a pessoa com surdez
para a utilização de duas línguas no cotidiano escolar e na vida social: a Língua de Sinais (que
no Brasil é a LIBRAS), e a língua da comunidade ouvinte (Português).

O bilinguismo surge como uma proposta de intervenção educacional com a finalidade de atender
as especificidades linguísticas dos alunos surdos. Considera-se que a língua de sinais é uma língua
natural adquirida de forma espontânea pela pessoa surda em contato com as pessoas que usam
essa língua. A língua escrita, por sua vez, é adquirida de uma forma sistematizada.

A filosofia do bilinguismo defende que as línguas (falada e de sinais) podem conviver, mas não
simultaneamente. Para o Surdo a 1ª Língua (Língua Materna) deve ser a LIBRAS e a 2ª a Língua
Portuguesa. Os resultados têm indicado que esta proposta, quando bem executada, apresenta
resultados satisfatórios no ensino de crianças surdas, tendo como foco à língua de sinais como
parte de um pressuposto para o ensino da língua escrita.

“No Bilinguísmo o surdo precisa compreender e sinalizar fluentemente sua língua


de sinais e ler e escrever fluentemente no idioma do país.”
CAPOVILLA (2000).

Um aspecto que deve ser considerado é que a Língua de Sinais são sistemas de sinais independentes
das línguas faladas. Não existe uma língua de sinais utilizada e compreendida universalmente, pois
uma se diferencia da outra. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) tem sua origem na Língua de
Sinais Francesa – origem, e não reprodução. A LIBRAS é diferente da Língua de Sinais Americana
(ASL), que é diferente da Língua de Sinais Britânica (BSL), que difere, por sua vez, da Língua de
Sinais Francesa (LSF). Mesmo no Brasil, a LIBRAS possui variações linguísticas regionais, ou seja,
diferenças de sinais por região. Isso comprova a rica expressividade presente na comunicação
com a Língua de Sinais (SKLIAR, 1999).

Língua de Sinais e Escola para Surdos.

A Lei no 10.436/2002 considera a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como língua oficial da
comunidade surda e defende a educação bilíngue para os surdos, reconhecendo a existência
da cultura surda.

“Por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de
experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS)”.
Definição de sujeito surdo - Decreto Federal no 5.626/2005

22
A Cultura Surda • AULA 2

A partir do Decreto no 5.626/2005, que regulamentou a Lei de Libras, as propostas educacionais


do Bilinguismo começaram a se estruturar. O Decreto prevê a organização de turmas bilíngues,
constituídas por alunos surdos e ouvintes onde as duas línguas (LIBRAS e Língua Portuguesa)
são utilizadas no mesmo espaço educacional, definindo para os alunos surdos LIBRAS como
primeira língua é a Língua Portuguesa na modalidade escrita, como segunda. O decreto orienta
ainda quanto à formação inicial e continuada de professores e formação de intérpretes para a
tradução e interpretação da LIBRAS e da Língua Portuguesa.

Na perspectiva bilíngue, a Língua de Sinais é caracterizada como língua natural para o surdo e, portanto, sua primeira língua
(L1). A Língua Portuguesa, língua oficial do país, na modalidade escrita, deve ser aprendida como segunda língua (L2).

Nesse sentido, o processo de alfabetização de uma criança surda deve ser entender que a Língua
Portuguesa (L2), possibilita uma “leitura do mundo”, mas é por meio da Língua de Sinais (L1) que
a criança conseguirá fazer uma “leitura de mundo”, ou seja, é por meio da língua de sinais que as
crianças pensam e discutem sobre o mundo estabelecendo noções e organizando pensamentos,
com base na descoberta da própria língua. (QUADROS, 2004).

Identidade, Cultura e Comunidade Surda

Em oposição ao discurso do “corpo danificado” os surdos lutam pelo reconhecimento da surdez


como “uma, entre outras tantas, formas de estar no mundo”. Em diversas comunidades surdas,
a luta é pelo reconhecimento da surdez como diferença. Nesse sentido a surdez vai além da
deficiência e questões biomédicas, ocupando seu espaço nos estudos sociais, linguísticos,
educacionais e antropológicos. Essas novas compreensões solidificam o “Ser Surdo” como uma
forma de existir, desdobrando-se em uma série de expressões identitárias.

Se anteriormente eram identificados como “portador” de uma enfermidade ou doença; como


“deficiente” no sentido no sentido pejorativo, hoje os surdos envolvem-se nas lutas políticas e
movimentação popular, reivindicando e reafirmando seus direitos. Esses movimentos caminham
em prol da afirmação das identidades surdas.

“Identidade é o processo de construção do significado com base num atributo


cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s)
qual(is) prevalece(m) sobre outras formas de significado”
(CASTELLS, 2001, p. 3)

A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada


continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados
nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 1987). É definida historicamente, e não
biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos,
identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente
(HALL, 2006, p. 13).

23
AULA 2 • A Cultura Surda

Perlin (2005) cita algumas das várias identidades comuns entre o povo surdo, que podem ser
definidas como:

»» Identidade Flutuante: o surdo vive e se manifesta de acordo com o mundo ouvinte, se


espelhando na representação hegemonia do ouvinte.

»» Identidade Inconformada: o surdo se sente numa identidade subalterna, não conseguindo


captar a representação da identidade ouvinte.

»» Identidade de Transição: o surdo passa por um conflito cultural, nos casos em que
seu contato com a comunidade surda acontece tardiamente, fazendo a passagem da
comunicação visual-oral (na maioria das vezes truncada) para a comunicação visual
sinalizada.

»» Identidade Híbrida: o surdo nasce ouvinte e ensurdece depois de ter acesso à língua
oral, tendo presente às duas línguas numa dependência dos sinais e do pensamento
na língua oral.

»» Identidade Surda: o surdo vive no mundo visual e desenvolver sua experiência na Língua
de Sinais. Os surdos que assumem a identidade surda são representados por discursos
que os veem capazes como sujeitos culturais, uma formação de identidade que só ocorre
entre espaços culturais surdos.

O certo é que em nenhum outro momento histórico se falou tanto, e com tanta frequência,
sobre identidade, comunidade e culturas surdas. Inúmeras produções culturais são partilhadas
entre as comunidades surdas, novas organizações e movimento se consolidam, novos símbolos
e significados são difundidos (LOPES, 2004).

Resumo

Vimos até agora:

»» As bases históricas da educação e socialização do surdo.

»» Os aspectos sociais e legais que levam à inclusão do surdo.

»» As propostas filosóficas, políticas e educacionais utilizadas na comunicação e inclusão


do surdo.

»» A importância da comunicação e do desenvolvimento da linguagem de sinais para o


surdo.

»» Os conceitos e as definições sobre a cultura, identidade e comunidade surdo.

24
Aspectos políticos da inclusão
Aula
3
Apresentação

Entende-se por políticas sociais as ações governamentais desenvolvidas em conjunto por meio
de programas que proporcionam a garantia de direitos e condições dignas de vida ao cidadão de
forma equânime e justa. Entender quais são esses fatores e os aspectos políticos que envolvem a
inclusão do surdo na educação e mercado de trabalho é essencial para que sejamos coparticipantes
na inclusão social do surdo.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» Entender os mecanismos que envolvem o processo de comunicação.

»» Ter ciência das políticas e respaldo legal que fundamentam a inclusão social do surdo.

»» Compreender a relação do processor como mediador no processo de inclusão do surdo


e sua aprendizagem.

»» Entender a importância de uma adaptação curricular e recursos que devem ser utilizados
na aprendizagem do surdo.

»» Perceber o potencial do surdo e o que é necessário para sua inserção no mercado de


trabalho.

