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1ª Edição
Brasília/DF - 2018
Autores
Maria Esther de ARAÚJO
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumario
Organização do caderno de estudos e pesquisa...................................................................................................... 4
Introdução.............................................................................................................................................................................. 6
Aula 1
Sobre a Surdez ............................................................................................................................................................... 7
Aula 2
A Cultura Surda.............................................................................................................................................................17
Aula 3
Aspectos políticos da inclusão................................................................................................................................25
Aula 4
Acessibilidade, Inclusão Social e Educação........................................................................................................30
Aula 5
Língua e Linguagem e a LIBRAS............................................................................................................................ 39
Aula 6
Estrutura Gramatical da LIBRAS............................................................................................................................. 49
Referências...........................................................................................................................................................................56
Organização do caderno de
estudos e pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos,
de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com
questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais
agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos
com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.
Praticando
4
Organização do caderno de estudos e pesquisa
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
5
Introdução
XX
Objetivos
»» XXXX
6
Sobre a Surdez
Aula
1
Apresentação
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
7
AULA 1 • Sobre a Surdez
A Linguagem e Surdez
A linguagem é o sistema pelo qual o indivíduo expressa suas ideias, pensamento, opiniões
e sentimentos. É a linguagem que permite ao homem organizar seu pensamento, traduzir o
que sente, registrar o que conhece e comunicar-se com outros indivíduos. É a linguagem que
marca o ingresso do indivíduo na cultura, construindo-se como sujeito, definido sua identidade
colocando-se como parte de uma comunidade.
A linguagem tem sido objeto de pesquisa e discussões referentes à aptidão linguística, tendo em
vista a discussão sobre falhas decorrentes de distúrbios sensoriais, como a surdez.
Chomsky (1994), em seus estudos, afirma que as crianças não seriam capazes de aprender
a língua materna caso não fizessem determinadas suposições iniciais sobre como o código
deve ou não operar. Nesse sentido, a palavra possibilita que o indivíduo desenvolva atividades
mentais fundamentais para a formação da consciência, assegurando o processo de abstração e
generalização, além de ser veículo de transmissão do saber.
Os indivíduos ouvintes utilizam os dois processos da linguagem: o verbal e o não verbal. Nos
indivíduos que apresentam surdez congênita e pré-verbal, o desenvolvimento da linguagem
verbal, de forma natural é bloqueada, mas isso não impede o desenvolvimento dos processos
não verbais.
A fase de zero a cinco anos de idade é decisiva para a formação psíquica do ser humano, já
que é nesse período que ocorre a ativação das estruturas inatas genético-constitucionais da
personalidade do sujeito. Os processos de desenvolvimento do pensamento e da linguagem
incluem o conjunto de interações entre a criança e o ambiente. Os estímulos presentes em um
ambiente linguístico são essenciais para que essas estruturas sejam ativadas, ou seja, a criança
ouve e aprende a língua oral (LURIA, 1986).
Nos casos de crianças surdas, os estímulos auditivos não são percebidos, gerando transtornos
na aquisição da linguagem oral. Isso não significa que esta criança não possui a capacidade de
se comunicar, já que o ser humano possui dois sistemas para a produção e reconhecimento da
linguagem: O sistema sensorial, que utiliza da anatomia visual/auditiva e vocal (línguas orais) e o
sistema motor, que utiliza a anatomia visual e da anatomia da mão e do braço (línguas de sinais).
8
Sobre a Surdez • AULA 1
Um dos grandes desafios dos profissionais que estudam e atuam com os surdos é o de superar
a barreira da aprendizagem e uso da língua oral. Essa dificuldade está proporcionalmente
relacionada ao tempo de privação da audição, ou seja, quanto maior o tempo de privação
sonora, maior a dificuldade em da aprendizagem e uso da lingual oral. Considerando os surdos
congênitos (nascidos surdos) maiores serão suas dificuldades educacionais, caso não receba
atendimento adequado.
De fato, a audição é um sentido de valor inestimável. Por meio da captação das informações
sonoras, a audição nos coloca dentro do mundo e da comunicação humana, sendo imprescindível
para o preestabelecimento da linguagem. Para que haja a aquisição e o desenvolvimento normal
da linguagem, é necessária a integridade anátomo-fisiológica do sistema auditivo e adequada
estimulação, viabilizando a experiência acústica necessária ao aprendizado linguístico. Esse é o
processo natural e, quando há alguma interferência na captação, condução ou transformação
dessa energia, ocorre o que chamamos de surdez (FROTA, 2006).
Ainda assim, observa-se que a pessoa com surdez tem as mesmas possibilidades de desenvolvimento
que a pessoa ouvinte, precisando somente que tenha suas necessidades especiais supridas, visto
que o natural do homem é a linguagem.
Surdez
Deficiência auditiva é “a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, comprovada por
audiograma nas frequências de 500 hertz, e 2.000 hertz”.
Lei no 5.296/2004
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AULA 1 • Sobre a Surdez
A surdez apresenta classificações e graus diferenciados, de acordo com a sua origem ou causa.
Para melhor compreender esse processo, vamos conhecer um pouco na anatomia da orelha e
das perdas auditivas (DOUGLAS, 2006).
“Surdo-mudo” é uma denominação arcaica e incorreta para se referir ao surdo. Este termo não é utilizado pelo grupo que
pertence à comunidade surda, pois MUDEZ é a impossibilidade de falar ou problema relacionado à emissão da voz.
De forma simplificada, a surdez pode ser dividida em dois grupos: parcialmente surdos e surdos.
»» Parcialmente surdos – São aqueles que possuem surdez leve, moderada e acentuada.
Anatomia da orelha
A orelha é o órgão responsável pela audição e pelo equilíbrio. Sua maior parte fica localizada no
osso temporal, sendo dividida em três partes:
É composta pelo pavilhão auditivo, o canal auditivo externo ou meato auditivo e a membrana
timpânica. É a região visível do sistema auditivo e tem como função captar e canalizar sons que
serão conduzidos à orelha média.
Dentro da cavidade do osso temporal, é composta pela tuba auditiva, que faz a ligação entre a
orelha média e a nasofaringe, equilibrando a pressão e drenando secreções, e por três ossículos,
chamados martelo, bigorna e estribo, afixados por ligamentos à parede da orelha. As vibrações
da membrana timpânica são transmitidas a estes ossinhos, que conduzem a energia sonora
para a orelha interna.
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Sobre a Surdez • AULA 1
Consiste em escavações no osso temporal, que se comunica com a orelha média. A orelha interna
possui duas regiões, uma com função de equilíbrio, denominada labirinto ou canais semicirculares
e outra com função auditiva, denominada cóclea. Ao receber o estímulo conduzido pela orelha
média, a cóclea se encarrega em desencadear o processo de transformar o estímulo mecânico
em estímulo elétrico, percebido e decodificado pelo sistema nervoso central, completando o
ciclo da audição.
As perdas auditivas podem ser classificadas em relação ao local da lesão, ou seja, em que parte
anatômica do sistema auditivo ela acontece (tipo de perda) ou em relação à quantidade de
estímulo/energia sonora que se perde (grau da perda) (FROTA, 2006).
11
AULA 1 • Sobre a Surdez
Deficiência Auditiva Mista »» Ocorre quando há uma alteração de origem condutiva somada a sensório-neural, a
associação dos dois tipos de perda. Ou seja, quando o problema está localizado em
ambos os mecanismos numa mesma pessoa.
Deficiência Auditiva Central »» Ocorre quando há alterações nos mecanismos de processamento da informação
sonoro, no sistema nervoso central.
»» Não é, necessariamente, acompanhada de diminuição da sensitividade, ou seja, da
percepção da presença do som.
Esta é outra classificação que pode ser dada às perdas auditivas, para crianças até 7 anos. Quanto
maior o grau da perda, maior o comprometimento auditivo.
Na tabela a seguir é possível compreender o que o indivíduo com deficiência auditiva consegue
ouvir sem o recurso do amplificador sonoro – a prótese auditiva:
Perda auditiva discreta ou mínima 16 a 25 dB As vogais são ouvidas claramente, mas pode apresentar
discreta dificuldade com consoantes surdas.
Perda auditiva leve 26 a 40 dB Ouves somente alguns dos sons da fala; os fonemas
sonoros mais fortes.
Perda auditiva moderada 41 a 65 dB Perda a maior parte dos sons da fala em um nível de
conversação normal.
Perda auditiva severa. 66 a 95 dB Não ouve os sons da fala de uma conversação normal.
Perda auditiva de grau profundo Acima de 95 dB Não ouve fala ou outros sons.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) utiliza outra classificação para deficiência auditiva,
apresentada na tabela a seguir:
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Sobre a Surdez • AULA 1
Comportamento auditivo
»» Parcialmente Surdos:
›› Surdez leve:
›› Surdez moderada:
Observa-se uma dificuldade em perceber, com clareza, o que se fala pelo telefone e
mesmo em uma conversação direta, o que leva a muitas trocas nas palavras ouvidas
por outra foneticamente semelhante (pato/rato). Nesse caso é frequente o atraso da
linguagem.
»» Surdo
›› Surdez severa:
›› Surdez profunda:
A perda auditiva é acima de 91 dB, e o indivíduo não percebe nem identifica a voz
humana, o que acaba por impedir a aquisição da linguagem oral. Os sons percebidos
são os graves que transmitem vibração (trovão, helicóptero). Esta perda é considerada
muito grave, o que leva à necessidade de um atendimento especializado desde a mais
tenra idade para que se adquira a linguagem oral.
O termo “anacusia” é utilizado para a falta total de audição e, nesses casos, o surdo deve ser trabalhado e estimulado o mais
precocemente possível, tendo como conduta pedagógica o mesmo da surdez profunda.
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AULA 1 • Sobre a Surdez
São vários os fatores que podem causar uma deficiência auditiva. Tanto a identificação do fator
causal quanto o momento em que a lesão ocorre são fundamentais para traçar um bom trabalho
com o indivíduo surdo ou ensurdecido.
Podemos classificar a deficiência auditiva quanto ao momento em que ocorre a lesão (FROTA,
2006):
São perdas auditivas que podem ser causadas por desordens genéticas, consanguinidade, doenças
infectocontagiosas (como a toxoplasmose, a sífilis e a rubéola), uso de drogas e álcool pela
mãe, desnutrição ou carência alimentar materna, hipertensão ou diabetes durante a gestação
e exposição à radiação. São as perdas congênitas (nascidas com a perda) e não apresentam boa
resposta medicamentosa ou cirúrgica.
São as perdas adquiridas no momento do nascimento. Podem ter como causa a anoxia (falta de
oxigenação), prematuridade, traumas do parto, estrangulamento de cordão umbilical, icterícia
grave no recém-nascido e infecção hospitalar. Não apresentam boa resposta medicamentosa
ou cirúrgica.
São as perdas adquiridas após o nascimento. Podem ser causadas por infecções (como meningite,
sarampo, caxumba), o uso de remédios ototóxicos em excesso e sem orientação médica, a exposição
excessiva a ruídos e a sons muito altos e o traumatismo craniano. Esses casos, normalmente,
não apresentam boa resposta medicamentosa ou cirúrgica.
Também podem ser causadas por processos alérgicos ou viroses que originam gripes e resfriados.
Nesse caso, a resposta medicamentosa ou cirúrgica é satisfatória, podendo chegar a uma
recuperação total.
14
Sobre a Surdez • AULA 1
Diagnóstico
Um dos desafios da saúde pública é a obtenção desse diagnóstico o mais precocemente possível.
Infelizmente, na maioria dos casos, a surdez só é percebida tardiamente. Por esse motivo, deu-se a
criação da Lei no 12303, de 2 de agosto de 2010, que define como obrigatório o “Teste da Orelhinha”.
Trata-se de um procedimento realizado através de Emissões Otoacústicas Evocadas (OEA).
De acordo com o Joint Committee on Infant Hearing e o Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas
na Infância, é fundamental que a triagem auditiva neonatal chegue a todas as crianças com até
90 dias de nascidas; se for detectada alguma alteração, que se façam os procedimentos cabíveis
até 180 dias após o nascimento da criança, isso com o exame de emissões otoacústicas.
O diagnóstico precoce das perdas auditivas é essencial para o bom desenvolvimento da criança.
É preciso que as alterações nas vias auditivas sejam diagnosticadas logo no início e que os fatores
causadores da perda auditiva sejam identificados e, se possível, sanados, minimizando ou evitando
prejuízos futuros. Embora o diagnóstico seja essencial, não basta saber que a perda auditiva
existe. É necessário que haja estrutura para readaptação dessas crianças (FERNANDES, 2003).
Cerca de 50% das perdas auditivas teriam os danos minimizados se tivessem sido diagnosticados precocemente ou
eliminados os fatores de risco.
(PEREIRA, 2004).
15
AULA 1 • Sobre a Surdez
Resumo
»» A anatomia das orelhas externa, média e interna e a relação com o tipo e classificações
da perda auditiva.
16
A Cultura Surda
Aula
2
Apresentação
A origem da língua de sinais deixa a necessidade de uma maior compreensão da riqueza que
existe nessa forma de se comunicar, entendendo a língua de sinais como legítima e eficaz.
Historicamente, os conflitos sociais, quanto à sua eficácia e legitimidade, demonstram o quanto
à sociedade precisa quebrar a barreira do preconceito e entender o que o surdo e a Língua de
Sinais é capaz de fazer.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
A Cultura Surda
A comunicação por Língua de Sinais não é exclusividade brasileira. Na maioria do mundo há, pelo
menos, uma Língua de Sinais (LS) usada pela comunidade surda de cada país e as comunidades
surdas estão espalhadas pelo mundo, sendo grande e diversifica.
17
AULA 2 • A Cultura Surda
O povo surdo é grupo de sujeitos surdos que tem costumes, história, tradições em comuns e pertencentes às mesmas
peculiaridades, ou seja, constrói sua concepção de mundo através da visão.
É na Lei Hebraica que encontramos as primeiras referências aos surdos. Em diversos versículos
bíblicos encontramos referências associando o divino a deficiências físicas como surdez e
cegueira, entre outras.
Êxodo - 4:11
E disse-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? Ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o
SENHOR?
Levítico - 19:14
Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR.
Os egípcios acreditavam que os surdos eram seres divinos, capazes de se comunicarem com os
deuses. Sendo assim, serviam de intermediários entre os faraós e as divindades, eram temidos
e respeitados.
Na Grécia, os surdos eram tratados como seres incompetentes, acreditando-se que por não
possuírem uma linguagem, não eram capazes de raciocinar. Por serem considerados incapazes,
não tinham direitos, eram marginalizados e muitas vezes condenados à morte.
A história dos surdos começa mudar graças às discussões em torno das condições semi-humana
delegada aos surdos. Alguns filósofos da época pensavam que os símbolos tinham que ser falados,
já Sócrates possuía o seguinte pensamento.
“Se não tivéssemos voz nem língua e ainda assim quiséssemos expressar coisas uns aos outros, não deveríamos, como
aqueles que ora são mudos, esforçar-nos para transmitir o que desejássemos dizer com as mãos, a cabeça e outras partes do
corpo?”.