Aspectos políticos da inclusão

Atualmente o mundo vive um momento em que propostas de inclusão são apresentadas e


discutidas. Pessoas consideradas diferentes, quer sejam por necessidades especiais ou por
pertencerem a culturas diferentes tendem a serem excluídas, justificando o surgimento de
legislações que contemplem as condições necessárias e essa minoria. A finalidade é dar condições
de igualdade, atendendo as necessidades e demanda provenientes destes grupos.

25
AULA 3 • Aspectos políticos da inclusão

A exclusão é uma prática constante em nossa sociedade e incluir é um tema desafiador. Incluir
é “permitir” ao diferente que compartilhe os espaços comuns, mas, também significa mudar,
flexibilizar, preparar para receber, tornar possível.

No Brasil e no mundo a inclusão dos indivíduos com algum tipo de deficiência ou necessidades
especiais tem sido um desafio. Neste grupo encontram-se os sujeitos surdos que se comunicam
pela Língua de Sinais. Discutir sobre a socialização dos surdos aponta para a realidade das suas
necessidades que por muito tempo foi negligenciada.

Incluir os surdos requer o reconhecimento de sua diferença e não deficiência. Essa diferença é
fruto de uma cultura e língua diferente, que se não for compreendida e aceita conduz à segregação;
à exclusão.

No Brasil, a política de segregação da pessoa deficiente evidenciou-se com a criação de escolas


especiais, em que indivíduos que apresentavam certo tipo de incapacidade ou limitação, eram
segregados a escolas separadas dos indivíduos ditos “normais”. Postos à margem das questões
sociais, culturais e educacionais os surdos são vistos pela sociedade por suas limitações e não
por suas potencialidades. São definidos como deficientes e, equivocadamente considerados
incapaz ou inferior aos ouvintes.

Embora esse panorama venha se modificando, com as políticas e conscientização geral sobre os
direitos do exercício da cidadania, os avanços ainda são lentos. É preciso que se auxiliem as famílias
das pessoas surdas a se perceberem como partícipes na implementação de procedimentos que
conduzam a uma real inclusão do surdo na sociedade ouvinte, quer seja no ensino regular ou
no mercado de trabalho. É preciso que sejam efetivas as políticas sociais de inclusão do sujeito
surdo em uma sociedade produtiva e igualitária.

O Paradigma da Educação Inclusiva

Ações pautadas nos direitos humanos são propostas que respeitam as diferenças e promovem
equidade a todas as pessoas independentemente de condições e diferenças.

Como já foi dito, a inserção da educação inclusiva tem como propósito resgatar a humanização
dos que anteriormente eram segregados. Nessa perspectiva, a legislação educacional vigente - Lei
de Diretrizes e Bases (LDB) no 9394/1996, cuja máxima é educação para todos em seu capitulo
V sugere a inclusão de alunos com necessidades especiais preferencialmente no ensino regular,
considerando políticas internacionais que comungam o desejo de minimizar ações excludentes.
Esses tem sido elementos norteadores para as novas práticas na educação bem como em outros
segmentos sociais.

26
Aspectos políticos da inclusão • AULA 3

O Brasil fez opção pela construção de um sistema educacional inclusivo ao concordar com
a Declaração Mundial de Educação para Todos e ao mostrar consonância com os postulados
produzidos em Salamanca (Espanha).

A Declaração de Salamanca afirma que:

»» A tendência da política social é de fomentar a integração e a participação e de lutar


contra a exclusão.

»» As necessidades educativas especiais incorporam os princípios já comprovados de uma


pedagogia equilibrada que beneficia todas as crianças.

»» As políticas educativas deverão levar em conta as diferenças individuais e as diversas


situações.

Nesse sentido, deve ser levada em consideração, por exemplo, a importância da língua dos sinais
como meio de comunicação para os surdos, e ser assegurado a todos os surdos acesso ao ensino
da língua de sinais de seu país.

Com base nesses dispositivos políticos-filosóficos e nos dispositivos da legislação brasileira, o


CNE aprovou a Resolução no 2/2001 que institui as Diretrizes nacionais para educação especial na
educação básica. Essas Diretrizes incluem os alunos surdos no grupo daqueles com dificuldades
de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, e que demanda a utilização de
linguagens e códigos aplicáveis.

Deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que apresentam dificuldades


de sinalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade aos conteúdos
curriculares mediante a utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como
o sistema braile e a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua
portuguesa, facultando-lhes e às suas famílias a opção pela abordagem pedagógica
que julgarem adequada, ouvidos os profissionais especializados em cada caso
Parágrafo 2o do art. 12

O inciso IV do art. 8o dessa mesma Resolução aponta os diferentes serviços de apoio pedagógico
especializado que deverão ser previstos e providos pelas escolas:

a. Atuação colaborativa de professor especializado em educação especial.

b. Atuação de professores-intérpretes das linguagens e códigos aplicáveis.

c. Atuação de professores e outros profissionais itinerantes intra e interinstitucionalmente.

d. Disponibilização de outros apoios necessários à aprendizagem, à locomoção e à


comunicação.

27
AULA 3 • Aspectos políticos da inclusão

Prevê ainda a utilização de salas de recursos e, extraordinariamente, classes e escolas especiais


como forma de cooperar para a inclusão de alunos no sistema educacional brasileiro.

Na escola, inclusão significa responsabilidade governamental (secretários de educação, diretores


de escola, professores), bem como significa reestruturação da escola que hoje existe, de forma
que ela se torne apta a dar respostas às necessidades educacionais especiais de todos seus alunos,
inclusive dos surdos.

Nenhuma escola pode excluir um aluno alegando não saber com ele atuar ou não ter professores
capacitados.

Toda escola (regular ou especial) deve organizar-se para oferecer educação de qualidade para
todos.

A construção de uma educação inclusiva requer uma mudança de paradigma na perceção do


que é educação.

Fundamentos legais da língua

O Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005, regulamentou a Lei no 10.436/2002, também


denominada Lei de LIBRAS, tratando dos aspectos relativos à inclusão de LIBRAS nos cursos
superiores, à formação de professores para o ensino de LIBRAS, à formação de tradutores e
intérpretes de LIBRAS, à atuação do Serviço Único de Saúde (SUS), à capacitação de servidores
públicos para o uso da Libras ou sua interpretação e à dotação orçamentária para garantir as
ações previstas no Decreto no 5.626/2005.

A LIBRAS, como 1ª língua, e a Língua Portuguesa, como 2ª língua, constituem complementação


curricular específica a ser desenvolvida nas mesmas escolas em que o aluno com surdez está
matriculado. A partir de 2006, os sistemas de ensino devem organizar classes ou escolas bilíngues,
abertas a surdos e ouvintes. Isso também inclui viabilizar cursos de qualificação profissional dos
professores; organizar serviços de tradutor e intérprete de LIBRAS para atuação nas classes que
têm surdos nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio, educação profissional e
educação superior.

De acordo com a Lei no 10.098 de 19 de dezembro de 2000, no capítulo VII, art. 18. O Poder Público
implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais
e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de
deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação.

28
Aspectos políticos da inclusão • AULA 3

Simbolo internacional da surdez

A Lei no 8.160 de 8 de janeiro de 1991 tornou obrigatória a colocação do “Símbolo Internacional


da Surdez”, de forma vizível, em todos os locais que possibilitam acesso, circulação e utilização
por pessoas portadoras de deficiência auditiva, e em todos os serviços que forem postos à sua
disposição ou que possibilitem o seu uso.

Resumo

Vimos até agora:

»» Os fundamentos indispensáveis para compreender os aspectos políticos da inclusão


do surdo.

»» A Declaração de Salamanca de sua influência na inclusão do surdo no Brasil.

»» O paradigma da educação inclusiva e o que diz o CNE.

»» As leis que fundamentam a inclusão do surdo no ensino regular e na sociedade.

29
Aula
Acessibilidade, Inclusão
Social e Educação 4
Apresentação

A inclusão é um direito de todos e, como profissionais e cidadãos, é o nosso dever estarmos


conscientes das possibilidades e recursos que podem ser utilizados para que isso aconteça,
reconhecendo a aplicando técnicas e estratégias facilitadoras para a real inclusão do surdo.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» Refletir sobre questões relevantes sobre acessibilidade e inclusão social.

»» Compreender a importância da comunicação e seus mecanismos.

»» Compreender a importância do professor como mediador na aprendizagem do surdo.

»» Entender como o suro lê o mundo, sua forma de aprendizagem e escrita.

»» Refletir sobre questões pertinentes para inclusão do surdo no mercado de trabalho.

Comunicação

É certo que, independentemente de quem seja ou do que se tenha, todos necessitam


comunicar-se. Uma vez identificada à perda auditiva em uma pessoa, a ela não pode ser negado
o direito de uma língua e uma forma de comunicação.

Chaveiro e Barbosa, 2005, sustentam a ideia que “a linguagem é um instrumento de poder.” Diante
de uma sociedade ouvinte, na qual a comunicação oral pode ser um símbolo de autonomia,
o surdo também não pode deixar de vivenciar novas experiências; experiências essas que são
vividas pela sociedade ouvinte, como o direito de uma língua, o direito à educação, ao lazer
e ao trabalho. Infelizmente, há um longo caminho a ser percorrido em relação à aceitação e
convivência com o sujeito surdo.

30
Acessibilidade, Inclusão Social e Educação • AULA 4

A comunicação do indivíduo pode apresentar dificuldade quando ele nasce em um ambiente


diferente de sua língua materna. O surdo, ao ser incluindo no ensino regular ou mercado de
trabalho, tende a encontrar obstáculos para se comunicar que devem ser vencidos, ou ao menos
minimizados, com o uso de alguns recursos e estratégias.

Para entendermos sobre os recursos facilitadores na comunicação com o sujeito surdo, é


importante falarmos sobre mensagem, código e canal de comunicação. A figura a seguir apresenta
uma relação simplificada entre emissor e receptor, que nos auxiliará na compreensão de como
a mensagem é percebida:

Elementos da comunicação

Comunicar é um ato importante para o convívio social, possibilitando o acesso à informação,


o convívio e a socialização. É nessas tentativas de adquirir aprendizado e troca de informações
que o homem começa a constituir o que é a chamada comunicação (INSTITUTO DE
TECNOLOGIA ORT, on-line).

A comunicação, por sua vez, é uma das formas mais importantes que o indivíduo usa como
recurso de socialização. É através dela que há troca de informações, possibilitando aprendizado
e convívio social entre as pessoas de uma sociedade (PIMENTA, 2006). Diante disto, pressupõe-se
que a comunicação tem um importante papel na constituição da pessoa como sujeito,
partindo da tese que o indivíduo que não se comunica ou não tem uma comunicação eficaz
e/ou satisfatória para o convívio social tende a se isolar tanto da sociedade quanto dos meios
de comunicação de massa que também são fontes de conhecimento e comunicação.

O indivíduo pode apresentar falhas no processo de comunicação quando nasce em um


ambiente diferente de sua língua materna. Isso acontece com o surdo que, ao ser incluindo
no ensino regular ou mercado de trabalho, tende a encontrar obstáculos no processo de
comunicação, normalmente relacionadas ao canal de comunicação, ou seja, pela maneira
que a mensagem é transmitida.

Para entendermos sobre os recursos facilitadores na comunicação com o sujeito surdo, é


importante falarmos sobre mensagem, código e canal de comunicação. A figura a seguir
apresenta uma relação simplificada entre emissor e receptor, que nos auxiliará na compreensão
de como a mensagem é percebida:

31
AULA 4 • Acessibilidade, Inclusão Social e Educação

Elementos do Processo de Comunicação Interpessoal

Lacerda (2006, p. 177) afirma que a forma de expressão de uma pessoa surda é diferente da
sociedade ouvinte, uma vez que faz uso de uma língua própria. “Ele é um estrangeiro que tem
acesso aos conhecimentos de um modo diverso dos demais e se mantém isolado do grupo.”

A Língua de Sinais é a língua natural para a pessoa surda e funciona como suporte do pensamento.
Ela é o seu meio de comunicação e por meio dela ele pode pensar planejar, sentir e aprender outras
línguas. Na comunicação entre o ouvinte e o surdo, o entrave ocorre no canal de comunicação,
ou seja, na maneira como a mensagem é passada, já o ouvinte se comunica de forma oral e o
surdo por sinais. Isso dificulta a compreensão da mensagem.

A Inclusão Social

A inclusão social deve ser baseada no respeito e na justiça em relação às diferenças apresentadas
pelo ser humano, em que o foco de cada um é saber conviver com a diferença e sustentando o
fato de que todos são diferentes, isso os torna iguais.

As dificuldades desta inclusão são imensas em relação ao sujeito surdo, até mesmo em relação ao
seu processo de socialização, no qual a sociedade ouvinte sempre teve uma visão de que a pessoa
com alguma deficiência não é digna de usufruir dos benefícios de uma vida social, limitando-a
e impedindo-a de adquirir um olhar mais seguro e menos inferior da vida.

Macêdo (2002) faz-se valer de que o direito à inclusão social é de todos, e também dos deficientes
auditivos que, em decorrência de suas limitações, na maioria das vezes são ignorados por uma
cultura que segue a comunicação verbal como norma.

A inclusão acaba sendo, então, um direito de quem apresenta limitações que fogem do padrão
de normalidade da maioria e um dever da sociedade, que exclui pelo simples fato de ver essas
pessoas como deficientes, contribuindo para uma “autoexclusão” do surdo, já que o olhar da
sociedade o faz pensar que ele é incapaz de progredir.

32
Acessibilidade, Inclusão Social e Educação • AULA 4

É preciso integrar o indivíduo surdo à sociedade. A integração baseia-se no princípio de


“normalização”, que significa “oferecer aos portadores de necessidades especiais modos e
condições de vida diária o mais semelhante possível às formas e condições de vida do resto da
sociedade” (Política Nacional de Educação Especial, MEC, 1994).

As pessoas surdas têm direito a participar da vida familiar, de uma escola comum, da comunidade
e de ser inserido em um mercado de trabalho, mesmo que em cada um desses momentos
mereçam uma atenção diferenciada às suas necessidades especiais. Claro que isso depende,
entre outros fatores, de uma comunidade que esteja preparada para conviver e aceitar aqueles
que são diferentes.

Esse processo ocorre nos seguintes contextos relacionais:

»» Na família: os pais e demais membros da família incluem sua criança, surda ou não,
nas atividades cotidianas do lar desde o seu nascimento.

»» Na escola: os colegas devem ser orientados quanto à importância da Língua de Sinais


com o objetivo de uma interação mais efetiva com a criança surda.

»» Na sociedade: a integração social do surdo é o resultado de todo o processo que teve


início com a estimulação precoce. O processo de integração social é contínuo e torna-se
mensurável à medida que o surdo conscientiza-se de seu papel de cidadão com pleno
direito à escolha de vida pública e privada.

Na Família

A surdez é uma deficiência invisível aos olhos. Ao receber a comprovação da gravidez, pais e
família se preparam para o nascimento de um bebê saudável, recebem e se relacionam com
essa criança como um ouvinte, sem perceber, em muitos casos, suas restrições. Interagem com
seu filho, falando e brincando até receberem o diagnóstico de surdez. A partir desse momento,
deixam de lado essa interação, sem perceber que é nesse exato momento que ela deveria ser
intensificada, já que a criança pequena, surda ou ouvinte, se orienta pelo “sentir”, sendo capaz
de perceber sua aceitação ou não e a criança que sofre uma mudança brusca no relacionamento
com os pais pode ficar afetada emocionalmente, trazendo repercussões no futuro.