Relatos históricos de Sócrates
18
A Cultura Surda • AULA 2
Influenciados pelos Gregos, os Romanos acreditavam que os surdos eram seres imperfeitos,
excluindo-os da sociedade. Posteriormente defendeu-se a ideia de que os filhos surdos eram
consequência de algum pecado cometido por seus pais, ou seja, filhos surdos pagavam pelo
pecado de seus pais.
Nesse período histórico, os surdos não tinham direitos a heranças, não frequentavam o meio
social e eram proibidos de se casarem.
Foi nesse período que os surdos começaram a despertar a atenção da igreja, preocupada com a
impossibilidade do surdo se confessar e com o aumento do número de surdos nascidos em famílias
nobres. Era comum o casamento consanguíneo na nobreza. Para que a herança fosse mantida
na família era aceito casamento entre primos, sobrinhas e até irmãos, produzindo um aumento
significativo de indivíduos com anomalias genéticas, incluído a surdez. Foi Santo Agostinho que
defendeu a ideia que os surdos podiam comunicar por meio de gestos, que, em substituição à
fala, eram aceitos para a salvação da alma. Dessa forma, é no século XII que encontramos os
primeiros relatos sobre a educação dos surdos.
O primeiro registro da utilização de uma técnica ou estratégia de ensino com surdo relata de
700 d.C. John Beverley foi o primeiro a ensinar uma pessoa surda a falar, sendo considerado por
muitos como o primeiro educador de surdos. Ainda assim, os créditos de primeiro professor de
surdo foi para o monge beneditino espanhol Pedro Ponce de León que desenvolveu um alfabeto
manual que ajudava os surdos a soletrar as palavras. Dando continuidade ao seu trabalho, Juan
Pablo Bonet, padre espanhol, ensinou os surdos a lerem e a falarem, utilizando outra metodologia,
o método oral.
Foi John Bulwer, médico britânico, que defendendo o uso de gestos entre os surdos. Seguindo
seus passos, John Wallis (1616 a 1703) desiste de ensinar os surdos à oralidade, dedicando-se a
ensiná-los a escrever usando gestos (WIDELL, 1992).
Sobre os Métodos...
As discussões sobre os surdos geraram inquietações que acabaram por conduzir ao surgimento
da língua de sinais bem como sua utilização no processo educacional. O abade Charles Michel
de L´Epée foi um dos grandes responsáveis por esse avanço. No século XVII, L’Epée, movido por
questões religiosas reuniu os surdos dos arredores de Paris, criando a primeira escola pública
para surdos. (MOURA. 1997)
19
AULA 2 • A Cultura Surda
Os surdos não tinham acesso aos ensinamentos do catolicismo e não tinham direito a confissão
de pecados. L´Epée aprendeu os sinais e iniciou a educação de surdos na França e, além dos
ensinamentos religiosos, ensinou conhecimentos a nível escolar.
Outro aspecto relevante em sua metodologia foi à presença de um intérprete da língua de sinais,
que auxiliava no processo de ensino aprendizagem. Esse pode ter sido o fator mais importante
que justifica seu sucesso com a educação de surdos foi.
Embora a metodologia tenha apresentado resultados positivos, seu desenvolvimento foi abafado
pela crença de que o surdo não possuía a mesma capacidade de aprendizagem que o ouvinte.
Isso levou os surdos uniram-se cada vez mais em prol de uma comunidade, de uma cultura e
de uma língua.
O Oralismo
Em 1880, tendo como base as discussões geradas no Congresso de Milão, defini-se uma nova
corrente na educação dos surdos: a oralista. Trata-se de um método que considera a voz como
o único meio de comunicação e de educação para os surdos, que passou a ser adotado como
metodologia única, sendo excluídas todas as possibilidades de uso das línguas de sinais na
educação dos surdos.
A linguagem de sinais foi proibida, o domínio da língua oral passou a ser uma condição para
aceitação da pessoa com surdez dentro de uma comunidade majoritária. Nesse momento
histórico, a proposta oralista ganha força com defensores como Ferreri, líder dos educadores de
20
A Cultura Surda • AULA 2
surdos na Itália, que via a língua de sinais algo rudimentar, constrangedor e primitivo. Para ele
a língua de sinais era uma mímica violenta e espasmódica. (MOURA, 2000).
O oralismo foi uma proposta que não trouxe benefícios para os surdos já que, em sua maioria,
os surdos não eram bem-sucedidos com a leitura labial e em uma emissão sonora que fosse
compreensível aos ouvintes. Isso levava ao sentimento de incapacidade. Além disso, o oralismo
simplesmente desconsiderava as questões relacionadas à cultura e sociedade surda.
Foi após o Congresso Mundial de Surdos, realizado em 1971, em Paris, que o chamado “Império
Oralista” declina e a língua de sinais retoma força. Nesse mesmo Congresso foram também discutidos
resultados de pesquisas realizadas nos EUA sobre a chamada “Filosofia da Comunicação Total”.
A Comunicação Total
Por volta de 1960, Dorothy Shifflet, professora e mãe de uma menina surda, descontente com os
métodos oralistas, utilizou um método que combinava sinais, fala, leitura labial e treino auditivo,
denominando seu trabalho de Total Approach – (Abordagem ou Comunicação Total)
Comunicação Total respeita as características da pessoa com surdez utilizando todo e qualquer
recurso possível para a comunicação, a fim de potencializar as interações sociais, considerando
as áreas cognitivas, linguísticas e afetivas dos alunos. A ideia é usar o que for possível para se
processar uma comunicação eficiente. Esta filosofia recomenda o tanto de códigos manuais
como da língua oral.
Diferente do que é defendido pelo oralismo, a Comunicação Total acredita que somente o
aprendizado da língua oral não assegura pleno desenvolvimento do surdo. A proposta filosófica
da Comunicação Total valoriza a comunicação e a interação, e não apenas a língua. Outro
aspecto relevante é o respeito e valorização da família e seu papel na hora de compartilhar
valores e significados.
Esta filosofia defende a ideia que o deficiente auditivo deve ser aceito de forma que não haja
discriminação pelo fato da criança surda não dominar a oralidade. Ainda assim há ainda resistência
quanto a essa proposta, já que a oralidade continua a ser o objetivo principal de trabalho em
muitas sessões de terapia, tanto por imposição de algumas famílias como pela visão de muitos
profissionais.
Apesar das políticas públicas investirem no estabelecimento de modelos que valorizem o surdo
na sua totalidade, os ganhos ainda são pequenos. O certo é que a Comunicação Total possibilitou
o contato com sinais anteriormente proibidos pelo oralismo. Esse contato propiciou aos surdos
à aprendizagem das línguas de sinais que, no uso da Comunicação Total, era frequentemente
utilizado entre os alunos, enquanto na relação com o professor era usada uma mistura de língua
de sinais com a língua oral.
21
AULA 2 • A Cultura Surda
O Bilinguismo
O Bilinguismo é o uso de mais de uma língua, dentro de uma mesma comunidade linguística ou
pela mesma pessoa. Essa posposta filosófica e metodológica visa capacitar a pessoa com surdez
para a utilização de duas línguas no cotidiano escolar e na vida social: a Língua de Sinais (que
no Brasil é a LIBRAS), e a língua da comunidade ouvinte (Português).
O bilinguismo surge como uma proposta de intervenção educacional com a finalidade de atender
as especificidades linguísticas dos alunos surdos. Considera-se que a língua de sinais é uma língua
natural adquirida de forma espontânea pela pessoa surda em contato com as pessoas que usam
essa língua. A língua escrita, por sua vez, é adquirida de uma forma sistematizada.