Quando há uma divergência entre o que a criança é e a expectativa da família, é provável que haja
também dificuldades no desenvolvimento emocional, social e intelectual. Isso acaba por acarretar
uma dificuldade nas relações, dificultando sua socialização futura, já que o desenvolvimento
sócio emocional depende diretamente do relacionamento dos pais entre si, e destes com a
criança, destacando-se o primeiro ano de vida. Neste período, torna-se o rosto humano o foco
da atenção da criança. A impossibilidade de ouvir a voz materna é a primeira perda sofrida pela
criança que nasce surda ou perde a audição nos primeiros meses de vida. Para o bebê surdo, o

33
AULA 4 • Acessibilidade, Inclusão Social e Educação

conjunto de sinais visuais, como a expressão dos olhos, da testa, da face e o sorriso é equivalente
à voz humana.

Quando nos referimos à educação, consideramos que a família é o principal elo entre o sujeito e
a sociedade. Quando se trata do surdo, a família ganha um destaque maior por ser por ser nela
que se encontra argumentos em formas de subsídio para introduzir o surdo no meio social.

Os modelos educativos são assimilados culturalmente por gerações e é nesse modelo que os
pais de uma criança surda têm sua base, ainda que inadequados à educação da criança surda,
desencadeando frustrações e tensões em todos os envolvidos no processo. (STELLING, 1996).
A Declaração de Salamanca, em seu art. 60, relata que “Os pais são os principais associados no
tocante às necessidades educativas especiais de seus filhos, e a eles deveria competir, na medida
do possível, a escolha do tipo de educação que desejam seja dada a seus filhos”. Sendo assim,
a família torna-se participante ativa na educação do surdo, como ressalta a mesma declaração.

Deverão ser estreitadas as relações de cooperação e apoio entre administradores


das escolas, professores e pais, fazendo que estes últimos participem na tomada
de decisões, em atividades educativas no lar e na escola (onde poderiam assistir
a demonstrações técnicas eficazes e receber instruções sobre como organizar
atividades extra-escolares) e na supervisão e no apoio da aprendizagem de
seus filhos.
(Declaração de Salamanca, art. 61).

Sendo a dificuldade de comunicação o principal entrave no relacionamento de pais ouvintes e filhos


surdos, o aprendizado da Libras pela família é de extrema importância para o desenvolvimento
pleno da criança surda, permitindo, que todas as manifestações entre os envolvidos sejam
compreendidas (QUADROS, 2002).

Na Escola

Muito se especula sobre propostas de políticas públicas educacionais no Brasil e, com o atraso
escolar que o surdo apresenta em relação ao ouvinte, faz-se necessário que estas propostas sejam
ainda mais eficazes, pois é preciso uma estruturação mais específica para auxiliar de forma
satisfatória o ensino dos surdos (LEBEDEFF, 2006).

A educação dos surdos já foi vista como uma educação inferior em relação à educação dos
ouvintes, já que acreditava-se que o surdo era de menor inteligência, o que contribuiria para
uma aprendizagem menos eficaz (MOURA 2000).

O atraso no desenvolvimento escolar do surdo em relação ao ouvinte é significativo, uma vez


que a língua utilizada para o aprendizado é a língua oral e o surdo possui, como estrutura
linguística, uma estrutura visual-motora. Esta dificuldade em aprender através de outra língua
contribui para que um número elevado de alunos surdos mantenha-se fora do meio escolar, pois

34
Acessibilidade, Inclusão Social e Educação • AULA 4

a dificuldade de acesso ao conhecimento através da língua torna-se um fator determinante para


esse afastamento (LEBEDEFF, 2006).

Em relação a esta educação para o público surdo, há boas propostas para uma eficaz educação
destes indivíduos, no que se refere a formas qualitativas de ensino e de inclusão escolar. O Brasil
optou por uma política com um sistema de educação inclusiva em conformidade ao proposto
pela Declaração Mundial de Educação para Todos, bem como com a Declaração de Salamanca
(PORTAL DO MEC, on-line).

Um perfil de escola inclusiva é aquele que se caracteriza por adequar-se, não somente com uma
estrutura física apropriada para todo e qualquer deficiente, seja esta deficiência física, sensorial
ou mental, mas também com propostas de ensino que visam sanar as necessidades daqueles
que a procuram, respeitando as limitações de cada um em sua diferença e incorporando formas
de aprendizado específico a esses alunos (GOÉS; LAPLANE, 2004).

MEC, Resolução no 2/2001

De acordo com a Resolução no 2/2001 - MEC, todas as pessoas que apresentam algum tipo de
perda auditiva têm direito a uma educação com um ensino regular, igual a uma pessoa que não
apresenta perda auditiva, buscando a inclusão e a implantação de novas propostas a fim de
melhorar a qualidade de vida dos surdos.

Art. 1o A presente Resolução institui as Diretrizes Nacionais para a educação


de alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, na Educação
Básica, em todas as suas etapas e modalidades.

Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos terá início na educação


infantil, nas creches e pré-escolas, assegurando-lhes os serviços de educação
especial sempre que se evidencie, mediante avaliação e interação com a família
e a comunidade, a necessidade de atendimento educacional especializado.

Segundo Gesueli (2006), “A utilização da Língua de Sinais vem sendo reconhecida como um
caminho necessário para a efetiva mudança nas condições oferecidas pela escola no atendimento
educacional de alunos surdos.” Desta forma, é correto afirmar que a LIBRAS vem contribuindo
para uma eficácia no ensino dos indivíduos surdos, uma vez que proporciona embasamento
teórico em relação à estrutura linguística da língua de sinais.

Existem alguns modelos educacionais cujo objetivo é facilitar o desenvolvimento escolar dos
alunos surdos. A opção de um ensino bilíngue é um destes modelos e fundamental para os
surdos que se disponibilizam a estudar e sentem a necessidade de se comunicar com o ouvinte.
Nesse sentido, a LIBRAS é a primeira língua, utilizada pelo surdo na aquisição de conhecimento
e comunicação, e o português ou a língua oral é a língua secundária, um recurso maior para a
interação com os colegas e ganho maior na aprendizagem (GESUELI, 2006).

35
AULA 4 • Acessibilidade, Inclusão Social e Educação

As dificuldades de comunicação entre o professor ouvinte e o aluno surdo são evidenciadas


diariamente. Isso ocorre pelo fato do despreparo do professor em receber e interagir com este
aluno, até mesmo desconhecendo a existência de sua língua materna, a LIBRAS. Nestes casos, se
o aluno surdo não domina a língua oral, não consegue ter êxito em seu ensino. Esta desarmonia
desfavorece uma comunicação suficiente para a aprendizagem eficaz do aluno surdo, bem como
de socialização com os demais colegas de classe (GESUELI, 2006).

A utilização da LIBRAS possibilita o desenvolvimento do surdo em todos os seus aspectos –


cognitivos, socioafetivo-emocional e linguístico.

A utilização de tecnologias, tais como o uso da internet e celulares, também têm sido importantes
recursos de ensino para os surdos, aumentando a capacidade “cognitiva, afetiva e social” dos
mesmos, o que permite avanços não só na área educacional, como também na comunicação
com o outro e nas relações emotivas (SOUZA, 2003, p. 1).

Outro aspecto facilitador essencial para que o processo ensino aprendizagem aconteça de forma
satisfatória é a adequação curricular para o aluno deficiência auditivo, também identificado como
D.A. Para esses alunos, o currículo deve ser adaptado de forma que se torne o mais concreto
possível, utilizando-se dos canais sensoriais íntegros como facilitar na aprendizagem.