A filosofia do bilinguismo defende que as línguas (falada e de sinais) podem conviver, mas não
simultaneamente. Para o Surdo a 1ª Língua (Língua Materna) deve ser a LIBRAS e a 2ª a Língua
Portuguesa. Os resultados têm indicado que esta proposta, quando bem executada, apresenta
resultados satisfatórios no ensino de crianças surdas, tendo como foco à língua de sinais como
parte de um pressuposto para o ensino da língua escrita.
Um aspecto que deve ser considerado é que a Língua de Sinais são sistemas de sinais independentes
das línguas faladas. Não existe uma língua de sinais utilizada e compreendida universalmente, pois
uma se diferencia da outra. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) tem sua origem na Língua de
Sinais Francesa – origem, e não reprodução. A LIBRAS é diferente da Língua de Sinais Americana
(ASL), que é diferente da Língua de Sinais Britânica (BSL), que difere, por sua vez, da Língua de
Sinais Francesa (LSF). Mesmo no Brasil, a LIBRAS possui variações linguísticas regionais, ou seja,
diferenças de sinais por região. Isso comprova a rica expressividade presente na comunicação
com a Língua de Sinais (SKLIAR, 1999).
A Lei no 10.436/2002 considera a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como língua oficial da
comunidade surda e defende a educação bilíngue para os surdos, reconhecendo a existência
da cultura surda.
“Por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de
experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS)”.
Definição de sujeito surdo - Decreto Federal no 5.626/2005
22
A Cultura Surda • AULA 2
Na perspectiva bilíngue, a Língua de Sinais é caracterizada como língua natural para o surdo e, portanto, sua primeira língua
(L1). A Língua Portuguesa, língua oficial do país, na modalidade escrita, deve ser aprendida como segunda língua (L2).
Nesse sentido, o processo de alfabetização de uma criança surda deve ser entender que a Língua
Portuguesa (L2), possibilita uma “leitura do mundo”, mas é por meio da Língua de Sinais (L1) que
a criança conseguirá fazer uma “leitura de mundo”, ou seja, é por meio da língua de sinais que as
crianças pensam e discutem sobre o mundo estabelecendo noções e organizando pensamentos,
com base na descoberta da própria língua. (QUADROS, 2004).
23
AULA 2 • A Cultura Surda
Perlin (2005) cita algumas das várias identidades comuns entre o povo surdo, que podem ser
definidas como:
»» Identidade de Transição: o surdo passa por um conflito cultural, nos casos em que
seu contato com a comunidade surda acontece tardiamente, fazendo a passagem da
comunicação visual-oral (na maioria das vezes truncada) para a comunicação visual
sinalizada.
»» Identidade Híbrida: o surdo nasce ouvinte e ensurdece depois de ter acesso à língua
oral, tendo presente às duas línguas numa dependência dos sinais e do pensamento
na língua oral.
»» Identidade Surda: o surdo vive no mundo visual e desenvolver sua experiência na Língua
de Sinais. Os surdos que assumem a identidade surda são representados por discursos
que os veem capazes como sujeitos culturais, uma formação de identidade que só ocorre
entre espaços culturais surdos.
O certo é que em nenhum outro momento histórico se falou tanto, e com tanta frequência,
sobre identidade, comunidade e culturas surdas. Inúmeras produções culturais são partilhadas
entre as comunidades surdas, novas organizações e movimento se consolidam, novos símbolos
e significados são difundidos (LOPES, 2004).
Resumo
24
Aspectos políticos da inclusão
Aula
3
Apresentação
Entende-se por políticas sociais as ações governamentais desenvolvidas em conjunto por meio
de programas que proporcionam a garantia de direitos e condições dignas de vida ao cidadão de
forma equânime e justa. Entender quais são esses fatores e os aspectos políticos que envolvem a
inclusão do surdo na educação e mercado de trabalho é essencial para que sejamos coparticipantes
na inclusão social do surdo.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
»» Ter ciência das políticas e respaldo legal que fundamentam a inclusão social do surdo.
»» Entender a importância de uma adaptação curricular e recursos que devem ser utilizados
na aprendizagem do surdo.
25
AULA 3 • Aspectos políticos da inclusão
A exclusão é uma prática constante em nossa sociedade e incluir é um tema desafiador. Incluir
é “permitir” ao diferente que compartilhe os espaços comuns, mas, também significa mudar,
flexibilizar, preparar para receber, tornar possível.
No Brasil e no mundo a inclusão dos indivíduos com algum tipo de deficiência ou necessidades
especiais tem sido um desafio. Neste grupo encontram-se os sujeitos surdos que se comunicam
pela Língua de Sinais. Discutir sobre a socialização dos surdos aponta para a realidade das suas
necessidades que por muito tempo foi negligenciada.
Incluir os surdos requer o reconhecimento de sua diferença e não deficiência. Essa diferença é
fruto de uma cultura e língua diferente, que se não for compreendida e aceita conduz à segregação;
à exclusão.
Embora esse panorama venha se modificando, com as políticas e conscientização geral sobre os
direitos do exercício da cidadania, os avanços ainda são lentos. É preciso que se auxiliem as famílias
das pessoas surdas a se perceberem como partícipes na implementação de procedimentos que
conduzam a uma real inclusão do surdo na sociedade ouvinte, quer seja no ensino regular ou
no mercado de trabalho. É preciso que sejam efetivas as políticas sociais de inclusão do sujeito
surdo em uma sociedade produtiva e igualitária.
Ações pautadas nos direitos humanos são propostas que respeitam as diferenças e promovem
equidade a todas as pessoas independentemente de condições e diferenças.
Como já foi dito, a inserção da educação inclusiva tem como propósito resgatar a humanização
dos que anteriormente eram segregados. Nessa perspectiva, a legislação educacional vigente - Lei
de Diretrizes e Bases (LDB) no 9394/1996, cuja máxima é educação para todos em seu capitulo
V sugere a inclusão de alunos com necessidades especiais preferencialmente no ensino regular,
considerando políticas internacionais que comungam o desejo de minimizar ações excludentes.
Esses tem sido elementos norteadores para as novas práticas na educação bem como em outros
segmentos sociais.
26
Aspectos políticos da inclusão • AULA 3
O Brasil fez opção pela construção de um sistema educacional inclusivo ao concordar com
a Declaração Mundial de Educação para Todos e ao mostrar consonância com os postulados
produzidos em Salamanca (Espanha).
Nesse sentido, deve ser levada em consideração, por exemplo, a importância da língua dos sinais
como meio de comunicação para os surdos, e ser assegurado a todos os surdos acesso ao ensino
da língua de sinais de seu país.
O inciso IV do art. 8o dessa mesma Resolução aponta os diferentes serviços de apoio pedagógico
especializado que deverão ser previstos e providos pelas escolas:
27
AULA 3 • Aspectos políticos da inclusão
Nenhuma escola pode excluir um aluno alegando não saber com ele atuar ou não ter professores
capacitados.
Toda escola (regular ou especial) deve organizar-se para oferecer educação de qualidade para
todos.
De acordo com a Lei no 10.098 de 19 de dezembro de 2000, no capítulo VII, art. 18. O Poder Público
implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais
e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de
deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação.
28
Aspectos políticos da inclusão • AULA 3
Resumo
29
Aula
Acessibilidade, Inclusão
Social e Educação 4
Apresentação
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Comunicação
Chaveiro e Barbosa, 2005, sustentam a ideia que “a linguagem é um instrumento de poder.” Diante
de uma sociedade ouvinte, na qual a comunicação oral pode ser um símbolo de autonomia,
o surdo também não pode deixar de vivenciar novas experiências; experiências essas que são
vividas pela sociedade ouvinte, como o direito de uma língua, o direito à educação, ao lazer
e ao trabalho. Infelizmente, há um longo caminho a ser percorrido em relação à aceitação e
convivência com o sujeito surdo.
30
Acessibilidade, Inclusão Social e Educação • AULA 4
Elementos da comunicação
A comunicação, por sua vez, é uma das formas mais importantes que o indivíduo usa como
recurso de socialização. É através dela que há troca de informações, possibilitando aprendizado
e convívio social entre as pessoas de uma sociedade (PIMENTA, 2006). Diante disto, pressupõe-se
que a comunicação tem um importante papel na constituição da pessoa como sujeito,
partindo da tese que o indivíduo que não se comunica ou não tem uma comunicação eficaz
e/ou satisfatória para o convívio social tende a se isolar tanto da sociedade quanto dos meios
de comunicação de massa que também são fontes de conhecimento e comunicação.
31
AULA 4 • Acessibilidade, Inclusão Social e Educação
Lacerda (2006, p. 177) afirma que a forma de expressão de uma pessoa surda é diferente da
sociedade ouvinte, uma vez que faz uso de uma língua própria. “Ele é um estrangeiro que tem
acesso aos conhecimentos de um modo diverso dos demais e se mantém isolado do grupo.”
A Língua de Sinais é a língua natural para a pessoa surda e funciona como suporte do pensamento.
Ela é o seu meio de comunicação e por meio dela ele pode pensar planejar, sentir e aprender outras
línguas. Na comunicação entre o ouvinte e o surdo, o entrave ocorre no canal de comunicação,
ou seja, na maneira como a mensagem é passada, já o ouvinte se comunica de forma oral e o
surdo por sinais. Isso dificulta a compreensão da mensagem.
A Inclusão Social
A inclusão social deve ser baseada no respeito e na justiça em relação às diferenças apresentadas
pelo ser humano, em que o foco de cada um é saber conviver com a diferença e sustentando o
fato de que todos são diferentes, isso os torna iguais.
As dificuldades desta inclusão são imensas em relação ao sujeito surdo, até mesmo em relação ao
seu processo de socialização, no qual a sociedade ouvinte sempre teve uma visão de que a pessoa
com alguma deficiência não é digna de usufruir dos benefícios de uma vida social, limitando-a
e impedindo-a de adquirir um olhar mais seguro e menos inferior da vida.
Macêdo (2002) faz-se valer de que o direito à inclusão social é de todos, e também dos deficientes
auditivos que, em decorrência de suas limitações, na maioria das vezes são ignorados por uma
cultura que segue a comunicação verbal como norma.
A inclusão acaba sendo, então, um direito de quem apresenta limitações que fogem do padrão
de normalidade da maioria e um dever da sociedade, que exclui pelo simples fato de ver essas
pessoas como deficientes, contribuindo para uma “autoexclusão” do surdo, já que o olhar da
sociedade o faz pensar que ele é incapaz de progredir.
32
Acessibilidade, Inclusão Social e Educação • AULA 4
As pessoas surdas têm direito a participar da vida familiar, de uma escola comum, da comunidade
e de ser inserido em um mercado de trabalho, mesmo que em cada um desses momentos
mereçam uma atenção diferenciada às suas necessidades especiais. Claro que isso depende,
entre outros fatores, de uma comunidade que esteja preparada para conviver e aceitar aqueles
que são diferentes.
»» Na família: os pais e demais membros da família incluem sua criança, surda ou não,
nas atividades cotidianas do lar desde o seu nascimento.
Na Família
A surdez é uma deficiência invisível aos olhos. Ao receber a comprovação da gravidez, pais e
família se preparam para o nascimento de um bebê saudável, recebem e se relacionam com
essa criança como um ouvinte, sem perceber, em muitos casos, suas restrições. Interagem com
seu filho, falando e brincando até receberem o diagnóstico de surdez. A partir desse momento,
deixam de lado essa interação, sem perceber que é nesse exato momento que ela deveria ser
intensificada, já que a criança pequena, surda ou ouvinte, se orienta pelo “sentir”, sendo capaz
de perceber sua aceitação ou não e a criança que sofre uma mudança brusca no relacionamento
com os pais pode ficar afetada emocionalmente, trazendo repercussões no futuro.
Quando há uma divergência entre o que a criança é e a expectativa da família, é provável que haja
também dificuldades no desenvolvimento emocional, social e intelectual. Isso acaba por acarretar
uma dificuldade nas relações, dificultando sua socialização futura, já que o desenvolvimento
sócio emocional depende diretamente do relacionamento dos pais entre si, e destes com a
criança, destacando-se o primeiro ano de vida. Neste período, torna-se o rosto humano o foco
da atenção da criança. A impossibilidade de ouvir a voz materna é a primeira perda sofrida pela
criança que nasce surda ou perde a audição nos primeiros meses de vida. Para o bebê surdo, o
33
AULA 4 • Acessibilidade, Inclusão Social e Educação
conjunto de sinais visuais, como a expressão dos olhos, da testa, da face e o sorriso é equivalente
à voz humana.
Quando nos referimos à educação, consideramos que a família é o principal elo entre o sujeito e
a sociedade. Quando se trata do surdo, a família ganha um destaque maior por ser por ser nela
que se encontra argumentos em formas de subsídio para introduzir o surdo no meio social.
Os modelos educativos são assimilados culturalmente por gerações e é nesse modelo que os
pais de uma criança surda têm sua base, ainda que inadequados à educação da criança surda,
desencadeando frustrações e tensões em todos os envolvidos no processo. (STELLING, 1996).
A Declaração de Salamanca, em seu art. 60, relata que “Os pais são os principais associados no
tocante às necessidades educativas especiais de seus filhos, e a eles deveria competir, na medida
do possível, a escolha do tipo de educação que desejam seja dada a seus filhos”. Sendo assim,
a família torna-se participante ativa na educação do surdo, como ressalta a mesma declaração.
Na Escola
Muito se especula sobre propostas de políticas públicas educacionais no Brasil e, com o atraso
escolar que o surdo apresenta em relação ao ouvinte, faz-se necessário que estas propostas sejam
ainda mais eficazes, pois é preciso uma estruturação mais específica para auxiliar de forma
satisfatória o ensino dos surdos (LEBEDEFF, 2006).
A educação dos surdos já foi vista como uma educação inferior em relação à educação dos
ouvintes, já que acreditava-se que o surdo era de menor inteligência, o que contribuiria para
uma aprendizagem menos eficaz (MOURA 2000).
34
Acessibilidade, Inclusão Social e Educação • AULA 4
Em relação a esta educação para o público surdo, há boas propostas para uma eficaz educação
destes indivíduos, no que se refere a formas qualitativas de ensino e de inclusão escolar. O Brasil
optou por uma política com um sistema de educação inclusiva em conformidade ao proposto
pela Declaração Mundial de Educação para Todos, bem como com a Declaração de Salamanca
(PORTAL DO MEC, on-line).
Um perfil de escola inclusiva é aquele que se caracteriza por adequar-se, não somente com uma
estrutura física apropriada para todo e qualquer deficiente, seja esta deficiência física, sensorial
ou mental, mas também com propostas de ensino que visam sanar as necessidades daqueles
que a procuram, respeitando as limitações de cada um em sua diferença e incorporando formas
de aprendizado específico a esses alunos (GOÉS; LAPLANE, 2004).
De acordo com a Resolução no 2/2001 - MEC, todas as pessoas que apresentam algum tipo de
perda auditiva têm direito a uma educação com um ensino regular, igual a uma pessoa que não
apresenta perda auditiva, buscando a inclusão e a implantação de novas propostas a fim de
melhorar a qualidade de vida dos surdos.
Segundo Gesueli (2006), “A utilização da Língua de Sinais vem sendo reconhecida como um
caminho necessário para a efetiva mudança nas condições oferecidas pela escola no atendimento
educacional de alunos surdos.” Desta forma, é correto afirmar que a LIBRAS vem contribuindo
para uma eficácia no ensino dos indivíduos surdos, uma vez que proporciona embasamento
teórico em relação à estrutura linguística da língua de sinais.