No processo ensino aprendizagem, o professor deve ser o mediador e educador, ou seja. O


professor deve ser ver como o interlocutor entre o texto/conteúdo e a aprendizagem. Para isso
ele precisa ser qualificado de forma a entender como ocorre o processo de aprendizagem no
sujeito surdo, sua forma de se comunicar e sua escrita, levando-o a uma alfabetização satisfatória
na escrita da Língua Portuguesa.

O aprendizado da leitura e escrita para os surdos será diferente das pessoas ouvintes. Sua leitura
de mundo é feita por meio de experiências visuais e concretizadas em sua língua natural. Por isso
é importante que haja adaptação do currículo a ser trabalhado como o surdo. No aprendizado
da leitura e escrita é necessário ir do mundo para o texto, dos conhecimentos concretizados na
língua de sinais e que deverão ser traduzidos para o português.

Para o surdo, a aquisição da modalidade escrita representa a alfabetização em outra língua com
diferenças sintáticas, morfológicas e fonéticas. Por isso, as irregularidades morfossintáticas
identificadas na escrita dos indivíduos surdos coincidem com construções próprias da Língua
de Sinais.

No Mercado de Trabalho

Deve-se considerar que a comunicação é o principal canal de socialização do ser humano, pois
é através dela que o indivíduo consegue aprender e ensinar, em virtude da troca de informações,
possibilitando o convívio social. Porém, as formas de comunicação do ouvinte e do surdo são

36
Acessibilidade, Inclusão Social e Educação • AULA 4

distintas, uma vez que existem choques culturais em relação à língua de ambos, em que uma é
oral e a outra gestual. Isto acaba implicando, entre outros, a inserção dos indivíduos surdos no
mercado de trabalho, em uma sociedade essencialmente ouvinte, onde há uma necessidade de
pessoas comunicativas e com uma boa oratória.

As dificuldades em manter um diálogo com o outro levam o indivíduo a se excluir e/ou ser
excluído do convívio social, principalmente quando “barreiras de linguagem e cultura” estão
associadas a dificuldades de comunicação.

A aceitação do surdo no convívio do ouvinte, bem como no mercado de trabalho, ainda passa
por um processo de transformação que exige bom senso e humanização, de um para com o
outro, pois os surdos são o foco de muitos preconceitos em decorrência de sua condição e
das consequências que esta pode trazer nos aspectos da vida emocional e profissional destes
indivíduos (DAMÁZIO, 2005).

O ato de trabalhar permite ao ser humano se sentir útil, capaz e realizado, contribuindo
favoravelmente nos aspectos de “comportamento, rotina e relações afetivas”. Em relação aos
indivíduos surdos, a admissão no mercado de trabalho faz com que o mesmo deixe de se sentir
excluído da sociedade e de se autoexcluir por “medo” do que esta pode pensar dele

Inserir-se no mercado de trabalho exige uma grande habilidade comunicativa; pois, neste campo
de tamanha competição, as pessoas precisam ter uma boa expressividade oral para satisfazer
as necessidades do contratante e dos respectivos clientes. Este fator comunicativo, por sua vez,
torna-se determinante na vida dos surdos no aspecto de empregabilidade, uma vez que é usuário
de uma língua diferente da língua que o mercado exige. Isso acaba por levar o surdo a renunciar
a uma inserção nesse mercado, restringindo-o ao convívio com sua comunidade, onde são bem
aceitos por pessoas que se apresentam “iguais”.

“A linguagem deve ser vista como resultado da interação entre sujeitos, lugar de
encontro de vários discursos e do embate de experiências.”
Citelli (2011)

O desconhecimento das possibilidades profissionais das pessoas que apresentam alguma


deficiência tem dificultado seu acesso ao mercado de trabalho. O conhecimento se produz por
meio do que é gerado pelo sujeito nas interações sociais. Sendo assim, é preciso haver interação
para que as dúvidas e tabus sejam esclarecidos.

A primeira barreira que o indivíduo surdo encontra é a comunicação, que configura uma situação
de restrição que pode desencadear conflitos no contato social.

37
AULA 4 • Acessibilidade, Inclusão Social e Educação

“O processo de identificação e aceitação da própria limitação, propiciado pela


afinidade com a pessoa portadora de deficiência, pode possibilitar relações mais
afetivas no ambiente do trabalho e contaminar positivamente outras relações”.
(BATISTA, 2004)

A inclusão no mercado de trabalho proporciona ao surdo sua valorização como cidadão, leva à
efetivação dos seus direitos garantidos em lei, e possibilita a convivência no ambiente de trabalho
com trabalhadores ouvintes e, consequentemente, maior sociabilidade.

A inclusão da pessoa surda no mercado de trabalho não deve se restringir à aplicação de leis
e de projetos de responsabilidade social por parte das empresas. É preciso que a pessoa com
deficiência seja, antes de tudo, capacitada para atuar de forma eficaz no mercado de trabalho
e que este processo deve se iniciar no ambiente escolar e estender-se ao desenvolvimento de
projetos de profissionalização.

Não basta que se criem leis para a inclusão e integração das pessoas com deficiência no mercado
de trabalho, mas sim, que se desenvolvam políticas públicas eficazes para que se traga ao
conhecimento de todos a capacidade do surdo e que esse reconhecimento promova a aceitação
e efetiva contratação desse público, de forma plena e natural.

É preciso adaptar-se a novas culturas, a novas regras, a pessoas diferentes de variadas origens,
crenças e valores, para que a diversidade humana venha enriquecer nossos conhecimentos e
ofereça uma visão ampla e sem preconceitos da sociedade em que vivemos.

Resumo

Vimos até agora:

»» Questões pertinentes sobre acessibilidade e inclusão social.

»» A comunicação e seus mecanismos.

»» O papel do professor como mediador na interação do surdo no ensino regular.

»» A aprendizagem do surdo e sua forma de leitura de mundo.

»» A inclusão do surdo no mercado de trabalho.

38
Língua e Linguagem e a LIBRAS
Aula
5
Apresentação

A origem da Língua de Sinais deixa a necessidade de uma maior compreensão da riqueza que
existe nessa forma de se comunicar, entendendo a Língua de Sinais como legítima e eficaz.
Considerando que somente no ano de 2002 a Língua Brasileira de Sinais foi oficialmente
reconhecida e aceita como segunda língua oficial brasileira, por meio da Lei no 10.436, de 24 de
abril de 2002, é possível perceber o quanto a sociedade precisa quebrar a barreira do preconceito
e entender o que o surdo e a Linguagem de Sinais é capaz de fazer.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» Compreender o conceito de linguagem e língua.

»» Reconhecer os diversos tipos de linguagem e sua relação com a comunicação.

»» Identificar as características da língua e Libras como língua.

LIBRAS

As Línguas de Sinais não são simples mímicas e gestos soltos, são línguas com estruturas
gramaticais próprias, compostas pelos níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático
e o semântico. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas é
denominado sinais nas línguas de sinais.

A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é utilizada por deficientes auditivos para a comunicação
entre eles e entre surdos e ouvintes e é a sua modalidade que a diferencia das demais línguas.

Uma língua de sinais utiliza-se de gestos, sinais e expressões faciais e corporais, em vez de sons ou
escrita na sua comunicação, ou seja, as línguas de sinais são de aquisição visual e produção espacial

39
AULA 5 • Língua e Linguagem e a LIBRAS

e motora. Podemos definir que LIBRAS é uma língua de modalidade (modo de comunicação)
visual-espacial e motora.