Existem alguns modelos educacionais cujo objetivo é facilitar o desenvolvimento escolar dos
alunos surdos. A opção de um ensino bilíngue é um destes modelos e fundamental para os
surdos que se disponibilizam a estudar e sentem a necessidade de se comunicar com o ouvinte.
Nesse sentido, a LIBRAS é a primeira língua, utilizada pelo surdo na aquisição de conhecimento
e comunicação, e o português ou a língua oral é a língua secundária, um recurso maior para a
interação com os colegas e ganho maior na aprendizagem (GESUELI, 2006).
35
AULA 4 • Acessibilidade, Inclusão Social e Educação
A utilização de tecnologias, tais como o uso da internet e celulares, também têm sido importantes
recursos de ensino para os surdos, aumentando a capacidade “cognitiva, afetiva e social” dos
mesmos, o que permite avanços não só na área educacional, como também na comunicação
com o outro e nas relações emotivas (SOUZA, 2003, p. 1).
Outro aspecto facilitador essencial para que o processo ensino aprendizagem aconteça de forma
satisfatória é a adequação curricular para o aluno deficiência auditivo, também identificado como
D.A. Para esses alunos, o currículo deve ser adaptado de forma que se torne o mais concreto
possível, utilizando-se dos canais sensoriais íntegros como facilitar na aprendizagem.
O aprendizado da leitura e escrita para os surdos será diferente das pessoas ouvintes. Sua leitura
de mundo é feita por meio de experiências visuais e concretizadas em sua língua natural. Por isso
é importante que haja adaptação do currículo a ser trabalhado como o surdo. No aprendizado
da leitura e escrita é necessário ir do mundo para o texto, dos conhecimentos concretizados na
língua de sinais e que deverão ser traduzidos para o português.
Para o surdo, a aquisição da modalidade escrita representa a alfabetização em outra língua com
diferenças sintáticas, morfológicas e fonéticas. Por isso, as irregularidades morfossintáticas
identificadas na escrita dos indivíduos surdos coincidem com construções próprias da Língua
de Sinais.
No Mercado de Trabalho
Deve-se considerar que a comunicação é o principal canal de socialização do ser humano, pois
é através dela que o indivíduo consegue aprender e ensinar, em virtude da troca de informações,
possibilitando o convívio social. Porém, as formas de comunicação do ouvinte e do surdo são
36
Acessibilidade, Inclusão Social e Educação • AULA 4
distintas, uma vez que existem choques culturais em relação à língua de ambos, em que uma é
oral e a outra gestual. Isto acaba implicando, entre outros, a inserção dos indivíduos surdos no
mercado de trabalho, em uma sociedade essencialmente ouvinte, onde há uma necessidade de
pessoas comunicativas e com uma boa oratória.
As dificuldades em manter um diálogo com o outro levam o indivíduo a se excluir e/ou ser
excluído do convívio social, principalmente quando “barreiras de linguagem e cultura” estão
associadas a dificuldades de comunicação.
A aceitação do surdo no convívio do ouvinte, bem como no mercado de trabalho, ainda passa
por um processo de transformação que exige bom senso e humanização, de um para com o
outro, pois os surdos são o foco de muitos preconceitos em decorrência de sua condição e
das consequências que esta pode trazer nos aspectos da vida emocional e profissional destes
indivíduos (DAMÁZIO, 2005).
O ato de trabalhar permite ao ser humano se sentir útil, capaz e realizado, contribuindo
favoravelmente nos aspectos de “comportamento, rotina e relações afetivas”. Em relação aos
indivíduos surdos, a admissão no mercado de trabalho faz com que o mesmo deixe de se sentir
excluído da sociedade e de se autoexcluir por “medo” do que esta pode pensar dele
Inserir-se no mercado de trabalho exige uma grande habilidade comunicativa; pois, neste campo
de tamanha competição, as pessoas precisam ter uma boa expressividade oral para satisfazer
as necessidades do contratante e dos respectivos clientes. Este fator comunicativo, por sua vez,
torna-se determinante na vida dos surdos no aspecto de empregabilidade, uma vez que é usuário
de uma língua diferente da língua que o mercado exige. Isso acaba por levar o surdo a renunciar
a uma inserção nesse mercado, restringindo-o ao convívio com sua comunidade, onde são bem
aceitos por pessoas que se apresentam “iguais”.
“A linguagem deve ser vista como resultado da interação entre sujeitos, lugar de
encontro de vários discursos e do embate de experiências.”
Citelli (2011)
A primeira barreira que o indivíduo surdo encontra é a comunicação, que configura uma situação
de restrição que pode desencadear conflitos no contato social.
37
AULA 4 • Acessibilidade, Inclusão Social e Educação
A inclusão no mercado de trabalho proporciona ao surdo sua valorização como cidadão, leva à
efetivação dos seus direitos garantidos em lei, e possibilita a convivência no ambiente de trabalho
com trabalhadores ouvintes e, consequentemente, maior sociabilidade.
A inclusão da pessoa surda no mercado de trabalho não deve se restringir à aplicação de leis
e de projetos de responsabilidade social por parte das empresas. É preciso que a pessoa com
deficiência seja, antes de tudo, capacitada para atuar de forma eficaz no mercado de trabalho
e que este processo deve se iniciar no ambiente escolar e estender-se ao desenvolvimento de
projetos de profissionalização.
Não basta que se criem leis para a inclusão e integração das pessoas com deficiência no mercado
de trabalho, mas sim, que se desenvolvam políticas públicas eficazes para que se traga ao
conhecimento de todos a capacidade do surdo e que esse reconhecimento promova a aceitação
e efetiva contratação desse público, de forma plena e natural.
É preciso adaptar-se a novas culturas, a novas regras, a pessoas diferentes de variadas origens,
crenças e valores, para que a diversidade humana venha enriquecer nossos conhecimentos e
ofereça uma visão ampla e sem preconceitos da sociedade em que vivemos.
Resumo
38
Língua e Linguagem e a LIBRAS
Aula
5
Apresentação
A origem da Língua de Sinais deixa a necessidade de uma maior compreensão da riqueza que
existe nessa forma de se comunicar, entendendo a Língua de Sinais como legítima e eficaz.
Considerando que somente no ano de 2002 a Língua Brasileira de Sinais foi oficialmente
reconhecida e aceita como segunda língua oficial brasileira, por meio da Lei no 10.436, de 24 de
abril de 2002, é possível perceber o quanto a sociedade precisa quebrar a barreira do preconceito
e entender o que o surdo e a Linguagem de Sinais é capaz de fazer.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
LIBRAS
As Línguas de Sinais não são simples mímicas e gestos soltos, são línguas com estruturas
gramaticais próprias, compostas pelos níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático
e o semântico. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas é
denominado sinais nas línguas de sinais.
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é utilizada por deficientes auditivos para a comunicação
entre eles e entre surdos e ouvintes e é a sua modalidade que a diferencia das demais línguas.
Uma língua de sinais utiliza-se de gestos, sinais e expressões faciais e corporais, em vez de sons ou
escrita na sua comunicação, ou seja, as línguas de sinais são de aquisição visual e produção espacial
39
AULA 5 • Língua e Linguagem e a LIBRAS
e motora. Podemos definir que LIBRAS é uma língua de modalidade (modo de comunicação)
visual-espacial e motora.
Sendo assim, uma pessoa que entra em contato com uma Língua de Sinais irá aprender outra
língua, e seus usuários terão capacidade instrumental para discutir questões complexas como
filosofia e política ou produzir poemas e peças teatrais.
Para melhor nos inteirarmos dessa realidade é interessante que essa linguagem se faça conhecer,
e que haja uma procura por ela com o interesse de aprendê-la.
Linguagem
Podemos definir Linguagem como o sistema pelo qual o homem comunica suas ideias e
sentimentos, seja por meio da fala, da escrita ou de outros signos convencionais e Linguística é
o nome da ciência que se dedica ao estudo da linguagem.
1. Ling qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
gestuais etc. “l. humana”
2. p. ext. qualquer sistema de símbolos ou sinais ou objetos instituídos como signos; código. “l. da dança”
No cotidiano, nos deparamos fazemos uso da linguagem verbal e não verbal para nos comunicarmos.
A linguagem verbal integra a fala e a escrita (diálogo, informações no rádio, televisão ou imprensa,
e outras). Todos os outros recursos de comunicação como imagens, desenhos, símbolos, músicas,
gestos, até mesmo o tom de voz, fazem parte da linguagem não verbal.
40
Língua e Linguagem e a LIBRAS • AULA 5
Linguagem Verbal: é aquela que faz uso das palavras para comunicar algo, seja oral ou escrita.
Linguagem Não Verbal: é aquela que utiliza outros métodos de comunicação, que não são as palavras
De uma forma mais geral, a Linguagem pode ser definida como qualquer sistema de sinais que
possibilite aos indivíduos uma comunicação eficaz e plena.
41
AULA 5 • Língua e Linguagem e a LIBRAS
As linguagens artificiais: normalmente criadas para servirem a um fim específico, como lógica
matemática ou a informática. Também são denominadas por linguagens formais. A linguagem
de programação de computadores é uma linguagem formal que consiste na criação de códigos
e regras específicas que processam instruções para computadores.
Língua
42
Língua e Linguagem e a LIBRAS • AULA 5
de regras gramaticais que identificam sua estrutura nos seus diversos planos dos
sons, da estrutura, da formação e das classes de palavras, das estruturas frasais,
da semântica, da contextualização do uso.
Fernandes (2003)
A língua é o conjunto de sinais ou palavras e expressões usadas por um povo e nação. A língua é
normativa, segue regras e possui uma estrutura e gramática. Pode ser considerado um instrumento
na comunicação, que segue regras gramaticais, permitindo a comunicação e compreensão de
grupos ou pessoas.
A língua consiste em um conjunto específico de códigos e palavras, com regras e leis de combinação
que permite que a mensagem seja passada de maneira compreensível. Sem essas regras, é provável
que o a mensagem não seja compreendida, seria como escrever uma frase onde as palavras estão
fora de ordem e esperar que a outra pessoa entenda a mensagem.
Por se tratar de uma expressão particular, utilizadas por povos variados, as línguas são depositárias
de culturas que são armazenadas e passadas de geração em geração.
A língua possui um caráter social, ou seja, pertence a um conjunto de pessoas, em que cada
membro da comunidade pode optar por uma ou outra forma de expressão.
Este é o caso da língua falada ou da língua de sinais, diferente das línguas construídas (como a
linguística computacional) e das línguas formais (como a língua escrita). Trata-se da primeira
43
AULA 5 • Língua e Linguagem e a LIBRAS
língua aprendida por uma criança e corresponde ao grupo étnico-linguístico em que a criança
está inserida e se identifica culturalmente.
A língua materna pode ser aprendida até aos doze anos de idade. Uma vez superada essa etapa, as habilidades linguísticas do
falante são distintas e qualquer língua aprendida passará a ser considerada como uma segunda língua.
Teoria defendida por de Noam Chomsky e de outros linguistas
LIBRAS
Língua Brasileira de Sinais é uma língua humana, assim como as outras línguas
faladas, que contém a sua própria estrutura linguística, embora de modalidade
diferente. Como toda língua humana, a LIBRAS passa pelo processo contínuo e
gradual de variação e mudança, seja por motivações internas, seja por contato
com outras línguas, como a Língua Portuguesa.
Diniz (2011)
Todos os seres humanos, surdos ou ouvintes, nascem com uma capacidade inata para desenvolver
linguagem. As línguas de sinais são línguas naturais, que podem ser adquiridas pelas crianças
de forma inconsciente através da interação, do convívio com usuários da mesma língua. Esse
convívio permite o desenvolvimento linguístico e cognitivo e serve de suporte para a aprendizagem
de outras línguas.
A Língua Materna é a primeira língua que uma criança aprende, no contato com os pais e outros
membros da família e depois nos contatos com a comunidade em que vive. Considerando o
universo do surdo, a Língua de Sinais é a Língua Materna, a primeira língua que o surdo se apodera
para expressar-se sendo, na maioria das vezes, é a língua utilizada no dia a dia.
Com os estudos realizados na área da Linguística, comprovou-se que as línguas de sinais são uma
língua legítima, com status linguístico tão completo e complexo quanto qualquer outra língua.
A comunicação por língua de sinais não é exclusividade brasileira. Na maioria do mundo há, pelo
menos, uma Língua de Sinais (LS) usada pela comunidade surda de cada país. A Língua Brasileira
de Sinais (LIBRAS) tem sua origem na Língua de Sinais Francesa – origem, e não reprodução.
A LIBRAS é diferente da Língua de Sinais Americana (ASL), que é diferente da Língua de Sinais
Britânica (BSL), que difere, por sua vez, da Língua de Sinais Francesa (LSF).
44
Língua e Linguagem e a LIBRAS • AULA 5
ASL LIBRAS
Vale lembrar que as Línguas de Sinais não são mímicas ou gestos soltos, são línguas com estruturas
gramaticais próprias. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas
é denominado sinais nas línguas de sinais. Na verdade, sua modalidade visual-espacial é o que
a diferencia das demais línguas. Sendo assim, aprender uma LS é aprender outra língua, como
o inglês, francês, alemão...
A existência de dialetos regionais é mais uma comprovação do caráter da LIBRAS como língua
natural.
Outra característica que a distingue como uma língua dinâmica refere-se a mudanças históricas
que, com o passar do tempo, produzem alterações nos sinais, decorrentes dos costumes da
geração que o utiliza.
45
AULA 5 • Língua e Linguagem e a LIBRAS
A LIBRAS, como todas as LS, é uma modalidade de comunicação baseada no gesto, na observação
e localização, ou seja, é uma modalidade gestual-visual-espacial. Ser baseada não significa
que de fato trata-se de um gesto. Em muitos casos, por desconhecer sua natureza linguística,
muitos acreditam tratar-se de sinais “desenhados” no ar, representando a figura que se deseja
expressar. Embora a realização de alguns sinais possa reportar-se à realidade ou à expressão que
se deseja referir (sinais icônicos), isso não é uma regra. A grande maioria dos sinais da LIBRAS
são arbitrários, não mantendo relação de semelhança alguma com seu referente.
Não é difícil supor que esse contraste se explique pela natureza do canal perceptual: modalidade
vísuo-espacial, a articulação das unidades da substância gestual (significante), permite a
representação icônica de traços semânticos do referente (significado), o que explica que muitos
sinais reproduzam imagens do referente; na modalidade oral-auditiva, a articulação das unidades
da substância sonora (significante) produz sequências que em nada evocam os traços semânticos
do referente (significado),o que explica o caráter imotivado ou arbitrário do signo linguístico
nas línguas orais.
Sinais Icônicos
São considerados como sinais icônicos os que fazem alusão à imagem do seu significado ou
dado da realidade que representam, assim como uma foto é considerada a reprodução de uma
imagem. Claro que os sinais icônicos não são iguais em todas as LS e nem mesmo dentro de um
mesmo país, como o Brasil. Devem-se considerar as representatividades e regionalidade no que
se refere a esses sinais.