Sendo assim, uma pessoa que entra em contato com uma Língua de Sinais irá aprender outra
língua, e seus usuários terão capacidade instrumental para discutir questões complexas como
filosofia e política ou produzir poemas e peças teatrais.

Para melhor nos inteirarmos dessa realidade é interessante que essa linguagem se faça conhecer,
e que haja uma procura por ela com o interesse de aprendê-la.

Linguagem

Podemos definir Linguagem como o sistema pelo qual o homem comunica suas ideias e
sentimentos, seja por meio da fala, da escrita ou de outros signos convencionais e Linguística é
o nome da ciência que se dedica ao estudo da linguagem.

Linguagem é qualquer meio de comunicação, como a linguagem corporal, as


expressões faciais, a maneira de nos vestirmos, as reações de nosso organismo
(tanto aos estímulos do meio, como de nosso pensamento ou , mesmo, dos
aspectos fisiológicos) ou a linguagem de outros animais, os sinais de trânsito,
a música, a pintura, enfim, todos os meios de comunicação, sejam cognitivos
(internos), socioculturais (relativos ao meio) ou de natureza, como um todo.
Fernandes (2003, p.16).

Linguagem - substantivo feminino

1. Ling qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
gestuais etc. “l. humana”

2. p. ext. qualquer sistema de símbolos ou sinais ou objetos instituídos como signos; código. “l. da dança”

Desenvolver uma linguagem é desenvolver a capacidade de expressar pensamentos, ideias,


opiniões e sentimentos e está diretamente relacionada a fenômenos comunicativos, sendo
inúmeras as formas de se comunicar e inúmeros os tipos de linguagens.

No cotidiano, nos deparamos fazemos uso da linguagem verbal e não verbal para nos comunicarmos.
A linguagem verbal integra a fala e a escrita (diálogo, informações no rádio, televisão ou imprensa,
e outras). Todos os outros recursos de comunicação como imagens, desenhos, símbolos, músicas,
gestos, até mesmo o tom de voz, fazem parte da linguagem não verbal.

40
Língua e Linguagem e a LIBRAS • AULA 5

Linguagem Verbal: é aquela que faz uso das palavras para comunicar algo, seja oral ou escrita.

Linguagem Não Verbal: é aquela que utiliza outros métodos de comunicação, que não são as palavras

De uma forma mais geral, a Linguagem pode ser definida como qualquer sistema de sinais que
possibilite aos indivíduos uma comunicação eficaz e plena.

Alguns exemplos de linguagem...

A linguagem corporal: é um tipo de linguagem não verbal, em que os movimentos corporais


transmitem mensagens e intenções. A linguagem gestual está nessa categoria, utilizando-se
de um sistema de gestos e movimentos cujo significado se fixa por convenção, e é usada na
comunicação de pessoas com deficiências na fala e/ou audição.

41
AULA 5 • Língua e Linguagem e a LIBRAS

A linguagem mista: é o uso simultâneo da linguagem verbal e não-verbal. Um exemplo perfeito


é uma história em quadrinhos, que integra ao mesmo tempo, imagens, símbolos e diálogos.

As linguagens artificiais: normalmente criadas para servirem a um fim específico, como lógica
matemática ou a informática. Também são denominadas por linguagens formais. A linguagem
de programação de computadores é uma linguagem formal que consiste na criação de códigos
e regras específicas que processam instruções para computadores.

Língua

Embora associados, linguagem e língua diferenciam-se em seu conceito, sendo a linguagem


abstrata, relacionada à capacidade inerente ao homem de se comunicar e língua a concretização
dessa capacidade.

Língua é um tipo de linguagem e define-se como sistema abstrato de regras


gramaticais. Isto quer dizer que o conceito de língua está ligado a um conjunto

42
Língua e Linguagem e a LIBRAS • AULA 5

de regras gramaticais que identificam sua estrutura nos seus diversos planos dos
sons, da estrutura, da formação e das classes de palavras, das estruturas frasais,
da semântica, da contextualização do uso.
Fernandes (2003)

A língua é o conjunto de sinais ou palavras e expressões usadas por um povo e nação. A língua é
normativa, segue regras e possui uma estrutura e gramática. Pode ser considerado um instrumento
na comunicação, que segue regras gramaticais, permitindo a comunicação e compreensão de
grupos ou pessoas.

As línguas podem ser orais-auditivas ou espaço-visuais. As línguas são denominadas


orais-auditiva quando a forma de recepção não grafada (não escrita) é a audição
e a forma de reprodução (não escrita) é a oralização; as línguas espaço-visual são
naturalmente reproduzidas por sinais manuais e sua recepção é visual.

A língua consiste em um conjunto específico de códigos e palavras, com regras e leis de combinação
que permite que a mensagem seja passada de maneira compreensível. Sem essas regras, é provável
que o a mensagem não seja compreendida, seria como escrever uma frase onde as palavras estão
fora de ordem e esperar que a outra pessoa entenda a mensagem.

As línguas são uma forma de organizar o mundo, desempenhando as funções imediatas da


comunicação. É por elas que exercemos a habilidade exprimem pensamentos e emoções.
Trata-se de um sistema de signos estabelecido socialmente.

Por se tratar de uma expressão particular, utilizadas por povos variados, as línguas são depositárias
de culturas que são armazenadas e passadas de geração em geração.

A língua possui um caráter social, ou seja, pertence a um conjunto de pessoas, em que cada
membro da comunidade pode optar por uma ou outra forma de expressão.

Ex.: Hoje eu estou muito feliz.

Hoje eu estou felicíssima.

A língua é considerada natural ou materna quando desenvolvida naturalmente, ou seja, de


forma não premeditada, resultante da capacidade inata do ser humano. Trata-se do primeiro
idioma que se aprende, normalmente é a língua que se fala num país, e que é relativa aos
naturais/nativos do mesmo. Por se natural, a língua materna é a que se domina melhor, já que é
adquirida através da interação com o meio envolvente, sem intervenção pedagógica e sem uma
reflexão linguística consciente.

Este é o caso da língua falada ou da língua de sinais, diferente das línguas construídas (como a
linguística computacional) e das línguas formais (como a língua escrita). Trata-se da primeira

43
AULA 5 • Língua e Linguagem e a LIBRAS

língua aprendida por uma criança e corresponde ao grupo étnico-linguístico em que a criança
está inserida e se identifica culturalmente.

A língua materna pode ser aprendida até aos doze anos de idade. Uma vez superada essa etapa, as habilidades linguísticas do
falante são distintas e qualquer língua aprendida passará a ser considerada como uma segunda língua.
Teoria defendida por de Noam Chomsky e de outros linguistas

LIBRAS

Língua Brasileira de Sinais é uma língua humana, assim como as outras línguas
faladas, que contém a sua própria estrutura linguística, embora de modalidade
diferente. Como toda língua humana, a LIBRAS passa pelo processo contínuo e
gradual de variação e mudança, seja por motivações internas, seja por contato
com outras línguas, como a Língua Portuguesa.
Diniz (2011)

Todos os seres humanos, surdos ou ouvintes, nascem com uma capacidade inata para desenvolver
linguagem. As línguas de sinais são línguas naturais, que podem ser adquiridas pelas crianças
de forma inconsciente através da interação, do convívio com usuários da mesma língua. Esse
convívio permite o desenvolvimento linguístico e cognitivo e serve de suporte para a aprendizagem
de outras línguas.

A Língua Materna é a primeira língua que uma criança aprende, no contato com os pais e outros
membros da família e depois nos contatos com a comunidade em que vive. Considerando o
universo do surdo, a Língua de Sinais é a Língua Materna, a primeira língua que o surdo se apodera
para expressar-se sendo, na maioria das vezes, é a língua utilizada no dia a dia.