Sinais icônicos
Telefone Borboleta
46
Língua e Linguagem e a LIBRAS • AULA 5
Sinais Arbitrários
São considerados sinais arbitrários os que não fazem alusão ou mantêm semelhança com a
imagem do seu significado ou dado da realidade que representam. Muitos acreditam que a
LIBRAS é composta apenas por representações gestuais icônicas, o que é um mito, já que uma
das propriedades básicas de uma língua é a arbitrariedade existente entre significante e referente,
sendo capazes de expressar conceitos abstratos, em toda sua complexidade.
Sinais Arbitrários
Conversar Depressa
Sinais
Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do ponto no corpo ou no espaço onde
esses sinais são feitos. Nas línguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros que formarão os sinais:
Configuração das mãos: São formas das mãos que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras formas feitas pela
mão predominante (mão direita para os destros ou esquerda para os canhotos), ou pelas duas mãos.
Os sinais DESCULPAR, EVITAR e IDADE, por exemplo, possuem a mesma configuração de mão (com a letra y). A diferença é
que cada uma é produzida em um ponto diferente no corpo.
Ponto de articulação: é o lugar onde incide a mão predominante configurada, ou seja, local onde é feito o sinal, podendo
tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro.
Movimento: Os sinais podem ter um movimento ou não. Por exemplo, os sinais PENSAR e EM-PÉ não tem movimento; já os
sinais EVITAR e TRABALHAR possuem movimento.
Expressão facial e/ou corporal: As expressões faciais / corporais são de fundamental importância para o entendimento real
do sinal, sendo que a entonação em Língua de Sinais é feita pela expressão facial.
Orientação/Direção: Os sinais têm uma direção com relação aos parâmetros acima. Assim, os verbos IR e VIR se opõem em
relação à direcionalidade.
http://www.libras.org.br/libras.php
47
AULA 5 • Língua e Linguagem e a LIBRAS
Convenções da LIBRAS
A grafia: os sinais em LIBRAS, para simplificação, serão representados na Língua Portuguesa em letra maiúscula. Ex.: CASA,
INSTRUTOR.
A datilologia (alfabeto manual): usada para expressar nomes de pessoas, lugares e outras palavras que não possuem sinal,
estará representada pelas palavras separadas por hífen. Ex.: M-A-R-I-A, H-I-P-Ó-T-E-S-E.
Os verbos: serão apresentados no infinitivo. Todas as concordâncias e conjugações são feitas no espaço. Ex.: EU QUERER
CURSO.
As frases: obedecerão à estrutura da LIBRAS, e não à do Português. Ex.: VOCÊ GOSTAR CURSO? (Você gosta do curso?).
Os pronomes pessoais: serão representados pelo sistema de apontação. Apontar em LIBRAS é culturalmente e
gramaticalmente aceito.
http://www.libras.org.br/libras.php
Resumo
»» As características da língua.
48
Estrutura Gramatical da LIBRAS
Aula
6
Apresentação
Já sabemos que as Línguas de Sinais não são simples mímicas e gestos soltos, são línguas
com estruturas gramaticais próprias, compostas pelos níveis linguísticos: o fonológico, o
morfológico, o sintático e o semântico. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas
oral-auditivas é denominado sinais nas línguas de sinais. O que diferencia as Línguas de Sinais
das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial e a visual-motora.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Estrutura Gramatical
Como já foi dito, as Línguas de Sinais (LS) são as línguas naturais das comunidades surdas.
Ao contrário do que muitos imaginam as Línguas de Sinais não são simplesmente mímicas e
gestos soltos, utilizados pelos surdos para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas
gramaticais próprias.
Atribui-se às Línguas de Sinais o status de língua, porque elas também são compostas pelos
níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. O que é denominado
de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas é denominado sinais, nas línguas de sinais.
O que diferencia as Línguas de Sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial
49
AULA 6 • Estrutura Gramatical da LIBRAS
Na Libras...
»» Sintático: frase.
»» Semântico: significado.
Aspectos Estruturais
A LIBRAS têm sua estrutura gramatical organizada a partir de alguns parâmetros que estruturam
sua formação nos diferentes níveis linguísticos. Três são seus parâmetros principais ou maiores:
a Configuração das Mãos (CM) é caracterizado como a forma que a mão assume durante a
realização de um sinal; o Movimento (M) é o deslocamento da mão no espaço, durante a realização
do sinal, e o Ponto de Articulação (PA) é caracterizado pelo lugar do corpo onde será realizado
o sinal; e outros três constituem
Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado
formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em
frente ao corpo. Estas articulações das mãos, com um determinado formato em um determinado
lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. que podem
ser comparadas aos fonemas e as vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros Nas línguas
de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros:
Parâmetros Maiores
1. Configuração da(s) Mão(s) (CM): é a forma que a mão assume durante a realização de
um sinal.
Telefone Branco
50
Estrutura Gramatical da LIBRAS • AULA 6
Laranja Aprender
Galinha Homem
Parâmetros Menores
1. Região de Contato: o modo e local em que a mão entra em contato com o corpo.
3. Disposição da(s) Mão(s): a realização dos sinais na LIBRAS pode ser feita com a mão
dominante ou por ambas as mãos.
Além dos componentes manuais, existem outros aspectos que são considerados na LS, como as
expressões faciais e o movimento do corpo, chamadas expressões corporais. Essas expressões
podem traduzir sentimentos, expressar emoções ou servir para expressar negação, afirmação,
dúvida, questionamento...
51
AULA 6 • Estrutura Gramatical da LIBRAS
Sintaxe
Por apresentar uma gramática diferenciada e independente da língua oral, a LIBRAS não pode
ser estudada tendo como base a Língua Portuguesa. Na LIBRAS a ordem em que os sinais são
construídos ou apresentados em um enunciado reflete a forma como o surdo processa suas
ideias, ou seja, com base na percepção visual-espacial da realidade. Outro motivo que leva a essa
diferença é que na estruturação da LIBRAS não são usados artigos, preposições, conjunções, já
que esses conectivos estão incorporados ao sinal.
Ex.:
LIBRAS: EU IR CASA (verbo direcional)
Sistema Pronominal
a. Pronomes pessoais
›› no singular: o sinal para todas as pessoas é o mesmo, o que diferencia uma das outras
é a orientação das mãos.
Eu Você Nós
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Estrutura Gramatical da LIBRAS • AULA 6
c. Pronomes Possessivos
Não possuem marca para gênero e relacionam-se às pessoas do discurso e não à coisa
possuída, como acontece no Português.
d. Pronomes interrogativos
e. Pronomes indefinidos:
Tipos de verbos
a. Verbos direcionais: são verbos que possuem marca de concordância, ou seja, a direção
do movimento, marca no ponto inicial o sujeito e no final o objeto.
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AULA 6 • Estrutura Gramatical da LIBRAS
b. Verbos não direcionais: são verbos que não possuem marca de concordância.
Tipos de frases
As expressões determinam o tipo de frase, ou seja, são as expressões faciais que indicarão se uma
frase em LIBRAS está na forma afirmativa, exclamativa, interrogativa, negativa ou imperativa.
Noções temporais
Nesses casos, são acrescentados sinais que informam o tempo presente, passado ou futuro,
dentro da sintaxe da LIBRAS.
Trata-se da soletração de letras com as mãos. Quando for necessário usar a soletração,
recomenda-se que seja devagar, formando as palavras com nitidez. Entre as palavras soletradas,
é melhor fazer uma pausa curta ou mover a mão direita para o lado esquerdo, como se estivesse
empurrando a palavra já soletrada para o lado.
54
Estrutura Gramatical da LIBRAS • AULA 6
Resumo
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