Com os estudos realizados na área da Linguística, comprovou-se que as línguas de sinais são uma
língua legítima, com status linguístico tão completo e complexo quanto qualquer outra língua.

As línguas de sinais, como as línguas oralizáveis, possuem gramática própria, que


as diferencia umas das outras e das oralizáveis. Isto quer dizer que a língua de sinais
brasileira , por exemplo, tem estrutura diferente da estrutura da língua portuguesa
e deve ser encaradas, também, como uma língua natural que conhecemos.
Fernandes (2003)

A comunicação por língua de sinais não é exclusividade brasileira. Na maioria do mundo há, pelo
menos, uma Língua de Sinais (LS) usada pela comunidade surda de cada país. A Língua Brasileira
de Sinais (LIBRAS) tem sua origem na Língua de Sinais Francesa – origem, e não reprodução.
A LIBRAS é diferente da Língua de Sinais Americana (ASL), que é diferente da Língua de Sinais
Britânica (BSL), que difere, por sua vez, da Língua de Sinais Francesa (LSF).

44
Língua e Linguagem e a LIBRAS • AULA 5

Configuração de mãos para “nome”

ASL LIBRAS

Vale lembrar que as Línguas de Sinais não são mímicas ou gestos soltos, são línguas com estruturas
gramaticais próprias. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas
é denominado sinais nas línguas de sinais. Na verdade, sua modalidade visual-espacial é o que
a diferencia das demais línguas. Sendo assim, aprender uma LS é aprender outra língua, como
o inglês, francês, alemão...

A existência de dialetos regionais é mais uma comprovação do caráter da LIBRAS como língua
natural.

Configuração de mãos para “verde”

Rio de Janeiro São Paulo Curitiba

Outra característica que a distingue como uma língua dinâmica refere-se a mudanças históricas
que, com o passar do tempo, produzem alterações nos sinais, decorrentes dos costumes da
geração que o utiliza.

Configuração de mãos para “azul”

1o momento 2o momento 3o momento

45
AULA 5 • Língua e Linguagem e a LIBRAS

A LIBRAS, como todas as LS, é uma modalidade de comunicação baseada no gesto, na observação
e localização, ou seja, é uma modalidade gestual-visual-espacial. Ser baseada não significa
que de fato trata-se de um gesto. Em muitos casos, por desconhecer sua natureza linguística,
muitos acreditam tratar-se de sinais “desenhados” no ar, representando a figura que se deseja
expressar. Embora a realização de alguns sinais possa reportar-se à realidade ou à expressão que
se deseja referir (sinais icônicos), isso não é uma regra. A grande maioria dos sinais da LIBRAS
são arbitrários, não mantendo relação de semelhança alguma com seu referente.

O que sobressai no contraste entre as modalidades visuo-espacial e oral-auditiva é a questão


da arbitrariedade do signo linguístico. Esse conceito estabelece que, na constituição do signo
linguístico, a relação entre o significante (imagem acústica/fônica) e o significado é arbitrária, isto
é, não existe nada na forma do significante que seja motivado pelas propriedades da substância
do conteúdo (significado).Uma das características das línguas de sinais é que, diferentemente
das línguas orais, muitos sinais têm forte motivação icônica.

Não é difícil supor que esse contraste se explique pela natureza do canal perceptual: modalidade
vísuo-espacial, a articulação das unidades da substância gestual (significante), permite a
representação icônica de traços semânticos do referente (significado), o que explica que muitos
sinais reproduzam imagens do referente; na modalidade oral-auditiva, a articulação das unidades
da substância sonora (significante) produz sequências que em nada evocam os traços semânticos
do referente (significado),o que explica o caráter imotivado ou arbitrário do signo linguístico
nas línguas orais.

Sinais Icônicos

São considerados como sinais icônicos os que fazem alusão à imagem do seu significado ou
dado da realidade que representam, assim como uma foto é considerada a reprodução de uma
imagem. Claro que os sinais icônicos não são iguais em todas as LS e nem mesmo dentro de um
mesmo país, como o Brasil. Devem-se considerar as representatividades e regionalidade no que
se refere a esses sinais.

Sinais icônicos

Telefone Borboleta

46
Língua e Linguagem e a LIBRAS • AULA 5

Sinais Arbitrários

São considerados sinais arbitrários os que não fazem alusão ou mantêm semelhança com a
imagem do seu significado ou dado da realidade que representam. Muitos acreditam que a
LIBRAS é composta apenas por representações gestuais icônicas, o que é um mito, já que uma
das propriedades básicas de uma língua é a arbitrariedade existente entre significante e referente,
sendo capazes de expressar conceitos abstratos, em toda sua complexidade.

Sinais Arbitrários

Conversar Depressa

Sinais
Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do ponto no corpo ou no espaço onde
esses sinais são feitos. Nas línguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros que formarão os sinais:

Configuração das mãos: São formas das mãos que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras formas feitas pela
mão predominante (mão direita para os destros ou esquerda para os canhotos), ou pelas duas mãos.

Os sinais DESCULPAR, EVITAR e IDADE, por exemplo, possuem a mesma configuração de mão (com a letra y). A diferença é
que cada uma é produzida em um ponto diferente no corpo.

Ponto de articulação: é o lugar onde incide a mão predominante configurada, ou seja, local onde é feito o sinal, podendo
tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro.

Movimento: Os sinais podem ter um movimento ou não. Por exemplo, os sinais PENSAR e EM-PÉ não tem movimento; já os
sinais EVITAR e TRABALHAR possuem movimento.

Expressão facial e/ou corporal: As expressões faciais / corporais são de fundamental importância para o entendimento real
do sinal, sendo que a entonação em Língua de Sinais é feita pela expressão facial.

Orientação/Direção: Os sinais têm uma direção com relação aos parâmetros acima. Assim, os verbos IR e VIR se opõem em
relação à direcionalidade.
http://www.libras.org.br/libras.php

47
AULA 5 • Língua e Linguagem e a LIBRAS

Convenções da LIBRAS
A grafia: os sinais em LIBRAS, para simplificação, serão representados na Língua Portuguesa em letra maiúscula. Ex.: CASA,
INSTRUTOR.

A datilologia (alfabeto manual): usada para expressar nomes de pessoas, lugares e outras palavras que não possuem sinal,
estará representada pelas palavras separadas por hífen. Ex.: M-A-R-I-A, H-I-P-Ó-T-E-S-E.

Os verbos: serão apresentados no infinitivo. Todas as concordâncias e conjugações são feitas no espaço. Ex.: EU QUERER
CURSO.

As frases: obedecerão à estrutura da LIBRAS, e não à do Português. Ex.: VOCÊ GOSTAR CURSO? (Você gosta do curso?).

Os pronomes pessoais: serão representados pelo sistema de apontação. Apontar em LIBRAS é culturalmente e
gramaticalmente aceito.
http://www.libras.org.br/libras.php

Resumo

Vimos até agora:

»» O conceito de linguagem e língua.

»» Os diversos tipos de linguagem e sua relação com a comunicação.

»» As características da língua.

»» Libras como língua de sinais.

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Estrutura Gramatical da LIBRAS
Aula
6
Apresentação

Já sabemos que as Línguas de Sinais não são simples mímicas e gestos soltos, são línguas
com estruturas gramaticais próprias, compostas pelos níveis linguísticos: o fonológico, o
morfológico, o sintático e o semântico. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas
oral-auditivas é denominado sinais nas línguas de sinais. O que diferencia as Línguas de Sinais
das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial e a visual-motora.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

»» Compreender as características da LIBRAS enquanto linguagem.

»» Entender as estruturas gramaticais da LIBRAS.

»» Identificar as principais características da língua de sinais.

Estrutura Gramatical

Como já foi dito, as Línguas de Sinais (LS) são as línguas naturais das comunidades surdas.
Ao contrário do que muitos imaginam as Línguas de Sinais não são simplesmente mímicas e
gestos soltos, utilizados pelos surdos para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas
gramaticais próprias.

Atribui-se às Línguas de Sinais o status de língua, porque elas também são compostas pelos
níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. O que é denominado
de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas é denominado sinais, nas línguas de sinais.
O que diferencia as Línguas de Sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial

49
AULA 6 • Estrutura Gramatical da LIBRAS

Na Libras...

»» Morfológico: palavra/ sinal ou item lexical.

»» Sintático: frase.

»» Semântico: significado.

»» Pragmático: uso do significado - sentido.

Aspectos Estruturais

A LIBRAS têm sua estrutura gramatical organizada a partir de alguns parâmetros que estruturam
sua formação nos diferentes níveis linguísticos. Três são seus parâmetros principais ou maiores:
a Configuração das Mãos (CM) é caracterizado como a forma que a mão assume durante a
realização de um sinal; o Movimento (M) é o deslocamento da mão no espaço, durante a realização
do sinal, e o Ponto de Articulação (PA) é caracterizado pelo lugar do corpo onde será realizado
o sinal; e outros três constituem

Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado
formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em
frente ao corpo. Estas articulações das mãos, com um determinado formato em um determinado
lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. que podem
ser comparadas aos fonemas e as vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros Nas línguas
de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros:

Parâmetros Maiores
1. Configuração da(s) Mão(s) (CM): é a forma que a mão assume durante a realização de
um sinal.

Telefone Branco

50
Estrutura Gramatical da LIBRAS • AULA 6

2. Ponto de Articulação (PA): é o lugar do corpo onde será realizado o sinal.

Laranja Aprender

3. Movimento (M): é o deslocamento da mão no espaço, durante a realização do sinal.

Galinha Homem

Parâmetros Menores
1. Região de Contato: o modo e local em que a mão entra em contato com o corpo.

2. Orientação da(s) Mão(s): direção da palma da mão durante a execução do sinal da


LIBRAS, para cima, para baixo, para o lado, para frente.

3. Disposição da(s) Mão(s): a realização dos sinais na LIBRAS pode ser feita com a mão
dominante ou por ambas as mãos.

Além dos componentes manuais, existem outros aspectos que são considerados na LS, como as
expressões faciais e o movimento do corpo, chamadas expressões corporais. Essas expressões
podem traduzir sentimentos, expressar emoções ou servir para expressar negação, afirmação,
dúvida, questionamento...

Em algumas ocasiões, o sinal convencional é modificado, sendo realizado na face, disfarçadamente,


como para expressar roubo, ato sexual, entre outros.

51
AULA 6 • Estrutura Gramatical da LIBRAS

Sintaxe

Por apresentar uma gramática diferenciada e independente da língua oral, a LIBRAS não pode
ser estudada tendo como base a Língua Portuguesa. Na LIBRAS a ordem em que os sinais são
construídos ou apresentados em um enunciado reflete a forma como o surdo processa suas
ideias, ou seja, com base na percepção visual-espacial da realidade. Outro motivo que leva a essa
diferença é que na estruturação da LIBRAS não são usados artigos, preposições, conjunções, já
que esses conectivos estão incorporados ao sinal.

Ex.:
LIBRAS: EU IR CASA (verbo direcional)

Português: “Eu irei para casa.”

LIBRAS: PORQUE ISTO (expressão facial de interrogação)

Português: “Para que serve isto?”

LIBRAS: IDADE VOCÊ (expressão facial de interrogação)

Português: “Quantos anos você tem?”

Sistema Pronominal

A LIBRAS possui um sistema pronominal para representar as pessoas do discurso:

a. Pronomes pessoais

›› no singular: o sinal para todas as pessoas é o mesmo, o que diferencia uma das outras
é a orientação das mãos.

Eu Você Nós

b. Pronomes Demonstrativos e Advérbios de Lugar

Na LIBRAS os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar são diferenciados pelo


contexto, já que são representados pelo mesmo sinal.

›› ESTA/AQUI - olhar para o lugar apontado, perto da 1ª pessoa.

52
Estrutura Gramatical da LIBRAS • AULA 6

›› ESSA/AÍ - olhar para o lugar apontado, perto da 2ª pessoa.

›› AQUELA/LÁ - olhar para o lugar distante apontado.

c. Pronomes Possessivos

Não possuem marca para gênero e relacionam-se às pessoas do discurso e não à coisa
possuída, como acontece no Português.

›› EU: MEU IRMÃO (batendo no peito do emissor).

›› VOCÊ: TEU AMIGO (movimento em direção à pessoa referida).

›› ELE/ELA: SEU NAMORADO (movimento em direção à pessoa referida).

d. Pronomes interrogativos

Os pronomes interrogativos QUE, QUEM e ONDE se caracterizam pela expressão facial


interrogativa, simultânea ao pronome.

›› QUE/QUEM: usados no início da frase.

›› QUEM: com o sentido de quem é são mais usados no final da frase.

›› QUANDO: a pergunta com quando está relacionada a um advérbio de tempo (hoje,


amanhã, ontem) ou a um dia de semana específico.

e. Pronomes indefinidos:

›› NINGUÉM/NADA - (mãos abertas esfregando-se uma na outra): é usado para pessoas


e coisas;

›› NENHUM/NADA – (balança-se a mão): é usado para pessoas e coisas e pode ter o


sentido de “não ter”;

›› NENHUM/POUQUINHO - (palma da mão virada para cima): é um reforço para a


frase negativa e pode vir após NADA.

Tipos de verbos
a. Verbos direcionais: são verbos que possuem marca de concordância, ou seja, a direção
do movimento, marca no ponto inicial o sujeito e no final o objeto.

Eu aviso você Você me avisa

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AULA 6 • Estrutura Gramatical da LIBRAS

b. Verbos não direcionais: são verbos que não possuem marca de concordância.

Tipos de frases

As expressões determinam o tipo de frase, ou seja, são as expressões faciais que indicarão se uma
frase em LIBRAS está na forma afirmativa, exclamativa, interrogativa, negativa ou imperativa.

a. Afirmativa: a expressão facial é neutra.

b. Interrogativa: sobrancelhas franzidas e um ligeiro movimento da cabeça,


inclinando-se para cima.

c. Exclamativa: sobrancelhas levantadas e um ligeiro movimento da cabeça inclinando-se


para cima e para baixo.

d. Imperativa: Saia! Cala a boca! Vá embora!

e. Forma negativa: a negação pode ser feita através de três processos:

›› incorporando-se um sinal de negação diferente do afirmativo;

›› realizando-se um movimento negativo com a cabeça, simultaneamente à ação que


está sendo negada;

›› acrescida do sinal NÃO (com o dedo indicador) à frase afirmativa:

Noções temporais

Nesses casos, são acrescentados sinais que informam o tempo presente, passado ou futuro,
dentro da sintaxe da LIBRAS.

Alfabeto Manual - Datilologia

Trata-se da soletração de letras com as mãos. Quando for necessário usar a soletração,
recomenda-se que seja devagar, formando as palavras com nitidez. Entre as palavras soletradas,
é melhor fazer uma pausa curta ou mover a mão direita para o lado esquerdo, como se estivesse
empurrando a palavra já soletrada para o lado.

54
Estrutura Gramatical da LIBRAS • AULA 6

Normalmente, o alfabeto manual é utilizado para soletrar os nomes de pessoas, de lugares, de


rótulos e para os vocábulos não existentes na Língua de Sinais.

Resumo

Vimos até agora:

»» As características da LIBRAS enquanto linguagem.

»» As estruturas gramaticais da LIBRAS.

»» As características da língua de sinais.

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